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… 15/07/1966 – Hungria 3 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 15/07/1966 – Hungria 3 x 1 Brasil


(Imagem: Pinterest)

● Como já contamos aqui, a preparação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 1966 foi uma bagunça homérica, com 47 jogadores convocados. Após várias bizarrices, o escrete canarinho acabou se tornou uma mescla mal feita entre alguns craques bicampeões nas duas Copas anteriores, com Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Zito, Garrincha e Pelé, além de jogadores que viriam a encantar o mundo em 1970, como Brito, Gérson, Tostão e Jairzinho. Várias unanimidades ficaram fora da lista final, como Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Roberto Dias, Servílio e outros.

Em termos de qualidade, a Hungria não ficava atrás. No qualificatório europeu, terminou com três vitórias e um empate, deixando para trás a Alemanha Oriental e a Áustria. Com esse mesmo time base, havia conquistado a medalha de bronze nas Olimpíadas de Roma, em 1960. Depois, terminou em 3º lugar na Eurocopa de 1964 e ficou com a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Tóquio, também em 1964. Os maiores destaques eram o defensor Kálmán Mészöly, o ponta direita Ferenc Bene e o atacante Flórián Albert, que seria eleito o Bola de Ouro de 1967.

A Hungria perdeu para Portugal por 2 x 1 na primeira partida.

O Brasil começou bem, vencendo uma frágil Bulgária por 2 a 0, na última partida de Pelé e Garrincha juntos pela Seleção. Eles nunca perderam atuando juntos. Foram 40 partidas, com 36 vitórias e quatro empates. Curiosamente os dois gols contra os búlgaros foram em cobranças de falta diretas, um anotado pelo Rei e outro por Mané.


Ambas as equipes jogavam no sistema tático 4-2-4.

● Pelé havia levado tanta pancada no jogo contra a Bulgária, que não teve condições físicas de enfrentar a Hungria. Ele foi substituído por Tostão. No meio, saiu Denílson e entrou Gérson, com Lima recuado para a marcação.

Mesmo sem o Rei, o Brasil começou no ataque e dei um susto no goleiro húngaro logo no pontapé inicial. Tostão e Alcindo Bugre deram a saída de bola e rolaram para Gérson mais atrás. Ele passou para Tostão, que abriu na esquerda para Paulo Henrique, que deu um passe vertical para Jairzinho. O craque arrancou na diagonal da esquerda para o meio, deixou Benő Káposzta no chão e avançou até parar na marcação de Ferenc Sipos. Gérson pegou a sobra, atrasou para Lima, que abriu na direita para Djalma Santos. Ele avançou e devolveu para Lima na intermediária ofensiva. O coringa do Santos dominou e bateu com veneno de muito longe. A bola ia no ângulo, mas o goleiro József Gelei voou para espalmar para escanteio.

Mas na sequência retrucou. János Farkas chutou de longe e Gylmar voou no canto esquerdo baixo para mandar a bola para a linha de fundo.

O início do jogo estava muito acelerado. Ainda no segundo minuto, Ferenc Bene invadiu a área pelo lado direito, deixou Altair sentado, cortou a marcação de Bellini e bateu de perna esquerda no contrapé de Gylmar. Hungria, 1 a 0.

Mas o Brasil empatou aos 14′. Paulo Henrique fez o lançamento e Gyula Rákosi cortou com a mão. Falta da intermediária. Lima bateu forte e rasteira, a bola desviou em Sándor Mátrai e sobrou para Tostão na marca do pênalti. De primeira, o craque do Cruzeiro mandou no ângulo esquerdo. 1 a 1.

O escrete canarinho quase conseguiu a virada. Tostão cruzou da ponta esquerda, a bola passou pelo goleiro Gelei e bateu em Alcindo – que não conseguiu finalizar direito. A bola estava entrando no gol, mas o capitão Sipos tirou em cima da linha e impediu o gol certo.

Não era mesmo o dia de Alcindo. Ainda aos 20′ do primeiro tempo, ele torceu o tornozelo sozinho e se lesionou, perdendo a mobilidade e ficando estático em campo.

No segundo tempo, Flórián Albert abriu na direita e Bene fez o cruzamento para a área. A bola desviou na marcação e sobrou para Farkas. Dentro da área, ele bateu de primeira. A bola saiu à esquerda, mas assustou muito o goleiro Gylmar.

O Brasil escapou de Farkas uma vez, mas não escaparia da segunda. Aos 19′, Bene cruzou para a marca do pênalti e János Farkas emendou de primeira, sem deixar cair. A bola foi no canto esquerdo, sem chances para o goleiro brasileiro. Hungria, 2 a 1.

O gol animou os magiares e desorientou os brasileiros. A Hungria se aproveitou da situação para ampliar.

Aos 28′, Albert arrancou desde a sua intermediária, passou entre Gérson e Lima e abriu na direita para Bene. No bico da grande área, ele deixou Altair no chão e foi derrubado por Paulo Henrique. Kálmán Mészöly bateu o pênalti forte e rasteiro, no canto direito de Gylmar, que nem pulou. Hungria, 3 a 1.


(Imagem: MTI / LVB)

Aos 33′, Albert avançou a bola desde a intermediária até quase a pequena área. Farkas surgiu de trás, pela esquerda, e bateu de pé esquerdo, colocando a bola no ângulo do Gylmar. A defesa brasileira não reclamou, mas o bandeirinha peruano Arturo Yamasaki apontou o impedimento de Bene, fora do lance.

O Brasil tentou correr atrás do prejuízo. Garrincha cobrou falta da direita e Alcindo bateu de primeira, mas a bola foi em cima do goleiro húngaro, que espalmou para escanteio.

Pouco depois, Paulo Henrique cruzou para a área e Gelei mergulhou para segurar.

Mas a Hungria continuava assustando nos contra-ataques. Bene viu a infiltração de Albert e fez o passe. Ele passou fácil pelo lento Bellini. Gylmar saiu mal do gol. Albert finalizou, mas a bola bateu no pé da trave e foi para fora.

Ao contrário do futebol defensivo visto na Copa até então, Brasil e Hungria jogaram para frente o tempo todo. No total, foram 56 ataques dos dois times.

A desilusão dos brasileiros foi enorme quando o árbitro inglês Ken Dagnall apitou o fim do jogo. O Brasil perdeu a sua primeira partida em uma Copa do Mundo desde 1954, quando havia sido derrotado pela mesma Hungria na famigerada Batalha de Berna. Curiosamente, Djalma Santos participou dessas duas partidas contra os magiares.

Ao todo, foram doze anos e treze jogos de invencibilidade em Copas. Foi o início do fim da ex-imbatível Seleção Brasileira.

Foi também o último dos 58 jogos de Garrincha pela Seleção Brasileira e ele só perdeu um: exatamente esse.


(Imagem: Magyarfutball.hu)

● A derrota não estava nos planos da delegação brasileira. O clima entre os jogadores e comissão técnica já era ruim, mas piorou ainda mais. A falta de união e o despreparo psicológico fizeram a situação ficar insustentável.

Para a última rodada, contra Portugal, o técnico Vicente Feola trocou quase todo o time e trouxe de volta Pelé, que estava em péssimas condições físicas. A marcação portuguesa caçou o Rei em campo e o deixou definitivamente fora de combate. Eusébio liderou a seleção lusitana que venceu o Brasil por 3 x 1. Vergonhosamente, a Seleção Brasileira, bicampeã nos dois Mundiais anteriores, estava eliminada na primeira fase da Copa do Mundo de 1966.

A Hungria encerrou sua participação com o segundo lugar do Grupo 3, após vencer a Bulgária por 3 x 1. Nas quartas de final, a Hungria foi eliminada ao perder para a União Soviética por 2 x 1.


(Imagem: Getty Images / Popperfoto)

FICHA TÉCNICA:

 

HUNGRIA 3 x 1 BRASIL

 

Data: 15/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Goodison Park

Público: 51.387

Cidade: Liverpool (Inglaterra)

Árbitro: Ken Dagnall (Inglaterra)

 

HUNGRIA (4-2-4):

BRASIL (4-2-4):

21 József Gelei (G)

1  Gylmar (G)

2  Benő Káposzta

2  Djalma Santos

3  Sándor Mátrai

4  Bellini (C)

5  Kálmán Mészöly

6  Altair

17 Gusztáv Szepesi

8  Paulo Henrique

13 Imre Mathesz

14 Lima

6  Ferenc Sipos (C)

11 Gérson

11 Gyula Rákosi

16 Garrincha

7  Ferenc Bene

18 Alcindo Bugre

9  Flórián Albert

20 Tostão

10 János Farkas

17 Jairzinho

 

Técnico: Lajos Baróti

Técnico: Vicente Feola

 

SUPLENTES:

 

 

1  Antal Szentmihályi (G)

12 Manga (G)

22 István Géczi (G)

3  Fidélis

4  Kálmán Sóvári

5  Brito

18 Kálmán Ihász

7  Orlando

14 István Nagy

9  Rildo

8  Zoltán Varga

13 Denílson

20 Antal Nagy

15 Zito

12 Máté Fenyvesi

22 Edu

15 Dezső Molnár

19 Silva Batuta

19 Lajos Puskás

10 Pelé

16 Lajos Tichy

21 Paraná

 

GOLS:

2′ Ferenc Bene (HUN)

14′ Tostão (BRA)

64′ János Farkas (HUN)

73′ Kálmán Mészöly (HUN) (pen)

Melhores momentos da partida:

… 09/06/1986 – França 3 x 0 Hungria

Três pontos sobre…
… 09/06/1986 – França 3 x 0 Hungria


(Imagem: AFP)

● A seleção francesa mantinha o mesmo time base de 1978 e 1982, mas estava ainda mais forte. O “quadrado mágico” do meio de campo ganhou mais qualidade com Luis Fernández fazendo companhia a Jean Tigana, Alain Giresse e Michel Platini.

Platini era, ao mesmo tempo, o arco e a flecha. Era o armador das melhores jogadas e o principal finalizado também. Com extraordinária habilidade, era o maestro de uma grande orquestra. Ele vivia o auge de sua forma técnica, sendo eleito o Bola de Ouro da revista France Football por três anos consecutivos – 1983, 1984 e 1985. Com nove gols em cinco jogos, foi também o craque do título da Eurocopa de 1984 – primeiro título relevante da história da seleção francesa. Além disso, foi também o jogador mais importante do primeiro título da Juventus na Copa dos Campeões da Europa, na temporada 1984/85.

O técnico era Henri Michel, ex-meio campista da seleção francesa. Ele foi o treinador da equipe que conquistou a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles. Michel levou para a seleção principal alguns dos campeões olímpicos, como o goleiro Albert Rust, o zagueiro Michel Bibard, o lateral Ayache (que logo se tornou titular), e os pontas Daniel Xuereb e José Touré. Mas Touré precisou ser cortado por ter os ligamentos do joelho rompidos em uma partida do Nantes na antiga Copa da UEFA. Para seu lugar foi convocado Jean-Pierre Papin, do Club Brugge, da Bélgica.

Por tudo isso, uma euforia sem precedentes tomou conta dos torcedores franceses. Eles se consideravam prontos para entrar para a história com o título mundial.


(Imagem: Agence France Presse)

● Em um grupo com franceses e soviéticos, a Hungria corria por fora. O histórico credenciava os magiares, com melhor retrospecto: dois vice-campeonatos mundiais (1938 e 1954) e três títulos olímpicos (1952, 1964 e 1968).

Além dos números, contava a seu favor o respeito ao futebol técnico, vistoso e bem jogado – algumas vezes até taxado de não ser competitivo por priorizar o jogo vistoso, muitas vezes de forma irresponsável.

Os destaques da seleção húngara eram o goleiro Péter Disztl, o lateral direito baixinho Sándor Sallai e o veloz Márton Esterházy. Mas o craque do time era o ponta de lança Lajos Détári, dono de ótima visão de jogo, rápido, inteligente, habilidoso e artiheiro. O desfalque foi o experiente meia Tibor Nyilasi, machucado.

Era considerada a melhor seleção húngara desde 1966.


Treinada por Henri Michel, a França atuava no sistema tático 4-4-2. O destaque era seu quarteto de meio campo, com muita qualidade técnica: Fernández, Tigana, Giresse e Platini.


A Hungria jogava no 4-4-2 clássico, com Lajos Détári carimbando todas as jogadas do time pelo meio.

● A vitória sobre o Canadá (1 x 0) e o empate com a União Soviética (1 x 1) deixou a França em boa situação no Grupo C. Bastaria um empate com a Hungria na última rodada para garantir a classificação.

A Hungria havia sido goleada na estreia pela URSS por 6 x 0. Se recuperou na segunda partida ao vencer o Canadá por 2 x 0. Contra os franceses, era tudo ou nada para os húngaros.

O primeiro tempo foi equilibrado, com um futebol vistoso e leve predomínio da França.

O placar foi aberto após 29 minutos jogados. Ayache recebeu lançamento e cruzou da direita. Yannick Stopyra apareceu sem marcação na segunda trave e cabeceou firme no ângulo do goleiro Péter Disztl.

Aos poucos o time do técnico Henri Michel começava a encontrar a sua melhor forma técnica. Principalmente após a saída do inoperante Papin para a entrada do experiente e participativo Dominique Rocheteau.

Aos 17′ do segundo tempo, Tigana avançou em velocidade desde seu próprio campo. Passou para Rocheteau, que antes da entrada da área, girou em cima de um marcador e devolveu. Tigana recebeu livre e ajeitou o corpo para bater firme de esquerda, no canto direito do goleiro. O segundo gol praticamente garantiu a vitória.

A Hungria chegou a mandar uma bola na trave no segundo tempo. Mas isso foi o máximo que conseguiu fazer diante de uma França imponente.

O terceiro gol dos gauleses saiu a seis minutos do apito final. Joël Bats repôs a bola em jogo com um chutão para frente. Platini deixou ela quicar e e dominou pelo lado esquerdo da grande área. Com uma visão de jogo incrível – que só os gênios têm –, ele viu a chegada de Rocheteau na segunda trave e cruzou de pé trocado. Rocheteau apareceu nas costas de um zagueiro e só teve o trabalho de dar um toquinho por cima do goleiro.


(Imagem: Eurosport)

● Com esses resultados, a França terminou em segundo lugar da chave, atrás da União Soviética no saldo de gols. Esse mesmo critério (saldo de gols de -7) foi o que impediu a Hungria de se classificar como um dos melhores terceiros.

Na sequência, a França eliminou a atual campeã Itália nas oitavas de final, com uma vitória por 2 a 0.

Nas quartas, outro duelo gigante, com a Seleção Brasileira, de Sócrates, Júnior, Zico, Müller, Careca, Edinho, Branco e outros grandes jogadores. Empate em 1 x 1 no tempo normal (com direito a pênalti perdido de Zico). Na decisão por penalidades, “Les Bleus” tiveram mais sorte e venceram por 4 a 3.

Na semifinal, a França enfrentou sua “asa negra”, a Alemanha Ocidental. Perdeu por 2 x 0, naquele que foi o “canto do cisne” daquela geração.

Encerrou a Copa conquistando o 3º lugar ao vencer a surpreendente Bélgica por 4 x 2. Essa campanha igualou a melhor classificação final da história francesa até então – já havia chegado em 3º em 1958.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 3 x 0 HUNGRIA

 

Data: 09/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Nou Camp

Público: 31.420

Cidade: León (México)

Árbitro: Carlos Silva Valente (Portugal)

 

FRANÇA (4-4-2):

HUNGRIA (4-4-2):

1  Joël Bats (G)

1  Péter Disztl (G)

2  Manuel Amoros

2  Sándor Sallai

4  Patrick Battiston

3  Antal Róth

6  Maxime Bossis

6 Imre Garaba (C)

3  William Ayache

4  József Varga

9  Luis Fernández

5  József Kardos

14 Jean Tigana

9  László Dajka

12 Alain Giresse

15 Péter Hannich

10 Michel Platini (C)

10 Lajos Détári

17 Jean-Pierre Papin

20 Kálmán Kovács

19 Yannick Stopyra

11 Márton Esterházy

 

Técnico: Henri Michel

Técnico: György Mezey

 

SUPLENTES:

 

 

22 Albert Rust (G)

18 József Szendrei (G)

21 Philippe Bergeroo (G)

22 József Andrusch (G)

5  Michel Bibard

14 Zoltán Péter

7  Yvon Le Roux

12 József Csuhay

8  Thierry Tusseau

13 László Disztl

15 Philippe Vercruysse

8  Antal Nagy

13 Bernard Genghini

16 József Nagy

11 Jean-Marc Ferreri

17 Győző Burcsa

16 Bruno Bellone

21 Gyula Hajszán

20 Daniel Xuereb

19 György Bognár

18 Dominique Rocheteau

7  József Kiprich

 

GOLS:

29′ Yannick Stopyra (FRA)

62′ Jean Tigana (FRA)

84′ Dominique Rocheteau (FRA)

 

CARTÕES
AMARELOS:

41′ William Ayache (FRA)

69′ Dominique Rocheteau (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Péter Hannich (HUN) ↓

Antal Nagy (HUN) ↑

 

61′ Jean-Pierre Papin (FRA) ↓

Dominique Rocheteau (FRA) ↑

 

65′ Kálmán Kovács (HUN) ↓

György Bognár (HUN) ↑

 

71′ Yannick Stopyra (FRA) ↓

Jean-Marc Ferreri (FRA) ↑

Gols da partida:

… 23/07/1966 – União Soviética 2 x 1 Hungria

Três pontos sobre…
… 23/07/1966 – União Soviética 2 x 1 Hungria


(Imagem: Magyarfutball.hu)

● Era um duelo entre duas seleções muito fortes. Ambas constavam no grupo das favoritas ao título. O Brasil era o candidato natural, por ter vencido as duas Copas anteriores (1958 e 1962). A Inglaterra era a dona da casa. A Espanha havia conquistado a Eurocopa de 1964. E a Alemanha Ocidental tinha um bom elenco, onde brilhavam o veterano atacante Uwe Seeler e uma jovem dupla no meio campo: Franz Beckenbauer e Wolfgang Overath.

A União Soviética estava na melhor fase de sua história. Em um espaço de dez anos, havia conseguido quase todos os títulos de sua sala de troféus, além de campanhas de destaque. Conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956, em Melbourne. Se sagrou vencedora da primeira edição da Eurocopa, em 1960, além de ter sido vice-campeã da Euro de 1964. Um nome se destacava dentre os demais e permaneceu como unanimidade durante todo esse período: Lev Yashin, o Aranha Negra, único goleiro a ter sido eleito o Bola de Ouro da revista France Football como o melhor jogador da Europa, em 1963. Nas eliminatórias, a URSS foi a líder do Grupo 7 da UEFA, com cinco vitórias e uma única derrota (para o País de Gales, quando já estava classificada), deixando para trás, além dos galeses, a Grécia e a Dinamarca.

Em termos de qualidade, a Hungria não ficava atrás. No qualificatório europeu, terminou com três vitórias e um empate, deixando para trás a Alemanha Oriental e a Áustria. Com esse mesmo time base, havia conquistado a medalha de bronze nas Olimpíadas de Roma, em 1960. Depois, terminou em 3º lugar na Eurocopa de 1964 e ficou com a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Tóquio, também em 1964. Os maiores destaques eram o volante Kálmán Mészöly, o ponta direita Ferenc Bene e o atacante Flórián Albert, que seria eleito o Bola de Ouro de 1967.

Em sua estreia, a União Soviética venceu a Coreia do Norte por 3 x 0. Depois, venceu a Itália por 1 x 0. Terminou a primeira fase com 100% de aproveitamento ao vencer o Chile por 2 x 1.

A Hungria perdeu para Portugal por 2 x 1 na primeira partida. Depois, venceu por 2 x 1 a Seleção Brasileira, então bicampeã do mundo. Encerrou sua participação com o segundo lugar do Grupo 3, após vencer a Bulgária por 3 x 1.


Ambas as equipes jogavam no sistema tático 4-2-4.

● Os dois goleiros acabariam por ser os dois principais destaques da partida. Enquanto Lev Yashin salvou a URSS, o goleiro húngaro fez o contrário. József Gelei era o terceiro goleiro de sua seleção. Ele tinha 28 anos e jogava FC Tatabánya, um time médio de seu país – o mesmo clube que havia revelado Gyula Grosics, maior arqueiro da história da Hungria, que disputou as Copas de 1954, 1958 e 1962. O titular era Antal Szentmihályi, do Újpest LK, mas ele não fez uma boa partida na estreia diante de Portugal e foi sacado pelo técnico Lajos Baróti. O reserva imediato era István Géczi, do Ferencváros TC, que estava lesionado. Assim, coube a Gelei defender a meta contra o Brasil. Fez um bom papel e foi mantido como titular para a sequência da competição. Mas, contra os soviéticos, ele falhou logo na primeira vez em que precisou mostrar serviço.

Logo aos cinco minutos, antes que o jogo esquentasse, aconteceu um lance curioso. O soviético Anatoliy Banishevskiy avançou pela ponta esquerda e, em disputa de bola, jogou o zagueiro húngaro Sándor Mátrai para cima dos repórteres. Ele demorou um pouco a se recuperar, mas voltou inteiro para o jogo. O árbitro espanhol Juan Gardeazábal Garay deu apenas escanteio.

Valeriy Porkujan cobrou escanteio curto, recebeu de volta e chutou fraco e rasteiro da ponta esquerda. Era uma bola fácil, mas Gelei deixou a bola passar por baixo de seu corpo. Igor Chislenko estava ligado no lance e chegou de carrinho para empurrar a bola que estava quase em cima da linha de gol, antes que o goleiro tivesse tempo para recuperar a bola.


(Imagem: Pinterest)

No restante do primeiro tempo, os húngaros tentaram recobrar o controle dos nervos, mas não conseguiram. O técnico Nikolai Morozov deu uma mostra de humildade rara entre os soviéticos e decidiu escalar Valery Voronin com a única e exclusiva obrigação de acompanhar Florián Albert por todo o campo – principal articulador das jogadas de ataque da seleção húngara.

No primeiro minuto do segundo tempo, Vasiliy Danilov deu um chutão para frente e foi prensado por Benő Káposzta. Em um lance bastante inusitado, a bola furou e caiu já murcha fora de campo. Uma cena muito rara na história das Copas.

Logo aos 2′, Gelei falhou novamente. Galimzyan Khusainov cobrou uma falta da direita, levantando a bola na pequena área da Hungria. O goleiro ficou parado e Porkujan cabeceou. A bola tocou na trave esquerda e entrou no gol.


(Imagem: Magyarfutball.hu)

Mas, em uma estratégia arriscada, os soviéticos recuaram diante do bom time húngaro.

Na base da força de vontade e superação os magiares saíram em busca do empate e chegaram a colocar os dez jogadores no campo de ataque. Era o volante Kálmán Mészöly quem liderava o time na técnica e no grito. A pressão foi tanta que o goleiro Lev Yashin precisou fazer pelo menos quatro defesas de grande envergadura. Mas só resultou em um único e insuficiente gol.

Mészöly se lançou de vez para o ataque. Aos 12′ , ele abriu na direita para Ferenc Bene tocar cruzado por cima de Yashin, que saía no lance.

A Hungria continuava atacando em busca do empate.

Gyula Rákosi cruzou da esquerda para a área. Mészöly dominou no peito e bateu de primeira, de esquerda, mas Porkujan fechou o espaço e impediu o empate. A defesa da URSS não conseguiu tirar de vez, a bola viajou e Rákosi chutou da entrada da área, mas a bola saiu à direita do gol de Lev Yashin.

Mais para o fim do jogo, Ferenc Bene deu uma bicicleta da entrada da grande área e a bola passou muito perto do travessão, chegando a tocar no suporte da rede e assustar Yashin.

Mas já era tarde demais para os húngaros. A URSS estava classificada para a única semifinal de sua história nas Copas do Mundo.

Nas semifinais, a URSS perdeu para a Alemanha Ocidental por 2 x 1. Terminou a competição em 4º lugar, após perder para Portugal por 2 x 1 na decisão do 3º lugar.


(Imagem: Magyarfutball.hu)

FICHA TÉCNICA:

 

UNIÃO SOVIÉTICA 2 x 1 HUNGRIA

 

Data: 23/07/1966

Horário: 15h00 locais

Estádio: Roker Park

Público: 26.844

Cidade: Sunderland (Inglaterra)

Árbitro: Juan Gardeazábal Garay (Espanha)

 

UNIÃO SOVIÉTICA (4-2-4):

HUNGRIA (4-2-4):

1  Lev Yashin (G)

21 József Gelei (G)

4  Vladimir Ponomaryov

2  Benő Káposzta

6  Albert Shesternyov (C)

17 Gusztáv Szepesi

12 Valery Voronin

6  Ferenc Sipos (C)

10 Vasiliy Danilov

3  Sándor Mátrai

8  Yozhef Sabo

5  Kálmán Mészöly

15 Galimzyan Khusainov

14 István Nagy

11 Igor Chislenko

7  Ferenc Bene

18 Anatoliy Banishevskiy

9  Flórián Albert

19 Eduard Malofeyev

10 János Farkas

17 Valeriy Porkujan

11 Gyula Rákosi

 

Técnico: Nikolai Petrovich Morozov

Técnico: Lajos Baróti

 

SUPLENTES:

 

 

21 Anzor Kavazashvili (G)

1  Antal Szentmihályi (G)

22 Viktor Bannikov (G)

22 István Géczi (G)

13 Alexey Korneyev

4  Kálmán Sóvári

7  Murtaz Khurtsilava

18 Kálmán Ihász

3  Leonīds Ostrovskis

13 Imre Mathesz

5  Valentin Afonin

8  Zoltán Varga

9  Viktor Getmanov

20 Antal Nagy

14 Giorgi Sichinava

12 Máté Fenyvesi

2  Viktor Serebryanikov

15 Dezső Molnár

16 Slava Metreveli

19 Lajos Puskás

20 Eduard Markarov

16 Lajos Tichy

 

GOLS:

5′ Igor Chislenko (URSS)

46′ Valeriy Porkujan (URSS)

57′ Ferenc Bene (HUN)


(Imagem: Magyarfutball.hu)

Melhores momentos da partida:

… 30/06/1954 – Hungria 4 x 2 Uruguai

Três pontos sobre…
… 30/06/1954 – Hungria 4 x 2 Uruguai


(Imagem: The Guardian)

● Considerada uma das maiores partidas da história do futebol, era o duelo entre os dois principais favoritos ao título.

O Uruguai era a única seleção sul-americana entre os quatro semifinalistas. Era o então campeão mundial após o “Maracanazzo” de 1950 e nunca havia perdido uma partida de Copa do Mundo. A Celeste mantinha seus principais expoentes de 1950. A ausência mais sentida era Alcides Ghiggia, que não foi liberado pelo seu clube, a Roma. Na fase de grupos, venceu a Tchecoslováquia por 2 x 0 e a Escócia por 7 x 0. Na sequência, bateu a Inglaterra por 4 x 2 nas quartas de final.

A Hungria chegava mais forte ainda, campeã olímpica em 1952 e ostentando quatro anos de invencibilidade. Nos últimos 27 jogos, tinha vencido 23 e empatado quatro. Na primeira fase, os húngaros massacraram os adversários. Foram duas goleadas: 9 x 0 sobre a Coreia do Sul e 8 x 3 em cima da Alemanha Ocidental. Nas quartas de final, venceu o Brasil por 4 x 2 na “Batalha de Berna”. Em relação ao Uruguai, a Hungria vinha de um confronto mais difícil e ainda teve um dia a menos de descanso.

Por lesão, ambas equipes estavam desfalcadas de seus capitães e maiores estrelas. Os húngaros não tinha Ferenc Puskás (lesionado desde a primeira fase) e os celestes não podiam contar com o lendário Obdulio Varela (que se machucou contra os ingleses).

O time húngaro tinha ainda duas mudanças em relação ao jogo anterior. László Budai jogou na ponta direita no lugar do contundido József Tóth. Péter Palotás entrou na meia esquerda no lugar de Mihály Tóth.


A Hungria jogou em seu incipiente 4-2-4, com o recuo do centroavante Hidegkuti para armar o jogo e o consequente recuo de Zakariás para a linha defensiva. Palotás jogou na função de Puskás.


O Uruguai atuou no sistema WM adaptado, com um homem na sobra (Martínez) no sistema defensivo.

● Essa semifinal era vista por muitos como a final antecipada da Copa e correspondeu às expectativas com gols e alta qualidade técnica. Mesmo sob forte chuva, os 45 mil expectadores que estiveram no Estádio Olímpico de la Pontaise, em Lausanne, ficaram extasiados com a partida que assistiram.

Como de costume, a Hungria começou o jogo com agressividade no ataque e abriu o placar aos treze minutos. Nándor Hidegkuti ergueu a bola para a entrada da área, Sándor Kocsis desviou de cabeça e Zoltán Czibor a deixou quicar para emendar o voleio rasteiro de canhota, no canto esquerdo do goleiro uruguaio.

Os danubianos seguiam no ataque, mas a defesa rioplatense segurava firme. Em bola jogada para a área, a defesa celeste cortou mal. Czibor recolheu a bola, foi até a linha de fundo, cortou para dentro e cruzou de direita. Kocsis cabeceou forte e no alto, mas Roque Máspoli defendeu à queima roupa.

Essa foi a única partida em que os húngaros não abriram dois gols de vantagem nos vinte primeiros minutos.

A partida se apresentou com um duelo tático interessante. Parte do sucesso dos húngaros foi por causa do recuo do seu centroavante para armar as jogadas de ataque pelo meio (Nándor Hidegkuti ou Péter Palotás), deixando as defesas adversárias sem um homem de referência e abrindo espaço para a infiltração dos meias. Mas nessa partida, o técnico uruguaio Juan López Fontana destacou Néstor Carballo para a marcação individual sobre Hidegkuti. Os húngaros não estavam acostumados com isso e tiveram um pouco de dificuldades. Até que o treinador magiar Gusztáv Sebes contra-arquitetasse orientando para Zoltán Czibor para se movimentar no espaço aberto pela saída de Carballo.

O segundo gol só saiu no primeiro minuto do segundo tempo, László Budai cruzou da direita à meia altura para a segunda trave e Hidegkuti mandou para as redes de peixinho.

Com dois gols de vantagem no placar, a peleja parecia resolvida. Mas do outro lado tinha o bravo Uruguai.


(Imagem: Pinterest)

Aos trinta minutos da etapa final, Juan Alberto Schiaffino fez um lançamento para Juan Hohberg na meia-lua. Sem marcação, ele invadiu a área e chutou rasteiro no canto esquerdo do goleiro.

A Celeste Olímpica cresceu e a Hungria sentiu o golpe.

A quatro minutos do fim, Hohberg aproveitou confusão na área adversária, ganhou uma dividida com o goleiro Grosics e, mesmo caindo, anotou seu segundo tento na partida, igualando o placar.

Curiosamente, Juan Hohberg era nascido na Argentina. Ele esteve lesionado durante a fase de grupos e só foi estrear justamente nessa partida. No lance do gol de empate uruguaio, ele caiu desacordado. Depois soube-se que ele teve uma parada cardíaca ali mesmo, ficando alguns segundos morto. O médico uruguaio, Carlos Abate, deu duas doses de coramina ao jogador, além de fazer massagem cardíaca para reanimá-lo. O Uruguai voltou a campo com dez jogadores para a disputa do tempo extra, mas pouco depois, mesmo desaconselhado pelos médicos, Hohberg voltou a campo.

A partida mudou totalmente na prorrogação, com os uruguaios mais perto da vitória. Logo no primeiro lance, Schiaffino bateu cruzado, Grosics deslizou pela grama molhada e a bola carimbou a trave direita.

Mas prevaleceu o melhor preparo físico e os mágicos magiares reapoderam de forma fatal na segunda parte do tempo extra.

Aos 6′, após cruzamento de Budai para a área, Kocsis ganhou no alto de José Santamaría e cabeceou no canto esquerdo de Máspoli.

Aos 11, jogada muito semelhante. József Bozsik cruzou para a área, Kocsis ganhou no alto e cabeceou no canto direito do goleiro uruguaio, garantindo a passagem dos europeus à decisão.

Placar final: 4 a 2. E a Hungria chegaria mais favorita que nunca para a final da Copa.


(Imagem: Pinterest)

● Em 1960, apenas seis anos depois, a revista inglesa World Soccer chamou a partida de “o maior jogo de futebol de todos os tempos”.

Essa derrota uruguaia foi a primeira do país na história das Copas do Mundo. A Celeste Olímpica foi campeã em 1930 e não disputou os Mundiais de 1934 e 1938. Voltou em 1950 e novamente conquistou o título. O Uruguai também conquistou a medalha de ouro no futebol nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928. Assim, no total, entre 1924 e 1954, entre Olimpíadas e Copas do Mundo, o Uruguai teve uma fantástica série de 21 partidas invictas.

Ao fim da partida, o capitão uruguaio, William Martínez, foi cordialmente ao vestiário da Hungria para cumprimentar os vencedores. Os húngaros mostraram respeito e reverência aos uruguaios, ao contrário do sentimento nutrido em relação aos brasileiros, eliminados três dias antes. Para Kocsis, o Brasil era um time covarde. “Nós éramos melhores e ganharíamos quantas vezes precisássemos”, disse o atacante magiar.

“Nunca vi um desempenho tão notável entre duas equipes jogando no seu nível mais alto. Ambas as equipes foram excelentes. Eu instruí a Hungria a colocar a bola no chão e fazê-la correr o tempo todo. Estávamos conscientes de que a equipe uruguaia não conseguia acompanhar o ritmo que ditava no período final do jogo, e nossa suposição acabou sendo verdadeira na prorrogação.” ― Gusztáv Sebes

“Nunca vi o time húngaro jogando com tanta dedicação, mantendo seus padrões de futebol por tanto tempo, até mesmo na prorrogação.” ― Walter Winterbottom, técnico da seleção inglesa

“O jogo foi especialmente notável, pois os uruguaios jogam o mesmo futebol que nós. Nós apenas jogamos um pouco melhor.”József Bozsik

“O Uruguai foi o melhor time que a Hungria enfrentou em todos os tempos.” ― Gyula Mándi, treinador de campo e assistente de Gusztáv Sebes

“É seguro dizer que o time uruguaio é o melhor que enfrentamos até agora.” ― Gyula Grosics

“Com os húngaros perdemos por 4 a 2 e me tocou converter os dois gols uruguaios. A Hungria foi a melhor equipe que vi em minha vida. Era uma máquina infernal.” ― Juan Hohberg

“A Hungria é o maior time que eu já joguei contra. Sua qualidade é fascinante.” ― Víctor Rodríguez Andrade

“O time uruguaio joga de maneira diferente do Brasil. Eles colocam mais ênfase no trabalho em equipe. Individualmente eles não são tão brilhantes quanto os brasileiros. Mas o Uruguai é mais perigoso por causa de seu trabalho em equipe disciplinado e de seus esforços coletivos. Além disso, os jogadores têm excelente controle de bola e são capazes de boas combinações e lideraram alguns ataques maravilhosos. Víctor Rodríguez Andrade e Juan Alberto Schiaffino são seus melhores jogadores – o último é simplesmente impossível de desarmar. Deve ser notado que a marcação deles era às vezes frouxa e os defensores davam muito espaço para os nossos atacantes (especialmente William Martínez contra László Budai), que poderiam ter a bola relativamente desmarcada, e depois virá-la a seu favor.” (Parte da crônica do jornal húngaro Nemzeti Sport sobre a partida)

Na decisão do 3º lugar, o Uruguai não jogou bem e perdeu para a Áustria por 3 x 1. A Hungria enfrentou novamente a Alemanha Ocidental na final e perdeu de virada por 3 x 2.


(Imagem: Liga Retro)

FICHA TÉCNICA:

 

HUNGRIA 4 x 2 URUGUAI

 

Data: 30/06/1954

Horário: 18h00 locais

Estádio: Stade Olympique de la Pontaise

Público: 45.000

Cidade: Lausanne (Suíça)

Árbitro: Benjamin Griffiths (País de Gales)

 

HUNGRIA (4-2-4):

URUGUAI (WM):

1  Gyula Grosics (G)

1  Roque Máspoli (G)

2  Jenő Buzánszky

2  José Santamaría

3  Gyula Lóránt

3  William Martínez (C)

4  Mihály Lantos

4  Víctor Rodríguez Andrade

5  József Bozsik (C)

16 Néstor Carballo

6  József Zakariás

17 Luis Cruz

16 László Budai

18 Rafael Souto

8  Sándor Kocsis

19 Javier Ambrois

9  Nándor Hidegkuti

8  Juan Hohberg

19 Péter Palotás

10 Juan Alberto Schiaffino

11 Zoltán Czibor

11 Carlos Borges

 

Técnico: Gusztáv Sebes

Técnico: Juan López Fontana

 

SUPLENTES:

 

 

21 Sándor Gellér (G)

12 Julio Maceiras (G)

22 Géza Gulyás (G)

13 Mirto Davoine

12 Béla Kárpáti

14 Eusebio Tejera

13 Pál Várhidi

15 Urbano Rivera

14 Imre Kovács

5  Obdulio Varela

15 Ferenc Szojka

6  Roberto Leopardi

7  József Tóth

7  Julio Abbadie

17 Ferenc Machos

20 Omar Méndez

18 Lajos Csordás

9  Óscar Míguez

20 Mihály Tóth

21 Julio Pérez

10 Ferenc Puskás

22 Luis Ernesto Castro

 

GOLS:

13′ Zoltán Czibor (HUN)

46′ Nándor Hidegkuti (HUN)

75′ Juan Hohberg (URU)

86′ Juan Hohberg (URU)

111′ Sándor Kocsis (HUN)

116′ Sándor Kocsis (HUN)

Gols do jogo:

Compacto estendido da partida:

 

… 02/06/1986 – União Soviética 6 x 0 Hungria

Três pontos sobre…
… 02/06/1986 – União Soviética 6 x 0 Hungria


(Imagem: World Cup Archive)

● A Hungria é detentora de feitos históricos no futebol, tendo como maior destaque os vice-campeonatos nas Copas do Mundo de 1938 e 1954. É a maior vencedora da modalidade nos Jogos Olímpicos, com três medalhas de ouro (1952, 1964 e 1968), uma de prata (1972) e uma de bronze (1960). Aplicou as duas maiores goleadas da história das Copas do Mundo: 10 x 1 sobre El Salvador em 1982 e 9 x 0 sobre a Coreia do Sul em 1954.

Mas esse histórico não tem a força que tinha antes e a Hungria não disputa uma Copa do Mundo desde 1986. O Mundial do México, inclusive, foi palco de um dos maiores vexames dos magiares nos gramados. Principalmente a estreia, que foi mesmo para ser esquecida.


(Imagem: Futebol Comunista)

● A Hungria havia sido eliminada na primeira fase em 1978 e 1982. Sofria com o dilema sobre como adaptar seu tradicional estilo refinado de jogo a um futebol cada vez mais físico, com mais estatura e velocidade. E em 1983, György Mezey assumiu o comando técnico da seleção. Os resultados melhoraram de imediato. E, aos poucos, o treinador foi renovando quase toda a equipe.

O grande destaque era o jovem meia Lajos Détári. Preciso nos passes e lançamentos longos, era apelidado de “Platini húngaro”. Era o principal responsável por municiar o veloz ponta direita József Kiprich e o centroavante Márton Esterházy, que se movimentava por todo o setor.

Nas eliminatórias, passou com tranquilidade em um grupo difícil: Holanda (de Gullit, Van Basten, Rijkaard e Ronald Koeman), a eterna rival Áustria e o fraco Chipre. Depois, mostrou sua força também nos jogos amistosos, nas vitórias sobre Alemanha Ocidental (1 x 0 em Hamburgo), País de Gales (3 x 0 em Cardiff) e Brasil (3 x 0 em Budapeste). A Hungria tinha um time encaixado e jogava bonito como não se via desde 1954. Por tudo isso, chegou ao México cotada como surpresa da Copa, com potencial para chegar longe.

A URSS chegava ao México com uma mudança importante no comando técnico. Eduard Malofeyev (que fez história levando o Dinamo Minsk ao título soviético) o deu lugar a Valeriy Lobanovs’kyi. O novo técnico apostou na base do Dínamo de Kiev, time que treinava e havia se sagrado campeão da Recopa Europeia naquela temporada recém finalizada. Dos 22 atletas convocados, 11 pertenciam ao clube ucraniano. Curiosamente, Kiev fica a pouco mais de 100 km de Chernobyl, que havia sofrido um gravíssimo acidente nuclear menos de dois meses antes do início da Copa de 1986. Era um time coeso, mas sem muito brilho individual.


A URSS jogava no 4-5-1, com um líbero atrás da linha de três defensores. Os meias laterais tinham muita habilidade e apoiavam Belanov no ataque.


A Hungria jogava no 4-4-2 clássico, com Lajos Détári carimbando todas as jogadas do time pelo meio.

● Desde o início, os soviéticos atropelaram. Logo no segundo minuto, Aleksandr Zavarov cobrou falta, a defesa se atrapalhou com a bola e Pavel Yakovenko chutou no canto. Placar aberto: 1 a 0 para a URSS.

Dois minutos depois, Sergey Aleynikov tabelou com Igor Belanov, que fez o pivô e devolveu para Aleynikov disparar no ângulo, sem chances para o goleiro.

Aos 24′, Zavarov avançou e sofreu pênalti. O craque Belanov cobrou forte e alto, no meio do gol.

O marcador foi ampliado aos 21 minutos do segundo tempo. Yakovenko avançou pelo meio e lançou Ivan Yaremchuk na área. O meia driblou o goleiro Péter Disztl e tocou para as redes. Não perca a conta: 4 a 0.

Aos 30, Yaremchuk fez o segundo. Ele tabelou com Belanov e chutou prensado com um zagueiro. A bola saiu do alcance do goleiro e tocou na trave antes de entrar.

O placar de 6 a 0 foi fechado aos 35′. Aleynikov avançou sem marcação e Disztl saiu para dividir a jogada. A bola sobrou para Rodionov tocar para dentro.

Durante todo o tempo, a URSS demonstrou uma excepcional organização tática e surpreendente resistência física. Os soviéticos desperdiçaram inúmeras oportunidades claras.

Os húngaros estavam tão perdidos em campo, que só não sofreram mais gols porque Belanov cobrou um pênalti por cima quando o jogo já estava 5 a 0. Foram falhas individuais gritantes, especialmente no setor defensivo. O zagueiro Antal Róth, inclusive, foi substituído antes dos 15 minutos. O time sentiu muito a falta de seu capitão, o experiente meia Tibor Nyilasi, que teve que se submeter a uma cirurgia na coluna, em março e ficou fora do Mundial.

Em noventa minutos, a Hungria despencou de candidata a surpresa para maior decepção da Copa.


(Imagem: Pinterest)

● Essa partida foi fonte de várias piadas prontas, como “clássico comunista”, “goleada atômica” e até os dizeres que os soviéticos estavam “dopados com radiação”.

Essa foi a maior goleada do torneio. E foi bastante dolorosa, pois não foi para um adversário qualquer. Foi justamente para a União Soviética, líder do bloco comunista, conhecido como “Cortina de Ferro”. O regime cairia no país do leste europeu no dia 23 de outubro de 1989. Mas, naquele ano de 1986, completavam-se três décadas da invasão soviética que sufocou o levante político húngaro de 1956, com consequências eternas em âmbitos político, social, econômico e esportivo.

A União Soviética terminou a primeira fase como líder do grupo C, com vitórias sobre a Hungria (goleada por 6 a 0) e Canadá (2 a 0), além de um empate com a fortíssima França (1 a 1). Os soviéticos eram favoritos nas oitavas de final, mas perderam para a Bélgica por 4 x 3 na prorrogação – na qual foram claramente prejudicados pela arbitragem em dois lances cruciais.

Após a derrota para os soviéticos, mesmo jogando de forma displicente, a Hungria venceu o Canadá por 2 x 0 e perdeu para a França por 3 x 0. Com dois pontos, ficou em terceiro lugar no Grupo. Foi eliminada na primeira fase. Perdeu a vaga nas oitavas de final no saldo de gols, bastante prejudicado pela goleada sofrida na estreia.

Esse foi o fiasco húngaro em sua última participação em Copas do Mundo. Com o passar do tempo, o futebol do país foi se enfraquecendo e perdendo a força e o respeito que tinha em todo o mundo. Ficam as histórias, que parecem cada vez mais pertencer a um passado muito distante.


(Imagem: YouTube)

FICHA TÉCNICA:

 

UNIÃO SOVIÉTICA 6 X 0 HUNGRIA

 

Data: 02/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Irapuato (atual Estadio Sergio León Chávez)

Público: 16.500

Cidade: Irapuato (México)

Árbitro: Luigi Agnolin (Itália)

 

UNIÃO SOVIÉTICA (4-5-1):

HUNGRIA (4-4-2):

1  Rinat Dasayev (G)

1  Péter Disztl (G)

2  Vladimir Bessonov

2  Sándor Sallai

10 Oleg Kuznetsov

3  Antal Róth

15 Nikolay Larionov

6  Imre Garaba

5  Anatoliy Dem’yanenko (C)

14 Zoltán Péter

21 Vasiliy Rats

5  József Kardos

20 Sergey Aleynikov

8  Antal Nagy (C)

7  Ivan Yaremchuk

10 Lajos Détári

8  Pavel Yakovenko

19 György Bognár

9  Aleksandr Zavarov

7  József Kiprich

19 Igor Belanov

11 Márton Esterházy

 

Técnico: Valeriy Lobanovs’kyi

Técnico: György Mezey

 

SUPLENTES:

 

 

16 Viktor Chanov (G)

18 József Szendrei (G)

22 Sergey Krakovs’kyi (G)

22 József Andrusch (G)

3  Aleksandr Chivadze

4  József Varga

4  Gennady Morozov

12 József Csuhay

6  Aleksandr Bubnov

13 László Disztl

12 Andriy Bal

9  László Dajka

13 Gennadiy Litovchenko

15 Péter Hannich

17 Vadim Yevtushenko

16 József Nagy

14 Sergey Rodionov

17 Győző Burcsa

18 Oleg Protasov

21 Gyula Hajszán

11 Oleg Blokhin

20 Kálmán Kovács

 

GOLS:

2′ Pavel Yakovenko (URSS)

4′ Sergey Aleynikov (URSS)

24′ Igor Belanov (URSS) (pen)

66′ Ivan Yaremchuk (URSS)

73′ László Dajka (URSS) (gol contra)

80′ Sergey Rodionov (URSS)

 

SUBSTITUIÇÕES:

13′ Antal Róth (HUN) ↓

Győző Burcsa (HUN) ↑

 

62′ Zoltán Péter (HUN) ↓

László Dajka (HUN) ↑

72′ Pavel Yakovenko (URSS) ↓

Vadim Yevtushenko (URSS) ↑

 

69′ Igor Belanov (URSS) ↓

Sergey Rodionov (URSS) ↑

Melhores momentos:

Partida completa:

… 31/05/1934 – Áustria 2 x 1 Hungria

Três pontos sobre…
… 31/05/1934 – Áustria 2 x 1 Hungria


(Imagem: Guerin Sportivo)

● Esses dois vizinhos do centro da Europa foram um só país de 1867 a 1918, o Império Austro-Húngaro. A separação só ocorreu após o término da Primeira Guerra Mundial. Mas, futebolisticamente, elas sempre tiveram suas respectivas seleções.

Culturalmente, sempre foram muito semelhantes. As evoluções táticas ocorreram quase simultaneamente, assim como o aprimoramento no jogo de troca de passes ao invés de um estilo mais físico.

Mas a rivalidade era enorme de lado a lado e foi posta à prova nas quartas de final da Copa do Mundo de 1934.


Ambas equipes jogavam em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos.

● Nenhum dos times economizou na virilidade e na violência.

Nos poucos momentos sem pancadaria, a Áustria fez dois gols, cada um no começo de cada etapa.

O capitão Johann Horvath abriu o placar aos oito minutos do primeiro e o ponta Karl Zischek aumentou aos seis do segundo tempo.

A Hungria tentou reagir e descontou. Aos 15′, György Sárosi cobrou pênalti e converteu.

Mas, em seguida, o ponta direita Imre Markos foi expulso após uma jogada violenta. Essa foi a única expulsão da Copa de 1934.

Com um a menos, a Hungria não teve forças para empatar a partida.


(Imagem: Guerin Sportivo)

● Na fase anterior, de oitavas de final, a Hungria havia vencido o Egito por 4 a 2. O atacante “Doctor” György Sárosi não esteve presente nesse jogo. Ele trabalhava em um escritório de advocacia e precisou adiar sua chegada à Itália devido a um compromisso de trabalho. Sárosi seria um dos principais destaques na campanha da Hungria no vice-campeonato da Copa do Mundo de 1938.

A Áustria, que havia precisado da primeira prorrogação da história das Copas para despachar a França por 3 x 2 na partida anterior, agora estava nas semifinais. Enfrentaria a anfitriã Itália, que precisou de 210 minutos para eliminar a excelente seleção da Espanha.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ÁUSTRIA 2 x 1 HUNGRIA

 

Data: 31/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Littoriale (atual Estádio Renato Dall’Ara)

Público: 23.000

Cidade: Bolonha (Itália)

Árbitro: Francesco Mattea (Itália)

 

ÁUSTRIA (2-3-5):

HUNGRIA (2-3-5):

Peter Platzer (G)

Antal Szabó (G)

Franz Cisar

József Vágó

Karl Sesta

László Sternberg (C)

Franz Wagner

István Palotás

Josef Smistik

György Szűcs

Johann Urbanek

Antal Szalay

Karl Zischek

Imre Markos

Josef Bican

István Avar

Matthias Sindelar

György Sárosi

Johann Horvath (C)

Géza Toldi

Rudolf Viertl

Tibor Kemény

 

Técnico: Hugo Meisl

Técnico: Ödön Nádas

 

SUPLENTES:

 

 

Friederich Franzl (G)

József Háda (G)

Rudolf Raftl (G)

Sándor Bíró

Anton Janda

Gyula Futó

Willibald Schmaus

Gyula Polgár

Leopold Hofmann

Gyula Lázár

Josef Hassmann

János Dudás

Matthias Kaburek

Rezső Somlai

Josef Stroh

István Tamássy

Hans Walzhofer

Jenő Vincze

Anton Schall

Pál Teleki

Georg Braun

Gábor Péter Szabó

 

GOLS:

8′ Johann Horvath (AUT)

51′ Karl Zischek (AUT)

60′ György Sárosi (HUN) (pen)

 

EXPULSÃO: 63′ Imre Markos (HUN)

Imagens da partida:

… 20/06/1954 – Hungria 8 x 3 Alemanha Ocidental

Três pontos sobre…
… 20/06/1954 – Hungria 8 x 3 Alemanha Ocidental


(Imagem: Sport Illustrated)

● É impossível falar na evolução tática do futebol sem falar na seleção da Hungria da década de 1950.

Com o completo estabelecimento do WM em praticamente todas as equipes do mundo, o centroavante ficava muito sobrecarregado, sendo o principal responsável pelo embate físico com o zagueiro central (o antigo centromédio). Mas o estilo de jogo dos países da Europa Central (como Hungria, Áustria e Tchecoslováquia) era de centroavantes rápidos e dribladores. Estes agora não tinham mais chances contra os fortes zagueiros centrais.

Veja mais:
… 27/06/1954 – Hungria 4 x 2 Brasil
… 30/06/1954 – Hungria 4 x 2 Uruguai
… 04/07/1954 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Hungria
… Ferenc Puskás: 10 anos sem a lenda
… Ferenc Puskás e József Bozsik: amizade de uma vida inteira

Assim, a primeira coisa a fazer era moldar novos “camisas 9” mais pesados e fortes. Mas em 1948, Márton Bukovi, técnico do MTK (ou Vörös Lobogó, nome adotado após a nacionalização do time em 1949), não aceitou essa hipótese. Se ele não tinha um jogador com o perfil da posição, em vez de insistir em atletas inadequados, preferiu acabar com a função do centroavante em seu time. Inverteu o “W” do WM, desenvolvendo uma espécie de “MM“.

Gradualmente, à medida que o centroavante recuava mais e mais para se tornar um meio campista armador, os dois pontas foram avançando, de modo a criar uma linha de quatro atacantes. Com esse novo jogador no meio, sua posição acabava chocando com os outros dois meias. Assim, um deles inevitavelmente acabava recuando, passando a jogar praticamente na linha de defesa, enquanto o outro continuava posicionado no meio.

O primeiro jogador da “nova posição” foi Péter Palotás, um jogador muito inteligente. Mas logo essa função passou a ser ocupada por Nándor Hidegkuti, um jogador completo, verdadeiro craque, que se adaptou à posição apesar de seus mais de 30 anos de idade.

Dessa forma, os adversários da Hungria não sabiam como agir. Se o zagueiro central seguisse o centroavante recuado, ele deixaria um buraco no meio de sua defesa. Se não o seguisse, ele jogaria livre, leve e solto, conduzindo o jogo como quisesse.


A Hungria jogou em seu incipiente 4-2-4, com o recuo do centroavante Hidegkuti para armar o jogo e o consequente recuo de Zakariás para a linha defensiva.


A Alemanha Ocidental atuava no sistema WM. Nesta partida, com time misto e mais recuado, Eckel (que era meia defensivo) jogou como meia ofensivo. Posipal (que era zagueiro) jogou na primeira linha de meio.

● Foi dessa forma que a Hungria encantou o mundo, ficando invicta entre 1950 e 1954, com 31 partidas (27 vitórias e 4 empates, além de conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952. Mas outros dois jogos se destacaram. O primeiro foi em 25/11/1953, quando venceu a prepotente Inglaterra por 6 a 3 em pleno estádio Wembley. Foi a primeira derrota inglesa em casa para seleções não-britânicas  em toda a história. Na revanche, em Budapeste, já em preparação para a Copa de 1954, os magiares aplicaram nova goleada nos “inventores do futebol”, com inapeláveis 7 a 1.

E foi com essa aura de imbatível que a Hungria foi a primeira seleção a desembarcar na Suíça, para se acostumar com o clima. Estreou na Copa do Mundo enfiando 9 a 0 na ingênua Coreia do Sul. Durante essa partida, a Hungria não fez nenhuma falta e a Coreia apenas cinco. Fato único, o de haver menos faltas do que gols. Três dias depois, enfrentaria a Alemanha Ocidental, que tinha batido a Turquia por 4 a 1.

Do lado alemão, mesmo com a vitória na estreia, o técnico Sepp Herberger continuava criticado pela imprensa alemã. E a reprovação foi ainda maior ao ver a escalação de sua equipe para enfrentar a poderosa Hungria. Seu time estava sem seis titulares: o goleiro Turek, o meia Mai e os atacantes Klodt, Morlock, Ottmar Walter e Schäfer. Além disso, Posipal e Eckel atuaram fora de suas posições. O que ninguém sabia é que essa escalação era parte dos planos de Herberger. Ele havia entendido muito bem o regulamento. Prevendo uma derrota para os magiares [na verdade, todos previam], ele poupou vários titulares para o jogo desempate, novamente contra a Turquia.


(Imagem: Pinterest)

● Contra o time misto da Alemanha, a Hungria fez o de sempre: abriu dois gols de diferença em menos de 20 minutos e foi empilhando gols com o passar do tempo. Parecia mais um amistoso ou um jogo treino. Os alemães demonstraram pouca resistência.

Logo aos três minutos, escanteio cobrado para a pequena área alemã. O goleiro Kwiatkowski cortou mal pelo alto e Kocsis pegou de primeira, acertando o ângulo direito.

Aos 17, Puskás avança, entrou na área pelo lado direito do ataque e tocou por baixo de Kwiatkowski.

Ainda aos 21, Puskás driblou um adversário e serviu Kocsis. Da marca do pênalti, o artilheiro finaliza de primeira, no contrapé do goleiro.

A Alemanha diminuiu aos 25 minutos do primeiro tempo. Pfaff recebeu dentro da área e tocou à esquerda de Grosics.

A Hungria voltou com tudo no segundo tempo. Aos cinco minutos, Puskás chutou, a bola rebateu na defesa alemã e sobrou para Hidegkuti, que chutou por baixo do goleiro.

Quatro minutos depois, de novo Hidegkuti. Ele recebeu na área, driblou Kohlmeyer e tocou no canto esquerdo de Kwiatkowski.

Aos 15 do segundo tempo, aconteceu um lance que mudaria a história da Copa. O zagueiro Werner Liebrich acertou Ferenc Puskás por trás e lesionou seriamente seu tornozelo esquerdo. O craque teve que ser retirado de campo e a Hungria ficou com dez homens em campo. Era a terceira tentativa de agressão sem bola de Liebrich em Puskás. A conivente arbitragem do inglês William Ling permitiu a “caçada” a Puskás.

Mas a Hungria não parava. Aos 22, Kocsis avançou absolutamente livre, entrou na área e tocou no canto direito. 6 a 1.

Aos 28 minutos, József Tóth arrancou pela direita e, mesmo marcado por Liebrich, chutou no ângulo esquerdo.

O segundo gol alemão veio aos 32, quando Helmut Rahn recebeu pela ponta direita. Grosics saiu como um louco e foi driblado por Rahn, perto da linha de fundo. Rahn ainda passou por Lantos e bateu por cobertura, fazendo um lindo gol e demonstrando toda sua qualidade.

No minuto seguinte, Kocsis desviou um cruzamento e a bola passou por baixo do goleiro.

O placar foi alterado pela última vez aos 36 minutos da segunda etapa. Lançamento para a área da Hungria. A bola passa por Grosics e Herrmann só complemente para o gol vazio.


(Imagem: Pinterest)

● Resultado final: o massacre de 8 a 3 da Hungria sobre a Alemanha só não foi maior do que a ausência do contundido capitão magiar Ferenc Puskás nas partidas seguintes. Muito provavelmente, ele estaria fora do restante da Copa.

No fim, a estratégia de Sepp Herberger deu certo. No jogo desempate, a Alemanha Ocidental goleou a Turquia por 7 a 2 e se classificou para as quartas de final, seguindo firme na disputa da Copa do Mundo.

Além da variação no sistema tático, outro fator de grande destaque na equipe húngara era a preparação física. Pouco antes das partidas, os jogadores faziam aquecimento, o que era inédito na época. Enquanto o oponente ainda estava frio, a Hungria começava seus jogos de forma arrasadora. Dos cinco jogos que disputou na Copa, em quatro os magiares abriram dois gols de vantagem nos primeiros vinte minutos (a exceção foi a semifinal contra o Uruguai, na qual marcou apenas um gol no início).

FICHA TÉCNICA:

 

HUNGRIA 8 x 3 ALEMANHA OCIDENTAL

 

Data: 20/06/1954

Horário: 16h50 locais

Estádio: St. Jakob

Público: 56.000

Cidade: Basileia (Suíça)

Árbitro: William Ling (Inglaterra)

 

HUNGRIA (4-2-4):

ALEMANHA (WM):

1  Gyula Grosics (G)

22 Heinz Kwiatkowski (G)

2  Jenő Buzánszky

4  Hans Bauer

3  Gyula Lóránt

10 Werner Liebrich

4  Mihály Lantos

3 Werner Kohlmeyer

5  József Bozsik

7  Josef Posipal

6  József Zakariás

9  Paul Mebus

7  József Tóth

12 Helmut Rahn

8  Sándor Kocsis

6  Horst Eckel

9  Nándor Hidegkuti

19 Alfred Pfaff

10 Ferenc Puskás (C)

16 Fritz Walter (C)

11 Zoltán Czibor

17 Richard Herrmann

 

Técnico: Gusztáv Sebes

Técnico: Sepp Herberger

 

SUPLENTES:

 

 

21 Sándor Gellér (G)

1  Toni Turek (G)

22 Géza Gulyás (G)

21 Heinz Kubsch (G)

12 Béla Kárpáti

5  Herbert Erhardt

13 Pál Várhidi

2  Fritz Laband

14 Imre Kovács

11 Karl-Heinz Metzner

15 Ferenc Szojka

8  Karl Mai

16 László Budai

14 Bernhard Klodt

17 Ferenc Machos

18 Ulrich Biesinger

18 Lajos Csordás

13 Max Morlock

19 Péter Palotás

15 Ottmar Walter

20 Mihály Tóth

20 Hans Schäfer

 

GOLS:

3′ Sándor Kocsis (HUN)

17′ Ferenc Puskás (HUN)

21′ Sándor Kocsis (HUN)

25′ Alfred Pfaff (ALE)

50′ Nándor Hidegkuti (HUN)

54′ Nándor Hidegkuti (HUN)

67′ Sándor Kocsis (HUN)

73′ József Tóth (HUN)

77′ Helmut Rahn (ALE)

78′ Sándor Kocsis (HUN)

81′ Richard Herrmann (ALE)

Lances da partida:

… 19/06/1938 – Itália 4 x 2 Hungria

Três pontos sobre…
… 19/06/1938 – Itália 4 x 2 Hungria


(Imagem: The Score)

● Um mês e meio antes da Copa, o jornal France Soir dizia que o Brasil era uma incógnita. E arriscou uma previsão certeira: a final seria entre Itália e Hungria, com amplo e maciço favoritismo dos italianos.

A Itália vinha bastante renovada e ainda melhor do que em 1934. Só dois jogadores permaneceram no time titular: o agora capitão Giuseppe Meazza e o atacante Giovanni Ferrari.

Parte da renovação comandada pelo técnico Vittorio Pozzo veio com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1936. A dupla de zaga, Foni e Rava era mais jovem e mais segura que a anterior (Allemandi e Monzeglio). Na posição de centromédio, o truculento Luisito Monti deu lugar a outro oriundi, o uruguaio Michele Andreolo, mais técnico e mais criativo. O ataque estava melhor e mais móvel com Silvio Piola, um centroavante de muita mobilidade, capaz de criar e concluir as jogadas.

Veja mais:
… 05/06/1938 – Itália 2 x 1 Noruega
… 16/06/1938 – Itália 2 x 1 Brasil

A Itália era a atual campeã do mundo e vinha de uma semifinal difícil contra o Brasil, na qual precisou demonstrar todo seu potencial. Antes, teve que passar pela Noruega (2 a 1) e pela anfitriã França (3 a 1). Já a Hungria, para chegar à final, tinha vencido as Índias Holandesas (atual Indonésia, 6 a 0), a Suíça (2 a 0) e a Suécia (5 a 1).

A Squadra Azzurra era a favorita contra a Hungria. Nos quatro anos anteriores, as duas seleções tinham se enfrentado quatro vezes, com três vitórias italianas e um empate.

Os italianos contavam com o mesmo “incentivador” de 1934: o ditador fascista Benito Mussolini. Mas como a Copa agora não era em seu território, o Duce não pôde pressionar FIFA e arbitragem como quatro anos antes. Assim, ele foi se despedir dos atletas antes do embarque para a França. Eis que na véspera da decisão o técnico Vittorio Pozzo recebeu um telegrama assinado pelo secretário-geral do Partido Fascista, Achille Starece, com uma ordem clara de Mussolini: “Vencer ou morrer”. Assim, a Squadra Azzurra não tinha escolha. Posteriormente, o goleiro húngaro Antal Szabó disse que não se importava de ter tomado quatro gols, pois sabia que tinha salvado vidas. Mas a ameaça do Duce nem era necessária, pois a Itália tinha a melhor seleção do mundo.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


A Hungria atuava como praticamente todas as equipes da época, no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● A Itália abriu o placar logo 6 minutos de partida. Após cruzamento alto da direita, a defesa húngara não cortou e o ponta Colaussi, que entrava livre pela esquerda, dominou e, sem deixar a bola cair, chutou de primeira no canto direito do goleiro Szabó.

Em seu primeiro ataque, a Hungria empatou apenas dois minutos depois. Sárosi ergue a bola pelo meio, Sas desviou de cabeça para trás e encontrou Titkos. No bico esquerdo da pequena área, ele mata no peito e bate alto, sem chances de defesa para Olivieri.

Apesar de ter conseguido a igualdade rapidamente, em momento algum os húngaros deram a impressão de que esperavam algo melhor que o vice-campeonato.

Aos 16 minutos, o gol mais bonito do jogo. A Itália trocou passes dentro da área adversária. Começou com Colaussi na esquerda, foi para Piola no meio, que tocou para Ferrari. Mesmo com o gol aberto à sua frente, Ferrari passou para Meazza, na direita. O capitão ainda driblou seu marcador e rolou para Piola, na marca do pênalti. O melhor jogador do torneio dominou e acertou o ângulo esquerdo.

A vantagem italiana aumentou aos 35 do primeiro tempo. Colaussi recebeu um lançamento de 30 metros feito por Meazza. O ponta ganhou na corrida de Polgár e entrou na área. O goleiro Szabó não saiu e Colaussi, quase da linha da pequena área, teve calma para finalizar no canto esquerdo.

A Hungria mostrava clara dificuldade em marcar o jogo mais veloz dos italianos, ficando muito exposta em sua própria área.

No segundo tempo, a Hungria ainda diminuiu. Aos 15 minutos, em um rápido contra-ataque, Titkos avança pela direita e rola a bola no bico da área. Sárosi apareceu de surpresa entre os zagueiros e chutou de primeira no canto esquerdo. Mas nem assim se mandou ao ataque, apesar de todo o apoio da torcida francesa.

A Itália continuou dominando facilmente o jogo, enquanto a Hungria só tentava se defender. A oito minutos do fim, Piola fechou o placar. Biavatti foi lançado pela direita, foi até a linha de fundo e cruzou para trás. Da marca do pênalti, Piola chegou antes da marcação e bateu prensado, mas a bola foi no cantinho direito de Szabó. Foi seu quinto gol no campeonato (dois a menos que o artilheiro Leônidas).

Daí em diante, os húngaros só ficaram esperando o tempo passar e o jogo acabar.


(Imagem: FIFA)

● Quando o árbitro francês Georges Capdeville apitou o fim da partida, a torcida vaiou o time campeão, em uma atitude jamais vista. As vaias só aumentaram quando o capitão Giuseppe Meazza fez a saudação fascista antes de depois de receber a Taça Jules Rimet das mãos do presidente francês, Albert Lebrun, nas tribunas de honra do estádio.

Assim, a Itália, merecidamente, se sagrou bicampeã da Copa do Mundo, feito que apenas o Brasil de 1958 e 1962 conseguiu repetir. O técnico Vittorio Pozzo ainda hoje é o mais vitorioso à frente da seleção, a qual comandou por 19 anos. Além das duas Copas, ele conquistou também a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936.

Na volta à “Velha Bota”, os campeões foram recebidos por Mussolini em Roma, no Palazzo Venezia, a sede do governo. Após abraços e saudações oficiais, cada um recebeu míseras 8.000 liras pela conquista do título (equivalente ao carro mais popular do país em 1938, um Fiat Topolino).

Como curiosidade, o autor do segundo gol da Hungria, o centroavante “Dr. György Sárosi” era um brilhante advogado em seu país. Na Copa de 1934 ele já tinha deixado de participar de um jogo de sua seleção devido ao seu trabalho num escritório de advocacia. Em 1938, às vésperas da Copa, ele estava diante de um caso importante, que poderia lhe render bom retorno profissional e financeiro e, por isso, comunicou à comissão técnica que não disputaria o torneio. Mas devido à sua importância para a equipe, toda a delegação o convenceu a mudar de ideia. Ele foi o capitão do time e um dos destaques da Copa, com cinco gols anotados em quatro jogos.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Giuseppe Meazza e György Sárosi (Imagem: The Score)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 4 x 2 HUNGRIA

 

Data: 19/06/1938

Horário: 17h00 locais

Estádio: Olímpico de Colombes

Público: 45.000

Cidade: Paris (França)

Árbitro: Georges Capdeville (França)

 

ITÁLIA (2-3-5):

HUNGRIA (2-3-5):

Aldo Olivieri (G)

Antal Szabó (G)

Alfredo Foni

Sándor Bíró

Pietro Rava

Gyula Polgár

Pietro Serantoni

Gyula Lázár

Michele Andreolo

György Szűcs

Ugo Locatelli

Antal Szalay

Amedeo Biavati

Pál Titkos

Giuseppe Meazza (C)

Gyula Zsengellér

Silvio Piola

György Sárosi (C)

Giovanni Ferrari

Jenő Vincze

Gino Colaussi

Ferenc Sas

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnicos: Károly Dietz / Alfréd Schaffer

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

József Háda (G)

Carlo Ceresoli (G)

József Pálinkás (G)

Eraldo Monzeglio

Lajos Korányi

Bruno Chizzo

János Dudás

Aldo Donati

István Balogh

Renato Olmi

József Turay

Mario Genta

Béla Sárosi

Mario Perazzolo

Mihály Bíró

Sergio Bertoni

László Cseh

Pietro Ferraris

Vilmos Kohut

Pietro Pasinati

Géza Toldi

 

GOLS:

6′ Gino Colaussi (ITA)

8′ Pál Titkos (HUN)

16′ Silvio Piola (ITA)

35′ Gino Colaussi (ITA)

70′ György Sárosi (HUN)

82′ Silvio Piola (ITA)

Lances da partida:

… Ferenc Puskás e József Bozsik: amizade de uma vida inteira

Três pontos sobre…
… Ferenc Puskás e József Bozsik: amizade de uma vida inteira ¹*


József Bozsik e Ferenc Puskás, com a senhora Bozsik ao centro (Imagem: magicalmagyars.com)

József Bozsik e eu éramos amigos inseparáveis. Eu tinha apenas três anos quando a família dele se mudou para o apartamento ao lado do nosso; o deles era o 20 e o nosso o 19. Ele era um ano e meio mais velho do que eu [nasceu em novembro de 1925], mas como éramos vizinhos de porta acabamos ficando amigos e desenvolvemos um sistema de sinais de “batidas na parede” para indicar: “Que tal bater uma bola?”.

Talvez inevitavelmente, mas tenho certeza de que com muita precisão, lembro-me daqueles dias com grande ternura. Aqueles foram bons tempos. Minha amizade com “Cucu²* Bozsik era tão próxima que éramos como irmãos. Ficamos juntos quando crianças, depois como jogadores titulares do Kispest e da Hungria por muitos anos, até o levante de 1956, quando nos separamos pela primeira vez. Havia cinco meninos na família Bozsik, todos num só quarto. Todos eles jogavam pelo Kispest em vários níveis. Istvan jogava no gol e os outros estavam no time abaixo de dezoito anos, lembro-me bem. [Bozsik foi dirigente do Kispest entre fevereiro de 1966 e agosto de 1967.]

Cucu era um sujeito bem calado. Uma pessoa lenta e relaxada; muito pensativo, jamais se afobava. Ele amava profundamente o futebol, mas acho que de uma forma diferente da maioria de nós. Ele nunca parecia ficar excitado, jamais demonstrava isso. Fora do campo, acho que nunca o vi zangado; mas, em campo, se alguém lhe roubasse a bola ele podia ter um acesso de raiva e ameaçava sair. Às vezes eu tinha de ir atrás dele e acalmá-lo. Ele era um amigo de verdade para mim, no futebol e na vida. Em um jogo – talvez porque jogávamos juntos desde pequenos – , sabíamos exatamente onde o outro devia estar, com ou sem a bola. Nós realmente podíamos nos achar sem nem olhar.

Bozsik e eu tínhamos permissão para frequentar jogos profissionais no campo do Kispest, mas entrar em jogos fora de casa era outra coisa. Usávamos todos os tipos de truques para entrar em campos de futebol, desde a idade de cinco ou seis anos. Lembro que certa vez cavamos um túnel sob a cerca de perímetro em uma lateral abandonada de um campo, não lembro agora de qual campo. A terra era macia e arenosa, e naquele dia ficamos cobertos de areia até as orelhas. Mas nossa trapaça habitual era vestir nosso uniforme infantil, apanhar algum equipamento e colocá-lo em mochilas do Kispest e cruzar meia cidade em direção ao campo dos adversários, no qual entrávamos com o ar mais grandioso e oficial possível. Em geral, dava certo e, depois do jogo, tínhamos de voltar para casa com as mochilas. Nós dificilmente pensávamos duas vezes, pois o esforço valia a pena.

József Bozsik em ação, com a camisa branca da seleção húngara (Imagem: magicalmagyars.com)

Jovens, fazíamos de tudo juntos, e certa ocasião até gerenciamos uma loja. Isso foi por volta de 1947 ou 1948, eu acho. O Kispest não era um clube rico e nem de longe podia nos pagar o salário que merecíamos. Cucu e eu recebemos uma proposta de uma loja local na rua principal de Kispest. Era de um ferragista que vendia panelas e chaleiras. Você precisava nos ver, achávamos que íamos ganhar uma fortuna. Mas trabalhamos lá só por algumas semanas, pois o governo nacionalizou todos os pequenos negócios. Recebemos uma pequena indenização, mas acabou aí nossa carreira como lojistas.

Nós também passávamos todo nosso tempo livre juntos, passeando pela cidade, indo ao cinema à noite uma ou duas vezes por semana. A gente sempre pegava o bonde para voltar para casa, e certa vez, quando estávamos pagando a passagem, olhamos um para o outro e dissemos: “Por que estamos fazendo isso? A gente podia ir correndo para casa facilmente e ainda economizar um pouco”. Então começou um período no qual nós regularmente apostávamos corrida com o bonde até em casa. Era uma boa distância, uns 2,5 km, e no começo não esperávamos conseguir acompanhar o bonde. Mas depois de um tempinho, conseguimos e depois o vencemos. Os condutores do bonde adoravam a brincadeira. Nós estávamos com dezesseis anos e éramos bem dispostos como pulgas.

Meu pai também ficou impressionado com Bozsik. Ele admirava sua maturidade calma e passou a amá-lo como a um filho. Se eu estivesse tentando convencer meu pai de que algo acontecera no treino e sentisse que ele não estava acreditando em mim, eu dizia: “Pergunte a seu amigo Bozsik, ele vai confirmar que tenho razão”.

Naturalmente, quando meu pai se tornou técnico e depois administrador do clube, ele foi por algum tempo responsável direto por nós dois.

(Imagem: magicalmagyars.com)

¹* Trecho extraído de um depoimento do próprio Ferenc Puskás, no livro “Puskas: Uma Lenda do Futebol” ³*, que me foi gentilmente presenteado há cerca de dez anos pelo amigo Mário Suriani.

²* Nota Três Pontos: “Cucu“, apelido de József Bozsik, se pronuncia “Zuzu” ou “Tsutsu“.

³* Bibliografia:
TAYLOR, Rogan; JAMRICH, Klara. Puskas: uma lenda do futebol. São Paulo: DBA, 1997. p. 30-32.


(Imagem: Editora DBA)

… Ferenc Puskás: 10 anos sem a lenda

Três pontos sobre…
… Ferenc Puskás: 10 anos sem a lenda


(Imagem: FIFA)

● Hoje completa dez anos da morte de Ferenc Puskás, um dos maiores jogadores da história do futebol. Seu nome de registro era Ferenc Purczeld Biró (Purczeld Biró Ferenc, no padrão húngaro), mas sua família alterou o nome de origem alemã em uma das muitas mudanças de “ânimos” políticos húngaros, em uma época em que o nacionalismo era extremo no país, forçando muitas famílias a adaptar o sobrenome. “Puskás”, em húngaro, significa revólver. Ou seja, Puskás era matador até no nome.

Era mais conhecido em sua terra como “Öcsi Puskás”. O apelido surgiu em um dia em que Puskás estava resfriado e de cama, enquanto seu pai foi trabalhar (jogava no Kispest) e sua mãe foi fazer compras. Ele fugiu pela janela e foi jogar bola com os amiguinhos em um terreno baldio. Quando sua mãe voltou e o viu, pegou o rolo de macarrão para lhe dar uma lição, mas os demais meninos fizeram uma barreira ao redor de Ferenc para protegê-lo, dizendo: “Não bate nele, dona Puskás, ele é nosso irmãozinho”. É que Puskás era o mais novo de todos e eles o chamavam de “Öcsi” (irmãozinho em húngaro).

Em janeiro de 1949, a Hungria se tornou um estado comunista e os clubes de futebol foram nacionalizados. O time de Puskás, Kispest FC, foi assumido pelo Ministério da Defesa e tornou-se o time do exército húngaro, chamado Honvéd (defensores da pátria, no idioma local). O técnico era Gusztáv Sebes, Vice-Ministro do Esporte húngaro, que teve a liberdade de juntar alguns dos melhores jogadores do país no mesmo time. Todos esses craques tinham suas patentes no exército nacional e Puskás era major. Aí se origina outro de seus apelidos: “Major Galopante”.

(Imagem: Lance!)

Pela seleção da Hungria, entre 1945 e 1956 disputou 85 partidas e marcou incríveis 84 gols. Ainda é o segundo maior artilheiro por uma seleção, perdendo apenas para o iraniano Ali Daei (109 gols em 150 jogos). Entre 1950 e 1956, a seleção da Hungria perdeu apenas uma partida: justamente a final da Copa do Mundo de 1954, para a Alemanha Ocidental, por 3 a 2.

No Real Madrid, fez uma parceria memorável com Alfredo Di Stéfano e conquistou três UEFA Champions League. Na final do torneio de 1959/60, os merengues venceram o Eintracht Frankfurt por 7 x 3, com 3 gols de Di Stéfano e 4 de Puskás. Na Espanha, ganhou os apelidos de “Pancho” (uma variante diminutiva em espanhol de Francisco – Ferenc em castelhano) e “Cañoncito Pum” (algo como “tiro de canhão”, em tradução livre). Esteve também na Copa do Mundo de 1962, atuando pela Espanha, que foi eliminada na primeira fase.

Como técnico, treinou equipes dos cinco continentes, mas teve raros sucessos em times pequenos. Conquistou títulos na Austrália, mas teve mais destaque com o Panathinaikos conquistando o bicampeonato grego em 1971 e 1972, além de ser vice-campeão da UEFA Champions League de 1970/71, perdendo para o forte Ajax, de Johan Cruijff e cia.

Só voltou a seu país em 1981 e em 1995 foi alçado à patente de coronel. Em 1997, em comemoração aos seus 70 anos, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Juan Antonio Samaranch, outorgou a Puskás a ordem de honra do COI, máxima condecoração olímpica. Desde o ano 2000, o craque sofria do Mal de Alzheimer e passou a ter dificuldades financeiras, no que foi prontamente amparado pelo Real Madrid. No ano seguinte, o Népstadion, de Budapeste, seria renomeado Estádio Puskás Ferenc. Faleceu há exatos dez anos, no hospital Kütvolgyi, na capital de seu país, depois de ficar internado com um pneumonia por dois meses. Desde 2009 a FIFA concede o Prêmio Puskás ao autor do gol mais bonito do ano. Homenagem justíssima a uma lenda do esporte.

(Imagem: O Gol)

Feitos e premiações de Ferenc Puskás:

Pela Seleção da Hungria:
– Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de 1952.
– Vice-campeão da Copa do Mundo de 1954.

Pelo Honvéd:
– Campeão do Campeonato Húngaro em 1949/50, 1950-especial, 1952, 1954 e 1955.

Pelo Real Madrid:
– Campeão da Copa dos Campeões da UEFA (atual UEFA Champions League) em 1958/59, 1959/60 e 1965/66.
– Campeão da Copa Intercontinental em 1960.
– Campeão do Campeonato Espanhol em 1960/61, 1961/62, 1962/63, 1963/64 e 1964/65.
– Campeão da Copa do Generalíssimo (atual Copa do Rei) em 1961-1962.

Como Técnico, pelo Panathinaikos (Grécia):
– Vice-campeão da UEFA Champions League em 1971.
– Campeão do Campeonato Grego em 1971 e 1972.

Como técnico, pelo South Melbourne (Austrália):
– Campeão do Campeonato Australiano em 1991.
– Campeão da Copa da Austrália em 1990.
– Campeão da Copa Dockerty em 1989 e 1991.

Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro do Campeonato Húngaro em 1947/48 (50 gols), 1949/50 (31 gols), 1950 (25 gols) e 1953 (27 gols).
– Artilheiro do Campeonato Espanhol em 1959/60 (25 gols), 1960/61 (28 gols), 1962/63 (26 gols) e 1963/64 (21 gols).
– Artilheiro da UEFA Champions League em 1959/60 (12 gols) e 1963/64 (7 gols).
– Chuteira de Ouro do Mundo em 1948 (50 gols).
– Jogador Europeu do Ano em 1953.
– Bola de Ouro da Copa do Mundo de 1954.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo de 1954.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Prêmio Jogador de Ouro da Hungria no Jubileu da UEFA em 2004.
– Membro do Hall da Fama da FIFA desde 1998.
– Jogador Europeu do Século XX pelo jornal L´Equipe.
– Maior Artilheiro do Século XX pela IFFHS.
– 7º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela revista World Soccer.
– 6º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela IFFHS.
– 2º lugar na lista dos melhores jogadores europeus do século XX pela IFFHS.
– Melhor jogador húngaro do século XX pela IFFHS.

● Frases de Puskás e sobre Puskás:

“Os adversários podem jogar melhor, mas a bola é redonda para todos.” — Puskás.

“Futebol é muito simples: o time que tem a bola precisa jogar, o time que não tem a bola precisa marcar.” — Puskás, filosofando.

“Nós jogamos alegremente, eles disputaram o título.” — Puskás, sobre a derrota da Hungria para a Alemanha na final da Copa do Mundo de 1954.

“Deus disse: ao sétimo dia descansarás. Bom, homem, isso é o que deve fazer um técnico. O domingo é dos jogadores. Quando estão em campo, para que dar cambalhotas no banco ou gritar até ficar surdo, se eles são os únicos que podem virar um resultado ou ganhar uma partida? Eu, todavia, não vi ninguém que ganhou uma partida olhando.” — Puskás, em grande frase, reproduzida no segundo livro da coleção dos 90 anos da revista El Gráfico.

“O maior jogador de futebol do mundo foi Di Stéfano. Eu me recuso a classificar Pelé como jogador. Ele está acima de tudo.” — Puskás.

“Quando olho para trás, vejo que ao longo de minha vida uma única linha se desenvolveu – apenas o futebol. Foi uma linha simples, direta, sem ambições conflitantes. Desde aquele momento na minha infância quando ouvi o misterioso clamor da multidão no estádio Kispest, a apenas alguns metros de distância da janela da nossa cozinha, acho que já estava predestinado.” — o próprio craque, na biografia “Puskás – Uma lenda do futebol mundial.”

“Ele era um jogador especial do seu tempo, sem nenhuma dúvida. Como a Hungria não venceu a Copa do Mundo de 1954 está além da minha compreensão.” — Sir Alex Ferguson, sobre Puskás.

“De todos nós, ele era o melhor. Ele tinha um sétimo sentido para o futebol. Se havia 1000 soluções, ele pegaria a 1001ª.” — Nandor Hidegkuti, companheiro de Puskás na seleção da Hungria.

“Olhe aquele cara gordo. Vamos acabar com ele.” — Jogador inglês não identificado, antes da derrota por 6 a 3 em 1953, em pleno Wembley.

“No seu livro, Puskás disse que se eu não tivesse jogado bem eles teriam marcado 12 gols! Era um privilégio jogar contra aquele time, mesmo que tenham acabado com a gente. O Puskás não era apenas um grande jogador de futebol, mas também um homem adorável.” — Goleiro inglês Gil Merrick.

“Ferenc realmente era um jogador maravilhoso. Ele era rechonchudo, mas um maravilhoso canhoto e um finalizador brilhante. Eu colocaria Puskás em qualquer lista dos melhores de todos os tempos. Um jogador maravilhoso, uma pessoa maravilhosa e ele gostava de jogar.” Sir Tom Finney.

“Puskás era um inferno para os goleiros a 30-35 metros de distância. Ele não tinha apenas um chute poderoso, mas também muita precisão. Eu o considerava um gênio.” — Raymond Kopa, companheiro de Puskás no Real Madrid.

“O homem era um super-talento. Eu perdi um amigo e um jogador de qualidade. Era assim que Puskás era como pessoa e jogador de futebol. Ele era um dos maiores jogadores de todos os tempos. Mas a vida, meu amigo, chega ao final quando você menos espera.” — Alfredo Di Stéfano, companheiro de Puskás do Real Madrid.

“Ele se deu bem com todos e tinha um caráter muito jovial que o ajudou a jogar com uma quantidade impressionante de alegria e serenidade. Ele tinha um grande chute e ele poderia acelerar muito rapidamente, tinha qualidades diversificadas e, sobretudo, tinha explosão.” — Luis Suárez, companheiro de Puskás na seleção da Espanha.

“Não houve um húngaro que não tenha ficado tocado pela morte de Ferenc Puskás. O húngaro mais famoso do século 20 nos deixou, mas a lenda vai sempre estar entre nós.” — Ferenc Gyurcsany, ex-primeiro ministro húngaro.

“Todos nós nos apaixonamos por Puskás e pela seleção húngara nos anos 50. Ele só tinha a perna esquerda e fazia maravilhas com ela.” — Armando Nogueira, um dia após o falecimento de Puskás.

“Ferenc foi um gênio porque nasceu sabendo.” — Mauro Beting em “As melhores seleções estrangeiras de todos os tempos”.

“Eu estava com (Bobby) Charlton, (Denis) Law e Puskás, estávamos dando aula em uma academia de futebol na Austrália. Os jovens que estávamos treinando não o respeitavam, fazendo piadas com o seu peso e sua idade. Nós decidimos deixar os garotos desafiarem um técnico a acertar uma barra 10 vezes seguidas. Obviamente, ele escolheram o velho gordo. Law perguntou aos meninos quantas vezes em 10 o treinador velho e gordo acertaria. A maioria disse que menos de cinco. Era melhor ter dito 10. O treinador velho e gordo se adiantou e acertou nove em sequência. No décimo chute, ele levantou a bola no ar, tocou com os dois ombros e a cabeça, deixou ela cair para o calcanhar e chutou de voleio na barra. Todos ficaram em silêncio e um dos meninos perguntou quem ele era e eu respondi: ‘Pra você, o nome dele é Senhor Puskás'”. — George Best.

“É importante preservar a memória dos grandes nomes do futebol que deixaram sua marca na nossa história. Ferenc Puskás era não só um jogador com imenso talento que ganhou muitas honras, mas também um homem notável. É, portanto, um prazer para a FIFA lhe prestar homenagem e lhe dedicar este prémio à sua memória.” — Joseph Blatter, ex-presidente da FIFA, sobre o prêmio “Ferenc Puskás”.