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… 31/07/1996 – Nigéria 4 x 3 Brasil

Três pontos sobre…
… 31/07/1996 – Nigéria 4 x 3 Brasil


“Kanu é perigoso. Entrou, bateu… Acabou… Terminoooouu…” (Imagem: Aoi Football)

● Durante muitos anos a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos foi uma obsessão para o futebol brasileiro.

E várias foram as oportunidades. Em oito edições disputadas anteriormente (1952, 1960, 1964, 1968, 1972, 1976, 1984 e 1988), o Brasil havia conseguido apenas duas medalhas de prata (1984 e 1988).

No Torneio Pré-Olímpico de 1992, o Brasil nem conseguiu a qualificação para as Olimpíadas, mesmo contando com grandes jogadores como Cafu, Roberto Carlos, Márcio Santos, Dener, Élber, Elivélton e Marcelinho Carioca.

Mas tudo mudou na preparação para 1996 – menos os craques em abundância. Roberto Carlos agora tinha a companhia de Dida, Zé Maria, Amaral, Flávio Conceição, Juninho Paulista e Sávio. Com cinco vitórias e dois empates, a classificação veio sem sustos.

Para as Olimpíadas de Atlanta, o veterano técnico Zagallo pôde contar com uma equipe de altíssimo nível. Além dos destaques do Pré-Olímpico, Ronaldo Fenômeno também estava no elenco. Os jogadores maiores de 23 anos foram o zagueiro Aldair, o meia Rivaldo e o atacante Bebeto – capitão da equipe.

O Brasil foi o líder do Grupo D. Na estreia, um susto ao perder para o Japão por 1 x 0, com o gol saindo em uma trapalhada de Aldair e Dida. No segundo jogo o Brasil venceu a Hungria por 3 x 1. Na terceira rodada, um gol de Ronaldo deu a vitória sobre a Nigéria por 1 x 0. Nas quartas de final, novo triunfo brasileiro, dessa vez sobre Gana, por 4 x 2. As semifinais previam um aguardado reencontro com os nigerianos.

Treinada pelo holandês Jo Bonfrère, a Nigéria contava com alguns dos grandes nomes de sua história, como o zagueiro Taribo West, o lateral Celestine Babayaro, os meias Sunday Oliseh, Garba Lawal e Jay-Jay Okocha, além dos atacantes Emmanuel Amunike, Tijani Babangida, Victor Ikpeba, Daniel Amokachi e Nwankwo Kanu. Os jogadores maiores de 23 anos foram o zagueiro Uche Okechukwu, além de Amunike e Amokachi.

Na primeira fase, as Super Águias venceram Hungria (1 x 1) e Japão (2 x 0), antes da derrota para o Brasil. Nas quartas, bateram o México do goleiro Jorge Campos por 2 x 0.


O técnico Jo Bonfrère escalou a Nigéria com um esquema ofensivo, com um grande número de atacantes de origem. Se o sistema defensivo ficava desguarnecido, o ataque era fulminante.


Zagallo preferiu sacar Rivaldo e escalar o time com três volantes. Juninho era o responsável pela armação.

● Zagallo foi acertando o time titular ao longo da competição. Na segunda partida ele já havia trocado Amaral por Zé Elias, além de sacar Sávio para a entrada de Ronaldo.

Para a semifinal, o técnico tirou Rivaldo para a volta de Amaral. Rivaldo não estava bem na competição, mas escalar o time com três volantes acabaria se provando um erro por deixar Juninho sobrecarregado na criação das jogadas ofensivas.

A partida foi disputada na cidade de Athens, no estado da Geórgia.

A Seleção Brasileira era franca favorita e começou justificando tal favoritismo.

Pouco depois do apito inicial, Amunike fez falta em Bebeto. Falta frontal na intermediária ofensiva. Uma cobrança no lugar perfeito para Roberto Carlos, certo? Mas quem cobrou foi Flávio Conceição. A bola foi forte e rasteira, desviou na barreira e tirou o goleiro Joseph Dosu da jogada. Brasil, 1 a 0.

A Nigéria começou uma série incessante de ataques, com muita movimentação na linha de frente, principalmente de Amokachi. A defesa brasileira batia cabeça e não sabia como marcar.

O empate das Super Águias veio aos 20 minutos. Da direita, Mobi Oparaku virou o jogo de pé trocado. Babayaro dominou dentro da área, passou pela marcação de Zé Maria e chutou cruzado. A bola iria para fora, mas Roberto Carlos se precipitou e pôs o pé, desviando para o gol. Gol contra. Brasil 1, Nigéria 1.

Aos 28′, quando a Nigéria parecia mais próxima da virada, o Brasil passou à frente novamente. Ronaldo ganhou de West pela direita e, mesmo tendo Bebeto desmarcado dentro da área, o “Fenômeno” bateu para o gol. Dosu defendeu, mas soltou a bola nos pés do artilheiro Bebeto, que só escorou para o gol. Brasil, 2 a 1.

A vantagem foi ampliada aos 37′. Bebeto voltou para armar o jogo e fez um lançamento para a entrada da área. Juninho escorou com o peito para a infiltração de Flávio Conceição, que invadiu a área e tocou na saída do goleiro.


Taribo West na marcação de Ronaldo. Eles jogaram juntos na Inter de Milão (Imagem: Rádio Globo)

Aos 15′ do segundo tempo, Flávio Conceição derrubou Amokachi dentro da área brasileira. Okocha bateu o pênalti quase no meio do gol, pouco mais para a esquerda, à meia altura. Dida acertou o canto e defendeu com a perna direita.

A vitória parecia certa. Com o jogo nas mãos, Zagallo começou a poupar seus melhores jogadores, pensando na final contra a Argentina – que já havia vencido Portugal por 2 x 0.

Aos 22′, Juninho saiu para a entrada de Rivaldo.

“Juninho estava cansado, precisávamos de ter mais força no meio-campo.” ― Zagallo

“Estou desapontado porque ainda me sentia muito bem.” ― Juninho Paulista

Aos 33′, o Brasil teve um contra-ataque para matar o jogo, mas Rivaldo prendeu demais e perdeu a bola para West, que ligou novo contragolpe. A bola chegou a Amokachi, que deu um passe na medida para Ikpeba vir da esquerda e chegar chutando forte de primeira. A bola foi no canto esquerdo, sem chances de defesa para Dida. Brasil 3, Nigéria 2.

Mas o jogo já estava praticamente decidido. A cinco minutos do fim, saiu Ronaldo para a entrada de Sávio.

“Ronaldo tinha uma contusão no joelho e dores musculares.” ― Zagallo

Nos segundos finais, Amokachi (o melhor em campo) brigou pela bola e conseguiu um lateral. Okocha fez um arremesso longo para a área, Teslim Fatusi recebeu livre e tocou a frente. A bola bateu de leve em Aldair e sobrou para Kanu dentro da pequena área. Com extremo sangue frio, ele dominou levantando a bola e, ao mesmo tempo, tirando Dida da jogada, e já virou batendo para o gol. Incrível! A Nigéria foi buscar um inacreditável empate! Brasil 3, Nigéria 3.

A Seleção Brasileira entrou muito nervosa e sem confiança na prorrogação.

Na época, existia a regra da “morte súbita”, “gol de ouro” ou “golden goal”, em que vencia quem marcasse o primeiro gol na prorrogação.

E o favoritismo brasileiro “morreu” logo aos quatro minutos.

Wilson Oruma fez um lançamento longo, a bola bateu nas costas de Ikpeba e sobrou para Kanu. Ele dominou cortando Aldair e bateu cruzado de perna esquerda, fazendo o “gol de ouro”.

“Marquei muitos assim pelo meu clube, o Ajax. Vi que os zagueiros estavam virados para mim, por isso driblei e finalizei.” ― Nwankwo Kanu


Roberto Carlos foi um dos que sofreram para marcar o imparável Nwankwo Kanu (Imagem: Papo de Homem)

● Provavelmente esse foi o maior jogo de futebol nos Jogos Olímpicos de todos os tempos.

E essa partida acabou se tornando o maior trauma do futebol olímpico brasileiro.

Alguns anos depois, Zagallo afirmou em uma entrevista que o jogo contra a Nigéria foi a maior decepção de sua carreira – mais até do que a final da Copa do Mundo de 1998.

“É incrível, tivemos tantas oportunidades. Estávamos na frente na semifinal contra a Nigéria, por 3 a 1. Faltando dez minutos para o final do jogo, sofremos um apagão. E acabamos perdendo por 4 a 3.” ― Ronaldo

“Viemos aqui ganhar o ouro, e agora apenas podemos ficar com o bronze. Para o Brasil não é grande coisa.” ― Juninho Paulista

Na decisão do 3º lugar, o Brasil goleou Portugal de Nuno Gomes por 5 x 0, com três gols de Bebeto, garantindo o lugar no pódio com a medalha de bronze.

Na final, a Nigéria enfrentou a poderosa Argentina de Ayala, Chamot, Sensini, Zanetti, Almeyda, Simeone, Gallardo, Ortega, Marcelo Delgado, Claudio López e Hernán Crespo. As Super Águias estiveram em desvantagem novamente por duas vezes, mas viraram para 3 x 2, com um gol de Amunike no minuto final da partida.

Com esse resultado, a Nigéria se tornou o primeiro país africano e o primeiro não-europeu ou não-sul-americano a conquistar a medalha de ouro olímpica no futebol. Foi afirmação do futebol africano em uma competição de alto nível.

“Isto significa tudo para a Nigéria. O futebol é a única coisa que nos une. Para o povo do meu país é o dia mais feliz das suas vidas.” ― Jay-Jay Okocha

“Garanto que no momento em que falo agora toda a África está celebrando. Ninguém vai dormir esta noite, todo mundo está feliz. O título é para todos os países africanos.” ― Sunday Oliseh


Seleção nigeriana campeã olímpica em Atlanta 1996 (Imagem: Twitter @essediafoilouco)

FICHA TÉCNICA:

 

NIGÉRIA 4 x 3 BRASIL

 

Data: 31/07/1996

Horário: 18h00 locais

Estádio: Sanford Stadium

Público: 78.587

Cidade: Athens (Estados Unidos)

Árbitro: José María García-Aranda (Espanha)

 

NIGÉRIA (4-4-2):

BRASIL (4-4-2):

18 Dosu Joseph (G)

1  Dida (G)

17 Mobi Oparaku

2  Maria

5  Uche Okechukwu

3  Aldair

3  Taribo West

4  Ronaldo Guiaro

2  Celestine Babayaro

6  Roberto Carlos

10 Jay-Jay Okocha

15 Zé Elias

13 Garba Lawal

8  Amaral

6  Emmanuel Amunike

5  Flávio Conceição

4  Nwankwo Kanu (C)

9  Juninho Paulista

7  Tijani Babangida

7  Bebeto (C)

14 Daniel Amokachi

18 Ronaldo

 

Técnico: Jo Bonfrère

Técnico: Zagallo

 

SUPLENTES:

 

 

1  Emmanuel Babayaro (G)

12 Danrlei (G)

12 Abiodun Obafemi

13 Narciso

16 Kingsley Obiekwu

14 André Luiz

15 Sunday Oliseh

16 Marcelinho Paulista

8  Wilson Oruma

10 Rivaldo

9  Teslim Fatusi

11 Sávio

11 Victor Ikpeba

17 Luizão

 

GOLS:

1′ Flávio Conceição (BRA)

20′ Roberto Carlos (NIG) (gol contra)

28′ Bebeto (BRA)

38′ Flávio Conceição (BRA)

78′ Victor Ikpeba (NIG)

90′ Nwankwo Kanu (NIG)

94′ Nwankwo Kanu (NIG) (gol de ouro)

 

CARTÕES AMARELOS:

23′ Roberto Carlos (BRA)

31′ Mobi Oparaku (NIG)

39′ Tijani Babangida (NIG)

53′ Garba Lawal (NIG)

73′ Rivaldo (BRA)

86′ Ronaldo (BRA)

87′ Daniel Amokachi (NIG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Emmanuel Amunike (NIG) ↓

Victor Ikpeba (NIG) ↑

 

67′ Tijani Babangida (NIG) ↓

Teslim Fatusi (NIG) ↑

 

67′ Juninho Paulista (BRA) ↓

Rivaldo (BRA) ↑

 

82′ Mobi Oparaku (NIG) ↓

Wilson Oruma (NIG) ↑

 

85′ Ronaldo (BRA) ↓

Sávio (BRA) ↑

Jogo completo:

Melhores momentos (Rede Globo):

“Kanu é perigoso. Entrou, bateu… Acabou… Terminoooouu…”:

… 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile

Três pontos sobre…
… 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile


(Imagem: Lance!)

● O Chile voltava a disputar sua primeira Copa do Mundo desde 1982. Em 1986, parou nas eliminatórias ao perder nas últimas partidas para o Paraguai. Em 1990, foi punido pela FIFA por um episódio no qual o goleiro são-paulino Roberto Rojas cortou seu próprio rosto e fingiu ter sido atingido por um sinalizador no jogo contra o Brasil. Por isso, a FIFA suspendeu o Chile também das eliminatórias de 1994. Em 1998, a vaga veio com muito sufoco, apenas no critério de saldo de gols, após um empate em número de pontos com o arqui-inimigo Peru.

O time chegou ao Mundial com confiança, após vencer a Inglaterra em Wembley por 2 x 0. O elenco era mediano, mas a dupla de ataque era muito boa e entrosada: o experiente Iván “Bam-Bam” Zamorano e o jovem Marcelo Salas, “El Matador”. Salas estava em uma fase esplendorosa e tinha acabado de ser vendido pelo River Plate (Argentina) à Lazio (Itália) por US$ 20 milhões.

O Chile se classificou em segundo lugar do Grupo B, empatando os três jogos da primeira fase: Itália (2 x 2), Áustria (1 x 1) e Camarões (1 x 1).

Para as oitavas de final, contra o Brasil, os chilenos tinham três desfalques importantes, todos por suspensão por terem recebido o segundo cartão amarelo na competição: os alas Francisco Rojas e Moisés Villarroel, além do meia Nelson Parraguez. Em seus respectivos lugares entraram Fernando Cornejo, Mauricio Aros e Miguel Ramírez. O técnico Nelson Acosta optou por manter no time titular o armador José Luis Sierra, mais técnico e lento, ao invés de Fabián Estay, mais dinâmico. Sierra havia passado pelo São Paulo F.C. em 1995, sem sucesso.


(Imagem: AFP / Globo Esporte)

● Pelo Grupo A, o Brasil venceu a Escócia por 2 x 1 no jogo de abertura do Mundial. Na sequência, venceu o Marrocos por 3 x 0. Já classificado em primeiro lugar na chave, perdeu para a Noruega – sua asa negra – por 2 x 1, levando dois gols nos últimos sete minutos.

Após essa derrota para a Noruega, os jogadores brasileiros trocaram farpas publicamente. O clima só foi amenizado em uma reunião comandada pelo zagueiro Aldair, no dia 25. Um dos pontos consensuais era que o capitão Dunga tinha que voltar a gritar em campo. Outro era que os jogadores deveriam evitar bate-bocas via imprensa.

Mesmo com os problemas internos, a Seleção Brasileira continuava entrando em campo de mãos dadas, tentando reviver o espírito vencedor de 1994.

O Brasil contava com o retorno do zagueiro Aldair, poupado contra a Noruega, e do volante César Sampaio, que cumpriu suspensão no jogo anterior.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.


O uruguaio Nelson Acosta armava seu time no 3-5-2. Sierra era quem criava as jogadas para a dupla Salas e Zamorano.

● Brasil e Chile fizeram uma festa sul-americana para 45.500 espectadores no estádio Parc de Princes, em Paris. O melhor jogador da América de 1997 (Marcelo Salas) enfrentava o melhor jogador do mundo do mesmo ano (Ronaldo).

O mundo inteiro esperava uma Seleção Brasileira sem imaginação, como foi diante da Noruega. Mas quem entrou em campo foi o Brasil show, o Brasil “sambá” – como era chamado na França.

A Seleção de Mário Jorge Lobo Zagallo começou com ímpeto total. Logo no início, Júnior Baiano deu uma chegada mais forte em Salas na tentativa de intimidar o atacante chileno.

Aos 11 minutos, em uma falta pela esquerda, perto da linha lateral, Dunga ergueu a bola para a área. A defesa chilena ficou parada, César Sampaio apareceu livre e cabeceou para o gol. 1 a 0.

Aos 26′, Roberto Carlos cobrou falta de muito longe. A bola foi rasteira e desviou na barreira. Bebeto tocou para o meio e César Sampaio bateu de primeira, da linha da grande área. A bola foi no cantinho direito, no contrapé do goleiro Nelson Tapia – que futuramente jogaria no Santos, em 2004. 2 a 0. Foi o segundo gol de Sampaio na partida (algo inédito até então em sua carreira) e o terceiro na Copa. Ele havia feito também o primeiro gol da Copa na vitória diante da Escócia.

Nos acréscimos do primeiro tempo, Ronaldo arrancou em direção ao gol e sofreu pênalti do goleiro Tapia. O próprio Ronaldo cobrou a penalidade à meia altura, no canto esquerdo. O goleiro tocou na bola, mas ela acabou entrando. 3 a 0.


(Imagem: Partidos de la Roja)

O Chile voltou melhor com as duas alterações feitas no intervalo. Saíram Sierra e Ramírez, entraram Estay e Marcelo Vega.

O Brasil só melhorou quando Zagallo trocou o apagado Bebeto pelo aceso Denílson, aos 20′ da etapa final.

Uma bela troca de passes entre Roberto Carlos, Dunga, Leonardo e César Sampaio deu o tom da habilidade dos brasileiros.

Aos 25′, Salas buscou a bola em seu campo de defesa, tabelou com Vega, que alçou a bola para a área, nas costas de Júnior Baiano. Aldair ficou parado e Zamorano cabeceou em cima de Taffarel, que saiu bem para abafar. Mas Salas pegou o rebote e, sem goleiro, cabeceou para o gol. 3 a 1. Foi o quarto gol de “El Matador” no Mundial.

Dois minutos depois, Denílson fez boa jogada pelo meio, tabelou com Rivaldo, chamou a marcação e tocou para Ronaldo avançar sozinho pela direita. O Fenômeno entrou na área e chutou cruzado e rasteiro para marcar. 4 a 1. Em seu auge, Ronaldo estava impossível.

Outro belo lance foi de Leonardo. Ele avançou pela direita, deixou Vega no chão e passou entre Aros e Estay, deixando ambos no chão também. Leonardo tinha classe, categoria e habilidade, mesmo sendo escalado torto pela direita.

Enfim, o Brasil fez uma apresentação convincente. Aquela Seleção de 1998 era realmente um enigma indecifrável. Era impossível prever se seria a Seleção avassaladora dos 45 minutos iniciais contra do Chile ou dos 30 minutos de prorrogação diante a Holanda ou se seria a infrutífera e insípida dos jogos contra Escócia e Noruega.

Rivaldo, Denílson e Leonardo desfilaram habilidade e talento no Parc de Princes. Ronaldo foi efetivo. Dunga voltou a berrar e terminou o jogo com a meia empapada de sangue, demonstrando a garra que tinha. Roberto Carlos despertou de sua profunda hibernação, ensaiou algumas jogadas de efeito e apoiou bastante o ataque, repetindo as atuações que o levaram a ser eleito o segundo melhor jogador do mundo em 1997. Mas, em uma equipe cheia de estrelas, quem mais brilhou foi o operário César Sampaio. Merecidamente, o volante foi eleito o melhor em campo.


(Imagem: Twitter @CuriosidadesBRL)

● Com a derrota para o Brasil, o Chile se despediu do Mundial sem nenhuma vitória. Foram três empates na primeira fase e essa derrota nas oitavas de final. La Roja seguia sem vencer em Copas desde a decisão do 3º lugar de 1962. Só conseguiria uma vitória na primeira rodada da Copa de 2010, sobre Honduras (1 x 0).

Mesmo com a queda precoce, Marcelo Salas foi um dos destaques do torneio, marcando quatro gols.

Nas quartas de final, o Brasil suou para vencer por 3 x 2 o ótimo time da Dinamarca, do goleiro Peter Schmeichel e dos irmãos Laudrup. A Dinamáquina havia goleado e eliminado a ardilosa Nigéria nas oitavas. Nas semifinais, um jogo histórico contra a Holanda (1 x 1), com vitória nos pênaltis (4 x 3) graças a Taffarel. Na final, perdeu para a França por 3 x 0, com dois gols de Zinedine Zidane e um de Emmanuel Petit.


(Imagem: CONMEBOL)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 1 CHILE

 

Data: 27/06/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Parc de Princes

Público: 45.500

Cidade: Paris (França)

Árbitro: Marc Batta (França)

 

BRASIL (4-4-2):

CHILE (3-5-2):

1  Taffarel (G)

1  Nelson Tapia (G)

2  Cafu

6  Pedro Reyes

4  Júnior Baiano

3  Ronald Fuentes

3  Aldair

5  Javier Margas

Roberto Carlos

19 Fernando Cornejo

5  César Sampaio

16 Mauricio Aros

8  Dunga (C)

8  Clarence Acuña

18 Leonardo

14 Miguel Ramírez

10 Rivaldo

10 José Luis Sierra

20 Bebeto

11 Marcelo Salas

9  Ronaldo

9  Iván Zamorano (C)

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Nelson Acosta

 

 

 

 

12 Carlos Germano (G)

12 Marcelo Ramírez (G)

22 Dida (G)

22 Carlos Tejas (G)

13 Zé Carlos

2  Cristián Castañeda

14 Gonçalves

18 Luis Musrri

15 André Cruz

15 Moisés Villarroel

16 Zé Roberto

4  Francisco Rojas

17 Doriva

7  Nelson Parraguez

11 Emerson

17 Marcelo Veja

7  Giovanni

20 Fabián Estay

19 Denílson

21 Rodrigo Barrera

21 Edmundo

13 Manuel Neira

 

GOLS:

11′ César Sampaio (BRA)

26′ César Sampaio (BRA)

45+3′ Ronaldo (BRA) (pen)

70′ Marcelo Salas (CHI)

72′ Ronaldo (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

34′ Ronald Fuentes (CHI)

45′ Nelson Tapia (CHI)

45′ Leonardo (BRA)

90+1′ Cafu (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO José Luis Sierra (CHI) ↓

Fabián Estay (CHI) ↑

 

INTERVALO Miguel Ramírez (CHI) ↓

Marcelo Vega (CHI) ↑

 

65′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

78′ Aldair (BRA) ↓

Gonçalves (BRA) ↑

 

80′ Clarence Acuña (CHI) ↓

Luis Musrri (CHI) ↑

Melhores momentos da partida:

… 07/07/1998 – Brasil 1 x 1 Holanda

Três pontos sobre…
… 07/07/1998 – Brasil 1 x 1 Holanda

(Imagem: Paul Popper / Popperfoto / Getty Images)

● Mesmo com os problemas internos já citados, a Seleção Brasileira continuava entrando em campo de mãos dadas, tentando reviver o espírito vencedor de 1994.

Pelo Grupo A, o Brasil venceu a Escócia por 2 x 1 no jogo de abertura do Mundial. Depois, venceu o Marrocos por 3 x 0 e perdeu para a Noruega de virada por 2 x 1, sofrendo os gols nos últimos minutos. Na sequência, venceu o Chile de Salas e Zamorano por 4 x 1 nas oitavas de final. Nas quartas, venceu por 3 x 2 o ótimo time da Dinamarca, do goleiro Peter Schmeichel e dos irmãos Laudrup.

A Holanda era a cabeça de chave no Grupo E. Na primeira fase, empatou por 0 x 0 com a vizinha Bélgica, goleou a Coreia do Sul por 5 x 0 e empatou por 2 x 2 com o bom time do México. Nas oitavas de final, venceu por 2 x 1 com um gol de Edgar Davids no apagar das luzes. Nas quartas, contou com um gol fenomenal de Dennis Bergkamp no último lance da partida para eliminar a ótima seleção argentina pelo placar de 2 x 1.

Para a semifinal diante do Brasil, Arthur Numan estava suspenso por ter sido expulso diante da Argentina. Seu substituto imediato, Winston Bogarde, sofreu uma fratura no tornozelo em um treino no dia 05 de julho. André Ooijer, terceira opção, também estava machucado. E ao invés de escalar Giovanni van Bronckhorst na posição, o técnico Guus Hiddink preferiu improvisar Phillip Cocu como lateral esquerdo e colocar Boudewijn Zenden como titular na ponta, aproveitando a ausência de Cafu.

O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo. Zé Carlos substituiu Cafu, suspenso.

Sem a bola, a Holanda se fechava no 4-4-2. Com a bola, Zendem avançava e se tornava um 4-3-3.

● Cerca de 54 mil pessoas lotaram o estádio Vélodrome de Marselha para ver duas das seleções mais técnicas da Copa do Mundo.

O primeiro tempo foi de muito respeito de ambas as partes. A Holanda tentava controlar o jogo com a posse de bola, mas o Brasil assustava mais nas poucas vezes em que chegava ao ataque.

Ronaldo estava em noite inspirada e ameaçou por várias vezes o gol de Edwin Van der Sar. Em seu primeiro lance, ele arrancou e foi travado por Jaap Stam na hora do chute.

A Oranje respondeu. Ronald de Boer chutou de fora da área e a bola passou assustando Taffarel, que mandou para escanteio. Wim Jonk cobrou o córner e Phillip Cocu cabeceou para fora com perigo.

Cocu abriu com Zenden na esquerda. O camisa 12 cruzou e Kluivert cabeceou perto do gol, mas a bola foi por cima.

De novo Zenden cruzou da esquerda com perigo, mas Bergkamp não alcançou a bola.

A Seleção Brasileira passava seus sustos quando o arisco Zenden partia para cima de Zé Carlos. Com quase 30 anos, o lateral direito do São Paulo FC fazia sua segunda partida pela Seleção Brasileira. A primeira havia sido o empate por 1 x 1 em um amistoso não-oficial contra o Athletic Bilbao dez dias antes da Copa. Ficou cinquenta dias animando a imprensa e a delegação brasileira fazendo imitações de animais e outros sons. Um ano antes do Mundial, disputava a Série A2 do Campeonato Paulista pela Matonense. E naquele 07 de julho, teve a incumbência de substituir Cafu, que estava suspenso por ter levado o segundo cartão amarelo. Zé Carlos não conseguiu imitar bem um lateral direito e era o “mapa da mina” para os rápidos ataques holandeses.

Wim Jonk lançou nas costas da defesa, Kluivert cruzou e Bergkamp novamente passou da bola, que foi alta demais. Roberto Carlos apenas recuou com o peito para Taffarel.

Novamente Wim Jonk cruzou para a área, Kluivert ganhou de Júnior Baiano pelo alto e cabeceou por cima.

Patrick Kluivert se movimentou constantemente entre os zagueiros e deu trabalho à defesa brasileira.

E os primeiros 45 minutos terminaram sem gols.

(Imagem: Fritz The Flood)

● No primeiro minuto do segundo tempo, Aldair abriu na esquerda para Roberto Carlos, que deixou com Rivaldo no meio. Genial, o camisa 10 viu a infiltração de Ronaldo pela diagonal e fez um lançamento perfeito para o Fenômeno se desvencilhar da marcação implacável de Frank de Boer, ganhar na velocidade de Cocu (seu ex-companheiro de PSV) e tocar de esquerda entre as pernas de Van der Sar.

Em desvantagem no marcador, a Holanda precisou ser mais incisiva no ataque e começou a apostar ainda mais nas jogadas de bola aérea.

Aos 7′, Kluivert desviou uma cobrança de escanteio para o meio e Bergkamp finalizou à queima-roupa, mas Taffarel fez uma defesa sensacional.

O Brasil reagiu e Ronaldo chutou da direita para a defesa de Van der Sar.

Kluivert tabelou com Bergkamp na entrada da área e chutou forte, mas Taffarel segurou sem dar rebote.

Aos 27′, Rivaldo recebeu de Denílson e lançou Ronaldo, que partiu em velocidade de trás da linha de impedimento holandesa. Já dentro da área, na hora de chutar, o camisa 9 brasileiro foi travado por Edgar Davids na hora H, em uma arrancada impressionante do holandês. A bola ainda saiu pela linha de fundo, quase beliscando a trave.

Denílson pedalou para cima de Aron Winter e cruzou para a área. Rivaldo cai e, mesmo caído, tentou chutar, mas Van der Sar abafou e ficou com a bola. O Brasil perdia chances de matar a partida, mas seria duramente castigado.

Aos 34′, Kluivert tabelou com Pierre van Hooijdonk, mas chutou por cima do gol. A defesa brasileira dava calafrios em qualquer um.

A três minutos do fim, Ronald de Boer cruzou com precisão da direita. Kluivert subiu entre Aldair e Júnior Baiano (que ficaram parados) e cabeceou para baixo, sem dar a mínima chance de defesa a Taffarel.

O gol fez justiça ao placar pelo que os dois times haviam criado, especialmente no segundo tempo.

O lance mais reclamado pelos holandeses até hoje aconteceu nos acréscimos. Van Hooijdonk recebeu um cruzamento da direita e caiu na área após disputa com Júnior Baiano, mas o árbitro Ali Bujsaim, dos Emirados Árabes Unidos, não viu o suposto pênalti.

(Imagem: New York Times)

● E foi só no tempo extra que começou um dos maiores jogos dos últimos tempos. Diferente das grandes prorrogações da história das Copas, esta tinha “morte súbita” ou “gol de ouro”, ou seja, o jogo terminaria assim que houvesse um gol, sem chance de recuperação para o adversário. E nos 30 minutos que se seguiram, o que se viu foi um jogo aberto e eletrizante, não recomendável para cardíacos.

Ronaldo estava inspirado e em grande fase, conseguindo dar suas perigosas arrancadas. Roberto Carlos passou a avançar quase como um ponta pela esquerda e Dunga coordenou as ações no meio de campo.

Aos três minutos, Roberto Carlos recebeu de Denílson na esquerda e cruzou da linha de fundo. Van der Sar espalmou para cima e Ronaldo tentou uma bicicleta, mas Frank de Boer tirou em cima da linha.

No minuto seguinte, Ronaldo driblou Frank de Boer e chutou de fora da área para uma boa defesa de Van der Sar.

Aos 6′, Van Hooijdonk bateu uma falta com efeito (uma das suas especialidades), mas Taffarel fez a defesa em dois tempos.

Aos doze, Kluivert recebeu nas costas de Zé Carlos, invadiu a área e chutou cruzado, mas a bola tocou de leve na trave e foi para fora.

No início da etapa final do tempo extra, Ronaldo deu mais uma de suas arrancadas características, ganhou na velocidade de Frank de Boer e deu um toque entre as pernas de Stam, mas o capitão holandês se recuperou e travou o brasileiro para evitar o gol.

Após o apito final, as duas equipes receberam os merecidos aplausos dos extasiados torcedores.

Certamente foi a melhor prorrogação que a Seleção Brasileira já jogou. Em 30 minutos, fez tudo que não havia feito nos 90 anteriores. Criou pelo menos oito chances claras de gol, contra uma única dos holandeses.

(Imagem: Rede Globo)

● Mas o gol decisivo não saiu e a vaga foi decidida nos pênaltis.

Ronaldo foi o primeiro a cobrar e bateu alta, no canto direito de Van der Sar. Brasil, 1 a 0.

Frank de Boer bateu firme, à meia altura, no canto direito de Taffarel. Empate em 1 a 1.

Rivaldo deslocou o arqueiro holandês e bateu no canto esquerdo: 2 a 1 Brasil.

Bergkamp bateu no cantinho esquerdo de Taffarel, que se esticou todo, mas não conseguiu chegar na bola: 2 a 2.

Emerson tinha entrado no lugar de Leonardo aos 40′ do segundo tempo. Como Leonardo era um dos cobradores oficiais, Zagallo estranhamente manteve seu substituto entre os batedores, ao invés de escolher outro jogador mais experiente. Mas Emerson bateu bem, no canto direito alto e converteu. Brasil 3, Holanda 2.

Cocu bateu à meia altura no canto esquerdo e Taffarel pulou certo para pegar. Permanecia 3 a 2.

Dunga bateu no canto direito e Van der Sar quase pegou, mas a bola foi para o gol: 4 a 2.

Ronald de Boer bateu no cantinho direito, mas… “Sai que é sua, Taffarel!” O goleiro brasileiro voou e pegou mais um.

Placar final: Brasil 4 x 2 Holanda.

(Imagem: CBF)

● Taffarel sofreu muito com as críticas após o tetra, bastante contestado por suas atuações pelo Clube Atlético Mineiro. Mas ele tinha a confiança do técnico Zagallo. E provou que deveria sempre ter tido a do povo brasileiro. Ele acertou o canto dos quatro pênaltis e só não defendeu o de dois craques: Frank de Boer e Dennis Bergkamp.

“Essa decisão por pênaltis foi ótima para o Taffarel. Ele já tinha sido muito criticado.” ― Zagallo

“Hoje ganhamos a batalha, mas a guerra não está vencida.” ― Taffarel

O Brasil havia superado seu trauma na decisão por pênaltis após o a conquista do título da Copa do Mundo de 1994. Por sua vez, a Holanda só se livraria desse trauma seis anos mais tarde, na Eurocopa de 2004, quando superou a Suécia e pela primeira vez venceu uma decisão por penalidades. Antes, já haviam sido derrotados pela Dinamarca na Euro de 1992, pela França na Euro de 1996 e pela Itália na Euro de 2000.

Na decisão do 3º lugar, a Holanda não teve ânimo algum e perdeu para a Croácia de Davor Šuker por 2 x 1.

O Brasil estava na final pela segunda Copa do Mundo consecutiva. E também pela segunda vez seguida, eliminava a Holanda.

Na decisão, a Seleção Brasileira enfrentou a França e perdeu por 3 x 0, em partida que ficou marcada pela convulsão de Ronaldo horas antes da partida e os dois gols de cabeça de Zinedine Zidane. Emmanuel Petit completou o placar.

(Imagem: Alexandre Battibugli / Placar / Dedoc)

FICHA TÉCNICA:

BRASIL 1 X 1 HOLANDA

Data: 07/07/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Stade Vélodrome (atual Orange Vélodrome)

Público: 54.000

Cidade: Marselha (França)

Árbitro: Ali Bujsaim (Emirados Árabes Unidos)

BRASIL (4-4-2):

HOLANDA (4-4-2):

1 Taffarel (G)

1 Edwin van der Sar (G)

13 Zé Carlos

2 Michael Reiziger

4 Júnior Baiano

3 Jaap Stam

3 Aldair

4 Frank de Boer (C)

6 Roberto Carlos

11 Phillip Cocu

5 César Sampaio

6 Wim Jonk

8 Dunga (C)

16 Edgar Davids

18 Leonardo

7 Ronald de Boer

10 Rivaldo

12 Boudewijn Zenden

20 Bebeto

8 Dennis Bergkamp

9 Ronaldo

9 Patrick Kluivert

Técnico: Zagallo

Técnico: Guus Hiddink

12 Carlos Germano (G)

18 Ed de Goey (G)

22 Dida (G)

22 Ruud Hesp (G)

2 Cafu

13 André Ooijer

14 Gonçalves

15 Winston Bogarde

15 André Cruz

5 Arthur Numan

16 Zé Roberto

19 Giovanni van Bronckhorst

17 Doriva

20 Aron Winter

11 Emerson

10 Clarence Seedorf

7 Giovanni

14 Marc Overmars

19 Denílson

17 Pierre van Hooijdonk

21 Edmundo

21 Jimmy Floyd Hasselbaink

GOLS:

46′ Ronaldo (BRA)

87′ Patrick Kluivert (HOL)

CARTÕES AMARELOS:

31′ Zé Carlos (BRA)

45′ César Sampaio (BRA)

48′ Michael Reiziger (HOL)

60′ Edgar Davids (HOL)

90′ Pierre van Hooijdonk (HOL)

119′ Clarence Seedorf (HOL)

SUBSTITUIÇÕES:

56′ Michael Reiziger (HOL) ↓

Aron Winter (HOL) ↑

70′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

75′ Boudewijn Zenden (HOL) ↓

Pierre van Hooijdonk (HOL) ↑

85′ Leonardo (BRA) ↓

Emerson (BRA) ↑

111′ Wim Jonk (HOL) ↓

Clarence Seedorf (HOL) ↑

DECISÃO POR PÊNALTIS:

BRASIL 4

HOLANDA 2

Ronaldo (gol, no ângulo direito)

Frank de Boer (gol, à meia altura, à direita)

Rivaldo (gol, no canto esquerdo)

Dennis Bergkamp (gol, no canto esquerdo)

Emerson (gol, no alto do gol, à direita)

Phillip Cocu (perdeu, à esquerda, defendido por Taffarel)

Dunga (gol, no ângulo direito)

Ronald de Boer (perdeu, à direita, defendido por Taffarel)

Melhores momentos (Rede Globo):

Melhores momentos (FIFA.com):

… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia

Três pontos sobre…
… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia


(Imagem: BBC)

● A Seleção Brasileira vinha de uma sequência inédita de títulos: Copa do Mundo de 1994, Copa América de 1997 (primeira conquista do torneio fora do território nacional) e Copa das Confederações de 1997. Qualquer pessoa que acompanhasse o futebol se encantava com os torpedos de Roberto Carlos, o fôlego interminável de Cafu, a liderança de Dunga, os dribles de Denílson, o poder decisivo de Rivaldo e o encanto da dupla de ataque: Romário e Ronaldo.

Com apenas 21 anos, Ronaldo jogava na Internazionale de Milão e vivia seu auge físico e técnico. Tinha sido eleito o melhor jogador do mundo nos dois anos anteriores. Era chamado na Itália de “Il Fenomeno”.

Por tudo isso, havia uma certeza inquebrantável: era só esperar o dia 12 de julho e ouvir Galvão Bueno gritar pelo penta.

Mas, como sabemos, não seria bem assim.


(Imagem: BBC)

● O maior adversário da Seleção Brasileira no jogo de abertura da Copa do Mundo de 1998 não foi a Escócia: foram os problemas internos. O Château de Grande Romaine, nos arredores de Paris, onde a delegação ficou concentrada, era uma bomba atômica pronta para explodir.

Como na maioria das vezes, a Seleção Brasileira viajou para a Copa do Mundo de 1998 com diversas questões a serem resolvidas. Nos quinze dias que antecederam a partida, treinou pouco e mal. A discórdia foi semeada no plantel e teve problemas médicos com diagnósticos tardios e equivocados. O técnico Zagallo insistiu em variações táticas que não aproveitaram o melhor de seus craques.

Zagallo queria o time com um meio campo em losango, com Dunga mais recuado, César Sampaio ajudando e fechar os espaços e avançando pela direita, e Rivaldo fazendo esse espelho pela esquerda. Sampaio sofria para atacar e Rivaldo para defender. O time até voltou ao 4-4-2 em quadrado, com dois volantes e dos meias armadores. Mas o técnico ainda insistia com o seu famoso “número 1” (veja mais abaixo).


(Imagem: AP)

● Na tentativa de minimizar esses problemas internos, Zico foi contratado para ser o coordenador técnico, uma espécie de elo entre a CBF, a comissão técnica e os jogadores. O Galinho de Quintino usou toda sua experiência e coerência para impor suas ideias e tentar dar o sentido de união necessário para a disputa de um Mundial.

O pior dos obstáculos foi o corte de Romário. A oito dias antes da estreia na Copa, Zico foi o responsável por informar a Romário que ele estava sendo cortado da Seleção. Zico era favorável a manter uma seleção sem jogadores lesionados, com todos inteiros e à disposição. Ele teve o apoio de Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, e ganhou a queda de braço com Zagallo e o Dr. Lídio Toledo. O treinador e o médico queriam manter o Baixinho no grupo. Clinicamente, o craque estaria apto para jogar as fases de mata-mata. Ele garantia que conseguiria suportar as dores na panturrilha e culpou Zico pela sua dispensa. O atacante Romário foi substituído pelo meio campista Emerson.


(Imagem: BBC)

E sem Romário, o caminho da titularidade estava aberto para Edmundo. O Animal estava na grande fase de sua carreira e foi discutivelmente um dos melhores jogadores do mundo no ano anterior, quando “comeu a bola” e levou o Vasco da Gama ao título do Campeonato Brasileiro. Mas Zagallo preferia apostar na experiência de Bebeto, mesmo em uma fase não tão prolífica. Edmundo não suportou a ideia de treinar com o colete dos reservas e, no primeiro coletivo, quase rachou a perna de Júnior Baiano. Após o amistoso com o Athletic Bilbao, bateu boca no vestiário com Ronaldo e com Leonardo. A turma do “deixa-disso” entrou em ação, mas um zagueiro resumiu o pensamento da maioria do elenco: “Não deviam ter trazido esse cara”. A discussão ganhou as páginas dos jornais. Cinco dias antes do jogo, Edmundo deu uma entrevista por telefone na qual afirmou que estava melhor fisicamente e tecnicamente do que Bebeto. Zico entrou na questão e fez o atacante se retratar com todo o grupo.

Além da ausência de Romário, as lesões obrigaram a outras modificações no elenco original. Juninho Paulista nem chegou a estar na lista final por não estar em plena forma física após se recuperar de contusão. André Cruz foi convocado para a vaga de Márcio Santos. O lateral direito Zé Carlos substituiu Flávio Conceição, que seria um coringa como volante e lateral.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Giovanni era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.


A Escócia jogou no 3-4-3. Sem a bola, Dailly fechava como lateral esquerdo e Jackson fazia o quarto homem de meio campo, em um falso 4-4-2.

● Foi no meio desse turbilhão que o Brasil estreou na Copa. Oitenta mil pessoas lotaram o novíssimo Stade de France, em Saint-Denis, e viram os jogadores brasileiros entrarem em campo de mãos dadas, tentando emular 1994. O time de 1998 tinha mais talento que o do tetra, mas não tinha conjunto. O espírito era outro.

A Escócia não tinha nenhum jogador fora de série, como chegou a ter antigamente, com Denis Law e Kenny Dalglish. Mas possuía muita força física e um meio campo até criativo para os padrões do país.

O jogo mal tinha começado e, logo aos cinco minutos, Bebeto cobrou escanteio na primeira trave. César Sampaio se antecipou à marcação do desdentado Craig Burley e cabeceou meio de têmpora, meio de pescoço, meio de ombro… mas mandou a bola para o gol.

As estreias são naturalmente tensas e difíceis, mas o gol deixou o time brasileiro relaxado. Durante a partida, por varias vezes Ronaldo chamou o capitão escocês Colin Hendry para dançar. Mas Hendry era duro demais e ruim de dança.

Mas a técnica refinada dos brasileiros não conseguia disfarçar os problemas táticos. Giovanni era um grande jogador, mas não se adaptou à função do “número 1” de Zagallo. Os laterais Cafu e Roberto Carlos avançavam muito e os volantes Dunga e César Sampaio, já trintões, não tinham o fôlego o suficiente e demoravam na cobertura.

E em uma dessas falhas na cobertura, Sampaio derrubou Kevin Gallacher na área. Aos 38′, John Collins cobrou pênalti de pé esquerdo e mandou no cantinho direito, sem chance alguma de defesa para Taffarel – que até acertou o canto.

O empate não estava nos planos de Zagallo. Vendo a ineficácia de Giovanni, o técnico aceitou rever seus conceitos e fez o que não tinha costume, mudando tudo no intervalo.


(Imagem: Pinterest)

Aqui cabe um parêntese. Quando Zagallo reassumiu a Seleção Brasileira, após a conquista do tetra, anunciou uma “grande revolução tática de sua autoria” (sic), o sistema 4-3-1-2. Esse jogador chamado por ele de “número 1” não era um meia comum, nem um volante ou atacante, nem o ponta de lança das antigas e muito menos o ponta tradicional. Ele seria um “elo de ligação entre meio campo e ataque”, capaz de ajudar na marcação, na transição ofensiva, aparecer em todos os lugares do campo para trocar passes, servir o ataque e atacar. Nas palavras do técnico, esse jogador seria o “elo de ligação entre o meio campo e o ataque”. Foram testados na “posição”: Djalminha, Leonardo, Amoroso, Denílson, Zinho e Rivaldo. Por motivos diferentes, nenhum passou no teste. O que chegou mais próximo foi Juninho Paulista, que não se recuperou de lesão. Giovanni foi o dono da posição nos primeiros 45 minutos do Mundial. Mas o “número 1” era pura teoria e não sobreviveu à prancheta de Zagallo. No segundo tempo, o treinador trocou Giovanni por Leonardo e o sistema 4-3-1-2 pelo tradicional 4-4-2. Nessa formação, o Brasil atacava menos. Mas o “Velho Lobo” tinha certo apreço por Leonardo, que possuía a mesma disciplina tática de Zagallo quando jogador.

Mas não houve chances para a zebra e o gol da vitória veio aos 28 minutos da etapa complementar. Dunga lançou Cafu nas costas da defesa. Ele entrou na pequena área e tentou encobrir Leighton, mas a bola explodiu no peito do goleiro, que fechou bem o ângulo. O zagueiro Tom Boyd vinha na corrida, a bola bateu em seu peito e tomou o caminho do gol. Um gol contra claro. Mas que teve comemoração efusiva de Cafu, com direito a cambalhota.

As estatísticas históricas contam um início de Copa com o pé direito. Mas o que não está escrito um lugar algum é o quanto os fatores externos afetaram o rendimento do time em campo. Um gol contra da Escócia salvou os três pontos.


(Imagem: The Scottish Sun)

● Essa partida marcou a vitória de número 50 da Seleção Brasileira na história das Copas do Mundo.

O Brasil se tornou a primeira seleção a marcar mais de um gol na primeira partida da Copa desde 1966, quando o “jogo de abertura” foi instituído oficialmente.

Na segunda rodada, a Escócia empatou com a Noruega por 1 x 1. Na última rodada, os escoceses se classificariam se vencesse o Marrocos e a Noruega não vencesse o Brasil. Aconteceu tudo ao contrário. Os nórdicos venceram. E os escoceses foram goleados pelos marroquinos por 3 x 0. Com oito participações no currículo (1954, 1958, 1974, 1978, 1982, 1986, 1990 e 1998), a Escócia nunca passou de fase em uma Copa do Mundo.

Na sequência, o Brasil venceu o Marrocos por 3 x 0. Já classificado em primeiro lugar na chave, perdeu para a Noruega – sua asa negra – por 2 x 1, levando dois gols nos últimos sete minutos. Nas oitavas de final, venceu o Chile de Zamorano e Salas por 4 x 1. Nas quartas, suou para passar pela Dinamarca (3 x 2), que tinha goleado a ardilosa Nigéria. Nas semifinais, um jogo histórico contra a Holanda (1 x 1), com vitória nos pênaltis (4 x 3) graças a Taffarel. Na final, perdeu para a França por 3 x 0, com dois gols de Zidane e um de Petit.


(Imagem: By Jeff J. Mitchell / Reuters / IFDB)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 X 1 ESCÓCIA

 

Data: 10/06/1998

Horário: 17h30 locais

Estádio: Stade de France

Público: 80.000

Cidade: Saint-Denis (França)

Árbitro: José María García-Aranda (Espanha)

 

BRASIL (4-3-1-2):

ESCÓCIA (3-4-3):

1  Taffarel (G)

1  Jim Leighton (G)

2  Cafu

4  Colin Calderwood

4  Júnior Baiano

5  Colin Hendry (C)

3  Aldair

3  Tom Boyd

6 Roberto Carlos

14 Paul Lambert

5  César Sampaio

8  Craig Burley

8  Dunga (C)

22 Christian Dailly

7  Giovanni

11 John Collins

10 Rivaldo

10 Darren Jackson

20 Bebeto

7  Kevin Gallacher

9  Ronaldo

9  Gordon Durie

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Craig Brown

 

SUPLENTES:

 

 

12 Carlos Germano (G)

12 Neil Sullivan (G)

22 Dida (G)

21 Jonathan Gould (G)

13 Zé Carlos

2  Jackie McNamara

14 Gonçalves

6  Tosh McKinlay

15 André Cruz

16 David Weir

16 Zé Roberto

18 Matt Elliott

17 Doriva

19 Derek Whyte

11 Emerson

15 Scot Gemmill

18 Leonardo

17 Billy McKinlay

19 Denílson

13 Simon Donnelly

21 Edmundo

20 Scott Booth

 

GOLS:

5′ César Sampaio (BRA)

38′ John Collins (ESC) (pen)

74′ Tom Boyd (BRA) (gol contra)

 

CARTÕES AMARELOS:

25′ Darren Jackson (ESC)

37′ César Sampaio (BRA)

45+2′ Aldair (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Giovanni (BRA) ↓

Leonardo (BRA) ↑

 

72′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

78′ Darren Jackson (ESC) ↓

Billy McKinlay (ESC) ↑

 

84′ Christian Dailly (ESC) ↓

Tosh McKinlay (ESC) ↑

(Imagem: EPA – Daily Mail)

Melhores momentos da partida:

Veja o primeiro tempo e o segundo tempo completos, com transmissão da Rede Globo, nos respectivos links:
1º tempo: https://www.dailymotion.com/video/x5viwgf
2º tempo: https://www.dailymotion.com/video/x5w1jqh


(Imagem: Pinterest)

… 12/07/1998 – França 3 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 12/07/1998 – França 3 x 0 Brasil

Allez Le Bleus!”


Zinedine Zidane desfilou em campo. (Imagem: Globo Esporte)

● Era a final dos sonhos: França e Brasil. Considerados favoritos desde o início, era a primeira decisão entre o país sede e o então campeão mundial. Era a primeira decisão dos franceses e a quinta dos brasileiros. Até então, a melhor classificação da França em uma Copa do Mundo tinha sido o 3º lugar em 1958 e 1986 (eles não disputavam um Mundial desde então). Mesmo anfitriã, “Les Bleus” não eram favoritos diante do Brasil, que defendia o título e tinha uma camisa pesada, com quatro títulos mundiais.

A França mostrava a sinergia de um grupo heterogêneo ao cantar emocionadamente o hino nacional, a linda “Marselhesa“, repetida por 80 mil pessoas no Stade de France, em Saint-Denis. Ainda houve tempo para o zagueiro Laurent Blanc dar o tradicional beijo na careca de Barthez, como tinha feito antes de cada jogo. Blanc estava suspenso. Em seu lugar, entrou o (também) ótimo Frank Leboeuf.

Na escalação, uma surpresa: Edmundo jogaria na vaga de Ronaldo. Mas na entrada em campo, o “Fenômeno” estava lá no lugar do “Animal”. Haviam rumores de que Ronaldo tinha sofrido um mal-estar à tarde (leia sobre isso mais abaixo). Cafu, suspenso na semifinal contra a Holanda, estava de volta ao time.

VEJA MAIS:
… 07/07/1998 – Brasil 1 x 1 Holanda
… 08/07/1998 – França 2 x 1 Croácia
… 28/06/1998 – França 1 x 0 Paraguai
… 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile
… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia

Mesmo com as críticas da torcida e da imprensa, o técnico francês Aimé Jacquet demonstrava total confiança em seu próprio trabalho e deu um “nó tático” no ultrapassado Zagallo. Um ano antes do Mundial aconteceu o Torneio da França, uma competição amistosa que reunia brasileiros, franceses, italianos e ingleses. Aquele mesmo torneio em que Roberto Carlos fez um gol de falta contra a França, em que a bola fez uma curva incrível, em um empate por 1 a 1. Naqueles dias, o esperto treinador francês tomou nota de tudo que viu em campo. Mas, principalmente uma sobre a Seleção Brasileira: era preciso impedir os avanços pelas laterais; se os laterais não jogassem, o time também não jogava. Assim, a estratégia estava bem definida: Karembeu foi escalado para marcar Rivaldo, mas fechava para ajudar Thuram a cercar Roberto Carlos. Da mesma forma era do outro lado: Petit marcava Leonardo, mas auxiliava Lizarazu a barrar Cafu. Foi uma marcação que não deu a mínima chance ao ataque brasileiro.


A França jogou no sistema 4-5-1, fechando os espaços do Brasil e apostando no contra-ataque.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.

● Logo aos 28 segundos, o péssimo atacante francês Stéphane Guivarc’h quase fez um gol de puxeta, na primeira das inúmeras falhas do zagueiro Júnior Baiano nessa final.

A primeira jogada do ataque canarinho foi aos 21 minutos, quando Ronaldo (mesmo com todos os problemas) cruzou fechado para o gol. O excêntrico e careca goleiro Barthez quase falhou, mas desviou para fora.

Aos 23′, Leonardo cobrou escanteio para a cabeçada de Rivaldo, mas Barthez foi seguro na defesa.

Quando o Brasil errava menos passes e parecia se encontrar no jogo, Roberto Carlos desarma Karembeu, mas deixa a bola escapar e concede um escanteio bobo no lado direito do ataque francês. Petit cobrou de pé trocado, de esquerda, e Zidane veio correndo da entrada da área para desviar de cabeça para o gol, se antecipando a Leonardo e marcando seu primeiro gol na Copa. O técnico Jacquet sabia que não teria marcação sobre Zidane, já que ele (apesar de alto) não era conhecido como um bom cabeceador (e normalmente, ele era o responsável por várias das bolas paradas). Assim, aos 26 minutos, a dona da casa abria o placar. Foi o primeiro gol de cabeça de Zizou pela seleção (e logo viria o segundo…).

Poucos minutos após o gol francês, um lance ilustrou o frágil estado emocional do time brasileiro. Ronaldo recebeu lançamento de Dunga na entrada da área adversária e se chocou com Barthez, caindo imóvel no chão. Os jogadores do Brasil se desesperaram, pensando que algo mais grave poderia ter acontecido. Mas, felizmente, foi um choque normal. Mas esse fato só deixou ainda mais clara a preocupação que todos os jogadores tinham com Ronaldo, com medo de que ele repetisse a crise.

Uma incessante troca de passes, que até fez a torcida gritar “olé“, terminou no pé direito de Petit, que perdeu a chance de ampliar o marcador.

No fim do tempo regulamentar, Guivarc’h recebeu lançamento livre, após nova falha de Júnior Baiano, e chutou cruzado para uma excelente defesa de Taffarel. Na sequência, novo escanteio. Dessa vez era do lado esquerdo e foi cobrado também de pé trocado por Djorkaeff. A bola foi fechada, Dunga caiu e Zidane se antecipou e entrou de cabeça. A bola passou entre as pernas de Roberto Carlos. Dois gols de Zidane de cabeça! Inédito!

O Brasil voltou melhor para o segundo tempo. Zagallo atirou o Brasil no ataque. No intervalo, tirou Leonardo e colocou Denílson aberto na ponta esquerda e abriu Bebeto na direita. Avançou Rivaldo para ajudar Ronaldo no centro do ataque. Em determinado momento, o Brasil teve, ao mesmo tempo, cinco atacantes em campo: Bebeto, Ronaldo, Rivaldo, Denílson e Edmundo. Mas não conseguiu produzir como precisava.

A primeira grande chance foi de Ronaldo, aos 11 minutos. Rivaldo cobrou falta ensaiada com Roberto Carlos, que cruzou para o segundo pau. O camisa 9 apareceu livre, na pequena área, mas chutou sem ângulo em cima de Barthez.

Aos 15′, Roberto Carlos alçou uma cobrança de arremesso lateral para a área. Barthez saiu “catando borboletas” e a bola sobrou para Bebeto finalizar e Desailly salvar quase em cima da linha.

A França passou todo o segundo tempo tocando a bola e esperando o fim do jogo, ajudado pela apatia do time brasileiro. Mas ainda teve suas chances.

Foi uma aula de futebol do maestro Zinedine Zidane, muito mais do que os dois gols de cabeça. No meio campo, ele era marcado à distância por Dunga e César Sampaio, jogando livre e tomando conta do jogo. No lado esquerdo, Djorkaeff caía pelo meio para ajudar a armar as jogadas ofensivas. Os laterais Thuram e Lizarazu não apoiavam, cumprindo estritamente seus papeis defensivos.

Na metade do segundo tempo, Desailly avançou em contra-ataque, perdeu a bola e fez falta dura em Cafu, recebendo o segundo cartão amarelo e, por consequência, sendo expulso.

Aos 18′, pela terceira vez no jogo, Guivarc’h apareceu livre e isolou a bola. Aos 37, Dugarry imitou o colega e “conseguiu” perder um gol feito, chutando de forma bisonha à direita de Taffarel. Poderia ter sido uma goleada histórica, se os atacantes franceses tivessem acertado alguma das muitas chances perdidas.

No minuto 45, Edmundo fez uma boa jogada e tocou para Denílson. De esquerda, o chute tocou no travessão e foi para fora.

No fim, uma discussão sem necessidade entre Edmundo e Rivaldo, quando o camisa 10 colocou uma bola para fora para que Zidane recebesse atendimento médico. Edmundo, com seu excesso de vontade, foi contra o “fair play” do camisa 10.

A Seleção Canarinho foi definitivamente destroçada aos 47 minutos do segundo tempo. Denílson cobrou escanteio, Rivaldo não dominou a bola e Dugarry puxou o contra-ataque. Ele tocou para Vieira, que lançou de primeira para Petit nas costas de Cafu. O cabeludo, camisa nº 17, tocou cruzado na saída de Taffarel. 3 a 0.

Festa em todo o país! Enfim, a França conquistava sua primeira Copa do Mundo. O presidente Jacques Chirac entregou a taça ao capitão Didier Deschamps, que, merecidamente, a levantou. Justíssimo!


Zizou abriu o placar de cabeça. (Imagem: Baú do Futebol)

● Não faltaram motivos para o Brasil perder a final da Copa de 1998 para a França por 3 a 0. Mas até hoje há diversas pessoas que acreditam piamente em teorias da conspiração. Uma delas diz que o Brasil “vendeu” o jogo em troca de ser a sede da Copa do Mundo de 2014. Outra diz que houve um acordo entre Nike (fornecedora de material esportivo da Seleção Brasileira) e a Adidas (fornecedora dos franceses), para que o título de 1998 ficasse na França e o de 2002 viesse para o Brasil (mas será que acertaram também com todas as seleções que jogaram em 2002?) Outra versão diz que Ronaldo foi envenenado por um cozinheiro francês na concentração. A mais pura verdade é que a França se preparou e fez um Copa do Mundo melhor do que o Brasil. Os franceses anularam Ronaldo e Rivaldo, as principais peças do Brasil até a final, e explorou os contra-ataques e as deficiências da defesa brasileira.

A França era o primeiro país sede a conquistar o título desde a Argentina em 1978. Foi o primeiro país campeão a terminar uma Copa com o melhor ataque (15 gols) e a melhor defesa (dois gols). Já o Brasil sofreu seu maior revés em Copas (0 x 3 contra a França) e terminou com a defesa mais vazada da competição (dez gols).


O mundo parou quando Ronaldo se chocou com Barthez. Felizmente, nada mais grave. (Imagem localizada no Google)

● Primeiro, falou-se em uma lesão no tornozelo. Depois, descobriu-se que o atacante havia sofrido um mal súbito na concentração durante a tarde. Existem várias versões: uma diz que foi um colapso nervoso, outra que foi o excesso de infiltrações de xilocaína no joelho (oito injeções em 32 dias) e até uma que diz que foi um ataque cardíaco.

Segue abaixo a reprodução do “Guia dos Curiosos das Copas do Mundo“, de Marcelo Duarte:

“No dia da decisão da Copa, por volta das 14 horas, Roberto Carlos levou o maior susto ao ver seu companheiro de quarto, Ronaldo, salivando, revirando os olhos, respirando com dificuldade. “Para com isso, Ronaldo, acorda!”, disse Roberto Carlos. Vendo que a coisa era séria, o jogador saiu do quarto correndo, pedindo ajuda. César Sampaio e Leonardo prestaram os primeiros socorros, enquanto Bebeto e Edmundo foram chamar o médico Lídio Toledo. Edmundo chegou a gritar pelos corredores que “Ronaldinho estava morrendo”. Quando o médico chegou, Ronaldo pediu para continuar a dormir. Ao acordar para o lanche, ele não se lembrava da crise convulsiva. Foi levado a uma clínica para fazer exames neurológicos completos, que nada acusaram. A convulsão, segundo uma das versões, teria sido causada por uma injeção de xilocaína aplicada no joelho do jogador. Mesmo assim, Edmundo foi escalado como titular. Ronaldo chegou ao estádio às 20h10, trocou-se rapidamente e pediu para ser escalado – o jogo começaria às 21 horas, no horário local. A comissão técnica fez uma reunião numa sala ao lado do vestiário:
– Estou bem, professor, ninguém me tira desse jogo – disse Ronaldo.
– Como é, Lídio? – perguntou o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que desceu apressado das tribunas ao receber a escalação da equipe sem Ronaldo.
– Não vou assumir sozinho. É muita responsabilidade – respondeu Lídio.
– Está bem? Não sente nada? Então, pronto, está decidido: você vai jogar – disparou o técnico Zagallo.
– Então, bota o garoto – ordenou Ricardo Teixeira.”

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 3 X 0 BRASIL

 

Data: 12/07/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Stade de France

Público: 80.000

Cidade: Saint-Denis (França)

Árbitro: Said Belqola (Marrocos)

 

FRANÇA (4-5-1):

BRASIL (4-3-1-2):

16 Fabien Barthez (G)

1  Taffarel (G)

15 Lilian Thuram

2  Cafu

18 Frank Leboeuf

4  Júnior Baiano

8  Marcel Desailly

3  Aldair

3  Bixente Lizarazu

6  Roberto Carlos

7  Didier Deschamps (C)

5  César Sampaio

19 Christian Karembeu

8  Dunga (C)

17 Emmanuel Petit

18 Leonardo

10 Zinedine Zidane

10 Rivaldo

6  Youri Djorkaeff

20 Bebeto

9  Stéphane Guivarc’h

9  Ronaldo

 

Técnico: Aimé Jacquet

Técnico: Zagallo

 

SUPLENTES:

 

 

1  Bernard Lama (G)

12 Carlos Germano (G)

22 Lionel Charbonnier (G)

22 Dida (G)

5  Laurent Blanc

13 Zé Carlos

2  Vincent Candela

14 Gonçalves

14 Alain Boghossian

15 André Cruz

4  Patrick Vieira

16 Zé Roberto

11 Robert Pirès

17 Doriva

13 Bernard Diomède

11 Emerson

21 Christophe Dugarry

7  Giovanni

12 Thierry Henry

19 Denílson

20 David Trezeguet

21 Edmundo

 

GOLS:

27′ Zinedine Zidane (FRA)

45+1′ Zinedine Zidane (FRA)

90+3′ Emmanuel Petit (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

33′ Júnior Baiano (BRA)

39′ Didier Deschamps (FRA)

48′ Marcel Desailly (FRA)

56′ Christian Karembeu (FRA)

 

CARTÃO VERMELHO: 68′ Marcel Desailly (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Leonardo (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

57′ Christian Karembeu (FRA) ↓

Alain Boghossian (FRA) ↑

 

66′ Stéphane Guivarc’h (FRA) ↓

Christophe Dugarry (FRA) ↑

 

73′ César Sampaio (BRA) ↓

Edmundo (BRA) ↑

 

74′ Youri Djorkaeff (FRA) ↓

Patrick Vieira (FRA) ↑

VEJA OUTROS JOGOS DA COPA DE 1998:
… 30/06/1998 – Argentina 2 x 2 Inglaterra
… 04/07/1998 – Holanda 2 x 1 Argentina
… 29/06/1998 – Holanda 2 x 1 Iugoslávia
… 13/06/1998 – Nigéria 3 x 2 Espanha
… 11/07/1998 – Croácia 2 x 1 Holanda
… 20/06/1998 – Bélgica 2 x 2 México
… 11/06/1998 – Itália 2 x 2 Chile


França campeã do mundo em 1998. (Imagem: AFP / Getty Images)

Gols da decisão:

Jogo completo: