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… 07/07/1998 – Brasil 1 x 1 Holanda

Três pontos sobre…
… 07/07/1998 – Brasil 1 x 1 Holanda

(Imagem: Paul Popper / Popperfoto / Getty Images)

● Mesmo com os problemas internos já citados, a Seleção Brasileira continuava entrando em campo de mãos dadas, tentando reviver o espírito vencedor de 1994.

Pelo Grupo A, o Brasil venceu a Escócia por 2 x 1 no jogo de abertura do Mundial. Depois, venceu o Marrocos por 3 x 0 e perdeu para a Noruega de virada por 2 x 1, sofrendo os gols nos últimos minutos. Na sequência, venceu o Chile de Salas e Zamorano por 4 x 1 nas oitavas de final. Nas quartas, venceu por 3 x 2 o ótimo time da Dinamarca, do goleiro Peter Schmeichel e dos irmãos Laudrup.

A Holanda era a cabeça de chave no Grupo E. Na primeira fase, empatou por 0 x 0 com a vizinha Bélgica, goleou a Coreia do Sul por 5 x 0 e empatou por 2 x 2 com o bom time do México. Nas oitavas de final, venceu por 2 x 1 com um gol de Edgar Davids no apagar das luzes. Nas quartas, contou com um gol fenomenal de Dennis Bergkamp no último lance da partida para eliminar a ótima seleção argentina pelo placar de 2 x 1.

Para a semifinal diante do Brasil, Arthur Numan estava suspenso por ter sido expulso diante da Argentina. Seu substituto imediato, Winston Bogarde, sofreu uma fratura no tornozelo em um treino no dia 05 de julho. André Ooijer, terceira opção, também estava machucado. E ao invés de escalar Giovanni van Bronckhorst na posição, o técnico Guus Hiddink preferiu improvisar Phillip Cocu como lateral esquerdo e colocar Boudewijn Zenden como titular na ponta, aproveitando a ausência de Cafu.

O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo. Zé Carlos substituiu Cafu, suspenso.

Sem a bola, a Holanda se fechava no 4-4-2. Com a bola, Zendem avançava e se tornava um 4-3-3.

● Cerca de 54 mil pessoas lotaram o estádio Vélodrome de Marselha para ver duas das seleções mais técnicas da Copa do Mundo.

O primeiro tempo foi de muito respeito de ambas as partes. A Holanda tentava controlar o jogo com a posse de bola, mas o Brasil assustava mais nas poucas vezes em que chegava ao ataque.

Ronaldo estava em noite inspirada e ameaçou por várias vezes o gol de Edwin Van der Sar. Em seu primeiro lance, ele arrancou e foi travado por Jaap Stam na hora do chute.

A Oranje respondeu. Ronald de Boer chutou de fora da área e a bola passou assustando Taffarel, que mandou para escanteio. Wim Jonk cobrou o córner e Phillip Cocu cabeceou para fora com perigo.

Cocu abriu com Zenden na esquerda. O camisa 12 cruzou e Kluivert cabeceou perto do gol, mas a bola foi por cima.

De novo Zenden cruzou da esquerda com perigo, mas Bergkamp não alcançou a bola.

A Seleção Brasileira passava seus sustos quando o arisco Zenden partia para cima de Zé Carlos. Com quase 30 anos, o lateral direito do São Paulo FC fazia sua segunda partida pela Seleção Brasileira. A primeira havia sido o empate por 1 x 1 em um amistoso não-oficial contra o Athletic Bilbao dez dias antes da Copa. Ficou cinquenta dias animando a imprensa e a delegação brasileira fazendo imitações de animais e outros sons. Um ano antes do Mundial, disputava a Série A2 do Campeonato Paulista pela Matonense. E naquele 07 de julho, teve a incumbência de substituir Cafu, que estava suspenso por ter levado o segundo cartão amarelo. Zé Carlos não conseguiu imitar bem um lateral direito e era o “mapa da mina” para os rápidos ataques holandeses.

Wim Jonk lançou nas costas da defesa, Kluivert cruzou e Bergkamp novamente passou da bola, que foi alta demais. Roberto Carlos apenas recuou com o peito para Taffarel.

Novamente Wim Jonk cruzou para a área, Kluivert ganhou de Júnior Baiano pelo alto e cabeceou por cima.

Patrick Kluivert se movimentou constantemente entre os zagueiros e deu trabalho à defesa brasileira.

E os primeiros 45 minutos terminaram sem gols.

(Imagem: Fritz The Flood)

● No primeiro minuto do segundo tempo, Aldair abriu na esquerda para Roberto Carlos, que deixou com Rivaldo no meio. Genial, o camisa 10 viu a infiltração de Ronaldo pela diagonal e fez um lançamento perfeito para o Fenômeno se desvencilhar da marcação implacável de Frank de Boer, ganhar na velocidade de Cocu (seu ex-companheiro de PSV) e tocar de esquerda entre as pernas de Van der Sar.

Em desvantagem no marcador, a Holanda precisou ser mais incisiva no ataque e começou a apostar ainda mais nas jogadas de bola aérea.

Aos 7′, Kluivert desviou uma cobrança de escanteio para o meio e Bergkamp finalizou à queima-roupa, mas Taffarel fez uma defesa sensacional.

O Brasil reagiu e Ronaldo chutou da direita para a defesa de Van der Sar.

Kluivert tabelou com Bergkamp na entrada da área e chutou forte, mas Taffarel segurou sem dar rebote.

Aos 27′, Rivaldo recebeu de Denílson e lançou Ronaldo, que partiu em velocidade de trás da linha de impedimento holandesa. Já dentro da área, na hora de chutar, o camisa 9 brasileiro foi travado por Edgar Davids na hora H, em uma arrancada impressionante do holandês. A bola ainda saiu pela linha de fundo, quase beliscando a trave.

Denílson pedalou para cima de Aron Winter e cruzou para a área. Rivaldo cai e, mesmo caído, tentou chutar, mas Van der Sar abafou e ficou com a bola. O Brasil perdia chances de matar a partida, mas seria duramente castigado.

Aos 34′, Kluivert tabelou com Pierre van Hooijdonk, mas chutou por cima do gol. A defesa brasileira dava calafrios em qualquer um.

A três minutos do fim, Ronald de Boer cruzou com precisão da direita. Kluivert subiu entre Aldair e Júnior Baiano (que ficaram parados) e cabeceou para baixo, sem dar a mínima chance de defesa a Taffarel.

O gol fez justiça ao placar pelo que os dois times haviam criado, especialmente no segundo tempo.

O lance mais reclamado pelos holandeses até hoje aconteceu nos acréscimos. Van Hooijdonk recebeu um cruzamento da direita e caiu na área após disputa com Júnior Baiano, mas o árbitro Ali Bujsaim, dos Emirados Árabes Unidos, não viu o suposto pênalti.

(Imagem: New York Times)

● E foi só no tempo extra que começou um dos maiores jogos dos últimos tempos. Diferente das grandes prorrogações da história das Copas, esta tinha “morte súbita” ou “gol de ouro”, ou seja, o jogo terminaria assim que houvesse um gol, sem chance de recuperação para o adversário. E nos 30 minutos que se seguiram, o que se viu foi um jogo aberto e eletrizante, não recomendável para cardíacos.

Ronaldo estava inspirado e em grande fase, conseguindo dar suas perigosas arrancadas. Roberto Carlos passou a avançar quase como um ponta pela esquerda e Dunga coordenou as ações no meio de campo.

Aos três minutos, Roberto Carlos recebeu de Denílson na esquerda e cruzou da linha de fundo. Van der Sar espalmou para cima e Ronaldo tentou uma bicicleta, mas Frank de Boer tirou em cima da linha.

No minuto seguinte, Ronaldo driblou Frank de Boer e chutou de fora da área para uma boa defesa de Van der Sar.

Aos 6′, Van Hooijdonk bateu uma falta com efeito (uma das suas especialidades), mas Taffarel fez a defesa em dois tempos.

Aos doze, Kluivert recebeu nas costas de Zé Carlos, invadiu a área e chutou cruzado, mas a bola tocou de leve na trave e foi para fora.

No início da etapa final do tempo extra, Ronaldo deu mais uma de suas arrancadas características, ganhou na velocidade de Frank de Boer e deu um toque entre as pernas de Stam, mas o capitão holandês se recuperou e travou o brasileiro para evitar o gol.

Após o apito final, as duas equipes receberam os merecidos aplausos dos extasiados torcedores.

Certamente foi a melhor prorrogação que a Seleção Brasileira já jogou. Em 30 minutos, fez tudo que não havia feito nos 90 anteriores. Criou pelo menos oito chances claras de gol, contra uma única dos holandeses.

(Imagem: Rede Globo)

● Mas o gol decisivo não saiu e a vaga foi decidida nos pênaltis.

Ronaldo foi o primeiro a cobrar e bateu alta, no canto direito de Van der Sar. Brasil, 1 a 0.

Frank de Boer bateu firme, à meia altura, no canto direito de Taffarel. Empate em 1 a 1.

Rivaldo deslocou o arqueiro holandês e bateu no canto esquerdo: 2 a 1 Brasil.

Bergkamp bateu no cantinho esquerdo de Taffarel, que se esticou todo, mas não conseguiu chegar na bola: 2 a 2.

Emerson tinha entrado no lugar de Leonardo aos 40′ do segundo tempo. Como Leonardo era um dos cobradores oficiais, Zagallo estranhamente manteve seu substituto entre os batedores, ao invés de escolher outro jogador mais experiente. Mas Emerson bateu bem, no canto direito alto e converteu. Brasil 3, Holanda 2.

Cocu bateu à meia altura no canto esquerdo e Taffarel pulou certo para pegar. Permanecia 3 a 2.

Dunga bateu no canto direito e Van der Sar quase pegou, mas a bola foi para o gol: 4 a 2.

Ronald de Boer bateu no cantinho direito, mas… “Sai que é sua, Taffarel!” O goleiro brasileiro voou e pegou mais um.

Placar final: Brasil 4 x 2 Holanda.

(Imagem: CBF)

● Taffarel sofreu muito com as críticas após o tetra, bastante contestado por suas atuações pelo Clube Atlético Mineiro. Mas ele tinha a confiança do técnico Zagallo. E provou que deveria sempre ter tido a do povo brasileiro. Ele acertou o canto dos quatro pênaltis e só não defendeu o de dois craques: Frank de Boer e Dennis Bergkamp.

“Essa decisão por pênaltis foi ótima para o Taffarel. Ele já tinha sido muito criticado.” ― Zagallo

“Hoje ganhamos a batalha, mas a guerra não está vencida.” ― Taffarel

O Brasil havia superado seu trauma na decisão por pênaltis após o a conquista do título da Copa do Mundo de 1994. Por sua vez, a Holanda só se livraria desse trauma seis anos mais tarde, na Eurocopa de 2004, quando superou a Suécia e pela primeira vez venceu uma decisão por penalidades. Antes, já haviam sido derrotados pela Dinamarca na Euro de 1992, pela França na Euro de 1996 e pela Itália na Euro de 2000.

Na decisão do 3º lugar, a Holanda não teve ânimo algum e perdeu para a Croácia de Davor Šuker por 2 x 1.

O Brasil estava na final pela segunda Copa do Mundo consecutiva. E também pela segunda vez seguida, eliminava a Holanda.

Na decisão, a Seleção Brasileira enfrentou a França e perdeu por 3 x 0, em partida que ficou marcada pela convulsão de Ronaldo horas antes da partida e os dois gols de cabeça de Zinedine Zidane. Emmanuel Petit completou o placar.

(Imagem: Alexandre Battibugli / Placar / Dedoc)

FICHA TÉCNICA:

BRASIL 1 X 1 HOLANDA

Data: 07/07/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Stade Vélodrome (atual Orange Vélodrome)

Público: 54.000

Cidade: Marselha (França)

Árbitro: Ali Bujsaim (Emirados Árabes Unidos)

BRASIL (4-4-2):

HOLANDA (4-4-2):

1 Taffarel (G)

1 Edwin van der Sar (G)

13 Zé Carlos

2 Michael Reiziger

4 Júnior Baiano

3 Jaap Stam

3 Aldair

4 Frank de Boer (C)

6 Roberto Carlos

11 Phillip Cocu

5 César Sampaio

6 Wim Jonk

8 Dunga (C)

16 Edgar Davids

18 Leonardo

7 Ronald de Boer

10 Rivaldo

12 Boudewijn Zenden

20 Bebeto

8 Dennis Bergkamp

9 Ronaldo

9 Patrick Kluivert

Técnico: Zagallo

Técnico: Guus Hiddink

12 Carlos Germano (G)

18 Ed de Goey (G)

22 Dida (G)

22 Ruud Hesp (G)

2 Cafu

13 André Ooijer

14 Gonçalves

15 Winston Bogarde

15 André Cruz

5 Arthur Numan

16 Zé Roberto

19 Giovanni van Bronckhorst

17 Doriva

20 Aron Winter

11 Emerson

10 Clarence Seedorf

7 Giovanni

14 Marc Overmars

19 Denílson

17 Pierre van Hooijdonk

21 Edmundo

21 Jimmy Floyd Hasselbaink

GOLS:

46′ Ronaldo (BRA)

87′ Patrick Kluivert (HOL)

CARTÕES AMARELOS:

31′ Zé Carlos (BRA)

45′ César Sampaio (BRA)

48′ Michael Reiziger (HOL)

60′ Edgar Davids (HOL)

90′ Pierre van Hooijdonk (HOL)

119′ Clarence Seedorf (HOL)

SUBSTITUIÇÕES:

56′ Michael Reiziger (HOL) ↓

Aron Winter (HOL) ↑

70′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

75′ Boudewijn Zenden (HOL) ↓

Pierre van Hooijdonk (HOL) ↑

85′ Leonardo (BRA) ↓

Emerson (BRA) ↑

111′ Wim Jonk (HOL) ↓

Clarence Seedorf (HOL) ↑

DECISÃO POR PÊNALTIS:

BRASIL 4

HOLANDA 2

Ronaldo (gol, no ângulo direito)

Frank de Boer (gol, à meia altura, à direita)

Rivaldo (gol, no canto esquerdo)

Dennis Bergkamp (gol, no canto esquerdo)

Emerson (gol, no alto do gol, à direita)

Phillip Cocu (perdeu, à esquerda, defendido por Taffarel)

Dunga (gol, no ângulo direito)

Ronald de Boer (perdeu, à direita, defendido por Taffarel)

Melhores momentos (Rede Globo):

Melhores momentos (FIFA.com):

… 06/07/2018 – Bélgica 2 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 06/07/2018 – Bélgica 2 x 1 Brasil


(Imagem: FIFA.com)

● Depois de fazer um verdadeiro papelão na Copa do Mundo de 2014, jogando em casa, o técnico Luiz Felipe Scolari saiu para a entrada de Dunga. Como sabemos, o capitão do tetra nunca teve sucesso como técnico. E com uma campanha ruim nas eliminatórias sul-americanas e em duas edições de Copa América, logo ele caiu. Com dois anos de atraso Tite assumiu e recuperou a autoestima da Seleção Brasileira. Era unanimidade. A pessoa certa no lugar certo. Um técnico moderno.

Jogando em um 4-1-4-1 “imexível”, o time ganhou liga e acabou como líder nas eliminatórias, com a segunda melhor campanha em todos os tempos (atrás apenas da Argentina de 2002). Tinha um sistema defensivo sólido, com o goleiro Alisson, três zagueiros de alto nível (Thiago Silva, Miranda e Marquinhos), dois dos melhores laterais da história recente (Daniel Alves e Marcelo). Casemiro era o responsável pela marcação no meio campo. Paulinho era o homem da infiltração e Philippe Coutinho o da armação e chutes de longa distância. Willian fazia o lado direito e Neymar brilhava e caía (em todos os sentidos) pelo lado esquerdo. Gabriel Jesus era o centroavante tático, que tinha a função principal de abrir espaços para quem vinha de trás.

Faltavam opções confiáveis no banco, muito por causa da gratidão do treinador para com alguns jogadores que não estavam em seu melhor momento. Os nomes mais questionáveis eram Renato Augusto, Taison, Fagner, Paulinho, Fred e Cássio (todos treinados por Tite no Corinthians ou no Inter). Em cima da hora, a lesão de Daniel Alves abriu a brecha para que Danilo fosse titular na lateral direita. Durante o Mundial, o lateral do Manchester City (atualmente na Juventus) se lesionou e Fagner se tornou titular. Se não brilhou, também não passou vergonha.

A contusão de Neymar meses antes do Mundial deixou algum receio, mas logo ele se recuperaria e ganharia a fama de “cai-cai” durante o torneio na Rússia. Era a história de “Pedrinho e o lobo”: já não se sabia mais quando estava sentindo alguma pancada ou se estava só representando.

Na primeira fase, o empate por 1 x 1 com a Suíça começou a abrir os olhos da torcida, mostrando que o hexa não viria tão facilmente. A vitória por 2 x 0 sobre a Costa Rica veio apenas nos minutos finais, mas sem enganar que o placar moral deveria ter sido um empate. Contra a Sérvia, a vitória por 2 x 0 serviu para garantir o primeiro lugar no grupo e nada mais. Nas oitavas de final, em nova vitória por 2 x 0, dessa vez sobre o “freguês” México, a Seleção Brasileira até jogou um pouco melhor. Mas o adversário nas quartas seria a forte Bélgica.


(Imagem: FIFA.com)

● A “ótima geração belga” estava em seu auge. Convivia com a pressão para ser protagonista em um grande torneio. Seus melhores jogadores haviam amadurecido e viviam boa fase, com carreiras sólidas nos grandes clubes europeus.

O técnico espanhol Roberto Martínez montava os Diables Rouges no sistema 3-4-3. Thibaut Courtois era o goleiro. A defesa tinha Toby Alderweireld pela direita, Vincent Kompany pelo meio e Jan Vertonghen pela esquerda (às vezes até avançando mais como um falso lateral). Thomas Meunier era o ala pela direita e voltava um pouco mais para fechar seu lado. Na ala oposta, Nacer Chadli fazia a esquerda, avançando mais. Axel Witsel era o esteio da marcação. Seu companheiro no meio era Kevin De Bruyne, que marcava, passava, criava, atacava e finalizava. O goleador do Napoli Dries Mertens era o ponta direita. Pela ponta esquerda, o capitão Eden Hazard chegava ao seu auge técnico. O centroavante Romelu Lukaku era a força bruta e a certeza de gols. No banco, bons nomes como Thomas Vermaelen, Mousa Dembélé, Marouane Fellaini e Yannick Ferreira Carrasco. A ausência mais sentida foi a do volante Radja Nainggolan, preterido na convocação.

Na primeira fase, a Bélgica venceu o Panamá por 3 x 0 e a Tunísia por 5 x 2. Na terceira rodada, venceu a Inglaterra por 1 x 0, em uma partida em que as duas seleções escalaram os reservas. Nas oitavas de final, os belgas estavam perdendo para o Japão por 2 x 0 até os 24 minutos do segundo tempo, mas conseguiram virar o placar para 3 x 2.

O primeiro teste de verdade seria o Brasil nas quartas de final. E o técnico Martínez resolveu fazer mudanças no time, para reforçar o meio de campo. Na ala esquerda, trocou Ferreira Carrasco por Chadli. Mas a mudança mais significativa foi a troca do atacante Mertens pelo volante Fellaini. Com isso, De Bruyne ganhava liberdade total para flutuar entre as linhas de defesa do Brasil e organizar as ações ofensivas. Além disso, houve uma alteração tática: o centroavante Lukaku, acostumado a jogar pelo meio, começou o jogo caindo na ponta direita, aproveitando a fragilidade defensiva e as constantes subidas de Marcelo (que se recuperava de lesão nas costas), puxando a marcação e abrindo a defesa brasileira para a inserção e avanço dos meias.


O técnico Roberto Martínez escalou a Bélgica no ofensivo 3-4-3, mas dessa vez com a proteção maior de Fellaini no meio e De Bruyne mais próximo do ataque. Lukaku jogou caindo pela direita.


Tite repetiu seu esquema preferido, o 4-1-4-1. Marcelo voltou ao time titular e Fernandinho ganhou a vaga de Casemiro, suspenso por ter recebido o segundo cartão amarelo contra o México.

● A mudança tática na seleção belga pegou Tite de surpresa e a Bélgica dominou o primeiro tempo.

O Brasil não podia contar com Casemiro, suspenso pelo segundo cartão amarelo. Ele era um dos melhores de sua posição na Copa até então. Seu substituto foi Fernandinho.

No início do jogo, De Bruyne começou assustando o Brasil, ao ganhar uma dividida de Fernandinho e arriscar de longe, mas a bola saiu à direita de Alisson.

Logo depois, Neymar cobrou escanteio da esquerda e Thiago Silva finalizou do jeito que deu, com a coxa, mas a bola bateu na trave e Courtois correu para agarrá-la.

Chadli arriscou da meia esquerda e a bola foi para fora.

Willian cobrou escanteio rasteiro pela direita e Paulinho, sozinho, teve a chance clara de fazer o gol, mas chutou mascado.

O castigo veio aos 13 minutos. Chadli cobrou escanteio. Kompany apareceu na primeira trave sem marcação e deu um leve desvio. Gabriel Jesus e Fernandinho subiram juntos na mesma bola e nenhum conseguiu cortar. Ela bateu na lateral do braço de Fernandinho e entrou no gol. Mais um dos vários gols contra da Copa de 2018.

O Brasil não se abateu. Neymar foi à linha de fundo e cruzou rasteiro para o meio. Gabriel Jesus foi travado em cima por Kompany, seu companheiro no Manchester City.

Philippe Coutinho arriscou da entrada da área, mas Courtois agarrou firme. Marcelo fez a mesma jogada de Coutinho e o goleiro belga espalmou.

Uma partida na qual o Brasil era ligeiramente melhor, ficou ainda pior aos 31′. Neymar bateu escanteio e Alderweireld cortou na primeira trave (como deveriam ter feito os brasileiros no lance do primeiro gol). Lukaku pegou a sobra na intermediária defensiva, girou sobre Fernandinho, avançou em alta velocidade e abriu na direita para Kevin De Bruyne, que entrou na área e chutou forte e cruzado. O segundo gol belga mostrou as maiores qualidades dessa “ótima geração”: transições em velocidade e bom aproveitamento nas finalizações.

Talvez Fernandinho tenha sido inocente por não ter feito uma “falta tática” na jogada, coisa que o suspenso Casemiro teria feito.

A Seleção Canarinho, que já estava nervosa, passou a errar passes de três metros.

Marcelo cruzou da esquerda e Gabriel Jesus cabeceou sozinho para fora. Possivelmente daria tempo até de dominar a bola e finalizar em melhores condições, mas ele se afobou e cabeceou do jeito que conseguiu.

Marcelo cruzou rasteiro, a zaga cortou e Courtois salvou o gol contra. O escanteio curto foi cobrado e Coutinho arriscou para nova defesa do arqueiro belga.

De Bruyne cobrou falta no meio do gol e Alisson espalmou por cima. Chadli cobrou escanteio rasteiro e Kompany apareceu na primeira trave para desviar, mas o goleiro brasileiro ficou com a bola.


(Imagem: FIFA.com)

● Tite mexeu no intervalo. Trocou Willian por Roberto Firmino e deslocou Gabriel Jesus para a direita. Mas a primeira jogada perigosa foi pela esquerda, quando Marcelo chutou cruzado e a bola passou perto do gol. Firmino ainda tentou esticar o pé e quase tocou na bola.

Depois, Fagner achou Paulinho, que entrou na área e dividiu com Courtois, mas a bola espirrou na sequência.

De Bruyne puxou contra-ataque e abriu na esquerda para Hazard, que chutou forte, mas a bola saiu à esquerda de Alisson. O Brasil escapou de sofrer o terceiro gol.

O menino Jesus não rendeu na direita e Tite, tardiamente, o trocou por Douglas Costa. Na primeira bola que recebeu, Douglas passou por Vertonghen e chutou cruzado, Courtois espalmou para o meio da área e Paulinho não estava atento para alcançar o rebote.

Depois, a jogada quase se repetiu: Douglas cortou a marcação e chutou cruzado, o goleiro espalmou e Neymar chutou a sobra em cima da defesa belga.

Tite fez a última alteração, colocando Renato Augusto no lugar de Paulinho. A intenção era parar de errar passes na saída de bola, mas essa mexida surtiu mais efeito no ataque.

Philippe Coutinho avançou pelo meio, viu a infiltração de Renato Augusto e cruzou. Aparecendo no meio da área como homem surpresa, o camisa 8 desviou bem de cabeça e a bola foi no cantinho direito. Um belo gol, que voltava a dar esperanças para o Brasil.

Coutinho tocou da esquerda, Neymar girou em cima da marcação e chutou por cima. Essa passou muito perto do gol.

Coutinho (que parecia ter acordado de longa hibernação de 70 minutos) tocou para Renato Augusto na entrada da área. Sem marcação, o meia chutou com perigo, mas a bola saiu à esquerda. Um gol perdido. A maior chance do Brasil no jogo. Não se deve nunca errar um gol desses.

Firmino abriu para Neymar na esquerda. Ele cortou Meunier e tocou para a chegada de Coutinho, que pegou muito mal na bola e isolou.

Douglas Costa cortou da direita para o meio e rolou para Neymar. Da meia lua, o camisa 10 bateu colocado no ângulo, mas Courtois foi buscar a bola e fazer um verdadeiro milagre na Arena Kazan. Outra chance perdida, que arrefeceu a Seleção.

No último lance da partida, inclusive com Alisson dentro da área belga, Neymar cobrou escanteio e Firmino cabeceou por cima.


(Imagem: FIFA.com)

● Ao final da partida, os belgas comemoraram como se já houvessem conquistado o título. Foi uma prova enorme de maturidade dessa “ótima geração”, que queria continuar provando que estava pronta para deixar de ser um “time de videogame” e marcar seu lugar na história. Tinha qualidades para isso.

Os Diables Rouges alcançaram as semifinais pela segunda vez em sua história, a primeira desde 1986. Fez uma partida equilibrada com a França, mas não conseguiu criar chances de gol e perdeu por 1 x 0. No fim, conquistou o inédito 3º lugar ao vencer novamente a Inglaterra, dessa vez por 2 x 0. Uma classificação digna da “ótima geração belga”, mas que certamente tinha potencial para avançar um pouco a mais.

Contra a Bélgica, a Seleção Brasileira chegou a 109 partidas e se igualou à Alemanha em número de jogos na história das Copas do Mundo. Nessa mesma partida, o Brasil chegou ao 228º gol em Mundiais, deixando a Alemanha para trás, com 226.


(Imagem: FIFA.com)

FICHA TÉCNICA:

 

BÉLGICA 2 x 1 BRASIL

 

Data: 06/06/2018

Horário: 21h00 locais

Estádio: Arena Kazan

Público: 42.873

Cidade: Kazan (Rússia)

Árbitro: Milorad Mažić (Sérvia)

 

BÉLGICA (3-4-3):

BRASIL (4-1-4-1):

1  Thibaut Courtois (G)

1  Alisson (G)

2  Toby Alderweireld

22 Fagner

4  Vincent Kompany

2  Thiago Silva

5  Jan Vertonghen

3  Miranda (C)

15 Thomas Meunier

12 Marcelo

6  Axel Witsel

17 Fernandinho

8  Marouane Fellaini

19 Willian

22 Nacer Chadli

15 Paulinho

7  Kevin De Bruyne

11 Philippe Coutinho

10 Eden Hazard (C)

10 Neymar Jr

9  Romelu Lukaku

9  Gabriel Jesus

 

Técnico: Roberto Martínez

Técnico: Tite

 

SUPLENTES:

 

 

12 Simon Mignolet (G)

23 Ederson (G)

13 Koen Casteels (G)

16 Cássio (G)

23 Leander Dendoncker

14 Danilo (lesionado)

20 Dedryck Boyata

13 Marquinhos

3  Thomas Vermaelen

4  Pedro Geromel

17 Youri Tielemans

6  Filipe Luís

19 Mousa Dembélé

5  Casemiro (suspenso)

11 Yannick Ferreira Carrasco

18 Fred

16 Thorgan Hazard

8  Renato Augusto

18 Adnan Januzaj

7  Douglas Costa

14 Dries Mertens

21 Taison

21 Michy Batshuayi

20 Roberto Firmino

 

GOLS:

13′ Fernandinho (BEL) (gol contra)

31′ Kevin De Bruyne (BEL)

76′ Renato Augusto (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

47′ Toby Alderweireld (BEL)

71′ Thomas Meunier (BEL)

85′ Fernandinho (BRA)

90′ Fagner (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Willian (BRA) ↓

Roberto Firmino (BRA) ↑

 

58′ Gabriel Jesus (BRA) ↓

Douglas Costa (BRA) ↑

 

73′ Paulinho (BRA) ↓

Renato Augosto (BRA) ↑

 

83′ Nacer Chadli (BEL) ↓

Thomas Vermaelen (BEL) ↑

 

87′ Romelu Lukaku (BEL) ↓

Youri Tielemans (BEL) ↑


(Imagem: FIFA.com)

Melhores momentos da partida:

… 02/07/1982 – Brasil 3 x 1 Argentina

Três pontos sobre…
… 02/07/1982 – Brasil 3 x 1 Argentina


(Imagem: UOL)

● Pela terceira Copa do Mundo seguida, Brasil e Argentina se enfrentavam na segunda fase. Nas duas vezes anteriores eram quadrangulares, mas dessa vez eram três times e só o vencedor da chave passava às semifinais. Os pesos-pesados Brasil, Argentina e Itália estavam no mesmo grupo. Esse foi o verdadeiro conceito de um “grupo da morte”.

O técnico Telê Santana contava com um excelente time, com destaque para o quarteto de meio campo: Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico. No comando da Seleção, Telê havia perdido apenas duas partidas: uma em seu segundo jogo (15/06/1980), no amistoso contra a URSS no Maracanã (1 x 2), e outra na final no Mundialito (em 10/01/1980), contra o Uruguai (1 x 2).

O time chegou em plena forma à Espanha e obteve 100% de aproveitamento na primeira fase. Primeiro venceu de virada o bom time da União Soviética por 2 x 1. Depois, goleou Escócia (4 x 1) e Nova Zelândia (4 x 0). Discutivelmente, era o melhor time do mundo e encantava pelo jogo leve e vistoso. Mas o primeiro desafio “de verdade” seria o clássico sul-americano.

A Argentina chegou como campeã do mundo, mas estreou perdendo para a Bélgica por 1 x 0. Depois, venceu a Hungria por 4 x 1 e El Salvador por 2 x 0. Na primeira partida da fase final, perdeu para a Itália por 2 x 1. Agora, precisava vencer o Brasil para ainda ter alguma chance de classificação.

O treinador portenho César Luis Menotti montou um time com jogadores talentosos, mas não conseguiu repetir 1978. O time titular era praticamente o mesmo, com um “pequeno acréscimo”: o jovem Diego Armando Maradona.

Por ter obtido uma melhor colocação na primeira fase, a Seleção Brasileira pôde ter mais tempo para se preparar. Foram nove dias entre a vitória sobre a Nova Zelândia e o jogo contra os hermanos. Folgou na primeira rodada do triangular e assistiu de camarote à vitória por 2 x 1 dos italianos sobre os argentinos – que ainda perderam o volante Américo Gallego para a partida decisiva, expulso por chutar Marco Tardelli sem bola.


O Brasil atuava no 4-4-2, um sistema montado para acomodar os quatro destaques no meio campo. Os laterais eram bastante ofensivos e até o zagueiro Luizinho gostava de se aventurar no ataque. Faltava alguém na ponta direita, tanto para atacar, quanto para defender.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque e Maradona recuando para armar o jogo, aparecendo em todos os lados.

● Esse era o duelo esperado pelo mundo todo: a equipe que estava apresentando o melhor e mais técnico futebol, contra os atuais campeões do mundo. E só a vitória valia para o albicelestes.

Por isso, a Argentina começou com tudo. Logo aos dois minutos, Mario Kempes fez boa jogada pela esquerda e cruzou para a área. Juan Barbas cabeceou forte, mas Waldir Peres segurou firme.

Mas o jogo mudou aos 11 minutos de partida. Após um contra-ataque rápido, Daniel Passarella fez falta em Serginho Chulapa na intermediária. Na cobrança, Éder soltou um de seus canhões e a bola fez uma curva impressionante. A bola merecia entrar direto, mas Ubaldo Fillol desviou de leve e ela explodiu na trave e quicou em cima da linha, sobrando limpa para Zico chegar antes de Serginho e só tocá-la para o gol vazio. Foi o quarto gol de Zico na Copa.

Mas o jogo continuou da mesma forma: a Argentina atacando o lado direito brasileiro (que não tinha um ponta para recompor e auxiliar a marcação, como Éder fazia pelo lado esquerdo) e o Brasil apostando nos contragolpes.

Falcão fez uma partida impecável, tanto defensiva quanto ofensivamente. Aos 33′, ele recebeu um belo passe de Leandro e chutou por cima, dando um susto em Fillol.

Aos 41′, Júnior lançou para Falcão, que tabelou com Sócrates pelo alto e bateu de esquerda, sem deixar a bola cair. Novamente a bola foi por cima do gol argentino.

Maradona cobrou escanteio, Passarella subiu entre Sócrates e Oscar e cabeceou bem, mas Waldir espalmou para cima.

No segundo tempo, a Argentina voltou com Ramón Díaz no lugar de Mario Kempes. Com isso, Maradona passou a jogar mais recuado, articulando o jogo e livre para se movimentar.

Aos 2′, o bom volante Osvaldo Ardiles foi o protagonista da primeira das muitas pancadas distribuídas pelos argentinos. Ele deu um pisão no tornozelo de Sócrates, que precisou ser atendido por mais de cinco minutos fora dos gramados.

Poucos minutos depois, Maradona fez uma linda jogada individual e deixou Júnior no chão. O lateral brasileiro levantou e deu um imprudente carrinho por trás, atingindo o tornozelo do Pibe dentro da área, mas o árbitro mandou o jogo seguir de forma equivocada – foi pênalti.

Aos 10′, Cerezo arriscou de fora da área e Fillol defendeu bem. Em uma cobrança de falta ensaiada cinco minutos depois, Éder rolou para Cerezo chutar novamente de longe e assustar o arqueiro argentino.

Pelo futebol apresentado, o segundo gol brasileiro demorou muito, mas o intervalo entre um gol e outro foi de futebol extraordinário, mágico, que encantava os 44 mil expectadores no estádio Sarrià, em Barcelona. O foco estava em Maradona, mas a estrela foi Zico.

Aos 21′, Sócrates abriu com Éder na esquerda e o ponta deixou com Zico no meio. O Galinho de Quintino viu Falcão aparecendo no espaço vazio na ponta direita e lançou no ponto futuro, nas costas do lateral esquerdo Alberto Tarantini. Falcão dominou, levantou a cabeça e cruzou na segunda trave para Serginho cabecear de cima para baixo, sem chances para Fillol. Foi uma linda e envolvente troca de passes do escrete canarinho, que resultou no segundo gol de Chulapa no Mundial. Brasil 2 a 0.

Cada gol era comemorado com muita extravagância. Fazia parte do espetáculo que só o brasileiro era capaz de proporcionar, dentro e fora de campo.


(Imagem: Veja)

A Argentina não conseguia construir jogadas de perigo. Sempre parava na entrada da área brasileira e tinha dificuldades de recuperar a posse de bola. O placar poderia estar ainda maior se o Brasil não perdesse tantos gols.

A linha de impedimento muito mal feita pelos argentinos rendeu também o terceiro gol brasileiro, aos 30′. Sócrates deixou de calcanhar para Falcão. O Rei de Roma tabelou com Éder. Júnior recebeu e deixou com Zico no meio. Com muita visão de jogo, o camisa 10 percebeu a infiltração do lateral flamenguista e fez o passe perfeito em profundidade na diagonal, nas costas da defesa. Júnior recebeu livre e tocou de esquerda entre as pernas de Fillol. Brasil 3 a 0.

“A diagonal é fundamental, porque é a possibilidade de a bola chegar e o cara não entrar em impedimento.” ― Zico

Na base do desespero, até Passarella se lançou à frente. Aos 32 min, Maradona deixou o capitão em condição de finalizar, próximo ao bico da grande área. Ele chutou bem, mas Waldir desviou para escanteio em uma ótima defesa.

Pouco depois, o mesmo Passarella perdeu a compostura e deu uma entrada criminosa em Zico. O meia brasileiro precisou sair para a entrada de Batista. Telê tinha acabado de colocar Edevaldo no lugar de Leandro, que havia sentido uma lesão ainda durante o treinamento.

Aos 40′, Batista deu uma entrada dura em Juan Barba, Maradona revidou com um coice no estômago do brasileiro e foi prontamente expulso pelo juiz mexicano Mario Rubio Vázquez. Na reclamação, Falcão recebeu o primeiro cartão amarelo da Seleção Brasileira em todo o Mundial.

“Na verdade, o Maradona me disse depois que a intenção dele era dar aquela pancada em mim. Só depois ele deu percebeu que era o Batista.” ― Falcão

Maradona extravasou toda sua frustração em uma falta maldosa. Certamente ele queria ter feito mais em sua primeira Copa do Mundo, mas sofreu nas mãos de zagueiros maldosos (especialmente do italiano Claudio Gentile) e de árbitros condescendentes.

Menotti buscava no cigarro o consolo habitual e os albicelestes só marcaram o gol de honra no último minuto de jogo por causa de um erro na saída de bola brasileira. Tatantini roubou a bola de Batista e tocou para Ramón Díaz na entrada da área. O argentino viu o Waldir Peres adiantado e chutou de esquerda com efeito, acertando no ângulo direito do goleiro brasileiro.

Essa foi a apresentação mais espetacular da Seleção de 1982. Com esse resultado, a Argentina estava eliminada e o Brasil jogaria por um empate com a Itália para ir às semifinais da Copa de 1982.


(Imagem: Veja)

“As oportunidades apareceram, o jogo fluiu e a gente fez jogadas realmente muito boas, gols maravilhosos. A Argentina precisava ganhar. Veio, se abriu, apareceram os espaços. No primeiro gol, eu meti a bola pro Serginho no meio de dois argentinos, e o Passarella, último homem, fez a falta que o Éder bateu e eu fiz o gol. O segundo gol, quando eu dominei a bola, o Falcão passou pelo lado, eu meti a bola pra ele e ele deu pro Serginho fazer o gol. E o terceiro gol, a mesma coisa. Já tinham acontecido jogadas que a gente entrava na cara do gol toda hora. Aquele time da Argentina fazia muita linha [de impedimento], e aí ficava muito fácil.” ― Zico

Com apenas 21 anos, Maradona já tinha a marra que lhe acompanharia até os dias de hoje. Ele passou a cobrar US$ 5 mil para cada entrevista concedida a partir da segunda fase. E já atacava seus críticos: “Pelé precisa estar no time e enfrentar a marcação constante de quatro defensores para depois opinar”. E continuou alfinetando o Rei do Futebol na chegada a Buenos Aires, após a eliminação da Argentina: “Pelé é um tagarela que tem de falar de mim ou de Rummenigge para sair nas revistas”.

Na comemoração do terceiro gol brasileiro, o Maestro Júnior sambou ao som imaginário da música que ele mesmo gravou poucos meses antes do Mundial: “Povo feliz”, conhecida pelo refrão: “voa canarinho, voa”. Composta por Memeco e Nonô do Jacarezinho, a música foi a trilha sonora dos bailes brasileiros em gramados espanhóis. O compacto alcançou o certificado de disco de platina, com 726 mil cópias vendidas.

Na partida seguinte, o Brasil perdeu por 3 x 2 para a Squadra Azzurra e deu adeus à competição. Mas mesmo assim, a Seleção de 1982 entrou para a história como uma das melhores e mais vistosas equipes de todos os tempos.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 1 ARGENTINA

 

Data: 02/07/1982

Horário: 17h15 locais

Estádio: Sarrià

Público: 44.000

Cidade: Barcelona (Espanha)

Árbitro: Mario Rubio Vázquez (México)

 

BRASIL (4-3-3):

ARGENTINA (4-3-3):

1  Waldir Peres (G)

7  Ubaldo Fillol (G)

2  Leandro

14 Jorge Olguín

3  Oscar

8  Luis Galván

4  Luizinho

15 Daniel Passarella (C)

6  Júnior

18 Alberto Tarantini

5  Toninho Cerezo

1  Osvaldo Ardiles

15 Falcão

3  Juan Barbas

10 Zico

10 Diego Armando Maradona

8  Sócrates (C)

4  Daniel Bertoni

9  Serginho Chulapa

5  Gabriel Calderón

11 Éder

11 Mario Kempes

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: César Luis Menotti

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Sérgio (G)

2  Héctor Baley (G)

22 Carlos (G)

16 Nery Pumpido (G)

13 Edevaldo

19 Enzo Trossero

14 Juninho Fonseca

22 José Van Tuyne

16 Edinho

13 Julio Olarticoechea

17 Pedrinho Vicençote

9  Américo Gallego

18 Batista

12 Patricio Hernández

7  Paulo Isidoro

21 José Daniel Valencia

19 Renato Pé Murcho

17 Santiago Santamaría

20 Roberto Dinamite

6  Ramón Díaz

21 Dirceu

20 Jorge Valdano

 

GOLS:

11′ Zico (BRA)

66′ Serginho Chulapa (BRA)

75′ Júnior (BRA)

89′ Ramón Díaz (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

33′ Daniel Passarella (ARG)

77′ Waldir Peres (BRA)

85′ Falcão (BRA)

 

CARTÃO VERMELHO: 85′ Diego Armando Maradona (ARG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Mario Kempes (ARG) ↓

Ramón Díaz (ARG) ↑

 

64′ Daniel Bertoni (ARG) ↓

Santiago Santamaría (ARG) ↑

 

82′ Leandro (BRA) ↓

Edevaldo (BRA) ↑

 

83′ Zico (BRA) ↓

Batista (BRA) ↑

Veja aqui os belos gols da partida:

Música “Voa canarinho, voa”, com imagens da Seleção Brasileira na Copa de 1982:

… 01/07/2006 – França 1 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 01/07/2006 – França 1 x 0 Brasil


Zizou desfilou em campo (Imagem: UOL)

● Podemos começar lembrando das eliminatórias sul-americanas, onde Ronaldo foi o artilheiro e o Brasil o líder geral. Ou podemos mudar o foco para a empolgação causada pelo título da Copa das Confederações de 2005, quando convenceu ao golear a Argentina por 4 x 1 na decisão. Pode ser que o resultado final tenha sido condicionado pela catastrófica preparação desde a chegada à cidade suíça de Weggis. Pode ter sido a exaltação ao fantástico “quadrado mágico”, que não rendeu o esperado quando deveria. Foi a magia de Zizou ou será que a culpa a eliminação brasileira foi de Roberto Carlos e seu meião?

Oito anos depois de ter sido o carrasco brasileiro na final da Copa do Mundo de 1998, Zinedine Zidane estava em seus últimos dias de carreira. Ele carregava consigo a tristeza pela lesão e a eliminação precoce, ainda na fase de grupos do Mundial de 2002. E em 2006, a França estava sem confiança alguma após fazer uma primeira fase medíocre. Ganhou força e confiança ao vencer a forte Espanha por 3 x 1 de virada.

Por sua vez, a Seleção Brasileira obteve 100% de aproveitamento na primeira fase e venceu Gana por 3 x 0 nas oitavas de final, com Ronaldo se tornando o maior artilheiro da história das Copas, com 15 gols. Mesmo não jogando bem, o excesso de confiança era algo que nunca se viu igual, até para os exagerados críticos brasileiros. Era impossível não enxergar que as peças não se encaixavam e que o futebol de teoria não se aplicava na prática. Falando mais didaticamente: o quadrado. Não só a figura geométrica, mas tudo que o envolvia.


Os vencedores da Copa do Mundo e o espelho da pirâmide. Na geometria, o Brasil venceria a Copa de 2006.

● Independentemente nível apresentado pela Seleção Brasileira, o torcedor tinha plena convicção na vitória e no título. Ingênuo, eu acreditei na “Pirâmide das Copas” (veja a figura acima). E era impossível não vencer com aquele esquadrão. No papel, é certamente uma das mais fortes do país em todos os tempos, com todos os titulares sendo destaque nos grandes clubes europeus.

Dida é um dos maiores goleiros da história do país e estava em plena forma. A dupla de zaga, com Lúcio e Juan, era bem entrosada e não comprometia. E no restante da escalação começam os problemas… Os dois lendários laterais, Cafu e Roberto Carlos, estavam mais para lendas mesmo, pois já começavam a entrar em declínio em suas vitoriosas carreiras. Emerson já não tinha o físico de outrora, mas, mesmo no auge, jamais conseguiria marcar sozinho no meio campo e cobrir os avanços dos laterais. Zé Roberto foi o destaque brasileiro na competição, mas seu forte não era a marcação e não conseguiu criar para todos os demais. O quadrado era composto por Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo. Kaká não conseguiu render o seu melhor por causa de uma lesão. Melhor jogador do mundo nos dois anos anteriores, R10 estava no auge e começou a despencar exponencialmente justamente no Mundial. Adriano era o menos famoso, mas talvez tenha sido, dos quatro, o que mais rendeu no torneio. E Ronaldo, embora fosse a esperança de reviver 2002, já começava a perder a luta para a balança.


O técnico Raymond Domenech organizou Les Bleus no sistema tático 4-2-3-1, com liberdade total para Zidane na armação.


Para essa partida, Parreira escalou a Seleção Brasileira no esquema 4-3-2-1, com Juninho Pernambucano entrando no meio para dar mais suporte a Gilberto Silva e Zé Roberto. Adriano foi sacrificado.

● Contra os franceses, o pragmático Carlos Alberto Parreira desmanchou o “quadrado” e escalou Juninho Pernambucano para preencher mais o meio de campo. O “Reizinho de São Januário” era o melhor jogador do futebol francês, reinando no Olympique Lyon. Mas não teve inteligência emocional e chorou no hino nacional. Não conseguiu render em campo. Gilberto Silva substituiu o lesionado Emerson e não conseguiu ver a sombra de Zidane.

Aos 23′, Lúcio fez sua primeira falta na Copa – três minutos após superar o recorde de Carlos Gamarra em 1998.

Mas naquele dia, Zizou era o dono da bola, ou um menino maior brincando com os menores: estava tão acima dos demais, que parecia flutuar sobre o gramado. A bola grudava em seus pés e ele se tornava um bailarino em um festival de Frankfurt. Pouco antes do gol solitário, presenteou seu amigo Ronaldo com um belo chapéu.

Aos doze minutos do segundo tempo, Florent Malouda sofreu falta de Cafu na esquerda. Zidane cobrou a falta no segundo pau e Henry completou sozinho para o gol.

Ficou a história narrada por Galvão Bueno para o Brasil inteiro: enquanto Zizou se preparava para cobrar a falta, Roberto Carlos arrumava seu meião na entrada da área. A bola foi batida no segundo pau e Thierry Henry escapou da posição inicial de Roberto e completou para o gol.

Mas era improvável pensar que o camisa 6 do Brasil era o responsável por acompanhar o francês nas jogadas de bola parada. Henry: 1,88 m; Roberto: 1,68 m. A diferença entre ambos era aparentemente bem maior do que os 20 cm. Henry vinha de frente e tinha faro de gol.


Parreira voltou ao sistema 4-2-2-2, com o retorno de Adriano no lugar de Juninho Pernambucano.

Logo após sofrer o gol, Parreira desfez o sistema tático e voltou ao “quadrado mágico”, trocando Juninho por Adriano.

Ridiculamente, o Brasil só acertou o primeiro chute a gol no último minuto da partida: Ronaldo chutou de fora da área e Fabien Barthez defendeu.

Era impossível que a Seleção Brasileira não fosse mais vencer essa Copa. Como a pirâmide estaria errada? Culpa do quadrado mágico? Até hoje eu não consegui compreender. Mas nunca fui bom em matemática mesmo…

Zidane repetiu o feito de oito anos antes: destruiu os sonhos de um título brasileiro já ganho de véspera. Mas o futebol é resolvido em campo. E em campo, quem mandou novamente naquele dia foi Zidane.

E essa derrota interrompeu uma série de 11 vitórias consecutivas da Seleção Brasileira em Copas. Curiosamente, essa sequência começou após uma derrota para a França de Zidane. E terminou com derrota para a França de Zidane.


Henry se posicionou bem e, livre de marcação, fez o gol da partida (Imagem: UOL)

● Naquele dia 01/07/2006, eu seria padrinho de casamento de um primo, em uma cidade bem pequenina no interior de Minas Gerais. O enlace matrimonial estava marcado para as 19h00 e essa partida começou às 17h00. Eu tinha certeza que o Brasil venceria e que chegaríamos a tempo. Mas quando Henry marcou o gol, só fiquei pensando sobre como estaríamos na cerimônia se houvesse prorrogação. E questionei meu pai: “Será que vamos chegar atrasados?” E com a sabedoria de meio século vivido, meu pai me diz: “Não se preocupe. Nem o padre vai estar na igreja até o jogo acabar”. Infelizmente não houve prorrogação e a igreja foi se enchendo com o passar dos minutos.


Roberto Carlos ficou tachado injustamente como vilão (Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 1 x 0 BRASIL

 

Data: 01/07/2006

Horário: 21h00 locais

Estádio: Waldstadion (atual Commerzbank-Arena)

Público: 48.000

Cidade: Frankfurt (Alemanha)

Árbitro: Luis Medina Cantalejo (Espanha)

 

FRANÇA (4-2-3-1):

BRASIL (4-3-2-1):

16 Fabien Barthez (G)

1  Dida (G)

19 Willy Sagnol

2  Cafu (C)

15 Lilian Thuram

3  Lúcio

5  William Gallas

4  Juan

3  Éric Abidal

6  Roberto Carlos

6  Claude Makélélé

17 Gilberto Silva

4  Patrick Vieira

11 Zé Roberto

22 Franck Ribéry

19 Juninho Pernambucano

10 Zinedine Zidane (C)

8  Kaká

7  Florent Malouda

10 Ronaldinho Gaúcho

12 Thierry Henry

9  Ronaldo

 

Técnico: Raymond Domenech

Técnico: Carlos Alberto Parreira

 

SUPLENTES:

 

 

23 Grégory Coupet (G)

12 Rogério Ceni (G)

1  Mickaël Landreau (G)

22 Júlio César (G)

2  Jean-Alain Boumsong

13 Cicinho

17 Gaël Givet

14 Luisão

13 Mikaël Silvestre

15 Cris

21 Pascal Chimbonda

16 Gilberto

18 Alou Diarra

5  Emerson

8  Vikash Dhorasoo

18 Mineiro

9  Sidney Govou

20 Ricardinho

11 Sylvain Wiltord

23 Robinho

14 Louis Saha

21 Fred

20 David Trezeguet

7  Adriano

 

GOL: 57′ Thierry Henry (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

25′ Cafu (BRA)

45′ Juan (BRA)

45+2′ Ronaldo (BRA)

47′ Lúcio (BRA)

74′ Willy Sagnol (FRA)

87′ Louis Saha (FRA)

88′ Lilian Thuram (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

63′ Juninho Pernambucano (BRA) ↓

Adriano (BRA) ↑

 

76′ Cafu (BRA) ↓

Cicinho (BRA) ↑

 

77′ Franck Ribéry (FRA) ↓

Sidney Govou (FRA) ↑

 

79′ Kaká (BRA) ↓

Robinho (BRA) ↑

 

81′ Florent Malouda (FRA) ↓

Sylvain Wiltord (FRA) ↑

 

86′ Thierry Henry (FRA) ↓

Louis Saha (FRA) ↑

Gol da partida:

Melhores momentos:

… 24/06/1990 – Argentina 1 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 24/06/1990 – Argentina 1 x 0 Brasil


(Imagem: Pinterest)

● No início de 1989, Ricardo Teixeira, ex-genro de João Havelange, assumiu como presidente da CBF – mesmo sem experiência alguma no futebol. Seu técnico preferido para a Seleção Brasileira era Carlos Alberto Parreira, que estava impedido de assumir devido a um contrato vigente no mundo árabe. E o escolhido da vez então foi Sebastião Lazaroni, tricampeão carioca: 1986 (pelo Flamengo), 1987 e 1988 (pelo Vasco).

E Lazaroni apostou no sistema tático 3-5-2, com um estilo “europeizado”, com foco na velocidade e aplicação tática – ao contrário da escola do futebol brasileiro vistoso e ofensivo de outrora. E por um tempo, o treinador brasileiro calou os muitos críticos ao conquistar a Copa América de 1989.

No papel, o time não era ruim, com o goleiro Taffarel, os zagueiros Mauro Galvão e Ricardo Gomes, os laterais Jorginho e Branco, os volantes Dunga e Alemão e os atacantes Bebeto, Romário, Renato Gaúcho, Müller e Careca.

Mas, no Mundial de 1990, o ambiente interno estava conturbado e não havia acordo quanto à divisão da premiação prometida em caso de título. A concentração brasileira em Asti era rodeada por familiares e empresários, com acesso livre aos atletas. Especulou-se que muitos não se esforçaram por estarem negociando uma possível transferência para o futebol europeu. O próprio Lazaroni foi para a Fiorentina logo depois do Mundial.

O técnico e o médico Lídio Toledo tinham opiniões divergentes quando ao aproveitamento de Romário, que se recuperava de uma fratura no pé e ficou no banco. E Lazaroni não dava chances a Bebeto que, segundo o treinador, fazia melhor dupla com Romário, enquanto Müller era parceiro de Careca. Sem Romário 100%, Bebeto acabou prejudicado, mesmo estando em ótima fase.

A Argentina queria conquistar seu terceiro título em quatro edições disputadas desde 1978, mas também não era a mesma de quatro anos antes. Fracassou na Copa América que sediou, em 1987, mesmo ainda tendo o time base de um ano antes. Seis campeões mundiais ainda eram titulares. O novo fracasso na Copa América de 1989 levou os argentinos a chegarem com menos cartaz na Itália. A bem da verdade, cada vez mais eles dependiam de Maradona. Entre o fim da Copa de 1986 e o início do Mundial de 1990, os portenhos jogaram 31 vezes e conseguiram apenas seis vitórias. Mas Diego motivou o time, dizendo: “vão ter que arrancar a Copa de nossas mãos”. Ao final das contas, aos trancos e barrancos, ainda era a Argentina.


(Imagem: Agência AP / Globo Esporte)

● Discreta e sem brilho, a Seleção Brasileira teve 100% de aproveitamento (algo que só a anfitriã Itália também conseguiu) com três vitórias em três jogos contra adversários apenas medianos: Suécia (2 x 1), Costa Rica (1 x 0) e Escócia (1 x 0). Mas o fato é que o nível apresentado pelo escrete canarinho não era nada convincente.

A Argentina estava ainda pior. Se classificou apenas como terceiro colocado de sua chave. Estreou passando vergonha ao perder para Camarões (1 x 0) na partida de abertura do Mundial. Depois, venceu sem brilho a União Soviética (2 x 0) e empatou com a Romênia (1 x 1).

Mas em um clássico “Brasil x Argentina” tudo pode acontecer. Afinal, se trata de uma das maiores rivalidades do mundo do futebol.


Carlos Bilardo mandou sua equipe ao campo no 3-5-2, com forte proteção ao sistema defensivo e liberdade para Burruchaga e Maradona criarem.


Sebastião Lazaroni armou a Seleção no sistema 3-5-2, com Mauro Galvão como líbero e os laterais atuando mais à frente, como alas. Por falta de costume com o esquema, os laterais voltavam à linha de defesa e o miolo de zaga se embolava. O time ficou muito defensivo e faltava criatividade no meio campo.

● A rivalidade e o momento ruim do rival fizeram o Brasil começar com tudo. Logo no primeiro minuto, Careca forçou Sergio Goycochea – o Tapa-Penales – a fazer uma boa defesa. Careca estava no auge da forma técnica, campeão italiano pelo Napoli ao lado de Alemão e Maradona.

Aos 18′, Branco cruzou da esquerda e Dunga cabeceou com força, mas a bola foi na trave.

Oito minutos depois, Troglio obrigou Taffarel a fazer a sua única defesa no primeiro tempo.

O volume de jogo do Brasil era muito superior. Goycochea fez cera desde o começo, confiando em seu excepcional retrospecto em cobranças de pênaltis – que se provaria nas quartas de final e na semifinal.

Na reta final do primeiro tempo, em uma rápida parada durante atendimento médico a Pedro Troglio, Branco tomou uma água oferecida pelo massagista argentino Miguel di Lorenzo. Descobriu-se depois que essa água estava “batizada” com tranquilizantes (veja mais abaixo). E o lateral brasileiro, sempre intenso, passou a se arrastar em campo, ficando com os reflexos mais lentos e chutando a bola sem sua potência costumeira.

A Argentina equilibrou mais o jogo na etapa complementar.

Aos 7′, Careca cruzou da esquerda e a a bola foi na trave. Na sobra, Alemão deu um belo chute e a bola foi de novo no poste. Era a terceira bola na trave na partida, a segunda no mesmo lance.

A Seleção Brasileira bombardeava de todos os jeitos e a vitória parecia ser uma questão de tempo.

Aos 17′ do segundo tempo, Burruchaga chutou com perigo, rente à trave direita, mas Taffarel impediu o gol.

“Ali pelos 20 minutos nosso meio-campo começou a ganhar”, analisaria Bilardo depois do jogo.

Depois, Müller furou uma finalização após um passe de Careca.

O Brasil foi amplamente superior durante os noventa minutos, demonstrando um futebol que não havia apresentado até então. Os hermanos não tinham pudor em se defender com todos seus jogadores. E os albicelestes, tão presos ao seu campo de defesa, tiveram um contra-ataque ao seu favor que seria definitivo.


(Imagem: Futebol Portenho)

Aos 35 minutos do segundo tempo, a bola caiu justamente nos pés de Maradona, que fez sua primeira jogada genial na Copa. Ele fez fila, passando Alemão, Dunga e Ricardo Rocha, além de fazer Ricardo Gomes e Mauro Galvão baterem cabeça e deixar Claudio Caniggia livre, em condições para driblar Taffarel e mandar para as redes.

“Alemão saiu atrasado e não fez a falta como devia”, lastimou Lazaroni. Com certeza Alemão deveria ter feito a chamada “falta tática”, em que se mata a jogada em seu nascedouro, antes que ela se torne perigosa.

“Estou jogando com meio Maradona. Mas, mesmo com uma perna só, ele é a diferença.” ― Carlos Bilardo

O esquema de Lazaroni, que privilegiava a disciplina tática, não resistiu à genialidade de Maradona.

Dois minutos depois do gol, José Basualdo fez boa jogada e escapava livre em direção ao gol. Como último recurso, Ricardo Gomes lhe deu um carrinho por trás e foi expulso.

Na cobrança dessa mesma falta, Maradona obrigou Taffarel a uma ótima defesa.

Com um homem a menos, o escrete canarinho ainda pressionou e ainda teve uma chance de ouro para empatar a dois minutos do fim. Uma bola mal rebatida pela defesa portenha caiu nos pés de Müller na linha da pequena área. Mesmo livre, o atacante mandou a bola para fora. Faltou concentração ao atacante brasileiro.

Foi a última chance e o Brasil estava eliminado por seu maior rival.

Certamente não existe justiça no futebol. E não houve, ao menos nesse jogo. A defensiva Seleção de Lazaroni caiu justo no jogo em que foi mais ofensiva e acabou jogando muito bem. “Só” faltaram os gols.


(Imagem: Bol)

● Após a partida, Maradona resumiu tudo: “O Brasil merecia ganhar, mas o futebol é assim mesmo”. E foi consolar seu amigo Careca: “Eu queria festejar, mas não se pode mostrar alegria na frente de um amigo que está muito triste”.

Careca foi o mais sacrificado pelo sistema de jogo, mas defendeu Lazaroni: “Se tivéssemos ganhado, ninguém nem se lembraria do esquema”.

“Fomos muito mal no primeiro tempo. Mas o grupo é forte e mostrou que tem brio depois de tanta gozação, tanta gente prevendo que não iríamos adiante.” “Ganhar do Brasil é, sem dúvida, uma grande alegria. Eu não estava com o palpite de que marcaria, mas sabia que Maradona poderia resolver. Quando a bola chegou, eu só tinha de matar Taffarel.” ― Claudio Caniggia

O Brasil fez 61 desarmes e bateu seu recorde, mas, em compensação, foi desarmado 60 vezes (outro recorde). Errou apenas 24 passes.

Após a derrota, muitos reservas questionaram publicamente o técnico Sebastião Lazaroni por uma vaga no time titular. Alguns atacaram os próprios colegas. “Vim disputar a Copa e o máximo que consegui foram promessas”, reclamou o zagueiro Aldair. “Lazaroni foi desonesto comigo”, afirmou o atacante Bebeto. “O Brasil não perdeu a Copa de 90 fora do campo. Perdeu dentro, por incompetência de alguns jogadores”, criticou o atacante Romário. Renato Gaúcho disse ainda mais: “Fui sacaneado e perseguido por reclamar que o esquema era defensivo demais. A derrota foi um belo castigo para um técnico retranqueiro. Iríamos mais longe com onze Renatos. Falta tesão para muito jogador. Eu não sou um acomodado. O dia em que eu encostar o corpo, eu me aposento”.

“Nós tentamos, fizemos o possível, tudo o que sabíamos. Infelizmente não o bastante para fazer a bola entrar no gol argentino”, dizia Lazaroni desconsolado. “O problema é que a Copa do Mundo é uma guilhotina. E a cabeça que rolou hoje foi a nossa.”

Quando a delegação brasileira chegou ao Rio de Janeiro, uma faixa os recepcionava: “Quem tem merda na cabeça? Camarões ou Lazaroni?” O técnico brasileiro foi muito criticado, taxado como defensivista e acusado de ser conivente com os problemas internos entre os atletas. Antes da Copa, ele era considerado um técnico ultramoderno para a época, antenado às novas tendências táticas e sistemas de treinamento. Após o torneio, Lazaroni se tornou sinônimo de “defensivismo”, “cabeça dura” e “burrice”.

Bebeto e Romário haviam sido titulares na conquista da Copa América de 1989, mas foram relegados ao banco de reservas durante o Mundial. “Pode anotar: foi a minha primeira e última Copa”, disse um negativo Romário. “Estaremos juntos na Copa do Mundo de 1994”, afirmou um positivo Bebeto.

O 9º lugar foi a terceira pior participação brasileira em Copas do Mundo, atrás apenas do 11º na Inglaterra em 1966 e o 14º também na Itália, em 1934.

O título da matéria da revista Placar que foi às bancas dois dias depois do jogo era bem icônico: “Era Maradona”. Uma crítica à tão mencionada “Era Dunga”, tratada pela imprensa de forma pejorativa, devido a importância exagerada que Lazaroni dava ao bom, mas esforçado e limitado volante gaúcho. Mas Dunga foi eleito injustamente como o símbolo do fracasso brasileiro na Copa de 1990 e daria a volta por cima ao ser o capitão da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1994.

E a Argentina seguiu capengando em sua sequência na Copa. Nas quartas, contou com a estrela do goleiro Goycochea, que pegou duas cobranças na vitória por pênaltis por 3 a 2 sobre a Iugosláviam após um empate sem gols. Nas semifinais, após 1 x 1 com a anfitriã Itália, Goycochea pegou outras duas cobranças e a Argentina venceu nos pênaltis por 4 a 3. Na decisão, já no fim da partida, um pênalti polêmico resultou na derrota para a Alemanha Ocidental por 1 a 0 e no vice-campeonato.


(Imagem: O Curioso do Futebol)

● Durante a partida, Branco se queixou que ficou que estava sonolento, zonzo e com náuseas após beber a água suspeita, mas não foi levado a sério por ninguém. “Notei um gosto estranho e senti tontura. Avisei o bandeirinha porque achei que fosse algo dopante.”

O episódio ficou esquecido por quase quinze anos, mas voltou à tona quando Maradona comentou sobre o assunto ao ficar bêbado em um jantar. Durante o programa de TV Mar de Fondo, ele disse que o conteúdo da garrafa era Rohypnol (Rufilin), nome comercial do composto Flunitrazepam, popularmente conhecido como “Boa Noite Cinderela” ou “Droga do Estupro”, que se tornou mais conhecido após o filme “The Hangover” (“Se Beber Não Case”).

Diego confessou que a água realmente tinha sonífero. Quando um Ricardo Giusti foi beber da mesma garrafa, alguém gritou: “dessa aí, não! Da outra”. Em seu antigo programa de televisão La Noche del Diez, Maradona confessou, mas negou a autoria: “Cito o pecado, mas não o pecador”.

O técnico Carlos Bilardo foi evasivo. A revista Veintitrés publicou uma entrevista com El Narigón e o título “(Quase) Confesso que fiz trapaça”. Ele não respondeu diretamente sobre o caso e disse que não sabia de nada, mas acabou afirmando: “Não disse que isso não aconteceu, hein?”. Diversas versões afirmam que o treinador tenha autorizado ou até mesmo ordenado que a tal água fosse entregue a Branco durante a partida.

O assunto se tornou folclore, especialmente no futebol argentino, considerado como parte de uma lista de espertezas, ao lado da icônica “Mão de Deus” de Maradona contra a Inglaterra em 1986.


(Imagem: Getty Images / Globo Esporte)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 1 x 0 BRASIL

 

Data: 24/06/1990

Horário: 17h00 locais

Estádio: Delle Alpi

Público: 61.381

Cidade: Turim (Itália)

Árbitro: Joël Quiniou (França)

 

ARGENTINA (3-5-2):

BRASIL (3-5-2):

12 Sergio Goycochea (G)

1  Taffarel (G)

15 Pedro Monzón

19 Ricardo Rocha

20 Juan Simón

21 Mauro Galvão

19 Oscar Ruggeri

3  Ricardo Gomes (C)

4  José Basualdo

2 Jorginho

7  Jorge Burruchaga

4  Dunga

14 Ricardo Giusti

5  Alemão

21 Pedro Troglio

8  Valdo

16 Julio Olarticoechea

6  Branco

10 Diego Armando Maradona (C)

15 Müller

8  Claudio Caniggia

9  Careca

 

Técnico: Carlos Bilardo

Técnico: Sebastião Lazaroni

 

SUPLENTES:

 

 

22 Fabián Cancelarich (G)

12 Acácio (G)

1  Ángel Comizzo (G)

[1  Nery Pumpido (G)]

22 Zé Carlos (G)

5  Edgardo Bauza

13 Mozer

11 Néstor Fabbri

14 Aldair

18 José Serrizuela

18 Mazinho

2  Sergio Batista

10 Silas

17 Roberto Sensini

7  Bismarck

13 Néstor Lorenzo

20 Tita

6  Gabriel Calderón

17 Renato Gaúcho

3  Abel Balbo

16 Bebeto

9 Gustavo Dezotti

11 Romário

 

GOL: 81′ Claudio Caniggia (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

27′ Pedro Monzón (ARG)

28′ Ricardo Giusti (ARG)

40′ Ricardo Rocha (BRA)

50′ Mauro Galvão (BRA)

87′ Sergio Goycochea (ARG)

 

CARTÃO VERMELHO: 85′ Ricardo Gomes (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

61′ Pedro Troglio (ARG) ↓

Gabriel Calderón (ARG) ↑

 

84′ Alemão (BRA) ↓

Silas (BRA) ↑

 

84′ Mauro Galvão (BRA) ↓

Renato Gaúcho (BRA) ↑

Gol da partida:

Melhores momentos:

Jogo completo:

… 50 anos do Tri

Três pontos sobre…
… 50 anos do Tri


(Imagem: CBF)

Considerada a melhor Copa do Mundo em todos os tempos, só poderia ter sido vencida pela melhor Seleção de todos os tempos. E foi!

E exatamente hoje essa conquista completa meio século.

Um esquadrão formado por cinco “camisas 10” (Jairzinho, Gérson, Tostão, Pelé e Rivellino), um ótimo volante (Clodoaldo), um dos melhores laterais direitos da história (Carlos Alberto), uma dupla de zaga que se completava com raça e técnica (Brito e Piazza), um goleiro e um lateral esquerdo que cumpriram bem suas funções (Félix e Everaldo).

Relembre em nossas matérias como foi a conquista definitiva da Taça Jules Rimet, passo a passo.

… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia (1ª rodada do Grupo 4)
… 07/06/1970 – Brasil 1 x 0 Inglaterra (2ª rodada do Grupo 4)
… 10/06/1970 – Brasil 3 x 2 Romênia (3ª rodada do Grupo 4)
… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru (Quartas de final)
… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai (Semifinal)
… 21/06/1970 – Brasil 4 x 1 Itália (Final)

Veja nossas matérias sobre outras partidas e alguns personagens importantes da Copa de 1970:

… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental (Semifinal)
… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra (Quartas de final)
… 02/06/1970 – Peru 3 x 2 Bulgária (1ª rodada do Grupo 4)
… 06/06/1970 – Romênia 2 x 1 Tchecoslováquia (2ª rodada do Grupo 3)

… Rei Pelé: primeiro e único! (Coletânea de matérias sobre Pelé)
… Carlos Alberto Torres: o eterno Capitão
… Roberto Rivellino, a Patada Atômica
… Dadá Maravilha: goleador, filósofo e campeão
… Tospericargerja: uma homenagem sem igual
… Gigi Riva: o “Estouro do Trovão”

… Ladislao Mazurkiewicz: muito mais do que um drible de Pelé
… Gerd Müller: o maior bombardeiro alemão (Artilheiro da Copa)
… Uwe Seeler: o professor dos centroavantes alemães
… Ladislav Petráš

… 21/06/1986 – Brasil 1 x 1 França

Três pontos sobre…
… 21/06/1986 – Brasil 1 x 1 França


(Imagem: Trivela)

● Das quatro partidas das quartas de final, essa era a mais aguardada. Havia Argentina vs. Inglaterra, envolvidas recentemente em uma guerra. Mas, em âmbito esportivo, Brasil e França tinham uma qualidade técnica conjunta muito maior. Para muitos, era o encontro entre os dois melhores times da Copa de 1982. Mas agora, estavam envelhecidos quatro anos e com os elencos parcialmente renovados.

O futebol francês vivia o melhor momento até então, causando uma euforia sem precedentes. Tinha um estilo de jogo moderno para a época e havia amadurecido com as derrotas de 1978 e 1982. Michel Platini, Dominique Rocheteau e Maxime Bossis eram os remanescentes das duas Copas anteriores.

O técnico era Henri Michel, titular do meio campo francês em 1978. Ele foi o comandante do time que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1984 – curiosamente, sobre o Brasil na final. Fiel seguidor de seu antecessor Michel Hidalgo, ele pouco modificou o sistema tático usado nas Copas anteriores.

Tinha um time muito forte, semifinalista da Copa de 1982 e campeã da Eurocopa de 1984. O maestro Michel Platini vivia o auge da forma. Craque de bola, ele era ao mesmo tempo um armador e um finalizador. Era o arco e a flecha. Foi eleito o Bola de Ouro nos três anos anteriores (1983, 1984 e 1985) pela revista France Football, como melhor jogador da Europa.

Na estreia, a França venceu o Canadá por 1 x 0. Depois, empatou com a União Soviética por 1 x 1 e bateu a Hungria por 3 x 0. Se classificou em 2º lugar no Grupo C, atrás da URSS no saldo de gols (+4, contra +8 dos soviéticos). Nas oitavas de final, venceu a Itália, então campeã do mundo, derrubando uma invencibilidade de sessenta anos dos italianos diante dos franceses.

O Brasil tinha um bom time. Mas o futebol que encantou o mundo em 1982, apareceu apenas em lampejos quatro anos depois. Era o fim de uma geração talentosa, mas já próxima de seu fim. Sócrates começava seu declínio, enquanto Zico estava há um ano sem jogar e Falcão era reserva e já estava nos últimos dias de sua carreira. Na primeira fase, venceu Espanha e Argélia no sufoco, ambas por 1 x 0. Depois, houve uma ingênua impressão de evolução quando venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0. Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


A França também jogava no 4-4-2. O destaque era seu quarteto de meio campo, com muita qualidade técnica: Fernández, Tigana, Giresse e Platini.

● O Brasil já começou perdendo no sorteio para escolher campo ou bola e começou atacando para a esquerda das cabines de televisão – ao contrário das quatro partidas anteriores no estádio Jalisco, em Guadalajara, quando começava atacando para a direita. Mas a superstição não entrava em campo.

O primeiro tempo foi de altíssimo nível. A França atacou primeiro. Luis Fernández cruzou e a zaga brasileira rebateu. Platini recolheu, tabelou com Alain Giresse e chutou. A bola foi desviada e sobrou para Manuel Amoros encher o pé de esquerda. Passou bem perto da meta de Carlos.

O Brasil logo reagiu. Müller tocou para Careca no meio e ele deixou Sócrates em condição de finalizar. Cara a cara com o goleiro Bats, o Doutor chutou forte de esquerda, mas o arqueiro francês fechou bem o ângulo. Sócrates apanhou o rebote e lançou Branco na área, mas Jöel Bats dividiu e segurou firme.

Aos 17′, o goleiro Bats chutou a bola para a frente, Josimar recuperou a bola e deixou com Sócrates, que tocou para Elzo. O volante abriu na direita com Josimar. Vários jogadores participam da jogada, com dez trocas de passes precisas, abrindo espaço na defesa francesa, até culminar em uma envolvente tabela entre Müller e Júnior, que passou na medida para Careca sozinho na meia-lua. Ele bateu de primeira e colocou a bola no ângulo esquerdo de Bats.

Era o quinto gol de Careca no Mundial. Ele chegava com tudo para brigar pela artilharia com o inglês Gary Lineker.


(Imagem: Hipólito Pereira / O Globo)

O placar fazia justiça ao futebol apresentado pelo Brasil, que continuou no ataque. Houve um certo domínio e a impressão que venceria com facilidade. Aos 32 minutos, Sócrates lançou para Careca na ponta esquerda. Ele passou por Bossis e, da linha de fundo, cruzou para Müller. O chute do atacante sãopaulino explodiu na trave de Bats. Müller tinha vinte anos e havia sido a revelação do Campeonato Paulista de 1985. Tomou a vaga de Casagrande no time titular a partir da terceira partida, a vitória sobre a Irlanda do Norte por 3 x 0.

A França escapou do nocaute e acabou levando o Brasil para as cordas. Aos poucos, Les Bleus começaram a se arriscar mais no ataque. Não era uma equipe de intensidade física, mas trocava passes com muita inteligência.

Aos 40′, Manuel Amoros avançou e tocou para o meio. Alain Giresse abriu na ponta direita com Dominique Rocheteau, que cruzou rasteiro para a área. A bola desviou em Edinho e passou entre Carlos e Yannick Stopyra, sobrando mansinha para Platini, que só teve o trabalho de completar para o gol vazio, antes da chegada de Josimar. Platini completava 31 anos naquele dia. Foi o primeiro e seria o único gol sofrido por Carlos na Copa.

O equilíbrio e o nível técnico do jogo aumentaram ainda mais no segundo tempo, quando as duas equipes tiveram boas oportunidades para desempatar.

Aos 19′, Tigana tabelou com Rocheteau, invadiu a área e tentou encobrir Carlos, mas o goleiro brasileiro impediu o gol.

Na sequência desse lance houve o contragolpe brasileiro. E Sócrates avançou e entregou para Júnior, que encheu o pé da entrada da área, mas Bats fez a defesa espalmando para frente do jeito que deu.

O calor e a agilidade do jogo começam a cansar os franceses.

Aos 25′, Josimar fez um cruzamento perfeito e Careca cabeceou forte no travessão. Pela segunda fez, a França era salva pela trave.

Com o jogo cada vez mais acelerado, Telê Santana decide usar a carta que tinha na manga e coloca Zico em campo aos 26′. Depois de um ano se recuperando de uma lesão no joelho, o craque do Flamengo voltou a vestir a camisa da Seleção Brasileira. Dois minutos depois de entrar, ele fez um lançamento preciso e precioso para Branco invadir a grande área e ser derrubado por Bats.

Pênalti para o Brasil. Zico não esperava bater. O cobrador oficial era Sócrates, que, na euforia, deixou a incumbência para o Galinho, que ainda estava frio e totalmente sem ritmo de jogo. Aos 33 anos, Zico sabia que aquela seria a sua última chance de conquistar uma Copa e ele não queria desperdiçá-la. E pegou a bola sem tanta confiança. Mas, ao contrário de dezenas de pênaltis que converteu em sua bela carreira, dessa vez ele bateu mal, à meia altura e entre o meio do gol e a trave esquerda: o local mais propício para defesa do goleiro e foi o que aconteceu. Bats saltou e defendeu. Um erro incomum na carreira do Galinho. Certamente foi o pênalti mais dolorido que Zico perdeu na vida. Platini consolou o colega da camisa 10 brasileira.


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

Mas Zico ainda teve outra oportunidade de ouro para matar o jogo aos 43′. Josimar fez mais um cruzamento perfeito da direita e Zico, livre, cabeceou nas mãos de Bats.

O goleiro Bats vivia seu dia de glória. Quatro anos antes, ele lutou e venceu um câncer nos testículos. A poesia foi o refúgio no qual ele encontrou forças para suportar e tratar a doença.

No último minuto, mais uma chance para o Brasil, mas o chute de Josimar passou por cima.

A decisão foi mesmo para a prorrogação. Seriam necessários mais trinta minutos debaixo de um sol escaldante.


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

● E o jogo recomeçou com a França no ataque. Aos 7, Rocheteau arrancou em disparada desde o círculo central, passou por três brasileiros e foi travado por Júlio César. Stopyra pegou a sobra, mas também chutou em cima da defesa. Uma bela jogada de Rocheteau, em sua terceira Copa do Mundo.

O ritmo foi ficando mais lento, favorecendo a troca de passes dos Bleus. Platini passou a aparecer mais no jogo e de seus pés saíam as melhores jogadas francesas.

Aos 11′ do segundo tempo da prorrogação, ele fez um lançamento genial para Bruno Bellone arrancar sozinho e em posição legal. Mas, no desespero, Carlos saiu da área e segurou o atacante francês, que ainda tentou seguir na bola, mas se desequilibrou. Júlio César apareceu e afastou o perigo. O juiz deveria ter expulsado Carlos, mas sequer marcou a falta (que ocorreu fora da área), indicando que havia concedido uma duvidosa lei da vantagem – que acabou não ocorrendo, claro.

Um minuto depois, Careca cruzou rasteiro da ponta direita e a bola passou por Sócrates, dentro da pequena área e com o gol vazio à sua frente. O Doutor perdeu um gol feito. Foi a última oportunidade de um jogo repleto delas.

Mas o destino de Brasil e França seria decido nos tiros livres da marca do pênalti.


(Image: Hipólito Pereira / O Globo)

● O Brasil ganhou o sorteio e começou batendo. Completamente esgotado, Sócrates bateu de forma quase displicente, tomando pouca distância e ensaiando uma paradinha. Mas Bats não se moveu e Sócrates cobrou mal, à meia altura no canto direito, facilitando o trabalho do goleiro francês.

Os cobradores seguintes foram impecáveis. Stopyra bateu alto, no meio do gol e converteu para a França. Alemão bateu no canto esquerdo e fez para o Brasil. Amoros também chutou no canto esquerdo e anotou para a França. Zico se redimiu e marcou o seu: contrariando seu estilo clássico, chutou com raiva, forte, quase no meio do gol – 2 a 2 no placar.

Bruno Bellone contou com a sorte. Sua cobrança bateu no pé da trave esquerda, voltou nas costas do goleiro Carlos foi para o gol. Se Carlos tivesse ficado parado, a França teria desperdiçado a cobrança. Mas o goleiro brasileiro acertou o canto. E a bola, ao voltar da trave, bateu em seu ombro e tomou o rumo do gol.

Os brasileiros discutiram a validade do gol, achando que não valia. Mas foi válido. A FIFA explicaria depois: o cobrador tem direito a um único toque na bola e a cobrança termina quando a bola entra ou não no gol, sendo ou não tocada pelo goleiro – a trave era neutra.

Branco encheu o pé esquerdo e estufou as redes, batendo do meio para direita de Bats.

Platini beijou a bola. Em sua carreira, ele já havia convertido muitos penais em situações decisivas. Mas dessa vez ele errou, mandando a bola por cima. Tudo igual de novo.

O ótimo zagueiro Júlio César (eleito para a Seleção do Mundial, junto com o lateral Josimar) tinha a chance de colocar o Brasil à frente. Ele disparou um canhão, com toda força contida em seu pé direito, mas a bola explodiu na trave.

Luis Fernandéz teve a maior responsabilidade de sua carreira. E ele converteu com enorme categoria, no cantinho direito de Carlos, decretando a eliminação brasileira.

O Brasil, que sofreu apenas um gol em cinco partidas, terminava a Copa invicto e eliminado. Pela segunda vez consecutiva, a França estava nas semifinais.


(Imagem: Trivela)

● Certamente essa foi a melhor partida da Copa de 1986, cumprindo as expectativas. As duas equipes mostraram um futebol refinado, técnico e leal – tanto, que o árbitro não precisou apresentar nenhum cartão nos 120 minutos de bola rolando. “Os dois mereciam ganhar”, afirmou o jornal ABC de Madri.

Assim como em 1978, a Seleção foi eliminada mesmo terminando a competição invicta. No cômputo geral, ficou na 5ª posição.

Carlos ficou com fama de azarado pelo pênalti, mas foi o goleiro menos vazado da competição.

Essa foi a única partida que a Seleção não venceu em Copas disputadas no México. Somando 1970 e 1986, foram 11 jogos, com 10 vitórias e um empate com sabor de derrota.

“Escolhi o Júlio César porque era o melhor nos treinos. E Careca bate mal.” ― Telê Santana, explicando a opção pelo zagueiro nas cobranças de pênaltis.

“Em 1982, eu acertei, mas a França perdeu. Hoje, eu errei, mas nos classificamos. Prefiro assim.” ― Michel Platini.

“Se a Copa do Mundo tivesse sido disputada anualmente entre 1982 e 1986, a França ganharia duas ou três vezes.” ― Michel Platini

Após passar pelo Brasil nas quartas de final, a França perdeu para a Alemanha Ocidental por 2 x 0 nas semifinais. Na decisão do 3º lugar, venceu a Bélgica por 4 x 2.


(Imagem: Pedro Martinelli / Veja)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 1 FRANÇA

 

Data: 21/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 65.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Ioan Igna (Romênia)

 

BRASIL (4-4-2):

FRANÇA (4-4-2):

1  Carlos (G)

1  Joël Bats (G)

13 Josimar

2  Manuel Amoros

14 Júlio César

4  Patrick Battiston

4  Edinho (C)

6  Maxime Bossis

17 Branco

8  Thierry Tusseau

19 Elzo

9  Luis Fernández

15 Alemão

14 Jean Tigana

6  Júnior

12 Alain Giresse

18  Sócrates

10 Michel Platini (C)

7  Müller

18 Dominique Rocheteau

9  Careca

19 Yannick Stopyra

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Henri Michel

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

22 Albert Rust (G)

22 Leão (G)

21 Philippe Bergeroo (G)

2  Édson Boaro

5  Michel Bibard

3  Oscar

7  Yvon Le Roux

16 Mauro Galvão

3  William Ayache

5  Falcão

15 Philippe Vercruysse

20 Silas

13 Bernard Genghini

21 Valdo

11 Jean-Marc Ferreri

10 Zico

16 Bruno Bellone

11 Edivaldo

20 Daniel Xuereb

8  Casagrande

17 Jean-Pierre Papin

 

GOLS:

17′ Careca (BRA)

40′ Michel Platini (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

71′ Müller (BRA) ↓

Zico (BRA) ↑

 

84′ Alain Giresse (FRA) ↓

Jean-Marc Ferreri (FRA) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO Júnior (BRA) ↓

Silas (BRA) ↑

 

99′ Dominique Rocheteau (FRA) ↓

Bruno Bellone (FRA) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

BRASIL 3

FRANÇA 4

Sócrates (perdeu, à direita, defendido por Joël Bats)

Yannick Stopyra (gol, no alto, no meio do gol)

Alemão (gol, no canto esquerdo)

Manuel Amoros (gol, no canto esquerdo)

Zico (gol, forte, no meio do gol)

Bruno Bellone (gol, na trave esquerda, voltou nas costas do goleiro Carlos e foi para o gol)

Branco (gol, forte, no meio do gol, um pouco à direita de Bats)

Michel Platini (perdeu, por cima do ângulo esquerdo)

Júlio César (perdeu, na trave direita)

Luis Fernández (gol, no canto direito)


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 20/06/1994 – Brasil 2 x 0 Rússia

Três pontos sobre…
… 20/06/1994 – Brasil 2 x 0 Rússia


(Imagem: Pinterest)

● Nas três primeiras conquistas do Brasil em Copas do Mundo (1958, 1962 e 1970), o futebol arte se tornou sinônimo da camisa amarelinha. Por isso, poucos botavam fé no futebol pragmático apresentado pelo time do técnico Carlos Alberto Parreira. Mas depois de 24 anos sem o título, o treinador preferiu abdicar de jogar bonito para entrar na história como campeão.

Havia um temor para a Copa de 1994: que o Brasil passasse a mesma vergonha de quatro anos antes. A Seleção teve dificuldades e perdeu uma partida pela primeira vez na história das eliminatórias sul-americanas, para a Bolívia na altitude, por 2 a 0. Os brasileiros acabaram sofrendo mais que o normal e só garantiram a vaga na última rodada, ao vencerem o Uruguai por 2 x 0. Com a lesão de Müller, Parreira teve que engolir o orgulho e convocar de última hora o seu desafeto Romário, que acabou por marcar os dois gols que deram a vaga ao Brasil para o Mundial.

Antes disso, para mostrar a união do grupo, Ricardo Rocha propôs que o time entrasse de mãos dadas em campo a partir do jogo de volta contra a Bolívia, em Recife (vitória por 6 x 0). Esse gesto se tornaria uma das imagens mais marcantes da equipe em todos os jogos do Mundial.


(Imagem: Veja)

● A espinha dorsal ainda era a mesma da Copa anterior. Dez dos convocados para 1994 estiveram presentes em 1990: Taffarel, Jorginho, Ricardo Rocha, Aldair, Branco, Dunga, Mazinho, Müller, Bebeto e Romário. Como novidade, surgia o menino Ronaldo, do Cruzeiro, de apenas 17 anos.

Parreira perdeu um de seus líderes uma semana antes da estreia, no amistoso contra El Salvador: o zagueiro Ricardo Gomes – capitão em 1990 e candidato a ser também em 1994 – sofreu um estiramento na coxa e foi desligado da delegação. Para seu lugar, foi convocado o zagueiro Ronaldão. Antes, no início da preparação, já havia perdido o também zagueiro Mozer, com problemas no fígado.

Durante a semana da estreia, Romário sentiu dores na virilha e não treinou – mas estaria pronto para o jogo. Branco ainda estava se recuperando de dor na lombar e dava lugar a Leonardo na lateral esquerda. Roberto Carlos, do Palmeiras, estava em grande fase e a presença de Branco foi uma das mais contestadas, mas Parreira bancou a presença do experiente jogador do Fluminense.

Sem Ricardo Gomes, Raí foi o capitão no início do Mundial. Ele chegava à competição bastante contestado, mas estava recuperando a confiança aos poucos. Em carta aberta à torcida publicada na véspera da partida, disse que já podia imaginar as jogadas que faria e que tinha certeza que marcaria um gol, talvez de cabeça.


(Imagem: O Curioso do Futebol)

● Havia uma grande expectativa sobre a primeira participação da Rússia em Copas do Mundo após a dissolução da União Soviética. E como essa separação tinha ocorrido recentemente, alguns jogadores remanescentes da URSS escolheram defender a Rússia em 1994. Entre os 22 convocados Yuriy Nikiforov, Vladislav Ternavsky, Viktor Onopko, Ilya Tsymbalar e Sergei Yuran eram nascidos na região pertencente à Ucrânia; Andrey Pyatnitsky era do Uzbequistão; Omari Tetradze era da Geórgia; e Valeri Karpin (tecnicamente o melhor do elenco) era da Estônia.

Liderados por Andriy Kančelskis, seis bons jogadores promoveram um boicote e abandonaram a seleção por divergências com o polêmico treinador Pavel Sadyrin: Ihor Dobrovols’kyi, Igor Shalimov, Igor Kolyvanov, Sergei Kiriakov e Vasiliy Kulkov. Karpin estava entre os dissidentes, mas voltou atrás e permaneceu no grupo.

Para o jogo contra o Brasil, a Rússia não pôde contar com o bom líbero Viktor Onopko, melhor jogador do último Campeonato Russo, que estava suspenso.


O Brasil atuava no 4-4-2, com dois volantes e dois meias. O sistema do técnico Parreira consistia em manter a maior posse de bola possível e dar o bote no momento certo. A figura símbolo desse estilo de jogo era o meia Zinho, apelidado de “enceradeira” por girar com a bola de um lado para outro, sem agressividade.


A Rússia jogou no 3-5-2, com os alas Gorlukovich e Tsymbalar bastante adiantados.

● Mais de 81 mil pessoas encheram o Stanford Stadium, em Palo Alto, em plena segunda feira. A temperatura de 36º centígrados era aliada brasileira, já que Parreira sempre treinava a seleção nos horários dos jogos, para os atletas já irem se habituando.

Trocando passes em sua própria intermediária, o Brasil só conseguiu avançar para o campo adversário aos quatro minutos. E foi se soltando aos poucos.

Na saída de jogo, Mauro Silva recuava e se posicionava entre os zagueiros, permitindo que Jorginho e Leonardo avançassem. Dunga geralmente era o responsável pelos passes de transição, sempre priorizando os laterais. Zinho segurava a bola e dava suporte ao apoio de Leonardo. Raí ficava mais centralizado, enquanto Bebeto flutuava pela direita e pelo centro. Romário ficava mais próximo da área, sempre à espreita.

A primeira chance foi aos nove minutos, quando Dunga cortou de carrinho no meio campo e Bebeto lançou Romário. Em velocidade, o baixinho dominou na direita da grande área, tirou Nikiforov do lance e cruzou para trás, mas não tinha ninguém chegando para finalizar.

No minuto seguinte, Dunga lançou Jorginho na ponta direita. O lateral dominou, passou a bola entre as pernas de Tsymbalar, mas Nikiforov chegou pra dividir fazendo cobertura. Dunga pegou o rebote e cruzou na segunda trave. Bebeto tentou seu tradicional voleio, mas a bola passou por cima do gol.

Márcio Santos avançou pela lateral esquerda e tocou para Dunga no meio. O volante brasileiro se enrolou com a bola e ela sobrou para Radchenko tabelar com Yuran, mas Márcio Santos chegou a tempo de travar o chute. Na sequência, Tsymbalar chutou forte, mas Taffarel defendeu com tranquilidade.

No minuto 14, Raí e Romário tabelavam e a zaga russa tirou. A bola foi em direção a Ricardo Rocha, que foi enganado pelo quique da bola, se desequilibrou e teve que puxar Yuran pela camisa. Seria uma ocasião clara e manifesta de gol, que caberia o cartão vermelho. Mas Ricardo Rocha simulou ter sofrido uma lesão e escapou de ser expulso pelo árbitro Lim Kee Chong, das Ilhas Maurício.

Aos 20, o juiz compensou ao não marcar um empurrão sobre Leonardo dentro da área russa.


(Imagem: Gazeta Press)

Aos 26′, houve uma série de tiros de canto a favor da Seleção Brasileira. No último desses escanteios, Bebeto cobrou da esquerda, a bola passou por Márcio Santos e Romário se antecipou à marcação e tocou de bico, rasteiro, para o fundo das redes.

Pouco depois, Romário sofreu pênalti claro ao ser agarrado por Ternavsky (um carrapato na marcação individual sobre o Baixinho), mas o juiz ignorou.

Ainda antes do intervalo, Bebeto bateu uma falta perigosa, que passou raspando a trave.

No segundo tempo, a Rússia adiantou a marcação, tentou partir para cima e ficou mais aberta. Em compensação, se cansava mais. E o Brasil passou a ter os contragolpes a seu favor.

Aos seis minutos da etapa complementar, Zinho trocou passes com Mauro Silva e Dunga e lançou Romário. O astro do Barcelona recebeu de costas, girou sobre a marcação de Ternavsky, tocou a bola entre as pernas de Nikiforov e, ao entrar na área, foi atingido por um carrinho de Ternavsky. A penalidade dessa vez não foi ignorada.

Com a camisa 10 e a faixa de capitão, Raí era o cobrador oficial e bateu com categoria, no canto esquerdo do goleiro Dmitri Kharine, que pulou no lado contrário. Foi seu único gol na Copa antes de perder a vaga no time titular. Raí fez uma partida apagada, mas foi eleito pela FIFA o melhor em campo.

Esse gol deu a tranquilidade necessária para que a Seleção controlasse as ações. Marcando praticamente em duas linhas de quatro, o escrete canarinho deu a bola aos russos, que não conseguiram criar jogadas.

A Seleção diminuiu o ritmo, mas teve chance de ampliar. Dunga tabelou com Raí e cruzou da linha de fundo. Bebeto finalizou da entrada da área, mas Kharine espalmou por cima.

Depois, começaram os problemas físicos. Jorginho sofreu uma entrada forte de Khlestov e precisou sair no carrinho maca, mas, felizmente, conseguiu voltar a campo.

Ricardo Rocha não teve a mesma sorte. Ele sentiu uma contratura no músculo adutor da coxa esquerda e foi substituído por Aldair, aos 25′. Um dos líderes do elenco, Ricardo não voltaria mais a jogar no Mundial.

A cinco minutos do fim, Dunga levou a pior em uma dividida e Mazinho o substituiu.


(Imagem: Action Images)

● Ao fim da partida, o chato técnico russo Pavel Sadyrin se rendeu a Romário: “imarcável”.

A Rússia foi eliminada na primeira fase. Depois da derrota para o Brasil (2 x 0), perdeu também para a Suécia de Martin Dahlin, por 3 x 1. Na última partida do Grupo B, venceu Camarões por 6 x 1, na maior goleada do Mundial. Essa partida marcou dois recordes: o atacante Oleg Salenko anotou uma “manita”, sendo o único jogador a fazer cinco gols em uma única partida em toda a história das Copas. O gol de honra camaronês foi marcado pelo veterano Roger Milla, que se tornou o jogador mais velho a marcar um gol na história dos Mundiais.

Na sequência da fase de grupos, o Brasil venceu Camarões por 3 x 0. Já classificado para as oitavas de final, empatou em 1 x 1 com a Suécia. Nas oitavas de final, enfrentou o anfitrião Estados Unidos justamente no dia da independência americana. Com um homem a menos (Leonardo foi expulso), foi um jogo duríssimo, mas a Seleção venceu com um gol de Bebeto. Nas quartas de final, o melhor jogo da Copa: vitória sobre a Holanda por 3 a 2. Nas semifinais, novo encontro com os suecos, que agora foram batidos por 1 a 0, com um gol de Romário. Enfim, depois de 24 anos, o Brasil estava em uma final de Copa do Mundo. Na decisão, enfrentou a Itália, suportou bem os 120 minutos no calor infernal e venceu nos pênaltis por 3 a 2, após um empate sem gols no tempo normal e na prorrogação. É tetra! É tetra!


(Imagem: CBF)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 0 RÚSSIA

 

Data: 20/06/1994

Horário: 13h00 locais

Estádio: Stanford Stadium

Público: 81.061

Cidade: Stanford (Estados Unidos)

Árbitro: Lim Kee Chong (Ilhas Maurício)

 

BRASIL (4-4-2):

RÚSSIA (3-5-2):

1  Taffarel (G)

16 Dmitri Kharine (G)(C)

2  Jorginho

5  Yuriy Nikiforov

3  Ricardo Rocha

21 Dmitri Khlestov

15 Márcio Santos

6  Vladislav Ternavsky

16 Leonardo

3  Sergei Gorlukovich

5  Mauro Silva

2  Dmitri Kuznetsov

8  Dunga

7  Andrey Pyatnitsky

10 Raí (C)

10 Valeri Karpin

9  Zinho

17 Ilya Tsymbalar

7  Bebeto

15 Dmitri Radchenko

11 Romário

22 Sergei Yuran

 

Técnico: Carlos Alberto Parreira

Técnico: Pavel Sadyrin

 

SUPLENTES:

 

 

12 Zetti (G)

1  Stanislav Cherchesov (G)

22 Gilmar Rinaldi (G)

12 Omari Tetradze

14 Cafu

18 Viktor Onopko

13 Aldair

4  Dmitri Galiamin

4  Ronaldão

8  Dmitri Popov

6  Branco

14 Igor Korneev

17 Mazinho

19 Aleksandr Mostovoi

18 Paulo Sérgio

20 Igor Lediakhov

19 Müller

13 Aleksandr Borodyuk

21 Viola

11 Vladimir Beschastnykh

20 Ronaldo

9  Oleg Salenko

 

GOLS:

26′ Romário (BRA)

52′ Raí (BRA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

61′ Yuriy Nikiforov (RUS)

65′ Dmitri Khlestov (RUS)

78′ Dmitri Kuznetsov (RUS)

 

SUBSTITUIÇÕES:

55′ Sergei Yuran (RUS) ↓

Oleg Salenko (RUS) ↑

 

75′ Ricardo Rocha (BRA) ↓

Aldair (BRA) ↑

 

77′ Dmitri Radchenko (RUS) ↓

Aleksandr Borodyuk (RUS) ↑

 

85′ Dunga (BRA) ↓

Mazinho (BRA) ↑

Melhores momentos da partida:

… 19/06/1958 – Brasil 1 x 0 País de Gales

Três pontos sobre…
… 19/06/1958 – Brasil 1 x 0 País de Gales


(Imagem: CBF / Baú do Futebol)

● Na fase de grupos, a Seleção Brasileira bateu a Áustria por 3 a 0 e empatou sem gols com a Inglaterra (no primeiro 0 x 0 da história das Copas, depois de 116 jogos). Na partida derradeira, o Brasil enfrentou o futebol científico da União Soviética, na estreia de Zito, Garrincha e Pelé. Após começar o jogo com tudo e venceu por 2 a 0, com dois gols de Vavá. Seu adversário nas quartas de final era a seleção do País de Gales.

Gales é um principado e não uma nação autônoma. Fica na ilha da Grã-Bretanha e faz parte do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Não participa dos Jogos Olímpicos como país independente, mas possui seleção própria no futebol (e em alguns poucos outros esportes) pela sua importância histórica. Foi um dos responsáveis por solidificar o futebol no século XIX e até hoje faz parte do IFAB – International Football Association Board, instituição responsável pelos regras do futebol.

Os britânicos estavam longe de serem uma potência no futebol. Conseguiram a classificação para a única Copa de sua história porque a Indonésia, o Egito e o Sudão (todos de maioria muçulmana) se negaram a jogar conta Israel e foram desclassificados. Assim, para que os israelenses não se qualificassem para o Mundial sem jogar as eliminatórias, foi feito um sorteio para definir qual país europeu disputaria a repescagem da zona asiática, dentre os segundos colocados em cada chave. Os galeses tiveram essa sorte, depois de terem ficado em segundo lugar no Grupo 4 das eliminatórias europeias, atrás da Tchecoslováquia e à frente da Alemanha Oriental. Foram duas vitórias fáceis e sonolentas sobre Israel, ambas por 2 x 0 – primeiro em Tel Aviv e depois em Cardiff.

Pela primeira e única vez, as quatro seleções britânicas disputaram uma Copa do Mundo: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Apenas galeses e norte-irlandeses se classificaram para a segunda fase.


(Imagem: Ultrajano)

● Os dois times jogaram desfalcados de seus centroavantes. O Brasil estava sem Vavá, que sofreu um profundo corte na canela na jogada do segundo gol contra a União Soviética. Mazzola ganhou nova chance no time titular.

Na primeira fase, os britânicos empataram as três partidas: 1 x 1 com a Hungria, 1 x 1 com o México e 0 x 0 com a Suécia. No jogo desempate, bateu a Hungria por 2 x 1.

Esse era o terceiro jogo de Gales em cinco dias. Havia jogado no domingo (contra os suecos), na terça (contra os húngaros) e agora jogava na quinta contra o Brasil. O escrete canarinho teve todos esses dias para descansar e chegava mais inteiro.

Gales não tinha sua estrela, seu melhor jogador, o grandalhão John Charles, que se machucou no estafante jogo-extra contra a Hungria. Relatos afirmam que ele foi derrubado pelos húngaros por mais de vinte vezes. Além dele, vários jogadores galeses jogaram reclamando de dores musculares.


O Brasil atuava em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo. Mazzolla era mais técnico que Vavá (mais brigador).


O País de gales jogava no sistema WM.

● O Brasil era amplamente favorito. O País de Gales era um equipe modesta, mas bem consciente de suas limitações e que sabia usar suas armas. O técnico Jimmy Murphy armou seu time de forma bem fechada, com marcação individual – especialmente em Garrincha, Pelé e Didi. Sem John Charles, os galeses não tinham tanto poder na bola aérea e, portanto, não tinha mais sua única estratégia de ataque. O negócio foi fechar o time todo na defesa e deixar apenas Colin Webster na frente – o substituto de Charles.

Com isso, a partida teve apenas um roteiro durante os noventa minutos: um duro duelo entre o ataque brasileiro e a defesa galesa. A bem da verdade, os britânicos se defendiam em bloco e se seguraram muito bem, dificultando muito o trabalho da linha de frente do escrete canarinho.

Bem marcados, os craques pouco podiam fazer. E, quando conseguiam chegar na área, paravam no goleiro Jack Kelsey, do Arsenal. Ele era o grande destaque individual da partida, responsável por grandes defesas e por fazer muita cera. Os beques Stuart Williams, Mel Charles e Mel Hopkins faziam marcação agressiva e chegaram a salvar lances em cima da linha de gol. Contaram com a sorte em um lance que Mazzola cabeceou e a bola bateu na trave, na linha de gol e não entrou.

Em compensação, Gylmar não tinha feito nenhuma defesa e havia recebido apenas duas bolas recuadas pelos zagueiros.

O primeiro tempo terminou 0 a 0. No intervalo, Vicente Feola fez uma preleção de acordar o time, que voltou mais vivo do vestiário.

Garrincha entrou na área, driblou um adversário cortando para a direita e bateu forte. Mesmo a queima-roupa, Kelsey espalmou para cima.

Em uma rara ocasião, o ponta direita Terry Medwin cortou Nilton Santos e chutou, mas Gylmar encaixou sem dificuldades.


(Imagem: AFP / FIFA)

O empate sem gols castigava a atuação brasileira e os 25.923 expectadores presentes no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo.

Mas a retranca foi furada aos 28 minutos do segundo tempo, quando já começavam os sinais de nervosismo.

Da direita, Mazzola levantou a bola de bicicleta para a linha da grande área. Didi veio na corrida e escorou de cabeça. Pelé dominou dentro da área e, de costas para o gol, tocou com o pé direito para tirar Mel Charles da jogada, deixou a bola quicar e finalizou de pé direito antes da chegada de Williams na cobertura. A rapidez de raciocínio e da finalização de Pelé pegou de surpresa o goleiro Kelsey, que nem foi na bola.

Um golaço. Pelé não poderia entrar para a história com um gol qualquer. Foi o primeiro de seus doze gols em Copas do Mundo. Era o início do reinado de um menino negro de apenas 17 anos de idade.

Depois do gol, Pelé foi buscar a bola dentro do gol galês com a intenção de gastar algum tempo. Segundo ele, o jogo estava “muito difícil naquele momento”. Mas Garrincha, Didi e Zagallo não quiseram saber de mais nada e pularam em cima dele para comemorar, se amontoando dentro do gol mesmo. A cena propiciou uma das mais belas fotos do Mundial de 1958.

Os galeses perderam o ânimo totalmente, até porque sabiam que não tinham poder de fogo para empatar a partida. Assim, surgiram outras chances para a Seleção Brasileira ampliar. Aos 36′, Mazzola fez um lindo gol de bicicleta, estranhamento anulado pelo árbitro austríaco Fritz Seipelt por jogo perigoso, apesar de nenhum galês estar por perto.

O Brasil estava classificado para a semifinal da Copa do Mundo.


(Imagem: O Globo)

● O goleiro Gylmar continuava invicto, sem sofrer gols na competição.

Didi foi considerado o melhor em campo, mas todos os olhares e aplausos eram para Pelé. Ele é até hoje o jogador mais jovem a marcar gol em Copas, com 17 anos e 239 dias.

No fim do ano 2000, esse gol de Pelé foi eleito por um júri da revista Placar como o gol mais importante do futebol brasileiro no século XX.

O presidente da República, Juscelino Kubitschek, convidou o Sr. Amaro, pai de Garrincha, para ouvirem o jogo juntos pelo rádio no palácio do Catete. Quando saiu o gol de Pelé, o desbocado Amaro queria soltar um palavrão, mas se conteve na frente de pessoas tão importantes e desconhecidas. Mas JK foi mais espontâneo e disse o palavrão por ele.

No fim da partida, a seleção rumaria a Estocolmo para as semifinais. Mas, antes de partir, soube cativar o povo de Gotemburgo: Bellini comandou uma volta olímpica com os jogadores carregando a bandeira sueca.

No estádio Råsunda, o Brasil ainda venceria a França na semifinal por 5 x 2. Na decisão, venceria a Suécia, dona da casa, pelo mesmo placar de 5 x 2 e se consagraria o legítimo campeão da Copa do Mundo de 1958.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 PAÍS DE GALES

 

Data: 19/06/1958

Horário: 19h00 locais

Estádio: Nya Ullevi

Público: 25.923

Cidade: Gotemburgo (Suécia)

Árbitro: Fritz Seipelt (Áustria)

 

BRASIL (4-2-4):

PAÍS DE GALES (WM):

3  Gylmar (G)

1  Jack Kelsey (G)

4  Djalma Santos

2  Stuart Williams

2  Bellini (C)

5  Mel Charles

15 Orlando

3  Mel Hopkins

12 Nilton Santos

4  Derrick Sullivan

19 Zito

6  Dave Bowen

6  Didi

7  Terry Medwin

11 Garrincha

8  Ron Hewitt

18 Mazzola

19 Colin Webster

10 Pelé

10 Ivor Allchurch

7  Zagallo

11 Cliff Jones

 

Técnico: Vicente Feola

Técnico: Jimmy Murphy

 

SUPLENTES:

 

 

1  Castilho (G)

12 Ken Jones (G)

14 De Sordi

13 Graham Vearncombe (G)

16 Mauro

14 Trevor Edwards

9  Zózimo

20 John Elsworthy

8  Oreco

15 Colin Baker

5  Dino Sani

16 Vic Crowe

13 Moacir

21 Len Allchurch

17 Joel

17 Ken Leek

20 Vavá

18 Roy Vernon

21 Dida

22 George Baker

22 Pepe

9  John Charles

 

GOL: 73′ Pelé (BRA)

Chute de Garrincha e gol de Pelé:

Gol de Pelé e gol (mal) anulado de Mazzola, de bicicleta:

… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai

Três pontos sobre…
… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai


(Imagem: Pinterest)

● As históricas semifinais reuniam quatro dos cinco campeões mundiais de então. Apenas a Inglaterra parou nas quartas de final. Brasil, Uruguai e Itália tinham dois títulos cada, enquanto a Alemanha Ocidental tinha um. O destino definitivo da Taça Jules Rimet nunca esteve tão perto.

Ninguém no Brasil ficou feliz com a ideia de enfrentar o Uruguai nas semifinais. Era impossível evitar a carga dramática do fato ocorrido vinte anos antes. Bem lá no fundo, havia o medo de um novo Maracanazzo. Os uruguaios faziam o possível para criar um clima de tensão esbanjavam confiança. Uma manchete de um jornal do país estampava: “Uruguay 3050 – 70″, fazendo referência aos títulos mundiais conquistados em 1930 e 1950 e já considerando uma eventual conquista em 1970.

Conforme a tabela do Mundial, a partida entre os vizinhos sul-americanos estava prevista para ocorrer no estádio Azteca, na Cidade do México – onde o Uruguai havia enfrentado a União Soviética três dias antes. Porém, a organização do torneio inverteu as sedes das semifinais, passando esse jogo para o estádio Jalisco, em Guadalajara. O duelo entre Itália e Alemanha, que seria disputado em Guadalajara, foi transferido para o estádio Azteca. Essa troca favoreceu muito o Brasil, que havia jogado no Jalisco as quatro partidas anteriores, já estava adaptado, nem precisou viajar e tinha grande apoio do público local. O Uruguai foi prejudicado e reclamou bastante, pois havia disputado uma duríssima e cansativa prorrogação contra os soviéticos e ainda teve que viajar quase 600 km.


O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.
A Seleção Brasileira contava com um time muito mais vistoso e competente no ataque. Até então, havia marcado doze gols em quatro partidas, enquanto a Celeste tinha anotado apenas três tentos na mesma quantidade de jogos.


O Uruguai jogava no sistema 4-3-3. Sentiu muita falta do seu capitão Pedro Rocha, lesionado logo na primeira partida, na vitória por 2 x 0 sobre Israel.
Uma ausência entre os 22 convocados foi o lateral direito Pablo Forlán. Em abril de 1970, o São Paulo FC ofereceu US$ 80 mil ao Peñarol pelo passe do jogador, mas condicionou que ele se apresentasse imediatamente. Forlán receberia US$ 30 mil na negociação e concordou com a negociação, mesmo ficando fora do Mundial.

● Foi só o juiz apitar o início da partida que os uruguaios passaram a fechar a frente de sua área e deixar somente Luis Cubilla na frente. E foi justamente ele quem abriu o placar aos 19 minutos de jogo.

A defesa brasileira parecia sentir o nervosismo do jogo e Clodoaldo errou um passe fácil. Julio Morales recuperou a bola e lançou na área. Cubilla apareceu na direita, nas costas de Piazza, dominou e adiantou demais. Na hora de finalizar, errou o chute cruzado e a bola foi mascada, pegando um efeito esquisito. Félix errou o golpe de vista e saiu catando cavaco ao ver a bola pingando dentro do gol.

Nervosa, a Seleção passou a errar mais passes, facilitando o trabalho defensivo do rival. Deu seu primeiro chute a gol só aos 27 minutos. No jogo todo, finalizou apenas 14 vezes.

Pelé levou perigo em uma cobrança de falta, mas o grande goleiro Ladislao Mazurkiewicz (melhor de sua posição na Copa de 1970) encaixou firme sem dar rebote.

Gérson não estava no melhor de suas condições físicas. E, genial como ele só, percebeu que estava sofrendo marcação individual de Cortés e inverteu de posição com Clodoaldo. Ele ficaria mais na defensiva e teria espaço para seus lançamentos, liberando o camisa 5 do Brasil para avançar e aparecer como homem surpresa. O Canhota de Ouro contaria mais tarde: “Eu estava sofrendo marcação individual do número 20 deles, que não saía de perto de mim. Então, combinei com o Clodoaldo: ‘você avança e eu fico’. Deu certo!”

O Brasil não queria ir para o intervalo em desvantagem no marcador e empatou o duelo aos 45′, em uma jogada bem construída desde seu início. Piazza começou o jogo com Rivellino, que tocou para Everaldo passar para Clodoaldo já na intermediária ofensiva. Ele abriu com Tostão na esquerda, que devolveu com precisão para o volante invadir a área entre os zagueiros e chutar de bico antes da chegada de Montero Castillo. Esse foi o único gol em 39 jogos oficiais de Corró com a camisa da Seleção.


(Imagem: Pinterest)

No segundo tempo, o Brasil voltou mais confiante, tocando melhor a bola, mas ainda telegrafava as jogadas de ataque. O Uruguai não dava espaço algum, catimbava e tentava ganhar tempo em todos os lances.

Aos 16′, Pelé driblou toda a defesa uruguaia, entrou na área e sofreu pênalti de Ancheta. Tostão correu para a marca da cal, mas o juiz marcou falta fora da área. No lance, o volante Julio César Montero Castillo (pai do ex-zagueiro Paolo Montero, que disputou a Copa de 2002), pisou em Pelé já com o jogo parado.

Os uruguaios bateram o jogo todo, principalmente Dagoberto Fontes. Em um lance na ponta esquerda, Pelé levou um pisão por trás de Fontes e desferiu uma forte cotovelada, que acertou em cheio o rosto do uruguaio. O árbitro espanhol José María Ortiz de Mendíbil não viu o lance maldoso de Pelé e marcou falta a favor do Brasil – o que, de fato, foi mesmo. Felizmente não haviam tantas câmeras na época para flagrar o lance em tempo real e levar o Rei a julgamento na FIFA. Se houvesse, ele poderia ter sido punido e ter ficado fora da final da Copa. Para o bem do futebol, nada aconteceu e ele estaria desfilando em campo quatro dias depois.

Um lance lindo do Rei aconteceu aos 21 minutos. Mazurkiewicz bateu um tiro de meta errado e, da intermediária, o camisa 10 do Brasil emendou de primeira para o gol. Mazurka teve que se entortar todo para segurar a bola.

O pobre Uruguai pensou que poderia vencer a partida e o técnico Juan Hohberg tirou o meia Ildo Maneiro para colocar o atacante Víctor Espárrago – que havia feito o gol da vitória nas quartas de final, contra a União Soviética.


(Imagem: FIFA)

A mudança tática fez a Celeste ficar mais vulnerável no meio e permitiu mais espaços para a Seleção Canarinho tocar a bola.

E o resultado veio apenas dois minutos depois. Jairzinho interceptou um passe errado de Fontes na intermediária defensiva, arrancou e passou para Pelé, que deixou com Tostão. Do meio do campo, ele lançou Jair. O Furacão ganhou na corrida de Roberto Matosas e tocou na saída de Mazurkiewicz, fazendo 2 a 1. Ao contrário do Maracanazzo, dessa vez a virada foi brasileira. Esse foi o sexto gol de Jairzinho na Copa.

O time uruguaio, que tinha recursos técnicos, começou a atacar. A chance mais perigosa foi uma cabeçada à queima-roupa de Cubilla, que Félix defendeu bem e se redimiu do lance do gol.

Apesar da superioridade técnica e no placar, os brasileiros continuavam tensos. Só conseguiram relaxar mesmo na última volta do ponteiro. O capitão Carlos Alberto chutou para cima para aliviar a defesa e ganhar tempo. Pressionado por Pelé, Ubiña escorou de cabeça para o meio onde só tinha Tostão. Ele abriu na esquerda para Pelé, que avançou até a área, esperou e rolou na medida para Rivellino, que chegou soltando a sua “Patada Atômica” da entrada da área. A bola foi morrer no canto esquerdo de Mazurka. Estava tudo concluído. Quase.

O árbitro ainda queria jogo. Já nos acréscimos, teve tempo para Pelé protagonizar o “quase gol” mais lindo de todos os tempos. Do meio do campo, Tostão fez um belo lançamento rasteiro para o Rei nas costas da defesa. Sem tocar na bola, Pelé deu um drible de corpo no goleiro uruguaio que havia saído da área para fechar o ângulo ou tentar fazer a falta. O Rei deixou que ela fosse para um lado e correu para o outro, como um drible da vaca sem tocar na bola. Mesmo desequilibrado, Pelé ainda conseguiu finalizar chutando cruzado, mas a bola, caprichosamente, raspou a trave direita e foi para fora.

O Brasil sofreu muito mais que o placar final indica. Mas o Maracanazzo estava vingado e pago com juros: 3 a 1. O fantasma estava definitivamente exorcizado. E, mais importante, conquistou a vaga para a decisão contra o vencedor de Itália e Alemanha Ocidental.


(Imagem: Lance!)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 X 1 URUGUAI

 

Data: 17/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 51.261

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: José María Ortiz de Mendíbil (Espanha)

 

BRASIL (4-3-3):

URUGUAI (4-3-3):

1  Félix (G)

1  Ladislao Mazurkiewicz (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

4  Luis Ubiña (C)

2  Brito

2  Atilio Ancheta

3  Wilson Piazza

3  Roberto Matosas

16 Everaldo

6  Juan Mujica

5  Clodoaldo

5  Julio César Montero Castillo

8  Gérson

20 Julio César Cortés

7  Jairzinho

10 Ildo Maneiro

9  Tostão

7  Luis Cubilla

10 Pelé

15 Dagoberto Fontes

11 Rivellino

11 Julio Morales

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Juan Hohberg

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Héctor Santos (G)

22 Leão (G)

22 Walter Corbo (G)

21 Zé Maria

14 Francisco Cámera

15 Fontana

13 Rodolfo Sandoval

14 Baldocchi

16 Omar Caetano

17 Joel Camargo

17 Rúben Bareño

6  Marco Antônio

8  Pedro Rocha

18 Paulo Cézar Caju

21 Julio Losada

13 Roberto

9  Víctor Espárrago

20 Dadá Maravilha

18 Alberto Gómez

19 Edu

19 Oscar Zubía

 

GOLS:

19′ Luis Cubilla (URU)

44′ Clodoaldo (BRA)

76′ Jairzinho (BRA)

89′ Rivellino (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

5′ Juan Mujica (URU)

18′ Dagoberto Fontes (URU)

33′ Carlos Alberto Torres (BRA)

37′ Ildo Maneiro (URU)

 

SUBSTITUIÇÃO:

73′ Ildo Maneiro (URU) ↓

Víctor Espárrago (URU) ↑

(Imagem: CBF)

Melhores momentos da partida: