… 08/06/1958 – França 7 x 3 Paraguai

Três pontos sobre…
… 08/06/1958 – França 7 x 3 Paraguai


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Na primeira partida das eliminatórias europeias para a Copa do Mundo de 1958, a França logo tratou de mostrar suas credenciais. Em Paris, goleou sua maior concorrente, a Bélgica, por 6 x 3, com cinco gols do centroavante Thadée Cisowski, polonês naturalizado francês. O empate sem gols no jogo da volta, em Bruxelas, garantiu a liderança do Grupo 2 (que também tinha a Islândia) e a vaga no Mundial. Nessa partida, os destaques foram o goleiro Claude Abbes e o zagueiro Mustapha Zitouni. Porém, Zitouni, que era argelino, abandonou Les Bleus antes da Copa para se juntar à seleção da FLN – Frente de Libertação Nacional –, que era um grupo de guerrilheiros que vinham travando combates contra o domínio francês desde 1954 e lutando pela independência da Argélia – o que só viria a ocorrer em 1962. As ações da FLN ganharam maior força em 1958. Outros três argelinos deixaram a seleção francesa e voltaram para seu país natal: os meias Rachid Mekloufi e Abdelaziz Ben Tifour, além do ponta direita Said Brahimi. O atacante Célestin Oliver, também argelino, permaneceu na seleção francesa.

Se já não bastasse o problema da deserção, ainda houve a lesão de Cisowski, que fraturou a perna jogando pelo Racing de Paris. Para piorar, René Bliard, outro atacante, lesionou o tornozelo em jogo-treino contra um clube sueco, a poucos dias do Mundial. Essas ausências acabaram abrindo brecha para a convocação de Just Fontaine. Ele era outro imigrante, nascido no Marrocos, mas seu país de nascimento já era independente desde 1956 e ele já estava radicado na França há cinco anos. Fontaine era um atacante de enorme poder de finalização, como seria provado durante o Mundial.

Assim, o técnico Albert Batteux não conseguiu formar seu time ideal e teve que remontar sua lista de convocados. O treinador optou pelo entrosamento, ao chamar seis jogadores do Stade de Reims, multicampeão nacional e duas vezes vice-campeão da Copa dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League).

Raymond Kopa não esteve presente nas eliminatórias, mas pôde fortalecer o elenco bleu no Mundial. O meia jogava no Real Madrid desde 1956 e, como a Espanha não se qualificou para a Copa, os dirigentes do Real Madrid concordaram em sua liberação.


(Imagem: Pinterest)

● No Grupo 3 do qualificatório sul-americano, o Uruguai jogava pelo empate, mas o Paraguai surpreendeu. Com a lesão do ponta esquerda Genaro Benítez (único da equipe que jogava no exterior, no Millonarios, da Colômbia), o jovem Florencio Amarilla estreou na seleção albirroja e marcou um “hat trick” na goleada de 5 x 0 sobre a Celeste Olímpica, que garantiu o Paraguai na liderança da chave e, consequentemente, a vaga para a Copa.

O time na Suécia era praticamente o das eliminatórias. Não pôde contar com alguns dos melhores jogadores nascidos em seu território: o já citado Genaro Benítez, o zagueiro Heriberto Herrera (do Atlético de Madrid) e o atacante Eulogio Martínez (do Barcelona). Ambos haviam se naturalizado e vestiram a camisa da seleção espanhola. Certamente esses três elevariam muito o nível técnico da aguerrida equipe guarani, treinada por Aurelio González, ex-atacante do Olimpia e da seleção.


Como praticamente todas as seleções da Copa de 1958, o sistema defensivo francês ainda estava disposto no WM, mas já indicava uma transição para uma formação com quatro defensores. Armand Penverne era o meia defensivo pela direita, mas recuava com frequência quase como se fosse um quarto zagueiro. Kopa era mais armador e Piantoni avançava como um ponta de lança.


O Paraguai jogava duro e cometia muitas faltas. Atuava em tática semelhante, mais parecido ao sistema WM Diagonal criado pelo técnico brasileiro Flávio Costa. Salvador Villalba era o meia defensivo que jogava mais recuado. José Parodi fazia o balanço no meio, enquanto Cayetano Ré (que seria artilheiro no Barcelona na década seguinte) avançava para completar o quarteto de ataque.

● No domingo, dia 08/06/1958, mais de 16 mil pessoas estiveram no estádio Idrottsparken, na cidade de Norrköping, no sudoeste da Suécia. Cercada de expectativas, a França estreou contra o Paraguai. Os expectadores puderam presenciar uma partida incrível, com três viradas e dez gols marcados.

Aos 21 minutos de jogo, o centroavante Jorge Lino Romero foi derrubado dentro da área. Amarilla converteu e abriu o placar.

Quatro minutos depois, Fontaine recebeu de Kopa dentro da área e finalizou da marca do pênalti, empatando a partida.

A primeira virada foi francesa. Aos 30′, novamente Kopa fez o passe e Fontaine finalizou de dentro da área, vencendo o goleiro Ramón Mayeregger e fazendo 2 x 1. Foram dois passes geniais de Kopa e dois gols quase idênticos de Fontaine.

Mas os paraguaios estavam ligados em uma tomada de 220 volts e não se deram por vencidos. Como o time francês era muito ofensivo, oferecia espaços entre as linhas, especialmente na defesa. Amarilla, de novo, empatou no finalzinho do primeiro tempo. Ele recebeu na entrada da área e chutou no angulo esquerdo do goleiro François Remetter.

Mais uma virada ocorreu aos cinco minutos da etapa final, quando Amarilla lançou para Romero finalizar. Paraguai 3, França 2.

Logo na sequência, o jogo mudaria drasticamente. O meia José Parodi levou a pior em um choque de cabeças com Jean-Jacques Marcel e ficou praticamente desacordado. Ele teve que sair de campo e deixou os guaranis com um a menos, já que não haviam substituições na época.

Foi o que precisava para começar o show do avassalador ataque francês. Aos 7, o ponta de lança Roger Piantoni finalizou sem defesa para o goleiro Ramón Mayeregger: 3 a 3.

Maryan Wisnieski fez boa jogada individual e marcou aos 17′, na derradeira e definitiva virada desse memorável jogo: 4 x 3.

O quinto gol saiu aos 21′. Piantoni cruzou para a pequena área. Fontaine ganhou a dividida com o goleiro e marcou seu “hat trick”.

Kopa fez o seu aos 25′, avançando com a bola dominada e chutando sem chances para o goleiro paraguaio.

A seis minutos do apito final, o marcador foi fechado pelo ponta esquerda Jean Vincent, que recebeu de Kopa e arrematou no canto, fechando o jogo em absurdos 7 x 3.


(Imagem: Europe1.fr)

● Quem viu apenas o resultado não imagina o quanto a partida foi difícil. Foi um duelo muito equilibrado, em que a linha ofensiva dos bleus estava imparável e, comandada por Fontaine, fez toda a diferença para a goleada exagerada.

O placar elástico surpreendeu o público e a imprensa, assim como o outro resultado do grupo, o empate por 1 x 1 entre Iugoslávia e Escócia – pois os iugoslavos eram amplamente favoritos.

O Paraguai caiu na primeira fase, mas teve uma despedida honrada, ao vencer a Escócia por 3 x 2 e empatar com a Iugoslávia por 3 x 3.

Por sua vez, a França perdeu para a Iugoslávia por 3 a 2 e venceu a Escócia por 2 a 1, se classificando como líder do Grupo 2, com quatro pontos. Nas quartas de final, goleou a Irlanda do Norte por 4 a 0. Nas semifinais, não foi páreo para o Brasil de Didi e Pelé e perdeu por 5 a 2. Na decisão do 3º lugar, massacrou a Alemanha Ocidental por 6 a 3, com quatro gols de Fontaine, artilheiro do Mundial com 13 gols em 6 partidas. Até hoje ele é o maior goleador em uma única edição de Copa do Mundo.


Fontaine é festejado pelos companheiros de seleção (Imagem: Getty Images / FIFA)

● Quando se fala em seleção francesa de futebol, logo se pensa nos campeões do mundo de 1998 e 2018. O que essas grandes equipes tem em comum? As três cores principais da bandeira estão mais para “black, blanc, beur” (uma alusão aos negros, brancos e árabes) do que azul, branco e vermelho. Os imigrantes sempre foram a principal força do futebol no país, desde seus primórdios. Se em 1998, 13 dos jogadores possuíam alguma ligação ou origem estrangeira, no time de 2018 eram 20 dos 23. A primeira equipe francesa de destaque, que ficou com o 3º lugar na Copa do Mundo de 1958, também tinha “pé de obra” importado. Além dos argelinos que deixaram Les Bleus para atuarem pela FLN e de Thadée Cisowski, nascido na Polônia, o destaque foi o artilheiro do Mundial com 13 gols: o marroquino Just Fontaine. O grande craque era Raymond Kopaszewski, o Kopa, de família polonesa, assim como Maryan Wisnieski. Por sua vez, o ponta direita era amigo de infância de Roger Piantoni, de ascendência italiana, assim como o arqueiro Dominique Colonna e o meia Bernard Chiarelli. O atacante Célestin Oliver nasceu na Argélia. O goleiro Claude Abbes era filho de um agricultor espanhol. Já os familiares de Kazimir Hnatow deixou a região onde fica a atual Ucrânia antes que o atleta nascesse.


Em pé: Kaelbel, Penverne, Jonquet, Marcel, Remetter e Lerond. Sentados: Wisnieski, Fontaine, Kopa, Piantoni e Vincent. (Imagem: Imortais do Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 7 x 3 PARAGUAI

 

Data: 08/06/1958

Horário: 19h00 locais

Estádio: Idrottsparken

Público: 16.518

Cidade: Norrköping (Suécia)

Árbitro: Juan Gardeazábal Garay (Espanha)

 

FRANÇA (WM):

PARAGUAI (WM):

3  François Remetter (G)

1  Ramón Mayeregger (G)

4  Raymond Kaelbel

2  Edelmiro Arévalo

10 Robert Jonquet (C)

3  Juan Vicente Lezcano

5  André Lerond

17 Agustín Miranda

13 Armand Penverne

5  Salvador Villalba

12 Jean-Jacques Marcel

4  Ignacio Achúcarro

22 Maryan Wisnieski

7  Juan Bautista Agüero (C)

20 Roger Piantoni

8  José Parodi

17 Just Fontaine

9  Jorge Lino Romero

18 Raymond Kopa

21 Cayetano

21 Jean Vincent

11 Florencio Amarilla

 

Técnico: Albert Batteux

Técnico: Aurelio González

 

SUPLENTES:

 

 

1  Claude Abbes (G)

12 Samuel Aguilar (G)

2  Dominique Colonna (G)

13 Luis Gini

6  Roger Marche

14 Darío Segovia

7  Robert Mouynet

6  Eligio Echagüe

11 Maurice Lafont

19 Eliseo Insfrán

8  Bernard Chiarelli

15 Luis Santos Silva

9  Kazimir Hnatow

16 Claudio Lezcano

14 Raymond Bellot

18 Benigno Gilberto Penayo

15 Stéphane Bruey

20 José Raúl Aveiro

16 Yvon Douis

10 Óscar Aguilera

19 Célestin Oliver

22 Eligio Antonio Insfrán

 

GOLS:

20′ Florencio Amarilla (PAR)

24′ Just Fontaine (FRA)

30′ Just Fontaine (FRA)

44′ Florencio Amarilla (PAR) (pen)

50′ Jorge Lino Romero (PAR)

52′ Roger Piantoni (FRA)

61′ Maryan Wisnieski (FRA)

67′ Just Fontaine (FRA)

70′ Raymond Kopa (FRA)

83′ Jean Vincent (FRA)

Veja os gols da partida:

 

Um comentário em “… 08/06/1958 – França 7 x 3 Paraguai

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *