… 09/06/1990 – Itália 1 x 0 Áustria

Três pontos sobre…
… 09/06/1990 – Itália 1 x 0 Áustria


(Imagem: Barcalcio)

● Depois de vencer a Copa do Mundo de 1982, a Itália soube capitalizar muito bem esse sucesso. Nos anos seguintes, os clubes do país contrataram os principais talentos do futebol mundial. A Juventus trouxe Michel Platini e Zbigniew Boniek. A Udinese tirou Zico do Flamengo. A Roma já tinha Falcão e trouxe Toninho Cerezo. Júnior foi para o Torino. A Internazionale comprou Karl-Heinz Rummenigge. A Fiorentina fechou com Sócrates. O Verona foi atrás de Hans-Peter Briegel. E até o pequeno Napoli conseguiu sua estrela: Diego Armando Maradona, que não estava bem no Barcelona. Exceções feitas aos espanhóis (pelo futebol forte e capitalizado) e aos soviéticos (que eram impedidos de deixar seu país), em meados da década de 1980, praticamente todos os grandes futebolistas do planeta estavam desfilando em gramados italianos. Com uma constelação dessa imponência no Calcio, até a Rede Globo ousou transmitir o Campeonato Italiano ao vivo na temporada 1984/85.

Com esse sucesso, os políticos italianos demonstraram o interesse de seu país em ser sede da próxima Copa a ser disputada na Europa. A Itália já tinha sido anfitriã no segundo Mundial, em 1934, e a FIFA estava relutante em repetir um país sede. Mas o precedente do México em 1986 abriu as portas para o sucesso italiano.

A FIFA, vendo como iminente queda da “Cortina de Ferro” e a consequente implosão da União Soviética (maior adversária dos italianos no pleito), decidiu pelo país que tinha mais tradição, o melhor campeonato nacional do mundo e melhor infraestrutura turística. E a Itália se tornou novamente sede da Copa – dessa vez sem a influência do fascismo.

Foram reformados nove dos doze estádios que sediaram jogos, incluindo o Olímpico de Roma e o San Siro, em Milão. O Luigi Ferraris, de Gênova, foi demolido e reconstruído. Turim e Bari ganharam estádios novos: Delle Alpi e San Nicola, respectivamente.

A FIFA dirigiu o sorteio do chaveamento, de forma a evitar o desequilíbrio. Cada grupo tinha pelo menos duas equipes de bom nível, sendo que até três times poderiam se classificar para as oitavas de final. Esse direcionamento impediu que houvessem grupos fracos e também os chamados “grupos da morte”.

Os principais favoritos ao título eram a Itália (dona da casa, que contava com uma defesa fortíssima), a Holanda (campeã da Eurocopa de 1988) e o Brasil (campeão da Copa América de 1989 – e que havia derrotado italianos e holandeses em amistosos também em 1989). Em um segundo escalão estavam a Argentina (então campeã mundial), União Soviética (campeã olímpica de 1988), Alemanha Ocidental e Inglaterra.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Na abertura oficial do torneio, a Argentina foi surpreendida por Camarões e perdeu por 1 a 0. No dia seguinte, era a vez da Itália estrar diante de sua torcida contra o bom time da Áustria.

Em 1990, a Áustria disputou três amistosos preparatórios. Em 28/03, venceu a Espanha de virada por 3 a 2, em Málaga, após estar perdendo por 2 a 0. Em 11/04, em Salzburg, goleou a Hungria por 3 a 0. No dia 30/05, em Viena, derrotou a fortíssima Holanda por 3 a 2. Esses resultados elevaram o moral dos austríacos. Para a crítica especializada, o time deixou de ser a “terceira força do Grupo A” e passou a ter “razoáveis chances de chegar entre os oito finalistas”. Mas, para os austríacos, um empate na estreia já seria um ótimo resultado.

A Itália causava desconfiança à sua torcida após o resultado de três partidas amistosas. Em fevereiro, empatou sem gols com a Holanda, em Roterdã. Em março, venceu a Suíça por 1 a 0, em Basel. No dia 30/05, em Perugia, empatou sem gols com a Grécia. Em três jogos, marcou um gol e não sofreu nenhum. E aparentemente era isso que a Squadra Azzurra tinha a oferecer na Copa: uma defesa intransponível e um ataque estéril.


Azeglio Vicini montou a Itália no sistema 4-4-2 com Franco Baresi como líbero.


Josef Hickersberger armou a Áustria no 5-3-2.

● Todavia, com a bola rolando, a Itália surpreendeu a todos e partiu para cima, deixando de lado sua prudência costumeira e criando inúmeras oportunidades. Porém, não foi feliz nas finalizações.

O primeiro tempo poderia ter terminado com o placar dilatado, se Andrea Carnevale (várias vezes), Gianluca Vialli, Carlo Ancelotti (acertou a trave) e Roberto Donadoni não tivessem desperdiçado chances preciosas. Donadoni perdeu o gol mais feito: ele estava dentro da pequena área e chutou por cima, com o gol vazio. Os atacantes sofriam com a ansiedade e nervosismo para definir logo as jogadas. Faltava pontaria.

Vialli perdeu outro gol fácil no início do segundo tempo, na oitava finalização italiana no jogo. Com 23 anos, o talentoso Roberto Baggio permaneceu no banco os 90 minutos.

Daí em diante, a Áustria conseguiu estabelecer um certo equilíbrio na partida, trocando passes e tirando a velocidade das jogadas. Mas, muito bem marcado, o artilheiro Toni Polster pouco conseguia fazer.

E, aos 30 minutos, o técnico Azeglio Vicini trocou o inoperante Carnevale (que errou quatro finalizações) por Salvatore “Totò” Schillaci – um artilheiro implacável atuando pelo Messina na Série B, que havia chegado à Juventus um ano antes e sido autor de 12 gols em 30 jogos na Série A de 1989/90. Aos 25 anos, era seu segundo jogo pela seleção. Era praticamente um desconhecido do grande público. E que se tornou celebridade apenas três minutos após entrar em campo.

Aos 33′, Vialli avançou até a linha de fundo e cruzou da direita. Praticamente em seu primeiro toque na bola, Schillaci (1,75 m) saltou entre os gigantes Ernst Aigner (1,94 m) e Robert Pecl (1,89) para cabecear a bola para o fundo do gol de Lindenberger.

Em um jogo duro, a Itália conseguiu a vitória graças a “Totò” Schillaci, o novo xodó da torcida italiana. Salvatore foi o salvador da Itália.


São João Paulo II: o Papa na Copa (Imagem: FIFA)

● Esse foi o único jogo da história das Copas que contou com a presença de um Papa. Antes da partida, São João Paulo II desfilou de papamóvel pela pista de atletismo do estádio Olímpico de Roma e depois leu um breve discurso na tribuna de honra, enaltecendo a importância dos atletas para que sirvam de modelo aos jovens de todo o mundo, “como líderes, e não como ídolos”.

Curiosamente, em sua juventude em Wadowice (a 50 km de Cracóvia), o polonês Karol Wojtyła brincava de ser goleiro e era elogiado pelo porte físico, coragem e disciplina em campo.

Mas o Papa sabia que naqueles dias o catolicismo ficaria em segundo plano na Itália, perdendo para a principal religião do mundo: o futebol. Tanto sabia, que adiantou o horário da tradicional procissão de Corpus Christi para que os fiéis pudessem assistir o jogo entre Itália e Estados Unidos.

E para tentar atender o maior número possível de fiéis turistas durante Copa, o Vaticano rezava missas em cinco idiomas: italiano, inglês, espanhol, alemão e francês.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Na sequência, a Áustria perdeu para a Tchecoslováquia por 1 a 0 e venceu os Estados Unidos por 2 a 1. Foi eliminada na primeira fase, com apenas dois pontos.

A Itália pegou embalo e, nas partidas seguintes, venceu os EUA por 1 a 0 e a Tchecoslováquia por 2 a 0, terminando a fase de grupos com 100% de aproveitamento. Nas oitavas de final, eliminou o Uruguai (2 x 0). Nas quartas, teve dificuldade para vencer a Irlanda por 1 a 0. Na semi, a Azzurra sofreu seu primeiro gol no torneio e empatou com a Argentina por 1 a 1, mas perdeu nos pênaltis por 4 a 3. Como consolo, conquistou o 3º lugar ao vencer a Inglaterra por 2 a 1.

“Totò” Schillaci se sagrou o artilheiro da Copa com seis gols e foi eleito o melhor jogador do torneio.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 0 ÁUSTRIA

 

Data: 09/06/1990

Horário: 21h00 locais

Estádio: Olímpico

Público: 73.303

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: José Roberto Wright (Brasil)

 

ITÁLIA (4-4-2):

ÁUSTRIA (5-3-2):

1  Walter Zenga (G)

1  Klaus Lindenberger (G)

2  Franco Baresi

2  Ernst Aigner

3  Giuseppe Bergomi (C)

7  Kurt Russ

6  Riccardo Ferri

3  Robert Pecl

7  Paolo Maldini

5  Peter Schöttel

9  Carlo Ancelotti

18 Michael Streiter

11 Fernando De Napoli

8  Peter Artner

13 Giuseppe Giannini

10 Manfred Linzmaier

17 Roberto Donadoni

20 Andreas Herzog

16 Andrea Carnevale

13 Andreas Ogris

21 Gianluca Vialli

9  Toni Polster

 

Técnico: Azeglio Vicini

Técnico: Josef Hickersberger

 

SUPLENTES:

 

 

12 Stefano Tacconi (G)

21 Michael Konsel (G)

22 Gianluca Pagliuca (G)

22 Otto Konrad (G)

5  Ciro Ferrara

4  Anton Pfeffer

8  Pietro Vierchowod

6  Manfred Zsak

4  Luigi De Agostini

12 Michael Baur

14 Giancarlo Marocchi

11 Alfred Hörtnagl

10 Nicola Berti

19 Gerald Glatzmayer

15 Roberto Baggio

16 Andreas Reisinger

18 Roberto Mancini

14 Gerhard Rodax

20 Aldo Serena

15 Christian Keglevits

19 Salvatore Schillaci

17 Heimo Pfeifenberger

 

GOL: 78′ Salvatore Schillaci (ITA)

 

CARTÃO AMARELO: 6′ Andreas Herzog (AUT)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Carlo Ancelotti (ITA) ↓

Luigi De Agostini (ITA) ↑

 

61′ Peter Artner (AUT) ↓

Manfred Zsak (AUT) ↑

 

75′ Andrea Carnevale (ITA) ↓

Salvatore Schillaci (ITA) ↑

 

77′ Manfred Linzmaier (AUT) ↓

Alfred Hörtnagl (AUT) ↑


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

Melhores momentos da partida (em italiano):

Melhores momentos da partida (Rede Manchete):

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