● O Mengão estava invicto havia doze partidas. A última derrota até então era a (in)esquecível goleada sofrida para o Independiente del Valle por 5 a 0.
Mesmo com desfalques como Gabriel Barbosa, Giorgian De Arrascaeta, Rodrigo Caio, Thiago Maia e Willian Arão, o estável Flamengo ainda era favorito contra o sempre instável São Paulo.
O Tricolor vinha de derrota por 3 x 2 para o Lanús pela Copa Sul-Americana e classificação nos pênaltis diante do Fortaleza pela Copa do Brasil – sofrendo oito gols nesses três jogos.
Quando Pedro fez um golaço e abriu o placar para o Flamengo logo aos seis minutos de jogo, estava tudo “normal”. Aliás, aqui cabe um parêntese para falarmos de Pedro. Ele não teve oportunidades na Europa, quando passou pela Fiorentina. Mas, atuando no futebol brasileiro, por Fluminense e Flamengo, ele “cheira a gol”. Além de ser muito bom tecnicamente e entender como poucos da função de centroavante, finaliza bem de qualquer forma. Deveria estar entre os 23 convocados da Seleção Brasileira – talvez até como titular.
(Imagem: André Durão / Globo Esporte)
● Mas a “anormalidade” começou pouco depois, com o SPFC começando o jogo com sua tradicional troca de passes desde a defesa, mas, incrivelmente, passou a ganhando espaço entre as linhas do Flamengo. Com isso, sempre tinha um são-paulino bem posicionado para receber o passe. E um ataque pela esquerda resultou em um golaço de Tchê Tchê (!). Méritos dele, que não teve medo de chutar e colocar a bola no ângulo.
O VAR marcou pênalti de Diego Costa em Éverton Ribeiro. Bruno Henrique bateu mal e Thiago Volpi pegou bem.
Nos acréscimos do primeiro tempo, Reinaldo cruzou da esquerda e Gustavo Henrique escorou mal. Brenner (que tem feito seus gols e salvando o SPFC) bateu firme e virou o jogo.
(Imagem: André Durão / Globo Esporte)
● No começo do segundo tempo, Gustavo Henrique (em uma jornada desastrosa) fez pênalti em Bruno Alves. A penalidade foi marcada corretamente pelo VAR, mas a arbitragem errou no início do lance, ao marcar escanteio ao invés de tiro de meta. Reinaldo, o “Kingnaldo”, bateu deslocando o goleiro e converteu.
Pouco depois, Daniel Alves cometeu pênalti em Gérson e o árbitro marcou sem precisar de ver o vídeo. Dessa vez quem bateu foi Pedro. Ele chutou da mesma forma que Bruno Henrique (mal) e Volpi foi da mesma forma: foi bem e defendeu.
Aos 31′, João Gomes recebeu de Bruno Henrique e chutou no travessão.
Cinco minutos depois, Volpi lançou desde sua área. Luciano dominou ganhando do bom zagueiro Nathan e chutou cruzado de direita.
Aos 40′, Vitor Bueno chutou de longe. A bola tinha o caminho do ângulo, mas o ótimo goleiro Hugo Souza “Neneca” fez uma ótima defesa. Aliás, que ótimo goleiro é esse! Merece ser melhor observado por Tite e seu “staff”.
(Imagem: André Durão / Globo Esporte)
● Placar final: 4 a 1 para o SPFC, mas que poderiam ser 6 a 3 ou até mais. Um belo jogo dos dois times. Mas não foi “normal”.
Pelo que os dois times estão jogando nos últimos tempos, não é normal que o SPFC enfie uma goleada no melhor time do Brasil e da América. O Tricolor do Morumbi passa por uma crise institucional sem precedência, que só vê sua dívida aumentar exponencialmente e os resultados em campo não condizem com o caro (e desequilibrado) elenco que foi formado. Os títulos não vêm desde 2008 (a Copa Sul-Americana de 2012 foi um caso atípico, em que a final nem acabou…) e os nomes que foram contratados para levar o time às vitórias não conseguem responder dentro de campo.
Para o Flamengo, a derrota pode ser boa para mostrar que o time não é invencível e precisa estar sempre concentrado para manter o alto nível.
Para o São Paulo, serve de incentivo para buscar o resultado diante do Lanús pela Copa Sul-Americana na próxima quarta-feira.
Três pontos sobre… … Fernando Giudicelli: primeiro brasileiro a jogar pelo Real Madrid
Seleção Brasileira que entrou em campo para sua primeira partida em Copas do Mundo, na derrota para a Iugoslávia por 2 x 1. Em pé: Píndaro de Carvalho (técnico), Brilhante, Fausto, Hermógenes, Itália, Joel e Fernando (em destaque). Agachados: Poly, Nilo, Araken, Preguinho e Teóphilo. (Imagem: Terceiro Tempo)
● Filho de pais italianos, Fernando Rubens Pasi Giudicelli nasceu no Rio de Janeiro em 01/03/1906 e faleceu na mesma cidade em 28/12/1968. Assim como várias personalidades do início do século XX, há controvérsias sobre sua data de nascimento. Luis Miguel González (jornalista especializado na história do Real Madrid) afirma que Giudicelli nasceu em 01/01/1906.
Mais conhecido simplesmente como Fernando, o talentoso meio-campista de origem italiana começou sua carreira no tradicional América Futebol Clube, do Rio de Janeiro, onde jogou de 1924 a 1926. Era conhecido por jogar usando um boné de marinheiro.
Segundo nosso leitor Fabiano Gouvêa, em 1927 Fernando defendeu o Jequiá, da Ilha do Governador, na Liga Graphica.
Em 1927, Fernando se transferiu para o Fluminense, ficando até junho de 1931. Pelo Tricolor Carioca, ele jogou 94 vezes, vencendo 51, empatando 16 e perdendo 27, com 5 gols marcados.
Ainda em agosto de 1930, jogou um amistoso pela Seleção contra a Iugoslávia, vencido por 4 x 1 no Estádio São Januário (então melhor estádio da América do Sul, até a construção do Estádio Centenário), no Rio de Janeiro (essa partida não foi considerada oficial pela Federação Iugoslava de Futebol). Foram essas três as suas únicas partidas com a então camisa branca da Seleção Brasileira.
Entre junho e agosto de 1931, Fernando e vários jogadores do Botafogo, como Nilo e Carvalho Leite, reforçaram o Vasco da Gama em uma excursão para a Europa (apenas a segunda viagem feita por um clube brasileiro para a Europa desde o Clube Atlético Paulistano, em 1925). Em amistosos disputados em Portugal e na Espanha (contra fortes adversários, como Barcelona, Benfica, Sporting e Porto), o combinado que representava o Vasco venceu oito dos doze jogos.
Por ter se destacado, Fernando Giudicelli permaneceu na Europa para se tornar profissional (o esporte no Brasil ainda era amador na época) e atuar no Torino. Ele poderia fazer isso, pois era considerado “oriundo”, ou seja, um emigrante italiano que estava retornando para casa, aproveitando a abertura dada pelo “Duce” Benito Mussolini.
Fernando foi um dos primeiros a se transferir para o futebol europeu em busca de enriquecimento. Já sabendo que não voltaria ao Brasil, em sua última partida pelo Fluminense ele surpreendeu a todos e espancou dentro de campo o juiz, chamado Leandro Carnaval, se vingando da arbitragem carioca.
(Imagem: pesmitidelcalcio.com)
● Seu início no Torino foi bom, a ponto de ser elogiado pelo técnico da Azzurra, Vittorio Pozzo, que o queria como substituto de Luisito Monti na seleção italiana.
Mas ao mesmo tempo em que sua qualidade técnica era reconhecida, sua falta de espírito competitivo era extremamente criticada e ele não conseguiu ter vida longa no Calcio italiano da época, que tinha um estilo muito mais aguerrido (como quase sempre).
Mesmo assim, ficou em Turim de setembro de 1931 a abril de 1933. Na primeira temporada, o Toro terminou em 8º na Série A e Fernando disputou 28 partidas, anotando um gol. Já em 1932/33, o Torino ficou em 7º e Fernando jogou apenas 12 vezes. Sem o desempenho esperado, Fernando foi dispensado pelo clube italiano.
Entre as temporadas de 1931/32 e 1932/33, passou um tempo no Rio e acabou por se tornar um dos primeiros agentes de jogadores. Convenceu Demósthenes Magalhães (seu sucessor no meio campo do Fluminense) a se juntar a ele no Torino. Demósthenes mudou seu nome para Demostene Bertini e, assim, obteve a cidadania italiana, mesmo de forma muito controversa.
Também no intervalo entre as temporadas seguintes, Fernando recrutava jogadores sul-americanos para clubes europeus. O centroavante Attilio Bernasconi, do time argentino All Boys, se transferiu também para o Torino em 1933 por iniciativa de Giudicelli.
Fontes afirmam que, após ser dispensado do Torino, em 1933, Fernando recebeu proposta do River Plate. Mas, querendo ficar na Europa, ele assinou com o Young Fellows Zürich (clube onde também jogava Fausto dos Santos, seu parceiro de Seleção na Copa de 1930).
No inverno, Fernando retornou ao Rio tentando recrutar jogadores para o futebol suíço. Mas o próprio Fernando não voltou para Zurique e voltou a jogar rapidamente no América-RJ, ao lado de Heitor Canalli (que começou a temporada 1933/34 no Torino, mas ficou apenas nove jogos e voltou ao Rio, reclamando que o clima do norte italiano era uma “tortura”).
Passou a temporada 1934/35 no Bordeaux, da França. Ao fim da temporada, voltou novamente ao Brasil e convenceu o goleiro Jaguaré (então no Corinthians) e o zagueiro Vianinha (do Paulista) a irem jogar na Itália. Mas ao fazer escala em Lisboa, os jogadores brasileiros ficaram sabendo do início da Segunda Guerra Ítalo-Abissínia. Assim, preferiram ficar em Portugal e jogar no Sporting, onde foram os primeiros brasileiros na história do clube.
Mas Fernando jogou apenas duas partidas pelo clube sportinguista: uma amistosa e uma pelo Campeonato de Lisboa, onde foi expulso após discussão com o árbitro. Posteriormente ele afirmou que não ficou no Sporting porque o futebol português ainda era amador.
(Imagem: As)
● Então Fernando se transferiu para o Real Madrid, se tornando o primeiro brasileiro da história do clube. A bem da verdade, na época o time era “apenas” Madrid C.F., pois havia perdido o título de Real na época da Segunda República Espanhola (1931-1939).
Ainda que fosse um jogador muito bom tecnicamente e com um ótimo passe, Fernando era considerado frio e lento, que não combinava bem com o estilo de velocidade que se jogava no futebol espanhol.
As dúvidas sobre o futebol do craque, juntamente com sua vontade de assinar por apenas uma temporada, fizeram com que os merengues desistissem dele.
Sabendo que o Madrid não aceitaria suas condições contratuais, Giudicelli pediu à diretoria do clube para atuar em, pelo menos, uma partida, para provar suas qualidades e mostrar que suas exigências valiam a pena.
Assim, aceitaram lhe dar uma chance de jogar. E então Fernando vestiu o manto branco naquela mesma noite. Ficou combinado que se a diretoria o considerasse útil para o time, deveriam aceitar suas condições. Caso contrário, ele sairia da Espanha no mesmo dia.
E então, no dia 15/12/1935, Fernando vestiu pela única vez a camisa do Real Madrid em confronto com o Racing Santander, em partida válida pela Liga Espanhola, no Estádio Chamartín.
Teve a sua chance. Mesmo sem condições físicas, discutivelmente substituiu Antonio Bonet na escalação.
O técnico Francisco “Paco” Bru escalou a equipe com: Gyula Alberty; Ciriaco e Jacinto Quincoces; Pedro Regueiro, Fernando Giudicelli e Leoncito; Fernando Sañudo, Méndez Vigo, Simón Lecue, Luis Regueiro e Emilín.
Pelo Racing, jogaram: Pedrosa; Ceballos e Illardía; Rioja, Farcía e Germán; Chas, Cuca, Larrinaga, Milucho e Pombo. O árbitro foi Armengol.
A equipe do Racing venceu por 4 a 2. O Real sempre esteve atrás no placar, chegando a empatar a partida por duas vezes. Milucho abriu o placar aos 12′ e Emilín empatou aos 35′. Pombo fez o segundo do Santander aos 43′, mas Luis Regueiro empatou para o Madrid aos 70′. Chas fez o terceiro e Milucho, de novo, fez o quarto gol do Racing, fechando o placar.
A partida foi vibrante, rápida, “lá e cá”. Um jornal local escreveu que foi um jogo próprio de uma “final de campeonato”. Fernando deu mostras de sua qualidade técnica, mas não demonstrou ter “sangue” quente o suficiente para um confronto com as características dessa partida e foi criticado pelo técnico Paco Bru. O Madrid não perdia em Chamartín havia um ano, quando tinha perdido para o Sevilla por 1 x 0. E essa invencibilidade perdida caiu em cima de Fernando, que não conseguiu dar o ritmo necessário em um duelo tão intenso. Para piorar, a derrota fez o time madridista perder a liderança da liga para o Athletic.
Depois da partida, o meio-campista carioca se declarou “incapaz” de jogar no Madrid, já que todas as partidas eram jogadas como se fossem uma final de Copa. Em janeiro de 1936, Giudicelli viajou para França e muito se especulou sobre reuniões com o time do Lille, mas acabou acertando com o FC Antibes, onde jogou até o fim da temporada 1936/37, quando encerrou a carreira.
Mas não saiu do meio do futebol. Continuou trabalhando como agente de jogadores e instigou uma série de transferências desses atletas da América do Sul para a Europa.
Fernando, que tinha talento para se tornar uma lenda do futebol, acabou não conseguindo desfilar todo seu talento nos gramados mundo afora. De qualquer forma, entrou para a história por ser o primeiro brasileiro a vestir a gloriosa camisa do Real Madrid.
Parte do elenco da Seleção Brasileira em 1930. Em pé: Brilhante, Fernando, Hermógenes, Nilo, Carvalho Leite, Itália, Fausto dos Santos e Santana. Agachados: Teóphilo, Benevenuto, Benedito, Velloso, Doca, Russinho e Preguinho. (Imagem: Terceiro Tempo)
● Clubes que Fernando defendeu durante sua carreira:
– 1924-1927 América Football Club (RJ)
– 1927-1931 Fluminense Football Club (RJ)
– 1931-1933 Torino Football Club (Itália)
– 1933 FC Young Fellows Zürich (Suíça)
– 1934 América Football Club (RJ)
– 1934-1935 FC Girondins de Bordeaux (França)
– 1935 Sporting Clube de Portugal (Portugal)
– 1935 Real Madrid Club de Fútbol (Espanha)
– 1936-1937 Football Club Antibes (França)
Mas se na Copa de 1990 eu era muito pequeno e me recordo vagamente dos nomes de Maradona e Matthäus, em 1994 eu já tinha oito anos e começava a entender alguma coisa sobre futebol. Começava a brincar de bola na escola e, pra apaixonar de vez mesmo, tinha uma Copa do Mundo para assistir.
Hoje muitos criticam o nível do futebol apresentado, especificamente da Seleção Brasileira, o que é uma injustiça tremenda.
● Vamos lembrar de algumas seleções marcantes daquela edição do Mundial.
Uma das favoritas era a então campeã Alemanha, na primeira Copa depois da reunificação. Contava com grandes jogadores como os experientes Bodo Illgner, Andreas Brehme, Matthias Sammer, Guido Buchwald, Andreas Möller, o baixinho Thomas Häßler, Rudi Völler, Jürgen Klinsmann e, claro, Lothar Matthäus.
Mas no mesmo grupo da Alemanha, ainda tinha a Espanha, do goleiro Andoni Zubizarreta, Fernando Hierro, Pep Guardiola e Luis Enrique.
Até a fraca Bolívia tinha Julio César Baldivieso, Erwin “Platini” Sánchez e Marco “El Diablo” Etcheverry.
A Colômbia era a favorita para Pelé. Depois de enfiar 5 a 0 na Argentina em pleno Monumental de Núñez nas eliminatórias, o mundo inteiro ficou esperando mais de jogadores como Carlos “El Pibe” Valderrama, Freddy Rincón, Faustino Asprilla, Adolfo Valencia, Iván Valenciano, Antony de Ávila, Víctor Aristizábal. Mas o que vimos foi Andrés Escobar fazer um gol contra e ser tristemente assassinado. Cabe ressaltar que René Higuita – o goleiro espetáculo, desfalcou sua seleção por ter sido acusado de ter participado de um sequestro e acabou ficando preso por seis meses, em 1993. Depois ele seria inocentado pela justiça, mas ficou fora da Copa.
A Rússia veio toda remendada, com um amontoado de jogadores nascidos em outros países da União Soviética. Mas seis de seus melhores atletas não gostavam dos métodos do técnico Pavel Sadyrin e fizeram boicote, ficando fora do Mundial.
A surpresa africana ficou por conta da Nigéria, que disputava sua primeira Copa. Foi lá que ouvimos pela primeira vez os nomes de Rashid Yekini, Sunday Oliseh, Finidi George, Augustine “Jay-Jay” Okocha, Victor Ikpeba, Emmanuel Amunike e Daniel Amokachi. Ficou em primeiro lugar do Grupo D, que tinha a poderosa Argentina.
A Argentina é um capítulo a parte. Se a ridícula seleção de 1990 chegou na final, imagina o que poderiam fazer em 1994?! Diego Maradona continuava tendo a companhia de Sergio Goycochea, Claudio “El Pájaro” Caniggia, José Basualdo, mas agora tinha também Gabriel Batistuta – o “Batigol”, Fernando Redondo – genial, Diego Simeone – que jogava demais, além do jovem Ariel Ortega. Mas tudo ruiu com o doping de Maradona. Sem ele, caiu nas oitavas de final em um jogaço diante da Romênia, do maestro Gheorghe Hagi, Ilie Dumitrescu, Gheorghe Popescu e do goleiro Florin Prunea.
(Imagem: Pinterest)
A Irlanda tinha um time limitado, mas chegou a vencer a Itália na estreia. No mesmo grupo tinha a Noruega e o México, do goleiro baixinho e espalhafatoso Jorge Campos e do veterano Hugo Sánchez.
No Grupo F, Arábia Saudita contou com um golaço de Saeed Al-Owairan para vencer a Bélgica por 1 x 0. Bélgica que tinha o fantástico goleiro Michel Preud’homme – o melhor da Copa, além de Marc Wilmots, Enzo Scifo e Luc Nilis, que seria parceiro de Ronaldo no PSV.
A líder desse grupo foi a Holanda, que já não contava com Ruud Gullit e Marco Van Basten, mas ainda tinha Frank Rijkaard e Ronald Koeman (novo técnico do Barcelona), além de talentos como os irmãos Frank e Ronald de Boer, o arisco ponta Marc Overmars e o genial Dennis Bergkamp.
● A Seleção Brasileira sempre foi cobrada para jogar bonito e criticada quando isso não acontecia. E em 1994, muitos dizem que era um futebol burocrático, que dava sono. Mas devemos confessar que sentimos muita saudade daquele nosso futebol.
Taffarel era criticado, chamado de frangueiro, mas na “hora H” foi fundamental e um dos esteios do time.
Os cruzamentos de Jorginho eram certeiros, assim como as “bombas santas” de Branco.
Aldair e Márcio Santos a dupla de zaga reserva, que o destino fez se tornar titular e incontestável durante o torneio.
Muitos criticam Dunga, mas o capitão marcava bem e era muito bom na saída de bola e nos passes em profundidade, com uma excelente visão de jogo. Basta ver um jogo completo de Dunga na Copa de 1994 para parar de criticar.
(Imagem: Pinterest)
Zinho era o mais criticado. Enceradeira, jogador de passes laterais… mas fundamental para que a seleção não rifasse a bola. Era ele o responsável pelo equilíbrio do time. Só depois, ao vê-lo jogar no Palmeiras, eu fui entender isso. Ele era bom. Sacrificou seu talento para fazer o que o time precisava.
Raí não estava em boa fase e perdeu o lugar no time. Com a visão e conhecimento de futebol que eu tenho hoje, eu teria colocado Paulo Sérgio ou até Müller em seu lugar. Mas o pragmático Parreira colocou Mazinho, que deu conta do recado e foi muito bem.
Título que só veio com a genialidade de Romário. Nem preciso citar a última partida das Eliminatórias. Quem viu o “Baixinho” jogar apenas no fim da carreira, viu um centroavante de área, que ficava parado esperando a bola para tocar para o gol. Mas, no auge de seus 28 anos, Romário era o melhor jogador do mundo. E tratou se mostrar isso naquela Copa. Tinha velocidade, habilidade, faro de gol e não era fominha. Sem ele, muito provavelmente o Brasil não teria conquistado o título.
(Imagem: Globo)
● Era lindo ver a Seleção Brasileira entrando de mãos dadas.
Depois, 3 x 0 sobre Camarões. Gols de Romário, Márcio Santos e Bebeto.
Na terceira partida, com a Seleção já classificada, empate em 1 x 1 contra a ótima Suécia, do goleiro Thomas Ravelli, Patrik Andersson, do cabeludo Larsson, de Dahlin, Ingesson, Thomas Brolin e Kennet Andersson. E foi justamente ele, o gigante Kennet Andersson, quem usou sua habilidade para abrir o placar encobrindo Taffarel. E eu, um menino de oito anos, que nunca tinha visto o Brasil sair atrás do placar em uma Copa, caí no choro. Mas Romário, tratou de empatar a partida e devolver meu sorriso.
Nas oitavas de final, o Brasil enfrentou os Estados Unidos no território americano e em pleno Dia da Independência, 04 de julho. A torcida, que sempre era verde e amarela, mudou de lado e os gritos de “USA” chegaram a me assustar. Leonardo tratou de piorar as coisas ao ser expulso por dar uma cotovelada estúpida em Tab Ramos. Mas Romário, sempre ele, tratou de fazer uma jogada genial e serviu para Bebeto fazer o único gol do jogo, a menos de 20 minutos do fim. Caía os donos da casa e suas figuras folclóricas, como o goleiro Tony Meola e os zagueiros Marcelo Balboa e Alexi Lalas.
Nas quartas de final, 3 x 2 sobre a Holanda. Romário abriu o placar em um sem-pulo e Bebeto ampliou após driblar o goleiro, tocar para a rede e comemorar no ritmo de “embala Mattheus”, junto com Romário e Mazinho. Aron Winter e Dennis Bergkamp empataram em dois raros vacilos defensivos do Brasil. E o gol da vitória veio de um personagem emblemático. Branco teve sua convocação criticada, foi mantido pela equipe médica mesmo estando lesionado e foi fundamental naquela partida. Além de parar Marc Overmars, ele cavou a falta no fim do jogo e bateu com perfeição. Era o gol “cala a boca” para mostrar aos críticos que ainda podia ser importante em sua terceira Copa.
Na semifinal, o Brasil perdeu várias chances de matar o jogo e sofreu para vencer a Suécia por 1 a 0. Cruzamento perfeito de Jorginho e gol de… adivinha de quem? Romário. O “Baixinho” apareceu entre os gigantes suecos e fez o gol da vitória.
(Imagem: FIFA)
● Na final, a Itália de Paolo Maldini, Franco Baresi, Dino Baggio e dele… Roberto Baggio… um dos melhores jogadores que já vi. O craque perfeito, responsável por cinco dos seis gols italianos na fase de mata-mata. Um gênio.
Quem nunca viu essa partida na íntegra, aconselho a ver. Foi um baita jogo, com chances dos dois lados. Duas grandes seleções. Mas que não saíram do zero. Pela primeira vez não houve gol em uma final de Copa. Pela primeira vez, o campeão foi decidido nos pênaltis.
No começo do jogo eu cantei a pedra: o jogo vai pros pênaltis. Eu tinha ficado tão encantado com os pênaltis entre Suécia e Romênia, que eu queria mais. E foi atendido pelos deuses do futebol.
Baresi, que voltava de uma artroscopia feita durante a Copa e marcou Romário por 120 minutos de forma limpa e perfeita, começou chutando para o alto.
Márcio Santos, melhor cobrador brasileiro nos treinos, bateu mal e Pagliuca pegou.
Demetrio Albertini mandou a primeira bola na rede.
Romário, que até então não gostava de bater pênalti, converteu.
Nocaute Jack dava cambalhota, o menino Ronaldo se abraçava aos demais, Zagallo era campeão de novo, os atletas com a faixa homenageando Ayrton Senna, Dunga levantando a taça e xingando meio mundo e Galvão Bueno se abraçando a Pelé e gritando “É Tetra! É Tetra!”
Foi nessa época, nessa Copa, que o vírus do futebol me pegou definitivamente. O resto é história.
(Imagem: IFDB)
*¹Hoje completamos quatro anos do blog. Agradecemos demais a sua companhia nesse tempo e que venham vários anos.
● Um dos maiores mistérios que assolam a história do futebol moderno é: o que aconteceu com Julen Guerrero?
A “Julenmania” era a maior febre na Espanha desde The Beatles e o “iê-iê-iê“.
Com sua franja loira, olhos azuis e gols à profusão, as meninas ficavam histéricas na sua presença. As crianças faziam filas para os autógrafos. Fotógrafos lucravam ao flagrá-lo em poses provocativas. Os jogadores rivais tentavam agredi-lo (Diego Simeone – sempre ele – lhe fez um buraco na coxa). As maiores equipes da Europa se digladiavam para lhe contratar.
Ele não é David Beckham e nem jogou em nenhum clube gigante. É Julen Guerrero, ídolo do Athletic Club de Bilbao.
● Julen Guerrero López nasceu em 07/01/1974, em Portugalete, perto de Bilbao, no País Basco. Estudou no Colegio Santa María, em sua cidade natal.
Iniciou nas divisões de base do Athletic Bilbao aos oito anos de idade e passou a progredir rapidamente nas divisões inferiores. Juntamente com Aitor Karanka, era um dos destaques na equipe juvenil que venceu o doblete sub-19 da Espanha na temporada 1991/92. No mesmo ano, também apareceu no Bilbao Athletic (time B do Athletic), que disputava a segunda divisão espanhola, onde marcou seis gols em doze partidas.
Julen foi evoluindo a ponto de estrear no time principal com apenas 18 anos, em 06/09/1992, na vitória sobre o Cádiz por 2 a 1. Foi o histórico técnico alemão Jupp Heynckes quem lhe deu a primeira oportunidade. O primeiro gol saiu em 20/09/1992, na vitória sobre o Rayo Vallecano por 4 a 2. Em sua primeira temporada, foram 37 jogos e 10 gols. Guerrero foi a sensação do campeonato e se destacou como um meia com muito faro de gol.
Assim, no início de 1993, com 19 anos recém completados, foi convocado por Javier Clemente para estrear na seleção principal da Espanha.
(Imagem: 8julenguerrero.com)
A temporada de 1993/94 foi a que Guerrero fez mais gols, com 18 em 36 jogos na liga. Em 05/09/1993, marcou seu primeiro “hat trick”, em uma goleada por 5 x 1 sobre o Albacete. Em 06/02/1994, anotou o gol da vitória por 3 a 2 sobre o “Dream Team” do Barcelona, de Johan Cruijff, em pleno Camp Nou. No dia 03/04/1994, marcou um “poker” (quatro gols) no massacre sobre o Sporting Gijón por 7 x 0.
Em 1995, quando vários clubes gigantes da Europa desejavam contratá-lo, o basco deu uma grande prova de amor ao seu Athletic e assinou um histórico contrato com validade de 12 anos, o deixando ligado ao clube até 2007, com uma cláusula de rescisão de 72 milhões de euros – o que praticamente garantia sua permanência em San Mamés por toda a carreira.
Assim, o Athletic recusava definitivamente ofertas multimilionárias de equipes como Barcelona, Milan, Manchester United, Atlético de Madrid, Juventus, Lazio e, principalmente, do Real Madrid, que chegou a lhe oferecer um “cheque em branco” – prontamente recusado. Sem dúvida alguma, Julen sempre demonstrou a intenção de seguir em seu time de coração.
Em 30/08/1995, o técnico sérvio Dragoslav Stepanovic lhe deu a braçadeira de capitão pela primeira vez. Nos anos seguintes, Guerrero continuou sendo uma das estrelas do campeonato, o grande símbolo do clube de Vizcaya e o grande ídolo da torcida bilbaína.
Guerrero se despedindo de San Mamés (Imagem: 8julenguerrero.com)
Mas foi em 1997/98 que Guerrero obteve o êxito máximo de sua carreira esportiva, ao conseguir o histórico vice-campeonato da liga, no ano do centenário do clube. Festa do País Basco, pois nesse ano a Real Sociedad ficou com um ótimo 3º lugar, à frente do Real Madrid. Desde o início dos anos 1980 os clubes bascos não se impunham em nível nacional.
O segundo lugar na liga permitiu ao Athletic disputar a UEFA Champions League na temporada seguinte, na qual Julen marcou um histórico gol contra a Juventus, dentro do estádio Delle Alpi. Além disso, marcou o gol da vitória sobre o Galatasaray na última rodada, conseguindo a primeira vitória do Athletic na história do formado moderno da Champions. O time foi eliminado na primeira fase, mas caiu de pé.
E então, quando a estrela mais brilhava, sua luz se apagou de repente. Os gols secaram, assim como as assistências e os dribles. Em 1999/2000, o técnico franco-espanhol Luis Fernández (que nunca gostou que outra pessoa brilhasse mais que ele próprio) passou a boicotar o herói e o colocou no banco de reservas. Julen tinha apenas 26 anos e em pouco tempo deixou de ser um dos melhores meias da Europa e passou a ser um jogador de altos e baixos. Mas, de qualquer forma, nessa temporada ele foi o coadjuvante do início de uma linda história: Guerrero marcou de falta o primeiro gol sofrido por Iker Casillas como profissional.
A partir de fevereiro de 2002, a situação que já era péssima ficou ainda pior, quando o camisa 8 não era nem convocado por algumas partidas. Em cerca de quatro anos, de 2002 a 2006, disputou apenas uma partida como titular na liga, contra o Atlético de Madrid, na última rodada da temporada 2003/04, em jogo que não valia mais nada.
(Imagem: 8julenguerrero.com)
Apesar da falta de minutos, na temporada 2004/05, Julen marcou um gol que selou uma das maiores viradas de todos os tempos na liga, quando o Athletic estava perdendo para o Osasuna por 0 a 3 até os 13 minutos do segundo tempo e virou com um gol de Guerrero nos acréscimos, para um histórico 4 a 3. O ídolo foi aplaudido de pé em San Mamés.
No dia 06/03/2005, marcou seu centésimo gol no Campeonato Espanhol, em uma cobrança de falta, na vitória por 3 a 1 sobre o Albacete.
Em uma de suas últimas partidas, em 12/03/2006, ele entrou em campo a três minutos do fim e ainda teve prazo para marcar um gol olímpico, que infelizmente foi invalidado pelo árbitro, com a alegação de que já havia apitado pênalti, pois um jogador do Cádiz tentou tirar a bola com a mão em cima da linha. Seria um lindo gol.
Em julho de 2006, enxergando-se como um fardo pesado para o clube, Guerrero chegou a um acordo para a antecipação da rescisão de seu contrato, que terminaria no ano seguinte, e anunciou sua aposentadoria em uma emocionada coletiva de imprensa. Em 14 anos de carreira vestindo apenas a camisa do Athletic Bilbao, foram 430 partidas e 116 gols (sendo 101 no Campeonato Espanhol). É o nono jogador que mais vestiu a camisa do time.
Guerrero em partida pela seleção espanhola (Imagem: 8julenguerrero.com)
● Seus principais apelidos eram “El Rey León” e “La Perla de Lezama”.
Julen Guerrero foi um jogador precoce nas categorias de base da seleção espanhola: jogou na Sub-19 com 16 anos e na Sub-21 com 18 anos. Com a Sub-21, disputou a Eurocopa da categoria em 1994, ficando em 3º lugar.
Estreou na seleção principal com 19 anos recém completados, convocado por Javier Clemente para um amistoso contra o México em Alicante, em 27/01/1993. Vestiu a camisa da Fúria em 41 oportunidades e marcou 13 gols, incluindo dois “hat trick”, contra Malta e Chipre, respectivamente, em 1996 e 1999. Disputou as Copas do Mundo de 1994, quando jogou nas partidas contra Coreia do Sul e Bolívia, e em 1998, quando jogou contra a Bulgária, além da Eurocopa de 1996, onde atuou em outros dois jogos. Em outubro de 2000, jogou pela última vez pela seleção, contra a Áustria.
Jogou também pela seleção do País Basco (Euskadi), não reconhecida pela FIFA, entre 1997 e 2003 (06 jogos e 04 gols) – incluindo um “hat trick” contra a Iugoslávia, em 1997.
Guerrero em partida pela seleção basca (Imagem: 8julenguerrero.com)
● Após pendurar as chuteiras, foi técnico da equipe juvenil do Athletic, revelando jogadores como Mikel San José e Ander Iturraspe. Em 13/03/2008 se desvinculou definitivamente do clube, deixando de pertencer à comissão técnica. Na temporada 2011/12, foi diretor técnico do Málaga, identificando talentos nas divisões de base do clube, mas deixou o cargo em poucos meses. Jogou futebol indoor, representando a seleção espanhola e foi bicampeão europeu (2008 e 2012).
Em 2015, anunciou que se formou em jornalismo. Foi colunista do Eurosport, colaborador na Gol Televisión e na Cadena SER, além de escrever colunas para o diário El Correo. Possui um restaurante com seu nome, na cidade de Zamudio, nas proximidades de Bilbao. É também um dos vice-presidentes da Asociación Española de Futbolistas Internacionales (AEDFI). Foi o embaixador da Real Federación Española de Fútbol na Eurocopa de 2020, que terá Bilbao como uma das doze cidades sede. Atualmente é técnico da seleção espanhola Sub-17, cargo que assumiu em 24/07/2018.
É um apaixonado por piano e coleciona camisetas de times de futebol.
Seu irmão mais novo, José Félix Guerrero também iniciou sua carreira no Athletic e também era um meia, mas era mais defensivo e não tinha o talento de Julen.
Seu filho Julen Jon Guerrero, de 16 anos, era destaque nas divisões de base do Málaga e foi contratado pelo Real Madrid em dezembro de 2017. É um meia atacante com grande visão de jogo mas, ao contrário do pai, é canhoto.
Guerrero como treinador da seleção espanhola sub-17 (Imagem: 8julenguerrero.com)
● Julen Guerrero era um daqueles últimos meias armadores puros, da época romântica do futebol, que já estava em extinção em sua época. Era jogador muito habilidoso, ambidestro, com boa ginga de corpo e ótima finalização. Em seu tempo, foi um dos jogadores ofensivos mais letais na cara do gol. Sua frieza ao entrar na área era temida por todos seus rivais. Era muito bom cabeceador e marcava muitos gols. Não perdia a concentração e várias vezes resolvia o jogo no momento em que sua equipe mais precisava.
Suas qualidades técnicas eram indiscutíveis, mas foram variando à medida em que sua carreira foi seguindo. Começou sendo muito rápido e vertical, que passava facilmente pelos rivais sem firulas. Dessa forma, aproveitando essa habilidade, ele marcou vários gols em jogadas individuais. No entanto, à medida que foram se passando os anos, o atleta foi perdendo essa facilidade e em seus últimos anos como profissional, raramente arriscava algum de seus dribles, que haviam encantado o mundo anos antes. Por outro lado, sua finalização, especialmente em cobranças de falta, foi um ponto forte que se aprimorou com o tempo. Essa qualidade específica fez com que Guerrero aproveitasse os poucos minutos em campo continuasse marcando seus gols e fazendo a festa da torcida, especialmente em San Mamés.
Pela seleção da Espanha:
– 3º lugar da Eurocopa Sub-21 de 1994.
Pelo Athletic Bilbao:
– Vice-campeão do Campeonato Espanhol 1997/98.
– Campeão do Campeonato Espanhol Sub-19 em 1991/92.
– Campeão da Copa do Rei juvenil em 1991/92.
Pela seleção espanhola de futebol indoor:
– Bicampeão da Eurocopa de futebol indoor em 2008 e 2012.
Distinções e premiações individuais:
– Eleito a revelação do Campeonato Espanhol em 1992/93.
– Eleito o melhor jogador do Campeonato Espanhol em 1993/94.
● Era um duelo entre duas seleções muito fortes. Ambas constavam no grupo das favoritas ao título. O Brasil era o candidato natural, por ter vencido as duas Copas anteriores (1958 e 1962). A Inglaterra era a dona da casa. A Espanha havia conquistado a Eurocopa de 1964. E a Alemanha Ocidental tinha um bom elenco, onde brilhavam o veterano atacante Uwe Seeler e uma jovem dupla no meio campo: Franz Beckenbauer e Wolfgang Overath.
A União Soviética estava na melhor fase de sua história. Em um espaço de dez anos, havia conseguido quase todos os títulos de sua sala de troféus, além de campanhas de destaque. Conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956, em Melbourne. Se sagrou vencedora da primeira edição da Eurocopa, em 1960, além de ter sido vice-campeã da Euro de 1964. Um nome se destacava dentre os demais e permaneceu como unanimidade durante todo esse período: Lev Yashin, o Aranha Negra, único goleiro a ter sido eleito o Bola de Ouro da revista France Football como o melhor jogador da Europa, em 1963. Nas eliminatórias, a URSS foi a líder do Grupo 7 da UEFA, com cinco vitórias e uma única derrota (para o País de Gales, quando já estava classificada), deixando para trás, além dos galeses, a Grécia e a Dinamarca.
Em termos de qualidade, a Hungria não ficava atrás. No qualificatório europeu, terminou com três vitórias e um empate, deixando para trás a Alemanha Oriental e a Áustria. Com esse mesmo time base, havia conquistado a medalha de bronze nas Olimpíadas de Roma, em 1960. Depois, terminou em 3º lugar na Eurocopa de 1964 e ficou com a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Tóquio, também em 1964. Os maiores destaques eram o volante Kálmán Mészöly, o ponta direita Ferenc Bene e o atacante Flórián Albert, que seria eleito o Bola de Ouro de 1967.
Em sua estreia, a União Soviética venceu a Coreia do Norte por 3 x 0. Depois, venceu a Itália por 1 x 0. Terminou a primeira fase com 100% de aproveitamento ao vencer o Chile por 2 x 1.
A Hungria perdeu para Portugal por 2 x 1 na primeira partida. Depois, venceu por 2 x 1 a Seleção Brasileira, então bicampeã do mundo. Encerrou sua participação com o segundo lugar do Grupo 3, após vencer a Bulgária por 3 x 1.
Ambas as equipes jogavam no sistema tático 4-2-4.
● Os dois goleiros acabariam por ser os dois principais destaques da partida. Enquanto Lev Yashin salvou a URSS, o goleiro húngaro fez o contrário. József Gelei era o terceiro goleiro de sua seleção. Ele tinha 28 anos e jogava FC Tatabánya, um time médio de seu país – o mesmo clube que havia revelado Gyula Grosics, maior arqueiro da história da Hungria, que disputou as Copas de 1954, 1958 e 1962. O titular era Antal Szentmihályi, do Újpest LK, mas ele não fez uma boa partida na estreia diante de Portugal e foi sacado pelo técnico Lajos Baróti. O reserva imediato era István Géczi, do Ferencváros TC, que estava lesionado. Assim, coube a Gelei defender a meta contra o Brasil. Fez um bom papel e foi mantido como titular para a sequência da competição. Mas, contra os soviéticos, ele falhou logo na primeira vez em que precisou mostrar serviço.
Logo aos cinco minutos, antes que o jogo esquentasse, aconteceu um lance curioso. O soviético Anatoliy Banishevskiy avançou pela ponta esquerda e, em disputa de bola, jogou o zagueiro húngaro Sándor Mátrai para cima dos repórteres. Ele demorou um pouco a se recuperar, mas voltou inteiro para o jogo. O árbitro espanhol Juan Gardeazábal Garay deu apenas escanteio.
Valeriy Porkujan cobrou escanteio curto, recebeu de volta e chutou fraco e rasteiro da ponta esquerda. Era uma bola fácil, mas Gelei deixou a bola passar por baixo de seu corpo. Igor Chislenko estava ligado no lance e chegou de carrinho para empurrar a bola que estava quase em cima da linha de gol, antes que o goleiro tivesse tempo para recuperar a bola.
(Imagem: Pinterest)
No restante do primeiro tempo, os húngaros tentaram recobrar o controle dos nervos, mas não conseguiram. O técnico Nikolai Morozov deu uma mostra de humildade rara entre os soviéticos e decidiu escalar Valery Voronin com a única e exclusiva obrigação de acompanhar Florián Albert por todo o campo – principal articulador das jogadas de ataque da seleção húngara.
No primeiro minuto do segundo tempo, Vasiliy Danilov deu um chutão para frente e foi prensado por Benő Káposzta. Em um lance bastante inusitado, a bola furou e caiu já murcha fora de campo. Uma cena muito rara na história das Copas.
Logo aos 2′, Gelei falhou novamente. Galimzyan Khusainov cobrou uma falta da direita, levantando a bola na pequena área da Hungria. O goleiro ficou parado e Porkujan cabeceou. A bola tocou na trave esquerda e entrou no gol.
(Imagem: Magyarfutball.hu)
Mas, em uma estratégia arriscada, os soviéticos recuaram diante do bom time húngaro.
Na base da força de vontade e superação os magiares saíram em busca do empate e chegaram a colocar os dez jogadores no campo de ataque. Era o volante Kálmán Mészöly quem liderava o time na técnica e no grito. A pressão foi tanta que o goleiro Lev Yashin precisou fazer pelo menos quatro defesas de grande envergadura. Mas só resultou em um único e insuficiente gol.
Mészöly se lançou de vez para o ataque. Aos 12′ , ele abriu na direita para Ferenc Bene tocar cruzado por cima de Yashin, que saía no lance.
A Hungria continuava atacando em busca do empate.
Gyula Rákosi cruzou da esquerda para a área. Mészöly dominou no peito e bateu de primeira, de esquerda, mas Porkujan fechou o espaço e impediu o empate. A defesa da URSS não conseguiu tirar de vez, a bola viajou e Rákosi chutou da entrada da área, mas a bola saiu à direita do gol de Lev Yashin.
Mais para o fim do jogo, Ferenc Bene deu uma bicicleta da entrada da grande área e a bola passou muito perto do travessão, chegando a tocar no suporte da rede e assustar Yashin.
Mas já era tarde demais para os húngaros. A URSS estava classificada para a única semifinal de sua história nas Copas do Mundo.
Três pontos sobre… … 20/07/1966 – Alemanha Ocidental 2 x 1 Espanha
(Imagem: Impromptuinc)
● O árbitro da partida foi o brasileiro Armando Marques. Então com 36 anos, ele era famoso no Brasil por sua mania de querer ser o centro do espetáculo. Mas não havia qualquer dúvida de que ele era o melhor árbitro do país na década de 1960. Seus famosos e folclóricos erros só viriam a acontecer nos anos 1970, como, por exemplo, o equívoco na contagem de pênaltis na decisão do Campeonato Paulista de 1973.
Ambas as seleções constavam no grupo das favoritas ao título. O Brasil era o candidato natural, por ter vencido as duas Copas anteriores (1958 e 1962). A Inglaterra era a dona da casa. A Espanha havia conquistado a Eurocopa de 1964. A Hungria havia ganhado a medalha de ouro do futebol nos Jogos Olímpicos de 1964. A União Soviética contava o goleiro Lev Yashin em seu auge. A Alemanha Ocidental tinha um bom elenco, onde brilhavam o veterano atacante Uwe Seeler e uma jovem dupla no meio campo: Franz Beckenbauer e Wolfgang Overath.
Em sua primeira partida, a Nationalmannschaft goleou a Suíça por 5 x 0. Na segunda rodada, empatou sem gols com a Argentina. Com a vitória dos albicelestes sobre os suíços por 2 x 0 no dia anterior, a Alemanha jogava por uma vitória simples para ser a líder do Grupo B ou, na pior dar hipóteses, precisava de um empate para ficar com a segunda vaga da chave.
(Imagem: Impromptuinc)
● Em sua estreia, a Espanha perdeu para a Argentina por 2 x 1. Depois, venceu a Suíça pelo mesmo placar. No terceiro jogo, precisava vencer os alemães de qualquer jeito para se classificar.
Por isso, o técnico José Villalonga radicalizou geral. Ele aproveitou a lesão do meia Pirri e trocou praticamente todo o time do meio de campo para a frente. Só o ponta direita Amancio Amaro continuou no onze titular.
Foram barrados jogadores consagrados, como o ponta esquerda Paco Gento, do Real Madrid (jogador mais vezes campeão na história da UEFA Champions League, com seis títulos), o atacante Joaquín Peiró e o meia Luis Suárez, ambos da Inter de Milão (que havia vencido a Champions por duas vezes em anos anteriores) e o meia Luis del Sol, da Juventus.
Esses nomes de peso foram substituídos por jovens que estavam no elenco que ajudou a Espanha a se sagrar campeã da Eurocopa de 1964, como Josep Maria Fusté, Adelardo, Marcelino e Carlos Lapetra.
Porém, o certo é que os onze jogadores que pisaram no Villa Park naquele dia nunca haviam sequer treinado juntos.
Ambas as equipes jogavam no sistema tático 4-2-4.
● Os primeiros 30 minutos dessa partida foram os mais intensos dos espanhóis desde a Copa de 1950. Dominando as ações ofensivas, o time demonstrou uma vontade incomum e partiu para cima da Alemanha honrando o apelido de Fúria. Com um time menos talentoso, mas dedicado e esforçado, os espanhóis começaram pressionando e empurrando os teutônicos para o campo de defesa. Tamanho esforço e vigor só poderia ser recompensado com um gol.
Aos 23′, Emmerich deu um passe errado para Franz Beckenbauer. Josep Maria Fusté interceptou, abriu na esquerda com Marcelino e se infiltrou na área. A devolução foi perfeita para Fusté dominar no peito e tocar no canto direito, antes da chegada do goleiro Hans Tilkowski. Os alemães reclamaram que Fusté havia conduzido a bola com o braço, mas Armando Marques, como sempre, nem quis escutar.
Aos 39′, Sigfried Held cobrou um lateral rápido para Lothar Emmerich na ponta esquerda. Quase da linha de fundo, Emmerich soltou uma bomba que passou entre a trave direita e o goleiro José Ángel Iribar, morrendo no outro ângulo. Foi um verdadeiro “gol espírita”, um dos maiores de todas as Copas. O chute tomou o rumo do gol sem ter ângulo algum.
Esse gol ficou imortalizado na Alemanha. Desde então, quando um gol é marcado de um ângulo impossível, é chamado de “Emmerich Tor” (“gol Emmerich”) no jargão futebolístico alemão.
Um golaço, que foi considerado o gol mais bonito da história do estádio Villa Park até a época.
Era um verdadeiro castigo para o que os espanhóis estavam jogando. Não havia mais justiça no placar.
A Espanha retornou com menos confiança para o segundo tempo e só voltaria a equilibrar as ações a partir dos 20 minutos, mas sem a adrenalina da primeira etapa. A Fúria tentou o segundo gol a qualquer custo, mas o time cansou.
E a virada alemã aconteceu aos 39′. Held foi à linha de fundo e cruzou rasteiro da esquerda. Uwe Seeler dominou na linha da pequena área e bateu no canto esquerdo de Iribar.
Assim como o primeiro gol alemão, o segundo também ocorreu em um momento que abalou psicologicamente os espanhóis, que agora precisavam anotar dois gols em sete minutos.
E o nervosismo dos ibéricos ainda resultou em outras duas chances perdidas pelos germânicos. Em uma delas, Uwe Seeler roubou a bola de Severino Reija, entrou sozinho na área e driblou o goleiro Iribar, mas ficou sem ângulo para a finalização.
(Imagem: Impromptuinc)
● De forma melancólica, a Espanha deu adeus a mais uma Copa do Mundo. O zagueiro Gallego resumiu bem a partida: “Nós criamos as oportunidades e eles fizeram os gols”.
Curiosamente, a Espanha tinha em seu elenco um atacante que começou a carreira no Flamengo. Nascido em Pontevedra, na região da Galícia, José Armando Ufarte viveu a infância no Brasil e começou a carreira nas divisões de base do rubro-negro, antes de voltar ao seu país e jogar no Atlético de Madrid. Jogou também pelo Corinthians e pelo Racing Santander. Pelo Flamengo, conquistou o Campeonato Carioca em 1961 e o Tornio Rio-São Paulo em 1963.
Com a vitória, a Alemanha foi a líder de seu grupo graças ao critério do goal average (divisão do número de gols marcados pelo número de gols sofridos), furando a previsão de seu ex-técnico Sepp Herberger, campeão mundial em 1954 e jornalista em 1966. Ele havia afirmado que os alemães seriam eliminados ainda na primeira fase.
Nas quartas de final, a Alemanha Ocidental goleou o Uruguai por 4 x 0. Nas semifinais, venceu a forte União Soviética por 2 x 1. Na decisão, enfrentou a Inglaterra, dona da casa. Conseguiu um empate no tempo normal, mas, na prorrogação, sofreu um gol bastante polêmico (até hoje não existe um ângulo de qualquer imagem que tenha mostrado a bola dentro do gol) e perdeu por 4 x 2.
Três pontos sobre… … 19/07/1930 – Argentina 6 x 3 México
(Imagem: El Sol del México)
● Juntamente com o anfitrião Uruguai, a Argentina era uma das principais favoritas ao título da primeira Copa do Mundo de futebol. Àquela altura, já tinha uma camisa pesada, tendo conquistado quatro edições do Campeonato Sul-Americano (atual Copa América). Além disso, havia conquistado a medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Amsterdã, em 1928, perdendo a decisão apenas no jogo desempate para o rival Uruguai.
A convocação do elenco argentino para a primeira edição do Mundial foi realizada através de uma votação popular. E, como diz o ditado, “a voz do povo é a voz de Deus”, uma equipe experiente foi montada, com nove vice-campeões olímpicos e outros atletas de renome no país. Era um time muito forte, em condições de realmente disputar o título.
Por outro lado, a falta de confiança dos mexicanos em sua seleção era tamanha que parte da imprensa do país começou uma campanha leve para que o México desistisse de disputar a Copa, para evitar um vexame.
E realmente os resultados em território uruguaio não foram muito bons. O duelo diante dos argentinos era o último jogo do México no Mundial de 1930. Sofreu o primeiro gol da história das Copas e perdeu para a França por 4 x 1. Depois, perdeu para o Chile por 3 x 0. Já chegava eliminado na terceira rodada e jogava apenas pela honra.
A Argentina ainda jogava pela classificação. Na estreia, venceu a França por 1 x 0. E a partida contra os mexicanos era a segunda na competição. A terceira rodada ainda seria disputada contra o Chile três dias depois.
(Imagem: Pinterest)
● Várias fontes indicam que o árbitro boliviano Ulises Saucedo marcou cinco pênaltis nessa partida. Então, esse seria o jogo com o maior número de penalidades máximas na história das Copas. Porém, segundo outras fontes, quatro dessas cobranças foram executadas de uma distância superior a 11 metros, pois não havia a marca do pênalti no gramado e o juiz teria errado na contagem da distância. Há também quem considere as batidas apenas faltas simples sem barreira, de dentro da área. E segundo os mexicanos, a única cobrança executada da distância correta foi a única que entrou, no gol de Manuel Rosas.
E, de acordo com relatos, o goleiro mexicano Óscar Bonfiglio defendeu dois desses tiros: o de Fernando Paternoster aos 23′ e o de Adolfo Zumelzú aos 30′. Por sua vez, o arqueiro portenho Ángel Bossio pegou dois chutes de Manuel Rosas.
Por outro lado, de acordo com a publicação oficial “Álbum Primer Campeonato Mundial de Football”, lançado no Uruguai em 1930, apenas uma penalidade foi marcada: a que resultou no primeiro gol mexicano. Todos os outros gols saíram de jogadas normais.
Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● Independentemente desse festival de pênaltis ter acontecido ou não, a Argentina anotou seis gols e conquistou a vitória.
Guillermo Stábile abriu o placar aos oito minutos do primeiro tempo.
Quatro minutos depois, Zumelzú fez o segundo gol da Argentina.
Aos 17′, Stábile marcou de novo.
Aos 38 min, Manuel Rosas diminuiu para o México em uma cobrança de pênalti.
No oitavo minuto do segundo tempo, Francisco Varallo fez 4 x 1 para os albicelestes.
Logo na sequência, Zumelzú marcou de novo.
Aos 20′, Manuel Rosas bateu pênalti, o goleiro Bossio defendeu e Felipe Rosas pegou o rebote para diminuir para os mexicanos. Curiosamente, Manuel Rosas e Felipe Rosas não tinham nenhum grau de parentesco, embora tivessem o mesmo sobrenome e jogassem juntos no mesmo time, o Atlante.
Dez minutos depois, o México se aproximou ainda mais no marcador com um gol de Roberto Gayón. 5 a 3.
Mas logo a Argentina tratou de fechar o placar com Stábile, que chegou ao “há trick”. Final: Argentina 6, México 3.
Curiosamente, o árbitro dessa partida, Ulises Saucedo, era também também o técnico da seleção da Bolívia durante o Mundial.
O atacante Manuel Ferreira era titular absoluto e capitão de sua seleção. E ele precisou desfrutar de um privilégio durante o torneio. Ele estava fazendo um curso de escrivão público e chegou a Montevidéu dias depois da delegação de seu país. Ele também precisou faltar à partida diante do México para voltar à Buenos Aires para fazer uma prova. Mas logo depois, retornou normalmente aos albicelestes e foi um dos destaques de sua seleção rumo à final.
Guillermo Stábile não havia jogado diante da França e estreou contra o México. Acabou conquistando definitivamente a vaga de titular para o restante da competição ao marcar três gols. Ele era conhecido como “El Infiltrador” pela facilidade que se infiltrava nas defesas adversárias. Sua velocidade vinha de sua experiência anterior no atletismo: fazia os cem metros rasos em cerca de 11 segundos.
Stábile foi o artilheiro da primeira Copa do Mundo, com oito gols em quatro jogos e também foi o primeiro jogador a marcar gols em todas as partidas que disputou. Foi o segundo a anotar um “hat trick” em Copas, apenas dois dias após o americano Bert Patenaude ter conseguido essa proeza diante do Paraguai. Ao encerrar a carreira, Stábile se tornou um técnico de sucesso, treinando a seleção Argentina por 21 anos (de 1939 a 1960) e conquistou seis edições da Copa América: 1941, 1945, 1946, 1947, 1955 e 1957.
Três pontos sobre… … 17/07/1930 – Estados Unidos 3 x 0 Paraguai
(Imagem: Getty Images / Popperfoto)
● Dos treze participantes da primeira Copa do Mundo, sete eram da América do Sul. Um deles era o Paraguai, que se destacou pela sua ousada camisa listrada em vermelho e branco, em uma época que que, pela dificuldade da fabricação dos tecidos, quase todas as seleções usavam uniformes básicos, com apenas uma cor. Além dos guaranis, apenas a Argentina utilizava camiseta listrada – no caso, azul e branco. Até hoje o Paraguai faz parte de um seleto grupo de seleções que manteve o mesmo padrão da sua camisa principal com o passar dos anos, tornando seu uniforme um dos mais tradicionais e reconhecidos do futebol sul-americano e mundial.
Mas a situação financeira da federação era ruim. A seleção paraguaia ameaçou não ir ao Mundial por causa de dinheiro, mas o congresso do país resolveu esse problema. O craque do time era o capitão Luis Vargas Peña.
Ao chegar no Uruguai, a seleção norte-americana era uma verdadeira incógnita. O grupo contava com seis jogadores eram nascidos na Grã-Bretanha (Alexander Wood, George Moorhouse, Jimmy Gallagher, Andy Auld, Jim Brown e Bart McGhee) e cinco haviam sido profissionais na Escócia antes de emigrarem para a América. Quase todos estavam estreando na seleção e, por isso, os EUA eram considerados pela imprensa como franco-atiradores. Mas, mesmo com pouco entrosamento, o alto nível desses jogadores acabou por fazer a diferença a favor do time.
Na primeira partida do Grupo 4, os americanos venceram a Bélgica por 3 x 0, com gols de McGhee, Tom Florie e Patenaude.
Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● Ventava muito no estádio Parque Central, durante o segundo confronto da chave, entre EUA e Paraguai. E o time norte-americano não teve nenhuma dificuldade na partida.
O placar foi aberto logo aos dez minutos de partida. Andy Auld se livrou de Lino Nessi na esquerda e tocou para Patenaude. Da marca do pênalti, ele bateu no canto direito do goleiro Modesto Denis.
Cinco minutos depois, Tom Florie dominou a bola pelo lado esquerdo da área e tocou para o meio. Patenaude chutou, a bola desviou em Aurelio González e foi para o fundo das redes. EUA 2 a 0.
Aos 5′ do segundo tempo, Auld avançou pela esquerda e cruzou para o meio. Patenaude fez o terceiro dos Estados Unidos e fechou o placar.
Bert Patenaude sobe para cabecear (Imagem: Pinterest)
● No segundo gol americano, a bola iria para fora, mas tomou o rumo do gol ao desviar no paraguaio. Originalmente o tento foi atribuído a González contra. Porém, em 1994, a US Soccer (federação norte-americana de futebol) solicitou que a autoria do gol fosse revista. A insistência tinha razão de ser. Já com os atuais critérios de gol contra, a FIFA concedeu a autoria aos estadunidenses. Mas a súmula oficial da entidade dava o gol a Tom Florie, embora os historiadores afirmasse que a finalização tenha sido feita por Patenaude. Súmulas e outros documentos foram novamente revisitados e Patenaude teve o gol creditado para si.
E, como ele havia anotado os outros dois tentos do jogo, Bertram “Bert” Albert Patenaude passou a ser considerado o primeiro atleta a marcar três gols em uma partida de Copa do Mundo. Esse é um feito muito valorizado em todo mundo, especialmente em países de língua inglesa. E, como se sabem, os americanos adoram recordes e marcas históricas.
Até 10/11/2006, a FIFA considerava Guillermo Stábile como o primeiro a marcar três gols em Mundiais. Mas o fato é que Stábile marcou sua “tripleta” dois dias depois do “hat trick” de Patenaude.
O goleiro americano Jimmy Douglas sobe para segurar um cruzamento (Imagem: Pinterest)
● A partida final do Grupo foi apenas para cumprir tabela. O Paraguai venceu a Bélgica pelo placar de 1 x 0, com um gol de Vargas Peña aos 40 minutos de partida, resultando no nono lugar na classificação geral do primeiro Mundial.
Três pontos sobre… … 16/07/1966 – Portugal 3 x 0 Bulgária
(Imagem: Lance!)
● Havia muita expectativa para a estreia de Portugal em Copas do Mundo. A base do time era o Benfica, bicampeão da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) em 1960/61 e 1961/62. Toda a linha de frente da seleção lusa era benfiquista: José Augusto, Coluna, Eusébio, Torres e Simões.
Nas eliminatórias europeias, Portugal passou apertado em um grupo muito equilibrado e precisou superar seleções mais tradicionais como Tchecoslováquia, Romênia e Turquia. Mas a campanha de quatro vitórias, um empate e uma derrota qualificou os Tugas para a primeira Copa do Mundo de sua história.
Por sua vez, a Bulgária teve maior dificuldade para se qualificar para o Mundial. Terminou empatada com a Bélgica na liderança do Grupo 1 e precisou disputar um jogo-extra. Em Florença, na Itália, Georgi Asparuhov marcou os dois gols em vitória por 2 x 1 que garantiram Os demônios da Europa no Mundial de 1966.
Em um grupo fortíssimo, os búlgaros eram meros azarões. Era a segunda Copa do Mundo que o país disputava, a segunda seguida. Em 1962, caiu na primeira fase, com um empate e duas derrotas.
Portugal atuava no 4-2-4. Liderado por Eusébio, o ataque tinha muita força e mobilidade. O capitão Coluna era mesmo a coluna vertebral do time, aparecendo em todos os espaços.
Os búlgaros precisavam da vitória para continuarem com chance de classificação. Por isso, o técnico austríaco-tcheco Rudolf Vytlačil (o mesmo que levou a Tchecoslováquia ao vice-campeonato em 1962) escalou um time mais ofensivo. Mas Portugal fez um gol logo no início e atrapalhou todos os seus planos.
Aos sete minutos de partida, Jaime Graça abriu na esquerda para o grandalhão José Torres. Ele cortou a marcação de Dimitar Penev e cruzou da linha de fundo. Ivan Vutsov não percebeu que não havia nenhum português por perto, se apavorou e mergulhou, desviando de cabeça contra as próprias redes.
Dobromir Zhechev, que havia enchido Pelé de porrada no primeiro jogo, agora era incumbido de fazer o mesmo com Eusébio. Mas enquanto o brasileiro tentou resolver tudo sozinho e levava mais pancadas, Eusébio foi inteligente e passou a cair pelas pontas, arrastando Zhechev e abrindo espaços para a infiltração de José Augusto pelo meio.
Aos 17′, uma cabeçada de Torres acertou o travessão.
Aos 23′, no melhor momento da Bulgária no jogo, Asparukhov carimbou a trave direita do goleiro José Pereira.
Mas Portugal jogava melhor e tinha um time muito melhor.
O segundo gol saiu aos 38′. António Simões carregou a bola pelo meio e fez o passe na medida para Eusébio virar e bater rasteiro. A bola foi no canto direito do goleiro Georgi Naydenov, que chegou a tocar, mas não conseguiu evitar o gol. Foi o primeiro dos nove gols que tornaria Eusébio o artilheiro do Mundial.
No segundo tempo, a Bulgária não conseguia ficar com a posse de bola e muito menos atacar. O técnico Vytlačil compreendeu que não teria muitas chances e posicionou seu time mais na defensiva.
Portugal finalizou oito vezes e a Bulgária só uma, em um chute de Asparukhov que passou muito perto. O camisa 9 batalhava sozinho no ataque búlgaro, mas não tinha sucesso.
Aos 36′ do segundo tempo, Hilário deu um chutão para a frente e a defesa búlgara falhou. Vutsov desistiu da jogada e Torres correu atrás da bola. Boris Gaganelov tentou recuar para o goleiro, mas Torres chegou antes e completou para o gol.
(Imagem: Getty Images / Popperfoto)
● No dia anterior, a Seleção Brasileira tinha sido derrotada pela Hungria por 3 x 1. A vitória sobre os búlgaros deixou os portugueses em ótima situação, a ponto de poder até perder para o Brasil na última rodada que, ainda assim, se classificaria. A segunda vaga ficaria entre Brasil e Hungria, sendo que o Brasil precisaria vencer Portugal por uma boa diferença de gols se quisesse continuar sonhando com o tricampeonato e os húngaros entrariam em campo um dia depois dos brasileiros, já sabendo do resultado que iria precisar ao enfrentar a eliminada Bulgária.
Na última rodada, a Bulgária foi derrotada pela Hungria por 3 x 1 e ficou na lanterna do Grupo 3. Os magiares ficaram com a segunda colocação no grupo e enfrentariam a União Soviética nas quartas de final.
O treinador de campo era o brasileiro Otto Glória, mas a seleção portuguesa era escolhida por Manuel da Luz Afonso, ex-dirigente do Benfica. Ele foi o selecionador nacional de 1964 a 1967. Para o Mundial de 1966 ele convocou oito atletas do Sporting (campeão português da temporada 1965/66), sete do Benfica, três do Porto, dois do Belenenses, um do Leixões e um do Vitória de Setúbal. Inclusive, foi Afonso quem escolheu Otto Glória, do Sporting, como treinador.
Curiosamente, quatro dos titulares da seleção das Quinas eram nascidos em Moçambique: Vicente, Hilário, Coluna e Eusébio.
Separada da Iugoslávia desde 1991, a Croácia chegava à sua primeira final de Copa. Já tinha a sensação de ter cumprido seu papel, superado as expectativas e o que viesse seria lucro.
A França tinha uma equipe melhor tecnicamente e estava em melhor condição física. Era a terceira final de Copa do Mundo em seis edições disputadas. Na primeira delas, em 1998, Zinedine Zidane liderou Les Bleus na vitória por 3 x 0 sobre o Brasil. Na segunda, ainda sob a batuta de Zizou, a França perdeu para a Itália nos pênaltis em 2006. Contra os croatas, era amplamente favorita.
Mas esse mesmo time base já havia falhado em momentos decisivos, especialmente na final da Eurocopa de 2016, quando jogou em casa e perdeu na prorrogação por 1 x 0 para Portugal, que tinha uma equipe inferior tecnicamente. Esse raio ruim não poderia cair duas vezes no mesmo lugar.
Didier Deschamps escalou a França com seus onze considerados titulares, no sistema 4-2-3-1.
Mesmo com o time esgotado fisicamente, Zlatko Dalić mandou seu time a campo no 4-2-3-1 e manteve a escalação da semifinal.
● No início da partida, a Croácia tratou de pressionar a saída de bola, tentando resolver logo o jogo. Mas o cansaço e o esgotamento chegaram antes do gol.
Logo aos 17 minutos de jogo, Antoine Griezmann emulou Neymar, dobrou as pernas ridiculamente e caiu. O árbitro Néstor Pitana enxergou o que não houve e marcou a falta, mesmo com a grande pressão dos croatas – que estavam certos. Griezmann alçou a bola para a área e Mandžukić teve o azar de desviá-la de cabeça para o gol.
Com um gol proveniente de uma falta não existente, a França abriu o placar. Mario Mandžukić marcou o primeiro gol contra em uma final de Copa do Mundo, em toda a história. Esse Mundial dos gols contra, teve seu 12º marcado na final – o dobro do recorde anterior, que era de seis em 1998.
Depois, Luka Modrić cobrou uma falta para a área, mas o zagueiro Domagoj Vida cabeceou por cima.
(Imagem: FIFA.com)
Em nova cobrança de falta, dessa vez do meio campo, aos 28 min, Modrić lançou na direita. Šime Vrsaljko cabeceou para o meio da área. Mandžukić ganhou de Pogba pelo alto, Dejan Lovren desviou de cabeça e Vida tocou para trás. Ivan Perišić estava na meia lua e já dominou cortando para a perna esquerda, invadindo a área e enchendo o pé para o gol. A bola ainda desviou de leve em Varane antes de entrar. A seleção vatreni ainda estava viva na decisão!
Seis minutos depois, Griezmann cobrou escanteio fechado, Matuidi cabeceou e a bola tocou na mão de Perišić, que estava com o braço aberto. Os franceses correram para cima do árbitro para reclamar o toque. E a Copa do VAR foi decidida também pelo VAR. O italiano Massimiliano Irrati, que nunca marca nada, que sempre vê as infrações dentro da área como “normais”, dessa vez chamou a atenção de Pitana e o convidou para ver o lance no vídeo. E o argentino, mesmo vendo e revendo o lance, aparentemente ainda em dúvida, assinalou corretamente o pênalti. A primeira intervenção do VAR em uma final de Copa foi certeira e fatal.
Griezmann partiu para a cobrança. O goleiro Danijel Subašić se mostrou na competição um exímio especialista em defesas de pênaltis, mas caiu um pouco antes para seu lado esquerdo e deixou o outro lado livre para o camisa 7 francês deslocá-lo.
Após cobrança de escanteio, Vida desviou de cabeça para fora.
No segundo tempo, Ivan Rakitić tocou para Ante Rebić, que bateu de esquerda e Lloris espalmou para escanteio.
Mbappé foi lançado em velocidade, passou por Vida e chutou. Mas Subašic se antecipou, diminuindo o ângulo e fazendo a defesa.
(Imagem: FIFA.com)
Pouco depois, quatro pessoas invadiram o campo…
Aos 14′, Paul Pogba começou a jogada lançando Mbappé na ponta direita. O garoto passou por Ivan Strinić, foi à linha de fundo e cruzou para trás. Griezmann dominou e deixou com Pogba que emendou de primeira. Lovren rebateu e a bola voltou para o próprio Pogba chutar colocada de esquerda e marcar o terceiro gol. Subašic nem pulou.
Faltava o gol do prodígio Mbappé, que marcou aos vinte minutos. Lucas Hernández fez boa jogada pela esquerda e tocou para o camisa 10. Ele dominou na entrada da área e chutou rasteiro. Novamente o goleiro croata nem pulou. Com 19 anos e meio, Kylian Mbappé se tornou o segundo jogador mais jovem a marcar gol em uma final – só perde para Pelé, que tinha 17 anos e oito meses quando marcou na decisão de 1958.
Ainda deu tempo de o goleiro e capitão Hugo Lloris fazer uma bobagem. Aos 24′, ele recebeu de Umtiti e tentou driblar Mandžukić, que vinha na corrida. Mas o croata foi mais esperto, deixou o pé e diminuiu o placar. Um gol oriundo de uma das falhas mais bisonhas da história das finais de Copa. Sorte que sua equipe estava com boa diferença no placar. Faltou concentração e sobrou soberba a Lloris.
Mas foi ele, o goleiro e capitão Hugo Lloris, o responsável por levantar a taça no estádio Olímpico Luzhniki, em Moscou.
(Imagem: FIFA.com)
● As seleções europeias venceram os quatro últimos Mundiais, a maior sequência de uma confederação em toda a história.
Algumas observações merecem ser feitas. A França claramente mereceu vencer, mas… no lance do primeiro gol, Antoine Griezmann não sofreu falta. Ele buscou o contato e dobrou as pernas. O mundo inteiro que criticava Neymar por exagerar quando sofre falta, era o mesmo mundo que aplaude Griezmann por ter “cavado” uma falta inexistente. Curiosamente, o árbitro escalado para a final nasceu na mesma Argentina que foi massacrada pela Croácia na primeira fase. Se a FIFA quisesse um árbitro isento, poderia ter escalado outro, como, por exemplo, o brasileiro Sandro Meira Ricci. Néstor Pitana, mesmo vendo o lance do pênalti no vídeo, ainda hesitou algumas vezes antes de assinalá-lo. E deve ter engolido seco.
Bola parada não ganha apenas jogo: ganha Copa do Mundo! Segundo a FIFA, dos 169 gols marcados no torneio, 71 foram originados em bola parada (cobranças de faltas diretas ou indiretas, escanteio e pênaltis). Foi a Copa com o maior número de pênaltis na história, com 29.
A Copa de 2018 bateu o recorde de partidas consecutivas com gol. O primeiro 0 x 0 só aconteceu na 38ª partida, entre França e Dinamarca – um “jogo de compadres” que garantiu ambas seleções nas oitavas de final. Foi o único jogo sem gols no Mundial. Essa marca superou os 26 jogos seguidos sem 0 x 0 da Copa de 1954.
O centroavante Olivier Giroud foi fundamental no estilo de jogo francês. Além do papel de pivô, com sua constante movimentação, ele era o principal responsável para abrir espaços nas defesas adversárias para a infiltração de seus companheiros. Porém, ele terminou o Mundial sem marcar nenhum gol e, pior ainda: sem acertar nenhum chute no alvo.
Antoine Griezmann foi eleito discutivelmente pela FIFA o melhor jogador da partida. Kylian Mbappé praticamente não teve concorrentes para ser o melhor jogador jovem.
Luka Modrić foi o jogador que mais tempo ficou em campo durante a Copa: 694 minutos. Merecidamente, ele recebeu o prêmio de melhor jogador do torneio. Com muita técnica e disposição, o capitão croata liderou sua seleção à final e mereceu o título. Modrić sempre foi um jogador que potencializa o futebol de seus companheiros. E terminou a Copa de 2018 com status de estrela. No fim do ano, seria eleito o melhor jogador do mundo, tanto com a Bola de Ouro da revista France Football, quanto com o prêmio The Best da FIFA. Modrić quebrou uma longa sequência de dez anos em que a premiação era dividida entre Messi e Cristiano Ronaldo.
(Imagem: FIFA.com)
Esse time da Croácia ficou marcado também por não jogar com um meio campista originalmente defensivo. Quem fez essa função na maioria das vezes foi Marcelo Brozović, que na Internazionale era um meia de transição. Outras vezes, o meia mais defensivo era Ivan Rakitić, que de vez em quando fazia essa função no Barcelona. Méritos do ofensivo treinador Zlatko Dalić, que em alguns jogos escalou juntos os atacantes Mario Mandžukić, Ante Rebić e Andrej Kramarić.
Mas Zlatko Dalić deve ser questionado pelo excesso de confiança em seus titulares e a falta dela nos reservas. Milan Badelj fez uma partida formidável contra a Islândia e não recebeu mais oportunidades. Mateo Kovacic é um multifuncional e sempre incisivo, independentemente da função em campo, mas só entrava nos minutos finais das partidas. E, em uma final de Copa, precisando ir em busca do resultado, Dalić fez apenas duas alterações. Contestável.
Danijel Subašic foi um dos destaques da Croácia na Copa do Mundo, mas seu final não refletiu o que apresentou durante a competição. Ele atuava no clube francês Monaco desde 2012. E seus adversários se aproveitaram por conhecer a má fama que o goleiro tem de não se dar bem em chutes de longe. Com certeza Subašic poderia ter feito melhor nos chutes de Pogba e Mbappé que resultaram nos dois últimos gols franceses. Além disso, ainda caiu antes no pênalti cobrado por Griezmann.
A França se valeu de uma defesa muito forte, com o que havia de melhor na época no Real Madrid (Raphaël Varane) e no Barcelona (Samuel Umtiti), além da sempre ótima proteção de N’Golo Kanté e de dois zagueiros nas laterais (Benjamin Pavard e Lucas Hernández). Venceu essa Copa nos contra-ataques e nas bolas paradas. Pode até ser um estilo de jogo chato, mas é mortal e eficiente, principalmente com a jovialidade e a velocidade de Mbappé. Mesmo tendo sua convocação bastante contestada no início, Deschamps tem todos os méritos do mundo ao utilizar o máximo potencial de sua equipe. Ele soube extrair o melhor de seu elenco, montando uma defesa sólida, um meio campo dinâmico e um ataque rápido, direto e efetivo. A conquista do título foi justíssima.
Se em 1998, 13 dos jogadores do elenco campeão pela França possuíam alguma ligação ou origem estrangeira, no time de 2018, eram vinte dos 23 atletas convocados. Era o auge da França do “black, blanc, beur” (uma alusão aos negros, brancos e árabes), um verdadeiro mapa-múndi do futebol. Apenas Benjamin Pavard, Olivier Giroud e Florian Thauvin eram genuinamente franceses. Samuel Umtiti nasceu em Camarões, Steve Mandanda na República Democrática do Congo e Thomas Lemar em Guadalupe, possessão ultramarina da França. O capitão Hugo Lloris é filho de um banqueiro espanhol. N’Golo Kanté, Ousmane Dembélé e Djibril Sidibé são filho de pais nascidos em Mali. Alphonse Areola é filho de filipinos. Os pais de Raphaël Varane são da Martinica. Kylian Mbappé filho de uma ex-jogadora de handebol argelina e pai camaronês. Paul Pogba é filho de pai congolês e mãe guineense. As famílias de Steven Nzonzi e Presnel Kimpembe têm origem no Congo. Corentin Tolisso tem ascendência em Togo e Nabil Fekir na Argélia. Lucas Hernández descendente de espanhóis. Antoine Griezmann é de origem alemã e portuguesa. Benjamin Mendy descende de senegaleses. Adil Rami é de família marroquina. Blaise Matuidi é descendente de congoleses e angolanos.