… 02/07/1982 – Brasil 3 x 1 Argentina

Três pontos sobre…
… 02/07/1982 – Brasil 3 x 1 Argentina


(Imagem: UOL)

● Pela terceira Copa do Mundo seguida, Brasil e Argentina se enfrentavam na segunda fase. Nas duas vezes anteriores eram quadrangulares, mas dessa vez eram três times e só o vencedor da chave passava às semifinais. Os pesos-pesados Brasil, Argentina e Itália estavam no mesmo grupo. Esse foi o verdadeiro conceito de um “grupo da morte”.

O técnico Telê Santana contava com um excelente time, com destaque para o quarteto de meio campo: Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico. No comando da Seleção, Telê havia perdido apenas duas partidas: uma em seu segundo jogo (15/06/1980), no amistoso contra a URSS no Maracanã (1 x 2), e outra na final no Mundialito (em 10/01/1980), contra o Uruguai (1 x 2).

O time chegou em plena forma à Espanha e obteve 100% de aproveitamento na primeira fase. Primeiro venceu de virada o bom time da União Soviética por 2 x 1. Depois, goleou Escócia (4 x 1) e Nova Zelândia (4 x 0). Discutivelmente, era o melhor time do mundo e encantava pelo jogo leve e vistoso. Mas o primeiro desafio “de verdade” seria o clássico sul-americano.

A Argentina chegou como campeã do mundo, mas estreou perdendo para a Bélgica por 1 x 0. Depois, venceu a Hungria por 4 x 1 e El Salvador por 2 x 0. Na primeira partida da fase final, perdeu para a Itália por 2 x 1. Agora, precisava vencer o Brasil para ainda ter alguma chance de classificação.

O treinador portenho César Luis Menotti montou um time com jogadores talentosos, mas não conseguiu repetir 1978. O time titular era praticamente o mesmo, com um “pequeno acréscimo”: o jovem Diego Armando Maradona.

Por ter obtido uma melhor colocação na primeira fase, a Seleção Brasileira pôde ter mais tempo para se preparar. Foram nove dias entre a vitória sobre a Nova Zelândia e o jogo contra os hermanos. Folgou na primeira rodada do triangular e assistiu de camarote à vitória por 2 x 1 dos italianos sobre os argentinos – que ainda perderam o volante Américo Gallego para a partida decisiva, expulso por chutar Marco Tardelli sem bola.


O Brasil atuava no 4-4-2, um sistema montado para acomodar os quatro destaques no meio campo. Os laterais eram bastante ofensivos e até o zagueiro Luizinho gostava de se aventurar no ataque. Faltava alguém na ponta direita, tanto para atacar, quanto para defender.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque e Maradona recuando para armar o jogo, aparecendo em todos os lados.

● Esse era o duelo esperado pelo mundo todo: a equipe que estava apresentando o melhor e mais técnico futebol, contra os atuais campeões do mundo. E só a vitória valia para o albicelestes.

Por isso, a Argentina começou com tudo. Logo aos dois minutos, Mario Kempes fez boa jogada pela esquerda e cruzou para a área. Juan Barbas cabeceou forte, mas Waldir Peres segurou firme.

Mas o jogo mudou aos 11 minutos de partida. Após um contra-ataque rápido, Daniel Passarella fez falta em Serginho Chulapa na intermediária. Na cobrança, Éder soltou um de seus canhões e a bola fez uma curva impressionante. A bola merecia entrar direto, mas Ubaldo Fillol desviou de leve e ela explodiu na trave e quicou em cima da linha, sobrando limpa para Zico chegar antes de Serginho e só tocá-la para o gol vazio. Foi o quarto gol de Zico na Copa.

Mas o jogo continuou da mesma forma: a Argentina atacando o lado direito brasileiro (que não tinha um ponta para recompor e auxiliar a marcação, como Éder fazia pelo lado esquerdo) e o Brasil apostando nos contragolpes.

Falcão fez uma partida impecável, tanto defensiva quanto ofensivamente. Aos 33′, ele recebeu um belo passe de Leandro e chutou por cima, dando um susto em Fillol.

Aos 41′, Júnior lançou para Falcão, que tabelou com Sócrates pelo alto e bateu de esquerda, sem deixar a bola cair. Novamente a bola foi por cima do gol argentino.

Maradona cobrou escanteio, Passarella subiu entre Sócrates e Oscar e cabeceou bem, mas Waldir espalmou para cima.

No segundo tempo, a Argentina voltou com Ramón Díaz no lugar de Mario Kempes. Com isso, Maradona passou a jogar mais recuado, articulando o jogo e livre para se movimentar.

Aos 2′, o bom volante Osvaldo Ardiles foi o protagonista da primeira das muitas pancadas distribuídas pelos argentinos. Ele deu um pisão no tornozelo de Sócrates, que precisou ser atendido por mais de cinco minutos fora dos gramados.

Poucos minutos depois, Maradona fez uma linda jogada individual e deixou Júnior no chão. O lateral brasileiro levantou e deu um imprudente carrinho por trás, atingindo o tornozelo do Pibe dentro da área, mas o árbitro mandou o jogo seguir de forma equivocada – foi pênalti.

Aos 10′, Cerezo arriscou de fora da área e Fillol defendeu bem. Em uma cobrança de falta ensaiada cinco minutos depois, Éder rolou para Cerezo chutar novamente de longe e assustar o arqueiro argentino.

Pelo futebol apresentado, o segundo gol brasileiro demorou muito, mas o intervalo entre um gol e outro foi de futebol extraordinário, mágico, que encantava os 44 mil expectadores no estádio Sarrià, em Barcelona. O foco estava em Maradona, mas a estrela foi Zico.

Aos 21′, Sócrates abriu com Éder na esquerda e o ponta deixou com Zico no meio. O Galinho de Quintino viu Falcão aparecendo no espaço vazio na ponta direita e lançou no ponto futuro, nas costas do lateral esquerdo Alberto Tarantini. Falcão dominou, levantou a cabeça e cruzou na segunda trave para Serginho cabecear de cima para baixo, sem chances para Fillol. Foi uma linda e envolvente troca de passes do escrete canarinho, que resultou no segundo gol de Chulapa no Mundial. Brasil 2 a 0.

Cada gol era comemorado com muita extravagância. Fazia parte do espetáculo que só o brasileiro era capaz de proporcionar, dentro e fora de campo.


(Imagem: Veja)

A Argentina não conseguia construir jogadas de perigo. Sempre parava na entrada da área brasileira e tinha dificuldades de recuperar a posse de bola. O placar poderia estar ainda maior se o Brasil não perdesse tantos gols.

A linha de impedimento muito mal feita pelos argentinos rendeu também o terceiro gol brasileiro, aos 30′. Sócrates deixou de calcanhar para Falcão. O Rei de Roma tabelou com Éder. Júnior recebeu e deixou com Zico no meio. Com muita visão de jogo, o camisa 10 percebeu a infiltração do lateral flamenguista e fez o passe perfeito em profundidade na diagonal, nas costas da defesa. Júnior recebeu livre e tocou de esquerda entre as pernas de Fillol. Brasil 3 a 0.

“A diagonal é fundamental, porque é a possibilidade de a bola chegar e o cara não entrar em impedimento.” ― Zico

Na base do desespero, até Passarella se lançou à frente. Aos 32 min, Maradona deixou o capitão em condição de finalizar, próximo ao bico da grande área. Ele chutou bem, mas Waldir desviou para escanteio em uma ótima defesa.

Pouco depois, o mesmo Passarella perdeu a compostura e deu uma entrada criminosa em Zico. O meia brasileiro precisou sair para a entrada de Batista. Telê tinha acabado de colocar Edevaldo no lugar de Leandro, que havia sentido uma lesão ainda durante o treinamento.

Aos 40′, Batista deu uma entrada dura em Juan Barba, Maradona revidou com um coice no estômago do brasileiro e foi prontamente expulso pelo juiz mexicano Mario Rubio Vázquez. Na reclamação, Falcão recebeu o primeiro cartão amarelo da Seleção Brasileira em todo o Mundial.

“Na verdade, o Maradona me disse depois que a intenção dele era dar aquela pancada em mim. Só depois ele deu percebeu que era o Batista.” ― Falcão

Maradona extravasou toda sua frustração em uma falta maldosa. Certamente ele queria ter feito mais em sua primeira Copa do Mundo, mas sofreu nas mãos de zagueiros maldosos (especialmente do italiano Claudio Gentile) e de árbitros condescendentes.

Menotti buscava no cigarro o consolo habitual e os albicelestes só marcaram o gol de honra no último minuto de jogo por causa de um erro na saída de bola brasileira. Tatantini roubou a bola de Batista e tocou para Ramón Díaz na entrada da área. O argentino viu o Waldir Peres adiantado e chutou de esquerda com efeito, acertando no ângulo direito do goleiro brasileiro.

Essa foi a apresentação mais espetacular da Seleção de 1982. Com esse resultado, a Argentina estava eliminada e o Brasil jogaria por um empate com a Itália para ir às semifinais da Copa de 1982.


(Imagem: Veja)

“As oportunidades apareceram, o jogo fluiu e a gente fez jogadas realmente muito boas, gols maravilhosos. A Argentina precisava ganhar. Veio, se abriu, apareceram os espaços. No primeiro gol, eu meti a bola pro Serginho no meio de dois argentinos, e o Passarella, último homem, fez a falta que o Éder bateu e eu fiz o gol. O segundo gol, quando eu dominei a bola, o Falcão passou pelo lado, eu meti a bola pra ele e ele deu pro Serginho fazer o gol. E o terceiro gol, a mesma coisa. Já tinham acontecido jogadas que a gente entrava na cara do gol toda hora. Aquele time da Argentina fazia muita linha [de impedimento], e aí ficava muito fácil.” ― Zico

Com apenas 21 anos, Maradona já tinha a marra que lhe acompanharia até os dias de hoje. Ele passou a cobrar US$ 5 mil para cada entrevista concedida a partir da segunda fase. E já atacava seus críticos: “Pelé precisa estar no time e enfrentar a marcação constante de quatro defensores para depois opinar”. E continuou alfinetando o Rei do Futebol na chegada a Buenos Aires, após a eliminação da Argentina: “Pelé é um tagarela que tem de falar de mim ou de Rummenigge para sair nas revistas”.

Na comemoração do terceiro gol brasileiro, o Maestro Júnior sambou ao som imaginário da música que ele mesmo gravou poucos meses antes do Mundial: “Povo feliz”, conhecida pelo refrão: “voa canarinho, voa”. Composta por Memeco e Nonô do Jacarezinho, a música foi a trilha sonora dos bailes brasileiros em gramados espanhóis. O compacto alcançou o certificado de disco de platina, com 726 mil cópias vendidas.

Na partida seguinte, o Brasil perdeu por 3 x 2 para a Squadra Azzurra e deu adeus à competição. Mas mesmo assim, a Seleção de 1982 entrou para a história como uma das melhores e mais vistosas equipes de todos os tempos.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 1 ARGENTINA

 

Data: 02/07/1982

Horário: 17h15 locais

Estádio: Sarrià

Público: 44.000

Cidade: Barcelona (Espanha)

Árbitro: Mario Rubio Vázquez (México)

 

BRASIL (4-3-3):

ARGENTINA (4-3-3):

1  Waldir Peres (G)

7  Ubaldo Fillol (G)

2  Leandro

14 Jorge Olguín

3  Oscar

8  Luis Galván

4  Luizinho

15 Daniel Passarella (C)

6  Júnior

18 Alberto Tarantini

5  Toninho Cerezo

1  Osvaldo Ardiles

15 Falcão

3  Juan Barbas

10 Zico

10 Diego Armando Maradona

8  Sócrates (C)

4  Daniel Bertoni

9  Serginho Chulapa

5  Gabriel Calderón

11 Éder

11 Mario Kempes

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: César Luis Menotti

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Sérgio (G)

2  Héctor Baley (G)

22 Carlos (G)

16 Nery Pumpido (G)

13 Edevaldo

19 Enzo Trossero

14 Juninho Fonseca

22 José Van Tuyne

16 Edinho

13 Julio Olarticoechea

17 Pedrinho Vicençote

9  Américo Gallego

18 Batista

12 Patricio Hernández

7  Paulo Isidoro

21 José Daniel Valencia

19 Renato Pé Murcho

17 Santiago Santamaría

20 Roberto Dinamite

6  Ramón Díaz

21 Dirceu

20 Jorge Valdano

 

GOLS:

11′ Zico (BRA)

66′ Serginho Chulapa (BRA)

75′ Júnior (BRA)

89′ Ramón Díaz (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

33′ Daniel Passarella (ARG)

77′ Waldir Peres (BRA)

85′ Falcão (BRA)

 

CARTÃO VERMELHO: 85′ Diego Armando Maradona (ARG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Mario Kempes (ARG) ↓

Ramón Díaz (ARG) ↑

 

64′ Daniel Bertoni (ARG) ↓

Santiago Santamaría (ARG) ↑

 

82′ Leandro (BRA) ↓

Edevaldo (BRA) ↑

 

83′ Zico (BRA) ↓

Batista (BRA) ↑

Veja aqui os belos gols da partida:

Música “Voa canarinho, voa”, com imagens da Seleção Brasileira na Copa de 1982:

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