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… 12/07/1998 – França 3 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 12/07/1998 – França 3 x 0 Brasil

Allez Le Bleus!”


Zinedine Zidane desfilou em campo. (Imagem: Globo Esporte)

● Era a final dos sonhos: França e Brasil. Considerados favoritos desde o início, era a primeira decisão entre o país sede e o então campeão mundial. Era a primeira decisão dos franceses e a quinta dos brasileiros. Até então, a melhor classificação da França em uma Copa do Mundo tinha sido o 3º lugar em 1958 e 1986 (eles não disputavam um Mundial desde então). Mesmo anfitriã, “Les Bleus” não eram favoritos diante do Brasil, que defendia o título e tinha uma camisa pesada, com quatro títulos mundiais.

A França mostrava a sinergia de um grupo heterogêneo ao cantar emocionadamente o hino nacional, a linda “Marselhesa“, repetida por 80 mil pessoas no Stade de France, em Saint-Denis. Ainda houve tempo para o zagueiro Laurent Blanc dar o tradicional beijo na careca de Barthez, como tinha feito antes de cada jogo. Blanc estava suspenso. Em seu lugar, entrou o (também) ótimo Frank Leboeuf.

Na escalação, uma surpresa: Edmundo jogaria na vaga de Ronaldo. Mas na entrada em campo, o “Fenômeno” estava lá no lugar do “Animal”. Haviam rumores de que Ronaldo tinha sofrido um mal-estar à tarde (leia sobre isso mais abaixo). Cafu, suspenso na semifinal contra a Holanda, estava de volta ao time.

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Mesmo com as críticas da torcida e da imprensa, o técnico francês Aimé Jacquet demonstrava total confiança em seu próprio trabalho e deu um “nó tático” no ultrapassado Zagallo. Um ano antes do Mundial aconteceu o Torneio da França, uma competição amistosa que reunia brasileiros, franceses, italianos e ingleses. Aquele mesmo torneio em que Roberto Carlos fez um gol de falta contra a França, em que a bola fez uma curva incrível, em um empate por 1 a 1. Naqueles dias, o esperto treinador francês tomou nota de tudo que viu em campo. Mas, principalmente uma sobre a Seleção Brasileira: era preciso impedir os avanços pelas laterais; se os laterais não jogassem, o time também não jogava. Assim, a estratégia estava bem definida: Karembeu foi escalado para marcar Rivaldo, mas fechava para ajudar Thuram a cercar Roberto Carlos. Da mesma forma era do outro lado: Petit marcava Leonardo, mas auxiliava Lizarazu a barrar Cafu. Foi uma marcação que não deu a mínima chance ao ataque brasileiro.


A França jogou no sistema 4-5-1, fechando os espaços do Brasil e apostando no contra-ataque.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.

● Logo aos 28 segundos, o péssimo atacante francês Stéphane Guivarc’h quase fez um gol de puxeta, na primeira das inúmeras falhas do zagueiro Júnior Baiano nessa final.

A primeira jogada do ataque canarinho foi aos 21 minutos, quando Ronaldo (mesmo com todos os problemas) cruzou fechado para o gol. O excêntrico e careca goleiro Barthez quase falhou, mas desviou para fora.

Aos 23′, Leonardo cobrou escanteio para a cabeçada de Rivaldo, mas Barthez foi seguro na defesa.

Quando o Brasil errava menos passes e parecia se encontrar no jogo, Roberto Carlos desarma Karembeu, mas deixa a bola escapar e concede um escanteio bobo no lado direito do ataque francês. Petit cobrou de pé trocado, de esquerda, e Zidane veio correndo da entrada da área para desviar de cabeça para o gol, se antecipando a Leonardo e marcando seu primeiro gol na Copa. O técnico Jacquet sabia que não teria marcação sobre Zidane, já que ele (apesar de alto) não era conhecido como um bom cabeceador (e normalmente, ele era o responsável por várias das bolas paradas). Assim, aos 26 minutos, a dona da casa abria o placar. Foi o primeiro gol de cabeça de Zizou pela seleção (e logo viria o segundo…).

Poucos minutos após o gol francês, um lance ilustrou o frágil estado emocional do time brasileiro. Ronaldo recebeu lançamento de Dunga na entrada da área adversária e se chocou com Barthez, caindo imóvel no chão. Os jogadores do Brasil se desesperaram, pensando que algo mais grave poderia ter acontecido. Mas, felizmente, foi um choque normal. Mas esse fato só deixou ainda mais clara a preocupação que todos os jogadores tinham com Ronaldo, com medo de que ele repetisse a crise.

Uma incessante troca de passes, que até fez a torcida gritar “olé“, terminou no pé direito de Petit, que perdeu a chance de ampliar o marcador.

No fim do tempo regulamentar, Guivarc’h recebeu lançamento livre, após nova falha de Júnior Baiano, e chutou cruzado para uma excelente defesa de Taffarel. Na sequência, novo escanteio. Dessa vez era do lado esquerdo e foi cobrado também de pé trocado por Djorkaeff. A bola foi fechada, Dunga caiu e Zidane se antecipou e entrou de cabeça. A bola passou entre as pernas de Roberto Carlos. Dois gols de Zidane de cabeça! Inédito!

O Brasil voltou melhor para o segundo tempo. Zagallo atirou o Brasil no ataque. No intervalo, tirou Leonardo e colocou Denílson aberto na ponta esquerda e abriu Bebeto na direita. Avançou Rivaldo para ajudar Ronaldo no centro do ataque. Em determinado momento, o Brasil teve, ao mesmo tempo, cinco atacantes em campo: Bebeto, Ronaldo, Rivaldo, Denílson e Edmundo. Mas não conseguiu produzir como precisava.

A primeira grande chance foi de Ronaldo, aos 11 minutos. Rivaldo cobrou falta ensaiada com Roberto Carlos, que cruzou para o segundo pau. O camisa 9 apareceu livre, na pequena área, mas chutou sem ângulo em cima de Barthez.

Aos 15′, Roberto Carlos alçou uma cobrança de arremesso lateral para a área. Barthez saiu “catando borboletas” e a bola sobrou para Bebeto finalizar e Desailly salvar quase em cima da linha.

A França passou todo o segundo tempo tocando a bola e esperando o fim do jogo, ajudado pela apatia do time brasileiro. Mas ainda teve suas chances.

Foi uma aula de futebol do maestro Zinedine Zidane, muito mais do que os dois gols de cabeça. No meio campo, ele era marcado à distância por Dunga e César Sampaio, jogando livre e tomando conta do jogo. No lado esquerdo, Djorkaeff caía pelo meio para ajudar a armar as jogadas ofensivas. Os laterais Thuram e Lizarazu não apoiavam, cumprindo estritamente seus papeis defensivos.

Na metade do segundo tempo, Desailly avançou em contra-ataque, perdeu a bola e fez falta dura em Cafu, recebendo o segundo cartão amarelo e, por consequência, sendo expulso.

Aos 18′, pela terceira vez no jogo, Guivarc’h apareceu livre e isolou a bola. Aos 37, Dugarry imitou o colega e “conseguiu” perder um gol feito, chutando de forma bisonha à direita de Taffarel. Poderia ter sido uma goleada histórica, se os atacantes franceses tivessem acertado alguma das muitas chances perdidas.

No minuto 45, Edmundo fez uma boa jogada e tocou para Denílson. De esquerda, o chute tocou no travessão e foi para fora.

No fim, uma discussão sem necessidade entre Edmundo e Rivaldo, quando o camisa 10 colocou uma bola para fora para que Zidane recebesse atendimento médico. Edmundo, com seu excesso de vontade, foi contra o “fair play” do camisa 10.

A Seleção Canarinho foi definitivamente destroçada aos 47 minutos do segundo tempo. Denílson cobrou escanteio, Rivaldo não dominou a bola e Dugarry puxou o contra-ataque. Ele tocou para Vieira, que lançou de primeira para Petit nas costas de Cafu. O cabeludo, camisa nº 17, tocou cruzado na saída de Taffarel. 3 a 0.

Festa em todo o país! Enfim, a França conquistava sua primeira Copa do Mundo. O presidente Jacques Chirac entregou a taça ao capitão Didier Deschamps, que, merecidamente, a levantou. Justíssimo!


Zizou abriu o placar de cabeça. (Imagem: Baú do Futebol)

● Não faltaram motivos para o Brasil perder a final da Copa de 1998 para a França por 3 a 0. Mas até hoje há diversas pessoas que acreditam piamente em teorias da conspiração. Uma delas diz que o Brasil “vendeu” o jogo em troca de ser a sede da Copa do Mundo de 2014. Outra diz que houve um acordo entre Nike (fornecedora de material esportivo da Seleção Brasileira) e a Adidas (fornecedora dos franceses), para que o título de 1998 ficasse na França e o de 2002 viesse para o Brasil (mas será que acertaram também com todas as seleções que jogaram em 2002?) Outra versão diz que Ronaldo foi envenenado por um cozinheiro francês na concentração. A mais pura verdade é que a França se preparou e fez um Copa do Mundo melhor do que o Brasil. Os franceses anularam Ronaldo e Rivaldo, as principais peças do Brasil até a final, e explorou os contra-ataques e as deficiências da defesa brasileira.

A França era o primeiro país sede a conquistar o título desde a Argentina em 1978. Foi o primeiro país campeão a terminar uma Copa com o melhor ataque (15 gols) e a melhor defesa (dois gols). Já o Brasil sofreu seu maior revés em Copas (0 x 3 contra a França) e terminou com a defesa mais vazada da competição (dez gols).


O mundo parou quando Ronaldo se chocou com Barthez. Felizmente, nada mais grave. (Imagem localizada no Google)

● Primeiro, falou-se em uma lesão no tornozelo. Depois, descobriu-se que o atacante havia sofrido um mal súbito na concentração durante a tarde. Existem várias versões: uma diz que foi um colapso nervoso, outra que foi o excesso de infiltrações de xilocaína no joelho (oito injeções em 32 dias) e até uma que diz que foi um ataque cardíaco.

Segue abaixo a reprodução do “Guia dos Curiosos das Copas do Mundo“, de Marcelo Duarte:

“No dia da decisão da Copa, por volta das 14 horas, Roberto Carlos levou o maior susto ao ver seu companheiro de quarto, Ronaldo, salivando, revirando os olhos, respirando com dificuldade. “Para com isso, Ronaldo, acorda!”, disse Roberto Carlos. Vendo que a coisa era séria, o jogador saiu do quarto correndo, pedindo ajuda. César Sampaio e Leonardo prestaram os primeiros socorros, enquanto Bebeto e Edmundo foram chamar o médico Lídio Toledo. Edmundo chegou a gritar pelos corredores que “Ronaldinho estava morrendo”. Quando o médico chegou, Ronaldo pediu para continuar a dormir. Ao acordar para o lanche, ele não se lembrava da crise convulsiva. Foi levado a uma clínica para fazer exames neurológicos completos, que nada acusaram. A convulsão, segundo uma das versões, teria sido causada por uma injeção de xilocaína aplicada no joelho do jogador. Mesmo assim, Edmundo foi escalado como titular. Ronaldo chegou ao estádio às 20h10, trocou-se rapidamente e pediu para ser escalado – o jogo começaria às 21 horas, no horário local. A comissão técnica fez uma reunião numa sala ao lado do vestiário:
– Estou bem, professor, ninguém me tira desse jogo – disse Ronaldo.
– Como é, Lídio? – perguntou o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que desceu apressado das tribunas ao receber a escalação da equipe sem Ronaldo.
– Não vou assumir sozinho. É muita responsabilidade – respondeu Lídio.
– Está bem? Não sente nada? Então, pronto, está decidido: você vai jogar – disparou o técnico Zagallo.
– Então, bota o garoto – ordenou Ricardo Teixeira.”

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 3 X 0 BRASIL

 

Data: 12/07/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Stade de France

Público: 80.000

Cidade: Saint-Denis (França)

Árbitro: Said Belqola (Marrocos)

 

FRANÇA (4-5-1):

BRASIL (4-3-1-2):

16 Fabien Barthez (G)

1  Taffarel (G)

15 Lilian Thuram

2  Cafu

18 Frank Leboeuf

4  Júnior Baiano

8  Marcel Desailly

3  Aldair

3  Bixente Lizarazu

6  Roberto Carlos

7  Didier Deschamps (C)

5  César Sampaio

19 Christian Karembeu

8  Dunga (C)

17 Emmanuel Petit

18 Leonardo

10 Zinedine Zidane

10 Rivaldo

6  Youri Djorkaeff

20 Bebeto

9  Stéphane Guivarc’h

9  Ronaldo

 

Técnico: Aimé Jacquet

Técnico: Zagallo

 

SUPLENTES:

 

 

1  Bernard Lama (G)

12 Carlos Germano (G)

22 Lionel Charbonnier (G)

22 Dida (G)

5  Laurent Blanc

13 Zé Carlos

2  Vincent Candela

14 Gonçalves

14 Alain Boghossian

15 André Cruz

4  Patrick Vieira

16 Zé Roberto

11 Robert Pirès

17 Doriva

13 Bernard Diomède

11 Emerson

21 Christophe Dugarry

7  Giovanni

12 Thierry Henry

19 Denílson

20 David Trezeguet

21 Edmundo

 

GOLS:

27′ Zinedine Zidane (FRA)

45+1′ Zinedine Zidane (FRA)

90+3′ Emmanuel Petit (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

33′ Júnior Baiano (BRA)

39′ Didier Deschamps (FRA)

48′ Marcel Desailly (FRA)

56′ Christian Karembeu (FRA)

 

CARTÃO VERMELHO: 68′ Marcel Desailly (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Leonardo (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

57′ Christian Karembeu (FRA) ↓

Alain Boghossian (FRA) ↑

 

66′ Stéphane Guivarc’h (FRA) ↓

Christophe Dugarry (FRA) ↑

 

73′ César Sampaio (BRA) ↓

Edmundo (BRA) ↑

 

74′ Youri Djorkaeff (FRA) ↓

Patrick Vieira (FRA) ↑

VEJA OUTROS JOGOS DA COPA DE 1998:
… 30/06/1998 – Argentina 2 x 2 Inglaterra
… 04/07/1998 – Holanda 2 x 1 Argentina
… 29/06/1998 – Holanda 2 x 1 Iugoslávia
… 13/06/1998 – Nigéria 3 x 2 Espanha
… 11/07/1998 – Croácia 2 x 1 Holanda
… 20/06/1998 – Bélgica 2 x 2 México
… 11/06/1998 – Itália 2 x 2 Chile


França campeã do mundo em 1998. (Imagem: AFP / Getty Images)

Gols da decisão:

Jogo completo:

… 25/06/1978 – Argentina 3 x 1 Holanda

Três pontos sobre…
… 25/06/1978 – Argentina 3 x 1 Holanda

● A Argentina era um país em seu período mais crítico da ditadura militar, sob o comando do general Jorge Rafael Videla. Era um país sem confiança e baixa autoestima. Ainda bem que existe o futebol, para dar alguma alegria ao povo.

Sem o gênio Johan Cruijff (que não viajou para a Copa de 78), a Holanda fez uma primeira fase bastante irregular. Estreou bem, vencendo o Irã por 3 a 0, mas na sequência empatou com o Peru por 0 a 0 e perdeu por 3 a 2 para a Escócia. Na fase seguinte mostrou sua força ao golear a Áustria por 5 a 1, empatar com a Alemanha por 2 a 2 e vencer a Itália por 2 a 1.

Por sua vez, a Argentina estreou batendo a Hungria (2 a 1) e a França (2 a 1) e perdendo para a Itália por 1 a 0. Na fase seguinte, venceu a Polônia (2 a 0) e empatou com o Brasil (0 a 0). Na última rodada, enquanto os brasileiros venceram os poloneses jogando às 16h45, o jogo dos argentinos contra o Peru começou apenas 17h15. Ou seja, a Argentina sabia que necessitava vencer o adversário por quatro ou mais gols de diferença para chegar à final. Com uma complacência nunca antes vista por parte dos peruanos (inclusive do goleiro Ramón Quiroga, argentino naturalizado), a Argentina goleou por 6 a 0, se classificando para a final.

A polêmica em torno da goleada de 6 x 0 sobre o Peru continuou sendo o assunto principal até o dia da final. Os jogadores argentinos passaram três dias explicando, como se fosse necessária alguma explicação por ter vencido. O goleiro Fillol resumiu bem: “O Brasil fez 3 a 0 no Peru e teve chances de fazer mais; acontece que nós aproveitamos todas as chances”.

Mas essa controvérsia foi útil para o Ente Autárquico Mundial (EAM, uma entidade criada pela ditadura argentina para organizar a Copa do Mundo de 1978). Com o foco das atenções voltado para o jogo anterior, a entidade agiu na surdina e “escolheu” o árbitro da final. Foi vetado o israelense Abraham Klein (que apitou a única derrota argentina no torneio, 1 a 0 contra a Itália) e indicou o italiano Sergio Gonella, mais suscetível a pressões.

A polêmica começou antes mesmo do jogo começar. Os argentinos fizeram de tudo para catimbar a partida, entrando em campo com dez minutos de atraso. Depois, o capitão Daniel Passarella reclamou com o juiz sobre o gesso que René van de Kerkhof usava no braço. O árbitro ordenou que o holandês molhasse o braço para que o gesso ficasse mais mole. Já se foram mais cinco minutos passados.

Antes do apito inicial, a torcida argentina já tinha transformado o estádio Monumental de Núñez em um caldeirão, com uma chuva infindável de papel picado.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.


A Holanda também no 4-3-3, mas com Krol como líbero, com liberdade para avançar e inicar as jogadas.

● Com a bola rolando, a Argentina estava acuada, como se tivesse com medo tanto de perder quanto de vencer. A Holanda dominou o jogo, sendo a responsável pelas jogadas mais agudas. Gonella amarrou o jogo no meio campo, invertendo faltas e punindo apenas a Holanda. Só durante os primeiros 90 minutos, foram mais de 50 faltas apitadas contra os holandeses. Sem contar em duas vezes que o ataque dos europeus foi parado diante do gol por impedimentos bastante duvidosos.

Mesmo assim, a “Laranja” (que não era mais a “Mecânica, mas ainda assim era ótima) criava as jogadas mais perigosas. Na melhor delas, Johnny Rep chutou da marca do pênalti, à queima roupa, mas Fillol defendeu bem, mandando para escanteio.

Os argentinos eram só catimba e provocação, mas aos poucos foram se acalmando e cresceram na partida.

Aos 38 minutos da etapa inicial, o placar foi aberto. O centroavante Luque recebeu de Ardiles e tocou para Kempes, na entrada da área. Ele dominou, passou rapidamente entre Krol e Haan e, mesmo caindo, chutou por baixo, na saída do veterano goleiro Jongbloed.

Na etapa final, a Holanda era melhor. Foi premiada com o empate aos 37 minutos, quando Arie Haan lançou René van de Kerkhof pela direita e o camisa 10 cruzou para a área de primeira. Dick Nanninga apareceu nas costas de Galván e Olguín e cabeceou firme, a direita de Fillol.

Nos últimos segundos do tempo normal, a Holanda perdeu a chance de se sagrar campeã mundial. Ruud Krol levantou a bola para a área, Neeskens ganhou pelo alto de Passarella e Rensenbrink, cara a cara com Fillol, chutou na trave e a bola voltou para dentro de campo.

Pela terceira vez o título da Copa do Mundo seria decidido na prorrogação. A Holanda continuou buscando mais o jogo. Mas foi ali que o misto de raça e qualidade da Argentina se sobressaiu.

No último minuto do primeiro tempo, Mario Kempes dominou a bola na intermediária, deu uma arrancada de 20 metros, escapou dos carrinhos e Haan e Krol ao entrar na área, dividiu com o goleiro no chão e teve sorte, pois a bola sobrou livre para ele concluir a gol antes da chegada de Suurbier e Poortvliet. Kempes contou com a sorte nas divididas, mas foi um lindo gol, digno de um camisa 10 argentino.

Aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação, Kempes arrancou de novo e tabelou com Bertoni. A bola bateu no braço de Kempes, mas Bertoni chuta cruzado antes da chegada de Jongbloed, marcando o gol do título. Os holandeses reclamaram toque de mão, mas o árbitro italiano validou o gol.

Mesmo com suspeita de favorecimentos nessa e em outras partidas, os albicelestes tinham seus méritos e foram campeões. Festa da torcida em casa, que via a Argentina conquistar uma Copa do Mundo após 48 anos de sonhos frustrados.


O craque Mario Kempes comemora o segundo gol argentino (Imagem: Getty Images)

● A Holanda conquistou um feito inglório: foi a primeira seleção com dois vice-campeonatos mundiais consecutivos. (Seria vice novamente em 2010, como veremos no dia 11/07.)

Ao fim da partida, o holandês Johnny Rep foi ácido em sua declaração: “Não sentimos falta de Cruijff. E o senhor Rensenbrink comportou-se como uma galinha medrosa. Nenhum time é campeão do mundo com covardes”.

Já o técnico campeão César Luis Menotti alfinetou o brasileiro Cláudio Coutinho: “Eu felicito meu colega Coutinho por seu campeonato moral e desejaria, também, que ele me felicitasse por meu campeonato real”.

Por sua vez o técnico austríaco Ernst Happel, da Holanda, nem teve chances de participar da conferência de imprensa depois da final. Ele tentou entrar no salão, mas o militar que vigiava a porta não o conhecia e retrucava: “Esta é uma conferência de imprensa e só passam Menotti, o treinador da Holanda, e os jornalistas”. Happel nada pôde fazer, a não ser ir embora. A conferência ocorreu sem ele.

Mario Kempes se tornou artilheiro da Copa marcando apenas gols decisivos. Depois de passar em branco na primeira fase, raspou o bigode e parece que essa “mandinga” funcionou. Ele anotou dois gols sobre a Polônia, dois no Peru e mais dois na final contra a Holanda. Assim, passou o ponta holandês Rob Rensenbrink, que tinha cinco gols (sendo quatro de pênalti). Foi a primeira vez que o artilheiro do torneio pertenceu à seleção campeã. Kempes também foi eleito o melhor jogador do Mundial.

Curiosamente, o dia da polêmica goleada da Argentina sobre o Peru coincidiu com a data de estreia nos teatros de Londres do musical “Evita” (“Don’t cry for me Argentina…”), de produzido pelo britânico Andrew Lloyd-Weber.


Passarella levanta a primeira Copa do Mundo conquistada pela Argentina (Imagem: Daily Mail)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 3 x 1 HOLANDA

 

Data: 25/06/1978

Horário: 15h00 locais

Estádio: Monumental Antonio Vespucio Liberti (Monumental de Núñez)

Público: 71.483

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Sergio Gonella (Itália)

 

ARGENTINA (4-3-3):

HOLANDA (4-3-3):

5  Ubaldo Fillol (G)

8  Jan Jongbloed (G)

15 Jorge Olguín

6  Wim Jansen

7  Luis Galván

22 Ernie Brandts

19 Daniel Passarella (C)

2  Jan Poortvliet

20 Alberto Tarantini

5  Ruud Krol (C)

2  Osvaldo Ardiles

9  Arie Haan

6  Américo Gallego

13 Johan Neeskens

10 Mario Kempes

11 Willy van de Kerkhof

4  Daniel Bertoni

10 René van de Kerkhof

14 Leopoldo Luque

16 Johnny Rep

16 Oscar Alberto Ortiz

12 Rob Rensenbrink

 

Técnico: César Luis Menotti

Técnico: Ernst Happel

 

SUPLENTES:

 

 

3  Héctor Baley (G)

19 Pim Doesburg (G)

13 Ricardo La Volpe (G)

1  Piet Schrijvers (G)

18 Rubén Pagnanini

17 Wim Rijsbergen

11 Daniel Killer

4  Adrie van Kraaij

8  Rubén Galván

20 Wim Suurbier

12 Omar Larrosa

7  Piet Wildschut

17 Miguel Oviedo

15 Hugo Hovenkamp

21 José Daniel Valencia

3  Dick Schoenaker

1  Norberto Alonso

14 Johan Boskamp

22 Ricardo Villa

18 Dick Nanninga

9  René Houseman

21 Harry Lubse

 

GOLS:

38′ Mario Kempes (ARG)

82′ Dick Nanninga (HOL)

105′ Mario Kempes (ARG)

115′ Daniel Bertoni (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

15′ Ruud Krol (HOL)

40′ Osvaldo Ardiles (ARG)

93′ Omar Larrosa (ARG)

94′ Wim Suurbier (HOL)

96′ Jan Poortvliet (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

58′ Johnny Rep (HOL) ↓

Dick Nanninga (HOL) ↑

 

66′ Osvaldo Ardiles (ARG) ↓

Omar Larrosa (ARG)

 

75′ Oscar Alberto Ortiz (ARG) ↓

René Houseman (ARG)

 

75′ Wim Jansen (HOL) ↓

Wim Suurbier (HOL)


Os capitães Ruud Krol e Daniel Passarella disputam uma jogada (Imagem: Globo Esporte)

… 23/06/1990 – Camarões 2 x 1 Colômbia

Três pontos sobre…
… 23/06/1990 – Camarões 2 x 1 Colômbia


Roger Milla roubou a bola do goleiro Higuita no segundo gol de Camarões (Imagem localizada no Google)

● A Copa do Mundo de 1990 provavelmente foi a que teve o menor nível técnico na história. A maioria das seleções eram escaladas de forma muito defensiva, com três zagueiros ou com um líbero atrás dos demais defensores, o que resultou na menor média de gols dos mundiais (2,21).

O Brasil também entrou na moda do 3-5-2. Teve 100% de aproveitamento na fase de grupos, mas sucumbiu à Argentina de Maradona e Caniggia nas oitavas de final por 1 a 0. As estatísticas brasileiras no torneio foram medíocres: 4 gols marcados e 2 sofridos.

Camarões aprontou desde a estreia. Com um gol de François Omam-Biyik, venceu a então campeã do mundo, a Argentina de Maradona, por 1 a 0. Logo depois, venceu também a Romênia de Gheorghe Hagi por 2 a 1 com (dois gols de Roger Milla). Já classificado, foi goleado pela já eliminada União Soviética por 4 a 0. Terminou como líder do grupo B com quatro pontos.

Veja mais:
… 08/06/1990 – Camarões 1 x 0 Argentina
… 09/06/1990 – Colômbia 2 x 0 Emirados Árabes Unidos
… Carlos “El Pibe” Valderrama
… René Higuita: o goleiro espetáculo

A Colômbia foi a terceira colocada do grupo D com três pontos. Venceu por 2 a 0 os Emirados Árabes Unidos em sua primeira partida. Depois, perdeu para a Iugoslávia por 1 a 0. Na última partida da primeira fase, a sofreu um gol nos minutos finais contra a Alemanha Ocidental e estava sendo eliminada. Mas aos 48 minutos do segundo tempo, após troca de passes pelo meio, Valderrama faz um lindo lançamento, deixando Freddy Rincón livre. Ele avança e toca entre as pernas do goleiro Illgner, empatando a partida em 1 a 1 e classificando a Colômbia  de fase pela primeira vez.

O técnico soviético Valery Nepomnyashchy escalou seu time em uma espécie de 4-2-3-1. Sem a bola, Victor N’Dip (o mais fraco do grupo) se transformava em líbero. Com a bola, os meias avançavam em velocidade. No ataque, Omam-Biyik recebia a companhia de Roger Milla no segundo tempo de todas as partidas.


A Colômbia jogava no 4-4-2 com o meio campo em forma de losango, com Valderrama livre para criar. Rincón era atacante nessa época; só alguns anos depois ele se tornaria o grande volante que foi.

● Assim, Camarões e Colômbia chegavam às oitavas de final pela primeira vez, mas em situações muito diferentes. Os “Leões Indomáveis” vinham de uma goleada sofrida, enquanto os “Cafeteros” estavam com moral elevada por conseguir segurar a Alemanha e por se classificar nos acréscimos. A emoção estava à tona.

Mas não foi isso que se viu na partida. Foram 90 minutos fracos, com pouca criatividade de ambas as partes e o resultado não poderia ser outro: 0 a 0. A Colômbia entrou com “salto alto” e muita firula e Camarões se defendeu bem, mas sem aproveitar os contra-ataques.

Vindo do banco, como em todas as partidas, Roger Milla era a “arma secreta” dos camaroneses. Então com 38 anos, ele entrou no lugar de M’Fédé aos 9 minutos da etapa complementar e resolveu o jogo com dois lances épicos, mas apenas no tempo extra.

No primeiro minuto do segundo tempo da prorrogação, Milla recebe de Omam-Biyik, dribla Perea e Escobar na corrida e chuta forte e alta, no canto esquerdo de Higuita. Lindo gol.

Três minutos depois, o excêntrico goleiro René Higuita recebe a bola em sua intermediária. Mesmo sendo o último homem, ele protagonizou um lance bizarro ao tentar driblar Milla, que espertamente, desarmou o arqueiro, que ainda deu um carrinho para tentar recuperar a bola, sem sucesso. O camaronês arrancou para a área e concluiu para o gol completamente vazio, indo comemorar com sua tradicional “dancinha” junto à bandeirinha de escanteio.

Depois, o autor do gol soltou uma frase que se tornaria célebre: “Ele tentou me driblar e ninguém dribla o Milla”.

A Colômbia descontou apenas aos 10 minutos, quando Bernardo Redín tabelou com Valderrama e recebeu a bola dentro da área, para tocar na saída do goleiro N’Kono. Tarde demais para uma reação dos sul-americanos.

Final, Camarões classificado 2, Colômbia eliminada 1.


Roger Milla tinha 38 anos. Na Copa de 1994, aos 42 anos, ele se tornaria o jogador mais velho a disputar um Mundial. Perderia essa marca justamente para um colombiano, o goleiro Faryd Mondragón, que atuou nos minutos finais de uma partida da Copa de 2014. Em 2018, o goleiro egípcio Essam El-Hadary bateria esse recorde novamente. Mas Milla ainda ostenta a marca de jogar mais velho a marcar um gol em Copas – essa será difícil de ser batida.

● Após bater a Colômbia, Camarões deu muito trabalho para a Inglaterra, vendendo muito caro a derrota. Só perdeu na prorrogação, com um gol de pênalti de Gary Lineker (o placar foi 3 a 2). Mas ficou na história como (até então) a melhor campanha de uma seleção africana na história dos Mundiais. Foi a primeira equipe de seu continente a chegar às quartas de final. Seria igualada por Senegal em 2002 e por Gana em 2010.

Na final da Copa, a Alemanha Ocidental se vingou da decisão de 1986 e venceu a Argentina por 1 a 0, com um gol de pênalti de Andreas Brehme a cinco minutos do fim da partida. Resultado: Alemanha Ocidental, tricampeã mundial.

FICHA TÉCNICA:

 

CAMARÕES 2 x 1 COLÔMBIA

 

Data: 23/06/1990

Horário: 17h00 locais

Estádio: San Paolo

Público: 50.026

Cidade: Nápoles (Itália)

Árbitro: Tullio Lanese (Itália)

 

CAMARÕES (4-4-2):

COLÔMBIA (4-4-2):

16 Thomas N’Kono (G)

1  René Higuita (G)

14 Stephen Tataw (C)

4  Luis Fernando Herrera

3  Jules Onana

15 Luis Carlos Perea

17 Victor N’Dip

2  Andrés Escobar

5  Bertin Ebwellé

3  Gildardo Gómez

2  André Kana-Biyik

14 Leonel Álvarez

8  Émile Mbouh

20 Luis Fajardo

21 Emmanuel Maboang

8  GabrielBarrabás” Gómez

10 Louis-Paul M’Fédé

10 Carlos Valderrama (C)

20 Cyrille Makanaky

19 Freddy Rincón

7  François Omam-Biyik

7  Carlos Estrada

 

Técnico: Valery Nepomnyashchy

Técnico: Francisco Maturana

 

SUPLENTES:

 

 

22 Jacques Songo’o (G)

12 Eduardo Niño (G)

1  Joseph-Antoine Bell (G)

21 Alexis Mendoza

4  Benjamin Massing

5  León Villa

6  Emmanuel Kundé

6  José Ricardo Pérez

12 Alphonse Yombi

13 Carlos Hoyos

13 Jean-Claude Pagal

17 Geovanis Cassiani

15 Thomas Libiih

18 Wilmer Cabrera

19 Roger Feutmba

22 Rubén Darío Hernández

11 Eugène Ekéké

11 Bernardo Redín

18 Bonaventure Djonkep

9  Miguel Guerrero

9  Roger Milla

16 Arnoldo Iguarán

 

GOLS:

106′ Roger Milla (CAM)

109′ Roger Milla (CAM)

115′ Bernardo Redín (COL)

 

CARTÕES AMARELOS:

44′ André Kana-Biyik (CAM)

47′ Victor N’Dip (CAM)

68′ Émile Mbouh (CAM)

72′ Luis Carlos Perea (COL)

74′ Gabriel “Barrabás” Gómez (COL)

117′ Jules Onana (CAM)

 

SUBSTITUIÇÕES:

54′ Louis-Paul M’Fédé (CAM) ↓

Roger Milla (CAM)

 

63′ Luis Fajardo (COL) ↓

Arnoldo Iguarán (COL) ↑

 

69′ Cyrille Makanaky (CAM) ↓

Bonaventure Djonkep (CAM) ↑

 

79′ Gabriel “Barrabás” Gómez (COL) ↓

Bernardo Redín (COL) ↑

Melhores momentos da partida:

… 22/06/1986 – Argentina 2 x 1 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 22/06/1986 – Argentina 2 x 1 Inglaterra


Maradona comemora gol sobre a Inglaterra (Imagem localizada no Google)

● Para entender a atmosfera que tomava conta do estádio Azteca era preciso voltar quatro anos antes, quando a Inglaterra derrotou ferozmente a Argentina na Guerra das Malvinas. Os dois países lutaram pela soberania nas Ilhas Malvinas (como é chamada pelos argentinos) ou Falklands (como é conhecida pelos britânicos). Poucos tinham esquecido desse confronto, principalmente os portenhos mais nacionalistas, que estavam ávidos pela vitória no futebol para “vingar” a derrota no conflito militar. Foi com esse espírito de vingança que a Argentina entrou em campo, liderada por Diego Armando Maradona.

Além do motivo político, teve também o futebolístico. A Argentina ainda tinha mágoas por ter sido prejudicada pela arbitragem em um confronto com os ingleses na Copa de 1966, quando o capitão Antonio Rattín acabou expulso por não entender o que a arbitragem falava (falaremos dessa partida dia 23/07).

Veja mais:
… Igreja Maradoniana: o culto onde Maradona é deus
… Maradona: Um mago do futebol
… 23/07/1966 – Inglaterra 1 x 0 Argentina
… 29/06/1986 – Argentina 3 x 2 Alemanha Ocidental

Na primeira fase, a seleção albiceleste foi líder do grupo A, vencendo a Coreia do Sul (3 x 1), empatando com a Itália (1 x 1) e vencendo a Bulgária (2 x 0). Nas oitavas de final, venceu o rival Uruguai por 1 a 0.

Já os ingleses terminaram o grupo F em segundo lugar, perdendo na estreia para Portugal por 2 a 1, empatando sem gols com o Marrocos e vencendo a Polônia por 3 a 0. Nas oitavas, nova vitória por 3 a 0, mas agora diante do Paraguai.

Na Copa em que a Dinamarca apresentou o 3-5-2 ao mundo como novidade tática, outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. Na Argentina, Bilardo começou o Mundial com o ofensivo e talentoso lateral direito Clausen, do Independiente. Mas já na segunda partida o trocou por Cuciuffo, um zagueiro improvisado como terceiro homem de defesa, a fim de liberar o outro lateral, Olarticoechea, pela esquerda. Não era um 3-5-2 tão ortodoxo, mas a verdade é que o lado direito marcava para o esquerdo atacar. Enquanto isso, o meio campista Giusti cobria o lado direito, enquanto Batista e Enrique cobriam o meio campo, fazendo o balanço defensivo e a transição para o ataque. Os mais talentosos, Maradona e Burruchaga, tinham liberdade total em campo. E a inteligência de Valdano era decisiva no ataque, liberando espaço para quem viesse de trás.


A Inglaterra era escalada no tradicional 4-4-2, com todo o time trabalhando para criar oportunidades para o matador Gary Lineker.

● Foi um primeiro tempo feio e com poucas chances de gol. Na melhor delas, Glenn Hoddle fez um longo lançamento, Pumpido saiu do gol todo desajeitado e Beardsley o driblou e o encobriu, batendo sem ângulo para fora.

Depois, Maradona cobrou falta perigosa, que passou a centímetros da trave esquerda de Peter Shilton. Maradona estava mais “endiabrado” do que nunca, fazendo fila na defesa inglesa, que só o conseguia parar com faltas violentas.

O camisa 10 era sempre destaque. Ainda no primeiro tempo, ao ir cobrar um escanteio, reclamou da falta de espaço e arrancou o mastro com a bandeirinha. O auxiliar costarriquenho Berny Ulloa Morera lhe deu uma grande bronca e o obrigou a colocar o mastro no lugar, mas a flâmula ainda estava caída. Após nova reprimenda, o argentino a colocou de qualquer jeito. Apenas na terceira bronca, Dieguito ajeitou a bandeirinha do jeito que estava antes. Lance hilário.

No segundo tempo, o astro queria colocar fogo no jogo. Logo aos cinco minutos da etapa complementar, Maradona arrancou em direção à área, passou por dois marcadores e tocou para Burruchaga. Fenwick interceptou o passe com um chute para cima, em direção a Peter Shilton. Maradona percebeu, correu e subiu junto com o goleiro. O baixinho não alcançaria, mas com um leve soco na bola, conseguiu encobrir o rival e desviar a bola para as redes. Os ingleses reclamaram bastante do toque de mão. Diego saiu comemorando com discretas olhadinhas de lado para o juiz. O árbitro tunisiano Ali Bin Nasser não viu a infração e validou o gol após consultar o bandeirinha búlgaro Bogdan Dotchev.


La mano de Díos (Imagem localizada no Google)

Aproveitando o nervosismo dos adversários, Maradona ampliou o marcador. Ele recebeu ainda em seu campo e manteve a bola grudada em seu pé esquerdo. Com um giro, tirou Reid e Beardsley da jogada. O argentino arrancou em velocidade, passou por Butcher e Fenwick, driblou o goleiro Shilton e tocou para as redes antes de ser derrubado por Fenwick. Diego demorou 10,9 segundos para percorrer os sessenta metros que o separava da baliza. Foi um lance antológico, considerado por muitos o mais belo gol da história das Copas, demonstrando toda a técnica e a genialidade do capitão albiceleste.

Só então a Inglaterra passou a atacar com mais afinco, mas não conseguia criar chances claras para finalizar. Apenas aos 30 minutos o técnico Bobby Robson colocou o atacante John Barnes em campo. Foram os únicos 15 minutos do jamaicano naturalizado no Mundial, mas ele infernizou a defesa argentina e criou duas oportunidades de gol.

Na primeira, ele recebeu no bico da área passou por dois marcadores, foi até a linha de fundo e cruzou da esquerda, encontrando Gary Lineker livre dentro da pequena área. O centroavante só escorou para as redes, anotando seu sexto gol e se sagrando artilheiro da competição.

Nos últimos lances da partida, a mesma jogada se repetiu: Barnes vai até a linha de fundo e cruza para Lineker, mas dessa vez o camisa 10 não alcançou a bola, perdendo a última chance de empatar e forçar a prorrogação.

No último lance de perigo, Maradona faz outra jogada genial e lança Tapia, que dribla um zagueiro e chuta na trave direita do goleiro Shilton.

Fim de jogo. Inglaterra eliminada, Argentina classificada. Era a única seleção sul-americana que permanecia viva na Copa.


Diego tenta passar pela marcação de Terry Butcher (Imagem localizada no Google)

● Maradona vingou seu país, fazendo justiça com as próprias mãos, literalmente.

Nos dias que se seguiram, Maradona era constantemente questionado sobre a forma que marcou o primeiro gol. E ele “mitou” com a seguinte frase: “O gol foi marcado com a minha cabeça e com a mão de Deus”. Para os fanáticos, era questão de lógica: se Diego diz que fez o gol com “la mano de Díos“, e a imagem mostra ele fazendo o gol com a mão, então… Maradona é deus”. Doze anos depois, seus fiéis fundaram a Igreja Maradoniana.

Na sequência da Copa, Maradona continuou liderando sua seleção, fazendo os dois gols na vitória sobre a Bélgica (2 x 0) nas semifinais. Na decisão, ele não marcou, mas criou tudo que se passou na emocionante vitória sobre a Alemanha Ocidental por 3 a 2. Assim, a Argentina se sagrou bicampeã da Copa do Mundo.

Muitos dizem que Maradona “ganhou a Copa de 1986 sozinho”. O time argentino não era realmente muito bom, mas estava longe de ser uma baba. Mas independente disso, a atuação de Diego no Mundial o elevou a “status de deus“. Independente de seus futuros problemas pessoais como, por exemplo, o vício em drogas, Maradona é uma lenda viva do futebol e um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Para o bem e para o mal, um gênio.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Maradona e Peter Shilton (Imagem: Globo Esporte)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 2 x 1 INGLATERRA

 

Data: 22/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 114.580

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Ali Bin Nasser (Tunísia)

 

ARGENTINA (4-4-2):

INGLATERRA (4-4-2):

18 Nery Pumpido (G)

1  Peter Shilton (G)(C)

9  José Luis Cuciuffo

2  Gary Michael Stevens

19 Oscar Ruggeri

6  Terry Butcher

5  José Luis Brown

14 Terry Fenwick

16 Julio Olarticoechea

3  Kenny Sansom

2  Sergio Batista

16 Peter Reid

14 Ricardo Giusti

4  Glenn Hoddle

12 Héctor Enrique

17 Trevor Steven

7  Jorge Burruchaga

18 Steve Hodge

10 Diego Armando Maradona (C)

20 Peter Beardsley

11 Jorge Valdano

10 Gary Lineker

 

Técnico: Carlos Bilardo

Técnico: Bobby Robson

 

SUPLENTES:

 

 

15 Luis Islas (G)

13 Chris Woods (G)

22 Héctor Zelada (G)

22 Gary Bailey (G)

6  Daniel Passarella

12 Viv Anderson

8  Néstor Clausen

5  Alvin Martin

13 Oscar Garré

15 Gary Andrew Stevens

20 Carlos Daniel Tapia

7  Bryan Robson

21 Marcelo Trobbiani

8  Ray Wilkins

3  Ricardo Bochini

21 Kerry Dixon

4  Claudio Borghi

11 Chris Waddle

17 Pedro Pasculli

19 John Barnes

1  Sergio Omar Almirón

9  Mark Hateley

 

GOLS:

51′ Diego Armando Maradona (ARG)

55′ Diego Armando Maradona (ARG)

81′ Gary Lineker (ING)

 

CARTÕES AMARELOS:

9′ Terry Fenwick (ING)

60′ Sergio Batista (ARG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

69′ Peter Reid (ING) ↓

Chris Waddle (ING) ↑

 

74′ Trevor Steven (ING) ↓

John Barnes (ING) ↑

 

75′ Jorge Burruchaga (ARG) ↓

Carlos Daniel Tapia (ARG) ↑

 Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 21/06/1970 – Brasil 4 x 1 Itália

Três pontos sobre…
… 21/06/1970 – Brasil 4 x 1 Itália


(Imagem: Paste Magazine)

Tostão, o centroavante, acompanha o avanço pela direita do volante italiano De Sisti desde a intermediária adversária até o campo brasileiro, onde toma a bola com a ajuda do lateral esquerdo Everaldo. Tostão entrega a bola a Piazza, na frente da grande área brasileira, dando início a uma rápida e contínua troca de passes entre Clodoaldo, Pelé e Gérson, até encontrar novamente Clodoaldo. Cercado, o volante brasileiro dribla quatro italianos e passa para Rivellino, na altura da linha do meio campo, pelo lado esquerdo. O camisa 11 faz lançamento longo ao ponta direita Jairzinho, que está aberto pelo lado esquerdo (trazendo consigo a marcação de Facchetti). O Furacão traz a bola pelo meio e toca para Pelé, próximo à meia lua. O Rei, caprichosamente e sem olhar, apelas rola suavemente no espaço vazio para Carlos Alberto Torres. A bola sobe ligeiramente e o Capita enche o pé, com um chute cruzado forte e de primeira, e a bola vai morrer no fundo do gol de Albertosi.

É o quarto gol brasileiro, o gol definitivo. Nesse instante, a “Rede Unidas de Televisão e Rádio” já colocavam a música “Pra frente Brasil” (“Noventa milhões em ação / pra frente Brasil / salve a Seleção…”) como música de fundo, deixando ainda mais marcante aquele momento.


(Imagem: Pinterest)

● Naquele domingo, estava em jogo não apenas o título mundial, mas também a posse definitiva da Taça Jules Rimet, já que tanto o Brasil quanto a Itália eram bicampeões da Copa do Mundo e o regulamento da Fifa dizia que quem vencesse por três vezes ficaria de vez com a Taça. Com um regulamento “sem noção”, caso Brasil e Itália empatassem no tempo normal e na prorrogação, o campeão seria decidido em sorteio. Felizmente isso não aconteceu.

Veja mais:
… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia
… 07/06/1970 – Brasil 1 x 0 Inglaterra
… 10/06/1970 – Brasil 3 x 2 Romênia
… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru
… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai
… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

A Itália estava invicta desde a conquista da Eurocopa em 1968. Por ter vencido a poderosa Alemanha Ocidental na semifinal (em um épico 4 x 3 na prorrogação), a confiança italiana era enorme, a ponto de o meia atacante Sandro Mazzola declarar antes da partida: “Podem preparar o champanhe”. Mas os jornalistas, técnicos e jogadores afirmavam que Inglaterra e Alemanha mereciam a vaga na final mais do que os italianos. Os críticos alegavam que a Itália chegou à decisão baseada em um estilo muito defensivo. A Squadra Azzurra estreou no torneio vencendo a Suécia por 1 a 0; depois, empatou sem gols com Uruguai e Israel. Nas quartas de final, despacharam os anfitriões mexicanos por 4 a 1. Na semifinal, protagonizou o “Jogo do Século“, vencendo a Alemanha, como já falamos.

O Brasil também tinha seus problemas, que foram se dissipando conforme avançava na competição. Pelé, no auge de sua forma física e técnica, liderou uma Seleção que chegou ao México com problemas de autoestima. Gérson era acusado pela torcida de não ter espírito competitivo. Tostão voltava de uma seríssima cirurgia no olho esquerdo, realizada em outubro do ano anterior nos Estados Unidos (ele teve deslocamento de retina causada por uma bola chutada pelo zagueiro Ditão, do Corinthians). O próprio técnico Zagallo era questionado por ter improvisado o volante Piazza na defesa e por escalar a equipe sem centroavante e ponta esquerda de ofício. Todos esses problemas foram relegados quando a Seleção chegou à decisão.

Os italianos eram bons, mas o Brasil era muito mais time. A torcida mexicana era praticamente toda para o Brasil.


O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.


A Itália atuava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços, tornando um 3-4-3.

● No início, a Itália assustou com um chute da intermediária, que Félix espalmou por cima. Logo depois, Carlos Alberto chutou cruzado para boa defesa de Albertosi.

Mas aos 18 minutos de partida, Tostão cobra lateral, Rivellino ergue a bola de primeira para a área e Pelé (1,72 m) subiu um palmo a mais que seu marcador, Tarcisio Burgnich (1,75 m) e testou forte para o chão, no canto esquerdo de Albertosi, inaugurando o marcador. Parecia que o Rei tinha parado no ar naquele momento. Foi o 100º gol brasileiro em Copas.

A partir do gol, a Seleção se soltou, mesmo com o lateral esquerdo Giacinto Facchetti grudado em marcação individual no ponta brasileiro Jairzinho, que era a principal opção de jogadas em velocidade. O Brasil continuou dominando o jogo, mas Itália não se abateu e seguiu com o mesmo padrão, apostando nos erros do adversário.

E uma única falha defensiva brasileira quase pôs tudo a perder. Ainda na etapa inicial, aos 37, Clodoaldo errou um passe de calcanhar para Everaldo na frente da área. Boninsegna interceptou, driblou Brito e Félix (que já tinha saído do gol todo estabanado e sem necessidade), e toca para o gol vazio, empatando a partida.

Aos 45 minutos, Pelé matou uma bola no peito e tocou no canto de Albertosi, mas o árbitro anulou o gol, alegando ter apitado o final do primeiro tempo antes da finalização do camisa 10.

No segundo tempo, o Brasil voltou com tudo, mostrando um futebol exuberante. Logo no início, Carlos Alberto vai à linha de fundo e rola para trás. Pelé, já sem goleiro, dá um carrinho e manda a bola para fora, de dentro da pequena área. Pouco depois, em uma falta em dois lances dentro da área, Gérson acertou a barreira. Do outro lado, Domenghini chutou uma bola na rede pelo lado de fora e a defesa brasileira sofria com a insegurança de Félix nas saídas do gol, em bolas aéreas.

Aos 21 minutos, o lance decisivo. Jairzinho tenta a jogada pelo meio e é desarmado por Facchetti, sua sombra. Gérson dominou, passou por um marcador e disparou de fora da área, no canto esquerdo. Foi seu único gol em Copas, mas fundamental para a caminhada rumo ao título.

O gol desnorteou os italianos, que quatro dias antes tiveram que passar por uma duríssima prorrogação na semifinal contra os alemães. O sol do meio dia também não ajudava. O gás acabou. O Brasil aproveitou o bom momento e passou a dominar as ações.

Três minutos depois, Pelé sofreu uma falta no meio campo, que rendeu dois minutos de discussão e empurra-empurra entre os jogadores. Gérson bateu a falta lançando para a área. Pelé (que já tinha saído de fininho da confusão) ajeitou de cabeça e Jarzinho tentou o domínio. Ele errou, mas seu desvio foi suficiente para tirar a marcação da jogada e empurrar a bola ao gol. Era o sétimo gol de Jair em seis jogos. Ele se tornou o primeiro e único jogador a marcar em todos os seis jogos de uma Copa e ver seu time campeão.

Uma Copa do Mundo recheada de grandes craques e ótimas seleções só poderia terminar com uma obra prima. A consagração definitiva de uma equipe singular veio aos 42 minutos do segundo tempo, no lance descrito no primeiro parágrafo, que contou com a participação de nove jogadores e terminou com uma pancada de Carlos Alberto no gol. Méritos do “espião” Aymoré Moreira, que assistiu a semifinal e orientou Zagallo para a marcação individual exercida pela Azzurra. Se Facchetti estava grudado em Jairzinho no meio, nenhum italiano estava na posição, abrindo espaços para as frequentes subidas ao ataque de Carlos Alberto, culminando com o quarto gol. Placar final: Brasil 4, Itália 1. Brasil, tricampeão do mundo!


Jairzinho, o “Furacão da Copa”, comemora seu gol (Imagem: Pinterest)

Ao fim da partida, a torcida invadiu o gramado e passou a festejar com os atletas. Não só isso: o povo queria um souvenir dos campeões. Levaram camisas, calções, meias e até chuteiras. Tostão ficou apenas de cueca. Rivellino desmaiou em campo e os fãs não desgrudaram dele nem durante o atendimento. Pelé foi carregado usando um sombrero. Até o zagueiro italiano Roberto Rosato, do Milan, correu alucinadamente atrás de uma lembrança. Ficou com a camisa 10 de Pelé.

Coube ao capitão Carlos Alberto Torres, o Capita, repetir o gesto de Bellini (em 1958) e Mauro (em 1962) de erguer a Taça Jules Rimet, que, com essa vitória e o terceiro título mundial, ficou de forma definitiva e eterna no Brasil (até ser roubada e derretida, mas essa é outra história).

Com esse título, Pelé se tornou o primeiro e (até hoje) único jogador tricampeão mundial.

Zagallo foi o primeiro a se sagrar campeão como jogador e treinador. Seria igualado pelo alemão Franz Beckenbauer, com títulos em 1974 (jogador) e 1990 (técnico).

Bom de “chute”, o Presidente da República, o general Emilio Garrastazu Médici deu um palpite certeiro: disse duas horas antes da final que o Brasil venceria a Itália por 4 a 1.

Curiosamente, os placares do primeiro e do último jogo da Seleção Brasileira foi o mesmo: 4 x 1 sobre Tchecoslováquia e Itália.

Com um desempenho irrepreensível, o Brasil venceu todas as suas seis partidas: Tchecoslováquia (4 x 1), Inglaterra (1 x 0), Romênia (3 x 2), Peru (4 x 2), Uruguai (3 x 1) e Itália (4 x 1). Sofreu sete gols e marcou 19. Desses 19, 14 gols foram marcados em contra-ataques. Era uma equipe evoluída, muito além do seu tempo. Tinha um estilo de século XXI em pleno século XX.

Era uma equipe com “cinco camisas 10“, pois toda a linha de frente chegou a usar essa camisa em seus respectivos clubes: Jairzinho no Botafogo, Gérson no São Paulo, Tostão no Cruzeiro, Pelé no Santos e Rivellino no Corinthians. Na seleção, a primazia coube ao Rei Pelé, claro. Mas na época da Copa, Tostão não era mais o 10 do Cruzeiro; ele usava a camisa 8, enquanto o 10 era (também genial) Dirceu Lopes.


(Imagem: Sportsnet)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 X 1 ITÁLIA

 

Data: 21/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 107.412

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Rudi Glöckner (Alemanha Oriental)

 

BRASIL (4-3-3):

ITÁLIA (4-3-3):

1  Félix (G)

1  Enrico Albertosi (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

2  Tarcisio Burgnich

2  Brito

5  Pierluigi Cera

3  Wilson Piazza

8  Roberto Rosato

16 Everaldo

3  Giacinto Facchetti (C)

5  Clodoaldo

10 Mario Bertini

8  Gérson

16 Giancarlo De Sisti

7  Jairzinho

15 Sandro Mazzola

9  Tostão

13 Angelo Domenghini

10 Pelé

20 Roberto Boninsegna

11 Rivellino

11 Luigi Riva

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Ferruccio Valcareggi

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Dino Zoff (G)

22 Leão (G)

17 Lido Vieri (G)

21 Zé Maria

4  Fabrizio Poletti

15 Fontana

6  Ugo Ferrante

14 Baldocchi

7  Comunardo Niccolai

17 Joel Camargo

9  Giorgio Puia

6  Marco Antônio

21 Giuseppe Furino

18 Paulo Cézar Caju

14 Gianni Rivera

13 Roberto

18 Antonio Juliano

20 Dadá Maravilha

22 Pierino Prati

19 Edu

19 Sergio Gori

 

GOLS:

18′ Pelé (BRA)

37′ Roberto Boninsegna (ITA)

66′ Gérson (BRA)

71′ Jairzinho (BRA)

86′ Carlos Alberto Torres (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

Rivellino (BRA)

Tarcisio Burgnich (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

75′ Mario Bertini (ITA) ↓

Antonio Juliano (ITA) ↑

 

84′ Roberto Boninsegna (ITA) ↓

Gianni Rivera (ITA) ↑

 Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 20/06/1954 – Hungria 8 x 3 Alemanha Ocidental

Três pontos sobre…
… 20/06/1954 – Hungria 8 x 3 Alemanha Ocidental


(Imagem: Sport Illustrated)

● É impossível falar na evolução tática do futebol sem falar na seleção da Hungria da década de 1950.

Com o completo estabelecimento do WM em praticamente todas as equipes do mundo, o centroavante ficava muito sobrecarregado, sendo o principal responsável pelo embate físico com o zagueiro central (o antigo centromédio). Mas o estilo de jogo dos países da Europa Central (como Hungria, Áustria e Tchecoslováquia) era de centroavantes rápidos e dribladores. Estes agora não tinham mais chances contra os fortes zagueiros centrais.

Veja mais:
… 27/06/1954 – Hungria 4 x 2 Brasil
… 30/06/1954 – Hungria 4 x 2 Uruguai
… 04/07/1954 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Hungria
… Ferenc Puskás: 10 anos sem a lenda
… Ferenc Puskás e József Bozsik: amizade de uma vida inteira

Assim, a primeira coisa a fazer era moldar novos “camisas 9” mais pesados e fortes. Mas em 1948, Márton Bukovi, técnico do MTK (ou Vörös Lobogó, nome adotado após a nacionalização do time em 1949), não aceitou essa hipótese. Se ele não tinha um jogador com o perfil da posição, em vez de insistir em atletas inadequados, preferiu acabar com a função do centroavante em seu time. Inverteu o “W” do WM, desenvolvendo uma espécie de “MM“.

Gradualmente, à medida que o centroavante recuava mais e mais para se tornar um meio campista armador, os dois pontas foram avançando, de modo a criar uma linha de quatro atacantes. Com esse novo jogador no meio, sua posição acabava chocando com os outros dois meias. Assim, um deles inevitavelmente acabava recuando, passando a jogar praticamente na linha de defesa, enquanto o outro continuava posicionado no meio.

O primeiro jogador da “nova posição” foi Péter Palotás, um jogador muito inteligente. Mas logo essa função passou a ser ocupada por Nándor Hidegkuti, um jogador completo, verdadeiro craque, que se adaptou à posição apesar de seus mais de 30 anos de idade.

Dessa forma, os adversários da Hungria não sabiam como agir. Se o zagueiro central seguisse o centroavante recuado, ele deixaria um buraco no meio de sua defesa. Se não o seguisse, ele jogaria livre, leve e solto, conduzindo o jogo como quisesse.


A Hungria jogou em seu incipiente 4-2-4, com o recuo do centroavante Hidegkuti para armar o jogo e o consequente recuo de Zakariás para a linha defensiva.


A Alemanha Ocidental atuava no sistema WM. Nesta partida, com time misto e mais recuado, Eckel (que era meia defensivo) jogou como meia ofensivo. Posipal (que era zagueiro) jogou na primeira linha de meio.

● Foi dessa forma que a Hungria encantou o mundo, ficando invicta entre 1950 e 1954, com 31 partidas (27 vitórias e 4 empates, além de conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952. Mas outros dois jogos se destacaram. O primeiro foi em 25/11/1953, quando venceu a prepotente Inglaterra por 6 a 3 em pleno estádio Wembley. Foi a primeira derrota inglesa em casa para seleções não-britânicas  em toda a história. Na revanche, em Budapeste, já em preparação para a Copa de 1954, os magiares aplicaram nova goleada nos “inventores do futebol”, com inapeláveis 7 a 1.

E foi com essa aura de imbatível que a Hungria foi a primeira seleção a desembarcar na Suíça, para se acostumar com o clima. Estreou na Copa do Mundo enfiando 9 a 0 na ingênua Coreia do Sul. Durante essa partida, a Hungria não fez nenhuma falta e a Coreia apenas cinco. Fato único, o de haver menos faltas do que gols. Três dias depois, enfrentaria a Alemanha Ocidental, que tinha batido a Turquia por 4 a 1.

Do lado alemão, mesmo com a vitória na estreia, o técnico Sepp Herberger continuava criticado pela imprensa alemã. E a reprovação foi ainda maior ao ver a escalação de sua equipe para enfrentar a poderosa Hungria. Seu time estava sem seis titulares: o goleiro Turek, o meia Mai e os atacantes Klodt, Morlock, Ottmar Walter e Schäfer. Além disso, Posipal e Eckel atuaram fora de suas posições. O que ninguém sabia é que essa escalação era parte dos planos de Herberger. Ele havia entendido muito bem o regulamento. Prevendo uma derrota para os magiares [na verdade, todos previam], ele poupou vários titulares para o jogo desempate, novamente contra a Turquia.


(Imagem: Pinterest)

● Contra o time misto da Alemanha, a Hungria fez o de sempre: abriu dois gols de diferença em menos de 20 minutos e foi empilhando gols com o passar do tempo. Parecia mais um amistoso ou um jogo treino. Os alemães demonstraram pouca resistência.

Logo aos três minutos, escanteio cobrado para a pequena área alemã. O goleiro Kwiatkowski cortou mal pelo alto e Kocsis pegou de primeira, acertando o ângulo direito.

Aos 17, Puskás avança, entrou na área pelo lado direito do ataque e tocou por baixo de Kwiatkowski.

Ainda aos 21, Puskás driblou um adversário e serviu Kocsis. Da marca do pênalti, o artilheiro finaliza de primeira, no contrapé do goleiro.

A Alemanha diminuiu aos 25 minutos do primeiro tempo. Pfaff recebeu dentro da área e tocou à esquerda de Grosics.

A Hungria voltou com tudo no segundo tempo. Aos cinco minutos, Puskás chutou, a bola rebateu na defesa alemã e sobrou para Hidegkuti, que chutou por baixo do goleiro.

Quatro minutos depois, de novo Hidegkuti. Ele recebeu na área, driblou Kohlmeyer e tocou no canto esquerdo de Kwiatkowski.

Aos 15 do segundo tempo, aconteceu um lance que mudaria a história da Copa. O zagueiro Werner Liebrich acertou Ferenc Puskás por trás e lesionou seriamente seu tornozelo esquerdo. O craque teve que ser retirado de campo e a Hungria ficou com dez homens em campo. Era a terceira tentativa de agressão sem bola de Liebrich em Puskás. A conivente arbitragem do inglês William Ling permitiu a “caçada” a Puskás.

Mas a Hungria não parava. Aos 22, Kocsis avançou absolutamente livre, entrou na área e tocou no canto direito. 6 a 1.

Aos 28 minutos, József Tóth arrancou pela direita e, mesmo marcado por Liebrich, chutou no ângulo esquerdo.

O segundo gol alemão veio aos 32, quando Helmut Rahn recebeu pela ponta direita. Grosics saiu como um louco e foi driblado por Rahn, perto da linha de fundo. Rahn ainda passou por Lantos e bateu por cobertura, fazendo um lindo gol e demonstrando toda sua qualidade.

No minuto seguinte, Kocsis desviou um cruzamento e a bola passou por baixo do goleiro.

O placar foi alterado pela última vez aos 36 minutos da segunda etapa. Lançamento para a área da Hungria. A bola passa por Grosics e Herrmann só complemente para o gol vazio.


(Imagem: Pinterest)

● Resultado final: o massacre de 8 a 3 da Hungria sobre a Alemanha só não foi maior do que a ausência do contundido capitão magiar Ferenc Puskás nas partidas seguintes. Muito provavelmente, ele estaria fora do restante da Copa.

No fim, a estratégia de Sepp Herberger deu certo. No jogo desempate, a Alemanha Ocidental goleou a Turquia por 7 a 2 e se classificou para as quartas de final, seguindo firme na disputa da Copa do Mundo.

Além da variação no sistema tático, outro fator de grande destaque na equipe húngara era a preparação física. Pouco antes das partidas, os jogadores faziam aquecimento, o que era inédito na época. Enquanto o oponente ainda estava frio, a Hungria começava seus jogos de forma arrasadora. Dos cinco jogos que disputou na Copa, em quatro os magiares abriram dois gols de vantagem nos primeiros vinte minutos (a exceção foi a semifinal contra o Uruguai, na qual marcou apenas um gol no início).

FICHA TÉCNICA:

 

HUNGRIA 8 x 3 ALEMANHA OCIDENTAL

 

Data: 20/06/1954

Horário: 16h50 locais

Estádio: St. Jakob

Público: 56.000

Cidade: Basileia (Suíça)

Árbitro: William Ling (Inglaterra)

 

HUNGRIA (4-2-4):

ALEMANHA (WM):

1  Gyula Grosics (G)

22 Heinz Kwiatkowski (G)

2  Jenő Buzánszky

4  Hans Bauer

3  Gyula Lóránt

10 Werner Liebrich

4  Mihály Lantos

3 Werner Kohlmeyer

5  József Bozsik

7  Josef Posipal

6  József Zakariás

9  Paul Mebus

7  József Tóth

12 Helmut Rahn

8  Sándor Kocsis

6  Horst Eckel

9  Nándor Hidegkuti

19 Alfred Pfaff

10 Ferenc Puskás (C)

16 Fritz Walter (C)

11 Zoltán Czibor

17 Richard Herrmann

 

Técnico: Gusztáv Sebes

Técnico: Sepp Herberger

 

SUPLENTES:

 

 

21 Sándor Gellér (G)

1  Toni Turek (G)

22 Géza Gulyás (G)

21 Heinz Kubsch (G)

12 Béla Kárpáti

5  Herbert Erhardt

13 Pál Várhidi

2  Fritz Laband

14 Imre Kovács

11 Karl-Heinz Metzner

15 Ferenc Szojka

8  Karl Mai

16 László Budai

14 Bernhard Klodt

17 Ferenc Machos

18 Ulrich Biesinger

18 Lajos Csordás

13 Max Morlock

19 Péter Palotás

15 Ottmar Walter

20 Mihály Tóth

20 Hans Schäfer

 

GOLS:

3′ Sándor Kocsis (HUN)

17′ Ferenc Puskás (HUN)

21′ Sándor Kocsis (HUN)

25′ Alfred Pfaff (ALE)

50′ Nándor Hidegkuti (HUN)

54′ Nándor Hidegkuti (HUN)

67′ Sándor Kocsis (HUN)

73′ József Tóth (HUN)

77′ Helmut Rahn (ALE)

78′ Sándor Kocsis (HUN)

81′ Richard Herrmann (ALE)

Lances da partida:

… 19/06/1938 – Itália 4 x 2 Hungria

Três pontos sobre…
… 19/06/1938 – Itália 4 x 2 Hungria


(Imagem: The Score)

● Um mês e meio antes da Copa, o jornal France Soir dizia que o Brasil era uma incógnita. E arriscou uma previsão certeira: a final seria entre Itália e Hungria, com amplo e maciço favoritismo dos italianos.

A Itália vinha bastante renovada e ainda melhor do que em 1934. Só dois jogadores permaneceram no time titular: o agora capitão Giuseppe Meazza e o atacante Giovanni Ferrari.

Parte da renovação comandada pelo técnico Vittorio Pozzo veio com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1936. A dupla de zaga, Foni e Rava era mais jovem e mais segura que a anterior (Allemandi e Monzeglio). Na posição de centromédio, o truculento Luisito Monti deu lugar a outro oriundi, o uruguaio Michele Andreolo, mais técnico e mais criativo. O ataque estava melhor e mais móvel com Silvio Piola, um centroavante de muita mobilidade, capaz de criar e concluir as jogadas.

Veja mais:
… 05/06/1938 – Itália 2 x 1 Noruega
… 16/06/1938 – Itália 2 x 1 Brasil

A Itália era a atual campeã do mundo e vinha de uma semifinal difícil contra o Brasil, na qual precisou demonstrar todo seu potencial. Antes, teve que passar pela Noruega (2 a 1) e pela anfitriã França (3 a 1). Já a Hungria, para chegar à final, tinha vencido as Índias Holandesas (atual Indonésia, 6 a 0), a Suíça (2 a 0) e a Suécia (5 a 1).

A Squadra Azzurra era a favorita contra a Hungria. Nos quatro anos anteriores, as duas seleções tinham se enfrentado quatro vezes, com três vitórias italianas e um empate.

Os italianos contavam com o mesmo “incentivador” de 1934: o ditador fascista Benito Mussolini. Mas como a Copa agora não era em seu território, o Duce não pôde pressionar FIFA e arbitragem como quatro anos antes. Assim, ele foi se despedir dos atletas antes do embarque para a França. Eis que na véspera da decisão o técnico Vittorio Pozzo recebeu um telegrama assinado pelo secretário-geral do Partido Fascista, Achille Starece, com uma ordem clara de Mussolini: “Vencer ou morrer”. Assim, a Squadra Azzurra não tinha escolha. Posteriormente, o goleiro húngaro Antal Szabó disse que não se importava de ter tomado quatro gols, pois sabia que tinha salvado vidas. Mas a ameaça do Duce nem era necessária, pois a Itália tinha a melhor seleção do mundo.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


A Hungria atuava como praticamente todas as equipes da época, no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● A Itália abriu o placar logo 6 minutos de partida. Após cruzamento alto da direita, a defesa húngara não cortou e o ponta Colaussi, que entrava livre pela esquerda, dominou e, sem deixar a bola cair, chutou de primeira no canto direito do goleiro Szabó.

Em seu primeiro ataque, a Hungria empatou apenas dois minutos depois. Sárosi ergue a bola pelo meio, Sas desviou de cabeça para trás e encontrou Titkos. No bico esquerdo da pequena área, ele mata no peito e bate alto, sem chances de defesa para Olivieri.

Apesar de ter conseguido a igualdade rapidamente, em momento algum os húngaros deram a impressão de que esperavam algo melhor que o vice-campeonato.

Aos 16 minutos, o gol mais bonito do jogo. A Itália trocou passes dentro da área adversária. Começou com Colaussi na esquerda, foi para Piola no meio, que tocou para Ferrari. Mesmo com o gol aberto à sua frente, Ferrari passou para Meazza, na direita. O capitão ainda driblou seu marcador e rolou para Piola, na marca do pênalti. O melhor jogador do torneio dominou e acertou o ângulo esquerdo.

A vantagem italiana aumentou aos 35 do primeiro tempo. Colaussi recebeu um lançamento de 30 metros feito por Meazza. O ponta ganhou na corrida de Polgár e entrou na área. O goleiro Szabó não saiu e Colaussi, quase da linha da pequena área, teve calma para finalizar no canto esquerdo.

A Hungria mostrava clara dificuldade em marcar o jogo mais veloz dos italianos, ficando muito exposta em sua própria área.

No segundo tempo, a Hungria ainda diminuiu. Aos 15 minutos, em um rápido contra-ataque, Titkos avança pela direita e rola a bola no bico da área. Sárosi apareceu de surpresa entre os zagueiros e chutou de primeira no canto esquerdo. Mas nem assim se mandou ao ataque, apesar de todo o apoio da torcida francesa.

A Itália continuou dominando facilmente o jogo, enquanto a Hungria só tentava se defender. A oito minutos do fim, Piola fechou o placar. Biavatti foi lançado pela direita, foi até a linha de fundo e cruzou para trás. Da marca do pênalti, Piola chegou antes da marcação e bateu prensado, mas a bola foi no cantinho direito de Szabó. Foi seu quinto gol no campeonato (dois a menos que o artilheiro Leônidas).

Daí em diante, os húngaros só ficaram esperando o tempo passar e o jogo acabar.


(Imagem: FIFA)

● Quando o árbitro francês Georges Capdeville apitou o fim da partida, a torcida vaiou o time campeão, em uma atitude jamais vista. As vaias só aumentaram quando o capitão Giuseppe Meazza fez a saudação fascista antes de depois de receber a Taça Jules Rimet das mãos do presidente francês, Albert Lebrun, nas tribunas de honra do estádio.

Assim, a Itália, merecidamente, se sagrou bicampeã da Copa do Mundo, feito que apenas o Brasil de 1958 e 1962 conseguiu repetir. O técnico Vittorio Pozzo ainda hoje é o mais vitorioso à frente da seleção, a qual comandou por 19 anos. Além das duas Copas, ele conquistou também a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936.

Na volta à “Velha Bota”, os campeões foram recebidos por Mussolini em Roma, no Palazzo Venezia, a sede do governo. Após abraços e saudações oficiais, cada um recebeu míseras 8.000 liras pela conquista do título (equivalente ao carro mais popular do país em 1938, um Fiat Topolino).

Como curiosidade, o autor do segundo gol da Hungria, o centroavante “Dr. György Sárosi” era um brilhante advogado em seu país. Na Copa de 1934 ele já tinha deixado de participar de um jogo de sua seleção devido ao seu trabalho num escritório de advocacia. Em 1938, às vésperas da Copa, ele estava diante de um caso importante, que poderia lhe render bom retorno profissional e financeiro e, por isso, comunicou à comissão técnica que não disputaria o torneio. Mas devido à sua importância para a equipe, toda a delegação o convenceu a mudar de ideia. Ele foi o capitão do time e um dos destaques da Copa, com cinco gols anotados em quatro jogos.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Giuseppe Meazza e György Sárosi (Imagem: The Score)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 4 x 2 HUNGRIA

 

Data: 19/06/1938

Horário: 17h00 locais

Estádio: Olímpico de Colombes

Público: 45.000

Cidade: Paris (França)

Árbitro: Georges Capdeville (França)

 

ITÁLIA (2-3-5):

HUNGRIA (2-3-5):

Aldo Olivieri (G)

Antal Szabó (G)

Alfredo Foni

Sándor Bíró

Pietro Rava

Gyula Polgár

Pietro Serantoni

Gyula Lázár

Michele Andreolo

György Szűcs

Ugo Locatelli

Antal Szalay

Amedeo Biavati

Pál Titkos

Giuseppe Meazza (C)

Gyula Zsengellér

Silvio Piola

György Sárosi (C)

Giovanni Ferrari

Jenő Vincze

Gino Colaussi

Ferenc Sas

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnicos: Károly Dietz / Alfréd Schaffer

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

József Háda (G)

Carlo Ceresoli (G)

József Pálinkás (G)

Eraldo Monzeglio

Lajos Korányi

Bruno Chizzo

János Dudás

Aldo Donati

István Balogh

Renato Olmi

József Turay

Mario Genta

Béla Sárosi

Mario Perazzolo

Mihály Bíró

Sergio Bertoni

László Cseh

Pietro Ferraris

Vilmos Kohut

Pietro Pasinati

Géza Toldi

 

GOLS:

6′ Gino Colaussi (ITA)

8′ Pál Titkos (HUN)

16′ Silvio Piola (ITA)

35′ Gino Colaussi (ITA)

70′ György Sárosi (HUN)

82′ Silvio Piola (ITA)

Lances da partida:

… 18/06/1978 – Argentina 0 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 18/06/1978 – Argentina 0 x 0 Brasil

“A Batalha de Rosario”


Oscar encara Luque (Imagem localizada no Google)

● Em 1978 a Argentina vivia sob uma ditadura militar, comandada pelo general Jorge Rafael Videla. Assim como em outros países sul-americanos, o futebol era tido como um eficiente meio de propaganda do país ao mundo e uma forma de distração para o povo.

Na segunda partida da segunda fase, Brasil e Argentina se enfrentaram no acanhado estádio Gigante de Arroyito, em busca de uma única vaga na final. A Argentina foi beneficiada pela logística e o Brasil foi prejudicado, pois para disputar as suas sete partidas, o Brasil percorreu 4.659 quilômetros, enquanto a Argentina deslocou-se por apenas 618 quilômetros, entre Buenos Aires e Rosario.

Veja mais:
… 25/06/1978 – Argentina 3 x 1 Holanda
… 06/06/1978 – Argentina 2 x 1 França

Desde que a delegação brasileira viajou de Mendoza para Rosario, o clima não foi fácil. Na madrugada do jogo, a polícia permitiu que os torcedores locais buzinassem à vontade em frente ao Hotel Libertador, onde os brasileiros estavam hospedados. Ao chegar ao estádio, novo momento de pressão: a torcida argentina formou uma espécie de “corredor polonês” para receber os adversários com pedradas.

O Brasil estava invicto há oito anos contra a Argentina. Rivellino, remanescente da equipe campeã em 1970, continuava machucado. O técnico brasileiro era Cláudio Coutinho, preparador físico em 1970 e supervisor da comissão técnica em 1974. Ele não convocou o meia Falcão, eleito o melhor jogador do Brasileirão de 1978, que teria criticado certas atitudes suas.

A seleção da Argentina festejava o retorno do centroavante Leopoldo Luque, que ficou fora de dois jogos – um deles por causa de uma contusão no braço e outro devido à morte de um irmão em um acidente, no qual seu caminhão bateu e pegou fogo. Com a volta de Luque, Kempes jogou mais recuado.

Curiosamente, a numeração dos jogadores da Argentina foi feita pela ordem alfabética dos sobrenomes, independentemente da posição. Assim, o volante Alonso ficou com a camisa 1, enquanto o goleiro titular Fillol ficou com a de número 5.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.


O Brasil foi escalado em um 4-3-3 defensivo, que se tornava um 4-4-2 com a boa recomposição de Dirceu.

● Na partida que terminou em 0 a 0, a violência ganhou de goleada. Foi um festival sem fim de pontapés, cotoveladas e até cusparadas.

O técnico Coutinho estava ciente da pressão que sua equipe enfrentaria e escalou um time mais forte fisicamente. Chicão e Batista lutavam por todas as bolas. Chicão colou em Kempes e Batista marcou Ardiles, mais rápido. Jorge Mendonça recuava para marcar, mas também dava tranquilidade na armação das jogadas. Dirceu, com um físico privilegiado, fechava pelo meio e avançava pela ponta. Na frente, Gil e Roberto Dinamite ficaram isolados.

Com Toninho Cerezo sentindo dores, o técnico Cláudio Coutinho optou pela valentia e disciplina tática de Chicão, volante do São Paulo. Ele foi escolhido justamente por seu estilo vigoroso de disputar cada lance. Ele foi encarregado de marcar o craque portenho, Mario Kempes. Cumpriu sua função e eclipsou Kempes da partida, mesmo sendo provocado o tempo todo. Provavelmente foi a melhor partida de Chicão em toda sua carreira.

Com dez segundos, Luque acertou um chute sem bola em Batista, já demonstrando o tom bélico que seriam os 90 minutos. Foram seis faltas nos três minutos iniciais. Nos primeiros 12 minutos, 14 faltas. No total, foram 51 infrações, o recorde em uma partida desse Mundial. Intimidado, o árbitro húngaro Károly Palotai fazia vista grossa para as agressões dos argentinos. Assim, nada restava aos brasileiros, a não ser pagar com a mesma moeda.

Por diversas vezes o time argentino certou o árbitro. E tudo foi aceito com naturalidade, exceto pelo capitão Leão, que foi contido por seus colegas ao entrar em atrito com Luque. Leão ficava instigando sua defesa para que acertasse Luque no braço machucado.

Ainda no primeiro tempo, o grandalhão Luque tirou Oscar da jogada com uma cotovelada e cruzou para Galván errar a conclusão. Apesar das entradas duras de Oscar e de Chicão, Luque continuava batendo sem bola e a cada falta que recebia, ele simulava ter sido agredido.

Aos 16 minutos, Gil ganhou na corrida de dois defensores e chutou cruzado, mas Fillol defendeu. Mas a chance mais clara de gol foi desperdiçada. Roberto Dinamite recebeu lançamento, entrou na área e finalizou, mas Fillol defendeu com as pernas. A Argentina teve uma única chance, perdida por Ortiz após cruzamento de Bertoni.

Ainda no primeiro tempo, o técnico Cláudio Coutinho trocou o lesionado Rodrigues Neto por Edinho, na tentativa de fechar melhor os espaços do ponta direita Bertoni. Mas ocorreu o contrário. O zagueiro improvisado na lateral perdeu todos os lances, o que exigia a sempre excelente cobertura de Amaral. Bertoni cuspia tanto que parecia um chafariz.

No fim da primeira etapa, Ardiles torceu o tornozelo e saiu carregado com a ajuda de Toninho, em um raro momento de fair play. No intervalo, foi substituído por Ricardo Villa, que entrou só para bater (e bateu muito).

A partida era tensa, com a marcação prevalecendo. Poucas chances foram criadas. Oscar foi impecável no jogo aéreo, o forte da Argentina (além de valente em todas as disputas). Na direita, Toninho conseguiu conter as firulas de Ortiz e até conseguiu avançar com frequência.

A medida que o jogo foi se aproximando do fim, as pancadas foram diminuindo e o Brasil pôde mostrar seu melhor futebol. Os argentinos estiveram nervosos o tempo todo. Os minutos se passaram sem que a Argentina conseguisse impor seu ritmo. A barulhenta torcida por vezes se calava, vendo a dificuldade de seu time em sair da própria defesa.

Apesar da batalha, no fim, surpreendentemente, os jogadores adversários trocaram camisas e se abraçaram.


Chicão domina a bola no meio de campo, em cena comum na partida (Imagem localizada no Google)

● O resultado de 0 a 0 foi bom para a Argentina, pois o Brasil jogou melhor. Com a igualdade no placar, as duas seleções tinham chances na última rodada, disputada três dias depois.

Na primeira fase, a Seleção Brasileira empatou com a Suécia por 1 a 1 e com a Espanha por 0 a 0; venceu a Áustria por mísero 1 a 0. Já na segunda fase (também disputada em grupos com quatro equipes), venceu o Peru por 3 a 0, empatou sem gols com os anfitriões argentinos e venceu a Polônia por 3 a 1. Na decisão do 3º lugar, o Brasil venceu a Itália por 2 a 1 e foi a única equipe que terminou a Copa invicta. Segundo o técnico Cláudio Coutinho, o Brasil foi o verdadeiro “campeão moral” da Copa.

Por sua vez, a Argentina estreou batendo a Hungria (2 a 1) e a França (2 a 1), além de perder para a Itália por 1 a 0. Na fase seguinte, venceu a Polônia (2 a 0) e empatou com o Brasil (0 a 0). Na última rodada, enquanto os brasileiros venceram os poloneses jogando às 16h45, o jogo dos argentinos contra o Peru começou apenas 17h15. Ou seja, a Argentina sabia que necessitava vencer o adversário por quatro ou mais gols de diferença para chegar à final. Antes da partida, o general Videla e o diplomata dos EUA Henry Kissinger foram ao vestiário peruano ter uma conversa “misteriosa” com os jogadores. Há várias “teorias da conspiração, envolvendo inclusive o Cartel de Cali. Com uma complacência nunca antes vista por parte dos peruanos (inclusive do goleiro Ramón Quiroga, argentino naturalizado), a Argentina goleou por 6 a 0, chegando à final contra a Holanda (que veremos no próximo dia 25/06).


Chicão estapeia Kempes. O craque argentino foi anulado pelo volante brasileiro (Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 0 x 0 BRASIL

 

Data: 18/06/1978

Horário: 19h15 locais

Estádio: Gigante de Arroyito

Público: 37.326

Cidade: Rosario (Argentina)

Árbitro: Károly Palotai (Hungria)

 

ARGENTINA (4-3-3):

BRASIL (4-3-3):

5  Ubaldo Fillol (G)

1  Leão (G)(C)

15 Jorge Olguín

2  Toninho Baiano

7  Luis Galván

3  Oscar

19 Daniel Passarella (C)

4  Amaral

20 Alberto Tarantini

16 Rodrigues Neto

2  Osvaldo Ardiles

21 Chicão

6  Américo Gallego

17 Batista

10 Mario Kempes

19 Jorge Mendonça

4  Daniel Bertoni

18 Gil

14 Leopoldo Luque

20 Roberto Dinamite

16 Oscar Alberto Ortiz

11 Dirceu

 

Técnico: César Luis Menotti

Técnico: Cláudio Coutinho

 

SUPLENTES:

 

 

3  Héctor Baley (G)

12 Carlos (G)

13 Ricardo La Volpe (G)

22 Waldir Peres (G)

18 Rubén Pagnanini

13 Nelinho

11 Daniel Killer

14 Abel Braga

8  Rubén Galván

15 Polozzi

12 Omar Larrosa

6  Edinho

17 Miguel Oviedo

5  Toninho Cerezo

21 José Daniel Valencia

10 Rivellino

1  Norberto Alonso

8  Zico

22 Ricardo Villa

7  Sérgio

9  René Houseman

9  Reinaldo

 

CARTÕES AMARELOS:

Ricardo Villa (ARG)

Chicão (BRA)

Edinho (BRA)

Zico (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

34′ Rodrigues Neto (BRA) ↓

Edinho (BRA)

 

INTERVALO Osvaldo Ardiles (ARG) ↓

Ricardo Villa (ARG)

 

60′ Oscar Alberto Ortiz (ARG) ↓

Norberto Alonso (ARG) ↓

 

67′ Jorge Mendonça (BRA) ↓

Zico (BRA)

Melhores (e piores) momentos da partida:

Jogo completo:

… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

Três pontos sobre…
… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

“O jogo do século”


(Imagem localizada no Google)

● As duas seleções chegavam às semifinais em situações opostas. Três dias antes, a Itália venceu com tranquilidade o México por 4 a 1. Em compensação, a Alemanha Ocidental sofria, ao precisar de uma dura prorrogação para passar pela Inglaterra por 3 a 2. Os alemães chegavam ainda cansados, com uma intensa fadiga muscular, impossível de ser recuperada em apenas três dias. Oito titulares contra os ingleses estavam entre os onze que enfrentariam os italianos.

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Completa, com todos seus titulares e fisicamente bem, a Itália era a favorita.


Ambas as equipes jogavam com líberos, mas em estilos diferentes. Se na Itália o líbero Pierluigi Cera jogava atrás de linha de zaga, na Alemanha Franz Beckenbauer jogava à frente da defesa.

● Comprovando o favoritismo inicial, logo aos oito minutos de jogo, Boninsegna tabelou com Gigi Riva na intermediária e, mesmo marcado, acertou um belo chute da entrada da área, no canto direito de Maier, inaugurando o marcador.

Parecia ser o começo de uma vitória fácil, pois o jogo estava nãos mãos dos italianos. Mas aconteceu o que ninguém até hoje entendeu: ao invés de abusar da velocidade e do talento de Sandro Mazzola e tentar ampliar o placar, a Itália recuou progressivamente e passou a tocar a bola. No intervalo, o erro crasso: o técnico retranqueiro Ferruccio Valcareggi trocou Mazzola por Gianni Rivera, para cadenciar ainda mais o jogo.

Com um ritmo mais lento, a Alemanha sentia menos o cansaço. O técnico Helmut Schön era uma raposa e mandou seu time para cima. Substituiu o ponta esquerda Löhr por Libuda, um atacante mais incisivo; trocou também Patzke (um meia defensivo) por Held (outro atacante). Com isso, os alemães pressionavam e a Itália se defendia.

Até acontecer o lance mais marcante da partida. Aos 25 minutos do segundo tempo, Beckenbauer foi derrubado por Cera na entrada da área e, na queda, deslocou seu ombro direito. Como eram permitidas somente duas substituições na época, ou ele sairia e deixaria sua seleção com dez homens, ou ele imobilizaria o braço e ficaria em campo para inspirar seus companheiros. Com o braço pregado ao corpo com ataduras e esparadrapos, ele voltou ao gramado. Mesmo com os movimentos restritos, o “Kaiser” continuou liderando a equipe de dentro de campo. Foi um dos gestos mais heroicos de todas as Copas (que seria repetido por Gamarra 28 anos depois).


Beckenbauer foi atendido pela equipe médica e voltou a campo com uma tipoia (Imagens localizadas no Google)

A Alemanha Ocidental foi premiada pela luta. Aos 47 minutos do segundo tempo, quando o péssimo árbitro peruano Arturo Yamasaki já olhava para o relógio, Grabowski cruzou da esquerda e o zagueiro Schnellinger (que já estava no ataque, no “tudo ou nada”), livre de marcação, finalizou de carrinho, dentro da pequena área. Empate alemão. A curiosidade é que Schnellinger atuava no Milan.

Seriam outra prorrogação extenuante para os alemães. Em três dias, era o segundo clássico duríssimo que os alemães iriam tentar vencer após 90 minutos. Esgotados, seria a maior prova do limite físico daqueles atletas, que já estavam na história dos Mundiais.

● Esses 30 minutos podem e merecem ser contados como uma história à parte.


A Itália mantinha a equipe compacta, apostando no talento de Rivera, Riva e Boninsegna. Já a Alemanha, já toda desfigurada e sem contar com Beckenbauer em suas melhores condições, estava com praticamente cinco atacantes, apostando em um estilo mais direto.

Aí começou a maior prorrogação da história do futebol, o que fez esse jogo ser considerado o maior o século XX. Foram 30 minutos eletrizantes, intensos e cheios de reviravoltas, como só a alma alemã e o drama italiano podem proporcionar. Mesmo debaixo de um calor terrível, os atletas fizeram um esforço homérico, deliciando os 102.444 presentes no estádio Azteca.

Aos quatro minutos, Libuda cobrou escanteio e Grabowski cabeceou fraco. O zagueiro Poletti ficou com a bola e recuou errado com o peito para o goleiro Albertosi. Mas Gerd Müller aproveitou, apareceu entre os dois e tocou mansamente para o fundo do gol. Era a virada alemã.

Atrás no placar, a Itália foi toda para o ataque. Aos oito minutos, Rivera cobra uma falta, Held se atrapalha ao tentar afastar a bola e ela sobra limpa para o lateral Burgnich encher o pé. 2 a 2. Os jornalistas italianos, críticos, diziam que essa foi a primeira investida ofensiva da carreira de Burgnich.

Aos 13, Domenghini avança pela esquerda e lança Riva. Ele demonstra toda sua qualidade ao driblar Schulz na entrada da área e acertar um chute bem no cantinho esquerdo do goleiro Sepp Maier. Nova virada, 3 a 2.

Aos 5 do segundo tempo, Overath cobra escanteio curto para Libuda, que ergue para a área. Uwe Seeler escora pelo alto e Gerd Müller, na pequena área, desvia de cabeça para o gol, empatando novamente. 3 a 3.

Era impossível prever o que viria. Não se sabia de onde os alemães tiravam forças para reagir. Mas… era a Alemanha!

Mas apenas um minuto depois, Facchetti lança Boninsegna na esquerda. Ele passa na corrida por Schulz e cruza para o meio da área. Rivera, livre, chutou rasteiro no contrapé de Sepp Maier. 4 a 3 para a Itália.

Mesmo lutando como sempre, os alemães não conseguiram chegar a um novo empate. Já havia feito mais do que todos esperavam. Caíram de pé e receberam os aplausos do mundo.

Quando o árbitro apitou pela última vez, todos sabiam que tinham assistido a um épico, à maior partida de todas as Copas e (talvez) a melhor da história do futebol.


Cera e Müller disputam a bola (Imagem localizada no Google)

● Se algum dia alguém perguntar o que é futebol, a melhor resposta seria um VT com os 30 minutos finais dessa semifinal. É a resposta mais fidedigna do que é futebol.

Todos estavam tão fascinados, que 23 presos fugiram de uma cadeia na cidade mexicana de Tixtla, perto de Acapulco, porque todos os guardas estavam assistindo à partida em um bar próximo.

Depois de 240 minutos disputados em três dias, a Alemanha mandou um time misto para decidir o 3º lugar contra o Uruguai, vencendo por 1 a 0. Esse mesmo time base se sagraria campeão da Copa de 1974, jogando em casa, como contamos aqui.


Os capitães Facchetti e Uwe Seeler se cumprimentam antes da partida (Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 4 x 3 ALEMANHA OCIDENTAL

 

Data: 17/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 102.444

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Arturo Yamasaki (Peru)

 

ITÁLIA (4-2-4):

ALEMANHA OCIDENTAL (4-2-4):

1  Enrico Albertosi (G)

1  Sepp Maier (G)

2  Tarcisio Burgnich

7  Berti Vogts

5  Pierluigi Cera

5  Willi Schulz

8  Roberto Rosato

3  Karl-Heinz Schnellinger

3  Giacinto Facchetti (C)

15 Bernd Patzke

10 Mario Bertini

4  Franz Beckenbauer

16 Giancarlo De Sisti

12 Wolfgang Overath

15 Sandro Mazzola

17 Hannes Löhr

13 Angelo Domenghini

9  Uwe Seeler (C)

20 Roberto Boninsegna

13 Gerd Müller

11 Luigi Riva

20 Jürgen Grabowski

 

Técnico: Ferruccio Valcareggi

Técnico: Helmut Schön

 

SUPLENTES:

 

 

12 Dino Zoff (G)

21 Manfred Manglitz (G)

17 Lido Vieri (G)

22 Horst Wolter (G)

4  Fabrizio Poletti

11 Klaus Fichtel

6  Ugo Ferrante

6  Wolfgang Weber

7  Comunardo Niccolai

2  Horst-Dieter Höttges

9  Giorgio Puia

18 Klaus-Dieter Sieloff

21 Giuseppe Furino

16 Max Lorenz

14 Gianni Rivera

19 Peter Dietrich

18 Antonio Juliano

8  Helmut Haller

22 Pierino Prati

10 Sigfried Held

19 Sergio Gori

14 Stan Libuda

 

GOLS:

8′ Roberto Boninsegna (ITA)

90′ Karl-Heinz Schnellinger (ALE)

94′ Gerd Müller (ALE)

98′ Tarcisio Burgnich (ITA)

104′ Luigi Riva (ITA)

110′ Gerd Müller (ALE)

111′ Gianni Rivera (ITA)

 

CARTÕES AMARELOS:

Wolfgang Overath (ALE)

Roberto Rosato (ITA)

Gerd Müller (ALE)

Angelo Domenghini (ITA)

Giancarlo De Sisti (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO’ Sandro Mazzola (ITA) ↓

Gianni Rivera (ITA) ↑

 

52′ Hannes Löhr (ALE) ↓

Stan Libuda (ALE) ↑

 

66′ Bernd Patzke (ALE) ↓

Sigfried Held (ALE) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO Roberto Rosato (ITA) ↓

Fabrizio Poletti (ITA) ↑

Melhores momentos da partida, com narração em português:

Todos os gols do jogo:

Partida completa:

… 16/06/1938 – Itália 2 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 16/06/1938 – Itália 2 x 1 Brasil


Piola passa pela defesa brasileira (Imagem: Pinterest)

● Nenhuma partida é fácil em uma Copa do Mundo. Em 1938, após a vitória na estreia sobre a Polônia por 6 a 5 na prorrogação, o Brasil enfrentou a Tchecoslováquia (vice-campeã da Copa anterior). Após um empate em 1 a 1, foi necessário o jogo desempate, vencido pelos brasileiros por 2 a 1. Nessa segunda partida, o técnico Ademar Pimenta escalou a equipe com nove alterações em relação à anterior. As exceções era o goleiro Walter e o centroavante Leônidas da Silva, que só foi escalado porque Niginho, seu reserva imediato, estava com a documentação irregular junto à FIFA.

Veja mais:
… 05/06/1938 – Brasil 6 x 5 Polônia
… 12/06/1938 – Brasil 1 x 1 Tchecoslováquia

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Por ironia do destino, Leônidas (já combalido pelos pontapés do primeiro embate contra os tchecos) se exauriu no jogo seguinte e não pôde jogar a semifinal contra a Itália. Por muito tempo Ademar Pimenta foi acusado de ter poupado Leônidas contra a Itália para resguardá-lo para a final, o que não é verdade, pois ele era imprescindível para todos os jogos.

Sem Leônidas e sem Tim (melhor da segunda partida contra os tchecos), o Brasil perdeu seu encanto e se tornou um time comum. Romeu, que era meia, foi improvisado como centroavante. A linha de frente do Brasil foi formada por Lopes, Luisinho, Romeu, Perácio e Patesko. Esse ataque nunca havia atuado junto.

Campeões em 1934, os italianos renovaram e fortaleceram toda a seleção, especialmente no ataque, com a entrada de Silvio Piola na equipe. Ele foi o melhor jogador da Copa de 1938, na qual anotou cinco gols.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.

O Brasil também atuava no “sistema clássico”, o 2-3-5. Com Romeu improvisado como centroavante, ninguém atuou fixo na área. Por mais que o ataque tenha tido mais mobilidade, pois outro lado, faltou presença física na área adversária.

● O jogo começa com as duas seleções pressionando as defesas contrárias. O Brasil esteve bem no primeiro tempo, com tabelas rápidas e dribles imprevisíveis no ataque, mas sem criar chances claras de gols. Em uma etapa equilibrada, as duas defesas se sobressaiam aos ataques. Mas a situação foi bem diferente no segundo tempo.

Logo aos seis minutos, na primeira vez que conseguiu escapar da marcação, o atacante Piola se antecipou a Domingos da Guia e tocou na esquerda para Gino Colaussi, livre para chutar forte e rasteiro, à esquerda do goleiro Walter e fazer 1 a 0.

A Seleção Brasileira correu atrás do empate, mas aos 15 minutos houve o lance capital da partida. Do meio campo, o árbitro suíço Hans Wüthrich flagrou uma agressão de Domingos sobre Piola dentro da área e assinalou pênalti. O zagueiro brasileiro aproveitou que a bola estava longe da área e, fora do lance, deu um chute no joelho do atacante, revidando as inúmeras provocações feitas pelo italiano. Domingos jura que a partida estava paralisada, mas a verdade é que, naquele momento, a defesa brasileira havia rebatido uma bola para o meio campo e o jogo estava em andamento.

“O jogo estava parado. Piola vinha na corrida e me atingiu com um pontapé, que eu revidei. Admitiria que o juiz fosse rigoroso comigo. Mas não podia prejudicar o time com o jogo parado.” — Domingos da Guia, em sua versão sobre o pênalti.

Domingos da Guia, considerado por muitos como o melhor e mais técnico zagueiro brasileiro da história, cometeu três pênaltis em quatro partidas na Copa de 1938. Neste sobre Piola, Domingos foi irresponsável.

Mesmo com protestos brasileiros, a penalidade foi ratificada. Na hora de bater o pênalti, o italiano Giuseppe Meazza resolveu amarrar melhor o calção, mas acabou rompendo o cordão. Assim, com a mão na cintura para segurar o calção, ele converteu o pênalti, no ângulo direito. Ao comemorar o gol, Meazza levantou os dois braços e deixou o calção cair, em uma cena hilária. Depois do gol, ele finalmente trocou a vestimenta para terminar a partida.

Depois do segundo gol, a Itália se retraiu. No fim da partida, Romeu fez uma bela jogada individual e tocou no canto de Olivieri, para diminuir o marcador. Mas insuficiente para levar o Brasil à sua primeira decisão de Copa.

A Itália chegava em sua segunda final consecutiva, como favorita.


A defesa brasileira rechaça um cruzamento italiano (Imagem: FIFA)

● Horas após o jogo, a Rádio Tupi soltou o furo de reportagem de que a partida seria anulada e disputada novamente, por causa do erro da arbitragem na marcação do pênalti. Mas não era verdade. O médico brasileiro Castello Branco realmente fez uma reclamação formal, mas a verdade é que a FIFA nunca considerou a possibilidade da anulação.

O Brasil estava tão confiante na vitória sobre a Itália, que já havia comprado as passagens aéreas de Marselha para Paris, onde seria a final da Copa. Depois da derrota, por pura raiva, os brasileiros se recusaram a ceder as passagens aos italianos, obrigando-os a fazer essa viagem de trem.

A qualidade técnica dos jogadores brasileiros era bastante apreciada pela torcida e pelos jornais franceses, mas não repercutia bem no resto do mundo. A pecha de “artistas da bola” não era vista como uma coisa boa, pois não resultava em títulos. Assim, o Brasil foi aplaudido pelo bom futebol que demonstrou, mas era criticado por ser frágil tática e psicologicamente. Com excessivas trocas de passes curtos e laterais, o ataque brasileiro era muito lento, permitindo o melhor posicionamento das equipes adversárias. Era um estilo bonito, mas não dava resultados em campo.

A imprensa brasileira também via os defeitos da Seleção. Segundo o jornal Sport Ilustrado, a Itália mereceu vencer, pois tinha jogado melhor e que o Brasil tinha tido “um ataque inoperante e sem energia e uma linha média parada e pouco combatida, salvando-se apenas a defesa”.

Brasil e Itália certamente foram as duas melhores equipes da competição. Pena que se encontraram na semifinal e não na decisão.

A polícia brasileira teve que intervir em algumas capitais, detendo várias pessoas raivosas e frustradas pela derrota para a Itália.

Com Leônidas da Silva de volta, o Brasil fez história na decisão do 3º lugar. Após sair perdendo por 2 a 0, a Seleção virou o placar para 4 a 2 e fez a sua melhor campanha em Copas até então. Essa foi a maior virada do Brasil em uma Copa até hoje.

Leônidas da Silva foi o artilheiro do certame com sete gols, sendo o único brasileiro a marcar gols em todas as partidas que disputou em Copas (fez um gol também em 1934).

Aproveitando-se da popularidade de Leônidas, a Lacta lançou a barra de chocolate “Diamante Negro”, em referência ao apelido que o craque tinha recebido dos uruguaios em 1932.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Martim Silveira e Giuseppe Meazza (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 1 BRASIL

 

Data: 16/06/1938

Horário: 18h00 locais

Estádio: Vélodrome

Público: 33.000

Cidade: Marselha (França)

Árbitro: Hans Wüthrich (Suíça)

 

ITÁLIA (2-3-5):

BRASIL (2-3-5):

Aldo Olivieri (G)

Walter (G)

Alfredo Foni

Domingos da Guia

Pietro Rava

Machado

Pietro Serantoni

Zezé Procópio

Michele Andreolo

Martim Silveira (C)

Ugo Locatelli

Afonsinho

Amedeo Biavati

Lopes

Giuseppe Meazza (C)

Luisinho Mesquita de Oliveira

Silvio Piola

Romeu Pellicciari

Giovanni Ferrari

Perácio

Gino Colaussi

Patesko

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Ademar Pimenta

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Batatais (G)

Carlo Ceresoli (G)

Jaú

Eraldo Monzeglio

Nariz

Bruno Chizzo

Britto

Aldo Donati

Brandão

Renato Olmi

Argemiro

Mario Genta

Roberto

Mario Perazzolo

Niginho

Sergio Bertoni

Leônidas da Silva

Pietro Ferraris

Tim

Pietro Pasinati

Hércules

 

GOLS:

51′ Gino Colaussi (ITA)

60′ Giuseppe Meazza (ITA) (pen)

87′ Romeu Pellicciari (BRA) 

Lances da partida: