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… 17/07/1930 – Estados Unidos 3 x 0 Paraguai

Três pontos sobre…
… 17/07/1930 – Estados Unidos 3 x 0 Paraguai


(Imagem: Getty Images / Popperfoto)

● Dos treze participantes da primeira Copa do Mundo, sete eram da América do Sul. Um deles era o Paraguai, que se destacou pela sua ousada camisa listrada em vermelho e branco, em uma época que que, pela dificuldade da fabricação dos tecidos, quase todas as seleções usavam uniformes básicos, com apenas uma cor. Além dos guaranis, apenas a Argentina utilizava camiseta listrada – no caso, azul e branco. Até hoje o Paraguai faz parte de um seleto grupo de seleções que manteve o mesmo padrão da sua camisa principal com o passar dos anos, tornando seu uniforme um dos mais tradicionais e reconhecidos do futebol sul-americano e mundial.

Mas a situação financeira da federação era ruim. A seleção paraguaia ameaçou não ir ao Mundial por causa de dinheiro, mas o congresso do país resolveu esse problema. O craque do time era o capitão Luis Vargas Peña.

Ao chegar no Uruguai, a seleção norte-americana era uma verdadeira incógnita. O grupo contava com seis jogadores eram nascidos na Grã-Bretanha (Alexander Wood, George Moorhouse, Jimmy Gallagher, Andy Auld, Jim Brown e Bart McGhee) e cinco haviam sido profissionais na Escócia antes de emigrarem para a América. Quase todos estavam estreando na seleção e, por isso, os EUA eram considerados pela imprensa como franco-atiradores. Mas, mesmo com pouco entrosamento, o alto nível desses jogadores acabou por fazer a diferença a favor do time.

Na primeira partida do Grupo 4, os americanos venceram a Bélgica por 3 x 0, com gols de McGhee, Tom Florie e Patenaude.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Ventava muito no estádio Parque Central, durante o segundo confronto da chave, entre EUA e Paraguai. E o time norte-americano não teve nenhuma dificuldade na partida.

O placar foi aberto logo aos dez minutos de partida. Andy Auld se livrou de Lino Nessi na esquerda e tocou para Patenaude. Da marca do pênalti, ele bateu no canto direito do goleiro Modesto Denis.

Cinco minutos depois, Tom Florie dominou a bola pelo lado esquerdo da área e tocou para o meio. Patenaude chutou, a bola desviou em Aurelio González e foi para o fundo das redes. EUA 2 a 0.

Aos 5′ do segundo tempo, Auld avançou pela esquerda e cruzou para o meio. Patenaude fez o terceiro dos Estados Unidos e fechou o placar.


Bert Patenaude sobe para cabecear (Imagem: Pinterest)

● No segundo gol americano, a bola iria para fora, mas tomou o rumo do gol ao desviar no paraguaio. Originalmente o tento foi atribuído a González contra. Porém, em 1994, a US Soccer (federação norte-americana de futebol) solicitou que a autoria do gol fosse revista. A insistência tinha razão de ser. Já com os atuais critérios de gol contra, a FIFA concedeu a autoria aos estadunidenses. Mas a súmula oficial da entidade dava o gol a Tom Florie, embora os historiadores afirmasse que a finalização tenha sido feita por Patenaude. Súmulas e outros documentos foram novamente revisitados e Patenaude teve o gol creditado para si.

E, como ele havia anotado os outros dois tentos do jogo, Bertram “Bert” Albert Patenaude passou a ser considerado o primeiro atleta a marcar três gols em uma partida de Copa do Mundo. Esse é um feito muito valorizado em todo mundo, especialmente em países de língua inglesa. E, como se sabem, os americanos adoram recordes e marcas históricas.

Até 10/11/2006, a FIFA considerava Guillermo Stábile como o primeiro a marcar três gols em Mundiais. Mas o fato é que Stábile marcou sua “tripleta” dois dias depois do “hat trick” de Patenaude.


O goleiro americano Jimmy Douglas sobe para segurar um cruzamento (Imagem: Pinterest)

● A partida final do Grupo foi apenas para cumprir tabela. O Paraguai venceu a Bélgica pelo placar de 1 x 0, com um gol de Vargas Peña aos 40 minutos de partida, resultando no nono lugar na classificação geral do primeiro Mundial.

Com a vitória sobre os paraguaios, os EUA garantiram vaga nas semifinais da primeira Copa do Mundo. O selecionado ianque enfrentou a Argentina e perdeu por 6 x 1.

FICHA TÉCNICA:

 

ESTADOS UNIDOS 3 x 0 PARAGUAI

 

Data: 17/07/1930

Horário: 14h45 locais

Estádio: Parque Central

Público: 18.306

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: José Macías (Argentina)

 

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

PARAGUAI (2-3-5):

Jimmy Douglas (G)

Modesto Denis (G)

Alexander Wood

Quiterio Olmedo

George Moorhouse

José Miracca

Jimmy Gallagher

Eusebio Díaz

Ralph Tracey

Lino Nessi

Andy Auld

Romildo Etcheverry

Billy Gonsalves

Diógenes Domínguez

Tom Florie (C)

Aurelio González

Bert Patenaude

Delfín Benítez Cáceres

Jim Brown

Luis Vargas Peña (C)

Bart McGhee

Francisco Aguirre

 

Técnico: Robert Millar

Técnico: José Durand Laguna

 

SUPLENTES:

 

 

Frank Vaughn

Pedro Benítez (G)

James Gentle

Eustacio Chamorro

Philip Slone

Salvador Flores

Arnie Oliver

Diego Florentín

Mike Bookie

Santiago Benítez

 

Tranquilino Garcete

 

Saguier Carreras

 

Amadeo Ortega

 

Bernabé Rivera

 

Jacinto Villalba

 

Gerardo Romero

 

GOLS:

10′ Bert Patenaude (EUA)

15′ Bert Patenaude (EUA)

50′ Bert Patenaude (EUA)

Imagens da partida:

… 28/06/1998 – França 1 x 0 Paraguai

Três pontos sobre…
… 28/06/1998 – França 1 x 0 Paraguai


(Imagem: Thomas Kienzle / AP Photo)

● O estádio Félix-Bollaert tinha capacidade para 41 mil pessoas e a cidade onde é situado, Lens, tem apenas 35 mil habitantes. É a menor cidade a receber um jogo de Copa do Mundo. Nessa partida das oitavas de final, recebeu 31.800 expectadores.

Dona da casa, a França foi a líder do Grupo C com 100% de aproveitamento. Venceu a África do Sul por 3 x 0, a Arábia Saudita por 4 x 0 e a Dinamarca por 2 x 1.

O Paraguai teve mais trabalho para se classificar no segundo lugar do Grupo D. Empatou sem gols com a Bulgária e com a Espanha. Na terceira rodada, venceu a Nigéria por 3 x 1 – os nigerianos já estavam garantidos como primeiros do grupo e jogaram com um time reserva.

Na semana da partida pelas oitavas de final, o maior jornal esportivo francês, L’Équipe, perguntou com certo menosprezo: “Onde fica o Paraguai?”

O excelente goleiro José Luis Chilavert liderava o forte sistema defensivo paraguaio, que tinha os bons zagueiros Celso Ayala e Pedro Sarabia, além do excepcional Carlos Gamarra. Na ala direita, Francisco Arce se destacava pelos cruzamentos e bolas paradas. Na esquerda, Jorge Luis Campos era um meia adaptado à função de ala, que apoiava mais que Arce. Como volantes, Julio César Enciso e Carlos Paredes faziam a proteção. O argentino naturalizado Roberto Acuña fazia a ligação com o ataque. O baixinho Miguel Ángel Benítez era mais arisco e veloz, enquanto José Cardozo era o homem de área.


(Imagem: UOL)

● Na França, Zidane estava ausente, cumprindo o segundo jogo de suspensão por ter sido expulso ao pisar propositalmente em Mohammed Al-Khilaiwi, na vitória sobre a Arábia Saudita.

Bernard Diomède foi o substituto de Zizou, mas com funções diferentes. Youri Djorkaeff foi o armador central, com Henry fazendo o lado direito e Diomède pela esquerda. O ponta do AJ Auxerre tinha estrado pela seleção naquele mesmo ano. Era muito impetuoso e tinha pouca técnica, mas seria importante para prender Chiqui Arce e evitar as subidas do ótimo lateral paraguaio.

Sem Zidane, Djorkaeff seria a luz de criatividade no time, dando objetividade e velocidade quando necessário. Os laterais Thuram e Lizarazu pouco apoiariam. A jovem dupla de ataque David Trezeguet e Thierry Henry não funcionaria.


A França jogou em um misto de 4-4-2 e 4-2-3-1. Aimé Jacquet escalou Les Bleus com Djorkaeff armando por dentro, Henry fazendo o lado direito e Diomède pela esquerda, com Trezeguet como centroavante.


Com a bola, o Paraguai jogava no 3-5-2. Sem a bola, se fechava no 5-3-2 e, por vezes, até no 5-4-1 com o recuo de Benítez.

● A primeira chance foi francesa. Youri Djorkaeff bateu com perigo à esquerda do gol.

Pouco depois, Djorkaeff tocou para Emmanuel Petit, que rolou no meio para Diomède chutar, mas ele bateu mascado e mandou para fora.

O Paraguai teve sua melhor chance em um passe longo de Toro Acuña para Cardozo emendar o chute, mas Fabien Barthez defendeu bem.

Paredes tentou cruzar da esquerda e a bola quase encobriu o goleiro francês.

Chiqui Arce também tentou um cruzamento da intermediária direita e a bola chegou a assustar o carequinha Barthez, que agarrou firme antes que ela tomasse o caminho de seu ângulo direito.


(Imagem: Pinterest)

Um novo lançamento de Acuña colocou Miguel Ángel Benítez para correr. Ele avançou e foi travado por Marcel Desailly na hora do chute. Benítez ainda pegou a sobra e tocou para Cardozo no meio, mas ele não conseguiu dominar e Lizarazu tirou o perigo.

Diomède chutou de direita da entrada da área. A bola bateu na defesa paraguaia, que não conseguiu afastar e Trezeguet finalizou com perigo à esquerda de Chilavert.

Novamente Diomède arriscou de esquerda da entrada da área e Chilavert se esticou todo para espalmar para escanteio.

Lizarazu interceptou uma bola na defesa e lançou para Thierry Henry partir em velocidade de seu próprio campo. Sarabia tentou cortar e chutou para cima. E Henry ganhou na velocidade de Ayala e Gamarra e tocou na saída de Chilavert. Caprichosa, a bola bateu na trave e não entrou.

Djorkaeff passou por Enciso e chutou. A bola desviou em Gamarra e passou perto do travessão.

Djorkaeff bateu escanteio e Desailly subiu mais que todo mundo para cabecear, mas Chilavert segurou firme sem dar rebote.

Robert Pirès tocou na área para Stéphane Guivarc’h fazer o pivô. Trezeguet deixou Gamarra no chão e bateu de esquerda, rente à trave direita do Paraguai.

A França reclamou pênalti de Gamarra em Djorkaeff, mas o árbitro Ali Bujsaim viu como lance normal (e foi).


(Imagem: Pinterest)

No final da partida, Gamarra sofreu uma lesão na clavícula, foi atendido fora de campo e voltou para o jogo com o braço em uma tipoia, lembrando o grande Franz Beckenbauer na semifinal da Copa do Mundo de 1970.

Ao fim do tempo normal, Chilavert beijou a medalhinha que carregava o tempo todo e deixava atrás da trave esquerda.

Já na prorrogação, Djorkaeff bateu falta, a bola desviou na barreira e Chilavert fez um milagre, mandando para escanteio com a ponta dos dedos.

A seleção paraguaia não se intimidou com a torcida contra e catimbou o quanto pôde. Se fechou na defesa e ganhou tempo sempre que possível. Chilavert ganhou cartão amarelo por retardar um tiro de meta ainda no começo do jogo. Arce recebeu a mesma advertência por parar uma cobrança de escanteio para amarrar as chuteiras.

O técnico Carpegiani já estava escalando seus cobradores de pênaltis. A seleção guarani apostava que se classificaria nas penalidades. Além de excelentes cobradores, tinha um grande goleiro, experiente nesse tipo de decisão. Mas…

A seis minutos do fim, bola na área da defesa paraguaia e Ayala escorou de cabeça. Pirès pegou o rebote pelo lado direito, entrou na grande área e centrou para a marca do pênalti. O heroico Gamarra não teve forças para subir e Trezeguet foi perfeito ao escorar para o bico direito da pequena área para Laurent Blanc fuzilar Chilavert. O goleiro tentou fechar o ângulo e ainda tocou na bola. Mas ela entrou. Era o primeiro gol de ouro da história dos Mundiais.

Ao término da partida, Chilavert, um líder nato, ainda tentou consolar e animar seus companheiros. O Paraguai caiu de pé e lembrou ao mundo onde fica.


(Imagem: Yahoo)

● As duas seleções tiveram as melhores defesas da Copa, sofrendo apenas dois gols. Porém, ambas sofriam com seus ataques. Na França, os jovens Thierry Henry e David Trezeguet não rendiam como esperado. No Paraguai, Miguel Ángel Benítez e José Cardozo tinham ainda menos poder de fogo que os gauleses. Então, nada mais marcante do que um zagueiro – Laurent Blanc – marcar o gol do jogo.

Essa foi a primeira partida da história das Copas do Mundo decidida na “morte súbita”. Também chamado de “gol de ouro”, era uma novidade daquela edição do Mundial. Se um jogo de mata-mata terminasse empatado, vencia a equipe que fizesse o primeiro gol na prorrogação.

“O Carpegiani não me deixou sair de campo. Disse que precisava de mim.” ― Carlos Gamarra

“Antes da prorrogação, o Gamarra me disse que estava mal [do ombro] e eu podia trocá-lo pelo [Catalino] Rivarola, que era um zagueiro experiente e bom no jogo aéreo. Só que eu precisava fazer outra troca tática no ataque. Disse que a responsabilidade era toda minha da permanência dele. No dia seguinte, quando fez a radiografia, vimos que tinha dois centímetros de desvio da clavícula. E foi em cima dele que perdemos o jogo, porque a bola veio na cabeça do Trezeguet e ele não subiu junto… Tínhamos grandes possibilidades de fazer o crime naquele jogo. Só que paguei esse preço alto porque a jogada do gol foi em cima do Gamarra, que estava machucado. Estivesse em campo o Rivarola, ótimo no jogo aéreo, quem sabe até onde poderíamos ter chegado…” ― Paulo César Carpegiani

José Luis Chilavert e Carlos Gamarra foram escolhidos para a seleção do Mundial. Eles não se bicavam, mas se uniram para fazerem parte de um dos mais memoráveis sistemas defensivos da história das Copas. Em 384 minutos disputados de quatro partidas na Copa de 1998, Gamarra fez inúmeros desarmes não cometeu nenhuma falta sequer.

Na sequência, a França empatou sem gols com a Itália e venceu por 4 x 3 nos pênaltis, na volta de Zidane. Nas semifinais, Thuram foi o herói ao marcar duas vezes contra a Croácia na vitória de virada por 2 x 1. Na decisão, a França jogou melhor e venceu o Brasil por 3 x 0 e conquistou seu primeiro título da Copa do Mundo de Futebol.


(Imagem: Lance!)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 1 X 0 PARAGUAI

 

Data: 28/06/1998

Horário: 16h30 locais

Estádio: Stade Félix-Bollaert (atual Stade Bollaert-Delelis)

Público: 31.800

Cidade: Lens (França)

Árbitro: Ali Bujsaim (Emirados Árabes Unidos)

 

FRANÇA (4-2-3-1):

PARAGUAI (3-5-2):

16 Fabien Barthez (G)

1  José Luis Chilavert (G)(C)

15 Lilian Thuram

5  Celso Ayala

5  Laurent Blanc

4  Carlos Gamarra

8  Marcel Desailly

11 Pedro Sarabia

3  Bixente Lizarazu

2  Francisco Arce

7  Didier Deschamps (C)

16 Julio César Enciso

17 Emmanuel Petit

13 Carlos Paredes

13 Bernard Diomède

10 Roberto Acuña

6  Youri Djorkaeff

21 Jorge Luis Campos

20 David Trezeguet

15 Miguel Ángel Benítez

12 Thierry Henry

9  José Cardozo

 

Técnico: Aimé Jacquet

Técnico: Paulo César Carpegiani

 

SUPLENTES:

 

 

1  Bernard Lama (G)

12 Danilo Aceval (G)

22 Lionel Charbonnier (G)

22 Rubén Ruiz Díaz (G)

18 Frank Leboeuf

3  Catalino Rivarola

2  Vincent Candela

14 Ricardo Rojas

19 Christian Karembeu

20 Denis Caniza

14 Alain Boghossian

6  Edgar Aguilera

4  Patrick Vieira

19 Carlos Morales

11 Robert Pirès

8  Arístides Rojas

10 Zinedine Zidane

18 César Ramírez

21 Christophe Dugarry

7  Julio César Yegros

9  Stéphane Guivarc’h

17 Hugo Brizuela

 

GOL: 114′ Laurent Blanc (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

19′ José Luis Chilavert (PAR)

23′ Miguel Ángel Benítez (PAR)

32′ Julio César Enciso (PAR)

84′ Francisco Arce (PAR)

99′ Arístides Rojas (PAR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

55′ Jorge Luis Campos (PAR) ↓

Julio César Yegros (PAR) ↑

 

64′ Thierry Henry (FRA) ↓

Robert Pirès (FRA) ↑

 

69′ Emmanuel Petit (FRA) ↓

Alain Boghossian (FRA) ↑

 

75′ Carlos Paredes (PAR) ↓

Denis Caniza (PAR) ↑

 

76′ Bernard Diomède (FRA) ↓

Stéphane Guivarc’h (FRA) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO José Cardozo (PAR) ↓

Arístides Rojas (PAR) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 08/06/1958 – França 7 x 3 Paraguai

Três pontos sobre…
… 08/06/1958 – França 7 x 3 Paraguai


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Na primeira partida das eliminatórias europeias para a Copa do Mundo de 1958, a França logo tratou de mostrar suas credenciais. Em Paris, goleou sua maior concorrente, a Bélgica, por 6 x 3, com cinco gols do centroavante Thadée Cisowski, polonês naturalizado francês. O empate sem gols no jogo da volta, em Bruxelas, garantiu a liderança do Grupo 2 (que também tinha a Islândia) e a vaga no Mundial. Nessa partida, os destaques foram o goleiro Claude Abbes e o zagueiro Mustapha Zitouni. Porém, Zitouni, que era argelino, abandonou Les Bleus antes da Copa para se juntar à seleção da FLN – Frente de Libertação Nacional –, que era um grupo de guerrilheiros que vinham travando combates contra o domínio francês desde 1954 e lutando pela independência da Argélia – o que só viria a ocorrer em 1962. As ações da FLN ganharam maior força em 1958. Outros três argelinos deixaram a seleção francesa e voltaram para seu país natal: os meias Rachid Mekloufi e Abdelaziz Ben Tifour, além do ponta direita Said Brahimi. O atacante Célestin Oliver, também argelino, permaneceu na seleção francesa.

Se já não bastasse o problema da deserção, ainda houve a lesão de Cisowski, que fraturou a perna jogando pelo Racing de Paris. Para piorar, René Bliard, outro atacante, lesionou o tornozelo em jogo-treino contra um clube sueco, a poucos dias do Mundial. Essas ausências acabaram abrindo brecha para a convocação de Just Fontaine. Ele era outro imigrante, nascido no Marrocos, mas seu país de nascimento já era independente desde 1956 e ele já estava radicado na França há cinco anos. Fontaine era um atacante de enorme poder de finalização, como seria provado durante o Mundial.

Assim, o técnico Albert Batteux não conseguiu formar seu time ideal e teve que remontar sua lista de convocados. O treinador optou pelo entrosamento, ao chamar seis jogadores do Stade de Reims, multicampeão nacional e duas vezes vice-campeão da Copa dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League).

Raymond Kopa não esteve presente nas eliminatórias, mas pôde fortalecer o elenco bleu no Mundial. O meia jogava no Real Madrid desde 1956 e, como a Espanha não se qualificou para a Copa, os dirigentes do Real Madrid concordaram em sua liberação.


(Imagem: Pinterest)

● No Grupo 3 do qualificatório sul-americano, o Uruguai jogava pelo empate, mas o Paraguai surpreendeu. Com a lesão do ponta esquerda Genaro Benítez (único da equipe que jogava no exterior, no Millonarios, da Colômbia), o jovem Florencio Amarilla estreou na seleção albirroja e marcou um “hat trick” na goleada de 5 x 0 sobre a Celeste Olímpica, que garantiu o Paraguai na liderança da chave e, consequentemente, a vaga para a Copa.

O time na Suécia era praticamente o das eliminatórias. Não pôde contar com alguns dos melhores jogadores nascidos em seu território: o já citado Genaro Benítez, o zagueiro Heriberto Herrera (do Atlético de Madrid) e o atacante Eulogio Martínez (do Barcelona). Ambos haviam se naturalizado e vestiram a camisa da seleção espanhola. Certamente esses três elevariam muito o nível técnico da aguerrida equipe guarani, treinada por Aurelio González, ex-atacante do Olimpia e da seleção.


Como praticamente todas as seleções da Copa de 1958, o sistema defensivo francês ainda estava disposto no WM, mas já indicava uma transição para uma formação com quatro defensores. Armand Penverne era o meia defensivo pela direita, mas recuava com frequência quase como se fosse um quarto zagueiro. Kopa era mais armador e Piantoni avançava como um ponta de lança.


O Paraguai jogava duro e cometia muitas faltas. Atuava em tática semelhante, mais parecido ao sistema WM Diagonal criado pelo técnico brasileiro Flávio Costa. Salvador Villalba era o meia defensivo que jogava mais recuado. José Parodi fazia o balanço no meio, enquanto Cayetano Ré (que seria artilheiro no Barcelona na década seguinte) avançava para completar o quarteto de ataque.

● No domingo, dia 08/06/1958, mais de 16 mil pessoas estiveram no estádio Idrottsparken, na cidade de Norrköping, no sudoeste da Suécia. Cercada de expectativas, a França estreou contra o Paraguai. Os expectadores puderam presenciar uma partida incrível, com três viradas e dez gols marcados.

Aos 21 minutos de jogo, o centroavante Jorge Lino Romero foi derrubado dentro da área. Amarilla converteu e abriu o placar.

Quatro minutos depois, Fontaine recebeu de Kopa dentro da área e finalizou da marca do pênalti, empatando a partida.

A primeira virada foi francesa. Aos 30′, novamente Kopa fez o passe e Fontaine finalizou de dentro da área, vencendo o goleiro Ramón Mayeregger e fazendo 2 x 1. Foram dois passes geniais de Kopa e dois gols quase idênticos de Fontaine.

Mas os paraguaios estavam ligados em uma tomada de 220 volts e não se deram por vencidos. Como o time francês era muito ofensivo, oferecia espaços entre as linhas, especialmente na defesa. Amarilla, de novo, empatou no finalzinho do primeiro tempo. Ele recebeu na entrada da área e chutou no angulo esquerdo do goleiro François Remetter.

Mais uma virada ocorreu aos cinco minutos da etapa final, quando Amarilla lançou para Romero finalizar. Paraguai 3, França 2.

Logo na sequência, o jogo mudaria drasticamente. O meia José Parodi levou a pior em um choque de cabeças com Jean-Jacques Marcel e ficou praticamente desacordado. Ele teve que sair de campo e deixou os guaranis com um a menos, já que não haviam substituições na época.

Foi o que precisava para começar o show do avassalador ataque francês. Aos 7, o ponta de lança Roger Piantoni finalizou sem defesa para o goleiro Ramón Mayeregger: 3 a 3.

Maryan Wisnieski fez boa jogada individual e marcou aos 17′, na derradeira e definitiva virada desse memorável jogo: 4 x 3.

O quinto gol saiu aos 21′. Piantoni cruzou para a pequena área. Fontaine ganhou a dividida com o goleiro e marcou seu “hat trick”.

Kopa fez o seu aos 25′, avançando com a bola dominada e chutando sem chances para o goleiro paraguaio.

A seis minutos do apito final, o marcador foi fechado pelo ponta esquerda Jean Vincent, que recebeu de Kopa e arrematou no canto, fechando o jogo em absurdos 7 x 3.


(Imagem: Europe1.fr)

● Quem viu apenas o resultado não imagina o quanto a partida foi difícil. Foi um duelo muito equilibrado, em que a linha ofensiva dos bleus estava imparável e, comandada por Fontaine, fez toda a diferença para a goleada exagerada.

O placar elástico surpreendeu o público e a imprensa, assim como o outro resultado do grupo, o empate por 1 x 1 entre Iugoslávia e Escócia – pois os iugoslavos eram amplamente favoritos.

O Paraguai caiu na primeira fase, mas teve uma despedida honrada, ao vencer a Escócia por 3 x 2 e empatar com a Iugoslávia por 3 x 3.

Por sua vez, a França perdeu para a Iugoslávia por 3 a 2 e venceu a Escócia por 2 a 1, se classificando como líder do Grupo 2, com quatro pontos. Nas quartas de final, goleou a Irlanda do Norte por 4 a 0. Nas semifinais, não foi páreo para o Brasil de Didi e Pelé e perdeu por 5 a 2. Na decisão do 3º lugar, massacrou a Alemanha Ocidental por 6 a 3, com quatro gols de Fontaine, artilheiro do Mundial com 13 gols em 6 partidas. Até hoje ele é o maior goleador em uma única edição de Copa do Mundo.


Fontaine é festejado pelos companheiros de seleção (Imagem: Getty Images / FIFA)

● Quando se fala em seleção francesa de futebol, logo se pensa nos campeões do mundo de 1998 e 2018. O que essas grandes equipes tem em comum? As três cores principais da bandeira estão mais para “black, blanc, beur” (uma alusão aos negros, brancos e árabes) do que azul, branco e vermelho. Os imigrantes sempre foram a principal força do futebol no país, desde seus primórdios. Se em 1998, 13 dos jogadores possuíam alguma ligação ou origem estrangeira, no time de 2018 eram 20 dos 23. A primeira equipe francesa de destaque, que ficou com o 3º lugar na Copa do Mundo de 1958, também tinha “pé de obra” importado. Além dos argelinos que deixaram Les Bleus para atuarem pela FLN e de Thadée Cisowski, nascido na Polônia, o destaque foi o artilheiro do Mundial com 13 gols: o marroquino Just Fontaine. O grande craque era Raymond Kopaszewski, o Kopa, de família polonesa, assim como Maryan Wisnieski. Por sua vez, o ponta direita era amigo de infância de Roger Piantoni, de ascendência italiana, assim como o arqueiro Dominique Colonna e o meia Bernard Chiarelli. O atacante Célestin Oliver nasceu na Argélia. O goleiro Claude Abbes era filho de um agricultor espanhol. Já os familiares de Kazimir Hnatow deixou a região onde fica a atual Ucrânia antes que o atleta nascesse.


Em pé: Kaelbel, Penverne, Jonquet, Marcel, Remetter e Lerond. Sentados: Wisnieski, Fontaine, Kopa, Piantoni e Vincent. (Imagem: Imortais do Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 7 x 3 PARAGUAI

 

Data: 08/06/1958

Horário: 19h00 locais

Estádio: Idrottsparken

Público: 16.518

Cidade: Norrköping (Suécia)

Árbitro: Juan Gardeazábal Garay (Espanha)

 

FRANÇA (WM):

PARAGUAI (WM):

3  François Remetter (G)

1  Ramón Mayeregger (G)

4  Raymond Kaelbel

2  Edelmiro Arévalo

10 Robert Jonquet (C)

3  Juan Vicente Lezcano

5  André Lerond

17 Agustín Miranda

13 Armand Penverne

5  Salvador Villalba

12 Jean-Jacques Marcel

4  Ignacio Achúcarro

22 Maryan Wisnieski

7  Juan Bautista Agüero (C)

20 Roger Piantoni

8  José Parodi

17 Just Fontaine

9  Jorge Lino Romero

18 Raymond Kopa

21 Cayetano

21 Jean Vincent

11 Florencio Amarilla

 

Técnico: Albert Batteux

Técnico: Aurelio González

 

SUPLENTES:

 

 

1  Claude Abbes (G)

12 Samuel Aguilar (G)

2  Dominique Colonna (G)

13 Luis Gini

6  Roger Marche

14 Darío Segovia

7  Robert Mouynet

6  Eligio Echagüe

11 Maurice Lafont

19 Eliseo Insfrán

8  Bernard Chiarelli

15 Luis Santos Silva

9  Kazimir Hnatow

16 Claudio Lezcano

14 Raymond Bellot

18 Benigno Gilberto Penayo

15 Stéphane Bruey

20 José Raúl Aveiro

16 Yvon Douis

10 Óscar Aguilera

19 Célestin Oliver

22 Eligio Antonio Insfrán

 

GOLS:

20′ Florencio Amarilla (PAR)

24′ Just Fontaine (FRA)

30′ Just Fontaine (FRA)

44′ Florencio Amarilla (PAR) (pen)

50′ Jorge Lino Romero (PAR)

52′ Roger Piantoni (FRA)

61′ Maryan Wisnieski (FRA)

67′ Just Fontaine (FRA)

70′ Raymond Kopa (FRA)

83′ Jean Vincent (FRA)

Veja os gols da partida:

 

… 11/05/1949 – Brasil 7 x 0 Paraguai

Três pontos sobre…
… 11/05/1949 – Brasil 7 x 0 Paraguai


(Imagem: Esporte Ilustrado)

Em 1946, o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo de 1950. Então, nada mais justo que o Campeonato Sul-Americano de Futebol voltasse a ser sediado no Brasil após um longo hiato de 27 anos. Nas outras duas edições em que foi a dona da casa, a Seleção Brasileira havia se sagrado campeã: em 1919 e 1922.

O técnico Flávio Costa era unanimidade, um verdadeiro estrategista, criador do sistema “Diagonal”, utilizado pela Seleção desde 1944. A geração de craques era prolífica, se destacando o trio Zizinho, Ademir de Menezes e Jair Rosa Pinto.

Por tudo isso e muito mais, a Seleção Brasileira era a grande favorita. Se já não bastasse, esse protagonismo ficou mais latente com a ausência da Argentina (que estava com relações futebolísticas cortadas com o Brasil desde a Copa América de 1946). Por sua vez, o Uruguai mandou uma equipe repleta de amadores, que ficou em 6º entre os oito participantes. Cabe ressaltar que os dois países vizinhos viviam na época a maior greve da história do futebol sul-americano.


Flávio Costa: estrategista (Imagem: O Globo)

A fragilidade dos demais adversários era clara. O Brasil estreou massacrando Equador (9 x 1) e Bolívia (10 x 1). Depois, venceu o Chile por 2 x 1 com tranquilidade – por mais que o placar não mostre isso. Voltou às goleadas com 5 a 0 sobre a Colômbia, 7 a 1 no Peru e 5 a 1 no Uruguai. Na última rodada, bastando empatar para ficar com o título, perdeu de virada para o Paraguai por 2 x 1. (Seria premonição, sobre o que poderia vir na Copa do Mundo, contra outro rival sul-americano muito mais forte?)

O Paraguai terminou empatado em pontos com o Brasil (12 para cada), com seis vitórias (3 x 0 na Colômbia, 1 x 0 no Equador, 3 x 1 no Peru, 4 x 2 no Chile, 7 x 0 sobre a Bolívia) e uma derrota (2 x 1 para o Uruguai).

Com isso, agora seria necessária a disputa da partida desempate, novamente entre Brasil e Paraguai. Era uma verdadeira final.


O Brasil atuava no sistema “Diagonal”, criado pelo técnico Flávio Costa. Partindo do WM, Flávio teve a ideia de criar um losango no meio de campo, com um vértice mais avançado e outro mais recuado. Os vértices laterais eram os armadores. Era quase a origem do 4-2-4 que a Hungria consagraria quatro anos depois.


A Seleção Paraguaia jogava no tradicional WM.

A derrota começou a causar desconfiança na torcida e, especialmente na imprensa carioca. Mas, em um estádio São Januário lotado com mais de 55 mil expectadores, se alguém tinha dúvida sobre capacidade do escrete nacional, ela começou a se dissipar aos 17 minutos, quando Ademir de Menezes, o “Queixada” abriu o placar.

Ele mesmo aumentou dez minutos depois.

O título já estava encaminhado. A vantagem já era enorme no intervalo. Tesourinha havia feito o terceiro aos 43′.

Logo no reinício, aos três, Ademir fazia seu “hat trick” ou “tripleta”, como se fala na América Latina.

O Paraguai não teve mais forças.

Tesourinha fez outro aos 70. Jair Rosa Pinto fechou o placar aos 72′ e aos 89′.


Trio fantástico: Zizinho, Ademir e Jair (Imagem: Os Gigantes da Colina)

Foi um troco com sobras! Um massacre por 7 a 0!

Zizinho deu um show! Ademir de Menezes foi eleito o melhor da competição. Jair Rosa Pinto foi o artilheiro, com nove gols.

Mesmo com a goleada sofrida, o goleiro Sinforiano García se destacou e foi contratado pelo Flamengo logo depois do torneio. O rubro-negro da Gávea também assinaria com o atacante Jorge Benítez em 1952. Após o título do Paraguai na edição de 1953 (e a vingança sobre a Seleção Brasileira), o Flamengo completou seu trio de guaranis contratando o técnico Fleitas Solich, por indicação do escritor José Lins do Rêgo.


(Imagem: Ficha do Jogo)

A 21ª edição do Campeonato Sul-Americano teve o número recorde de 135 gols, sendo 46 deles marcados pelo Brasil. Em 29 jogos, a absurda média de gols ficou em 4,66 por partida.

A expectativa era de que a Copa América fosse uma espécie de preparação para a Seleção Brasileira, que disputaria a Copa do Mundo em casa no ano seguinte. A fragilidade dos adversários (principalmente pelo “time B” do Uruguai) enganou a todos quanto ao nível da equipe. Na Copa, o Brasil passou com tranquilidade contra o México (4 x 0), empatou com a Suíça (2 x 2) e sofreu para ganhar da Iugoslávia (2 x 0). No quadrangular final, goleou Espanha (6 x 1) e Suécia (7 x 1), mas perdeu de virada (2 x 1) para o Uruguai na última partida.

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 7 x 0 PARAGUAI

 

Data: 11/05/1949

Horário: 21h00 locais

Estádio: São Januário

Público: 55.000

Cidade: Rio de Janeio (Brasil)

Árbitro: Cyril Jack Barrick (Inglaterra)

 

BRASIL (WM Diagonal):

PARAGUAI (WM):

Barbosa (G)

Sinforiano García (G)

Augusto (C)

Alberto González Gonzalito

Mauro

Casiano Céspedes

Ely

Manuel Gavilán

Danilo Alvim

Pedro Nardelli

Noronha

Sixto Castor Cantero

Tesourinha

Pedro Fernández

Zizinho

César López Fretes (C)

Ademir de Menezes

Dionisio Arce

Jair Rosa Pinto

Jorge Duilio Benítez

Simão

Félix Vázquez

 

Técnico: Flávio Costa

Técnico: Manuel Fleitas Solich

 

SUPLENTES:

 

 

Osvaldo Baliza (G)

Dionisio Maciel (G)

Wilso

Antonio Cabrera

Nílton Santos

Francisco Calonga

Bauer

Armando González

Rui

Rogelio Negri

Bigode

César Santomé

Cláudio Christovam de Pinho

Enrique Ávalos

Nininho

Sixto Noceda

Octávio Moraes

Santiago Rivas

Orlando Pingo de Ouro

Marcial Barrios

Canhotinho

Estanislao Romero

 

GOLS:

17′ Ademir de Menezes (BRA)

27′ Ademir de Menezes (BRA)

43′ Tesourinha (BRA)

48′ Ademir de Menezes (BRA)

70′ Tesourinha (BRA)

72′ Jair Rosa Pinto (BRA)

89′ Jair Rosa Pinto (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Pedro Fernández ↓

Marcial Barrios ↑

 

Félix Vázquez ↓

Estanislao Romero ↑

… 01/04/1953 – Paraguai 3 x 2 Brasil

Três pontos sobre…
… 01/04/1953 – Paraguai 3 x 2 Brasil


(Imagem: Lance)

● O Brasil entrou como favorito à conquista do Campeonato Sul-Americano de 1953. Era o então detentor da taça (foi campeão no Maracanã, em 1949 – história que contaremos no dia 11 de maio). Contava com vários remanescentes da Copa do Mundo de 1950, na qual, se não conquistou o título, encantou o mundo.

O elenco mesclava a experiência de Barbosa, Danilo Alvim, Bauer, Zizinho e Ademir de Menezes, com jovens como Julinho Botelho e Pinheiro, e até alguns futuros campeões do mundo cinco anos depois: Castilho, Gylmar, Djalma Santos, Nílton Santos e Didi. O técnico era Zezé Moreira, o “inventor” da marcação por zona no futebol brasileiro (e irmão de Aymoré Moreira, treinador que ganhou a Copa de 1962).

A missão brasileira ficou relativamente mais “fácil” com nova ausência da Argentina e a tentativa de renovação da seleção uruguaia, que enviou uma equipe muito jovem e inexperiente.

Havia “apenas” uma grande ameaça ao título: o Brasil nunca havia vencido uma Copa América fora de seu país. Já tinha três títulos, mas sempre jogando em casa: 1919, 1922 e 1949.

Até então, o único troféu ganho no exterior havia sido o Campeonato Pan-Americano de Futebol de 1952, em Santiago, capital do Chile. E esse título que fez o Brasil deixar de ser um “amarelão” fora de casa foi conquistado por basicamente o mesmo elenco da Copa América de 1953.


Tanto Paraguai quanto Brasil jogavam no sistema tático WM.

● O torneio foi disputado no formato de pontos corridos e foi uma intensa batalha. Ao fim de seis partidas para cada, Brasil e Paraguai terminaram empatados com 8 pontos, o que obrigou a disputa de um jogo desempate.

O Brasil havia vencido quatro jogos (8 a 1 na Bolívia, 2 a 0 no Equador, 1 a 0 no Uruguai e 3 a 2 no Chile) e perdido dois (1 a 0 para o Peru e 2 a 1 para o Paraguai).

O Paraguai tinha vencido três (3 x 0 sobre o Chile, 2 x 1 na Bolívia e 2 x 1 no Brasil), empatado dois (0 x 0 com o Equador e 2 x 2 com o Uruguai) e perdido um (empatou por 2 x 2 com o Peru, mas foi punido com a derrota nos tribunais, devido ao comportamento anti-desportivo por ter feito uma alteração além das permitidas e pelo fato de um atleta ter chutado o árbitro). Ou seja, se o resultado de campo fosse mantido, o Paraguai teria sido campeão sem precisar do jogo extra.

Mas ele ocorreu. Mais de 35 mil pessoas encheram o estádio Nacional, de Lima, para assistir à decisão.

E os paraguaios foram implacáveis na etapa inicial.

Aos 14 minutos de jogo, Atilio López inaugurou o marcador.

A vantagem foi ampliada três minutos depois, por Manuel Gavilán.

No fim do primeiro tempo, aos 41′, Rubén Fernández fez o terceiro. Parecia que estava tudo decidido.

Mas o Brasil não se deu por vencido e diminuiu com dois gols de Baltazar, o “Cabecinha de Ouro”, aos 56′ e aos 65′.

Mas foi só. Foi o primeiro título da história do futebol do Paraguai, com gosto de revanche sobre a Seleção Brasileira, que o havia goleado na decisão quatro anos antes.

Mais uma vez o Brasil não conquistava o torneio fora de casa.

Pouco depois do torneio, o técnico Manuel Fleitas Solich foi contratado pelo Flamengo, por indicação do escritor rubro-negro José Lins do Rêgo. No mesmo ano, conquistou com o clube o primeiro título dentro do Maracanã e emendou logo um tricampeonato carioca (1953/54/55). Depois, Fleitas Solich ainda conquistaria a atual UEFA Champions League pelo Real Madrid em 1959/60 (e outras dezenas de títulos por onde passou).


Fleitas Solich marcou época como técnico da seleção paraguaia e do Flamengo (Imagens localizadas no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

PARAGUAI 3 x 2 BRASIL

 

Data: 01/04/1953

Estádio: Nacional

Público: 35.000

Cidade: Lima (Peru)

Árbitro: Charles Dean (Inglaterra)

 

PARAGUAI (WM):

BRASIL (WM):

Adolfo Riquelme (G)

Castilho (G)

Melanio Olmedo

Djalma Santos

Heriberto Herrera

Haroldo

Ireneo Hermosilla

Nílton Santos

Manuel Gavilán

Brandãozinho

Victoriano Leguizamón

Bauer (C)

Ángel Berni

Julinho Botelho

Atilio López

Didi

Rubén Fernández

Baltazar

Juán Ángel Romero

Pinga

Antonio Ramón Gómez

Cláudio Christovam de Pinho

 

Técnico: Manuel Fleitas Solich

Técnico: Zezé Moreira

 

 

 

 

Rubén Noceda (G)

Barbosa (G)

Antonio Cabrera

Gylmar (G)

Robustiano Maciel

Pinheiro

Domingo Martínez

Ely

Alejandro Arce

Danilo Alvim

Derlis Molinas

Noronha

Milner Ayala

Alfredo II

Inocencio González

Zizinho

Luis Lacasa

Ademir de Menezes

Pablo León

Ipojucã

Silvio Parodi

Rodrigues Tatu

 

GOLS:

14′ Atilio López (PAR)

17′ Manuel Gavilán (PAR)

41′ Rubén Fernández (PAR)

56′ Baltazar (BRA)

65′ Baltazar (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Atilio López (PAR) ↓

Silvio Parodi (PAR) ↑

 

Juán Ángel Romero (PAR) ↓

Luis Lacasa (PAR) ↑

 

Antonio Ramón Gómez (PAR) ↓

Inocencio González (PAR) ↑

 

Nílton Santos (BRA) ↓

Alfredo II (BRA) ↑

 

Pinga (BRA) ↓

Ipojucã (BRA) ↑

… Brasil 3 x 0 Paraguai

Três pontos sobre…
… Brasil 3 x 0 Paraguai


(Imagem: Globo Esporte)

● Parece clichê, mas novamente a Seleção Brasileira deu uma aula de futebol e amassou o Paraguai nessa 14ª rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018. Se matematicamente o Brasil ainda não se garantiu na competição, falta realmente só a matemática. O Brasil está atualmente com a melhor forma técnica entre as seleções do mundo. Para ficar fora da próxima Copa, o Brasil tem que perder todas as quatro partidas restantes e Uruguai, Colômbia, Chile e Argentina vencerem praticamente todas, o que é matematicamente impossível, pois Argentina e Uruguai se enfrentam na próxima rodada. Para dificultar ainda mais para os hermanos, Lionel Messi ainda tem mais três partidas de suspensão para cumprir, por ofender o bandeira brasileiro Dewson Fernando Freitas da Silva, na vitória sobre o Chile por 1 x 0. Ou seja, Brasil já pode ir escolhendo o melhor local para se hospedar na fria Rússia em 2018.

● O Paraguai começou compacto e marcando forte, até de forma desleal, com muitas faltas táticas especialmente em cima de Neymar. A solução no momento foram as finalizações de fora da área. E assim o placar foi aberto com Philippe Coutinho, em tabela com o ótimo Paulinho, aos 33 minutos de bola rolando. Apenas no segundo tempo o placar foi novamente movimentado. Logo aos 5 minutos, Neymar (o melhor jogador do mundo neste momento) arranca com a bola, passa por meio time paraguaio e cai dentro da área após ser desarmado. O árbitro erradamente marca pênalti. Neymar bate e o goleiro Anthony Silva defente bem. Mas logo aos 18 minutos, de novo Neymar dá uma de suas arrancadas e finaliza. A bola desvia na zaga e morre no fundo da rede. Premiado pela boa atuação, Neymar marcou pela primeira vez contra o Paraguai. A Seleção continua criando e só fecha de vez o placar aos 40 minutos, com um golaço de Marcelo, que recebeu passe de calcanhar de Paulinho após jogada iniciada por Neymar.

● Foi um verdadeiro massacre, que não se refletiu no número de gols, senão seria uma goleada bem elástica. No fim, mais um teste de fogo no qual a Seleção Brasileira foi aprovada, contra um adversário “retranqueiro”, com forte marcação e até violento. Com Tite e seu esquema tático 4-1-4-1, em que todos os meio-campistas avançam a qualquer tempo, o Brasil não fica refém de apenas uma jogada. Há uma enorme gama de possibilidades no portfólio dessa equipe, com chutes de fora da área, cruzamentos da linha de fundo, inversões de jogo, saída de bola qualificada, marcação sob pressão, jogadas de bola parada ofensivas e defensivas, além da técnica individual que sempre singularizou o jogador brasileiro. Hoje, é a melhor seleção do mundo, mas também era em 1997, 2005 e 2013…