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… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

Três pontos sobre…
… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

“O jogo do século”


(Imagem localizada no Google)

● As duas seleções chegavam às semifinais em situações opostas. Três dias antes, a Itália venceu com tranquilidade o México por 4 a 1. Em compensação, a Alemanha Ocidental sofria, ao precisar de uma dura prorrogação para passar pela Inglaterra por 3 a 2. Os alemães chegavam ainda cansados, com uma intensa fadiga muscular, impossível de ser recuperada em apenas três dias. Oito titulares contra os ingleses estavam entre os onze que enfrentariam os italianos.

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Completa, com todos seus titulares e fisicamente bem, a Itália era a favorita.


Ambas as equipes jogavam com líberos, mas em estilos diferentes. Se na Itália o líbero Pierluigi Cera jogava atrás de linha de zaga, na Alemanha Franz Beckenbauer jogava à frente da defesa.

● Comprovando o favoritismo inicial, logo aos oito minutos de jogo, Boninsegna tabelou com Gigi Riva na intermediária e, mesmo marcado, acertou um belo chute da entrada da área, no canto direito de Maier, inaugurando o marcador.

Parecia ser o começo de uma vitória fácil, pois o jogo estava nãos mãos dos italianos. Mas aconteceu o que ninguém até hoje entendeu: ao invés de abusar da velocidade e do talento de Sandro Mazzola e tentar ampliar o placar, a Itália recuou progressivamente e passou a tocar a bola. No intervalo, o erro crasso: o técnico retranqueiro Ferruccio Valcareggi trocou Mazzola por Gianni Rivera, para cadenciar ainda mais o jogo.

Com um ritmo mais lento, a Alemanha sentia menos o cansaço. O técnico Helmut Schön era uma raposa e mandou seu time para cima. Substituiu o ponta esquerda Löhr por Libuda, um atacante mais incisivo; trocou também Patzke (um meia defensivo) por Held (outro atacante). Com isso, os alemães pressionavam e a Itália se defendia.

Até acontecer o lance mais marcante da partida. Aos 25 minutos do segundo tempo, Beckenbauer foi derrubado por Cera na entrada da área e, na queda, deslocou seu ombro direito. Como eram permitidas somente duas substituições na época, ou ele sairia e deixaria sua seleção com dez homens, ou ele imobilizaria o braço e ficaria em campo para inspirar seus companheiros. Com o braço pregado ao corpo com ataduras e esparadrapos, ele voltou ao gramado. Mesmo com os movimentos restritos, o “Kaiser” continuou liderando a equipe de dentro de campo. Foi um dos gestos mais heroicos de todas as Copas (que seria repetido por Gamarra 28 anos depois).


Beckenbauer foi atendido pela equipe médica e voltou a campo com uma tipoia (Imagens localizadas no Google)

A Alemanha Ocidental foi premiada pela luta. Aos 47 minutos do segundo tempo, quando o péssimo árbitro peruano Arturo Yamasaki já olhava para o relógio, Grabowski cruzou da esquerda e o zagueiro Schnellinger (que já estava no ataque, no “tudo ou nada”), livre de marcação, finalizou de carrinho, dentro da pequena área. Empate alemão. A curiosidade é que Schnellinger atuava no Milan.

Seriam outra prorrogação extenuante para os alemães. Em três dias, era o segundo clássico duríssimo que os alemães iriam tentar vencer após 90 minutos. Esgotados, seria a maior prova do limite físico daqueles atletas, que já estavam na história dos Mundiais.

● Esses 30 minutos podem e merecem ser contados como uma história à parte.


A Itália mantinha a equipe compacta, apostando no talento de Rivera, Riva e Boninsegna. Já a Alemanha, já toda desfigurada e sem contar com Beckenbauer em suas melhores condições, estava com praticamente cinco atacantes, apostando em um estilo mais direto.

Aí começou a maior prorrogação da história do futebol, o que fez esse jogo ser considerado o maior o século XX. Foram 30 minutos eletrizantes, intensos e cheios de reviravoltas, como só a alma alemã e o drama italiano podem proporcionar. Mesmo debaixo de um calor terrível, os atletas fizeram um esforço homérico, deliciando os 102.444 presentes no estádio Azteca.

Aos quatro minutos, Libuda cobrou escanteio e Grabowski cabeceou fraco. O zagueiro Poletti ficou com a bola e recuou errado com o peito para o goleiro Albertosi. Mas Gerd Müller aproveitou, apareceu entre os dois e tocou mansamente para o fundo do gol. Era a virada alemã.

Atrás no placar, a Itália foi toda para o ataque. Aos oito minutos, Rivera cobra uma falta, Held se atrapalha ao tentar afastar a bola e ela sobra limpa para o lateral Burgnich encher o pé. 2 a 2. Os jornalistas italianos, críticos, diziam que essa foi a primeira investida ofensiva da carreira de Burgnich.

Aos 13, Domenghini avança pela esquerda e lança Riva. Ele demonstra toda sua qualidade ao driblar Schulz na entrada da área e acertar um chute bem no cantinho esquerdo do goleiro Sepp Maier. Nova virada, 3 a 2.

Aos 5 do segundo tempo, Overath cobra escanteio curto para Libuda, que ergue para a área. Uwe Seeler escora pelo alto e Gerd Müller, na pequena área, desvia de cabeça para o gol, empatando novamente. 3 a 3.

Era impossível prever o que viria. Não se sabia de onde os alemães tiravam forças para reagir. Mas… era a Alemanha!

Mas apenas um minuto depois, Facchetti lança Boninsegna na esquerda. Ele passa na corrida por Schulz e cruza para o meio da área. Rivera, livre, chutou rasteiro no contrapé de Sepp Maier. 4 a 3 para a Itália.

Mesmo lutando como sempre, os alemães não conseguiram chegar a um novo empate. Já havia feito mais do que todos esperavam. Caíram de pé e receberam os aplausos do mundo.

Quando o árbitro apitou pela última vez, todos sabiam que tinham assistido a um épico, à maior partida de todas as Copas e (talvez) a melhor da história do futebol.


Cera e Müller disputam a bola (Imagem localizada no Google)

● Se algum dia alguém perguntar o que é futebol, a melhor resposta seria um VT com os 30 minutos finais dessa semifinal. É a resposta mais fidedigna do que é futebol.

Todos estavam tão fascinados, que 23 presos fugiram de uma cadeia na cidade mexicana de Tixtla, perto de Acapulco, porque todos os guardas estavam assistindo à partida em um bar próximo.

Depois de 240 minutos disputados em três dias, a Alemanha mandou um time misto para decidir o 3º lugar contra o Uruguai, vencendo por 1 a 0. Esse mesmo time base se sagraria campeão da Copa de 1974, jogando em casa, como contamos aqui.


Os capitães Facchetti e Uwe Seeler se cumprimentam antes da partida (Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 4 x 3 ALEMANHA OCIDENTAL

 

Data: 17/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 102.444

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Arturo Yamasaki (Peru)

 

ITÁLIA (4-2-4):

ALEMANHA OCIDENTAL (4-2-4):

1  Enrico Albertosi (G)

1  Sepp Maier (G)

2  Tarcisio Burgnich

7  Berti Vogts

5  Pierluigi Cera

5  Willi Schulz

8  Roberto Rosato

3  Karl-Heinz Schnellinger

3  Giacinto Facchetti (C)

15 Bernd Patzke

10 Mario Bertini

4  Franz Beckenbauer

16 Giancarlo De Sisti

12 Wolfgang Overath

15 Sandro Mazzola

17 Hannes Löhr

13 Angelo Domenghini

9  Uwe Seeler (C)

20 Roberto Boninsegna

13 Gerd Müller

11 Luigi Riva

20 Jürgen Grabowski

 

Técnico: Ferruccio Valcareggi

Técnico: Helmut Schön

 

SUPLENTES:

 

 

12 Dino Zoff (G)

21 Manfred Manglitz (G)

17 Lido Vieri (G)

22 Horst Wolter (G)

4  Fabrizio Poletti

11 Klaus Fichtel

6  Ugo Ferrante

6  Wolfgang Weber

7  Comunardo Niccolai

2  Horst-Dieter Höttges

9  Giorgio Puia

18 Klaus-Dieter Sieloff

21 Giuseppe Furino

16 Max Lorenz

14 Gianni Rivera

19 Peter Dietrich

18 Antonio Juliano

8  Helmut Haller

22 Pierino Prati

10 Sigfried Held

19 Sergio Gori

14 Stan Libuda

 

GOLS:

8′ Roberto Boninsegna (ITA)

90′ Karl-Heinz Schnellinger (ALE)

94′ Gerd Müller (ALE)

98′ Tarcisio Burgnich (ITA)

104′ Luigi Riva (ITA)

110′ Gerd Müller (ALE)

111′ Gianni Rivera (ITA)

 

CARTÕES AMARELOS:

Wolfgang Overath (ALE)

Roberto Rosato (ITA)

Gerd Müller (ALE)

Angelo Domenghini (ITA)

Giancarlo De Sisti (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO’ Sandro Mazzola (ITA) ↓

Gianni Rivera (ITA) ↑

 

52′ Hannes Löhr (ALE) ↓

Stan Libuda (ALE) ↑

 

66′ Bernd Patzke (ALE) ↓

Sigfried Held (ALE) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO Roberto Rosato (ITA) ↓

Fabrizio Poletti (ITA) ↑

Melhores momentos da partida, com narração em português:

Todos os gols do jogo:

Partida completa:

… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra


Gerd Müller marca o gol da virada alemã (Imagem: Daily Mail)

● Prejudicada por ter caído no grupo do Brasil, a Inglaterra ficou em segundo lugar na primeira fase. Por isso, nas quartas de final, teve que enfrentar logo de cara a Alemanha Ocidental. Era a reedição da decisão de quatro anos antes, mas dessa vez os ingleses não jogaram em casa. Muito pelo contrário. Para os mexicanos, a Inglaterra era inimiga.

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Os ingleses tinham medo do chamado “mal de Montezuma“, uma intoxicação alimentar que ataca alguns estrangeiros no México. Por isso, levaram quilos de comida e toda a água que consumiriam no país. Um jornalista local descobriu o fato e logo a manchete estava estampada: “Sua majestade nos chamou de porcos!” Esse fato revoltou a população local. Os mexicanos passaram a fazer barulho em frente os hotéis em que a delegação inglesa se hospedava, para atrapalhar o sono dos atletas. E em todas as partidas, a Inglaterra era vaiada do início ao fim.

Mesmo com todos esses “cuidados”, por ironia do destino, o lendário goleiro Gordon Banks teve uma diarreia e não disputou a partida contra os alemães. Em seu lugar jogou o irregular (para não falar ruim) Peter Bonetti, do Chelsea.

Mesmo sem Banks, a partida tinha onze remanescentes a decisão de 1966.


Alemanha jogava no 4-2-4, com Beckenbauer como volante à frente da defesa.


A Inglaterra atuava no seu 4-4-2 clássico, com duas linhas de quatro.

● Nos primeiros segundos, Franz Beckenbauer, o “Kaiser” (imperador), avançou e chutou de perna esquerda, da intermediária, mas a bola foi para fora.

Os campeões do mundo abriram o placar aos 31 minutos de partida. O lateral Keith Newton rolou da direita para a pequena área e o volante Alan Mullery se antecipou a um adversário, desviando para o gol.

O primeiro tempo terminou assim, para alegria dos poucos torcedores britânicos em León. Apesar do calor, a Inglaterra demonstrou melhor preparo físico.

Aos 4 minutos do segundo tempo, Alan Ball rouba a bola e inicia o contra-ataque. Geoff Hurst recebe e toca para Newton. De novo o lateral inglês cruza da direita, no segundo pau. Peters aparece à frente de um zagueiro e, na pequena área, escora para o gol. Sepp Maier nada pode fazer. Inglaterra, 2 a 0. Tudo caminhava para uma vitória categórica dos “Three Lions“.

Aos 23, Beckenbauer recebe de Overath, dribla Mullery fora da área e chuta no canto direito de Bonetti, diminuindo o marcador. Os ingleses reclamaram que havia um jogador caído (o “catimbeiro” Francis Lee) e os alemães não tiveram fair play. Mas o fato é que o gol valeu.

Logo em seguida, o técnico Alf Ramsey cometeu o mesmo erro de sempre: tirou o maestro Bobby Charlton e se fechou na defesa. Como consequência, Beckenbauer, livre da tarefa de marcá-lo, estava livre para reinar em campo.

A Alemanha continuou trabalhando e, a oito minutos do fim, Schnellinger ergue a bola para a área. O capitão Uwe Seeler, marcado e de costas para o gol, consegue desviar de cabeça, encobrindo Bonetti. Um lance lindo, de quem conhece bem o caminho do gol. Seeler, Pelé, Miroslav Klose e Cristiano Ronaldo são os únicos jogadores a marcarem em quatro Mundiais diferentes.

No tempo normal, mesmo placar da decisão de 1966.

A Inglaterra começa o tempo extra com jogadas agudas. Logo nos primeiros segundos, Colin Bell cruza e Hurst cabeceia para fora. Pouco depois, o próprio Hurst marcou um gol ilegal (como em 1966), mas dessa vez a arbitragem anulou. O moral do “English Team” estava baixo, enquanto o do “Nationalelf” estava lá em cima.

O momento decisivo veio pouco depois, aos três minutos do segundo tempo da prorrogação, quando Grabowski arranca pela direita e cruza para a segunda trave, Löhr escora de cabeça para a pequena área e Gerd Müller, sozinho, manda de voleio para o fundo das redes.


Bobby Charlton sempre bem marcado por Franz Beckenbauer (Imagem: Pinterest)

● O público delira. Os gritos demonstram sua antipatia pela Inglaterra. O campeão perde o trono. Virada e vingança da Alemanha. O fantasma de Wembley estava definitivamente enterrado e a história foi outra.

A então campeã, Inglaterra, se despedia da Copa precocemente, nas quartas de final, após uma primeira fase com vitórias por 1 a 0 sobre Romênia e Tchecoslováquia, além de derrota para o Brasil pelo mesmo placar.

Curiosamente, a Inglaterra foi a primeira seleção a utilizar três camisas diferentes em uma Copa do Mundo. Vestiu uma camisa vermelha contra a Alemanha, jogou de branco contra Brasil e Romênia e utilizou um uniforme azul claro contra a Tchecoslováquia. Como o uniforme dos tchecos era todo branco, a imagem na TV preto e branco ficou terrível, pois a tonalidade dos dois uniformes era semelhante.

A Alemanha Ocidental se classificou para as semifinais e jogaria contra a Itália, três dias depois.


Capitães, Bobby Moore e Uwe Seeler se cumprimentam antes da partida (Imagem: Pinterest) 

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 3 x 2 INGLATERRA

 

Data: 14/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: León

Público: 23.357

Cidade: León (México)

Árbitro: Ángel Norberto Coerezza (Argentina)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-2-4):

INGLATERRA (4-4-2):

1  Sepp Maier (G)

12 Peter Bonetti (G)

7  Berti Vogts

2  Keith Newton

11 Klaus Fichtel

5  Brian Labone

3  Karl-Heinz Schnellinger

6  Bobby Moore (C)

2  HorstDieter Höttges

3  Terry Cooper

4  Franz Beckenbauer

4  Alan Mullery

12 Wolfgang Overath

9  Bobby Charlton

14 Stan Libuda

8  Alan Ball

9  Uwe Seeler (C)

10 Geoff Hurst

13 Gerd Müller

7  Francis Lee

17 Hannes Löhr

11 Martin Peters

 

Técnico: Helmut Schön

Técnico: Alf Ramsey

 

SUPLENTES:

 

 

21 Manfred Manglitz (G)

1 Gordon Banks (G)

22 Horst Wolter (G)

13 Alex Stepney (G)

5  Willi Schulz

14 Tommy Wright

6  Wolfgang Weber

17 Jack Charlton

15 Bernd Patzke

18 Norman Hunter

18 Klaus-Dieter Sieloff

16 Emlyn Hughes

16 Max Lorenz

15 Nobby Stiles

19 Peter Dietrich

19 Colin Bell

8  Helmut Haller

20 Peter Osgood

10 Sigfried Held

21 Allan Clarke

20 Jürgen Grabowski

22 Jeff Astle

 

GOLS:

31′ Alan Mullery (ING)

49′ Martin Peters (ING)

68′ Franz Beckenbauer (ALE)

82′ Uwe Seeler (ALE)

108′ Gerd Müller (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

Gerd Müller (ALE)

Francis Lee (ING)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Horst-Dieter Höttges (ALE) ↓

Willi Schulz (ALE) ↑

 

55′ Stan Libuda (ALE) ↓

Jürgen Grabowski (ALE) ↑

 

70′ Bobby Charlton (ING) ↓

Colin Bell (ING) ↑

 

81′ Martin Peters (ING) ↓

Norman Hunter (ING) ↑ 

Gols do jogo:

Melhores momentos da partida:

 

… Uwe Seeler: o professor dos centroavantes alemães

Três pontos sobre…
… Uwe Seeler: o professor dos centroavantes alemães


(Imagem: Hamburgo)

● Terceiro filho de Anny e Erwin Seeler (ex-jogador do Hamburgo), Uwe nasceu em Hamburgo, norte da Alemanha, em 05/11/1936 (exatamente 80 anos atrás). Na sua carreira, defendeu apenas duas camisas: Hamburger SV (clube de sua cidade natal) e a seleção da Alemanha Ocidental. A cidade retribuiu e o transformou em uma celebridade e cidadão honorário desde 2003. É considerado o melhor jogador da história do Hamburgo e um verdadeiro símbolo. Começou nas divisões de base aos dez anos e toda a vida recusou diversas propostas de transferência, tanto de clubes alemães, quanto de equipes estrangeiras. Pagou um preço por essa lealdade, conquistando apenas dois títulos em dezenove temporadas no clube (1953 a 1972). Foi campeão alemão da temporada 1959/60 (vice em 1957 e 1958) e conquistou a Copa da Alemanha em 1962/63 (3 x 0 no Borrussia Dortmund, com Seeler fazendo os três gols – foi vice em 1956 e 1967). Na Liga dos Campeões de 1960/61, ao lado de seu irmão Dieter Seeler, foi até as semifinais onde perdeu para o Barcelona (que seria vice). Teve a chance de um título continental, mas perdeu a final da Recopa Europeia de 1968 para o Milan (foi artilheiro da competição).

Pelo Hamburgo, marcou 764 gols em 810 jogos (ambos recordes difíceis de serem batidos no clube). Foi oito vezes o artilheiro do campeonato alemão (1955: 28 gols; 1956: 32 gols; 1957: 31 gols; 1959: 29 gols; 1960: 36 gols; 1961: 29 gols; 1962: 28 gols), sendo o primeiro goleador da Bundesliga (criada em 1963/64) com 30 gols. Foi o artilheiro da Copa da Alemanha em 1956 e 1963 e três vezes eleito como o jogador alemão do ano (1960, 1964 e 1970). No total da Liga Alemã, anotou 404 gols em 476 partidas, sendo 137 gols em 239 jogos pela Bundesliga. Recebeu um único cartão vermelho na carreira, em 1970. Foi eleito o terceiro melhor jogador do ano de 1960 pela Bola de Ouro da revista France Football (primeiro alemão no pódio do prêmio). Pelé o nomeou para a polêmica lista “FIFA 100” (os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).

Era um centroavante baixo para os padrões alemães, ainda mais para a época. Tinha só 1,69 m, mas muita força física. É considerado o precursor do homem de área germânico, o primeiro dos “Panzer” (tanques de guerra do país). Seeler tinha muita potência, brigava por espaço na área adversária e o conquistava, chegando com relativa facilidade ao gol. Seus gols eram simples, sem dribles, classe, efeitos, mas no duelo por espaço e na bola aérea (apesar de não ser alto) ele era imbatível. Era chamado pelos compatriotas de “Rei dos 18 metros” (o tamanho da grande área). Sua raça e sua dedicação em campo eram contagiantes e sua eficiência impressionava. Ele acabou ensinando às gerações futuras de atacantes que o jogo de corpo e a proteção da bola era a saída para quem não nasceu craque. Olivier Bierhoff e Miroslav Klose, dentre outros, aprenderam direitinho.

Seis anos após ter se aposentado, em 23/04/1978, disputou uma partida pelo Cork Celtic, a convite da Adidas, de seu amigo Adi Dassler. Marcou os dois gols na derrota por 2 x 6 contra o Shamrock Rovers, pelo campeonato da Irlanda.

● Na seleção, lhe faltou um pouco de sorte, pois a Alemanha Ocidental venceu as Copas de 1954 e 1974 e Uwe Seeler disputou como titular quatro Copas do Mundo (1958, 1962, 1966 e 1970 – 21 partidas no total), ou seja, todas as Copas entre um título e outro. Sua melhor classificação foi o vice-campeonato em 1966, quando perdeu na prorrogação para a anfitriã Inglaterra. Foi 3ª colocado na Copa de 1970 e 4º em 1958. Curiosamente, possui o recorde de marcar gols em quatro Copas do Mundo diferentes, em todas que disputou, juntamente com Pelé, Miroslav Klose e Cristiano Ronaldo. Era o capitão em 1966 e em 1970. Quando se aposentou, em 1972, a Federação de Futebol Alemã lhe concedeu a honraria de “capitão honorário da seleção”. É o único com tal honraria que nunca conquistou títulos pelo seu país.

Em fevereiro de 1965 sofreu uma ruptura do tendão de aquiles da perna direita e chegou a ter o fim da carreira anunciada. Mas ele voltou a jogar em agosto, às vésperas da convocação da seleção para o jogo contra a Suécia, para as eliminatórias da Copa de 1966. Foi selecionado, jogou e fez o gol da vitória dos alemães. Na Copa de 1970, fez 3 gols, mas foi obrigado a jogar fora de suas características, chamando a marcação e abrindo espaço para que surgisse um novo matador e artilheiro à sua altura: Gerd Müller.

Em 1987, na primeira Copa Pelé de Masters, a Alemanha tinha um “pequeno barril” no ataque, causando o riso de todos. Quando o “tiozinho” tocou na bola, todos ficaram estupefatos e viram que o velhote sabia das coisas. Sua equipe não foi muito longe no torneio, mas ele foi um dos destaques. No total, pela Alemanha Ocidental, fez 72 jogos e marcou 43 gols. O total da carreira foi 815 gols em 882 jogos.

● Uwe se casou em 18/02/1959 com Ilka (que conheceu no réveillon de 1953) e tem três filhas e sete netos. Um deles, Levin Öztunalı, de apenas 20 anos, é um meia que atua no Mainz 05.

Em 1972, Uwe interpretou a si mesmo em um filme de comédia alemã chamado “Willi wird das Kind schon schaukeln” (algo como “Willi vai fazer alguma coisa certa”). No fim do filme, um time de futebol chamado Jungborn faz uma contratação espetacular: o próprio Seeler. Todo mundo está em festa, mas o técnico do time, Willi Kuckuck (Heinz Erhardt), fica perplexo e pergunta: “Quem diabos é esse cara?”. Piada pronta, pois Seeler era um dos rostos mais conhecidos do país na época.

Em 1995, assumiu a presidência do Hamburgo, renunciando ao mandato em 1998 devido a um escândalo financeiro. Seeler não estava envolvido, mas assumiu a responsabilidade, pois funcionários indicados por ele foram responsáveis pelas irregularidades.

Em 24/08/2005 foi inaugurada uma escultura de seu pé direito, orçada em 250 mil euros e doada por um empresário alemão. Situada em frente a o estádio do Hamburgo, o Imtech Arena (antigo Volksparkstadion), com quatro toneladas, 5,15 metros de largura e 3,50 de altura, o monumento mostra um pé ferido e calejado por tantos esforços.

Publicou sua autobiografia em 2003, chamada “Obrigado, Futebol!”. Atualmente, vive em Norderstedt, perto de Hamburgo.