… Roberto Baggio: muito mais do que um pênalti perdido, “um fantástico 9 e meio”

Três pontos sobre…
… Roberto Baggio: muito mais do que um pênalti perdido, “um fantástico 9 e meio”


(Imagem localizada no Google)

● Incrível como um único fato pode mudar a história e a forma como ela se propaga. Um dos recordistas mundiais em aproveitamento de cobranças de pênalti ¹* perdeu o pênalti decisivo de sua seleção em plena final de Copa do Mundo.

Baggio ficou marcado como um “amarelão”, que arregou em plena final. Justo Ele!

Me lembro como se fosse hoje. Eu era uma criança de oito anos, assistindo a minha primeira Copa do Mundo (Copa essa que me fez apaixonar pelo futebol e acabou moldando toda minha vida). Essa Copa foi prolífica em craques, como Diego Armando Maradona, Gabriel Batistuta, Romário, Lothar Matthäus, Gheorghe Hagi, Hristo Stoichkov, Carlos Valderrama, Dennis Bergkamp e outros. Mas Ele se destacava.

Roberto Baggio chegou para a Copa como o melhor jogador do mundo eleito pela FIFA e Bola de Ouro no ano de 1993. Em gramados americanos, “comeu” a bola. Estava no seu auge técnico.

Começou o torneio não muito bem, assim como toda sua seleção. Mas valeu a pena esperar as oitavas de final. A dois minutos do fim, a Nigéria vencia a Itália por 1 a 0, mas Roberto empatou e, na prorrogação, virou o jogo. Nas quartas de final, também aos 43 minutos do segundo tempo, anotou o tento decisivo para eliminar a Espanha. Nas semifinais, foi o dono do jogo, com dois gols entre os 21 e 25 minutos de jogo, que deram a vitória sobre a forte Bulgária por 2 a 1, mas saiu de campo lesionado aos 26 minutos do segundo tempo.

● Assim, o que poucos sabem é que ele foi jogar a final no sacrifício, sempre precisando tirar o pé e não conseguindo dar seus dribles e suas arrancadas características.

Na final, o Brasil jogou melhor, mas eram dois times muito equilibrados e mereceram estar na decisão.

A cada vez que Ele pegava na bola e o Galvão Bueno falava o nome Dele, eu tremia. “Roberto Baggio” era o que a Azzurra podia ter de melhor e ele me dava medo. Já tínhamos visto ele fazer de tudo nessa Copa. Já no fim da prorrogação, em uma tabela com Massaro, Baggio teve sua única chance clara de gol, mas chutou em cima de Taffarel.

Após 120 minutos sem gols, tivemos a primeira decisão por pênaltis na história das Copas. Na primeira cobrança, outro gênio da bola atormentado por uma contusão chutou nos céus: o capitão Franco Baresi. No primeiro jogo da Itália, Baresi lesionou seriamente o joelho e teve que passar por artroscopia. Estava fora da Copa? Não! Se recuperou em tempo recorde para disputar a final, se destacando em marcação duríssima sobre Romário. Pena que justo Baresi tenha errado a cobrança inaugural.

Márcio Santos também errou. Depois, todos marcaram: Demetrio Albertini, Romário, Alberigo Evani e Branco. Daniele Massaro parou nas mãos de Taffarel. Dunga marcou.

Caberia a Roberto Baggio, marcar e deixar a Itália ainda viva na final. Se ele marcasse, o Brasil teria ainda outra chance de ser campeão, com a cobrança de Bebeto.

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● Em 21 anos de carreira, Baggio bateu 159 pênaltis, convertendo 141 e falhando em apenas 18, ou seja, tem aproveitamento de quase 89% ¹*. Todos tinham certeza de que “Il Codino Divino” (seu apelido, algo como “O Rabo de Cavalo Divino”) converteria o pênalti. Até eu, no alto dos meus oito anos de experiência de vida tinha certeza de que o gol sairia. Mas um somatório de coisas o fizeram errar: a lesão na partida anterior, os 120 minutos jogando no sacrifício no sol de Pasadena, a pressão de ser um pênalti decisivo e, talvez, até a autoconfiança excessiva. Qualquer um poderia perder, menos Ele. É uma das maiores injustiças da história da bola.

Perdeu o pênalti e o Brasil foi campeão. Mas isso não é nada perto de sua brilhante carreira. venceu pouquíssimos títulos como jogador, mas será sempre lembrado pela incrível habilidade, pelas jogadas de efeito e pelos muitos gols marcados, sendo ídolo por onde passou e um mito no futebol mundial. Certamente se não fossem as lesões, Baggio seria ainda maior do que é. Era brilhante tanto como meia (camisa 10), quanto como atacante (camisa 9), que certa vez o craque francês Michel Platini disse que “Baggio é um fantástico ‘9 e meio’.

Era um fantasista e rebelde ao mesmo tempo. Se tornou inimigo público de técnicos vencedores como Arrigo Sacchi, Fabio Capello e Marcelo Lippi, pois enquanto esses eram obcecados pela disciplina tática e marcação sob pressão por todo o campo, Baggio queria apenas jogar. Dizia que o talento se sobrepõe a qualquer obediência tática.

Talento nunca o faltou.

¹* Estatísticas segundo o site “http://www.robertobaggio.org/english/statistics.html

9 pensou em “… Roberto Baggio: muito mais do que um pênalti perdido, “um fantástico 9 e meio”

  1. Bruno M.

    Cracasso de bola! Um camisa 10 nato.
    O título da Copa do Mundo de 94 deve-se ao zagueiro Búlgaro Trifon Ivanov que deu uma entrada dura no Baggio, fazendo com que ele jogasse a final lesionado à base de infiltrações.
    Vale ressaltar que até aquela altura ele era o melhor jogador do mundo.

    Grazie di tutto Baggio!

    Eu gostaria que você fizesse uma matéria sobre o Lothar Matthäus que junto com o Baggio foram os melhores jogadores que eu vi.

    A meu ver Matthäus foi o jogador mais completo e vitorioso de todos os tempos, infelizmente faltou o título da Liga dos Campeões.
    Beckenbauer teria dito que não foi Matthäus quem não teve a honra de erguer o troféu da Liga dos Campeões, e sim o troféu que não teve a honra de ser erguido por Matthäus.
    Quanto a Seleção Alemã de 90 eu posso afirmar que foi a melhor Seleção nos últimos 28 anos. Pois o elenco contava com grandes jogadores como Lothar Matthäus, Andreas Brehme, Jürgen Klinsmann, Thomas Hässler, entre outros.

    Danke für alles!

  2. Bruno M.

    Que isso meu caro, eu que agradeço por essa matéria maravilhosa desse grande jogador.
    É uma pena que pra muitos brasileiros ele só é lembrado pelo pênalti perdido contra o Brasil, o que muitos não sabem é que ele carregou a Itália até a final em 94, assim como o Maradona fez em 86 e o Garrincha fez em 62.
    A maioria das pessoas acham que foi injustiça a Holanda de Cruyff não ter ganho a Copa de 74, A Hungria de Puskas não ter ganho a Copa de 54, o Brasil de Zico não ter ganho a Copa de 82, mais injustiça mesmo foi o Baggio não ter ganho a Copa de 94, pois ele jogou lesionado a final.

  3. neuberbs

    Bruno, realmente os dois maiores nomes da Squadra Azzurra em 1994 disputaram a final em péssimas condições. O capitão Franco Baresi se lesionou contra a Noruega, fez uma artroscopia e se recuperou no prazo recorde de 24 dias. Jogou muito os 120 minutos, marcando Romário de forma implacável.
    Roberto Baggio dispensa comentários. Fez os dois gols das oitavas contra a Nigéria, um nas quartas contra a Espanha e os dois na semi contra a Bulgária. Nesse jogo, precisou sair na metade do segundo tempo por lesão. Lesão essa que lhe limitou muito na final. Entrou com uma proteção na coxa direita. É uma enorme covardia lembrarmos dele nesse pênalti. O cara converteu 89% das cobranças em toda a carreira. Perdeu em uma situação adversa, que nem foi “só” ele que falhou. Ficou marcado por ser o pênalti decisivo. Injustamente. Carregou a Itália até a decisão.

    A Holanda de 1974 era muito mais que só Cruijff; a Hungria de 1954 era muito mais que só Puskas; o Brasil de 1982 era muito mais que só Zico; o Brasil de 1962 era muito mais que só Garrincha. Mas a Argentina de 1986 era pouco mais que só Maradona (com alguns bons coadjuvantes, como Jorge Valdano, Burruchaga e poucos outros) e a Itália de 1994 era “fecha tudo, erra pouco e entrega a bola pro R. Baggio”. Ele carregou mesmo a Azzurra (que nem era um time tão ruim…).

    Aliás, 1994 merece uma reflexão. Várias seleções se destacaram com um “craque”, mas dependeram um pouco de alguns coadjuvantes (sem esquecer da importância dos demais em campo, claro):
    – Brasil: Romário, com ajuda de Bebeto e Taffarel;
    – Itália: Roberto Baggio, com Dino Baggio e o apoio tático de Daniele Massaro depois que entrou no time;
    – Suécia: Thomas Brolin, com Kennet Anderson e Martin Dahlin;
    – Bulgária: Hristo Stoichkov, com Yordan Letchkov e Krassimir Balakov;
    – Romênia: Gheorghe Hagi, com Ilie Dumitrescu e Florin Răducioiu;
    – Holanda: Dennis Bergkamp, com Ronald Koeman e Marc Overmars…

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