… 30/06/1954 – Hungria 4 x 2 Uruguai

Três pontos sobre…
… 30/06/1954 – Hungria 4 x 2 Uruguai


(Imagem: The Guardian)

● Considerada uma das maiores partidas da história do futebol, era o duelo entre os dois principais favoritos ao título.

O Uruguai era a única seleção sul-americana entre os quatro semifinalistas. Era o então campeão mundial após o “Maracanazzo” de 1950 e nunca havia perdido uma partida de Copa do Mundo. A Celeste mantinha seus principais expoentes de 1950. A ausência mais sentida era Alcides Ghiggia, que não foi liberado pelo seu clube, a Roma. Na fase de grupos, venceu a Tchecoslováquia por 2 x 0 e a Escócia por 7 x 0. Na sequência, bateu a Inglaterra por 4 x 2 nas quartas de final.

A Hungria chegava mais forte ainda, campeã olímpica em 1952 e ostentando quatro anos de invencibilidade. Nos últimos 27 jogos, tinha vencido 23 e empatado quatro. Na primeira fase, os húngaros massacraram os adversários. Foram duas goleadas: 9 x 0 sobre a Coreia do Sul e 8 x 3 em cima da Alemanha Ocidental. Nas quartas de final, venceu o Brasil por 4 x 2 na “Batalha de Berna”. Em relação ao Uruguai, a Hungria vinha de um confronto mais difícil e ainda teve um dia a menos de descanso.

Por lesão, ambas equipes estavam desfalcadas de seus capitães e maiores estrelas. Os húngaros não tinha Ferenc Puskás (lesionado desde a primeira fase) e os celestes não podiam contar com o lendário Obdulio Varela (que se machucou contra os ingleses).

O time húngaro tinha ainda duas mudanças em relação ao jogo anterior. László Budai jogou na ponta direita no lugar do contundido József Tóth. Péter Palotás entrou na meia esquerda no lugar de Mihály Tóth.


A Hungria jogou em seu incipiente 4-2-4, com o recuo do centroavante Hidegkuti para armar o jogo e o consequente recuo de Zakariás para a linha defensiva. Palotás jogou na função de Puskás.


O Uruguai atuou no sistema WM adaptado, com um homem na sobra (Martínez) no sistema defensivo.

● Essa semifinal era vista por muitos como a final antecipada da Copa e correspondeu às expectativas com gols e alta qualidade técnica. Mesmo sob forte chuva, os 45 mil expectadores que estiveram no Estádio Olímpico de la Pontaise, em Lausanne, ficaram extasiados com a partida que assistiram.

Como de costume, a Hungria começou o jogo com agressividade no ataque e abriu o placar aos treze minutos. Nándor Hidegkuti ergueu a bola para a entrada da área, Sándor Kocsis desviou de cabeça e Zoltán Czibor a deixou quicar para emendar o voleio rasteiro de canhota, no canto esquerdo do goleiro uruguaio.

Os danubianos seguiam no ataque, mas a defesa rioplatense segurava firme. Em bola jogada para a área, a defesa celeste cortou mal. Czibor recolheu a bola, foi até a linha de fundo, cortou para dentro e cruzou de direita. Kocsis cabeceou forte e no alto, mas Roque Máspoli defendeu à queima roupa.

Essa foi a única partida em que os húngaros não abriram dois gols de vantagem nos vinte primeiros minutos.

A partida se apresentou com um duelo tático interessante. Parte do sucesso dos húngaros foi por causa do recuo do seu centroavante para armar as jogadas de ataque pelo meio (Nándor Hidegkuti ou Péter Palotás), deixando as defesas adversárias sem um homem de referência e abrindo espaço para a infiltração dos meias. Mas nessa partida, o técnico uruguaio Juan López Fontana destacou Néstor Carballo para a marcação individual sobre Hidegkuti. Os húngaros não estavam acostumados com isso e tiveram um pouco de dificuldades. Até que o treinador magiar Gusztáv Sebes contra-arquitetasse orientando para Zoltán Czibor para se movimentar no espaço aberto pela saída de Carballo.

O segundo gol só saiu no primeiro minuto do segundo tempo, László Budai cruzou da direita à meia altura para a segunda trave e Hidegkuti mandou para as redes de peixinho.

Com dois gols de vantagem no placar, a peleja parecia resolvida. Mas do outro lado tinha o bravo Uruguai.


(Imagem: Pinterest)

Aos trinta minutos da etapa final, Juan Alberto Schiaffino fez um lançamento para Juan Hohberg na meia-lua. Sem marcação, ele invadiu a área e chutou rasteiro no canto esquerdo do goleiro.

A Celeste Olímpica cresceu e a Hungria sentiu o golpe.

A quatro minutos do fim, Hohberg aproveitou confusão na área adversária, ganhou uma dividida com o goleiro Grosics e, mesmo caindo, anotou seu segundo tento na partida, igualando o placar.

Curiosamente, Juan Hohberg era nascido na Argentina. Ele esteve lesionado durante a fase de grupos e só foi estrear justamente nessa partida. No lance do gol de empate uruguaio, ele caiu desacordado. Depois soube-se que ele teve uma parada cardíaca ali mesmo, ficando alguns segundos morto. O médico uruguaio, Carlos Abate, deu duas doses de coramina ao jogador, além de fazer massagem cardíaca para reanimá-lo. O Uruguai voltou a campo com dez jogadores para a disputa do tempo extra, mas pouco depois, mesmo desaconselhado pelos médicos, Hohberg voltou a campo.

A partida mudou totalmente na prorrogação, com os uruguaios mais perto da vitória. Logo no primeiro lance, Schiaffino bateu cruzado, Grosics deslizou pela grama molhada e a bola carimbou a trave direita.

Mas prevaleceu o melhor preparo físico e os mágicos magiares reapoderam de forma fatal na segunda parte do tempo extra.

Aos 6′, após cruzamento de Budai para a área, Kocsis ganhou no alto de José Santamaría e cabeceou no canto esquerdo de Máspoli.

Aos 11, jogada muito semelhante. József Bozsik cruzou para a área, Kocsis ganhou no alto e cabeceou no canto direito do goleiro uruguaio, garantindo a passagem dos europeus à decisão.

Placar final: 4 a 2. E a Hungria chegaria mais favorita que nunca para a final da Copa.


(Imagem: Pinterest)

● Em 1960, apenas seis anos depois, a revista inglesa World Soccer chamou a partida de “o maior jogo de futebol de todos os tempos”.

Essa derrota uruguaia foi a primeira do país na história das Copas do Mundo. A Celeste Olímpica foi campeã em 1930 e não disputou os Mundiais de 1934 e 1938. Voltou em 1950 e novamente conquistou o título. O Uruguai também conquistou a medalha de ouro no futebol nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928. Assim, no total, entre 1924 e 1954, entre Olimpíadas e Copas do Mundo, o Uruguai teve uma fantástica série de 21 partidas invictas.

Ao fim da partida, o capitão uruguaio, William Martínez, foi cordialmente ao vestiário da Hungria para cumprimentar os vencedores. Os húngaros mostraram respeito e reverência aos uruguaios, ao contrário do sentimento nutrido em relação aos brasileiros, eliminados três dias antes. Para Kocsis, o Brasil era um time covarde. “Nós éramos melhores e ganharíamos quantas vezes precisássemos”, disse o atacante magiar.

“Nunca vi um desempenho tão notável entre duas equipes jogando no seu nível mais alto. Ambas as equipes foram excelentes. Eu instruí a Hungria a colocar a bola no chão e fazê-la correr o tempo todo. Estávamos conscientes de que a equipe uruguaia não conseguia acompanhar o ritmo que ditava no período final do jogo, e nossa suposição acabou sendo verdadeira na prorrogação.” ― Gusztáv Sebes

“Nunca vi o time húngaro jogando com tanta dedicação, mantendo seus padrões de futebol por tanto tempo, até mesmo na prorrogação.” ― Walter Winterbottom, técnico da seleção inglesa

“O jogo foi especialmente notável, pois os uruguaios jogam o mesmo futebol que nós. Nós apenas jogamos um pouco melhor.”József Bozsik

“O Uruguai foi o melhor time que a Hungria enfrentou em todos os tempos.” ― Gyula Mándi, treinador de campo e assistente de Gusztáv Sebes

“É seguro dizer que o time uruguaio é o melhor que enfrentamos até agora.” ― Gyula Grosics

“Com os húngaros perdemos por 4 a 2 e me tocou converter os dois gols uruguaios. A Hungria foi a melhor equipe que vi em minha vida. Era uma máquina infernal.” ― Juan Hohberg

“A Hungria é o maior time que eu já joguei contra. Sua qualidade é fascinante.” ― Víctor Rodríguez Andrade

“O time uruguaio joga de maneira diferente do Brasil. Eles colocam mais ênfase no trabalho em equipe. Individualmente eles não são tão brilhantes quanto os brasileiros. Mas o Uruguai é mais perigoso por causa de seu trabalho em equipe disciplinado e de seus esforços coletivos. Além disso, os jogadores têm excelente controle de bola e são capazes de boas combinações e lideraram alguns ataques maravilhosos. Víctor Rodríguez Andrade e Juan Alberto Schiaffino são seus melhores jogadores – o último é simplesmente impossível de desarmar. Deve ser notado que a marcação deles era às vezes frouxa e os defensores davam muito espaço para os nossos atacantes (especialmente William Martínez contra László Budai), que poderiam ter a bola relativamente desmarcada, e depois virá-la a seu favor.” (Parte da crônica do jornal húngaro Nemzeti Sport sobre a partida)

Na decisão do 3º lugar, o Uruguai não jogou bem e perdeu para a Áustria por 3 x 1. A Hungria enfrentou novamente a Alemanha Ocidental na final e perdeu de virada por 3 x 2.


(Imagem: Liga Retro)

FICHA TÉCNICA:

 

HUNGRIA 4 x 2 URUGUAI

 

Data: 30/06/1954

Horário: 18h00 locais

Estádio: Stade Olympique de la Pontaise

Público: 45.000

Cidade: Lausanne (Suíça)

Árbitro: Benjamin Griffiths (País de Gales)

 

HUNGRIA (4-2-4):

URUGUAI (WM):

1  Gyula Grosics (G)

1  Roque Máspoli (G)

2  Jenő Buzánszky

2  José Santamaría

3  Gyula Lóránt

3  William Martínez (C)

4  Mihály Lantos

4  Víctor Rodríguez Andrade

5  József Bozsik (C)

16 Néstor Carballo

6  József Zakariás

17 Luis Cruz

16 László Budai

18 Rafael Souto

8  Sándor Kocsis

19 Javier Ambrois

9  Nándor Hidegkuti

8  Juan Hohberg

19 Péter Palotás

10 Juan Alberto Schiaffino

11 Zoltán Czibor

11 Carlos Borges

 

Técnico: Gusztáv Sebes

Técnico: Juan López Fontana

 

SUPLENTES:

 

 

21 Sándor Gellér (G)

12 Julio Maceiras (G)

22 Géza Gulyás (G)

13 Mirto Davoine

12 Béla Kárpáti

14 Eusebio Tejera

13 Pál Várhidi

15 Urbano Rivera

14 Imre Kovács

5  Obdulio Varela

15 Ferenc Szojka

6  Roberto Leopardi

7  József Tóth

7  Julio Abbadie

17 Ferenc Machos

20 Omar Méndez

18 Lajos Csordás

9  Óscar Míguez

20 Mihály Tóth

21 Julio Pérez

10 Ferenc Puskás

22 Luis Ernesto Castro

 

GOLS:

13′ Zoltán Czibor (HUN)

46′ Nándor Hidegkuti (HUN)

75′ Juan Hohberg (URU)

86′ Juan Hohberg (URU)

111′ Sándor Kocsis (HUN)

116′ Sándor Kocsis (HUN)

Gols do jogo:

Compacto estendido da partida:

 

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