… 28/06/1998 – França 1 x 0 Paraguai

Três pontos sobre…
… 28/06/1998 – França 1 x 0 Paraguai


(Imagem: Thomas Kienzle / AP Photo)

● O estádio Félix-Bollaert tinha capacidade para 41 mil pessoas e a cidade onde é situado, Lens, tem apenas 35 mil habitantes. É a menor cidade a receber um jogo de Copa do Mundo. Nessa partida das oitavas de final, recebeu 31.800 expectadores.

Dona da casa, a França foi a líder do Grupo C com 100% de aproveitamento. Venceu a África do Sul por 3 x 0, a Arábia Saudita por 4 x 0 e a Dinamarca por 2 x 1.

O Paraguai teve mais trabalho para se classificar no segundo lugar do Grupo D. Empatou sem gols com a Bulgária e com a Espanha. Na terceira rodada, venceu a Nigéria por 3 x 1 – os nigerianos já estavam garantidos como primeiros do grupo e jogaram com um time reserva.

Na semana da partida pelas oitavas de final, o maior jornal esportivo francês, L’Équipe, perguntou com certo menosprezo: “Onde fica o Paraguai?”

O excelente goleiro José Luis Chilavert liderava o forte sistema defensivo paraguaio, que tinha os bons zagueiros Celso Ayala e Pedro Sarabia, além do excepcional Carlos Gamarra. Na ala direita, Francisco Arce se destacava pelos cruzamentos e bolas paradas. Na esquerda, Jorge Luis Campos era um meia adaptado à função de ala, que apoiava mais que Arce. Como volantes, Julio César Enciso e Carlos Paredes faziam a proteção. O argentino naturalizado Roberto Acuña fazia a ligação com o ataque. O baixinho Miguel Ángel Benítez era mais arisco e veloz, enquanto José Cardozo era o homem de área.


(Imagem: UOL)

● Na França, Zidane estava ausente, cumprindo o segundo jogo de suspensão por ter sido expulso ao pisar propositalmente em Mohammed Al-Khilaiwi, na vitória sobre a Arábia Saudita.

Bernard Diomède foi o substituto de Zizou, mas com funções diferentes. Youri Djorkaeff foi o armador central, com Henry fazendo o lado direito e Diomède pela esquerda. O ponta do AJ Auxerre tinha estrado pela seleção naquele mesmo ano. Era muito impetuoso e tinha pouca técnica, mas seria importante para prender Chiqui Arce e evitar as subidas do ótimo lateral paraguaio.

Sem Zidane, Djorkaeff seria a luz de criatividade no time, dando objetividade e velocidade quando necessário. Os laterais Thuram e Lizarazu pouco apoiariam. A jovem dupla de ataque David Trezeguet e Thierry Henry não funcionaria.


A França jogou em um misto de 4-4-2 e 4-2-3-1. Aimé Jacquet escalou Les Bleus com Djorkaeff armando por dentro, Henry fazendo o lado direito e Diomède pela esquerda, com Trezeguet como centroavante.


Com a bola, o Paraguai jogava no 3-5-2. Sem a bola, se fechava no 5-3-2 e, por vezes, até no 5-4-1 com o recuo de Benítez.

● A primeira chance foi francesa. Youri Djorkaeff bateu com perigo à esquerda do gol.

Pouco depois, Djorkaeff tocou para Emmanuel Petit, que rolou no meio para Diomède chutar, mas ele bateu mascado e mandou para fora.

O Paraguai teve sua melhor chance em um passe longo de Toro Acuña para Cardozo emendar o chute, mas Fabien Barthez defendeu bem.

Paredes tentou cruzar da esquerda e a bola quase encobriu o goleiro francês.

Chiqui Arce também tentou um cruzamento da intermediária direita e a bola chegou a assustar o carequinha Barthez, que agarrou firme antes que ela tomasse o caminho de seu ângulo direito.


(Imagem: Pinterest)

Um novo lançamento de Acuña colocou Miguel Ángel Benítez para correr. Ele avançou e foi travado por Marcel Desailly na hora do chute. Benítez ainda pegou a sobra e tocou para Cardozo no meio, mas ele não conseguiu dominar e Lizarazu tirou o perigo.

Diomède chutou de direita da entrada da área. A bola bateu na defesa paraguaia, que não conseguiu afastar e Trezeguet finalizou com perigo à esquerda de Chilavert.

Novamente Diomède arriscou de esquerda da entrada da área e Chilavert se esticou todo para espalmar para escanteio.

Lizarazu interceptou uma bola na defesa e lançou para Thierry Henry partir em velocidade de seu próprio campo. Sarabia tentou cortar e chutou para cima. E Henry ganhou na velocidade de Ayala e Gamarra e tocou na saída de Chilavert. Caprichosa, a bola bateu na trave e não entrou.

Djorkaeff passou por Enciso e chutou. A bola desviou em Gamarra e passou perto do travessão.

Djorkaeff bateu escanteio e Desailly subiu mais que todo mundo para cabecear, mas Chilavert segurou firme sem dar rebote.

Robert Pirès tocou na área para Stéphane Guivarc’h fazer o pivô. Trezeguet deixou Gamarra no chão e bateu de esquerda, rente à trave direita do Paraguai.

A França reclamou pênalti de Gamarra em Djorkaeff, mas o árbitro Ali Bujsaim viu como lance normal (e foi).


(Imagem: Pinterest)

No final da partida, Gamarra sofreu uma lesão na clavícula, foi atendido fora de campo e voltou para o jogo com o braço em uma tipoia, lembrando o grande Franz Beckenbauer na semifinal da Copa do Mundo de 1970.

Ao fim do tempo normal, Chilavert beijou a medalhinha que carregava o tempo todo e deixava atrás da trave esquerda.

Já na prorrogação, Djorkaeff bateu falta, a bola desviou na barreira e Chilavert fez um milagre, mandando para escanteio com a ponta dos dedos.

A seleção paraguaia não se intimidou com a torcida contra e catimbou o quanto pôde. Se fechou na defesa e ganhou tempo sempre que possível. Chilavert ganhou cartão amarelo por retardar um tiro de meta ainda no começo do jogo. Arce recebeu a mesma advertência por parar uma cobrança de escanteio para amarrar as chuteiras.

O técnico Carpegiani já estava escalando seus cobradores de pênaltis. A seleção guarani apostava que se classificaria nas penalidades. Além de excelentes cobradores, tinha um grande goleiro, experiente nesse tipo de decisão. Mas…

A seis minutos do fim, bola na área da defesa paraguaia e Ayala escorou de cabeça. Pirès pegou o rebote pelo lado direito, entrou na grande área e centrou para a marca do pênalti. O heroico Gamarra não teve forças para subir e Trezeguet foi perfeito ao escorar para o bico direito da pequena área para Laurent Blanc fuzilar Chilavert. O goleiro tentou fechar o ângulo e ainda tocou na bola. Mas ela entrou. Era o primeiro gol de ouro da história dos Mundiais.

Ao término da partida, Chilavert, um líder nato, ainda tentou consolar e animar seus companheiros. O Paraguai caiu de pé e lembrou ao mundo onde fica.


(Imagem: Yahoo)

● As duas seleções tiveram as melhores defesas da Copa, sofrendo apenas dois gols. Porém, ambas sofriam com seus ataques. Na França, os jovens Thierry Henry e David Trezeguet não rendiam como esperado. No Paraguai, Miguel Ángel Benítez e José Cardozo tinham ainda menos poder de fogo que os gauleses. Então, nada mais marcante do que um zagueiro – Laurent Blanc – marcar o gol do jogo.

Essa foi a primeira partida da história das Copas do Mundo decidida na “morte súbita”. Também chamado de “gol de ouro”, era uma novidade daquela edição do Mundial. Se um jogo de mata-mata terminasse empatado, vencia a equipe que fizesse o primeiro gol na prorrogação.

“O Carpegiani não me deixou sair de campo. Disse que precisava de mim.” ― Carlos Gamarra

“Antes da prorrogação, o Gamarra me disse que estava mal [do ombro] e eu podia trocá-lo pelo [Catalino] Rivarola, que era um zagueiro experiente e bom no jogo aéreo. Só que eu precisava fazer outra troca tática no ataque. Disse que a responsabilidade era toda minha da permanência dele. No dia seguinte, quando fez a radiografia, vimos que tinha dois centímetros de desvio da clavícula. E foi em cima dele que perdemos o jogo, porque a bola veio na cabeça do Trezeguet e ele não subiu junto… Tínhamos grandes possibilidades de fazer o crime naquele jogo. Só que paguei esse preço alto porque a jogada do gol foi em cima do Gamarra, que estava machucado. Estivesse em campo o Rivarola, ótimo no jogo aéreo, quem sabe até onde poderíamos ter chegado…” ― Paulo César Carpegiani

José Luis Chilavert e Carlos Gamarra foram escolhidos para a seleção do Mundial. Eles não se bicavam, mas se uniram para fazerem parte de um dos mais memoráveis sistemas defensivos da história das Copas. Em 384 minutos disputados de quatro partidas na Copa de 1998, Gamarra fez inúmeros desarmes não cometeu nenhuma falta sequer.

Na sequência, a França empatou sem gols com a Itália e venceu por 4 x 3 nos pênaltis, na volta de Zidane. Nas semifinais, Thuram foi o herói ao marcar duas vezes contra a Croácia na vitória de virada por 2 x 1. Na decisão, a França jogou melhor e venceu o Brasil por 3 x 0 e conquistou seu primeiro título da Copa do Mundo de Futebol.


(Imagem: Lance!)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 1 X 0 PARAGUAI

 

Data: 28/06/1998

Horário: 16h30 locais

Estádio: Stade Félix-Bollaert (atual Stade Bollaert-Delelis)

Público: 31.800

Cidade: Lens (França)

Árbitro: Ali Bujsaim (Emirados Árabes Unidos)

 

FRANÇA (4-2-3-1):

PARAGUAI (3-5-2):

16 Fabien Barthez (G)

1  José Luis Chilavert (G)(C)

15 Lilian Thuram

5  Celso Ayala

5  Laurent Blanc

4  Carlos Gamarra

8  Marcel Desailly

11 Pedro Sarabia

3  Bixente Lizarazu

2  Francisco Arce

7  Didier Deschamps (C)

16 Julio César Enciso

17 Emmanuel Petit

13 Carlos Paredes

13 Bernard Diomède

10 Roberto Acuña

6  Youri Djorkaeff

21 Jorge Luis Campos

20 David Trezeguet

15 Miguel Ángel Benítez

12 Thierry Henry

9  José Cardozo

 

Técnico: Aimé Jacquet

Técnico: Paulo César Carpegiani

 

SUPLENTES:

 

 

1  Bernard Lama (G)

12 Danilo Aceval (G)

22 Lionel Charbonnier (G)

22 Rubén Ruiz Díaz (G)

18 Frank Leboeuf

3  Catalino Rivarola

2  Vincent Candela

14 Ricardo Rojas

19 Christian Karembeu

20 Denis Caniza

14 Alain Boghossian

6  Edgar Aguilera

4  Patrick Vieira

19 Carlos Morales

11 Robert Pirès

8  Arístides Rojas

10 Zinedine Zidane

18 César Ramírez

21 Christophe Dugarry

7  Julio César Yegros

9  Stéphane Guivarc’h

17 Hugo Brizuela

 

GOL: 114′ Laurent Blanc (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

19′ José Luis Chilavert (PAR)

23′ Miguel Ángel Benítez (PAR)

32′ Julio César Enciso (PAR)

84′ Francisco Arce (PAR)

99′ Arístides Rojas (PAR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

55′ Jorge Luis Campos (PAR) ↓

Julio César Yegros (PAR) ↑

 

64′ Thierry Henry (FRA) ↓

Robert Pirès (FRA) ↑

 

69′ Emmanuel Petit (FRA) ↓

Alain Boghossian (FRA) ↑

 

75′ Carlos Paredes (PAR) ↓

Denis Caniza (PAR) ↑

 

76′ Bernard Diomède (FRA) ↓

Stéphane Guivarc’h (FRA) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO José Cardozo (PAR) ↓

Arístides Rojas (PAR) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

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