… 06/07/2018 – Bélgica 2 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 06/07/2018 – Bélgica 2 x 1 Brasil


(Imagem: FIFA.com)

● Depois de fazer um verdadeiro papelão na Copa do Mundo de 2014, jogando em casa, o técnico Luiz Felipe Scolari saiu para a entrada de Dunga. Como sabemos, o capitão do tetra nunca teve sucesso como técnico. E com uma campanha ruim nas eliminatórias sul-americanas e em duas edições de Copa América, logo ele caiu. Com dois anos de atraso Tite assumiu e recuperou a autoestima da Seleção Brasileira. Era unanimidade. A pessoa certa no lugar certo. Um técnico moderno.

Jogando em um 4-1-4-1 “imexível”, o time ganhou liga e acabou como líder nas eliminatórias, com a segunda melhor campanha em todos os tempos (atrás apenas da Argentina de 2002). Tinha um sistema defensivo sólido, com o goleiro Alisson, três zagueiros de alto nível (Thiago Silva, Miranda e Marquinhos), dois dos melhores laterais da história recente (Daniel Alves e Marcelo). Casemiro era o responsável pela marcação no meio campo. Paulinho era o homem da infiltração e Philippe Coutinho o da armação e chutes de longa distância. Willian fazia o lado direito e Neymar brilhava e caía (em todos os sentidos) pelo lado esquerdo. Gabriel Jesus era o centroavante tático, que tinha a função principal de abrir espaços para quem vinha de trás.

Faltavam opções confiáveis no banco, muito por causa da gratidão do treinador para com alguns jogadores que não estavam em seu melhor momento. Os nomes mais questionáveis eram Renato Augusto, Taison, Fagner, Paulinho, Fred e Cássio (todos treinados por Tite no Corinthians ou no Inter). Em cima da hora, a lesão de Daniel Alves abriu a brecha para que Danilo fosse titular na lateral direita. Durante o Mundial, o lateral do Manchester City (atualmente na Juventus) se lesionou e Fagner se tornou titular. Se não brilhou, também não passou vergonha.

A contusão de Neymar meses antes do Mundial deixou algum receio, mas logo ele se recuperaria e ganharia a fama de “cai-cai” durante o torneio na Rússia. Era a história de “Pedrinho e o lobo”: já não se sabia mais quando estava sentindo alguma pancada ou se estava só representando.

Na primeira fase, o empate por 1 x 1 com a Suíça começou a abrir os olhos da torcida, mostrando que o hexa não viria tão facilmente. A vitória por 2 x 0 sobre a Costa Rica veio apenas nos minutos finais, mas sem enganar que o placar moral deveria ter sido um empate. Contra a Sérvia, a vitória por 2 x 0 serviu para garantir o primeiro lugar no grupo e nada mais. Nas oitavas de final, em nova vitória por 2 x 0, dessa vez sobre o “freguês” México, a Seleção Brasileira até jogou um pouco melhor. Mas o adversário nas quartas seria a forte Bélgica.


(Imagem: FIFA.com)

● A “ótima geração belga” estava em seu auge. Convivia com a pressão para ser protagonista em um grande torneio. Seus melhores jogadores haviam amadurecido e viviam boa fase, com carreiras sólidas nos grandes clubes europeus.

O técnico espanhol Roberto Martínez montava os Diables Rouges no sistema 3-4-3. Thibaut Courtois era o goleiro. A defesa tinha Toby Alderweireld pela direita, Vincent Kompany pelo meio e Jan Vertonghen pela esquerda (às vezes até avançando mais como um falso lateral). Thomas Meunier era o ala pela direita e voltava um pouco mais para fechar seu lado. Na ala oposta, Nacer Chadli fazia a esquerda, avançando mais. Axel Witsel era o esteio da marcação. Seu companheiro no meio era Kevin De Bruyne, que marcava, passava, criava, atacava e finalizava. O goleador do Napoli Dries Mertens era o ponta direita. Pela ponta esquerda, o capitão Eden Hazard chegava ao seu auge técnico. O centroavante Romelu Lukaku era a força bruta e a certeza de gols. No banco, bons nomes como Thomas Vermaelen, Mousa Dembélé, Marouane Fellaini e Yannick Ferreira Carrasco. A ausência mais sentida foi a do volante Radja Nainggolan, preterido na convocação.

Na primeira fase, a Bélgica venceu o Panamá por 3 x 0 e a Tunísia por 5 x 2. Na terceira rodada, venceu a Inglaterra por 1 x 0, em uma partida em que as duas seleções escalaram os reservas. Nas oitavas de final, os belgas estavam perdendo para o Japão por 2 x 0 até os 24 minutos do segundo tempo, mas conseguiram virar o placar para 3 x 2.

O primeiro teste de verdade seria o Brasil nas quartas de final. E o técnico Martínez resolveu fazer mudanças no time, para reforçar o meio de campo. Na ala esquerda, trocou Ferreira Carrasco por Chadli. Mas a mudança mais significativa foi a troca do atacante Mertens pelo volante Fellaini. Com isso, De Bruyne ganhava liberdade total para flutuar entre as linhas de defesa do Brasil e organizar as ações ofensivas. Além disso, houve uma alteração tática: o centroavante Lukaku, acostumado a jogar pelo meio, começou o jogo caindo na ponta direita, aproveitando a fragilidade defensiva e as constantes subidas de Marcelo (que se recuperava de lesão nas costas), puxando a marcação e abrindo a defesa brasileira para a inserção e avanço dos meias.


O técnico Roberto Martínez escalou a Bélgica no ofensivo 3-4-3, mas dessa vez com a proteção maior de Fellaini no meio e De Bruyne mais próximo do ataque. Lukaku jogou caindo pela direita.


Tite repetiu seu esquema preferido, o 4-1-4-1. Marcelo voltou ao time titular e Fernandinho ganhou a vaga de Casemiro, suspenso por ter recebido o segundo cartão amarelo contra o México.

● A mudança tática na seleção belga pegou Tite de surpresa e a Bélgica dominou o primeiro tempo.

O Brasil não podia contar com Casemiro, suspenso pelo segundo cartão amarelo. Ele era um dos melhores de sua posição na Copa até então. Seu substituto foi Fernandinho.

No início do jogo, De Bruyne começou assustando o Brasil, ao ganhar uma dividida de Fernandinho e arriscar de longe, mas a bola saiu à direita de Alisson.

Logo depois, Neymar cobrou escanteio da esquerda e Thiago Silva finalizou do jeito que deu, com a coxa, mas a bola bateu na trave e Courtois correu para agarrá-la.

Chadli arriscou da meia esquerda e a bola foi para fora.

Willian cobrou escanteio rasteiro pela direita e Paulinho, sozinho, teve a chance clara de fazer o gol, mas chutou mascado.

O castigo veio aos 13 minutos. Chadli cobrou escanteio. Kompany apareceu na primeira trave sem marcação e deu um leve desvio. Gabriel Jesus e Fernandinho subiram juntos na mesma bola e nenhum conseguiu cortar. Ela bateu na lateral do braço de Fernandinho e entrou no gol. Mais um dos vários gols contra da Copa de 2018.

O Brasil não se abateu. Neymar foi à linha de fundo e cruzou rasteiro para o meio. Gabriel Jesus foi travado em cima por Kompany, seu companheiro no Manchester City.

Philippe Coutinho arriscou da entrada da área, mas Courtois agarrou firme. Marcelo fez a mesma jogada de Coutinho e o goleiro belga espalmou.

Uma partida na qual o Brasil era ligeiramente melhor, ficou ainda pior aos 31′. Neymar bateu escanteio e Alderweireld cortou na primeira trave (como deveriam ter feito os brasileiros no lance do primeiro gol). Lukaku pegou a sobra na intermediária defensiva, girou sobre Fernandinho, avançou em alta velocidade e abriu na direita para Kevin De Bruyne, que entrou na área e chutou forte e cruzado. O segundo gol belga mostrou as maiores qualidades dessa “ótima geração”: transições em velocidade e bom aproveitamento nas finalizações.

Talvez Fernandinho tenha sido inocente por não ter feito uma “falta tática” na jogada, coisa que o suspenso Casemiro teria feito.

A Seleção Canarinho, que já estava nervosa, passou a errar passes de três metros.

Marcelo cruzou da esquerda e Gabriel Jesus cabeceou sozinho para fora. Possivelmente daria tempo até de dominar a bola e finalizar em melhores condições, mas ele se afobou e cabeceou do jeito que conseguiu.

Marcelo cruzou rasteiro, a zaga cortou e Courtois salvou o gol contra. O escanteio curto foi cobrado e Coutinho arriscou para nova defesa do arqueiro belga.

De Bruyne cobrou falta no meio do gol e Alisson espalmou por cima. Chadli cobrou escanteio rasteiro e Kompany apareceu na primeira trave para desviar, mas o goleiro brasileiro ficou com a bola.


(Imagem: FIFA.com)

● Tite mexeu no intervalo. Trocou Willian por Roberto Firmino e deslocou Gabriel Jesus para a direita. Mas a primeira jogada perigosa foi pela esquerda, quando Marcelo chutou cruzado e a bola passou perto do gol. Firmino ainda tentou esticar o pé e quase tocou na bola.

Depois, Fagner achou Paulinho, que entrou na área e dividiu com Courtois, mas a bola espirrou na sequência.

De Bruyne puxou contra-ataque e abriu na esquerda para Hazard, que chutou forte, mas a bola saiu à esquerda de Alisson. O Brasil escapou de sofrer o terceiro gol.

O menino Jesus não rendeu na direita e Tite, tardiamente, o trocou por Douglas Costa. Na primeira bola que recebeu, Douglas passou por Vertonghen e chutou cruzado, Courtois espalmou para o meio da área e Paulinho não estava atento para alcançar o rebote.

Depois, a jogada quase se repetiu: Douglas cortou a marcação e chutou cruzado, o goleiro espalmou e Neymar chutou a sobra em cima da defesa belga.

Tite fez a última alteração, colocando Renato Augusto no lugar de Paulinho. A intenção era parar de errar passes na saída de bola, mas essa mexida surtiu mais efeito no ataque.

Philippe Coutinho avançou pelo meio, viu a infiltração de Renato Augusto e cruzou. Aparecendo no meio da área como homem surpresa, o camisa 8 desviou bem de cabeça e a bola foi no cantinho direito. Um belo gol, que voltava a dar esperanças para o Brasil.

Coutinho tocou da esquerda, Neymar girou em cima da marcação e chutou por cima. Essa passou muito perto do gol.

Coutinho (que parecia ter acordado de longa hibernação de 70 minutos) tocou para Renato Augusto na entrada da área. Sem marcação, o meia chutou com perigo, mas a bola saiu à esquerda. Um gol perdido. A maior chance do Brasil no jogo. Não se deve nunca errar um gol desses.

Firmino abriu para Neymar na esquerda. Ele cortou Meunier e tocou para a chegada de Coutinho, que pegou muito mal na bola e isolou.

Douglas Costa cortou da direita para o meio e rolou para Neymar. Da meia lua, o camisa 10 bateu colocado no ângulo, mas Courtois foi buscar a bola e fazer um verdadeiro milagre na Arena Kazan. Outra chance perdida, que arrefeceu a Seleção.

No último lance da partida, inclusive com Alisson dentro da área belga, Neymar cobrou escanteio e Firmino cabeceou por cima.


(Imagem: FIFA.com)

● Ao final da partida, os belgas comemoraram como se já houvessem conquistado o título. Foi uma prova enorme de maturidade dessa “ótima geração”, que queria continuar provando que estava pronta para deixar de ser um “time de videogame” e marcar seu lugar na história. Tinha qualidades para isso.

Os Diables Rouges alcançaram as semifinais pela segunda vez em sua história, a primeira desde 1986. Fez uma partida equilibrada com a França, mas não conseguiu criar chances de gol e perdeu por 1 x 0. No fim, conquistou o inédito 3º lugar ao vencer novamente a Inglaterra, dessa vez por 2 x 0. Uma classificação digna da “ótima geração belga”, mas que certamente tinha potencial para avançar um pouco a mais.

Contra a Bélgica, a Seleção Brasileira chegou a 109 partidas e se igualou à Alemanha em número de jogos na história das Copas do Mundo. Nessa mesma partida, o Brasil chegou ao 228º gol em Mundiais, deixando a Alemanha para trás, com 226.


(Imagem: FIFA.com)

FICHA TÉCNICA:

 

BÉLGICA 2 x 1 BRASIL

 

Data: 06/06/2018

Horário: 21h00 locais

Estádio: Arena Kazan

Público: 42.873

Cidade: Kazan (Rússia)

Árbitro: Milorad Mažić (Sérvia)

 

BÉLGICA (3-4-3):

BRASIL (4-1-4-1):

1  Thibaut Courtois (G)

1  Alisson (G)

2  Toby Alderweireld

22 Fagner

4  Vincent Kompany

2  Thiago Silva

5  Jan Vertonghen

3  Miranda (C)

15 Thomas Meunier

12 Marcelo

6  Axel Witsel

17 Fernandinho

8  Marouane Fellaini

19 Willian

22 Nacer Chadli

15 Paulinho

7  Kevin De Bruyne

11 Philippe Coutinho

10 Eden Hazard (C)

10 Neymar Jr

9  Romelu Lukaku

9  Gabriel Jesus

 

Técnico: Roberto Martínez

Técnico: Tite

 

SUPLENTES:

 

 

12 Simon Mignolet (G)

23 Ederson (G)

13 Koen Casteels (G)

16 Cássio (G)

23 Leander Dendoncker

14 Danilo (lesionado)

20 Dedryck Boyata

13 Marquinhos

3  Thomas Vermaelen

4  Pedro Geromel

17 Youri Tielemans

6  Filipe Luís

19 Mousa Dembélé

5  Casemiro (suspenso)

11 Yannick Ferreira Carrasco

18 Fred

16 Thorgan Hazard

8  Renato Augusto

18 Adnan Januzaj

7  Douglas Costa

14 Dries Mertens

21 Taison

21 Michy Batshuayi

20 Roberto Firmino

 

GOLS:

13′ Fernandinho (BEL) (gol contra)

31′ Kevin De Bruyne (BEL)

76′ Renato Augusto (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

47′ Toby Alderweireld (BEL)

71′ Thomas Meunier (BEL)

85′ Fernandinho (BRA)

90′ Fagner (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Willian (BRA) ↓

Roberto Firmino (BRA) ↑

 

58′ Gabriel Jesus (BRA) ↓

Douglas Costa (BRA) ↑

 

73′ Paulinho (BRA) ↓

Renato Augosto (BRA) ↑

 

83′ Nacer Chadli (BEL) ↓

Thomas Vermaelen (BEL) ↑

 

87′ Romelu Lukaku (BEL) ↓

Youri Tielemans (BEL) ↑


(Imagem: FIFA.com)

Melhores momentos da partida:

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