… Alcides Ghiggia: 91 anos do carrasco brasileiro

Três pontos sobre…
… Alcides Ghiggia: 91 anos do carrasco brasileiro


(Imagens localizadsa no Google)

● Por ironia do destino, o último sobrevivente da final da Copa de 1950, em que o Brasil perdeu de virada em casa para o Uruguai por 2 a 1, fosse ele. Mais ainda, que ele morresse aos 88 anos em um 16 de julho, dia exato em que faria 65 anos do Maracanazzo. Ele, que construiu e deu a assistência para o primeiro gol uruguaio e fez ele próprio o gol do título. Ele, que ficou amigo dos brasileiros e será para sempre querido no mundo inteiro. Ele, Alcides Ghiggia, que nasceu em Montevidéu em 22/12/1926 e faria 91 anos hoje se estivesse vivo.

● Sobre o maior momento de Ghiggia ¹*, reproduzimos abaixo partes de sua entrevista para o repórter Geneton Moraes Neto, no livro “Dossiê 50” ²*:

“Já sonhei diversas vezes [com o Maracanã]. Porque a gente sonha com algo que parece ser incrível. Meus sonhos, então, sempre tiveram o Maracanã como personagem.”

“O silêncio [da torcida brasileira após o segundo gol uruguaio] causou um impacto muito grande, porque eu achava que a torcida brasileira iria encorajar a seleção, para que o Brasil pudesse empatar. Mas o que a torcida vez foi um silêncio enorme. Isso me causou um impacto muito grande.”

“Poucas vezes [ouvi a narração do gol que fiz no Maracanã], porque minha mulher não deixa. Quando escuto a gravação, fico emocionado… Por essa razão, ela não deixa.”

“A maior tristeza que tive foi ver que, enquanto os jogadores do Brasil saíam de campo chorando, os torcedores, na arquibancada, estavam chorando também. Aquilo teve um impacto muito forte.”

“Nós sabíamos que o Brasil estava jogando muito bem e goleando todas as seleções. Conhecíamos o Brasil e sabíamos que teríamos que jogar contra ele. Conhecíamos o Brasil e sabíamos que teríamos que jogar contra ele. Conhecíamos os pontos fortes e os pontos fracos. Isso nos ajudou.”

“Quando vamos jogar uma partida de futebol, não temos que ter medo de nenhuma seleção! Nós, por exemplo, não tínhamos medo do Brasil. Por isso, deu tudo certo. Conseguimos ganhar. Talvez esse seja o fator principal quando se vai disputar uma partida com uma seleção: não se pode ter medo! Senão, não se pode competir.”

“[Se eu pudesse me dirigir aos jogadores brasileiros de 1950], eu diria a eles que tivessem confiança em si mesmos e não dessem importância à torcida. Porque o entusiasmo dos torcedores antes do jogo pode fazer mal. Eu lhes diria que não tivessem confiança em excesso. É preciso ter confiança na própria equipe, sim – mas sem depreciar o adversário.”

“O que aconteceu foi que muitos não acreditavam que tínhamos uma amizade de irmãos. Visitávamos uns aos outros com frequência. Estive com Zizinho, com Jair, com Ademir. Éramos muito amigos. Quando íamos ao Brasil, eles nos recebiam. Quando eles vinham ao Uruguai, nós os recebíamos. Entre nós, existia uma amizade em que muita gente não acreditava…”

“Quando terminou o primeiro tempo, fui falar com nosso técnico, Juan López. Pedi que ele dissesse a Julio Pérez que não fizesse lançamentos longos para mim. Eu conseguiria me livrar de Bigode, mas, do outro lado, apareceria Juvenal para me tirar a bola. Em vez de receber lançamentos longos, eu precisaria receber a bola no pé, para fazermos uma tabela. Com velocidade, eu conseguiria alcançar. É o que fizemos no segundo tempo. Deu tudo certo.”

“Essa jogada [do segundo gol] foi parecida com a do primeiro gol. Passei por três da defesa. Barbosa achou que eu iria tentar a mesma coisa. Ou seja: que eu iria tocar a bola para trás, para outro jogador uruguaio. Resolveu, então, ir para o lado. Assim, deixou o gol desprotegido: deixou uma brecha para mim. Eu só tinha um segundo para decidir! Quando vi a brecha, decidi chutar a gol. Chutei a bola justamente entre a trave e Barbosa. Quando ele tentou pegar, a bola já havia entrado.”

“Fiquei [amigo do Barbosa]. Estive com Barbosa depois de alguns anos. Neste encontro, ele me contou que, para ele, a vida tinha ficado muito difícil, impossível. Eu disse a ele que, no futebol, a culpa termina indo para alguém. A posição de goleiro é ingrata. Um goleiro pode ter boa atuação durante noventa minutos. Se um jogador fizer um gol bobo, o goleiro será sempre culpado. Porque não culparam Bigode – que era quem poderia me parar? Quando perdemos, a culpa é de todos, não de um. Quando ganhamos, todos ganham.”

¹* Nota Três Pontos: “Ghiggia” se pronuncia “Guídja” e não “Jígia“, comos nos acostumamos a falar no Brasil.

²* Bibliografia:
MORAES NETO, Geneton. Dossiê 50: Um repórter em busca dos onze jogadores que entraram em campo para serem campeões do mundo em 1950, mas se tornaram personagens do maior drama do futebol brasileiro. Rio de Janeiro: Maquinária, 2013. p. 151-157

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