… 10/06/1962 – Brasil 3 x 1 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 10/06/1962 – Brasil 3 x 1 Inglaterra


(Imagem: FIFA)

● Em 1958, o Brasil se livrou do “complexo de vira-latas” e se sagrou campeão do mundo. Com Pelé e Garrincha no auge, era o favorito destacado à conquista do bicampeonato.

Na estreia, sofreu mais que o previsto para superar a frágil seleção mexicana (vitória por 2 x 0). No segundo jogo, tensão total: empate sem gols contra a Tchecoslováquia e lesão de Pelé (que o tiraria do restante da competição). Na rodada final, saiu perdendo para a Espanha e contou com a ajuda da arbitragem (que não marcou um pênalti e anulou um gol legal da Fúria) e de um encantado Amarildo para virar o jogo (2 x 1). Com esses resultados, a Seleção se classificou como líder do Grupo 3. Nas quartas de final, enfrentaria o segundo colocado do Grupo 4 – a Inglaterra.

Na primeira fase, o English Team teve uma campanha irregular. No dia 31/05, perdeu na estreia para a Hungria por 2 a 1. Dois dias depois, venceu a Argentina por 3 a 1. Na última rodada, um empate sem gols com a Bulgária permitiu que os ingleses se classificassem no critério de saldo de gols. Empatadas com três pontos, a Inglaterra teve saldo de +1, enquanto a Argentina teve saldo de -1.


(Imagem: CBF)

● No escrete canarinho, uma preocupação era unanimidade: a ausência de Pelé. Ele até treinou com o grupo, mas não tinha condições de jogo. Comissão técnica, crítica especializada e torcida estavam inseguras com as chances de título sem o Rei. Mas outra coisa afligia discretamente a maioria: a má fase técnica de Garrincha.

Nos jogos anteriores, Mané teve um desempenho muito aquém do esperado e foi acusado injustamente de excesso de individualismo. Contra os mexicanos, esteve bem marcado e se omitiu do jogo, recebendo poucas bolas. Contra os tchecos, com Pelé lesionado e Vavá mal na partida, não tinha para quem cruzar. Contra a Espanha, só acertou uma boa jogada, que deu origem ao segundo gol de Amarildo.

Didi também não esteve bem na fase inicial. Mas, contra os ingleses, ele jogaria mais solto. Com sua visão de jogo, fez seus lançamentos, orientou o posicionamento da linha de frente, fechou os espaços no meio para revezar com Zito nas subidas ao ataque. Era uma passagem de bastão. Se Didi foi o líder em campo em 1958, Garrincha seria o astro na reta final em 1962.


O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo


O ultrapassado técnico inglês Walter Winterbottom se rendeu ao “moderno” sistema 4-2-4.

● Antes da partida, o nervosismo de alguns atletas era grande. Até o experiente Zagallo sofreu. Ele não conseguiu urinar no vestiário. Já em campo, depois de executados os hinos nacionais, lhe deu uma vontade incontrolável de fazer xixi. Como não podia sair correndo dali, chamou três jogadores e dois fotógrafos para fazer uma rodinha. Ele se agachou e se aliviou ali mesmo, no centro do gramado.

A Inglaterra, mesmo não jogando bem, sempre é um time a ser respeitado. A partida começou com muito equilíbrio de lado a lado, com os dois selecionados se estudando. Os brasileiros ainda se recordavam do jogo na Copa de 1958, quando o Brasil não conseguiu passar pela defesa inglesa e ficou em um empate sem gols.

Estava sendo um jogo muito bem disputado. Os dois goleiros, Gylmar e Ron Springett, haviam feito defesas importantes.

Mas o maior protagonista da partida, até então, tinha sido um cachorrinho preto que invadiu o campo no meio da partida. Ele driblou alguns jogadores e deu um “olé” em Garrincha. Só foi capturado pelo inglês Jimmy Greaves, que ficou de quatro e foi se aproximando do bichinho no meio campo até agarrá-lo. Pouco depois, outro cão entrou no gramado, mas este não foi pego. Depois de desfilar rapidamente pelo gramado, ele passou por baixo do alambrado e desapareceu por conta própria.

O lance fez esquecer por alguns momentos a tensão da partida. A Inglaterra tinha um bom time, onde já jogavam futuros campeões do mundo como Ray Wilson, Jimmy Greaves, Bobby Moore e Bobby Charlton.


(Imagem: Pinterest)

● Garrincha era um driblador nato, brilhante na técnica, mas irresponsável taticamente. Costumava jogar fixo pela ponta direita e não entrava em diagonal. Mas, contra os ingleses, fugiu de seu padrão: saiu de sua posição, se infiltrou pelo meio e até pela esquerda, desempenhando tarefas que caberiam aos outros. Foi o responsável pelos três gols brasileiros, que decidiram uma partida complicada. Garrincha sabia e podia fazer de tudo. Provou isso naquele dia 10/06.

E foi ele quem abriu o placar para o Brasil. Aos 31 minutos de jogo, Zagallo cobrou escanteio de trivela da esquerda. Garrincha veio livre de trás e subiu mais que Maurice Norman (mais alto que ele) para cabecear forte para o gol. Um raro gol de cabeça de Garrincha.

Sete minutos depois, Johnny Haynes cobrou falta da direita para dentro da área. Jimmy Greaves cabeceou para o gol. A bola encobriu Gylmar, bateu na trave e sobrou limpa para Gerry Hitchens completar para o gol vazio e empatar o jogo.

Aos 8′ do segundo tempo, o Brasil tinha uma falta para bater, em uma posição perfeita para a cobrança de Didi. Mas Garrincha foi mais rápido e chutou com violência. A bola passou pela barreira. O goleiro Ron Springett não conseguiu segurar e espalmou para frente. Vavá só aproveitou e escorou de cabeça para fazer seu primeiro gol na Copa.

No minuto 14′, a Inglaterra tentou a bola longa, mas Mauro aparou de cabeça e deixou com Didi. O “Príncipe Etíope” lançou rasteiro para Amarildo na esquerda. O “Possesso” só ajeitou a bola para Garrincha, que chutou de fora da área. A bola fez uma curva, como se fosse a famosa “folha seca” de Didi, e foi no ângulo. Springett se esticou todo, mas não conseguiu defender. Na comemoração, Mané brincou com Didi: “Viu? Não é só você que sabe chutar assim”.

Segundo algumas fontes, Garrincha poderia ter marcado o “hat-trick” se o goleiro Springett não tivesse defendido um pênalti cobrado por ele, aos 21 minutos da etapa final.

Com dribles desconcertantes e jogadas decisivas, o “Anjo das Pernas Tortas” infernizava seus marcadores e levava ao delírio os 18.715 expectadores do estádio Sousalito, em Viña del Mar.


(Imagem: Candangol)

“Preparamos nossos rapazes durante quatro anos para enfrentar times de futebol. Não esperávamos um jogador como Garrincha.” — Walter Winterbottom, técnico inglês, eliminado por Garrincha.

Após a consagradora exibição do ponta direita brasileiro, um jornal chileno publicou em manchete: “Garrincha, de qual planeta você vem?”

Naquele mesmo dia 10/06, o Chile estava em festa. Sua seleção havia se classificado para as semifinais ao vencer a União Soviética por 2 a 1. A notícia ruim? O adversário seria o Brasil, do “extra-terrestre” Garrincha.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 1 INGLATERRA

 

Data: 10/06/1962

Horário: 14h00 locais

Estádio: Sousalito

Público: 18.715

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Pierre Schwinte (França)

 

BRASIL (4-2-4):

INGLATERRA (4-2-4):

1  Gylmar (G)

1  Ron Springett (G)

2  Djalma Santos

2  Jimmy Armfield

3  Mauro (C)

3  Ray Wilson

5  Zózimo

16 Bobby Moore

6  Nilton Santos

6  Ron Flowers

4  Zito

15 Maurice Norman

8  Didi

10 Johnny Haynes (C)

7  Garrincha

17 Bryan Douglas

19 Vavá

8  Jimmy Greaves

20 Amarildo

9  Gerry Hitchens

21 Zagallo

11 Bobby Charlton

 

Técnico: Aymoré Moreira

Técnico: Walter Winterbottom

 

SUPLENTES:

 

 

22  Castilho (G)

12 Alan Hodgkinson (G)

12 Jair Marinho

22 Gordon Banks (G)

13 Bellini

21 Don Howe

14 Jurandir

14 Stan Anderson

15 Altair

5  Peter Swan

16 Zequinha

20 George Eastham

17 Mengálvio

4  Bobby Robson

18 Jair da Costa

7  John Connelly

9  Coutinho

19 Alan Peacock

10 Pelé

18 Roger Hunt

11 Pepe

13 Derek Kevan

 

GOLS:

31′ Garrincha (BRA)

38′ Gerry Hitchens (ING)

53′ Vavá (BRA)

59′ Garrincha (BRA)


(Imagem: Candangol)

Gols da partida:

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