… 20/07/1966 – Alemanha Ocidental 2 x 1 Espanha

Três pontos sobre…
… 20/07/1966 – Alemanha Ocidental 2 x 1 Espanha


(Imagem: Impromptuinc)

● O árbitro da partida foi o brasileiro Armando Marques. Então com 36 anos, ele era famoso no Brasil por sua mania de querer ser o centro do espetáculo. Mas não havia qualquer dúvida de que ele era o melhor árbitro do país na década de 1960. Seus famosos e folclóricos erros só viriam a acontecer nos anos 1970, como, por exemplo, o equívoco na contagem de pênaltis na decisão do Campeonato Paulista de 1973.

Ambas as seleções constavam no grupo das favoritas ao título. O Brasil era o candidato natural, por ter vencido as duas Copas anteriores (1958 e 1962). A Inglaterra era a dona da casa. A Espanha havia conquistado a Eurocopa de 1964. A Hungria havia ganhado a medalha de ouro do futebol nos Jogos Olímpicos de 1964. A União Soviética contava o goleiro Lev Yashin em seu auge. A Alemanha Ocidental tinha um bom elenco, onde brilhavam o veterano atacante Uwe Seeler e uma jovem dupla no meio campo: Franz Beckenbauer e Wolfgang Overath.

Após quase trinta anos, os alemães tinham um novo técnico. Em 1964, a “raposa” Sepp Herberger deu lugar ao não menos esperto Helmut Schön, que era seu auxiliar desde 1960.

Em sua primeira partida, a Nationalmannschaft goleou a Suíça por 5 x 0. Na segunda rodada, empatou sem gols com a Argentina. Com a vitória dos albicelestes sobre os suíços por 2 x 0 no dia anterior, a Alemanha jogava por uma vitória simples para ser a líder do Grupo B ou, na pior dar hipóteses, precisava de um empate para ficar com a segunda vaga da chave.


(Imagem: Impromptuinc)

● Em sua estreia, a Espanha perdeu para a Argentina por 2 x 1. Depois, venceu a Suíça pelo mesmo placar. No terceiro jogo, precisava vencer os alemães de qualquer jeito para se classificar.

Por isso, o técnico José Villalonga radicalizou geral. Ele aproveitou a lesão do meia Pirri e trocou praticamente todo o time do meio de campo para a frente. Só o ponta direita Amancio Amaro continuou no onze titular.

Foram barrados jogadores consagrados, como o ponta esquerda Paco Gento, do Real Madrid (jogador mais vezes campeão na história da UEFA Champions League, com seis títulos), o atacante Joaquín Peiró e o meia Luis Suárez, ambos da Inter de Milão (que havia vencido a Champions por duas vezes em anos anteriores) e o meia Luis del Sol, da Juventus.

Esses nomes de peso foram substituídos por jovens que estavam no elenco que ajudou a Espanha a se sagrar campeã da Eurocopa de 1964, como Josep Maria Fusté, Adelardo, Marcelino e Carlos Lapetra.

Porém, o certo é que os onze jogadores que pisaram no Villa Park naquele dia nunca haviam sequer treinado juntos.


Ambas as equipes jogavam no sistema tático 4-2-4.

● Os primeiros 30 minutos dessa partida foram os mais intensos dos espanhóis desde a Copa de 1950. Dominando as ações ofensivas, o time demonstrou uma vontade incomum e partiu para cima da Alemanha honrando o apelido de Fúria. Com um time menos talentoso, mas dedicado e esforçado, os espanhóis começaram pressionando e empurrando os teutônicos para o campo de defesa. Tamanho esforço e vigor só poderia ser recompensado com um gol.

Aos 23′, Emmerich deu um passe errado para Franz Beckenbauer. Josep Maria Fusté interceptou, abriu na esquerda com Marcelino e se infiltrou na área. A devolução foi perfeita para Fusté dominar no peito e tocar no canto direito, antes da chegada do goleiro Hans Tilkowski. Os alemães reclamaram que Fusté havia conduzido a bola com o braço, mas Armando Marques, como sempre, nem quis escutar.

Aos 39′, Sigfried Held cobrou um lateral rápido para Lothar Emmerich na ponta esquerda. Quase da linha de fundo, Emmerich soltou uma bomba que passou entre a trave direita e o goleiro José Ángel Iribar, morrendo no outro ângulo. Foi um verdadeiro “gol espírita”, um dos maiores de todas as Copas. O chute tomou o rumo do gol sem ter ângulo algum.

Esse gol ficou imortalizado na Alemanha. Desde então, quando um gol é marcado de um ângulo impossível, é chamado de “Emmerich Tor” (“gol Emmerich”) no jargão futebolístico alemão.

Um golaço, que foi considerado o gol mais bonito da história do estádio Villa Park até a época.

Era um verdadeiro castigo para o que os espanhóis estavam jogando. Não havia mais justiça no placar.

A Espanha retornou com menos confiança para o segundo tempo e só voltaria a equilibrar as ações a partir dos 20 minutos, mas sem a adrenalina da primeira etapa. A Fúria tentou o segundo gol a qualquer custo, mas o time cansou.

E a virada alemã aconteceu aos 39′. Held foi à linha de fundo e cruzou rasteiro da esquerda. Uwe Seeler dominou na linha da pequena área e bateu no canto esquerdo de Iribar.

Assim como o primeiro gol alemão, o segundo também ocorreu em um momento que abalou psicologicamente os espanhóis, que agora precisavam anotar dois gols em sete minutos.

E o nervosismo dos ibéricos ainda resultou em outras duas chances perdidas pelos germânicos. Em uma delas, Uwe Seeler roubou a bola de Severino Reija, entrou sozinho na área e driblou o goleiro Iribar, mas ficou sem ângulo para a finalização.


(Imagem: Impromptuinc)

● De forma melancólica, a Espanha deu adeus a mais uma Copa do Mundo. O zagueiro Gallego resumiu bem a partida: “Nós criamos as oportunidades e eles fizeram os gols”.

Curiosamente, a Espanha tinha em seu elenco um atacante que começou a carreira no Flamengo. Nascido em Pontevedra, na região da Galícia, José Armando Ufarte viveu a infância no Brasil e começou a carreira nas divisões de base do rubro-negro, antes de voltar ao seu país e jogar no Atlético de Madrid. Jogou também pelo Corinthians e pelo Racing Santander. Pelo Flamengo, conquistou o Campeonato Carioca em 1961 e o Tornio Rio-São Paulo em 1963.

Com a vitória, a Alemanha foi a líder de seu grupo graças ao critério do goal average (divisão do número de gols marcados pelo número de gols sofridos), furando a previsão de seu ex-técnico Sepp Herberger, campeão mundial em 1954 e jornalista em 1966. Ele havia afirmado que os alemães seriam eliminados ainda na primeira fase.

Nas quartas de final, a Alemanha Ocidental goleou o Uruguai por 4 x 0. Nas semifinais, venceu a forte União Soviética por 2 x 1. Na decisão, enfrentou a Inglaterra, dona da casa. Conseguiu um empate no tempo normal, mas, na prorrogação, sofreu um gol bastante polêmico (até hoje não existe um ângulo de qualquer imagem que tenha mostrado a bola dentro do gol) e perdeu por 4 x 2.


(Imagem: AP Photo / Bippa / Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 2 x 1 ESPANHA

 

Data: 20/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Villa Park

Público: 42.187

Cidade: Birmingham (Inglaterra)

Árbitro: Armando Marques (Brasil)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-2-4):

ESPANHA (4-2-4):

1  Hans Tilkowski (G)

1  José Ángel Iribar (G)

2  Horst-Dieter Höttges

2  Manuel Sanchís

5  Willi Schulz

17 Gallego

6  Wolfgang Weber

5  Ignacio Zoco (C)

3  Karl-Heinz Schnellinger

15 Severino Reija

4  Franz Beckenbauer

6  Jesús Glaría

12 Wolfgang Overath

19 Josep Maria Fusté

19 Werner Krämer

21 Adelardo

9  Uwe Seeler (C)

8  Amancio Amaro

10 Sigfried Held

9  Marcelino

11 Lothar Emmerich

22 Carlos Lapetra

 

Técnico: Helmut Schön

Técnico: José Villalonga

 

SUPLENTES:

 

 

22 Sepp Maier (G)

12 Antonio Betancort (G)

21 Günter Bernard (G)

13 Miguel Reina (G)

14 Friedel Lutz

14 Feliciano Rivilla

15 Bernd Patzke

16 Ferran Olivella

17 Wolfgang Paul

3  Eladio

18 Klaus-Dieter Sieloff

18 Pirri

7  Albert Brülls

4  Luis del Sol

16 Max Lorenz

20 Joaquín Peiró

8  Helmut Haller

10 Luis Suárez Miramontes

13 Heinz Hornig

7  José Armando Ufarte

20 Jürgen Grabowski

11 Francisco Gento

 

GOLS:

23′ Josep Maria Fusté (ESP)

39′ Lothar Emmerich (ALE)

84′ Uwe Seeler (ALE)

 

ADVERTÊNCIAS:

Wolfgang Overath (ALE)

Jesús Glaría (ESP)


(Imagem: DPA / Report+++ / Impromptuinc)

Gols da partida:

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