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… 27/05/1934 – Alemanha 5 x 2 Bélgica

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Alemanha 5 x 2 Bélgica


(Imagem: Impromptuinc)

● A Bélgica já havia vivido a experiência de disputar um Mundial. Foi uma das poucas seleções europeias que participaram da primeira edição da Copa do Mundo, em 1930, mas o desempenho foi ruim. Perdeu as duas partidas que disputou, para Estados Unidos (3 x 0) e Paraguai (1 x 0). Ficou em último lugar do Grupo 4, sem marcar um gol sequer.

A Alemanha estreava em Copas. Quatro anos antes, declinou o convite devido à grave crise econômica que afetou toda a Europa, ocasionadas pelo crash de 1929 e resquícios da Primeira Guerra Mundial.

Nas eliminatórias, a Alemanha disputou apenas uma partida pelo Grupo 8, goleando Luxemburgo por 9 a 1. Como a França também venceu os luxemburgueses (6 a 1) e a chave reservava duas vagas, nem foi preciso que alemães e franceses se enfrentassem.

Por sua vez, pelo Grupo 7, os belgas empataram com a Irlanda por 4 a 4 e perderam para a Holanda por 4 a 2. Curiosamente, se qualificaram sem vencer nenhuma partida – já que os irlandeses sofreram um gol a mais na partida diante da Holanda (5 a 2).

Mas a seleção belga viajou à Itália bastante renovada. Apenas quatro jogadores eram remanescentes de 1930: o goleiro Arnold Badjou, o zagueiro August Hellemans e os atacantes Louis Versyp e Bernard Voorhoof, além do técnico Hector Goetinck. Desses, apenas Voorhoof era titular.


(Imagem: Impromptuinc)

● Diferentemente da primeira edição do Mundial, a Copa do Mundo de 1934 teve um formato diferente. Ao invés de fase de grupos, houve um torneio eliminatório direto, começando nas oitavas de final. Se uma partida terminasse empatada depois de 90 minutos, seriam jogados mais 30 minutos de prorrogação. Persistindo a igualdade, haveria outro jogo-desempate no dia seguinte.

Oito equipes eram cabeças de chave: Itália, Brasil, Áustria, Hungria, Tchecoslováquia, Holanda, Alemanha e Argentina.

A política era uma das principais motivações dos alemães para fazerem um bom papel no torneio. Naqueles tempos, o então chanceler Adolf Hitler já estava começando sua teoria de superioridade da raça ariana – que chegaria ao ápice nos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim. Antes das partidas, os atletas da Nationalelf eram obrigados a executar a saudação ao futuro Führer – assim como os italianos saudavam o Duce Benito Mussolini.

O treinador alemão Otto Nerz era um entusiasta do regime nazista e tinha o apoio de Hitler (que chegou a intervir na federação de seu país). Em 1926, Nerz havia sido o primeiro a assumir oficialmente o posto de técnico da seleção alemã. Com tempo para trabalhar, ele conseguiu transformar uma equipe medíocre em uma camisa respeitada no futebol europeu. Era sempre aberto a novas aprendizagens, estudando e absorvendo conhecimentos técnicos e táticos de lendas como James Hogan, Hugo Meisl e Vittorio Pozzo. Foi um dos primeiros em nível internacional a implementar o “W-M” – sistema tático criado pelo inglês Herbert Chapman, em 1925, no Arsenal. O esquema tinha como objetivo fortalecer a defesa e dar ênfase ao jogo de meio de campo, com uma espécie de “quadrado” – dois meias defensivos e dois meias ofensivos.

Após as eliminatórias, Nerz selecionou 38 jogadores, que foram submetidos a rígidos tratamentos físicos durante 60 dias, até serem definidos os 18 que seriam convocados para a Copa. E a Alemanha viajou para a Itália com a seleção mais jovem da Copa, com média de idade de 23 anos.


Otto Nerz era um adepto do sistema W-M, recém criado na Europa. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá enfâse ao trabalho do meio de campo.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5 – a exceção foi mesmo a Alemanha.

● No Stadio Comunale, em Florença, os termômetros registravam 30º C à sombra. Até por isso, apenas 8.000 torcedores se animaram a ir ao estádio.

Este duelo não era uma novidade. Cerca de um ano antes, a Alemanha goleou a Bélgica por 8 a 1 em um amistoso. E todos esperavam outra fácil vitória alemã. Todavia, tudo é diferente em uma partida de Copa do Mundo.

A Alemanha até saiu na frente aos 25 minutos do primeiro tempo, com Stanislaus Kobierski.

Mas a Bélgica empatou quatro minutos depois, com Bernard Voorhoof – aquele que foi o primeiro gol marcado pelos belgas na história das Copas.

Dois minutos antes do intervalo, Voorhoof anotou seu segundo tento na partida e virou o placar. Com 30 gols marcados em 61 partidas, Voorhoof é até hoje o terceiro maior artilheiro da história da seleção belga, atrás de Romelu Lukaku (59) e Eden Hazard (32), empatado com Paul Van Himst.

Os belgas viraram o jogo e terminaram o primeiro tempo com vantagem de 2 a 1 no placar, mas, no segundo tempo, a Alemanha controlou o jogo e demonstrou um desempenho capaz de superar qualquer crise.

Logo aos 4′, Otto Siffling empatou o jogo em 2 a 2.

A vitória germânica só foi construída nos últimos 25 minutos. O jovem atacante Edmund Conen, de apenas 19 anos, se empolgou e anotou um “hat trick”, marcando aos 21′, 25 e 42′.


(Imagem: Popper Foto / FIFA)

● A vitória consistente e a classificação deram motivação aos alemães e esse sucesso foi muito aproveitado pelos nazistas nas propagandas políticas.

E juntando todos os resultados da primeira rodada, pela única vez em uma Copa do Mundo, todas as oito seleções classificadas para as quartas de final eram da Europa.

Na sequência, a Alemanha venceu a Suécia nas quartas de final por 2 a 1. Na semifinal, perdeu para a Tchecoslováquia por 3 a 1. Terminou a Copa em um honroso 3º lugar ao vencer a arquirrival Áustria por 3 a 2.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 5 X 2 BÉLGICA

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h00 locais

Estádio: Stadio Comunale / Giovanni Berta (atual Artemio Franchi)

Público: 8.000

Cidade: Florença (Itália)

Árbitro: Francesco Mattea (Itália)

 

ALEMANHA (WM):

BÉLGICA (2-3-5):

Willibald Kreß (G)

André Vandewyer (G)

Sigmund Haringer

Philibert Smellinckx

Hans Schwartz

Constant Joacim

Paul Janes

Frans Peeraer

Fritz Szepan (C)

Félix Welkenhuysen (C)

Paul Zielinski

Jean Claessens

Ernst Lehner

François Devries

Karl Hohmann

Bernard Voorhoof

Edmund Conen

Jean Capelle

Otto Siffling

Laurent Grimmonprez

Stanislaus Kobierski

Albert Heremans

 

Técnico: Otto Nerz

Técnico: Hector Goetinck

 

SUPLENTES:

 

 

Hans Jakob (G)

Arnold Badjou (G)

Fritz Buchloh (G)

Jules Pappaert

Willy Busch

August Hellemans

Reinhold Münzenberg

Désiré Bourgeois

Ernst Albrecht

Victor Putmans

Rudolf Gramlich

Charles Simons

Josef Streb

Joseph Van Ingelgem

Jakob Bender

Jean Brichaut

Franz Dienert

Robert Lamoot

Matthias Heidemann

René Ledent

Rudolf Noack

Louis Versyp

 

GOLS:

25′ Stanislaus Kobierski (ALE)

29′ Bernard Voorhoof (BEL)

43′ Bernard Voorhoof (BEL)

49′ Otto Siffling (ALE)

66′ Edmund Conen (ALE)

70′ Edmund Conen (ALE)

87′ Edmund Conen (ALE)

Algumas imagens da partida:

… Lothar Matthäus, o “Mr. Copa”

Três pontos sobre…
… Lothar Matthäus, o “Mr. Copa”


(Imagem: DFB)

Mesmo tendo pendurado as chuteiras há mais de vinte anos, ele ainda detém alguns dos recordes no futebol.

É o jogador que disputou mais partidas em Copas do Mundo (25).
É um dos poucos a disputarem cinco edições do Mundial (juntamente com os mexicanos Antonio Carbajal e Rafa Márquez e o italiano Gianluigi Buffon).
É o alemão que mais disputou partidas pela sua seleção (150 partidas, entre 1980 e 2000).
Foi eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA na primeira edição do prêmio, em 1991.
Também eleito Bola de Ouro pela revista France Football em 1990.
Eleito em 2020 para o Dream Team da Bola de Ouro como um dos melhores meio-campistas defensivo da história.
Foi o capitão e líder da seleção alemã que levantou a taça da Copa de 1990.
Venceu quase todos os títulos possíveis. Só a UEFA Champions League lhe escapou (já nos acréscimos, em 1998/99).

Às vezes ele é subvalorizado pela mídia e pelos torcedores atuais, que pouco o viram jogar. Mas Matthäus era o jogador completo, vanguardeiro, um dos primeiros “box to box”, que liderava a marcação e o sistema defensivo, mas também aparecia no ataque para fazer seus vários gols – especialmente em chutes potentes e certeiros de fora da área.

Era um dos nomes mais impactantes de sua época. Tanto que é notável a quantidade exponencial de “Matheus” com menos de 35 anos. Homenagem mais do que justa.

Hoje esse craque completa 60 anos. Parabéns, capitão.


(Imagem: Twitter @BarcaUniversal)

… A Copa do Mundo que me fez apaixonar de vez por futebol

Três pontos sobre…
… A Copa do Mundo que me fez apaixonar de vez por futebol

● Minha paixão por futebol é hereditária e eu herdei do meu pai.

Mas se na Copa de 1990 eu era muito pequeno e me recordo vagamente dos nomes de Maradona e Matthäus, em 1994 eu já tinha oito anos e começava a entender alguma coisa sobre futebol. Começava a brincar de bola na escola e, pra apaixonar de vez mesmo, tinha uma Copa do Mundo para assistir.

Hoje muitos criticam o nível do futebol apresentado, especificamente da Seleção Brasileira, o que é uma injustiça tremenda.

● Vamos lembrar de algumas seleções marcantes daquela edição do Mundial.

Uma das favoritas era a então campeã Alemanha, na primeira Copa depois da reunificação. Contava com grandes jogadores como os experientes Bodo Illgner, Andreas Brehme, Matthias Sammer, Guido Buchwald, Andreas Möller, o baixinho Thomas Häßler, Rudi Völler, Jürgen Klinsmann e, claro, Lothar Matthäus.

Essa Alemanha caiu nas quartas de final para a mítica Bulgária, do genial e genioso Hristo Stoichkov, de Borislav Mihaylov (o goleiro que usava peruca), do ídolo cult Trifon Ivanov, o “Lobo Búlgaro”, do carequinha Yordan Lechkov, além dos perigosos Krasimir Balakov, Nasko Sirakov e Emil Kostadinov. Vale ressaltar que a Bulgária nunca tinha vencido uma partida em Copas e chegou nas semifinais.


(Imagem: Getty Images)

Mas no mesmo grupo da Alemanha, ainda tinha a Espanha, do goleiro Andoni Zubizarreta, Fernando Hierro, Pep Guardiola e Luis Enrique.

Até a fraca Bolívia tinha Julio César Baldivieso, Erwin “Platini” Sánchez e Marco “El Diablo” Etcheverry.

A Colômbia era a favorita para Pelé. Depois de enfiar 5 a 0 na Argentina em pleno Monumental de Núñez nas eliminatórias, o mundo inteiro ficou esperando mais de jogadores como Carlos “El Pibe” Valderrama, Freddy Rincón, Faustino Asprilla, Adolfo Valencia, Iván Valenciano, Antony de Ávila, Víctor Aristizábal. Mas o que vimos foi Andrés Escobar fazer um gol contra e ser tristemente assassinado. Cabe ressaltar que René Higuita – o goleiro espetáculo, desfalcou sua seleção por ter sido acusado de ter participado de um sequestro e acabou ficando preso por seis meses, em 1993. Depois ele seria inocentado pela justiça, mas ficou fora da Copa.

A Rússia veio toda remendada, com um amontoado de jogadores nascidos em outros países da União Soviética. Mas seis de seus melhores atletas não gostavam dos métodos do técnico Pavel Sadyrin e fizeram boicote, ficando fora do Mundial.

Camarões tinham encantado em 1990, mas fizeram feio em 1994, mesmo com uma seleção ainda mais forte.

A surpresa africana ficou por conta da Nigéria, que disputava sua primeira Copa. Foi lá que ouvimos pela primeira vez os nomes de Rashid Yekini, Sunday Oliseh, Finidi George, Augustine “Jay-Jay” Okocha, Victor Ikpeba, Emmanuel Amunike e Daniel Amokachi. Ficou em primeiro lugar do Grupo D, que tinha a poderosa Argentina.

A Argentina é um capítulo a parte. Se a ridícula seleção de 1990 chegou na final, imagina o que poderiam fazer em 1994?! Diego Maradona continuava tendo a companhia de Sergio Goycochea, Claudio “El Pájaro” Caniggia, José Basualdo, mas agora tinha também Gabriel Batistuta – o “Batigol”, Fernando Redondo – genial, Diego Simeone – que jogava demais, além do jovem Ariel Ortega. Mas tudo ruiu com o doping de Maradona. Sem ele, caiu nas oitavas de final em um jogaço diante da Romênia, do maestro Gheorghe Hagi, Ilie Dumitrescu, Gheorghe Popescu e do goleiro Florin Prunea.


(Imagem: Pinterest)

A Irlanda tinha um time limitado, mas chegou a vencer a Itália na estreia. No mesmo grupo tinha a Noruega e o México, do goleiro baixinho e espalhafatoso Jorge Campos e do veterano Hugo Sánchez.

No Grupo F, Arábia Saudita contou com um golaço de Saeed Al-Owairan para vencer a Bélgica por 1 x 0. Bélgica que tinha o fantástico goleiro Michel Preud’homme – o melhor da Copa, além de Marc Wilmots, Enzo Scifo e Luc Nilis, que seria parceiro de Ronaldo no PSV.

A líder desse grupo foi a Holanda, que já não contava com Ruud Gullit e Marco Van Basten, mas ainda tinha Frank Rijkaard e Ronald Koeman (novo técnico do Barcelona), além de talentos como os irmãos Frank e Ronald de Boer, o arisco ponta Marc Overmars e o genial Dennis Bergkamp.

● A Seleção Brasileira sempre foi cobrada para jogar bonito e criticada quando isso não acontecia. E em 1994, muitos dizem que era um futebol burocrático, que dava sono. Mas devemos confessar que sentimos muita saudade daquele nosso futebol.

Taffarel era criticado, chamado de frangueiro, mas na “hora H” foi fundamental e um dos esteios do time.

Os cruzamentos de Jorginho eram certeiros, assim como as “bombas santas” de Branco.

Aldair e Márcio Santos a dupla de zaga reserva, que o destino fez se tornar titular e incontestável durante o torneio.

Mauro Silva era um grande volante, o pilar defensivo e ainda quase fez o gol do título, em uma bola que o goleiro Pagliuca deixou escapar e parou na trave.

Muitos criticam Dunga, mas o capitão marcava bem e era muito bom na saída de bola e nos passes em profundidade, com uma excelente visão de jogo. Basta ver um jogo completo de Dunga na Copa de 1994 para parar de criticar.


(Imagem: Pinterest)

Zinho era o mais criticado. Enceradeira, jogador de passes laterais… mas fundamental para que a seleção não rifasse a bola. Era ele o responsável pelo equilíbrio do time. Só depois, ao vê-lo jogar no Palmeiras, eu fui entender isso. Ele era bom. Sacrificou seu talento para fazer o que o time precisava.

Raí não estava em boa fase e perdeu o lugar no time. Com a visão e conhecimento de futebol que eu tenho hoje, eu teria colocado Paulo Sérgio ou até Müller em seu lugar. Mas o pragmático Parreira colocou Mazinho, que deu conta do recado e foi muito bem.

Bebeto não era apenas o coadjuvante de Romário. Em seu auge, Bebeto foi um dos melhores atacantes do mundo. Foi fundamental no título.

Título que só veio com a genialidade de Romário. Nem preciso citar a última partida das Eliminatórias. Quem viu o “Baixinho” jogar apenas no fim da carreira, viu um centroavante de área, que ficava parado esperando a bola para tocar para o gol. Mas, no auge de seus 28 anos, Romário era o melhor jogador do mundo. E tratou se mostrar isso naquela Copa. Tinha velocidade, habilidade, faro de gol e não era fominha. Sem ele, muito provavelmente o Brasil não teria conquistado o título.


(Imagem: Globo)

● Era lindo ver a Seleção Brasileira entrando de mãos dadas.

Na primeira partida, vitória sobre a Rússia por 2 x 0, com gols de Romário e Raí.

Depois, 3 x 0 sobre Camarões. Gols de Romário, Márcio Santos e Bebeto.

Na terceira partida, com a Seleção já classificada, empate em 1 x 1 contra a ótima Suécia, do goleiro Thomas Ravelli, Patrik Andersson, do cabeludo Larsson, de Dahlin, Ingesson, Thomas Brolin e Kennet Andersson. E foi justamente ele, o gigante Kennet Andersson, quem usou sua habilidade para abrir o placar encobrindo Taffarel. E eu, um menino de oito anos, que nunca tinha visto o Brasil sair atrás do placar em uma Copa, caí no choro. Mas Romário, tratou de empatar a partida e devolver meu sorriso.

Nas oitavas de final, o Brasil enfrentou os Estados Unidos no território americano e em pleno Dia da Independência, 04 de julho. A torcida, que sempre era verde e amarela, mudou de lado e os gritos de “USA” chegaram a me assustar. Leonardo tratou de piorar as coisas ao ser expulso por dar uma cotovelada estúpida em Tab Ramos. Mas Romário, sempre ele, tratou de fazer uma jogada genial e serviu para Bebeto fazer o único gol do jogo, a menos de 20 minutos do fim. Caía os donos da casa e suas figuras folclóricas, como o goleiro Tony Meola e os zagueiros Marcelo Balboa e Alexi Lalas.

Nas quartas de final, 3 x 2 sobre a Holanda. Romário abriu o placar em um sem-pulo e Bebeto ampliou após driblar o goleiro, tocar para a rede e comemorar no ritmo de “embala Mattheus”, junto com Romário e Mazinho. Aron Winter e Dennis Bergkamp empataram em dois raros vacilos defensivos do Brasil. E o gol da vitória veio de um personagem emblemático. Branco teve sua convocação criticada, foi mantido pela equipe médica mesmo estando lesionado e foi fundamental naquela partida. Além de parar Marc Overmars, ele cavou a falta no fim do jogo e bateu com perfeição. Era o gol “cala a boca” para mostrar aos críticos que ainda podia ser importante em sua terceira Copa.

Na semifinal, o Brasil perdeu várias chances de matar o jogo e sofreu para vencer a Suécia por 1 a 0. Cruzamento perfeito de Jorginho e gol de… adivinha de quem? Romário. O “Baixinho” apareceu entre os gigantes suecos e fez o gol da vitória.


(Imagem: FIFA)

Na final, a Itália de Paolo Maldini, Franco Baresi, Dino Baggio e dele… Roberto Baggio… um dos melhores jogadores que já vi. O craque perfeito, responsável por cinco dos seis gols italianos na fase de mata-mata. Um gênio.

Quem nunca viu essa partida na íntegra, aconselho a ver. Foi um baita jogo, com chances dos dois lados. Duas grandes seleções. Mas que não saíram do zero. Pela primeira vez não houve gol em uma final de Copa. Pela primeira vez, o campeão foi decidido nos pênaltis.

No começo do jogo eu cantei a pedra: o jogo vai pros pênaltis. Eu tinha ficado tão encantado com os pênaltis entre Suécia e Romênia, que eu queria mais. E foi atendido pelos deuses do futebol.

Baresi, que voltava de uma artroscopia feita durante a Copa e marcou Romário por 120 minutos de forma limpa e perfeita, começou chutando para o alto.

Márcio Santos, melhor cobrador brasileiro nos treinos, bateu mal e Pagliuca pegou.

Demetrio Albertini mandou a primeira bola na rede.

Romário, que até então não gostava de bater pênalti, converteu.

Alberigo Evani também fez e Branco empatou.

Daniele Massaro bateu e Taffarel pegou.

Dunga bateu com perfeição e comemorou com raiva.

Roberto Baggio, o gênio, que em sua longa carreira bateu 159 pênaltis e converteu 141 e perdeu apenas 18 (incríveis 89% de aproveitamento), com certeza faria o gol. Mas poucos se lembram que ele foi substituído por lesão no meio do segundo tempo da semifinal diante da Bulgária. Ele jogou contra o Brasil no sacrifício, com uma proteção na coxa. E Baggio bateu o pênalti lá na lua.

Nocaute Jack dava cambalhota, o menino Ronaldo se abraçava aos demais, Zagallo era campeão de novo, os atletas com a faixa homenageando Ayrton Senna, Dunga levantando a taça e xingando meio mundo e Galvão Bueno se abraçando a Pelé e gritando “É Tetra! É Tetra!”

Foi nessa época, nessa Copa, que o vírus do futebol me pegou definitivamente. O resto é história.


(Imagem: IFDB)

Hoje completamos quatro anos do blog. Agradecemos demais a sua companhia nesse tempo e que venham vários anos.

“Três pontos: paixão com conteúdo.”

… 23/07/1966 – União Soviética 2 x 1 Hungria

Três pontos sobre…
… 23/07/1966 – União Soviética 2 x 1 Hungria


(Imagem: Magyarfutball.hu)

● Era um duelo entre duas seleções muito fortes. Ambas constavam no grupo das favoritas ao título. O Brasil era o candidato natural, por ter vencido as duas Copas anteriores (1958 e 1962). A Inglaterra era a dona da casa. A Espanha havia conquistado a Eurocopa de 1964. E a Alemanha Ocidental tinha um bom elenco, onde brilhavam o veterano atacante Uwe Seeler e uma jovem dupla no meio campo: Franz Beckenbauer e Wolfgang Overath.

A União Soviética estava na melhor fase de sua história. Em um espaço de dez anos, havia conseguido quase todos os títulos de sua sala de troféus, além de campanhas de destaque. Conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956, em Melbourne. Se sagrou vencedora da primeira edição da Eurocopa, em 1960, além de ter sido vice-campeã da Euro de 1964. Um nome se destacava dentre os demais e permaneceu como unanimidade durante todo esse período: Lev Yashin, o Aranha Negra, único goleiro a ter sido eleito o Bola de Ouro da revista France Football como o melhor jogador da Europa, em 1963. Nas eliminatórias, a URSS foi a líder do Grupo 7 da UEFA, com cinco vitórias e uma única derrota (para o País de Gales, quando já estava classificada), deixando para trás, além dos galeses, a Grécia e a Dinamarca.

Em termos de qualidade, a Hungria não ficava atrás. No qualificatório europeu, terminou com três vitórias e um empate, deixando para trás a Alemanha Oriental e a Áustria. Com esse mesmo time base, havia conquistado a medalha de bronze nas Olimpíadas de Roma, em 1960. Depois, terminou em 3º lugar na Eurocopa de 1964 e ficou com a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Tóquio, também em 1964. Os maiores destaques eram o volante Kálmán Mészöly, o ponta direita Ferenc Bene e o atacante Flórián Albert, que seria eleito o Bola de Ouro de 1967.

Em sua estreia, a União Soviética venceu a Coreia do Norte por 3 x 0. Depois, venceu a Itália por 1 x 0. Terminou a primeira fase com 100% de aproveitamento ao vencer o Chile por 2 x 1.

A Hungria perdeu para Portugal por 2 x 1 na primeira partida. Depois, venceu por 2 x 1 a Seleção Brasileira, então bicampeã do mundo. Encerrou sua participação com o segundo lugar do Grupo 3, após vencer a Bulgária por 3 x 1.


Ambas as equipes jogavam no sistema tático 4-2-4.

● Os dois goleiros acabariam por ser os dois principais destaques da partida. Enquanto Lev Yashin salvou a URSS, o goleiro húngaro fez o contrário. József Gelei era o terceiro goleiro de sua seleção. Ele tinha 28 anos e jogava FC Tatabánya, um time médio de seu país – o mesmo clube que havia revelado Gyula Grosics, maior arqueiro da história da Hungria, que disputou as Copas de 1954, 1958 e 1962. O titular era Antal Szentmihályi, do Újpest LK, mas ele não fez uma boa partida na estreia diante de Portugal e foi sacado pelo técnico Lajos Baróti. O reserva imediato era István Géczi, do Ferencváros TC, que estava lesionado. Assim, coube a Gelei defender a meta contra o Brasil. Fez um bom papel e foi mantido como titular para a sequência da competição. Mas, contra os soviéticos, ele falhou logo na primeira vez em que precisou mostrar serviço.

Logo aos cinco minutos, antes que o jogo esquentasse, aconteceu um lance curioso. O soviético Anatoliy Banishevskiy avançou pela ponta esquerda e, em disputa de bola, jogou o zagueiro húngaro Sándor Mátrai para cima dos repórteres. Ele demorou um pouco a se recuperar, mas voltou inteiro para o jogo. O árbitro espanhol Juan Gardeazábal Garay deu apenas escanteio.

Valeriy Porkujan cobrou escanteio curto, recebeu de volta e chutou fraco e rasteiro da ponta esquerda. Era uma bola fácil, mas Gelei deixou a bola passar por baixo de seu corpo. Igor Chislenko estava ligado no lance e chegou de carrinho para empurrar a bola que estava quase em cima da linha de gol, antes que o goleiro tivesse tempo para recuperar a bola.


(Imagem: Pinterest)

No restante do primeiro tempo, os húngaros tentaram recobrar o controle dos nervos, mas não conseguiram. O técnico Nikolai Morozov deu uma mostra de humildade rara entre os soviéticos e decidiu escalar Valery Voronin com a única e exclusiva obrigação de acompanhar Florián Albert por todo o campo – principal articulador das jogadas de ataque da seleção húngara.

No primeiro minuto do segundo tempo, Vasiliy Danilov deu um chutão para frente e foi prensado por Benő Káposzta. Em um lance bastante inusitado, a bola furou e caiu já murcha fora de campo. Uma cena muito rara na história das Copas.

Logo aos 2′, Gelei falhou novamente. Galimzyan Khusainov cobrou uma falta da direita, levantando a bola na pequena área da Hungria. O goleiro ficou parado e Porkujan cabeceou. A bola tocou na trave esquerda e entrou no gol.


(Imagem: Magyarfutball.hu)

Mas, em uma estratégia arriscada, os soviéticos recuaram diante do bom time húngaro.

Na base da força de vontade e superação os magiares saíram em busca do empate e chegaram a colocar os dez jogadores no campo de ataque. Era o volante Kálmán Mészöly quem liderava o time na técnica e no grito. A pressão foi tanta que o goleiro Lev Yashin precisou fazer pelo menos quatro defesas de grande envergadura. Mas só resultou em um único e insuficiente gol.

Mészöly se lançou de vez para o ataque. Aos 12′ , ele abriu na direita para Ferenc Bene tocar cruzado por cima de Yashin, que saía no lance.

A Hungria continuava atacando em busca do empate.

Gyula Rákosi cruzou da esquerda para a área. Mészöly dominou no peito e bateu de primeira, de esquerda, mas Porkujan fechou o espaço e impediu o empate. A defesa da URSS não conseguiu tirar de vez, a bola viajou e Rákosi chutou da entrada da área, mas a bola saiu à direita do gol de Lev Yashin.

Mais para o fim do jogo, Ferenc Bene deu uma bicicleta da entrada da grande área e a bola passou muito perto do travessão, chegando a tocar no suporte da rede e assustar Yashin.

Mas já era tarde demais para os húngaros. A URSS estava classificada para a única semifinal de sua história nas Copas do Mundo.

Nas semifinais, a URSS perdeu para a Alemanha Ocidental por 2 x 1. Terminou a competição em 4º lugar, após perder para Portugal por 2 x 1 na decisão do 3º lugar.


(Imagem: Magyarfutball.hu)

FICHA TÉCNICA:

 

UNIÃO SOVIÉTICA 2 x 1 HUNGRIA

 

Data: 23/07/1966

Horário: 15h00 locais

Estádio: Roker Park

Público: 26.844

Cidade: Sunderland (Inglaterra)

Árbitro: Juan Gardeazábal Garay (Espanha)

 

UNIÃO SOVIÉTICA (4-2-4):

HUNGRIA (4-2-4):

1  Lev Yashin (G)

21 József Gelei (G)

4  Vladimir Ponomaryov

2  Benő Káposzta

6  Albert Shesternyov (C)

17 Gusztáv Szepesi

12 Valery Voronin

6  Ferenc Sipos (C)

10 Vasiliy Danilov

3  Sándor Mátrai

8  Yozhef Sabo

5  Kálmán Mészöly

15 Galimzyan Khusainov

14 István Nagy

11 Igor Chislenko

7  Ferenc Bene

18 Anatoliy Banishevskiy

9  Flórián Albert

19 Eduard Malofeyev

10 János Farkas

17 Valeriy Porkujan

11 Gyula Rákosi

 

Técnico: Nikolai Petrovich Morozov

Técnico: Lajos Baróti

 

SUPLENTES:

 

 

21 Anzor Kavazashvili (G)

1  Antal Szentmihályi (G)

22 Viktor Bannikov (G)

22 István Géczi (G)

13 Alexey Korneyev

4  Kálmán Sóvári

7  Murtaz Khurtsilava

18 Kálmán Ihász

3  Leonīds Ostrovskis

13 Imre Mathesz

5  Valentin Afonin

8  Zoltán Varga

9  Viktor Getmanov

20 Antal Nagy

14 Giorgi Sichinava

12 Máté Fenyvesi

2  Viktor Serebryanikov

15 Dezső Molnár

16 Slava Metreveli

19 Lajos Puskás

20 Eduard Markarov

16 Lajos Tichy

 

GOLS:

5′ Igor Chislenko (URSS)

46′ Valeriy Porkujan (URSS)

57′ Ferenc Bene (HUN)


(Imagem: Magyarfutball.hu)

Melhores momentos da partida:

… 20/07/1966 – Alemanha Ocidental 2 x 1 Espanha

Três pontos sobre…
… 20/07/1966 – Alemanha Ocidental 2 x 1 Espanha


(Imagem: Impromptuinc)

● O árbitro da partida foi o brasileiro Armando Marques. Então com 36 anos, ele era famoso no Brasil por sua mania de querer ser o centro do espetáculo. Mas não havia qualquer dúvida de que ele era o melhor árbitro do país na década de 1960. Seus famosos e folclóricos erros só viriam a acontecer nos anos 1970, como, por exemplo, o equívoco na contagem de pênaltis na decisão do Campeonato Paulista de 1973.

Ambas as seleções constavam no grupo das favoritas ao título. O Brasil era o candidato natural, por ter vencido as duas Copas anteriores (1958 e 1962). A Inglaterra era a dona da casa. A Espanha havia conquistado a Eurocopa de 1964. A Hungria havia ganhado a medalha de ouro do futebol nos Jogos Olímpicos de 1964. A União Soviética contava o goleiro Lev Yashin em seu auge. A Alemanha Ocidental tinha um bom elenco, onde brilhavam o veterano atacante Uwe Seeler e uma jovem dupla no meio campo: Franz Beckenbauer e Wolfgang Overath.

Após quase trinta anos, os alemães tinham um novo técnico. Em 1964, a “raposa” Sepp Herberger deu lugar ao não menos esperto Helmut Schön, que era seu auxiliar desde 1960.

Em sua primeira partida, a Nationalmannschaft goleou a Suíça por 5 x 0. Na segunda rodada, empatou sem gols com a Argentina. Com a vitória dos albicelestes sobre os suíços por 2 x 0 no dia anterior, a Alemanha jogava por uma vitória simples para ser a líder do Grupo B ou, na pior dar hipóteses, precisava de um empate para ficar com a segunda vaga da chave.


(Imagem: Impromptuinc)

● Em sua estreia, a Espanha perdeu para a Argentina por 2 x 1. Depois, venceu a Suíça pelo mesmo placar. No terceiro jogo, precisava vencer os alemães de qualquer jeito para se classificar.

Por isso, o técnico José Villalonga radicalizou geral. Ele aproveitou a lesão do meia Pirri e trocou praticamente todo o time do meio de campo para a frente. Só o ponta direita Amancio Amaro continuou no onze titular.

Foram barrados jogadores consagrados, como o ponta esquerda Paco Gento, do Real Madrid (jogador mais vezes campeão na história da UEFA Champions League, com seis títulos), o atacante Joaquín Peiró e o meia Luis Suárez, ambos da Inter de Milão (que havia vencido a Champions por duas vezes em anos anteriores) e o meia Luis del Sol, da Juventus.

Esses nomes de peso foram substituídos por jovens que estavam no elenco que ajudou a Espanha a se sagrar campeã da Eurocopa de 1964, como Josep Maria Fusté, Adelardo, Marcelino e Carlos Lapetra.

Porém, o certo é que os onze jogadores que pisaram no Villa Park naquele dia nunca haviam sequer treinado juntos.


Ambas as equipes jogavam no sistema tático 4-2-4.

● Os primeiros 30 minutos dessa partida foram os mais intensos dos espanhóis desde a Copa de 1950. Dominando as ações ofensivas, o time demonstrou uma vontade incomum e partiu para cima da Alemanha honrando o apelido de Fúria. Com um time menos talentoso, mas dedicado e esforçado, os espanhóis começaram pressionando e empurrando os teutônicos para o campo de defesa. Tamanho esforço e vigor só poderia ser recompensado com um gol.

Aos 23′, Emmerich deu um passe errado para Franz Beckenbauer. Josep Maria Fusté interceptou, abriu na esquerda com Marcelino e se infiltrou na área. A devolução foi perfeita para Fusté dominar no peito e tocar no canto direito, antes da chegada do goleiro Hans Tilkowski. Os alemães reclamaram que Fusté havia conduzido a bola com o braço, mas Armando Marques, como sempre, nem quis escutar.

Aos 39′, Sigfried Held cobrou um lateral rápido para Lothar Emmerich na ponta esquerda. Quase da linha de fundo, Emmerich soltou uma bomba que passou entre a trave direita e o goleiro José Ángel Iribar, morrendo no outro ângulo. Foi um verdadeiro “gol espírita”, um dos maiores de todas as Copas. O chute tomou o rumo do gol sem ter ângulo algum.

Esse gol ficou imortalizado na Alemanha. Desde então, quando um gol é marcado de um ângulo impossível, é chamado de “Emmerich Tor” (“gol Emmerich”) no jargão futebolístico alemão.

Um golaço, que foi considerado o gol mais bonito da história do estádio Villa Park até a época.

Era um verdadeiro castigo para o que os espanhóis estavam jogando. Não havia mais justiça no placar.

A Espanha retornou com menos confiança para o segundo tempo e só voltaria a equilibrar as ações a partir dos 20 minutos, mas sem a adrenalina da primeira etapa. A Fúria tentou o segundo gol a qualquer custo, mas o time cansou.

E a virada alemã aconteceu aos 39′. Held foi à linha de fundo e cruzou rasteiro da esquerda. Uwe Seeler dominou na linha da pequena área e bateu no canto esquerdo de Iribar.

Assim como o primeiro gol alemão, o segundo também ocorreu em um momento que abalou psicologicamente os espanhóis, que agora precisavam anotar dois gols em sete minutos.

E o nervosismo dos ibéricos ainda resultou em outras duas chances perdidas pelos germânicos. Em uma delas, Uwe Seeler roubou a bola de Severino Reija, entrou sozinho na área e driblou o goleiro Iribar, mas ficou sem ângulo para a finalização.


(Imagem: Impromptuinc)

● De forma melancólica, a Espanha deu adeus a mais uma Copa do Mundo. O zagueiro Gallego resumiu bem a partida: “Nós criamos as oportunidades e eles fizeram os gols”.

Curiosamente, a Espanha tinha em seu elenco um atacante que começou a carreira no Flamengo. Nascido em Pontevedra, na região da Galícia, José Armando Ufarte viveu a infância no Brasil e começou a carreira nas divisões de base do rubro-negro, antes de voltar ao seu país e jogar no Atlético de Madrid. Jogou também pelo Corinthians e pelo Racing Santander. Pelo Flamengo, conquistou o Campeonato Carioca em 1961 e o Tornio Rio-São Paulo em 1963.

Com a vitória, a Alemanha foi a líder de seu grupo graças ao critério do goal average (divisão do número de gols marcados pelo número de gols sofridos), furando a previsão de seu ex-técnico Sepp Herberger, campeão mundial em 1954 e jornalista em 1966. Ele havia afirmado que os alemães seriam eliminados ainda na primeira fase.

Nas quartas de final, a Alemanha Ocidental goleou o Uruguai por 4 x 0. Nas semifinais, venceu a forte União Soviética por 2 x 1. Na decisão, enfrentou a Inglaterra, dona da casa. Conseguiu um empate no tempo normal, mas, na prorrogação, sofreu um gol bastante polêmico (até hoje não existe um ângulo de qualquer imagem que tenha mostrado a bola dentro do gol) e perdeu por 4 x 2.


(Imagem: AP Photo / Bippa / Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 2 x 1 ESPANHA

 

Data: 20/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Villa Park

Público: 42.187

Cidade: Birmingham (Inglaterra)

Árbitro: Armando Marques (Brasil)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-2-4):

ESPANHA (4-2-4):

1  Hans Tilkowski (G)

1  José Ángel Iribar (G)

2  Horst-Dieter Höttges

2  Manuel Sanchís

5  Willi Schulz

17 Gallego

6  Wolfgang Weber

5  Ignacio Zoco (C)

3  Karl-Heinz Schnellinger

15 Severino Reija

4  Franz Beckenbauer

6  Jesús Glaría

12 Wolfgang Overath

19 Josep Maria Fusté

19 Werner Krämer

21 Adelardo

9  Uwe Seeler (C)

8  Amancio Amaro

10 Sigfried Held

9  Marcelino

11 Lothar Emmerich

22 Carlos Lapetra

 

Técnico: Helmut Schön

Técnico: José Villalonga

 

SUPLENTES:

 

 

22 Sepp Maier (G)

12 Antonio Betancort (G)

21 Günter Bernard (G)

13 Miguel Reina (G)

14 Friedel Lutz

14 Feliciano Rivilla

15 Bernd Patzke

16 Ferran Olivella

17 Wolfgang Paul

3  Eladio

18 Klaus-Dieter Sieloff

18 Pirri

7  Albert Brülls

4  Luis del Sol

16 Max Lorenz

20 Joaquín Peiró

8  Helmut Haller

10 Luis Suárez Miramontes

13 Heinz Hornig

7  José Armando Ufarte

20 Jürgen Grabowski

11 Francisco Gento

 

GOLS:

23′ Josep Maria Fusté (ESP)

39′ Lothar Emmerich (ALE)

84′ Uwe Seeler (ALE)

 

ADVERTÊNCIAS:

Wolfgang Overath (ALE)

Jesús Glaría (ESP)


(Imagem: DPA / Report+++ / Impromptuinc)

Gols da partida:

… 19/07/1930 – Argentina 6 x 3 México

Três pontos sobre…
… 19/07/1930 – Argentina 6 x 3 México


(Imagem: El Sol del México)

● Juntamente com o anfitrião Uruguai, a Argentina era uma das principais favoritas ao título da primeira Copa do Mundo de futebol. Àquela altura, já tinha uma camisa pesada, tendo conquistado quatro edições do Campeonato Sul-Americano (atual Copa América). Além disso, havia conquistado a medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Amsterdã, em 1928, perdendo a decisão apenas no jogo desempate para o rival Uruguai.

A convocação do elenco argentino para a primeira edição do Mundial foi realizada através de uma votação popular. E, como diz o ditado, “a voz do povo é a voz de Deus”, uma equipe experiente foi montada, com nove vice-campeões olímpicos e outros atletas de renome no país. Era um time muito forte, em condições de realmente disputar o título.

Por outro lado, a falta de confiança dos mexicanos em sua seleção era tamanha que parte da imprensa do país começou uma campanha leve para que o México desistisse de disputar a Copa, para evitar um vexame.

E realmente os resultados em território uruguaio não foram muito bons. O duelo diante dos argentinos era o último jogo do México no Mundial de 1930. Sofreu o primeiro gol da história das Copas e perdeu para a França por 4 x 1. Depois, perdeu para o Chile por 3 x 0. Já chegava eliminado na terceira rodada e jogava apenas pela honra.

A Argentina ainda jogava pela classificação. Na estreia, venceu a França por 1 x 0. E a partida contra os mexicanos era a segunda na competição. A terceira rodada ainda seria disputada contra o Chile três dias depois.


(Imagem: Pinterest)

● Várias fontes indicam que o árbitro boliviano Ulises Saucedo marcou cinco pênaltis nessa partida. Então, esse seria o jogo com o maior número de penalidades máximas na história das Copas. Porém, segundo outras fontes, quatro dessas cobranças foram executadas de uma distância superior a 11 metros, pois não havia a marca do pênalti no gramado e o juiz teria errado na contagem da distância. Há também quem considere as batidas apenas faltas simples sem barreira, de dentro da área. E segundo os mexicanos, a única cobrança executada da distância correta foi a única que entrou, no gol de Manuel Rosas.

E, de acordo com relatos, o goleiro mexicano Óscar Bonfiglio defendeu dois desses tiros: o de Fernando Paternoster aos 23′ e o de Adolfo Zumelzú aos 30′. Por sua vez, o arqueiro portenho Ángel Bossio pegou dois chutes de Manuel Rosas.

Por outro lado, de acordo com a publicação oficial “Álbum Primer Campeonato Mundial de Football”, lançado no Uruguai em 1930, apenas uma penalidade foi marcada: a que resultou no primeiro gol mexicano. Todos os outros gols saíram de jogadas normais.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Independentemente desse festival de pênaltis ter acontecido ou não, a Argentina anotou seis gols e conquistou a vitória.

Guillermo Stábile abriu o placar aos oito minutos do primeiro tempo.

Quatro minutos depois, Zumelzú fez o segundo gol da Argentina.

Aos 17′, Stábile marcou de novo.

Aos 38 min, Manuel Rosas diminuiu para o México em uma cobrança de pênalti.

No oitavo minuto do segundo tempo, Francisco Varallo fez 4 x 1 para os albicelestes.

Logo na sequência, Zumelzú marcou de novo.

Aos 20′, Manuel Rosas bateu pênalti, o goleiro Bossio defendeu e Felipe Rosas pegou o rebote para diminuir para os mexicanos. Curiosamente, Manuel Rosas e Felipe Rosas não tinham nenhum grau de parentesco, embora tivessem o mesmo sobrenome e jogassem juntos no mesmo time, o Atlante.

Dez minutos depois, o México se aproximou ainda mais no marcador com um gol de Roberto Gayón. 5 a 3.

Mas logo a Argentina tratou de fechar o placar com Stábile, que chegou ao “há trick”. Final: Argentina 6, México 3.


(Imagem: Goal / Youtube)

● Na última rodada, a Argentina venceu o Chile por 3 x 1 e se classificou para as semifinais, onde goleou os Estados Unidos por 6 x 1. Na decisão, até jogou bem, mas não foi páreo para os donos da casa e perdeu de virada para o Uruguai por 4 x 2.

Curiosamente, o árbitro dessa partida, Ulises Saucedo, era também também o técnico da seleção da Bolívia durante o Mundial.

O atacante Manuel Ferreira era titular absoluto e capitão de sua seleção. E ele precisou desfrutar de um privilégio durante o torneio. Ele estava fazendo um curso de escrivão público e chegou a Montevidéu dias depois da delegação de seu país. Ele também precisou faltar à partida diante do México para voltar à Buenos Aires para fazer uma prova. Mas logo depois, retornou normalmente aos albicelestes e foi um dos destaques de sua seleção rumo à final.

Guillermo Stábile não havia jogado diante da França e estreou contra o México. Acabou conquistando definitivamente a vaga de titular para o restante da competição ao marcar três gols. Ele era conhecido como “El Infiltrador” pela facilidade que se infiltrava nas defesas adversárias. Sua velocidade vinha de sua experiência anterior no atletismo: fazia os cem metros rasos em cerca de 11 segundos.

Stábile foi o artilheiro da primeira Copa do Mundo, com oito gols em quatro jogos e também foi o primeiro jogador a marcar gols em todas as partidas que disputou. Foi o segundo a anotar um “hat trick” em Copas, apenas dois dias após o americano Bert Patenaude ter conseguido essa proeza diante do Paraguai. Ao encerrar a carreira, Stábile se tornou um técnico de sucesso, treinando a seleção Argentina por 21 anos (de 1939 a 1960) e conquistou seis edições da Copa América: 1941, 1945, 1946, 1947, 1955 e 1957.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 6 x 3 MÉXICO

 

Data: 19/07/1930

Horário: 15h00 locais

Estádio: Centenário

Público: 42.100

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Ulises Saucedo (Bolívia)

 

ARGENTINA (2-3-5):

MÉXICO (2-3-5):

Ángel Bossio (G)(C)

Óscar Bonfiglio (G)

José Della Torre

Rafael Garza Gutiérrez (C)

Fernando Paternoster

Manuel Rosas

Alberto Chividini

Felipe Rosas

Adolfo Zumelzú

Alfredo Sánchez

Rodolfo Orlandini

Raymundo Rodríguez

Carlos Peucelle

Francisco Garza Gutiérrez

Francisco Varallo

Juan Carreño

Guillermo Stábile

Felipe Olivares

Attilio Demaría

Roberto Gayón

Carlos Spadaro

Hilario López

 

Técnicos: Francisco Olazar / Juan José Tramutola

Técnico: Juan Luque de Serrallonga

 

SUPLENTES:

 

 

Juan Botasso (G)

Isidoro Sota (G)

Ramón Muttis

Efraín Amézcua

Pedro Suárez

Jesús Castro

Juan Evaristo

José Ruiz

Edmundo Piaggio

Dionisio Mejía

Luis Monti

Luis Pérez

Natalio Perinetti

 

Roberto Cherro

 

Alejandro Scopelli

 

Manuel Ferreira

 

Mario Evaristo

 

 

GOLS:

8′ Guillermo Stábile (ARG)

12′ Adolfo Zumelzú (ARG)

17′ Guillermo Stábile (ARG)

42′ Manuel Rosas (MEX)

53′ Francisco Varallo (ARG)

55′ Adolfo Zumelzú (ARG)

65′ Manuel Rosas (MEX) (pen)

75′ Roberto Gayón (MEX)

80′ Guillermo Stábile (ARG)

Algumas imagens da partida:

Outras imagens desse jogo:

… 17/07/1930 – Estados Unidos 3 x 0 Paraguai

Três pontos sobre…
… 17/07/1930 – Estados Unidos 3 x 0 Paraguai


(Imagem: Getty Images / Popperfoto)

● Dos treze participantes da primeira Copa do Mundo, sete eram da América do Sul. Um deles era o Paraguai, que se destacou pela sua ousada camisa listrada em vermelho e branco, em uma época que que, pela dificuldade da fabricação dos tecidos, quase todas as seleções usavam uniformes básicos, com apenas uma cor. Além dos guaranis, apenas a Argentina utilizava camiseta listrada – no caso, azul e branco. Até hoje o Paraguai faz parte de um seleto grupo de seleções que manteve o mesmo padrão da sua camisa principal com o passar dos anos, tornando seu uniforme um dos mais tradicionais e reconhecidos do futebol sul-americano e mundial.

Mas a situação financeira da federação era ruim. A seleção paraguaia ameaçou não ir ao Mundial por causa de dinheiro, mas o congresso do país resolveu esse problema. O craque do time era o capitão Luis Vargas Peña.

Ao chegar no Uruguai, a seleção norte-americana era uma verdadeira incógnita. O grupo contava com seis jogadores eram nascidos na Grã-Bretanha (Alexander Wood, George Moorhouse, Jimmy Gallagher, Andy Auld, Jim Brown e Bart McGhee) e cinco haviam sido profissionais na Escócia antes de emigrarem para a América. Quase todos estavam estreando na seleção e, por isso, os EUA eram considerados pela imprensa como franco-atiradores. Mas, mesmo com pouco entrosamento, o alto nível desses jogadores acabou por fazer a diferença a favor do time.

Na primeira partida do Grupo 4, os americanos venceram a Bélgica por 3 x 0, com gols de McGhee, Tom Florie e Patenaude.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Ventava muito no estádio Parque Central, durante o segundo confronto da chave, entre EUA e Paraguai. E o time norte-americano não teve nenhuma dificuldade na partida.

O placar foi aberto logo aos dez minutos de partida. Andy Auld se livrou de Lino Nessi na esquerda e tocou para Patenaude. Da marca do pênalti, ele bateu no canto direito do goleiro Modesto Denis.

Cinco minutos depois, Tom Florie dominou a bola pelo lado esquerdo da área e tocou para o meio. Patenaude chutou, a bola desviou em Aurelio González e foi para o fundo das redes. EUA 2 a 0.

Aos 5′ do segundo tempo, Auld avançou pela esquerda e cruzou para o meio. Patenaude fez o terceiro dos Estados Unidos e fechou o placar.


Bert Patenaude sobe para cabecear (Imagem: Pinterest)

● No segundo gol americano, a bola iria para fora, mas tomou o rumo do gol ao desviar no paraguaio. Originalmente o tento foi atribuído a González contra. Porém, em 1994, a US Soccer (federação norte-americana de futebol) solicitou que a autoria do gol fosse revista. A insistência tinha razão de ser. Já com os atuais critérios de gol contra, a FIFA concedeu a autoria aos estadunidenses. Mas a súmula oficial da entidade dava o gol a Tom Florie, embora os historiadores afirmasse que a finalização tenha sido feita por Patenaude. Súmulas e outros documentos foram novamente revisitados e Patenaude teve o gol creditado para si.

E, como ele havia anotado os outros dois tentos do jogo, Bertram “Bert” Albert Patenaude passou a ser considerado o primeiro atleta a marcar três gols em uma partida de Copa do Mundo. Esse é um feito muito valorizado em todo mundo, especialmente em países de língua inglesa. E, como se sabem, os americanos adoram recordes e marcas históricas.

Até 10/11/2006, a FIFA considerava Guillermo Stábile como o primeiro a marcar três gols em Mundiais. Mas o fato é que Stábile marcou sua “tripleta” dois dias depois do “hat trick” de Patenaude.


O goleiro americano Jimmy Douglas sobe para segurar um cruzamento (Imagem: Pinterest)

● A partida final do Grupo foi apenas para cumprir tabela. O Paraguai venceu a Bélgica pelo placar de 1 x 0, com um gol de Vargas Peña aos 40 minutos de partida, resultando no nono lugar na classificação geral do primeiro Mundial.

Com a vitória sobre os paraguaios, os EUA garantiram vaga nas semifinais da primeira Copa do Mundo. O selecionado ianque enfrentou a Argentina e perdeu por 6 x 1.

FICHA TÉCNICA:

 

ESTADOS UNIDOS 3 x 0 PARAGUAI

 

Data: 17/07/1930

Horário: 14h45 locais

Estádio: Parque Central

Público: 18.306

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: José Macías (Argentina)

 

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

PARAGUAI (2-3-5):

Jimmy Douglas (G)

Modesto Denis (G)

Alexander Wood

Quiterio Olmedo

George Moorhouse

José Miracca

Jimmy Gallagher

Eusebio Díaz

Ralph Tracey

Lino Nessi

Andy Auld

Romildo Etcheverry

Billy Gonsalves

Diógenes Domínguez

Tom Florie (C)

Aurelio González

Bert Patenaude

Delfín Benítez Cáceres

Jim Brown

Luis Vargas Peña (C)

Bart McGhee

Francisco Aguirre

 

Técnico: Robert Millar

Técnico: José Durand Laguna

 

SUPLENTES:

 

 

Frank Vaughn

Pedro Benítez (G)

James Gentle

Eustacio Chamorro

Philip Slone

Salvador Flores

Arnie Oliver

Diego Florentín

Mike Bookie

Santiago Benítez

 

Tranquilino Garcete

 

Saguier Carreras

 

Amadeo Ortega

 

Bernabé Rivera

 

Jacinto Villalba

 

Gerardo Romero

 

GOLS:

10′ Bert Patenaude (EUA)

15′ Bert Patenaude (EUA)

50′ Bert Patenaude (EUA)

Imagens da partida:

… 16/07/1966 – Portugal 3 x 0 Bulgária

Três pontos sobre…
… 16/07/1966 – Portugal 3 x 0 Bulgária


(Imagem: Lance!)

● Havia muita expectativa para a estreia de Portugal em Copas do Mundo. A base do time era o Benfica, bicampeão da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) em 1960/61 e 1961/62. Toda a linha de frente da seleção lusa era benfiquista: José Augusto, Coluna, Eusébio, Torres e Simões.

Nas eliminatórias europeias, Portugal passou apertado em um grupo muito equilibrado e precisou superar seleções mais tradicionais como Tchecoslováquia, Romênia e Turquia. Mas a campanha de quatro vitórias, um empate e uma derrota qualificou os Tugas para a primeira Copa do Mundo de sua história.

Por sua vez, a Bulgária teve maior dificuldade para se qualificar para o Mundial. Terminou empatada com a Bélgica na liderança do Grupo 1 e precisou disputar um jogo-extra. Em Florença, na Itália, Georgi Asparuhov marcou os dois gols em vitória por 2 x 1 que garantiram Os demônios da Europa no Mundial de 1966.

Em um grupo fortíssimo, os búlgaros eram meros azarões. Era a segunda Copa do Mundo que o país disputava, a segunda seguida. Em 1962, caiu na primeira fase, com um empate e duas derrotas.


Portugal atuava no 4-2-4. Liderado por Eusébio, o ataque tinha muita força e mobilidade. O capitão Coluna era mesmo a coluna vertebral do time, aparecendo em todos os espaços.


A Bulgária jogava no sistema 4-2-4 convencional.

● Em sua estreia em Copas do Mundo, Portugal venceu a Hungria por 3 x 1. A Bulgária havia perdido para o Brasil por 2 x 0 em sua primeira partida.

Os búlgaros precisavam da vitória para continuarem com chance de classificação. Por isso, o técnico austríaco-tcheco Rudolf Vytlačil (o mesmo que levou a Tchecoslováquia ao vice-campeonato em 1962) escalou um time mais ofensivo. Mas Portugal fez um gol logo no início e atrapalhou todos os seus planos.

Aos sete minutos de partida, Jaime Graça abriu na esquerda para o grandalhão José Torres. Ele cortou a marcação de Dimitar Penev e cruzou da linha de fundo. Ivan Vutsov não percebeu que não havia nenhum português por perto, se apavorou e mergulhou, desviando de cabeça contra as próprias redes.

Dobromir Zhechev, que havia enchido Pelé de porrada no primeiro jogo, agora era incumbido de fazer o mesmo com Eusébio. Mas enquanto o brasileiro tentou resolver tudo sozinho e levava mais pancadas, Eusébio foi inteligente e passou a cair pelas pontas, arrastando Zhechev e abrindo espaços para a infiltração de José Augusto pelo meio.

Aos 17′, uma cabeçada de Torres acertou o travessão.

Aos 23′, no melhor momento da Bulgária no jogo, Asparukhov carimbou a trave direita do goleiro José Pereira.

Mas Portugal jogava melhor e tinha um time muito melhor.

O segundo gol saiu aos 38′. António Simões carregou a bola pelo meio e fez o passe na medida para Eusébio virar e bater rasteiro. A bola foi no canto direito do goleiro Georgi Naydenov, que chegou a tocar, mas não conseguiu evitar o gol. Foi o primeiro dos nove gols que tornaria Eusébio o artilheiro do Mundial.

No segundo tempo, a Bulgária não conseguia ficar com a posse de bola e muito menos atacar. O técnico Vytlačil compreendeu que não teria muitas chances e posicionou seu time mais na defensiva.

Portugal finalizou oito vezes e a Bulgária só uma, em um chute de Asparukhov que passou muito perto. O camisa 9 batalhava sozinho no ataque búlgaro, mas não tinha sucesso.

Aos 36′ do segundo tempo, Hilário deu um chutão para a frente e a defesa búlgara falhou. Vutsov desistiu da jogada e Torres correu atrás da bola. Boris Gaganelov tentou recuar para o goleiro, mas Torres chegou antes e completou para o gol.


(Imagem: Getty Images / Popperfoto)

● No dia anterior, a Seleção Brasileira tinha sido derrotada pela Hungria por 3 x 1. A vitória sobre os búlgaros deixou os portugueses em ótima situação, a ponto de poder até perder para o Brasil na última rodada que, ainda assim, se classificaria. A segunda vaga ficaria entre Brasil e Hungria, sendo que o Brasil precisaria vencer Portugal por uma boa diferença de gols se quisesse continuar sonhando com o tricampeonato e os húngaros entrariam em campo um dia depois dos brasileiros, já sabendo do resultado que iria precisar ao enfrentar a eliminada Bulgária.

Na última rodada, a Bulgária foi derrotada pela Hungria por 3 x 1 e ficou na lanterna do Grupo 3. Os magiares ficaram com a segunda colocação no grupo e enfrentariam a União Soviética nas quartas de final.

A seleção portuguesa continuou sua história no Mundial de 1966 vencendo a Seleção Brasileira por 3 x 1 e eliminando os bicampeões mundiais. Com a liderança da chave, os lusos enfrentaram a Coreia do Norte nas quartas de final e venceram espetacularmente de virada por 5 x 3, depois de estarem perdendo por 3 x 0 após 25 minutos de partida. Nas semifinais, vendeu caro a derrota para a Inglaterra, dona da casa, por 2 x 1. Conquistou o histórico 3º lugar ao vencer a União Soviética por 2 x 1.

O treinador de campo era o brasileiro Otto Glória, mas a seleção portuguesa era escolhida por Manuel da Luz Afonso, ex-dirigente do Benfica. Ele foi o selecionador nacional de 1964 a 1967. Para o Mundial de 1966 ele convocou oito atletas do Sporting (campeão português da temporada 1965/66), sete do Benfica, três do Porto, dois do Belenenses, um do Leixões e um do Vitória de Setúbal. Inclusive, foi Afonso quem escolheu Otto Glória, do Sporting, como treinador.

Curiosamente, quatro dos titulares da seleção das Quinas eram nascidos em Moçambique: Vicente, Hilário, Coluna e Eusébio.


(Imagem: Alamy Stock Photo)

FICHA TÉCNICA:

 

PORTUGAL 3 x 0 BULGÁRIA

 

Data: 16/07/1966

Horário: 15h00 locais

Estádio: Old Trafford

Público: 25.438

Cidade: Manchester (Inglaterra)

Árbitro: José María Codesal (Uruguai)

 

PORTUGAL (4-2-4):

BULGÁRIA (4-2-4):

3  José Pereira (G)

1  Georgi Naydenov (G)

22 Alberto Festa

2  Aleksandar Shalamanov

5  Germano

5  Dimitar Penev

4  Vicente

3  Ivan Vutsov

9  Hilário

4  Boris Gaganelov (C)

16 Jaime Graça

6 Dobromir Zhechev

10 Mário Coluna (C)

13 Dimitar Yakimov

12 José Augusto

7  Dinko Dermendzhiev

13 Eusébio

9  Georgi Asparuhov

18 José Torres

10  Petar Zhekov

11 António Simões

16 Aleksandar Kostov

 

Técnico: Otto Glória

Técnico: Rudolf Vytlačil

 

SUPLENTES:

 

 

1  Américo (G)

21 Simeon Simeonov (G)

2  Joaquim Carvalho (G)

22 Ivan Deyanov (G)

17 João Morais

18 Evgeni Yanchovski

20 Alexandre Baptista

19 Vidin Apostolov

21 José Carlos

20 Ivan Davidov

14 Fernando Cruz

12 Vasil Metodiev

19 Custódio Pinto

8  Stoyan Kitov

6  Fernando Peres

15 Dimitar Largov

7  Ernesto Figueiredo

17 Stefan Abadzhiev

8  João Lourenço

14 Nikola Kotkov

15 Manuel Duarte

11 Ivan Kolev

 

GOLS:

7′ Ivan Vutsov (POR) (gol contra)

38′ Eusébio (POR)

81′ José Torres (POR)

 

ADVERTÊNCIAS:

70′ Eusébio (POR)

70′ Dinko Dermendzhiev (BUL)

Melhores momentos da partida:

… 15/07/2018 – França 4 x 2 Croácia

Três pontos sobre…
… 15/07/2018 – França 4 x 2 Croácia


(Imagem: FIFA.com)

● A França chegou ao Mundial como uma das favoritas, mas não chegou a encantar em momento algum. Na estreia, sofreu para vencer a Austrália por 2 x 1, com um pênalti marcado pelo VAR e um gol contra. Depois, jogou bem apenas no primeiro tempo e venceu o Peru por 1 x 0. E, com os reservas, decepcionou ao não querer jogar contra a Dinamarca, no único 0 x 0 desse Mundial. Em compensação, fez brilhar os olhos dos amantes do futebol, quando o mancebo Kylian Mbappé destruiu a Argentina e o 4 x 3 foi um placar magro pelo que foi a partida. Nas quartas de final, Les Bleus foram cirúrgicos ao bater o Uruguai por 2 x 0. Nas semi, precisou de um gol de escanteio para vencer a “ótima geração belga” por 1 x 0. Na final, claramente era muito mais time que o adversário e era a grande favorita.

Mas a Croácia já havia dado várias mostras de sua superação em campo. Estreou vencendo a Nigéria por 2 x 0 em um jogo modorrento. Na sequência, arrasou a Argentina com um chocolate de 3 x 0. Na terceira rodada, usou os reservas e venceu a Islândia por 2 x 1. E depois começou o festival de prorrogações. Nas oitavas de final, empatou com a Dinamarca por 1 x 1 e venceu nos pênaltis. Nas quartas, empatou com a Rússia por 2 x 2 e, novamente, se classificou nos pênaltis. Nas semi, empatou com a Inglaterra no tempo normal e só venceu na prorrogação, por 2 x 1. Com isso, os croatas acabaram jogando mais 90 minutos a mais que os franceses, além de terem um dia a menos de descanso – pois jogaram na quarta, enquanto a França jogou na terça.

Separada da Iugoslávia desde 1991, a Croácia chegava à sua primeira final de Copa. Já tinha a sensação de ter cumprido seu papel, superado as expectativas e o que viesse seria lucro.

A França tinha uma equipe melhor tecnicamente e estava em melhor condição física. Era a terceira final de Copa do Mundo em seis edições disputadas. Na primeira delas, em 1998, Zinedine Zidane liderou Les Bleus na vitória por 3 x 0 sobre o Brasil. Na segunda, ainda sob a batuta de Zizou, a França perdeu para a Itália nos pênaltis em 2006. Contra os croatas, era amplamente favorita.

Mas esse mesmo time base já havia falhado em momentos decisivos, especialmente na final da Eurocopa de 2016, quando jogou em casa e perdeu na prorrogação por 1 x 0 para Portugal, que tinha uma equipe inferior tecnicamente. Esse raio ruim não poderia cair duas vezes no mesmo lugar.


Didier Deschamps escalou a França com seus onze considerados titulares, no sistema 4-2-3-1.


Mesmo com o time esgotado fisicamente, Zlatko Dalić mandou seu time a campo no 4-2-3-1 e manteve a escalação da semifinal.

● No início da partida, a Croácia tratou de pressionar a saída de bola, tentando resolver logo o jogo. Mas o cansaço e o esgotamento chegaram antes do gol.

Logo aos 17 minutos de jogo, Antoine Griezmann emulou Neymar, dobrou as pernas ridiculamente e caiu. O árbitro Néstor Pitana enxergou o que não houve e marcou a falta, mesmo com a grande pressão dos croatas – que estavam certos. Griezmann alçou a bola para a área e Mandžukić teve o azar de desviá-la de cabeça para o gol.

Com um gol proveniente de uma falta não existente, a França abriu o placar. Mario Mandžukić marcou o primeiro gol contra em uma final de Copa do Mundo, em toda a história. Esse Mundial dos gols contra, teve seu 12º marcado na final – o dobro do recorde anterior, que era de seis em 1998.

Depois, Luka Modrić cobrou uma falta para a área, mas o zagueiro Domagoj Vida cabeceou por cima.


(Imagem: FIFA.com)

Em nova cobrança de falta, dessa vez do meio campo, aos 28 min, Modrić lançou na direita. Šime Vrsaljko cabeceou para o meio da área. Mandžukić ganhou de Pogba pelo alto, Dejan Lovren desviou de cabeça e Vida tocou para trás. Ivan Perišić estava na meia lua e já dominou cortando para a perna esquerda, invadindo a área e enchendo o pé para o gol. A bola ainda desviou de leve em Varane antes de entrar. A seleção vatreni ainda estava viva na decisão!

Seis minutos depois, Griezmann cobrou escanteio fechado, Matuidi cabeceou e a bola tocou na mão de Perišić, que estava com o braço aberto. Os franceses correram para cima do árbitro para reclamar o toque. E a Copa do VAR foi decidida também pelo VAR. O italiano Massimiliano Irrati, que nunca marca nada, que sempre vê as infrações dentro da área como “normais”, dessa vez chamou a atenção de Pitana e o convidou para ver o lance no vídeo. E o argentino, mesmo vendo e revendo o lance, aparentemente ainda em dúvida, assinalou corretamente o pênalti. A primeira intervenção do VAR em uma final de Copa foi certeira e fatal.

Griezmann partiu para a cobrança. O goleiro Danijel Subašić se mostrou na competição um exímio especialista em defesas de pênaltis, mas caiu um pouco antes para seu lado esquerdo e deixou o outro lado livre para o camisa 7 francês deslocá-lo.

Após cobrança de escanteio, Vida desviou de cabeça para fora.

No segundo tempo, Ivan Rakitić tocou para Ante Rebić, que bateu de esquerda e Lloris espalmou para escanteio.

Mbappé foi lançado em velocidade, passou por Vida e chutou. Mas Subašic se antecipou, diminuindo o ângulo e fazendo a defesa.


(Imagem: FIFA.com)

Pouco depois, quatro pessoas invadiram o campo…

Aos 14′, Paul Pogba começou a jogada lançando Mbappé na ponta direita. O garoto passou por Ivan Strinić, foi à linha de fundo e cruzou para trás. Griezmann dominou e deixou com Pogba que emendou de primeira. Lovren rebateu e a bola voltou para o próprio Pogba chutar colocada de esquerda e marcar o terceiro gol. Subašic nem pulou.

Faltava o gol do prodígio Mbappé, que marcou aos vinte minutos. Lucas Hernández fez boa jogada pela esquerda e tocou para o camisa 10. Ele dominou na entrada da área e chutou rasteiro. Novamente o goleiro croata nem pulou. Com 19 anos e meio, Kylian Mbappé se tornou o segundo jogador mais jovem a marcar gol em uma final – só perde para Pelé, que tinha 17 anos e oito meses quando marcou na decisão de 1958.

Ainda deu tempo de o goleiro e capitão Hugo Lloris fazer uma bobagem. Aos 24′, ele recebeu de Umtiti e tentou driblar Mandžukić, que vinha na corrida. Mas o croata foi mais esperto, deixou o pé e diminuiu o placar. Um gol oriundo de uma das falhas mais bisonhas da história das finais de Copa. Sorte que sua equipe estava com boa diferença no placar. Faltou concentração e sobrou soberba a Lloris.

Mas foi ele, o goleiro e capitão Hugo Lloris, o responsável por levantar a taça no estádio Olímpico Luzhniki, em Moscou.


(Imagem: FIFA.com)

● As seleções europeias venceram os quatro últimos Mundiais, a maior sequência de uma confederação em toda a história.

Algumas observações merecem ser feitas. A França claramente mereceu vencer, mas… no lance do primeiro gol, Antoine Griezmann não sofreu falta. Ele buscou o contato e dobrou as pernas. O mundo inteiro que criticava Neymar por exagerar quando sofre falta, era o mesmo mundo que aplaude Griezmann por ter “cavado” uma falta inexistente. Curiosamente, o árbitro escalado para a final nasceu na mesma Argentina que foi massacrada pela Croácia na primeira fase. Se a FIFA quisesse um árbitro isento, poderia ter escalado outro, como, por exemplo, o brasileiro Sandro Meira Ricci. Néstor Pitana, mesmo vendo o lance do pênalti no vídeo, ainda hesitou algumas vezes antes de assinalá-lo. E deve ter engolido seco.

Bola parada não ganha apenas jogo: ganha Copa do Mundo! Segundo a FIFA, dos 169 gols marcados no torneio, 71 foram originados em bola parada (cobranças de faltas diretas ou indiretas, escanteio e pênaltis). Foi a Copa com o maior número de pênaltis na história, com 29.

A Copa de 2018 bateu o recorde de partidas consecutivas com gol. O primeiro 0 x 0 só aconteceu na 38ª partida, entre França e Dinamarca – um “jogo de compadres” que garantiu ambas seleções nas oitavas de final. Foi o único jogo sem gols no Mundial. Essa marca superou os 26 jogos seguidos sem 0 x 0 da Copa de 1954.

O centroavante Olivier Giroud foi fundamental no estilo de jogo francês. Além do papel de pivô, com sua constante movimentação, ele era o principal responsável para abrir espaços nas defesas adversárias para a infiltração de seus companheiros. Porém, ele terminou o Mundial sem marcar nenhum gol e, pior ainda: sem acertar nenhum chute no alvo.

Antoine Griezmann foi eleito discutivelmente pela FIFA o melhor jogador da partida. Kylian Mbappé praticamente não teve concorrentes para ser o melhor jogador jovem.

Luka Modrić foi o jogador que mais tempo ficou em campo durante a Copa: 694 minutos. Merecidamente, ele recebeu o prêmio de melhor jogador do torneio. Com muita técnica e disposição, o capitão croata liderou sua seleção à final e mereceu o título. Modrić sempre foi um jogador que potencializa o futebol de seus companheiros. E terminou a Copa de 2018 com status de estrela. No fim do ano, seria eleito o melhor jogador do mundo, tanto com a Bola de Ouro da revista France Football, quanto com o prêmio The Best da FIFA. Modrić quebrou uma longa sequência de dez anos em que a premiação era dividida entre Messi e Cristiano Ronaldo.


(Imagem: FIFA.com)

Esse time da Croácia ficou marcado também por não jogar com um meio campista originalmente defensivo. Quem fez essa função na maioria das vezes foi Marcelo Brozović, que na Internazionale era um meia de transição. Outras vezes, o meia mais defensivo era Ivan Rakitić, que de vez em quando fazia essa função no Barcelona. Méritos do ofensivo treinador Zlatko Dalić, que em alguns jogos escalou juntos os atacantes Mario Mandžukić, Ante Rebić e Andrej Kramarić.

Mas Zlatko Dalić deve ser questionado pelo excesso de confiança em seus titulares e a falta dela nos reservas. Milan Badelj fez uma partida formidável contra a Islândia e não recebeu mais oportunidades. Mateo Kovacic é um multifuncional e sempre incisivo, independentemente da função em campo, mas só entrava nos minutos finais das partidas. E, em uma final de Copa, precisando ir em busca do resultado, Dalić fez apenas duas alterações. Contestável.

Danijel Subašic foi um dos destaques da Croácia na Copa do Mundo, mas seu final não refletiu o que apresentou durante a competição. Ele atuava no clube francês Monaco desde 2012. E seus adversários se aproveitaram por conhecer a má fama que o goleiro tem de não se dar bem em chutes de longe. Com certeza Subašic poderia ter feito melhor nos chutes de Pogba e Mbappé que resultaram nos dois últimos gols franceses. Além disso, ainda caiu antes no pênalti cobrado por Griezmann.

A França se valeu de uma defesa muito forte, com o que havia de melhor na época no Real Madrid (Raphaël Varane) e no Barcelona (Samuel Umtiti), além da sempre ótima proteção de N’Golo Kanté e de dois zagueiros nas laterais (Benjamin Pavard e Lucas Hernández). Venceu essa Copa nos contra-ataques e nas bolas paradas. Pode até ser um estilo de jogo chato, mas é mortal e eficiente, principalmente com a jovialidade e a velocidade de Mbappé. Mesmo tendo sua convocação bastante contestada no início, Deschamps tem todos os méritos do mundo ao utilizar o máximo potencial de sua equipe. Ele soube extrair o melhor de seu elenco, montando uma defesa sólida, um meio campo dinâmico e um ataque rápido, direto e efetivo. A conquista do título foi justíssima.


(Imagem: FIFA.com)

Didier Deschamps entrou definitivamente para a história, como o terceiro a vencer a Copa do Mundo como jogador e técnico. Antes dele, somente o brasileiro Zagallo e o alemão Franz Beckenbauer haviam conseguido o feito. E somente o alemão e o francês o fizeram como capitão, o que é ainda mais raro.

Raphaël Varane também entrou para um seleto grupo de atletas que venceram a UEFA Champions League e a Copa do Mundo no mesmo ano. Os alemães Franz Beckenbauer, Gerd Muller, Paul Breitner, Sepp Maier, Uli Hoeneß, Hans-Georg Schwarzenbeck e Jupp Kapellmann venceram a UCL pelo Bayern de Munique em 1974. O francês Christian Karembeu jogava no Real Madrid em 1998, assim como o brasileiro Roberto Carlos em 2002 e o alemão Sami Khedira em 2014.

Se em 1998, 13 dos jogadores do elenco campeão pela França possuíam alguma ligação ou origem estrangeira, no time de 2018, eram vinte dos 23 atletas convocados. Era o auge da França do “black, blanc, beur” (uma alusão aos negros, brancos e árabes), um verdadeiro mapa-múndi do futebol. Apenas Benjamin Pavard, Olivier Giroud e Florian Thauvin eram genuinamente franceses. Samuel Umtiti nasceu em Camarões, Steve Mandanda na República Democrática do Congo e Thomas Lemar em Guadalupe, possessão ultramarina da França. O capitão Hugo Lloris é filho de um banqueiro espanhol. N’Golo Kanté, Ousmane Dembélé e Djibril Sidibé são filho de pais nascidos em Mali. Alphonse Areola é filho de filipinos. Os pais de Raphaël Varane são da Martinica. Kylian Mbappé filho de uma ex-jogadora de handebol argelina e pai camaronês. Paul Pogba é filho de pai congolês e mãe guineense. As famílias de Steven Nzonzi e Presnel Kimpembe têm origem no Congo. Corentin Tolisso tem ascendência em Togo e Nabil Fekir na Argélia. Lucas Hernández descendente de espanhóis. Antoine Griezmann é de origem alemã e portuguesa. Benjamin Mendy descende de senegaleses. Adil Rami é de família marroquina. Blaise Matuidi é descendente de congoleses e angolanos.


(Imagem: FIFA.com)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 4 x 2 CROÁCIA

 

Data: 15/07/2018

Horário: 18h00 locais

Estádio: Olímpico Luzhniki

Público: 78.011

Cidade: Moscou (Rússia)

Árbitro: Néstor Pitana (Argentina)

 

FRANÇA (4-2-3-1):

CROÁCIA (4-2-3-1):

1  Hugo Lloris (G)(C)

23 Danijel Subašić (G)

2  Benjamin Pavard

2  Šime Vrsaljko

4  Raphaël Varane

6  Dejan Lovren

5  Samuel Umtiti

21 Domagoj Vida

21 Lucas Hernández

3  Ivan Strinić

13 N’Golo Kanté

11 Marcelo Brozović

6  Paul Pogba

7  Ivan Rakitić

14 Blaise Matuidi

10 Luka Modrić (C)

10 Kylian Mbappé

4  Ivan Perišić

7  Antoine Griezmann

18 Ante Rebić

9  Olivier Giroud

17 Mario Mandžukić

 

Técnico: Didier Deschamps

Técnico: Zlatko Dalić

 

SUPLENTES:

 

 

16 Steve Mandanda (G)

12 Lovre Kalinić (G)

23 Alphonse Areola (G)

1  Dominik Livaković (G)

19 Djibril Sidibé

13 Tin Jedvaj

3  Presnel Kimpembe

5  Vedran Ćorluka

17 Adil Rami

15 Duje Ćaleta-Car

22 Benjamin Mendy

22 Josip Pivarić

15 Steven Nzonzi

14 Filip Bradarić

12 Corentin Tolisso

19 Milan Badelj

8  Thomas Lemar

8 Mateo Kovačić

18 Nabil Fekir

20 Marko Pjaca

20 Florian Thauvin

9 Andrej Kramarić

11 Ousmane Dembélé

16 Nikola Kalinić (dispensado da delegação)

 

GOLS:

18′ Mario Mandžukić (FRA) (gol contra)

28′ Ivan Perišić (CRO)

38′ Antoine Griezmann (FRA) (pen)

59′ Paul Pogba (FRA)

65′ Kylian Mbappé (FRA)

69′ Mario Mandžukić (CRO)

 

CARTÕES AMARELOS:

27′ N’Golo Kanté (FRA)

41′ Lucas Hernández (FRA)

90+2′ Šime Vrsaljko (CRO)

 

SUBSTITUIÇÕES:

55′ N’Golo Kanté (FRA) ↓

Steven Nzonzi (FRA) ↑

 

71′ Ante Rebić (CRO) ↓

Andrej Kramarić (CRO) ↑

 

73′ Blaise Matuidi (FRA) ↓

Corentin Tolisso (FRA) ↑

 

81′ Olivier Giroud (FRA) ↓

Nabil Fekir (FRA) ↑

 

81′ Ivan Strinić (CRO) ↓

Marko Pjaca (CRO) ↑

Gols da partida:

… 14/07/1930 – Romênia 3 x 1 Peru

Três pontos sobre…
… 14/07/1930 – Romênia 3 x 1 Peru


(Imagem: RomaniaBalls / Whoeateallthepies.tv)

● Após convencer franceses e belgas a viajarem para o Uruguai para a disputa da primeira Copa do Mundo de futebol, Jules Rimet tomou um trem de Paris a Bucareste para tentar convencer os romenos. Aos 36 anos, o rei Carol II havia acabado de assumir o trono do país. A Romênia era uma equipe do segundo escalão no contexto do futebol europeu, mas o rei era um entusiasta do esporte. Em seus tempos de príncipe, ele havia sido secretário-geral da federação. Sua Majestade convocou e escalou pessoalmente os atletas, entregando à comissão técnica do time uma lista com os nomes de todos os jogadores, titulares e reservas. Ele também conseguiu com os patrões dos jogadores uma licença remunerada de dois meses (quase todos eram empregados de empresas britânicas de petróleo).

Como era comum nas primeiras décadas do século XX, o comando técnico da seleção romena era dividido entre Constantin Rădulescu e Octav Luchide (secretário-geral da federação). Curiosamente, Rădulescu também era árbitro e foi bandeirinha nas partidas “Argentina 1 x 0 França” e “Argentina 6 x 3 México”.

Além dos romenos, o Grupo 3 era composto também pelo anfitrião Uruguai e pelo Peru.

Do lado peruano, os dois melhores jogadores disputavam posição e concorriam por apenas uma vaga no time titular: os goleiros Jorge Pardón e Juan “El Mago” Valdivieso.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Romênia e Peru protagonizaram a partida com o menor plateia da história das Copas. Oficialmente, 2.459 expectadores assistiram o jogo, mas o número de pagantes girou em torno de 300.

E esse pequeno público não demoraria a ver um gol. Apenas 50 segundos haviam passado quando os romenos tiraram o zero do placar, no primeiro “gol-relâmpago” da história dos Mundiais. O capitão Emerich Vogl tocou na meia direita para Adalbert Deșu, ele se livrou da marcação de Galindo e chutou alto. Embora a FIFA credite o gol a Deșu, alguns historiadores afirmam que Constantin Stanciu foi o autor.

Depois de sofrer um gol tão precoce, os atletas peruanos perderam a cabeça e começaram a apelar para o jogo violento. Os romenos não ficaram atrás e devolveram na mesma moeda. O jogo ficou feio.

Aos 33′, o zagueiro romeno Adalbert Steiner sofreu a primeira fratura na perna na história das Copas. Por falta de registros precisos, há controvérsias sobre o autor da agressão, mas o mais citado é Mario de las Casas.


O lesionado Steiner espera por tratamento (Imagem: RomaniaBalls / WorldCup1930Project)

O Peru tinha um homem a mais, mas não conseguiu aproveitar a superioridade numérica.

Aos nove minutos do segundo tempo, o capitão peruano Plácido Galindo discordou de uma marcação, empurrou o árbitro chileno Alberto Warnken com uma peitada e foi expulso. Mas ele não aceitou a decisão e se recusou a deixar o campo. Os dirigentes de seu país demoraram dez minutos para convencê-lo a sair. Nesse período, os peruanos até tentaram tirar um jogador e colocar outro em campo, mas a fraude foi percebida, já que não eram permitidas substituições na época.

Eram dez atletas para cada lado.

Foi a primeira expulsão da história das Copas e seria a única no Mundial de 1930.

O Peru conseguiu o empate aos 29′. Juan Alfonso Valle escapou pela ponta direita, passando por Vogl e Rudolf Bürger e cruzando para a área. Luis de Souza Ferreira foi o responsável por mandar a bola para as redes do goleiro Ion Lăpuşneanu.

Mas, aos 40′, Alfred Eisenbeisser abriu com Ştefan Barbu na esquerda e ele tocou para o meio. Rudolf Wetzer dominou e mandou para a área. Miklós Kovács viu Stanciu sozinho e tocou para seu colega fazer o segundo tento romeno.

O placar foi fechado a um minuto do fim. Wetzer deixou com Kovács no meio. Ele passou por Domingo García, avançou pela ponta direita e chutou cruzado, na saída do goleiro Valdivieso. Placar final: 3 a 1 para a Romênia.


(Imagem: RomaniaBalls / Dechalaca.com)

● De acordo com os relatos dos historiadores, essa partida teve dois gols impedidos, mas não informam quais.

Na segunda partida do Grupo 3, o Peru perdeu por 1 x 0 para o Uruguai. No jogo derradeiro, a Romênia também foi derrotada pela Celeste Olímpica por 4 x 0.

Como prêmio pela participação, mesmo com a Romênia sendo eliminada na primeira fase, os atletas ganharam dez dias de folga em Nova York, com todas as despesas pagas pelo rei Carol II. Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o rei abdicou do trono e, em 1947, já exilado, se casou pela terceira vez, no Rio de Janeiro, com a romena Elena “Magda” Lupescu. Ele morreu no exílio em Estoril, Portugal, em 04/04/1953, aos 59 anos de idade.


À esquerda, o goleiro Lăpuşneanu se antecipa ao atacante peruano Julio Flores (Imagem: O Craiovano)

FICHA TÉCNICA:

 

ROMÊNIA 3 x 1 PERU

 

Data: 14/07/1930

Horário: 14h50 locais

Estádio: Pocitos

Público: 2.549

Cidade: Montevidéu (Uruguai)

Árbitro: Alberto Warnken (Chile)

 

ROMÊNIA (2-3-5):

PERU (2-3-5):

Ion Lăpuşneanu (G)

Juan Valdivieso (G)

Adalbert Steiner

Mario de las Casas

Rudolf Bürger

Alberto Soria

Ladislau Raffinsky

Plácido Galindo (C)

Emerich Vogl (C)

Domingo García

Alfred Eisenbeisser

Juan Alfonso Valle

Miklós Kovács

Julio Flores

Adalbert Deșu

Alejandro Villanueva

Rudolf Wetzer

Alberto Denegri

Constantin Stanciu

Demetrio Neyra

Ştefan Barbu

Luis de Souza Ferreira

 

Técnico: Constantin Rădulescu / Octav Luchide

Técnico: Francisco Bru

 

SUPLENTES:

 

 

Samuel Zauber (G)

Jorge Pardón (G)

Iosif Czako

Antonio Maquilón

Rudolf Steiner

Arturo Fernández Meyzán

Corneliu Robe

Eduardo Astengo

Alexandru Borbely

Julio Gilberto Quintana

Petre Steinbach

Carlos Cillóniz

Andrei Glanzmann

Jorge Góngora

Elemer Kocsis

Pablo Pacheco

Ilie Subăşeanu

Lizardo Rodríguez Nue

 

Jorge Sarmiento

 

José María Lavalle

 

GOLS:

50” Adalbert Deșu (ROM)

75′ Luis de Souza Ferreira (PER)

79′ Constantin Stanciu (ROM)

89′ Miklós Kovács (ROM)

 

EXPULSÃO: 54′ Plácido Galindo (PER)

Algumas imagens da partida:

Outras imagens: