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… 09/06/1986 – França 3 x 0 Hungria

Três pontos sobre…
… 09/06/1986 – França 3 x 0 Hungria


(Imagem: AFP)

● A seleção francesa mantinha o mesmo time base de 1978 e 1982, mas estava ainda mais forte. O “quadrado mágico” do meio de campo ganhou mais qualidade com Luis Fernández fazendo companhia a Jean Tigana, Alain Giresse e Michel Platini.

Platini era, ao mesmo tempo, o arco e a flecha. Era o armador das melhores jogadas e o principal finalizado também. Com extraordinária habilidade, era o maestro de uma grande orquestra. Ele vivia o auge de sua forma técnica, sendo eleito o Bola de Ouro da revista France Football por três anos consecutivos – 1983, 1984 e 1985. Com nove gols em cinco jogos, foi também o craque do título da Eurocopa de 1984 – primeiro título relevante da história da seleção francesa. Além disso, foi também o jogador mais importante do primeiro título da Juventus na Copa dos Campeões da Europa, na temporada 1984/85.

O técnico era Henri Michel, ex-meio campista da seleção francesa. Ele foi o treinador da equipe que conquistou a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles. Michel levou para a seleção principal alguns dos campeões olímpicos, como o goleiro Albert Rust, o zagueiro Michel Bibard, o lateral Ayache (que logo se tornou titular), e os pontas Daniel Xuereb e José Touré. Mas Touré precisou ser cortado por ter os ligamentos do joelho rompidos em uma partida do Nantes na antiga Copa da UEFA. Para seu lugar foi convocado Jean-Pierre Papin, do Club Brugge, da Bélgica.

Por tudo isso, uma euforia sem precedentes tomou conta dos torcedores franceses. Eles se consideravam prontos para entrar para a história com o título mundial.


(Imagem: Agence France Presse)

● Em um grupo com franceses e soviéticos, a Hungria corria por fora. O histórico credenciava os magiares, com melhor retrospecto: dois vice-campeonatos mundiais (1938 e 1954) e três títulos olímpicos (1952, 1964 e 1968).

Além dos números, contava a seu favor o respeito ao futebol técnico, vistoso e bem jogado – algumas vezes até taxado de não ser competitivo por priorizar o jogo vistoso, muitas vezes de forma irresponsável.

Os destaques da seleção húngara eram o goleiro Péter Disztl, o lateral direito baixinho Sándor Sallai e o veloz Márton Esterházy. Mas o craque do time era o ponta de lança Lajos Détári, dono de ótima visão de jogo, rápido, inteligente, habilidoso e artiheiro. O desfalque foi o experiente meia Tibor Nyilasi, machucado.

Era considerada a melhor seleção húngara desde 1966.


Treinada por Henri Michel, a França atuava no sistema tático 4-4-2. O destaque era seu quarteto de meio campo, com muita qualidade técnica: Fernández, Tigana, Giresse e Platini.


A Hungria jogava no 4-4-2 clássico, com Lajos Détári carimbando todas as jogadas do time pelo meio.

● A vitória sobre o Canadá (1 x 0) e o empate com a União Soviética (1 x 1) deixou a França em boa situação no Grupo C. Bastaria um empate com a Hungria na última rodada para garantir a classificação.

A Hungria havia sido goleada na estreia pela URSS por 6 x 0. Se recuperou na segunda partida ao vencer o Canadá por 2 x 0. Contra os franceses, era tudo ou nada para os húngaros.

O primeiro tempo foi equilibrado, com um futebol vistoso e leve predomínio da França.

O placar foi aberto após 29 minutos jogados. Ayache recebeu lançamento e cruzou da direita. Yannick Stopyra apareceu sem marcação na segunda trave e cabeceou firme no ângulo do goleiro Péter Disztl.

Aos poucos o time do técnico Henri Michel começava a encontrar a sua melhor forma técnica. Principalmente após a saída do inoperante Papin para a entrada do experiente e participativo Dominique Rocheteau.

Aos 17′ do segundo tempo, Tigana avançou em velocidade desde seu próprio campo. Passou para Rocheteau, que antes da entrada da área, girou em cima de um marcador e devolveu. Tigana recebeu livre e ajeitou o corpo para bater firme de esquerda, no canto direito do goleiro. O segundo gol praticamente garantiu a vitória.

A Hungria chegou a mandar uma bola na trave no segundo tempo. Mas isso foi o máximo que conseguiu fazer diante de uma França imponente.

O terceiro gol dos gauleses saiu a seis minutos do apito final. Joël Bats repôs a bola em jogo com um chutão para frente. Platini deixou ela quicar e e dominou pelo lado esquerdo da grande área. Com uma visão de jogo incrível – que só os gênios têm –, ele viu a chegada de Rocheteau na segunda trave e cruzou de pé trocado. Rocheteau apareceu nas costas de um zagueiro e só teve o trabalho de dar um toquinho por cima do goleiro.


(Imagem: Eurosport)

● Com esses resultados, a França terminou em segundo lugar da chave, atrás da União Soviética no saldo de gols. Esse mesmo critério (saldo de gols de -7) foi o que impediu a Hungria de se classificar como um dos melhores terceiros.

Na sequência, a França eliminou a atual campeã Itália nas oitavas de final, com uma vitória por 2 a 0.

Nas quartas, outro duelo gigante, com a Seleção Brasileira, de Sócrates, Júnior, Zico, Müller, Careca, Edinho, Branco e outros grandes jogadores. Empate em 1 x 1 no tempo normal (com direito a pênalti perdido de Zico). Na decisão por penalidades, “Les Bleus” tiveram mais sorte e venceram por 4 a 3.

Na semifinal, a França enfrentou sua “asa negra”, a Alemanha Ocidental. Perdeu por 2 x 0, naquele que foi o “canto do cisne” daquela geração.

Encerrou a Copa conquistando o 3º lugar ao vencer a surpreendente Bélgica por 4 x 2. Essa campanha igualou a melhor classificação final da história francesa até então – já havia chegado em 3º em 1958.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 3 x 0 HUNGRIA

 

Data: 09/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Nou Camp

Público: 31.420

Cidade: León (México)

Árbitro: Carlos Silva Valente (Portugal)

 

FRANÇA (4-4-2):

HUNGRIA (4-4-2):

1  Joël Bats (G)

1  Péter Disztl (G)

2  Manuel Amoros

2  Sándor Sallai

4  Patrick Battiston

3  Antal Róth

6  Maxime Bossis

6 Imre Garaba (C)

3  William Ayache

4  József Varga

9  Luis Fernández

5  József Kardos

14 Jean Tigana

9  László Dajka

12 Alain Giresse

15 Péter Hannich

10 Michel Platini (C)

10 Lajos Détári

17 Jean-Pierre Papin

20 Kálmán Kovács

19 Yannick Stopyra

11 Márton Esterházy

 

Técnico: Henri Michel

Técnico: György Mezey

 

SUPLENTES:

 

 

22 Albert Rust (G)

18 József Szendrei (G)

21 Philippe Bergeroo (G)

22 József Andrusch (G)

5  Michel Bibard

14 Zoltán Péter

7  Yvon Le Roux

12 József Csuhay

8  Thierry Tusseau

13 László Disztl

15 Philippe Vercruysse

8  Antal Nagy

13 Bernard Genghini

16 József Nagy

11 Jean-Marc Ferreri

17 Győző Burcsa

16 Bruno Bellone

21 Gyula Hajszán

20 Daniel Xuereb

19 György Bognár

18 Dominique Rocheteau

7  József Kiprich

 

GOLS:

29′ Yannick Stopyra (FRA)

62′ Jean Tigana (FRA)

84′ Dominique Rocheteau (FRA)

 

CARTÕES
AMARELOS:

41′ William Ayache (FRA)

69′ Dominique Rocheteau (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Péter Hannich (HUN) ↓

Antal Nagy (HUN) ↑

 

61′ Jean-Pierre Papin (FRA) ↓

Dominique Rocheteau (FRA) ↑

 

65′ Kálmán Kovács (HUN) ↓

György Bognár (HUN) ↑

 

71′ Yannick Stopyra (FRA) ↓

Jean-Marc Ferreri (FRA) ↑

Gols da partida:

… 08/07/1982 – Alemanha Ocidental 3 x 3 França

Três pontos sobre…
… 08/07/1982 – Alemanha Ocidental 3 x 3 França

“A noite de Sevilha”


(Imagem: Pinterest)

● Depois da Seleção Brasileira, era a França quem tinha o futebol mais encantador do planeta. Les Bleus voltavam à uma semifinal após 1958. O destaque era o meio campo, com os “Três Mosqueteiros” franceses, que, como no livro, também eram quatro: Bernard Genghini, Jean Tigana, Alain Giresse e Michel Platini. Um meio campo leve, habilidoso, de ótimo toque de bola e visão de jogo. No ataque, dois pontas de origem, Didier Six e Dominique Rocheteau, abriam espaço nas defesas adversárias para o avanço dos meias.

Desde 1979, Michel Platini e Jean-François Larios eram companheiros de clube no Saint-Étienne e se tornaram bons amigos. Platini era casado com Christelle Bigoni desde 1977 – uma loira linda, muito atraente e de olhos azuis. Aconteceu de Larios ter um caso com a esposa de Platini e o assunto ter explodido às vésperas da derrota da França para a Inglaterra por 3 x 1 na estreia. Depois de todo o alvoroço feito pela imprensa, Platini deu o ultimato ao técnico Michel Hidalgo para que escolhesse entre um e outro. O treinador não tinha como fazer diferente e optou por manter seu capitão e camisa 10.

Sem Larios, a França goleou o Kuwait por 4 x 1 do técnico Carlos Alberto Parreira – em jogo em que um xeique do país árabe invadiu o campo e obrigou o árbitro a anular um gol legítimo dos gauleses. Na sequência, a França empatou com a Tchecoslováquia por 1 x 1 e se classificou em segundo lugar no Grupo D. A segunda fase foi mais tranquila. Venceu a Áustria por 1 x 0 e a Irlanda do Norte por 4 x 1. Nas semifinais, enfrentaria a Alemanha Ocidental.

A Alemanha Ocidental perdeu por 2 x 1 na estreia para a surpreendente Argélia, de Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi. Se recuperou na rodada seguinte ao bater o Chile por 4 x 1. Na terceira partida, protagonizou o jogo mais vergonhoso da história das Copas, um jogo de compadres, ao vencer a Áustria por 1 x 0, no único placar possível para classificar as duas seleções e eliminar os argelinos. Essa partida ficou conhecida como “Jogo da Vergonha” ou “A Vergonha de Gijón”. Na fase seguinte, venceu a Espanha, dona da casa, por 2 x 1 e empatou sem gols com a Inglaterra. Foi o suficiente para se garantir entre os quatro primeiros do Mundial pela sétima vez em sua história.


A Alemanha Ocidental do técnico Jupp Derwall atuava em um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. O lateral esquerdo Bernd Förster fazia o papel de um terceiro zagueiro, a fim de liberar o outro lateral, Kaltz, que apoiava um pouquinho mais pela direita, fazendo o contra-peso do meia esquerda Briegel. Paul Breitner era o “todo-campista” indo de área a área. Dremmler marcava para Magath armar as jogadas para o ponta Littbarski e o centroavante Klaus Fischer.


Treinada por Michel Hidalgo, a França atuava no sistema tático 4-4-2. O destaque era seu quarteto de meio campo, com muita qualidade técnica: Ghengini, Tigana, Giresse e Platini.

● Eleito pela revista France Football o Bola de Ouro como melhor jogador da Europa em 1980 e 1981, o craque alemão Karl-Heinz Rummenigge estava em más condições físicas e, por isso, começou no banco de reservas. A França colocou em campo o que tinha de melhor.

A Alemanha começou melhor e partiu logo para o ataque, com a intenção de marcar um gol logo e se fechar. Mas o primeiro chute a gol foi dos franceses, aos cinco minutos de jogo, mas o chute de Giresse foi para fora.

Em sua primeira Copa, Pierre Littbarski era o mais acionado no ataque alemão. Único remanescente da Copa de 1974, Paul Breitner era o líder no meio de campo. O líbero Uli Stielike comandava a defesa teutônica.

Três minutos depois, Littbarski cobrou uma falta e a bola bateu na trave.

Depois, Rocheteau ajeitou com o peito e Genghini chutou por cima.

A Alemanha Ocidental abriu o placar aos dezessete minutos. Paul Breitner recebeu a bola de Wolfgang Dremmler no meio entre três franceses e avançou e tocou para Klaus Fischer. O goleiro francês Jean-Luc Ettori saiu da meta e defendeu, mas a bola sobrou na linha da grande área para Littbarski emendar forte e rasteiro para o gol.

Aos 21′, Platini cabeceou para fora.

Seis minutos depois, Manfred Kaltz (capitão na ausência de Rummenigge) derrubou Genghini. Giresse cobrou a falta, Platini desviou de cabeça e Bernd Förster derrubou Rocheteau dentro da área. Platini bateu o pênalti com frieza, no canto direito do goleiro Harald Schumacher, que caiu para o lado esquerdo.


(Imagem: UOL)

Com o passar do tempo, o jogo foi ficando mais pegado. Manuel Amoros e Littbarski se estranharam. Dremmler derrubou Tigana em um lance em que mereceria pelo menos o cartão amarelo. Depois, Schumacher deixou o corpo em uma dividida com Platini. Mais adiante, Bernd Förster acertou as costas de Rocheteau com o joelho em um lance fora da área. Schumacher trombou com Six e deu um bruto empurrão no atacante francês.

Em uma partida com tanto contato físico, os alemães acabavam levando vantagem. O time francês era leve, sem nenhum volante de ofício. Giresse e Genghini foram obrigados a se desdobrarem na marcação e receberam cartão amarelo.

O jogo continuava aberto. Em um contra-ataque, Rocheteau serviu Platini, que não conseguiu virar o jogo.

Depois, o tanque Hans-Peter Briegel surgiu na área e finalizou de primeira, mas viu Ettori espalmar pela linha de fundo.

Ainda no primeiro tempo, o perigoso Littbarski cabeceou a queima-roupa depois de um cruzamento da direita.

No fim do primeiro tempo Platini chutou de primeira de fora da área, mas a bola foi pela linha de fundo.

Na volta do intervalo, o técnico Michel Hidalgo já pensava em dar mais mobilidade a seu time e mandou Patrick Battiston ir para o aquecimento. E ele entrou aos sete minutos no lugar de Genghini.

No início do segundo tempo, Rocheteau ganhou de Schumacher e fez o gol, mas o árbitro anulou por falta do gaulês.

Platini e Battiston chutaram por cima. A França estava mais perto do gol.


(Imagem: UOL)

● Um lance decisivo para os rumos da partida aconteceu aos doze minutos do segundo tempo.

Maxime Bossis roubou a bola de Dremmler e deixou com Platini na meia direita. O camisa 10 lançou para Battiston nas costas da defesa germânica, entre o goleiro Schumacher e o líbero Stielike. O volante francês chegou primeiro para tocar de esquerda na saída do goleiro alemão, mas a bola foi para fora. Schumacher tinha saído do gol com uma fúria desproporcional e voou com tudo para cima do francês, sem se importar com a bola e acertou o quadril no rosto de Battiston. Proposital ou não, o goleiro alemão levou o francês a nocaute. Desmaiado em campo, ficou desacordado por quase 30 minutos.

Atônito, Platini acompanhou Battiston até fora do campo e pensou que o colega havia morrido: “Não tinha pulso, estava pálido…”

De forma absurda e ridícula, o árbitro holandês Charles Corver não viu a falta e deixou o jogo seguir, não expulsou o goleiro alemão pela agressão e ainda demorou um longo tempo para permitir a entrada da maca.

E Schumacher observava tudo de longe, mascando um chiclete, como se não tivesse feito nada, querendo cobrar logo o tiro de meta. Tudo isso enquanto Battiston é atendido pela equipe médica com direito a balão de oxigênio. Foi necessário colocar uma rampa sobre o fosso para que a ambulância conseguisse entrar próxima ao gramado.

Levado ao hospital, Battiston entraria em coma, mas se recuperaria logo. Ele sofreu uma concussão, teve dois dentes quebrados, três costelas fraturadas, algumas vértebras danificadas e permaneceu seis meses sem jogar após o episódio. Vinte e cinco anos mais tarde, ele passou por um transplante de osso na mandíbula. E não parou de sofrer e de passar por cirurgias.

Quando disseram a Schumacher que o francês tinha perdido dois dentes, o alemão aumentou ainda mais o ódio do mundo contra ele ao dizer: “Se é só isso que está errado com ele digam-lhe que pago as coroas”. Um jornal francês fez uma enquete poucos dias depois e o resultado deixava claro o que pensavam: o goleiro era o segundo alemão mais odiado da história, atrás apenas de Adolf Hitler.

Anos depois, Schumacher se defendeu em sua autobiografia “Anpfiff” (“Apito”, em alemão), dizendo que não se aproximou para ver o estado de Battiston porque o francês estava rodeado de colegas que lhe faziam gestos ameaçadores.

“Pediu desculpa, perdoei, mas não quero falar mais disso. Não quero me encontrar com ele. Senti que ao longo dos anos ele ficou marcado por isso, mas acabou. Passou. Foi um acidente em campo, nunca saberemos se foi propositado ou não.” ― Patrick Battiston, anos depois.

E Battiston, que havia acabado de entrar, teve que sair dez minutos depois para a entrada de Christián López.


(Imagem: Mais Futebol)

● E depois de uma queda após o atendimento a Battiston, o ritmo do jogo voltou a acelerar. Aos 27′, o pouco inspirado Felix Magath deu lugar a Hrubesch, “Das Kopfball-Ungeheuer” (“A Besta Cabeceadora”).

López anhou no alto de Schumacher, mas mandou por cima.

Aos 35′, Six chutou e Schumacher pegou.

A Alemanha respondeu, com Ettori pegando o chute de Briegel.

Fischer e Littbarski cruzaram com perigo, mas sem ninguém para aproveitar.

Rocheteau chutou com perigo, mas Schumacher evitou o gol.

Com o tempo regulamentar próximo do fim, o jogo estava aberto. Os franceses controlavam o ritmo e os alemães investiam em ataques em velocidade.

Aos 45′ do segundo tempo, Amoros chutou de fora da área e a bola foi no travessão.

Breitner também chutou de fora da área, Ettori espalmou para o lado e mergulhou para evitar o rebote de Fischer. Uma defesaça!


(Imagem: Pinterest)

● Na prorrogação o jogo pegou fogo de vez.

Logo no segundo minuto do tempo extra, Didier Six cobrou escanteio e a defesa alemã tirou. Platini ficou com o rebote na ponta direita e foi derrubado por Hans-Peter Briegel. Giresse cobrou a falta, a bola desviou na barreira e sobrou na marca do pênalti, na medida para Marius Trésor emendar um voleio indefensável para o gol.

Littbarski, um dos melhores em campo, chutou e Ettori pegou.

Até os alemães estavam torcendo para a França. Mas se Schumacher era o vilão, Karl-Heinz Rummenigge era o anti-herói. Mesmo em más condições físicas, Rummenigge foi para o jogo aos sete minutos e seria decisivo. O melhor jogador do mundo no ano anterior era o único capaz de carregar sua equipe mesmo sem estar no seu melhor. Mas antes, veria a Mannschaft tomar o terceiro gol.

No minuto seguinte, Dominique Rocheteau puxou contragolpe pela direita. Da meia-lua, Platini viu Didier Six sozinho na esquerda da área. Ele segurou, percebeu a aproximação de Giresse e rolou para o baixinho emendar bonito, da risca da grande área. A bola ainda bateu na trave antes de ir morrer no fundo das redes.

Sem sorte, a Alemanha respondeu com um chute na trave de Fischer.

Aos 12′, Uli Stielike ganhou uma dividida com Bossis. Rummenigge passou para Littbarski na esquerda, recebeu de volta e deixou para Stielike abrir de novo para Littbarski invadir a área e cruzar da esquerda. Rummenigge se antecipou à marcação de Trésor e desviou de costas para o gol.

A presença de Rummenigge desorientava a defesa francesa. Aos três minutos do segundo tempo, o craque tocou de três dedos para Bernd Förster, que abriu na esquerda para Littbarski. O ponta alemão continuava impressionante. Ele foi à linha de fundo e cruzou da esquerda para a segunda trave. Hrubesch subiu e escorou de cabeça para a entrada da pequena área e Klaus Fischer virou uma linda bicicleta e mandou para o gol.

O jogo continuou intenso até o apito final, mas sem grandes chances de nenhum lado.

E assim foi necessária a primeira decisão por pênalti da história dos Mundiais.


(Imagem: These Football Times)

● Tudo igual em 120 minutos e a partida foi decidida nos pênaltis.

A França bateu o primeiro. Giresse pôs o time na frente, batendo rasteiro à direita, deslocando Schumacher.

Manfred Kaltz empatou, cobrando à esquerda, quase no meio do gol. Ettori caiu para o lado direito.

Manuel Amoros cobrou com calma, à meia altura e à esquerda, enquando o goleiro alemão foi para o outro canto.

Paul Breitner mandou alto e no meio do gol. Ettori foi surpreendido e ficou parado, sem reação.

Rocheteau foi o cobrador seguinte. Bateu à esquerda, deslocando o arqueiro alemão.

Uli Stielike, jogador do Real Madrid, bateu mal, à meia altura e à direita e o goleiro Ettori defendeu. O alemão se ajoelhou e chorou, até ser conduzido por Littbarski para receber o consolo dos demais colegas de equipe.

Mas Didier Six retribuiu e bateu da mesma forma e Schumacher pegou.

Littbarski empatou em 3 a 3. Ele mandou no ângulo esquerdo, sem chances para o goleiro.

Platini converteu o seu, batendo à esquerda, enquanto o arqueiro alemão pulou para o lado contrário.

Rummenigge bateu rasteiro à esquerda e o goleiro ficou parado.

Maxime Bossis foi um dos melhores em campo e foi um dos grandes defensores de sua geração. Ele foi o primeiro a bater nas cobranças alternadas. Chutou rasteiro e à direita, mas Schumacher voou para pegar. O goleiro que deveria ter sido expulso e banido do esporte por um longo tempo era o vilão do futebol e o heróis dos alemães.

Com uma frieza incrível, Horst Hrubesch bateu no canto esquerdo e Ettori ficou parado no meio. Gol da classificação: 5 a 4 para a Alemanha Ocidental. Com a vitória, todos vão comemorar com Stielike, que ainda estava desolado.


(Imagem: Mais Futebol)

● Uma partida dramática, uma das maiores semifinais da história das Copas.

A Nationalelf se garantia em mais uma decisão de Mundial, enquanto os franceses estavam inconsoláveis. Uma das derrotas mais doídas numa semifinal de Copa do Mundo.

“Foi meu jogo mais bonito. O que aconteceu naquelas duas horas reuniu todos os sentimentos da própria vida. Nenhum filme, nenhuma peça, conseguiria capturar tantas contradições e emoções. Foi completo. Tão forte. Fabuloso.” ― Michel Platini

Na decisão do 3º lugar, a França perdeu para a Polônia por 3 x 2. Mas dois anos depois, Michel Platini estava exuberante e liderou Les Bleus na conquista da Eurocopa de 1984. Na Copa do Mundo de 1986, a França eliminou o Brasil e chegou novamente às semifinais, mas caiu mais uma vez diante da Alemanha Ocidental. Ficou em 3º lugar ao bater a Bélgica por 4 x 2 na prorrogação. O título mundial só veio em 1998, na geração comandada por Zinedine Zidane.

Em quatro decisões por pênaltis somando todos os Mundiais, a Alemanha sempre foi vencedora. Incrivelmente, a cobrança de Uli Stielike contra a França em 1982 é a única penalidade perdida até hoje pela Alemanha nesse tipo de disputa.

Na final, a Alemanha Ocidental enfrentaria a Itália. Contaremos a história dessa partida no dia 11 de julho.


(Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 3 x 3 FRANÇA

 

Data: 08/07/1982

Horário: 21h00 locais

Estádio: Ramón Sánchez Pizjuán

Público: 70.000

Cidade: Sevilha (Espanha)

Árbitro: Charles Corver (Holanda)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-4-2):

FRANÇA (4-4-2):

1  Harald Schumacher (G)

22 Jean-Luc Ettori (G)

20 Manfred Kaltz (C)

4  Maxime Bossis

4  Karlheinz Förster

8  Marius Trésor

15 Uli Stielike

5  Gérard Janvion

5  Bernd Förster

2  Manuel Amoros

6  Wolfgang Dremmler

9  Bernard Genghini

2  Hans-Peter Briegel

14 Jean Tigana

3  Paul Breitner

12 Alain Giresse

14 Felix Magath

10 Michel Platini (C)

7  Pierre Littbarski

18 Dominique Rocheteau

8  Klaus Fischer

19 Didier Six

 

Técnico:
Jupp Derwall

Técnico: Michel Hidalgo

 

SUPLENTES:

 

 

21 Bernd Franke (G)

1  Dominique Baratelli (G)

22 Eike Immel (G)

21 Jean Castaneda (G)

12 Wilfried Hannes

3  Patrick Battiston

19 Holger Hieronymus

6  Christian Lopez

17 Stephan Engels

7  Philippe Mahut

18 Lothar Matthäus

11 René Girard

10 Hansi Müller

13 Jean-François Larios

13 Uwe Reinders

15 Bruno Bellone

16 Thomas Allofs

16 Alain Couriol

9  Horst Hrubesch

17 Bernard Lacombe

11 Karl-Heinz Rummenigge

20 Gérard Soler

 

GOLS:

17′ Pierre Littbarski (ALE)

27′ Michel Platini (FRA) (pen)

92′ Marius Trésor (FRA)

98′ Alain Giresse (FRA)

102′ Karl-Heinz Rummenigge (ALE)

108′ Klaus Fischer (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

35′ Alain Giresse (FRA)

40′ Bernard Genghini (FRA)

46′ Bernd Förster (ALE)

 

SUBSTITUIÇÕES:

50′ Bernard Genghini (FRA) ↓

Patrick Battiston (FRA) ↑

 

60′ Patrick Battiston (FRA) ↓

Christian Lopez (FRA) ↑

 

73′ Felix Magath (ALE) ↓

Horst Hrubesch (ALE) ↑

 

97′ Hans-Peter Briegel (ALE) ↓

Karl-Heinz Rummenigge (ALE) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

ALEMANHA 5

FRANÇA 4

Manfred Kaltz (gol, no meio do gol)

Alain Giresse (gol, à direita)

Paul Breitner (gol, alto, no meio do gol)

Manuel Amoros (gol, à esquerda)

Uli Stielike (perdeu, à direita, defendido por Ettori)

Dominique Rocheteau (gol, à esquerda)

Pierre Littbarski (gol, no ângulo esquerdo)

Didier Six (perdeu, à direita, defendido por Schumacher)

Karl-Heinz Rummenigge (gol, com curva, no canto esquerdo)

Michel Platini (gol, no canto esquerdo)

Horst Hrubesch (gol, à esquerda)

Maxime Bossis (perdeu, à direita, defendido por Schumacher)

Gols da partida (Rede Globo):

Melhores momentos (FIFA):

Reportagem e entrevistas com Schumacher e Battiston (FIFA):

… 21/06/1986 – Brasil 1 x 1 França

Três pontos sobre…
… 21/06/1986 – Brasil 1 x 1 França


(Imagem: Trivela)

● Das quatro partidas das quartas de final, essa era a mais aguardada. Havia Argentina vs. Inglaterra, envolvidas recentemente em uma guerra. Mas, em âmbito esportivo, Brasil e França tinham uma qualidade técnica conjunta muito maior. Para muitos, era o encontro entre os dois melhores times da Copa de 1982. Mas agora, estavam envelhecidos quatro anos e com os elencos parcialmente renovados.

O futebol francês vivia o melhor momento até então, causando uma euforia sem precedentes. Tinha um estilo de jogo moderno para a época e havia amadurecido com as derrotas de 1978 e 1982. Michel Platini, Dominique Rocheteau e Maxime Bossis eram os remanescentes das duas Copas anteriores.

O técnico era Henri Michel, titular do meio campo francês em 1978. Ele foi o comandante do time que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1984 – curiosamente, sobre o Brasil na final. Fiel seguidor de seu antecessor Michel Hidalgo, ele pouco modificou o sistema tático usado nas Copas anteriores.

Tinha um time muito forte, semifinalista da Copa de 1982 e campeã da Eurocopa de 1984. O maestro Michel Platini vivia o auge da forma. Craque de bola, ele era ao mesmo tempo um armador e um finalizador. Era o arco e a flecha. Foi eleito o Bola de Ouro nos três anos anteriores (1983, 1984 e 1985) pela revista France Football, como melhor jogador da Europa.

Na estreia, a França venceu o Canadá por 1 x 0. Depois, empatou com a União Soviética por 1 x 1 e bateu a Hungria por 3 x 0. Se classificou em 2º lugar no Grupo C, atrás da URSS no saldo de gols (+4, contra +8 dos soviéticos). Nas oitavas de final, venceu a Itália, então campeã do mundo, derrubando uma invencibilidade de sessenta anos dos italianos diante dos franceses.

O Brasil tinha um bom time. Mas o futebol que encantou o mundo em 1982, apareceu apenas em lampejos quatro anos depois. Era o fim de uma geração talentosa, mas já próxima de seu fim. Sócrates começava seu declínio, enquanto Zico estava há um ano sem jogar e Falcão era reserva e já estava nos últimos dias de sua carreira. Na primeira fase, venceu Espanha e Argélia no sufoco, ambas por 1 x 0. Depois, houve uma ingênua impressão de evolução quando venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0. Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


A França também jogava no 4-4-2. O destaque era seu quarteto de meio campo, com muita qualidade técnica: Fernández, Tigana, Giresse e Platini.

● O Brasil já começou perdendo no sorteio para escolher campo ou bola e começou atacando para a esquerda das cabines de televisão – ao contrário das quatro partidas anteriores no estádio Jalisco, em Guadalajara, quando começava atacando para a direita. Mas a superstição não entrava em campo.

O primeiro tempo foi de altíssimo nível. A França atacou primeiro. Luis Fernández cruzou e a zaga brasileira rebateu. Platini recolheu, tabelou com Alain Giresse e chutou. A bola foi desviada e sobrou para Manuel Amoros encher o pé de esquerda. Passou bem perto da meta de Carlos.

O Brasil logo reagiu. Müller tocou para Careca no meio e ele deixou Sócrates em condição de finalizar. Cara a cara com o goleiro Bats, o Doutor chutou forte de esquerda, mas o arqueiro francês fechou bem o ângulo. Sócrates apanhou o rebote e lançou Branco na área, mas Jöel Bats dividiu e segurou firme.

Aos 17′, o goleiro Bats chutou a bola para a frente, Josimar recuperou a bola e deixou com Sócrates, que tocou para Elzo. O volante abriu na direita com Josimar. Vários jogadores participam da jogada, com dez trocas de passes precisas, abrindo espaço na defesa francesa, até culminar em uma envolvente tabela entre Müller e Júnior, que passou na medida para Careca sozinho na meia-lua. Ele bateu de primeira e colocou a bola no ângulo esquerdo de Bats.

Era o quinto gol de Careca no Mundial. Ele chegava com tudo para brigar pela artilharia com o inglês Gary Lineker.


(Imagem: Hipólito Pereira / O Globo)

O placar fazia justiça ao futebol apresentado pelo Brasil, que continuou no ataque. Houve um certo domínio e a impressão que venceria com facilidade. Aos 32 minutos, Sócrates lançou para Careca na ponta esquerda. Ele passou por Bossis e, da linha de fundo, cruzou para Müller. O chute do atacante sãopaulino explodiu na trave de Bats. Müller tinha vinte anos e havia sido a revelação do Campeonato Paulista de 1985. Tomou a vaga de Casagrande no time titular a partir da terceira partida, a vitória sobre a Irlanda do Norte por 3 x 0.

A França escapou do nocaute e acabou levando o Brasil para as cordas. Aos poucos, Les Bleus começaram a se arriscar mais no ataque. Não era uma equipe de intensidade física, mas trocava passes com muita inteligência.

Aos 40′, Manuel Amoros avançou e tocou para o meio. Alain Giresse abriu na ponta direita com Dominique Rocheteau, que cruzou rasteiro para a área. A bola desviou em Edinho e passou entre Carlos e Yannick Stopyra, sobrando mansinha para Platini, que só teve o trabalho de completar para o gol vazio, antes da chegada de Josimar. Platini completava 31 anos naquele dia. Foi o primeiro e seria o único gol sofrido por Carlos na Copa.

O equilíbrio e o nível técnico do jogo aumentaram ainda mais no segundo tempo, quando as duas equipes tiveram boas oportunidades para desempatar.

Aos 19′, Tigana tabelou com Rocheteau, invadiu a área e tentou encobrir Carlos, mas o goleiro brasileiro impediu o gol.

Na sequência desse lance houve o contragolpe brasileiro. E Sócrates avançou e entregou para Júnior, que encheu o pé da entrada da área, mas Bats fez a defesa espalmando para frente do jeito que deu.

O calor e a agilidade do jogo começam a cansar os franceses.

Aos 25′, Josimar fez um cruzamento perfeito e Careca cabeceou forte no travessão. Pela segunda fez, a França era salva pela trave.

Com o jogo cada vez mais acelerado, Telê Santana decide usar a carta que tinha na manga e coloca Zico em campo aos 26′. Depois de um ano se recuperando de uma lesão no joelho, o craque do Flamengo voltou a vestir a camisa da Seleção Brasileira. Dois minutos depois de entrar, ele fez um lançamento preciso e precioso para Branco invadir a grande área e ser derrubado por Bats.

Pênalti para o Brasil. Zico não esperava bater. O cobrador oficial era Sócrates, que, na euforia, deixou a incumbência para o Galinho, que ainda estava frio e totalmente sem ritmo de jogo. Aos 33 anos, Zico sabia que aquela seria a sua última chance de conquistar uma Copa e ele não queria desperdiçá-la. E pegou a bola sem tanta confiança. Mas, ao contrário de dezenas de pênaltis que converteu em sua bela carreira, dessa vez ele bateu mal, à meia altura e entre o meio do gol e a trave esquerda: o local mais propício para defesa do goleiro e foi o que aconteceu. Bats saltou e defendeu. Um erro incomum na carreira do Galinho. Certamente foi o pênalti mais dolorido que Zico perdeu na vida. Platini consolou o colega da camisa 10 brasileira.


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

Mas Zico ainda teve outra oportunidade de ouro para matar o jogo aos 43′. Josimar fez mais um cruzamento perfeito da direita e Zico, livre, cabeceou nas mãos de Bats.

O goleiro Bats vivia seu dia de glória. Quatro anos antes, ele lutou e venceu um câncer nos testículos. A poesia foi o refúgio no qual ele encontrou forças para suportar e tratar a doença.

No último minuto, mais uma chance para o Brasil, mas o chute de Josimar passou por cima.

A decisão foi mesmo para a prorrogação. Seriam necessários mais trinta minutos debaixo de um sol escaldante.


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

● E o jogo recomeçou com a França no ataque. Aos 7, Rocheteau arrancou em disparada desde o círculo central, passou por três brasileiros e foi travado por Júlio César. Stopyra pegou a sobra, mas também chutou em cima da defesa. Uma bela jogada de Rocheteau, em sua terceira Copa do Mundo.

O ritmo foi ficando mais lento, favorecendo a troca de passes dos Bleus. Platini passou a aparecer mais no jogo e de seus pés saíam as melhores jogadas francesas.

Aos 11′ do segundo tempo da prorrogação, ele fez um lançamento genial para Bruno Bellone arrancar sozinho e em posição legal. Mas, no desespero, Carlos saiu da área e segurou o atacante francês, que ainda tentou seguir na bola, mas se desequilibrou. Júlio César apareceu e afastou o perigo. O juiz deveria ter expulsado Carlos, mas sequer marcou a falta (que ocorreu fora da área), indicando que havia concedido uma duvidosa lei da vantagem – que acabou não ocorrendo, claro.

Um minuto depois, Careca cruzou rasteiro da ponta direita e a bola passou por Sócrates, dentro da pequena área e com o gol vazio à sua frente. O Doutor perdeu um gol feito. Foi a última oportunidade de um jogo repleto delas.

Mas o destino de Brasil e França seria decido nos tiros livres da marca do pênalti.


(Image: Hipólito Pereira / O Globo)

● O Brasil ganhou o sorteio e começou batendo. Completamente esgotado, Sócrates bateu de forma quase displicente, tomando pouca distância e ensaiando uma paradinha. Mas Bats não se moveu e Sócrates cobrou mal, à meia altura no canto direito, facilitando o trabalho do goleiro francês.

Os cobradores seguintes foram impecáveis. Stopyra bateu alto, no meio do gol e converteu para a França. Alemão bateu no canto esquerdo e fez para o Brasil. Amoros também chutou no canto esquerdo e anotou para a França. Zico se redimiu e marcou o seu: contrariando seu estilo clássico, chutou com raiva, forte, quase no meio do gol – 2 a 2 no placar.

Bruno Bellone contou com a sorte. Sua cobrança bateu no pé da trave esquerda, voltou nas costas do goleiro Carlos foi para o gol. Se Carlos tivesse ficado parado, a França teria desperdiçado a cobrança. Mas o goleiro brasileiro acertou o canto. E a bola, ao voltar da trave, bateu em seu ombro e tomou o rumo do gol.

Os brasileiros discutiram a validade do gol, achando que não valia. Mas foi válido. A FIFA explicaria depois: o cobrador tem direito a um único toque na bola e a cobrança termina quando a bola entra ou não no gol, sendo ou não tocada pelo goleiro – a trave era neutra.

Branco encheu o pé esquerdo e estufou as redes, batendo do meio para direita de Bats.

Platini beijou a bola. Em sua carreira, ele já havia convertido muitos penais em situações decisivas. Mas dessa vez ele errou, mandando a bola por cima. Tudo igual de novo.

O ótimo zagueiro Júlio César (eleito para a Seleção do Mundial, junto com o lateral Josimar) tinha a chance de colocar o Brasil à frente. Ele disparou um canhão, com toda força contida em seu pé direito, mas a bola explodiu na trave.

Luis Fernandéz teve a maior responsabilidade de sua carreira. E ele converteu com enorme categoria, no cantinho direito de Carlos, decretando a eliminação brasileira.

O Brasil, que sofreu apenas um gol em cinco partidas, terminava a Copa invicto e eliminado. Pela segunda vez consecutiva, a França estava nas semifinais.


(Imagem: Trivela)

● Certamente essa foi a melhor partida da Copa de 1986, cumprindo as expectativas. As duas equipes mostraram um futebol refinado, técnico e leal – tanto, que o árbitro não precisou apresentar nenhum cartão nos 120 minutos de bola rolando. “Os dois mereciam ganhar”, afirmou o jornal ABC de Madri.

Assim como em 1978, a Seleção foi eliminada mesmo terminando a competição invicta. No cômputo geral, ficou na 5ª posição.

Carlos ficou com fama de azarado pelo pênalti, mas foi o goleiro menos vazado da competição.

Essa foi a única partida que a Seleção não venceu em Copas disputadas no México. Somando 1970 e 1986, foram 11 jogos, com 10 vitórias e um empate com sabor de derrota.

“Escolhi o Júlio César porque era o melhor nos treinos. E Careca bate mal.” ― Telê Santana, explicando a opção pelo zagueiro nas cobranças de pênaltis.

“Em 1982, eu acertei, mas a França perdeu. Hoje, eu errei, mas nos classificamos. Prefiro assim.” ― Michel Platini.

“Se a Copa do Mundo tivesse sido disputada anualmente entre 1982 e 1986, a França ganharia duas ou três vezes.” ― Michel Platini

Após passar pelo Brasil nas quartas de final, a França perdeu para a Alemanha Ocidental por 2 x 0 nas semifinais. Na decisão do 3º lugar, venceu a Bélgica por 4 x 2.


(Imagem: Pedro Martinelli / Veja)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 1 FRANÇA

 

Data: 21/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 65.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Ioan Igna (Romênia)

 

BRASIL (4-4-2):

FRANÇA (4-4-2):

1  Carlos (G)

1  Joël Bats (G)

13 Josimar

2  Manuel Amoros

14 Júlio César

4  Patrick Battiston

4  Edinho (C)

6  Maxime Bossis

17 Branco

8  Thierry Tusseau

19 Elzo

9  Luis Fernández

15 Alemão

14 Jean Tigana

6  Júnior

12 Alain Giresse

18  Sócrates

10 Michel Platini (C)

7  Müller

18 Dominique Rocheteau

9  Careca

19 Yannick Stopyra

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Henri Michel

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

22 Albert Rust (G)

22 Leão (G)

21 Philippe Bergeroo (G)

2  Édson Boaro

5  Michel Bibard

3  Oscar

7  Yvon Le Roux

16 Mauro Galvão

3  William Ayache

5  Falcão

15 Philippe Vercruysse

20 Silas

13 Bernard Genghini

21 Valdo

11 Jean-Marc Ferreri

10 Zico

16 Bruno Bellone

11 Edivaldo

20 Daniel Xuereb

8  Casagrande

17 Jean-Pierre Papin

 

GOLS:

17′ Careca (BRA)

40′ Michel Platini (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

71′ Müller (BRA) ↓

Zico (BRA) ↑

 

84′ Alain Giresse (FRA) ↓

Jean-Marc Ferreri (FRA) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO Júnior (BRA) ↓

Silas (BRA) ↑

 

99′ Dominique Rocheteau (FRA) ↓

Bruno Bellone (FRA) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

BRASIL 3

FRANÇA 4

Sócrates (perdeu, à direita, defendido por Joël Bats)

Yannick Stopyra (gol, no alto, no meio do gol)

Alemão (gol, no canto esquerdo)

Manuel Amoros (gol, no canto esquerdo)

Zico (gol, forte, no meio do gol)

Bruno Bellone (gol, na trave esquerda, voltou nas costas do goleiro Carlos e foi para o gol)

Branco (gol, forte, no meio do gol, um pouco à direita de Bats)

Michel Platini (perdeu, por cima do ângulo esquerdo)

Júlio César (perdeu, na trave direita)

Luis Fernández (gol, no canto direito)


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

Melhores momentos da partida:

Jogo completo: