… 10/06/1934 – Itália 2 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 10/06/1934 – Itália 2 x 1 Tchecoslováquia


Jogadores italianos fazem saudação fascista antes da final (Imagem: FIFA)

● A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, o Duce queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi“. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota se sagraram campeões do mundo em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro). Nascido em São Paulo e revelado pela Portuguesa, Amphilóquio Guarisi Marques, Filó, teve destaque no Corinthians e na Lazio e se tornou o primeiro brasileiro campeão do mundo, mesmo atuando apenas no jogo de estreia.

Diz a lenda que antes da final contra a Tchecoslováquia, o alto escalão da FIFA e o árbitro sueco Ivan Eklind (que já havia apitado a semifinal entre italianos e austríacos) foram convidados a jantar com Mussolini. O encontro nunca foi oficialmente confirmado, mas antes da partida, Eklind e os dois auxiliares (Louis Baert, belga, e Mihaly Ivancsis, húngaro) fizeram a saudação fascista ao Duce, que assistia à partida na tribuna de honra. Na hora, poucos estranharam. Mas em campo, a arbitragem usou a sua arma para aniquilar qualquer pretensão dos tchecos: o apito.

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O retrospecto anterior já credenciava a Itália como favorita ao título. As duas seleções se enfrentaram em um amistoso em 03/05/1929, com vitória dos italianos por 4 a 2. Desde essa data até o início do mundial, a Itália entrou em campo 32 vezes, com 20 vitórias, 6 empates e 6 derrotas, 79 gols marcados e 38 sofridos. Já os tchecos, em 41 jogos, venceram 17 vezes, com 11 empates e 13 revezes, marcando 83 gols e sofrendo 72.

Para chegar à final, os tchecos tinham vencido a Romênia (2 a 1), a Suíça (3 a 2) e a Alemanha (3 a 1).

Já a Itália, passou pelos Estados Unidos (7 a 1) e pela fortíssima Espanha (em duas partidas, 1 a 1 na primeira e 1 a 0 no jogo desempate), além de bater a boa seleção da Áustria (apelidada de Wunderteam, “time maravilha”) na semifinal por 1 a 0.

A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


A Tchecoslováquia jogava em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos.

● Um fato raro: os capitães de ambas as equipes eram os goleiros: Giampiero Combi (Itália) e František Plánička (Tchecoslováquia). E foram eles os destaques do primeiro tempo, com várias defesas difíceis, impedindo os gols adversários. Plánička teve que se esforçar mais. Mas a melhor oportunidade foi dos tchecos, com uma bola na trave. A Itália tinha maior velocidade, enquanto a Tchecoslováquia tinha um melhor toque de bola.

A partida continuou equilibrada até os 31 minutos da etapa final, quando Jiří Sobotka avançou e tocou para Antonín Puč, na esquerda do ataque. O ponta chutou de primeira, no canto direito, surpreendendo o goleiro Combi, que não conseguiu chegar na bola. Curiosamente, Puč havia sofrido uma contusão e deixado o campo para ser atendido três minutos antes. Em seu primeiro toque na bola após retornar ao gramado, ele abriu o placar.

Faltando pouco tempo para acabar a partida, o desespero tomou conta dos 55 mil torcedores no estádio romano. Quase piorou quando František Svoboda chutou uma bola na trave.

Mas logo depois, aos 36 minutos, Giovanni Ferrari dominou a bola no peito e tocou para Raimundo Orsi. De costas para o gol, ele girou em torno de Josef Košťálek e chutou com efeito, no canto direito de Plánička, empatando a decisão. Os tchecos reclamaram de irregularidade, alegando que Ferrari tinha dominado a bola com o braço, mas o árbitro confirmou o gol após consultar o auxiliar. E o empate forçou a prorrogação da final.

Durante o período de descanso, os torcedores estavam apreensivos com um eventual desgaste do time. Os anfitriões, além de terem uma média de idade em torno dos 30 anos, haviam jogado 120 minutos a mais que o adversário, devido ao duríssimo jogo desempate com a Espanha nas quartas de final. Mas foi nesse momento que valeu a pena o período de três meses de treino intenso na Suíça, obtido graças a insistência do técnico Vittorio Pozzo.

Os italianos mostraram mais preparo físico que o adversário e conseguiram virar o marcador logo aos cinco minutos, quando Giuseppe Meazza ergueu a bola na área, Enrique Guaita dominou e a ela sobrou mansa para Angelo Schiavio, que chutou a gol. A finalização acabou prensada em um zagueiro e a bola encobriu Plánička. 2 a 1, de virada.

Os italianos se trancaram na defesa e os tchecos não mostraram forças para reagir.

Ao fim do tempo extra, a Itália se sagrou campeã do mundo.


Italianos festejam o título (Imagem: FIFA)

● O grande craque da Copa foi Giuseppe Meazza, de apenas 23 anos. Nascido em 23/08/1910, ele iniciou a carreira aos 17 anos, na Ambrosiana (atual Inter de Milão) e estreou na seleção aos 20 anos. Pela Azzurra, marcou 33 gols em 53 jogos. Era o maior artilheiro da seleção até os anos 1970, quando foi ultrapassado por Luigi Riva.

Além da Taça Jules Rimet, os campeões do mundo foram agraciados com medalhas de bronze estampadas com a efígie de Mussolini, entregues aos jogadores no gramado pelo próprio ditador.

Diversas fontes afirmam que esse resultado salvou a vida de jogadores e comissão técnica, pois seria difícil aplacar um provável e mortal acesso de ira de Benito Mussolini em uma eventual derrota.

Todos temiam ao Duce. Após o título, o técnico Vittorio Pozzo fez uma declaração cheia de apologias ao regime fascista, ao comentar sobre os adversários:

“A partida mais difícil de todas foi contra a Espanha. Precisamos passar por 210 minutos de jogo para vencer. Nenhum outro time nos exigiu tanto. Com tal valor se comportaram os espanhóis naquelas duas partidas em Florença, que foram necessários homens de têmpera especial para batê-los, homens fortes e confiantes como só o fascismo pode criar.”

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 10/06/1934

Horário: 17h00 locais

Estádio: Nazionale PNF

Público: 55.000

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)

 

ITÁLIA (2-3-5):

TCHECOSLOVÁQUIA (2-3-5):

Giampiero Combi (G)(C)

František Plánička (G)(C)

Eraldo Monzeglio

Ladislav Ženíšek

Luigi Allemandi

Josef Čtyřoký

Luigi Bertolini

Josef Košťálek

Luis Monti

Štefan Čambal

Attilio Ferraris IV

Rudolf Krčil

Enrique Guaita

František Junek

Giuseppe Meazza

František Svoboda

Angelo Schiavio

Jiří Sobotka

Giovanni Ferrari

Oldřich Nejedlý

Raimundo Orsi

Antonín Puč

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Karel Petrů

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Ehrenfried Patzel (G)

Giuseppe Cavanna (G)

Jaroslav Burgr

Umberto Caligaris

Ferdinand Daučík

Virginio Rosetta

Jaroslav Bouček

Armando Castellazzi

Vlastimil Kopecký

Mario Pizziolo

Adolf Šimperský

Mario Varglien I

Erich Srbek

Pietro Arcari

František Šterc

Felice Borel II

Antonín Vodička

Anfilogino Guarisi

Géza Kalocsay

Attilio Demaría

Josef Silný

 

GOLS:

76′ Antonín Puč (TCH)

81′ Raymundo Orsi (ITA)

95′ Angelo Schiavio (ITA) 

Lances e gols da final:

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