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… 12/06/1986 – Brasil 3 x 0 Irlanda do Norte

Três pontos sobre…
… 12/06/1986 – Brasil 3 x 0 Irlanda do Norte


(Imagem: Pinterest)

● Era a melhor geração da história da Irlanda do Norte, responsável por classificar os norte-irlandeses para dois Mundiais consecutivos. Tinha feito uma ótima Copa de 1982 para seus padrões, ao ser líder do Grupo E e só ser eliminada na última rodada da segunda fase pela França de Michel Platini. Jogava bem ao estilo típico da escola britânica: defesa fechada e bola aérea no ataque. Dificilmente vencia uma partida, mas também era muito difícil de ser batida.

Desde 1980 como técnico da Norn Iron, Billy Bingham foi ponta direita na Copa de 1958. Curiosamente, ele encerrou sua carreira na seleção no dia 15/04/1964, justamente quando o goleiro Pat Jennings vestia a camisa de seu país pela primeira das 119 vezes.

Pat Jennings completava 41 anos exatamente naquele dia e se tornava o jogador mais velho a disputar uma Copa do Mundo até então. Norman Whiteside já era o jogador mais jovem da história do torneio, ao entrar em campo contra a Iugoslávia em 1982, com 17 anos e 41 dias. Os extremos – e os únicos destaques individuais da equipe.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


A Irlanda do Norte se fechou no 4-5-1.

● O técnico Telê Santana fez algumas alterações importantes para esse confronto. Alemão voltou ao meio campo, após ter sido deslocado para a lateral direita por causa da lesão de Édson Abobrão, no início do jogo contra a Argélia. O desconhecido Josimar entrou na lateral. No ataque, Müller se tornou titular ao lado de Careca, repetindo a dupla que fazia sucesso no São Paulo. Casagrande, mal nos dois primeiros jogos, perdeu a posição.

Nas duas primeiras rodadas, a Irlanda do Norte conquistou um ponto ao empatar com a Argélia e perder para a Espanha. Para seguir com o sonho de passar de fase, precisava pontuar contra o Brasil. Por isso, o treinador Billy Bingham fechou mais o time no sistema 4-5-1, recuando Whiteside de vez.

Porém, ao se fechar, os britânicos ficaram muito presos em seu próprio campo, sem conseguir avançar. Parte do mérito disso foi a imposição técnica da Seleção Brasileira.

Durante todos os 90 minutos, os britânicos criaram apenas três chances: uma cabeçada de Whiteside, um chute do lateral esquerdo Mal Donaghy que desviou no zagueiro Júlio César e um chute do capitão Sammy McIlroy da entrada da área.

Mas o fato é que o Brasil dominou do início ao fim.

A jogada do primeiro gol foi da dupla de ataque do SPFC. Logo aos 15 minutos jogados, Müller, cercado por dois adversários, cruzou da direita. Careca se antecipou à marcação e chutou no canto.

Pat Jennings era o responsável por evitar um massacre no placar, com pelo menos sete ótimas defesas: no primeiro tempo, ele pegou um chute de Müller, outro de Branco, um cara a cara de Júnior; na segunda etapa, defendeu um voleio de Careca, uma finalização rasteira e outra pelo alto de Casagrande em dois lances seguidos, além de outra defesa cara a cara com Branco.

Mas foi mais que impossível segurar o “pombo sem asas” de Josimar. Aos 42 minutos de jogo, Josimar dominou na intermediária, avançou dois passos e chutou de bico. A bola pegou um efeito monstro, encobriu o goleiro e morreu no ângulo. Um gol sensacional.

Era a estreia do jogador do Botafogo com a camisa da Seleção Brasileira. Ele só foi chamado por causa da conturbada saída de Leandro (como já contamos aqui) e só jogou por causa da lesão de Édson.


(Imagem: Pinterest)

Na metade do segundo tempo, Telê promoveu o retorno de Zico, que ainda tratava uma lesão no joelho. O craque voltou bem, quase marcando por duas vezes.

A três minutos do fim, Careca recebeu a bola perto do bico da área e tabelou com Zico, que devolveu de calcanhar. Careca dominou, ficou de frente para o gol e finalizou no canto esquerdo.

O resultado classificou o Brasil com 100% de aproveitamento e eliminou os norte-irlandeses.

Essa foi a última partida da Irlanda do Norte em Copas do Mundo até o momento.

E é também a única vez que as duas seleções se enfrentaram, incluindo jogos não oficiais.


(Imagem: ESPN)

Na partida seguinte, Josimar marcou outro golaço contra a Polônia e garantiu de vez seu nome na história. Em sua homenagem, a revista de futebol mais popular da Noruega se chama “Josimar”. A emissora britânica BBC elegeu o gol de Josimar contra a Irlanda do Norte como o 8º mais bonito da história das Copas.

O Brasil venceu Espanha e Argélia no sufoco, ambas por 1 x 0. Depois, houve uma ingênua impressão de evolução quando venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0. Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0. Nas quartas, o Brasil enfrentaria a França, de Michel Platini, como veremos no próximo dia 21.


(Imagem: Twitter @OldFootball11)font>

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 0 IRLANDA DO NORTE

 

Data: 12/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 51.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Siegfried Kirschen (Alemanha Oriental)

 

BRASIL (4-4-2):

IRLANDA DO NORTE (4-5-1):

1  Carlos (G)

1  Pat Jennings (G)

13 Josimar

2  Jimmy Nicholl

14 Júlio César

5  Alan McDonald

4  Edinho (C)

4  John O’Neill

17 Branco

3  Mal Donaghy

19 Elzo

6  David McCreery

15 Alemão

8  Sammy McIlroy (C)

6  Júnior

10 Norman Whiteside

18  Sócrates

21 David Campbell

7  Müller

11 Ian Stewart

9  Careca

17 Colin Clarke

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Billy Bingham

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

12 Jim Platt (G)

22 Leão (G)

13 Phil Hughes (G)

2  Édson Boaro

18 John McClelland

3  Oscar

15 Nigel Worthington

16 Mauro Galvão

16 Paul Ramsey

5  Falcão

20 Bernard McNally

20 Silas

22 Mark Caughey

21 Valdo

7  Steve Penney

10 Zico

9  Jimmy Quinn

11 Edivaldo

19 Billy Hamilton

8  Casagrande

14 Gerry Armstrong

 

GOLS:

15′ Careca (BRA)

42′ Josimar (BRA)

87′ Careca (BRA)

 

CARTÃO AMARELO: 12′ Mal Donaghy (IRN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

27′ Müller (BRA) ↓

Casagrande (BRA) ↑

 

67′ Norman Whiteside (IRN) ↓

Billy Hamilton (IRN) ↑

 

68′ Sócrates (BRA) ↓

Zico (BRA) ↑

 

71′ David Campbell (IRN) ↓

Gerry Armstrong (IRN) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo (em português):

… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia

Três pontos sobre…
… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia


(Imagem: BBC)

● A Seleção Brasileira vinha de uma sequência inédita de títulos: Copa do Mundo de 1994, Copa América de 1997 (primeira conquista do torneio fora do território nacional) e Copa das Confederações de 1997. Qualquer pessoa que acompanhasse o futebol se encantava com os torpedos de Roberto Carlos, o fôlego interminável de Cafu, a liderança de Dunga, os dribles de Denílson, o poder decisivo de Rivaldo e o encanto da dupla de ataque: Romário e Ronaldo.

Com apenas 21 anos, Ronaldo jogava na Internazionale de Milão e vivia seu auge físico e técnico. Tinha sido eleito o melhor jogador do mundo nos dois anos anteriores. Era chamado na Itália de “Il Fenomeno”.

Por tudo isso, havia uma certeza inquebrantável: era só esperar o dia 12 de julho e ouvir Galvão Bueno gritar pelo penta.

Mas, como sabemos, não seria bem assim.


(Imagem: BBC)

● O maior adversário da Seleção Brasileira no jogo de abertura da Copa do Mundo de 1998 não foi a Escócia: foram os problemas internos. O Château de Grande Romaine, nos arredores de Paris, onde a delegação ficou concentrada, era uma bomba atômica pronta para explodir.

Como na maioria das vezes, a Seleção Brasileira viajou para a Copa do Mundo de 1998 com diversas questões a serem resolvidas. Nos quinze dias que antecederam a partida, treinou pouco e mal. A discórdia foi semeada no plantel e teve problemas médicos com diagnósticos tardios e equivocados. O técnico Zagallo insistiu em variações táticas que não aproveitaram o melhor de seus craques.

Zagallo queria o time com um meio campo em losango, com Dunga mais recuado, César Sampaio ajudando e fechar os espaços e avançando pela direita, e Rivaldo fazendo esse espelho pela esquerda. Sampaio sofria para atacar e Rivaldo para defender. O time até voltou ao 4-4-2 em quadrado, com dois volantes e dos meias armadores. Mas o técnico ainda insistia com o seu famoso “número 1” (veja mais abaixo).


(Imagem: AP)

● Na tentativa de minimizar esses problemas internos, Zico foi contratado para ser o coordenador técnico, uma espécie de elo entre a CBF, a comissão técnica e os jogadores. O Galinho de Quintino usou toda sua experiência e coerência para impor suas ideias e tentar dar o sentido de união necessário para a disputa de um Mundial.

O pior dos obstáculos foi o corte de Romário. A oito dias antes da estreia na Copa, Zico foi o responsável por informar a Romário que ele estava sendo cortado da Seleção. Zico era favorável a manter uma seleção sem jogadores lesionados, com todos inteiros e à disposição. Ele teve o apoio de Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, e ganhou a queda de braço com Zagallo e o Dr. Lídio Toledo. O treinador e o médico queriam manter o Baixinho no grupo. Clinicamente, o craque estaria apto para jogar as fases de mata-mata. Ele garantia que conseguiria suportar as dores na panturrilha e culpou Zico pela sua dispensa. O atacante Romário foi substituído pelo meio campista Emerson.


(Imagem: BBC)

E sem Romário, o caminho da titularidade estava aberto para Edmundo. O Animal estava na grande fase de sua carreira e foi discutivelmente um dos melhores jogadores do mundo no ano anterior, quando “comeu a bola” e levou o Vasco da Gama ao título do Campeonato Brasileiro. Mas Zagallo preferia apostar na experiência de Bebeto, mesmo em uma fase não tão prolífica. Edmundo não suportou a ideia de treinar com o colete dos reservas e, no primeiro coletivo, quase rachou a perna de Júnior Baiano. Após o amistoso com o Athletic Bilbao, bateu boca no vestiário com Ronaldo e com Leonardo. A turma do “deixa-disso” entrou em ação, mas um zagueiro resumiu o pensamento da maioria do elenco: “Não deviam ter trazido esse cara”. A discussão ganhou as páginas dos jornais. Cinco dias antes do jogo, Edmundo deu uma entrevista por telefone na qual afirmou que estava melhor fisicamente e tecnicamente do que Bebeto. Zico entrou na questão e fez o atacante se retratar com todo o grupo.

Além da ausência de Romário, as lesões obrigaram a outras modificações no elenco original. Juninho Paulista nem chegou a estar na lista final por não estar em plena forma física após se recuperar de contusão. André Cruz foi convocado para a vaga de Márcio Santos. O lateral direito Zé Carlos substituiu Flávio Conceição, que seria um coringa como volante e lateral.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Giovanni era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.


A Escócia jogou no 3-4-3. Sem a bola, Dailly fechava como lateral esquerdo e Jackson fazia o quarto homem de meio campo, em um falso 4-4-2.

● Foi no meio desse turbilhão que o Brasil estreou na Copa. Oitenta mil pessoas lotaram o novíssimo Stade de France, em Saint-Denis, e viram os jogadores brasileiros entrarem em campo de mãos dadas, tentando emular 1994. O time de 1998 tinha mais talento que o do tetra, mas não tinha conjunto. O espírito era outro.

A Escócia não tinha nenhum jogador fora de série, como chegou a ter antigamente, com Denis Law e Kenny Dalglish. Mas possuía muita força física e um meio campo até criativo para os padrões do país.

O jogo mal tinha começado e, logo aos cinco minutos, Bebeto cobrou escanteio na primeira trave. César Sampaio se antecipou à marcação do desdentado Craig Burley e cabeceou meio de têmpora, meio de pescoço, meio de ombro… mas mandou a bola para o gol.

As estreias são naturalmente tensas e difíceis, mas o gol deixou o time brasileiro relaxado. Durante a partida, por varias vezes Ronaldo chamou o capitão escocês Colin Hendry para dançar. Mas Hendry era duro demais e ruim de dança.

Mas a técnica refinada dos brasileiros não conseguia disfarçar os problemas táticos. Giovanni era um grande jogador, mas não se adaptou à função do “número 1” de Zagallo. Os laterais Cafu e Roberto Carlos avançavam muito e os volantes Dunga e César Sampaio, já trintões, não tinham o fôlego o suficiente e demoravam na cobertura.

E em uma dessas falhas na cobertura, Sampaio derrubou Kevin Gallacher na área. Aos 38′, John Collins cobrou pênalti de pé esquerdo e mandou no cantinho direito, sem chance alguma de defesa para Taffarel – que até acertou o canto.

O empate não estava nos planos de Zagallo. Vendo a ineficácia de Giovanni, o técnico aceitou rever seus conceitos e fez o que não tinha costume, mudando tudo no intervalo.


(Imagem: Pinterest)

Aqui cabe um parêntese. Quando Zagallo reassumiu a Seleção Brasileira, após a conquista do tetra, anunciou uma “grande revolução tática de sua autoria” (sic), o sistema 4-3-1-2. Esse jogador chamado por ele de “número 1” não era um meia comum, nem um volante ou atacante, nem o ponta de lança das antigas e muito menos o ponta tradicional. Ele seria um “elo de ligação entre meio campo e ataque”, capaz de ajudar na marcação, na transição ofensiva, aparecer em todos os lugares do campo para trocar passes, servir o ataque e atacar. Nas palavras do técnico, esse jogador seria o “elo de ligação entre o meio campo e o ataque”. Foram testados na “posição”: Djalminha, Leonardo, Amoroso, Denílson, Zinho e Rivaldo. Por motivos diferentes, nenhum passou no teste. O que chegou mais próximo foi Juninho Paulista, que não se recuperou de lesão. Giovanni foi o dono da posição nos primeiros 45 minutos do Mundial. Mas o “número 1” era pura teoria e não sobreviveu à prancheta de Zagallo. No segundo tempo, o treinador trocou Giovanni por Leonardo e o sistema 4-3-1-2 pelo tradicional 4-4-2. Nessa formação, o Brasil atacava menos. Mas o “Velho Lobo” tinha certo apreço por Leonardo, que possuía a mesma disciplina tática de Zagallo quando jogador.

Mas não houve chances para a zebra e o gol da vitória veio aos 28 minutos da etapa complementar. Dunga lançou Cafu nas costas da defesa. Ele entrou na pequena área e tentou encobrir Leighton, mas a bola explodiu no peito do goleiro, que fechou bem o ângulo. O zagueiro Tom Boyd vinha na corrida, a bola bateu em seu peito e tomou o caminho do gol. Um gol contra claro. Mas que teve comemoração efusiva de Cafu, com direito a cambalhota.

As estatísticas históricas contam um início de Copa com o pé direito. Mas o que não está escrito um lugar algum é o quanto os fatores externos afetaram o rendimento do time em campo. Um gol contra da Escócia salvou os três pontos.


(Imagem: The Scottish Sun)

● Essa partida marcou a vitória de número 50 da Seleção Brasileira na história das Copas do Mundo.

O Brasil se tornou a primeira seleção a marcar mais de um gol na primeira partida da Copa desde 1966, quando o “jogo de abertura” foi instituído oficialmente.

Na segunda rodada, a Escócia empatou com a Noruega por 1 x 1. Na última rodada, os escoceses se classificariam se vencesse o Marrocos e a Noruega não vencesse o Brasil. Aconteceu tudo ao contrário. Os nórdicos venceram. E os escoceses foram goleados pelos marroquinos por 3 x 0. Com oito participações no currículo (1954, 1958, 1974, 1978, 1982, 1986, 1990 e 1998), a Escócia nunca passou de fase em uma Copa do Mundo.

Na sequência, o Brasil venceu o Marrocos por 3 x 0. Já classificado em primeiro lugar na chave, perdeu para a Noruega – sua asa negra – por 2 x 1, levando dois gols nos últimos sete minutos. Nas oitavas de final, venceu o Chile de Zamorano e Salas por 4 x 1. Nas quartas, suou para passar pela Dinamarca (3 x 2), que tinha goleado a ardilosa Nigéria. Nas semifinais, um jogo histórico contra a Holanda (1 x 1), com vitória nos pênaltis (4 x 3) graças a Taffarel. Na final, perdeu para a França por 3 x 0, com dois gols de Zidane e um de Petit.


(Imagem: By Jeff J. Mitchell / Reuters / IFDB)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 X 1 ESCÓCIA

 

Data: 10/06/1998

Horário: 17h30 locais

Estádio: Stade de France

Público: 80.000

Cidade: Saint-Denis (França)

Árbitro: José María García-Aranda (Espanha)

 

BRASIL (4-3-1-2):

ESCÓCIA (3-4-3):

1  Taffarel (G)

1  Jim Leighton (G)

2  Cafu

4  Colin Calderwood

4  Júnior Baiano

5  Colin Hendry (C)

3  Aldair

3  Tom Boyd

6 Roberto Carlos

14 Paul Lambert

5  César Sampaio

8  Craig Burley

8  Dunga (C)

22 Christian Dailly

7  Giovanni

11 John Collins

10 Rivaldo

10 Darren Jackson

20 Bebeto

7  Kevin Gallacher

9  Ronaldo

9  Gordon Durie

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Craig Brown

 

SUPLENTES:

 

 

12 Carlos Germano (G)

12 Neil Sullivan (G)

22 Dida (G)

21 Jonathan Gould (G)

13 Zé Carlos

2  Jackie McNamara

14 Gonçalves

6  Tosh McKinlay

15 André Cruz

16 David Weir

16 Zé Roberto

18 Matt Elliott

17 Doriva

19 Derek Whyte

11 Emerson

15 Scot Gemmill

18 Leonardo

17 Billy McKinlay

19 Denílson

13 Simon Donnelly

21 Edmundo

20 Scott Booth

 

GOLS:

5′ César Sampaio (BRA)

38′ John Collins (ESC) (pen)

74′ Tom Boyd (BRA) (gol contra)

 

CARTÕES AMARELOS:

25′ Darren Jackson (ESC)

37′ César Sampaio (BRA)

45+2′ Aldair (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Giovanni (BRA) ↓

Leonardo (BRA) ↑

 

72′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

78′ Darren Jackson (ESC) ↓

Billy McKinlay (ESC) ↑

 

84′ Christian Dailly (ESC) ↓

Tosh McKinlay (ESC) ↑

(Imagem: EPA – Daily Mail)

Melhores momentos da partida:

Veja o primeiro tempo e o segundo tempo completos, com transmissão da Rede Globo, nos respectivos links:
1º tempo: https://www.dailymotion.com/video/x5viwgf
2º tempo: https://www.dailymotion.com/video/x5w1jqh


(Imagem: Pinterest)

… 03/06/2002 – Brasil 2 x 1 Turquia

Três pontos sobre…
… 03/06/2002 – Brasil 2 x 1 Turquia


O Fenômeno estava de volta (Imagem: O Globo)

Campeã da Copa do Mundo de 1994, a Seleção Brasileira sofreu um duro golpe ao perder de 3 a 0 para a França na final do Mundial de 1998. Mesmo contando com uma geração espetacular e craques do nível de Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos, a preparação para 2002 não foi nada tranquila. Zagallo deu lugar a Vanderlei Luxemburgo e o Brasil venceu e convenceu na Copa América de 1999, mas depois começou a oscilar. Ronaldo se lesionou seriamente e ficou mais de dois anos sem jogar.

Luxa foi demitido depois do fiasco nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. Os maus resultados na Copa das Confederações de 2001 derrubou também Emerson Leão, seu sucessor. Luiz Felipe Scolari começou mal, sendo eliminado na Copa América de 2001 pela fraca seleção de Honduras. No fim do ano, a duras penas, Felipão contou com a tabela favorável e a estrela de Luizão para garantir a classificação para a Copa de 2002.

E no ano da Copa, o treinador precisou reconstruir o time à sua maneira. Deu chances a Anderson Polga, Gilberto Silva, Kléberson e Kaká e montou a famosa “Família Scolari”, com jogadores de sua confiança. Com isso, deixou de fora estrelas como Romário, Djalminha, Alex, Zé Roberto, Juan e outros.

Apesar das críticas e do forte apelo popular, Felipão insistiu em deixar Romário de fora das convocações, depois que o “Baixinho” pediu dispensa da Copa América de 2001, alegando que faria um tratamento no olho, mas atuou pelo Vasco em uma excursão caça-níquéis no México. Romário pediu desculpas e chorou em entrevista coletiva, mas não convenceu o treinador, que preferiu convocar Luizão – fundamental na reta final das Eliminatórias.

Apostando no forte e constante apoio dos laterais Cafu e Roberto Carlos, Scolari os transformou em alas e escalou a Seleção no sistema 3-5-2. O esquema não trazia boas recordações para os brasileiros, que se recordavam do fiasco da Seleção em 1990, comandada por Sebastião Lazaroni. Mas, diferente de doze anos atrás, dessa vez o time ficou mais sólido na defesa e continuou forte no ataque.

No sorteio do chaveamento da Copa, o Brasil caiu no Grupo C, com adversários teoricamente fáceis, como a pouco tradicional Turquia, a estreante China e a fraca Costa Rica.


Seleção turca na Copa do Mundo de 2002 (Imagem: UOL)

● A única participação da Turquia em Copas do Mundo havia sido em 1954, quando caiu em um grupo com Hungria, Alemanha Ocidental e Coreia do Sul. Perdeu na estreia para a Alemanha por 4 a 1 e venceu a Coreia do Sul por 7 a 0. Devido ao regulamento, não enfrentou a Hungria e precisou disputar um jogo-desempate, novamente contra os alemães – perdeu por 7 a 2 e foi eliminada na primeira fase.

Mas o histórico recente era bom, muito graças àquela geração que colocava seu país novamente em um Mundial 48 anos depois. Do elenco de 2002, sete atletas haviam disputado a Eurocopa de 1996 e 14 estavam na Euro 2000. A espinha dorsal da equipe era o Galatasaray campeão da Copa da UEFA na temporada 1999/2000 – onze dos 23 convocados haviam participado daquela que é a maior conquista de um clube turco.

Era um time muito bem treinado pelo ex-goleiro Şenol Güneş. Além do ótimo conjunto, haviam destaques individuais, como o forte centroavante Hakan Şükür (da Inter de Milão), o goleiro Rüştü Reçber (que jogaria no Barcelona depois do Mundial) e o meia Yıldıray Baştürk (vice-campeão da UEFA Champions League na temporada 2001/02, com o Bayer Leverkusen). Ao fim da Copa, três turcos foram nomeados para a seleção do torneio: o goleiro Rüştü, o zagueiro Alpay Özalan e o meia-atacante Hasan Şaş.


Felipão apostou no sistema 3-5-2, para liberar o avanço dos laterais. A seleção ficou mais sólida na defesa e continuou forte no ataque. Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo se revezavam na criação e no ataque.


Şenol Güneş espelhava o esquema brasileiro no 3-5-2. As apostas turcas eram na defesa bem postada, na criatividade de Yıldıray Baştürk, na velocidade de Hasan Şaş e no oportunismo de Hakan Şükür.

● Era um dia incomum. Em plena segunda-feira, dia 03 de junho, o Brasil acordou mais cedo. Era a estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002, na cidade de Ulsan, na Coreia do Sul. Devido ao fuso-horário, a partida ocorreu em um horário bastante incomum para nós: seis horas da manhã. Mas valeu a pena ter acordado mais cedo.

Mas nem tudo começou bem. Na véspera da estreia, o então capitão Émerson deslocou o ombro nos treinos, jogando como goleiro. Um desfalque importante para o sistema idealizado por Scolari.

Todavia, como costuma acontecer, a Seleção entrou em campo com total favoritismo. Mas encontrou um duro adversário e enfrentou muitas dificuldades para vencer. O nervosismo é natural na estreia, mas o Brasil começou jogando muito bem. Nos primeiros 15 minutos, dominou totalmente o adversário, embora não tenha conseguido transformar em gol nenhuma das chances criadas. Destaque para o goleiro Rüştü Reçber, que fechou a baliza. Não estava fácil passar pelo goleiro turco.

Ronaldo pedalou pela esquerda e cruzou para Rivaldo cabecear firme. Rüştü foi pego no contrapé, mas fez uma defesa dificílima.

Logo após, Rivaldo chutou da entrada da área, mas o goleiro turco defendeu em dois tempos.

Depois disso, a Turquia pareceu se livrar do nervosismo da estreia e passou a equilibrar as ações. Edmílson fez pênalti em Hasan Şaş, não marcado pelo árbitro.

Aos 47 minutos do primeiro tempo, a Turquia abriu o placar. Yıldıray Baştürk carregou a bola pela direita e inverteu o jogo. Na esquerda, Hasan Şaş apareceu nas costas de Cafu e chutou forte, de primeira, no alto do gol de Marcos.


Ronaldo se esticou todo para marcar o primeiro gol brasileiro na Copa (Imagem: Getty Images)

● Na segunda etapa, o Brasil foi em busca do empate. Rivaldo entrou na área, driblou Rüştü, mas foi travado na hora do chute.

O empate brasileiro veio aos cinco minutos do segundo tempo. Juninho Paulista abriu para Rivaldo na esquerda. O camisa 10 ergueu a cabeça e cruzou para a pequena área. Ronaldo Fenômeno apareceu voando no espaço livre entre os zagueiros e o goleiro e usou todo seu oportunismo, esticando a perna no ar para finalizar com a ponta do pé. Um malabarismo, uma acrobacia, que só poderia ser feita por quem estivesse 100% fisicamente. Foi o primeiro gol de Ronaldo pela Seleção em mais de mil dias. O Fenômeno estava de volta.

Mesmo que de forma desordenada, o Brasil continuou atacando. Ronaldo passou por dois adversários, mas chutou fraco e Rüştü defendeu.

Aos 17′, Cafu tocou para Juninho, livre dentro da área. Ele chutou e Rüştü impediu o segundo gol canarinho. Após a cobrança de escanteio, Rivaldo foi lançado e marcou de cabeça, mas o árbitro anulou o gol. Uma decisão polêmica.

A Turquia também teve as suas chances. Em cobrança de falta ensaiada, Marcos rebateu e voou para pegar o rebote.

Pareceria mesmo que o Brasil seria frustrado com um empate no jogo de estreia. Mas, aos 41 minutos, a Turquia errou a saída de bola. Luizão (que tinha acabado de entrar no lugar de Ronaldo) ganhou de Alpay Özalan na velocidade e foi derrubado na meia-lua. O brasileiro seguiu se arrastando até cair dentro da área. O árbitro sul-coreano Kim Young-joo expulsou corretamente Alpay, mas marcou erradamente o pênalti. Na cobrança, Rivaldo bateu firme, no canto esquerdo de Rüştü e marcou o gol do alívio e da vitória brasileira.

Já nos acréscimos, quase sempre discreto Rivaldo protagonizou um lance ridículo. Enquanto o brasileiro se preparava para cobrar um escanteio, Hakan Ünsal chutou uma bola na coxa do camisa 10 brasileiro, que encenou uma pancada no rosto. O árbitro deu cartão vermelho para Ünsal, que foi o centésimo atleta expulso em uma Copa. Mas o brasileiro acabou multado pela FIFA em US$ 7,5 mil por atitude anti-desportiva.


Luizão sofreu falta fora da área, mas a arbitragem assinalou pênalti (Imagem: Extra / Globo)

“Ganhar da Turquia na primeira fase foi muito importante, o time deles era bom e saímos pendendo. Acho que nessa partida mostramos força e aonde poderíamos ir. Virar aquela partida foi inesquecível.” — Ronaldo

“A estreia é pior que a final. Ali é que você sabe como está. Se o primeiro jogo for ruim, parece que o caminho fica muito mais longo.” — Marcos

Apesar da boa estreia da Turquia, seria injusto que o Brasil não vencesse a partida, principalmente pelo volume de jogo e pelas chances criadas. Mas a verdade é que as decisões do juiz interferiram demais no resultado a favor da Seleção Brasileira.

Após a partida, os atletas turcos argumentaram que foram prejudicados pela arbitragem. Criticados pela imprensa de seu país, os jogadores decidiram que só concederiam entrevistas à imprensa estrangeira – o que ocorreu até o fim da Copa.

Os turcos perderam a batalha, mas se manteriam até o fim da guerra. Ao decorrer da Copa, mostraram um excelente desempenho. Nas partidas seguintes, a Turquia empatou com a Costa Rica em 1 x 1 e venceu a China por 3 x 0. Nas oitavas, bateu o Japão por 1 x 0. Senegal foi o adversário das quartas, só derrotado na prorrogação (1 x 0) com um gol de ouro de İlhan Mansız. Na semifinal, perdeu novamente para o Brasil (1 x 0). Conquistou o histórico 3º lugar no Mundial ao vencer a Coreia do Sul por 3 x 2. Nessa partida, Hakan Şükür marcou o gol mais rápido da história das Copas, aos 10,8 segundos. A Turquia é a única seleção a ter vencido dois anfitriões em uma mesma edição de Mundial (Japão e Coreia do Sul).

Na sequência, o Brasil goleou a China por 4 a 0 e a Costa Rica por 5 a 2. Nas oitavas de final, sofreu para vencer a Bélgica por 2 a 0. Nas quartas, contou com a genialidade de Ronaldinho Gaúcho para virar o placar contra a Inglaterra e vencer por 2 a 1. Nas semifinais, o reencontro com a Turquia só foi decidido com um bico genial de Ronaldo e vitória por 1 a 0. Na decisão, o Brasil foi mais consistente e venceu a Alemanha por 2 a 0, com dois gols de Ronaldo, artilheiro do certame com oito gols.


Rivaldo foi decisivo para a vitória brasileira (Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 1 TURQUIA

 

Data: 03/06/2002

Horário: 18h00 locais

Estádio: Munsu Cup Stadium

Público: 33.842

Cidade: Ulsan (Coreia do Sul)

Árbitro: Kim Young-joo (Coreia do Sul)

 

BRASIL (3-5-2):

TURQUIA (3-5-2):

1  Marcos (G)

1  Rüştü Reçber (G)

3  Lúcio

5  Alpay Özalan

5  Edmílson

16 Ümit Özat

4  Roque Júnior

3  Bülent Korkmaz

2  Cafu (C)

4  Fatih Akyel

8  Gilberto Silva

8  Tugay Kerimoğlu

19 Juninho Paulista

20 Hakan Ünsal

6  Roberto Carlos

21 Emre Belözoğlu

11 Ronaldinho Gaúcho

10 Yıldıray Baştürk

10 Rivaldo

11 Hasan Şaş

9  Ronaldo

9  Hakan Şükür (C)

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Şenol Güneş

 

SUPLENTES:

 

 

12 Dida (G)

12 Ömer Çatkıç (G)

22 Rogério Ceni (G)

23 Zafer Özgültekin (G)

13 Belletti

2  Emre Aşık

14 Ânderson Polga

22 Ümit Davala

16 Júnior

18 Ergün Penbe

18 Vampeta

14 Tayfur Havutçu

15 Kléberson

13 Muzzy Izzet

7  Ricardinho

7  Okan Buruk

23 Kaká

19 Abdullah Ercan

17 Denílson

15 Nihat Kahveci

20 Edílson

6  Arif Erdem

21 Luizão

17 İlhan Mansız

 

GOLS:

45+2′ Hasan Şaş (TUR)

50′ Ronaldo (BRA)

87′ Rivaldo (BRA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

21′ Fatih Akyel (TUR)

24′ Hakan Ünsal (TUR)

44′ Alpay Özalan (TUR)

73′ Denílson (BRA)

 

CARTÕES VERMELHOS:

86′ Alpay Özalan (TUR)

90+4′ Hakan Ünsal (TUR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

66′ Bülent Korkmaz (TUR) ↓

Ümit Davala (TUR) ↑

 

66′ Yıldıray Baştürk (TUR) ↓

İlhan Mansız (TUR) ↑

 

67′ Ronaldinho Gaúcho (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

72′ Juninho Paulista (BRA) ↓

Vampeta (BRA) ↑

 

73′ Ronaldo (BRA) ↓

Luizão (BRA) ↑

 

88′ Tugay Kerimoğlu (TUR) ↓

Arif Erdem (TUR) ↑

(Imagem: Getty Images)

Reportagem sobre a partida (SporTV):

Melhores momentos da partida:

Partida completa:

… 11/05/1949 – Brasil 7 x 0 Paraguai

Três pontos sobre…
… 11/05/1949 – Brasil 7 x 0 Paraguai


(Imagem: Esporte Ilustrado)

Em 1946, o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo de 1950. Então, nada mais justo que o Campeonato Sul-Americano de Futebol voltasse a ser sediado no Brasil após um longo hiato de 27 anos. Nas outras duas edições em que foi a dona da casa, a Seleção Brasileira havia se sagrado campeã: em 1919 e 1922.

O técnico Flávio Costa era unanimidade, um verdadeiro estrategista, criador do sistema “Diagonal”, utilizado pela Seleção desde 1944. A geração de craques era prolífica, se destacando o trio Zizinho, Ademir de Menezes e Jair Rosa Pinto.

Por tudo isso e muito mais, a Seleção Brasileira era a grande favorita. Se já não bastasse, esse protagonismo ficou mais latente com a ausência da Argentina (que estava com relações futebolísticas cortadas com o Brasil desde a Copa América de 1946). Por sua vez, o Uruguai mandou uma equipe repleta de amadores, que ficou em 6º entre os oito participantes. Cabe ressaltar que os dois países vizinhos viviam na época a maior greve da história do futebol sul-americano.


Flávio Costa: estrategista (Imagem: O Globo)

A fragilidade dos demais adversários era clara. O Brasil estreou massacrando Equador (9 x 1) e Bolívia (10 x 1). Depois, venceu o Chile por 2 x 1 com tranquilidade – por mais que o placar não mostre isso. Voltou às goleadas com 5 a 0 sobre a Colômbia, 7 a 1 no Peru e 5 a 1 no Uruguai. Na última rodada, bastando empatar para ficar com o título, perdeu de virada para o Paraguai por 2 x 1. (Seria premonição, sobre o que poderia vir na Copa do Mundo, contra outro rival sul-americano muito mais forte?)

O Paraguai terminou empatado em pontos com o Brasil (12 para cada), com seis vitórias (3 x 0 na Colômbia, 1 x 0 no Equador, 3 x 1 no Peru, 4 x 2 no Chile, 7 x 0 sobre a Bolívia) e uma derrota (2 x 1 para o Uruguai).

Com isso, agora seria necessária a disputa da partida desempate, novamente entre Brasil e Paraguai. Era uma verdadeira final.


O Brasil atuava no sistema “Diagonal”, criado pelo técnico Flávio Costa. Partindo do WM, Flávio teve a ideia de criar um losango no meio de campo, com um vértice mais avançado e outro mais recuado. Os vértices laterais eram os armadores. Era quase a origem do 4-2-4 que a Hungria consagraria quatro anos depois.


A Seleção Paraguaia jogava no tradicional WM.

A derrota começou a causar desconfiança na torcida e, especialmente na imprensa carioca. Mas, em um estádio São Januário lotado com mais de 55 mil expectadores, se alguém tinha dúvida sobre capacidade do escrete nacional, ela começou a se dissipar aos 17 minutos, quando Ademir de Menezes, o “Queixada” abriu o placar.

Ele mesmo aumentou dez minutos depois.

O título já estava encaminhado. A vantagem já era enorme no intervalo. Tesourinha havia feito o terceiro aos 43′.

Logo no reinício, aos três, Ademir fazia seu “hat trick” ou “tripleta”, como se fala na América Latina.

O Paraguai não teve mais forças.

Tesourinha fez outro aos 70. Jair Rosa Pinto fechou o placar aos 72′ e aos 89′.


Trio fantástico: Zizinho, Ademir e Jair (Imagem: Os Gigantes da Colina)

Foi um troco com sobras! Um massacre por 7 a 0!

Zizinho deu um show! Ademir de Menezes foi eleito o melhor da competição. Jair Rosa Pinto foi o artilheiro, com nove gols.

Mesmo com a goleada sofrida, o goleiro Sinforiano García se destacou e foi contratado pelo Flamengo logo depois do torneio. O rubro-negro da Gávea também assinaria com o atacante Jorge Benítez em 1952. Após o título do Paraguai na edição de 1953 (e a vingança sobre a Seleção Brasileira), o Flamengo completou seu trio de guaranis contratando o técnico Fleitas Solich, por indicação do escritor José Lins do Rêgo.


(Imagem: Ficha do Jogo)

A 21ª edição do Campeonato Sul-Americano teve o número recorde de 135 gols, sendo 46 deles marcados pelo Brasil. Em 29 jogos, a absurda média de gols ficou em 4,66 por partida.

A expectativa era de que a Copa América fosse uma espécie de preparação para a Seleção Brasileira, que disputaria a Copa do Mundo em casa no ano seguinte. A fragilidade dos adversários (principalmente pelo “time B” do Uruguai) enganou a todos quanto ao nível da equipe. Na Copa, o Brasil passou com tranquilidade contra o México (4 x 0), empatou com a Suíça (2 x 2) e sofreu para ganhar da Iugoslávia (2 x 0). No quadrangular final, goleou Espanha (6 x 1) e Suécia (7 x 1), mas perdeu de virada (2 x 1) para o Uruguai na última partida.

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 7 x 0 PARAGUAI

 

Data: 11/05/1949

Horário: 21h00 locais

Estádio: São Januário

Público: 55.000

Cidade: Rio de Janeio (Brasil)

Árbitro: Cyril Jack Barrick (Inglaterra)

 

BRASIL (WM Diagonal):

PARAGUAI (WM):

Barbosa (G)

Sinforiano García (G)

Augusto (C)

Alberto González Gonzalito

Mauro

Casiano Céspedes

Ely

Manuel Gavilán

Danilo Alvim

Pedro Nardelli

Noronha

Sixto Castor Cantero

Tesourinha

Pedro Fernández

Zizinho

César López Fretes (C)

Ademir de Menezes

Dionisio Arce

Jair Rosa Pinto

Jorge Duilio Benítez

Simão

Félix Vázquez

 

Técnico: Flávio Costa

Técnico: Manuel Fleitas Solich

 

SUPLENTES:

 

 

Osvaldo Baliza (G)

Dionisio Maciel (G)

Wilso

Antonio Cabrera

Nílton Santos

Francisco Calonga

Bauer

Armando González

Rui

Rogelio Negri

Bigode

César Santomé

Cláudio Christovam de Pinho

Enrique Ávalos

Nininho

Sixto Noceda

Octávio Moraes

Santiago Rivas

Orlando Pingo de Ouro

Marcial Barrios

Canhotinho

Estanislao Romero

 

GOLS:

17′ Ademir de Menezes (BRA)

27′ Ademir de Menezes (BRA)

43′ Tesourinha (BRA)

48′ Ademir de Menezes (BRA)

70′ Tesourinha (BRA)

72′ Jair Rosa Pinto (BRA)

89′ Jair Rosa Pinto (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Pedro Fernández ↓

Marcial Barrios ↑

 

Félix Vázquez ↓

Estanislao Romero ↑

… 04/04/1959 – Argentina 1 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 04/04/1959 – Argentina 1 x 1 Brasil


Argentina campeã da Copa América 1959 (Imagem: Goal)

● Na edição anterior do Campeonato Sul-Americano, a Argentina conquistou o título, embalada por jovens atletas, conhecidos como “Los Carasucias de Lima”. Agora, dois anos depois, o escrete albiceleste tinha que se refazer mais uma vez. Já não tinha mais Guillermo Stábile como técnico depois do fiasco de ter sido eliminado Copa do Mundo de 1958 (com direito a sofrer a maior goleada de sua história, um 6 x 1 para a Tchecoslováquia). Vários craques agora vestiam a camisa da seleção italiana, como Omar Sívori, Humberto Maschio e Antonio Valentín Angelillo. Assim, o país anfitrião da 26ª Copa América foi representado por jogadores com menos fama até então, como Jorge Griffa, Juan José Pizzuti, Héctor Sosa e Raúl Belén.

O grande favorito ao título era a Seleção Brasileira, que havia conquistado a Copa do Mundo na Suécia menos de um ano antes e viajou com força máxima. Dirigida por Vicente Feola, a base era a mesma: Gylmar, Castilho, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Mauro, Nílton Santos, Zito, Dino Sani, Zagallo, Didi, Garrincha e Pelé. Como novidades, dentre outros, apareciam nomes como os vascaínos Coronel (lateral esquerdo) e Almir Pernambuquinho (ponta de lança), o botafoguense Paulo Valentim (atacante) e o palmeirense Chinesinho (ponta esquerda).


Linha de frente de Seleção Brasileira: Garrincha, Pelé, Paulo Valentim, Didi e Zagallo. Na final, Chinesinho ocupou a ponta esquerda no lugar de Zagallo. (Imagem: Youtube)

● Mas o escrete canarinho começou mal, ao empatar com o Peru por 2 a 2. Depois, as quatro vitórias consecutivas voltaram a dar esperanças para o Brasil (3 a 0 sobre o Chile, 4 a 2 na Bolívia, 3 a 1 no Uruguai e 4 a 1 no Paraguai). Precisava vencer a Argentina em pleno Munumental de Núñez abarrotado por 85 mil hinchas.

Os donos da casa estavam com 100% de aproveitamento. Haviam vencido o Chile (6 x 1), a Bolívia (2 x 0), o Peru (3 x 1), o Paraguai (3 x 1) e o Uruguai (4 x 1). No torneio de pontos corridos, bastaria um empate com o Brasil para conquistar seu 12º título. E ele veio.


A comissão técnica formada por José Barreiro, José Della Torre e Victorio Spinetto escalou a Argentina no tradicional sistema WM.


O esquema tático implementado pelo treinador Vicente Feola foi o 4-2-4.

A Argentina abriu o placar com o meia direita Juan José Pizzuti aos 40 minutos de jogo.

Aos 13′ da etapa final, Pelé marcou e empatou a partida.

O garoto Pelé, já campeão do mundo e consagrado Rei, ainda tinha 18 anos. Foi o artilheiro da Copa América na única edição que disputou, anotando oito gols em seis jogos.

Foi pouco.

O empate por 1 x 1 e o título foi um consolo para os hermanos, ainda ressentidos pelo vexame de 1958.


Pelé marcou contra a Argentina, mas o Brasil não conseguiu vencer (Imagem: AFA)

● Ainda em 1959, a cidade equatoriana de Guayaquil inaugurou um novo estádio e solicitou a permissão da CONMEBOL para organizar um novo Campeonato Sul-Americano. A entidade concordou e, pela primeira e única vez em toda a história, houve duas edições da Copa América no mesmo ano. O torneio ganhou o status de “Campeonato Sul-Americano Extraordinário” e ocorreu de 05 a 25 de dezembro. O Uruguai se sagrou campeão, com a Argentina como vice e o Brasil com o 3º lugar. O detalhe é que a Seleção Brasileira foi representada pela Seleção Pernambucana, vice-campeã do antigo Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais no mesmo ano de 1959.


Festa argentina pelo título conquistado em casa (Imagem: Impedimento)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 1 x 1 BRASIL

 

Data: 04/04/1959

Estádio: Monumental de Núñez

Público: 85.000

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Carlos Robles (Chile)

 

ARGENTINA (WM):

BRASIL (4-2-4):

Osvaldo Negri (G)

1  Gylmar (G)

Jorge Griffa

2  Djalma Santos

Juan Carlos Murúa

3  Bellini (C)

Juan Francisco Lombardo

6  Orlando

Eliseo Mouriño

4  Coronel

Vladislao Cap

5  Dino Sani

Ángel Nardiello

8  Didi

Juan José Pizzuti

7  Garrincha

Héctor Sosa

9  Paulo Valentim

Eugenio Callá

10 Pelé

Raúl Belén

11 Chinesinho

 

Técnicos: José Barreiro / José Della Torre / Victorio Spinetto

Técnico: Vicente Feola

 

SUPLENTES:

 

 

Juan Bertoldi (G)

Castilho (G)

Luis Cardoso

Mauro

Julio Nuín

Chico Formiga

Carlos Griguol

Paulinho de Almeida

Carmelo Simeone

Nílton Santos

José Varacka

Zito

Oreste Corbatta

Décio Esteves

Roberto Brookes

Dorval

Osvaldo Güenzatti

Almir Pernambuquinho

Pedro Manfredini

Henrique

Juan José Rodríguez

Zagallo

 

 

 

GOLS:

40′ Juan José Pizzuti (ARG)

58′ Pelé (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Juan Francisco Lombardo (ARG) ↓

Carmelo Simeone (ARG) ↑

 

Jorge Griffa (ARG) ↓

Luis Cardoso (ARG) ↑

 

Eugenio Callá (ARG) ↓

Juan José Rodríguez (ARG) ↑

 

Paulo Valentim (BRA) ↓

Almir Pernambuquinho (BRA) ↑

… 03/04/1957 – Argentina 3 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 03/04/1957 – Argentina 3 x 0 Brasil


Em pé: Giménez, Guillermo Stábila (técnico), Domínguez, Dellacha, Néstor Rossi, Schandlein e Vairo. Agachados: Corbatta, Maschio, Angelillo, Sívori e Cruz. (Imagem: Soccer Nostalgia)

● Depois da derrota para o Paraguai na decisão do Campeonato Sul-Americano de 1953, o Brasil não enviou delegação para a disputa do torneio em 1955, no Chile. No ano seguinte, terminou em quarto lugar, no Uruguai. Em 1957, tinha um time realmente muito bom, com grandes chances de conquistar o título. Aquela já era a base que conquistaria o mundo um ano depois, com Gylmar, Castilho, Djalma Santos, Nílton Santos, Bellini, Zózimo, Oreco, Zito, Dino Sani, Joel, Garrincha, Pepe e Didi. Mas nem essas lendas impediram mais uma “amarelada” brasileira em competições longe de casa.

A Argentina enviou uma equipe bastante renovada. Como o sindicato de jogadores impedia a convocação de aletas que atuavam no exterior, o mítico técnico Guillermo Stábile teve que convocar muitos jovens. A linha de frente era composta por alguns meninos: Omar Corbatta (21 anos), Humberto Maschio (24), Antonio Valentín Angelillo (19), Omar Sívori (21) e Osvaldo Héctor Cruz (25 – futuro jogador do Palmeiras). Esse quinteto ficou conhecido como “Los Carasucias de Lima” (“Cara-sujas” é uma gíria para “moleques” no país hermano).

Outros destaques eram o goleiro Rogelio Domínguez (futuro multicampeão pelo Real Madrid, que encerraria a carreira no Flamengo) e o maestro Néstor Rossi, o “Patrão da América”, veterano (31 anos) remanescente das grandes conquistas nos anos 1940.

“Los Carasucias de Lima”: Corbatta, Maschio, Angelillo, Sívori e Cruz (Imagem: Futebol Portenho)

Na penúltima rodada, a Argentina teria a chance de ser campeã por antecipação se vencesse o Brasil. Os portenhos vinham de quatro vitórias (8 x 2 contra Colômbia, 3 x 0 no Equador, 4 x 0 no rival Uruguai e 6 x 2 no Chile). Por sua vez, os brasileiros tinham um jogo a mais, e haviam vencido quatro jogos (4 a 2 sobre o Chile, 7 a 1 no Equador, 9 a 0 na Colômbia – partida na qual Evaristo de Macedo marcou cinco gols, recorde de um jogador na Seleção Brasileira até hoje – e 1 a 0 contra o Peru) e perdido uma partida (3 a 2 para o Uruguai).

Para ter alguma chance se sonhar com o título, a Seleção Canarinho não podia sofrer gols e tinha que vencer por pelo menos dois, para igualarem a pontuação e passar à frente no critério de desempate, o goal average (divisão do número de gols marcados pelo número de gols sofridos).


Treinada pelo mito Guillermo Stábile, a seleção argentina jogava no esquema tático WM


O Brasil de Osvaldo Brandão também atuava no sistema WM, mas já ensaiava uma mudança para o 4-2-4 que se concretizou no ano seguinte com Vicente Feola

● Os primeiros minutos foram muito equilibrados. A Argentina teve a primeira chance em uma cobrança de falta de Schandlein, bem defendida por Gylmar. O Brasil apareceu assustando com Didi emendando uma falta de Joel. Sívori tentou por cobertura, mas Zózimo salvou. Evaristo se lesionou logo aos 10′ e foi substituído por Índio.

Aos poucos os albicelestes começaram a tomar conta do jogo e o placar foi aberto aos 23 minutos. Schandlein lançou do campo defensivo para Cruz na ponta esquerda. Ele cruzou rasteiro e Sívori chutou. A bola bateu em Djalma Santos e sobrou limpa para Angelillo mandar para o gol.

Maschio quase ampliou em seguida, mas Gylmar salvou “como um gato” e mandou para escanteio. Pepe teve a chance de empatar, mas Domínguez também fez grande defesa e espalmou para fora. Joel chegou a marcar aos 39′, mas o árbitro inglês Robert Turner anulou o tento por entender que houve falta do ponta direita. Sívori ainda perdeu uma boa chance ao isolar a bola.

No intervalo, o técnico Osvaldo Brandão trocou os goleiros: saiu Gylmar e entrou Castilho. Pouco depois do reinício, o mestre Zizinho (anulado por Néstor Rossi) foi sacado para dar lugar a Dino Sani.

A Argentina dominava. Os dez jogadores de linha atuavam no campo canarinho. O centroavante Angelillo chegou aumentar a vantagem, mas o gol foi anulado por impedimento. Ainda assim, quase o empate brasileiro aconteceu, em um sem-pulo de Índio que raspou a trave.

A cinco minutos do fim, o Brasil já estava todo bagunçado e não conseguia organizar um ataque sequer. E ficou ainda pior.

Aos 43′, Néstor Rossi passou por dois brasileiros, deixou com Angelillo, que passou para Maschio. O craque argentino encobriu Castilho para fazer o segundo gol de seu escrete.

Já nos acréscimos, Dino Sani perdeu a cabeça e empurrou Vairo. Na cobrança de falta, Maschio passou para Angelillo encher o pé. A bola foi na trave e sobrou para Cruz, que não perdoou e decretou o 3 a 0 e o título argentino por antecipação.

Na rodada final, a Argentina jogou sem interesse algum e perdeu para o Peru, dono da casa. Não mudava nada. A Argentina já havia se sagrado campeã do Campeonato Sul-Americano pela 11ª vez.


(Imagem: Los Andes)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 3 x 0 BRASIL

 

Data: 03/04/1957

Estádio: Nacional

Público: 55.000

Cidade: Lima (Peru)

Árbitro: Robert Turner (Inglaterra)

 

ARGENTINA (WM):

BRASIL (WM):

Rogelio Domínguez (G)

1  Gylmar (G)

Pedro Dellacha (C)

4  Djalma Santos

Ángel Schandlein

2  Édson

Cacho Giménez

3  Olavo

Néstor Rossi

5  Zózimo

Federico Vairo

6  Roberto Belangero

Oreste Omar Corbatta

7  Joel

Humberto Maschio

8  Zizinho (C)

Antonio Valentín Angelillo

9  Evaristo de Macedo

Omar Sívori

10 Didi

Osvaldo Héctor Cruz

11 Pepe

 

Técnico: Guillermo Stábile

Técnico: Osvaldo Brandão

 

SUPLENTES:

 

 

Antonio Roma (G)

Castilho (G)

David Iñigo

Édgar (G)

Federico Pizarro

Bellini

Jorge Benegas

Paulinho de Almeida

Juan Héctor Guidi

Nílton Santos

Oscar Mantegari

Oreco

Héctor De Bourgoing

Zito

José Sanfilippo

Dino Sani

Roberto Brookes

Cláudio Christovam de Pinho

Juan Castro

Garrincha

Miguel Juárez

Índio

 

GOLS:

23′ Antonio Valentín Angelillo (ARG)

87′ Humberto Maschio (ARG)

90′ Osvaldo Héctor Cruz (ARG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Gylmar (BRA) ↓

Castilho (BRA) ↑

 

Zizinho (BRA) ↓

Dino Sani (BRA) ↑

 

Evaristo de Macedo (BRA) ↓

Índio (BRA) ↑

Elenco da Seleção Brasileira no Sul-Americano de 1957. Em pé: Joel, Garrincha, Índio, Paulinho, Djalma Santos, Evaristo, Dino Sani, Pepe e Didi. Agachados: Zózimo, Belini, Castilho, Oreco, Edson e Olavo. (Imagem: Álbum dos Esportes)

… 01/04/1953 – Paraguai 3 x 2 Brasil

Três pontos sobre…
… 01/04/1953 – Paraguai 3 x 2 Brasil


(Imagem: Lance)

● O Brasil entrou como favorito à conquista do Campeonato Sul-Americano de 1953. Era o então detentor da taça (foi campeão no Maracanã, em 1949 – história que contaremos no dia 11 de maio). Contava com vários remanescentes da Copa do Mundo de 1950, na qual, se não conquistou o título, encantou o mundo.

O elenco mesclava a experiência de Barbosa, Danilo Alvim, Bauer, Zizinho e Ademir de Menezes, com jovens como Julinho Botelho e Pinheiro, e até alguns futuros campeões do mundo cinco anos depois: Castilho, Gylmar, Djalma Santos, Nílton Santos e Didi. O técnico era Zezé Moreira, o “inventor” da marcação por zona no futebol brasileiro (e irmão de Aymoré Moreira, treinador que ganhou a Copa de 1962).

A missão brasileira ficou relativamente mais “fácil” com nova ausência da Argentina e a tentativa de renovação da seleção uruguaia, que enviou uma equipe muito jovem e inexperiente.

Havia “apenas” uma grande ameaça ao título: o Brasil nunca havia vencido uma Copa América fora de seu país. Já tinha três títulos, mas sempre jogando em casa: 1919, 1922 e 1949.

Até então, o único troféu ganho no exterior havia sido o Campeonato Pan-Americano de Futebol de 1952, em Santiago, capital do Chile. E esse título que fez o Brasil deixar de ser um “amarelão” fora de casa foi conquistado por basicamente o mesmo elenco da Copa América de 1953.


Tanto Paraguai quanto Brasil jogavam no sistema tático WM.

● O torneio foi disputado no formato de pontos corridos e foi uma intensa batalha. Ao fim de seis partidas para cada, Brasil e Paraguai terminaram empatados com 8 pontos, o que obrigou a disputa de um jogo desempate.

O Brasil havia vencido quatro jogos (8 a 1 na Bolívia, 2 a 0 no Equador, 1 a 0 no Uruguai e 3 a 2 no Chile) e perdido dois (1 a 0 para o Peru e 2 a 1 para o Paraguai).

O Paraguai tinha vencido três (3 x 0 sobre o Chile, 2 x 1 na Bolívia e 2 x 1 no Brasil), empatado dois (0 x 0 com o Equador e 2 x 2 com o Uruguai) e perdido um (empatou por 2 x 2 com o Peru, mas foi punido com a derrota nos tribunais, devido ao comportamento anti-desportivo por ter feito uma alteração além das permitidas e pelo fato de um atleta ter chutado o árbitro). Ou seja, se o resultado de campo fosse mantido, o Paraguai teria sido campeão sem precisar do jogo extra.

Mas ele ocorreu. Mais de 35 mil pessoas encheram o estádio Nacional, de Lima, para assistir à decisão.

E os paraguaios foram implacáveis na etapa inicial.

Aos 14 minutos de jogo, Atilio López inaugurou o marcador.

A vantagem foi ampliada três minutos depois, por Manuel Gavilán.

No fim do primeiro tempo, aos 41′, Rubén Fernández fez o terceiro. Parecia que estava tudo decidido.

Mas o Brasil não se deu por vencido e diminuiu com dois gols de Baltazar, o “Cabecinha de Ouro”, aos 56′ e aos 65′.

Mas foi só. Foi o primeiro título da história do futebol do Paraguai, com gosto de revanche sobre a Seleção Brasileira, que o havia goleado na decisão quatro anos antes.

Mais uma vez o Brasil não conquistava o torneio fora de casa.

Pouco depois do torneio, o técnico Manuel Fleitas Solich foi contratado pelo Flamengo, por indicação do escritor rubro-negro José Lins do Rêgo. No mesmo ano, conquistou com o clube o primeiro título dentro do Maracanã e emendou logo um tricampeonato carioca (1953/54/55). Depois, Fleitas Solich ainda conquistaria a atual UEFA Champions League pelo Real Madrid em 1959/60 (e outras dezenas de títulos por onde passou).


Fleitas Solich marcou época como técnico da seleção paraguaia e do Flamengo (Imagens localizadas no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

PARAGUAI 3 x 2 BRASIL

 

Data: 01/04/1953

Estádio: Nacional

Público: 35.000

Cidade: Lima (Peru)

Árbitro: Charles Dean (Inglaterra)

 

PARAGUAI (WM):

BRASIL (WM):

Adolfo Riquelme (G)

Castilho (G)

Melanio Olmedo

Djalma Santos

Heriberto Herrera

Haroldo

Ireneo Hermosilla

Nílton Santos

Manuel Gavilán

Brandãozinho

Victoriano Leguizamón

Bauer (C)

Ángel Berni

Julinho Botelho

Atilio López

Didi

Rubén Fernández

Baltazar

Juán Ángel Romero

Pinga

Antonio Ramón Gómez

Cláudio Christovam de Pinho

 

Técnico: Manuel Fleitas Solich

Técnico: Zezé Moreira

 

 

 

 

Rubén Noceda (G)

Barbosa (G)

Antonio Cabrera

Gylmar (G)

Robustiano Maciel

Pinheiro

Domingo Martínez

Ely

Alejandro Arce

Danilo Alvim

Derlis Molinas

Noronha

Milner Ayala

Alfredo II

Inocencio González

Zizinho

Luis Lacasa

Ademir de Menezes

Pablo León

Ipojucã

Silvio Parodi

Rodrigues Tatu

 

GOLS:

14′ Atilio López (PAR)

17′ Manuel Gavilán (PAR)

41′ Rubén Fernández (PAR)

56′ Baltazar (BRA)

65′ Baltazar (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Atilio López (PAR) ↓

Silvio Parodi (PAR) ↑

 

Juán Ángel Romero (PAR) ↓

Luis Lacasa (PAR) ↑

 

Antonio Ramón Gómez (PAR) ↓

Inocencio González (PAR) ↑

 

Nílton Santos (BRA) ↓

Alfredo II (BRA) ↑

 

Pinga (BRA) ↓

Ipojucã (BRA) ↑

… 31/03/1963 – Bolívia 5 x 4 Brasil

Três pontos sobre…
… 31/03/1963 – Bolívia 5 x 4 Brasil


Em pé: Max Ramírez, Eduardo Espinoza, Wilfredo Camacho, Roberto Caínzo, Eulogio Vargas e Arturo López. Sentados: Ramiro Blacut, Máximo Alcócer, Víctor Agustín Ugarte, Ausberto García e Fortunato Castillo (Imagem: historiadoresdosesportes.com)

● A Copa América teve sua primeira edição em 1916. Desde então, ela passou a ser disputada com frequência, mas de forma intermitente. Entre 1916 e 1929, a competição só não ocorreu em 1918 e 1928. Voltaria em 1935 de forma bianual, mas continuaria irregular até 1967. Tanto, que em 1959 houve dois torneios.

Em 1963, a Bolívia foi sede do torneio pela primeira vez. Os bolivianos não tinham uma grande tradição no futebol. Haviam participado apenas de nove das 27 edições anteriores do torneio. Disputou a Copa do Mundo de 1930 (perdeu para a Iugoslávia e para o Brasil, ambos por 4 x 0).

Mas para compreender melhor as circunstâncias dessa partida histórica, precisamos voltar até a fatídica Copa do Mundo de 1950, sediada no Brasil. A seleção boliviana ganhou a vaga de presente após a desistência dos argentinos, que estavam com relações futebolísticas cortadas com o Brasil na época. A Bolívia foi sorteada no Grupo D, juntamente com Uruguai, França e Portugal. Franceses e portugueses desistiram antes mesmo de viajarem e a FIFA não preencheu suas vagas na competição. Ou seja: a Copa teria quatro grupos de quatro seleções, mas o Grupo C teve três (a Índia desistiu) e o Grupo D contou apenas com Uruguai e Bolívia. Ambos se enfrentaram em 02/07/1950, no estádio Independência, em Belo Horizonte, com massacre dos charruas por 8 a 0.


O povo boliviano ficou em festa com o título (Imagem: historiadelfutbolboliviano.com)

● Treze anos depois, a Bolívia sediaria o Campeonato Sul-Americano. Tinha um elenco fraco, mas contava com seu grande aliado desde sempre: a altitude – maior fator histórico do pouco sucesso das equipes boliviana e até mesmo de sua seleção. Os atletas locais, mais adaptados a jogar no mítico estádio Hernando Siles, na capital La Paz, a 3.600 metros acima do mar, costumam ter vantagem por sofrer menos com o ar rarefeito e seus impactos, como falta de ar, dor de cabeça e cansaço excessivo.

As três potências do continente se revoltaram por disputar a competição na altitude. O Uruguai desistiu e nem enviou sua delegação. A Argentina enviou uma equipe de jovens inexperientes. O Brasil, então bicampeão do mundo, optou por poupar seus principais atletas e convocou uma lista de jogadores de pouco prestígio até mesmo em seu próprio país. Os mais “famosos” eram o zagueiro Procópio, do Atlético-MG, e o atacante Flávio Minuano, do Inter.


Danilo Alvim, “O Príncipe” (Imagem: tardesdepacaembu.wordpress.com)

O técnico da Bolívia também nos faz recordar a Copa de 1950. Era o brasileiro Danilo Alvim, apelidado de “O Príncipe” pelo seu estilo refinado de jogo. Era um jogador muito técnico, mesmo sendo um volante marcador. Foi um dos pilares do CR Vasco da Gama das décadas de 1940 e 1950, que ficou conhecido como “Expresso da Vitória”.

Danilo foi um dos criticados após o Maracanazzo. Pendurou as chuteiras em 1956, no nosso amado Uberaba Sport Club e já emendou a carreira de técnico no clube mineiro, onde durou um ano. Mesmo sem experiência na função, foi descoberto e convidado pela Federação Boliviana de Futebol para ser o comandante da seleção anfitriã na Copa América de 1963. Discípulo do uruguaio Ondino Vieira (que o treinou no Vasco), Danilo armou o time no sistema tático WM – bastante ofensivo e desprotegido, se comparado com o 4-2-4 que já tinha virado moda desde o início da década.

A dona da casa contava com a liderança de Víctor Agustín Ugarte, “El Maestro”, que estava prestes a completar 37 anos e era remanescente da Copa de 1950. Citado por muitos como o maior jogador da história do país, já não tinha um rendimento físico e técnico como os companheiros e adversários, mas compensava com inteligência e bom posicionamento.


Víctor Agustín Ugarte, “El Maestro”, encerrou a carreira nos braços de seu povo (Imagem: historiadelfutbolboliviano.com)

● Mas a Bolívia não começou bem o torneio, ao empatar com o Equador por 4 x 4. Depois, com direito a catimba e retranca, virou sobre a Colômbia por 2 x 1. Na sequência, venceu o Peru por 3 x 2 e o Paraguai por 2 x 0. O sonho ficou mais próximo de se tornar realidade ao vencer a combalida Argentina por 3 x 2.

O formato do torneio era de pontos corridos. Àquela altura, na última rodada, bastava uma vitória diante do Brasil para garantir a taça. Mas a Bolívia foi além. Danilo teve todos méritos ao conter a empolgação de seus comandados, não os deixando levar pela torcida e pela imprensa. Nada estava decidido.

Três equipes tinham chances de título ou de forçar o jogo extra. A Bolívia tinha 9 pontos, o Paraguai 8, e o Brasil 7. A Bolívia dependia apenas de si precisava vencer o Brasil para ser campeã. O Paraguai necessitava vencer a Argentina e torcer por uma vitória (seria campeão) ou empate (forçaria o jogo extra) do Brasil sobre a Bolívia. O Brasil tinha que vencer a Bolívia para forçar o jogo extra, mas só se a Argentina derrotasse o Paraguai. Se isso acontecesse, Brasil, Argentina e Paraguai disputariam um triangular final – e a Bolívia estaria eliminada.

Contudo, na partida preliminar no estádio Hernando Siles, o Paraguai empatou com a Argentina no mesmo dia 31/03 e deixou os donos da casa a um empate do título.


A Bolívia jogou no já defasado sistema tático WM. Enquanto a defesa ficava desguarnecida, o ataque era fortalecido.


O Brasil, de Amyoré Moreira, foi escalado no seu já tradicional 4-2-4 – sistema tático que lhe rendeu as duas últimas Copas do Mundo.

● Sabendo do que precisava, a Bolívia começou com tudo. Abriu o placar com o ídolo Víctor Agustín Ugarte, aos 15 minutos de jogo.

O talismã Wilfredo Camacho ampliou aos 25′. Na partida anterior, contra a Argentina, Camacho tinha feito um gol de pura persistência, que deu origem à expressão “futebol camachista“, desde então usada para denominar a raça e entrega dos bolivianos durante uma partida.

O Brasil diminuiu logo na sequência, com Marco Antônio, que jogava no Comercial, de Ribeirão Preto.

Dois minutos depois, a Seleção Canarinho voltou a ter esperanças ao empatar, com gol de Almir, atleta do Taubaté.

Mas, aos 13 min do 2º tempo, o ídolo Ugarte frustrou os brasileiros e fez o terceiro dos locais. Ele não tinha feito nenhum gol na competição. Quando precisou, no jogo decisivo, fez logo dois. O camisa 10 se consagrou definitivamente como o maior mito do futebol local e encerrou a carreira ali mesmo.

Ausberto García ampliou aos 17′.

Flávio Minuano fez dois gols, aos 63′ e aos 66′ e deixou tudo igual novamente. Flávio era realmente muito bom e merecia ter disputado a Copa do Mundo de 1966, se não houvesse aquela bagunça generalizada na organização.

O placar se tornou definitivo em 5 x 4 a quatro minutos do fim, com o gol do ponta direita Máximo Alcócer, artilheiro boliviano no torneio com cinco gols.


(Imagem: historiadoresdosesportes.com)

● Com o resultado, a Bolívia (e sua altitude) conquistou o título da Copa América de 1963 de forma invicta, com cinco vitórias e um empate, marcando 19 gols e sofrendo 13. O sistema hiper-ofensivo de Danilo deu o resultado, embora sofresse na defesa.

A conquista rendeu aos heróis bolivianos uma pensão vitalícia garantida pelo Congresso Nacional do país.

O Paraguai foi o vice-campeão. O centroavante local Ramiro Blacut foi eleito o melhor jogador e o equatoriano Carlos Raffo foi o artilheiro, com seis gols marcados.

O Brasil terminou com o 4º lugar, com duas vitórias (1 x 0 no Peru e 5 x 1 na Colômbia), um empate (2 x 2 com o Equador) e três derrotas (2 x 0 para o Paraguai, 3 x 0 para a Argentina e os 5 x 4 para a Bolívia).


Os heróis do título reunidos em 2011 (Imagem: Jornal La Patria)

● A Copa América seguinte foi disputada no Uruguai, em 1967. A seleção boliviana, então detentora do troféu, terminou em último lugar, com um empate e quatro derrotas.

Desde então, a melhor classificação foi o vice-campeonato em 1997, quando voltou a jogar em casa. Perdeu a decisão para o Brasil de Ronaldo por 3 x 1.

Talvez essa geração da década de 1990 tenha sido a melhor do país em todos os tempos. Em 1994, jogadores como Erwin “Platini” Sánchez, Marco “El Diablo” Etcheverry e Julio César Baldivieso levaram a Bolívia de volta a uma Copa do Mundo. Nos EUA, perdeu para a Alemanha (1 x 0), empatou com a Coreia do Sul (0 x 0) e perdeu para a Espanha (3 x 1). Erwin Sánchez marcou o único gol dos bolivianos na história das Copas.


Seleção boliviana na Copa do Mundo de 1994 (Imagem: soccerfootballwhatever.blogspot.com)

FICHA TÉCNICA:

 

BOLÍVIA 5 x 4 BRASIL

 

Data: 31/03/1963

Estádio: Félix Capriles

Público: 25.000

Cidade: Cochabamba (Bolívia)

Árbitro: Ovidio Orrego (Colômbia)

 

BOLÍVIA (WM):

BRASIL (4-2-4):

Arturo López (G)

Silas (G)

Roberto Caínzo

Jorge

Eduardo Espinoza

Cláudio Danni

Eulogio Vargas

Procópio Cardoso (C)

Max Ramírez

Geraldino

Wilfredo Camacho

Ílton Vaccari

Máximo Alcócer

Marco Antônio

Ausberto García

Almir

Ramiro Blacut

Tião Macalé

Víctor Agustín Ugarte

Flávio Minuano

Fortunato Castillo

Oswaldo

 

Técnico: Danilo Alvim

Técnico: Aymoré Moreira

 

SUPLENTES:

 

 

Isaac Álvarez (G)

Marcial (G)

Hugo Palenque

Massinha

Alberto Torres Vargas

Amáury Horta

Osvaldo Villarroel

Mário Tito

Carlos Cárdenas

Ary

Jesús Herbas

William

Mario Zabalaga

Píter

Atilio Aguirre

Ílton Chaves

Abdul Aramayo

Altamiro

Jaime Herbas

Amauri Silva

Renan López

Fernando

Edgar Quinteros

 

 

GOLS:

15′ Víctor Agustín Ugarte (BOL)

25′ Wilfredo Camacho (BOL)

26′ Marco Antônio (BRA)

28′ Almir (BRA)

58′ Víctor Agustín Ugarte (BOL)

62′ Ausberto García (BOL)

63′ Flávio Minuano (BRA)

66′ Flávio Minuano (BRA)

86′ Máximo Alcócer (BOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Jorge ↓

Massinha

 

Máximo Alcócer

Renan López

… Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958

Três pontos sobre…
… Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958


(Imagem: Baú do Futebol)

● As cinco primeiras Copas do Mundo ofereceram uma experiência extraordinária para a Seleção Brasileira. Assim, para a Copa de 1958, na Suécia, a CBD organizou melhor a seleção dentro e fora de campo. Pela primeira vez, a delegação contava com supervisor (Carlos Nascimento, do Bangu), preparador físico (Paulo Amaral, do Botafogo), médico (Hilton Gosling, do Bangu), dentista (Mário Trigo de Loureiro, fundamental também por descontrair qualquer ambiente com suas piadas), massagista (Mário Américo) e até um psicólogo (João Carvalhaes).

O processo de escolha do técnico foi o resultado de um consenso entre João Havelange, presidente da CBD desde o início do ano, e Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação brasileira na Copa (e fundador da Rede Record). Vários nomes foram cogitados, como o paraguaio Fleitas Solich (técnico do Flamengo), Flávio Costa (técnico da Copa de 1950) e Zezé Moreira (técnico da Copa de 1954). Mas escolheram Vicente Feola, que era auxiliar técnico de Béla Guttmann no São Paulo, quando o húngaro implementou um inédito esquema tático com quatro zagueiros no clube paulista, semelhante à grande seleção da Hungria de 1954. Feola utilizaria também este sistema na Seleção.

Dr. Paulo encomendou um plano de preparação bem detalhado para a Copa, elaborado por três jornalistas da TV Record: Paulo Planet Buarque, Flávio Iazzetti e Ary Silva. Nele, foi traçado todo o roteiro de treinamento, dia a dia, desde a manhã da apresentação, no dia 07/04, o embarque para a Europa, no dia 24/05 e até a realização dos jogos amistosos.

A preparação toda foi cercada de muitos cuidados. A delegação levou carne e um cozinheiro para a concentração no Turist Hotel, na pacata cidade de Hindås, à beira de um belo lago. Para não correr nenhum risco, a comissão técnica escolheu o local um ano antes e conseguiu convencer a direção do hotel a substituir, naquele mês, 28 funcionárias mulheres (cozinheiras, garçonetes e arrumadeiras) por homens.

Para se ter uma noção da dificuldade de comunicação entre Brasil e Suécia na época (e também do rigor da concentração da Seleção), havia um dia específico marcado para cada um telefonar ao Brasil. Essa ligação poderia ocorrer só uma vez por semana e não deveria ultrapassar três minutos.

Os brasileiros introduziram uma novidade nos modelos esportivos usados na época: os calções curtos e camisas com modelos mais adequados para a prática do futebol. Em seu estágio primitivo, os calções chegavam aos joelhos e as camisas tinham até bolso.

Tudo foi planejado de forma inédita, da melhor maneira possível. Uma preparação de campeão. Essa enorme equipe técnica só falhou em um pequeno detalhe: esqueceu de informar à FIFA os números das camisas dos jogadores. Reza a lenda que, assim, coube ao uruguaio Lorenzo Villizio, integrante do comitê organizador da Copa, definir os números com base no que conhecia dos jogadores. E ele cometeu erros grosseiros, como dar a camisa 3 para o goleiro Gylmar e a 9 ao zagueiro reserva Zózimo. Por uma grande e feliz coincidência, a camisa 10 ficou com Pelé.


Pelé chora de emoção, amparado pelo grande goleiro Gylmar (Imagem: O Globo)

● O brasileiro sofria de “complexo de vira-lata”. Essa expressão foi criada pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues (irmão de Mário Filho, também jornalista, que dá nome ao estádio Maracanã). Ela refletia o sentimento que tomou conta do país depois da derrota na Copa de 1950. Mesmo quando a Seleção demonstrava um bom futebol, esse complexo fazia a torcida duvidar. Sempre tinha um “pé atrás”. Didi era um craque de reconhecido nível mundial, mas no Brasil era criticado por ser preguiçoso nos treinamentos. Essa “síndrome” só terminaria quando viesse uma grande conquista.

Desde a Copa de 1938, o jogador brasileiro sempre chamou a atenção por sua habilidade e irreverência. Mas a falta de um título mundial colocava nosso futebol em xeque. Para a maioria, faltava seriedade aos craques e técnica aos mais sérios. Sempre enxergamos isso mais como um problema do que como uma solução. Mas a Seleção de 1958 veio para mudar esse estigma, com o irreverente Garrincha e o carrancudo Didi.

O Brasil chegou à Suécia sem despertar maiores interesses da imprensa e do público de modo geral. Embora tivesse vários jogadores de qualidade reconhecida, era apenas mais uma boa equipe dentre tantas outras. A equipe passou pelas eliminatórias empatando com o Peru, em Lima (1 x 1) e vencendo o jogo de volta por 1 a 0, no Maracanã, com um gol de Didi cobrando falta, com sua famosa “folha-seca”. Mesmo com dificuldades, o Brasil estava pronto para disputar de verdade o título mundial.

De todos os 33 convocados da lista inicial, a ausência mais sentida foi do craque veterano Zizinho, que ainda jogava em altíssimo nível, mesmo aos 37 anos. Mas havia uma geração de craques a serviço do escrete canarinho. Formado por 12 atletas do Rio de Janeiro e 10 de São Paulo, era uma equipe equilibrada, que podia apostar também no vigor físico de seus atletas. Dos jogadores que entraram em campo, apenas Nílton Santos tinha mais que 30 anos. Os caçulas eram Pelé, com 17, e Mazzola, com 19. A média de idade era de 25 anos.

O elenco se apresentou no dia 07/04 e iniciou os treinamentos nas cidades mineiras de Poços de Caldas e Araxá. Para fazer os cortes necessários e fechar a lista nos 22 atletas, a Seleção fez alguns jogos preparatórios. Pelo torneio amistoso “Taça Oswaldo Cruz”, foram duas partidas contra o Paraguai: goleada por 5 x 1 e empate por 0 x 0. Depois, em dois amistosos contra a Bulgária, foram duas vitórias: 4 x 0 e 3 x 1.

Tiveram ainda dois jogos treino, com derrota por 1 x 0 para o Flamengo e vitória por 5 x 0 contra o Corinthians, a três dias da viagem para a Europa. Nessa última partida, veio o drama: Pelé sofreu uma entrada violenta do lateral corintiano Ari Clemente e teve torção de tornozelo. Se ele fosse cortado, Almir Pernambuquinho entraria em seu lugar. Mas a comissão técnica resolveu levar Pelé mesmo assim, pois acreditavam que ele estaria apto a entrar na terceira partida do Mundial. Pelé era o caçula da equipe. Por causa das dores no joelho que surgiram durante a preparação, ele pediu diversas vezes para ser mandado de volta para o Brasil. Mas Dr. Paulo se recusava: “Calma, garoto, você vai jogar nessa Copa e vai fazer muitos gols”. Um dia Pelé não aguentou a carga de exercícios e pediu novamente para ser desligado. Foi aí que o massagista Mário Américo provocou o moleque: “Você só não joga essa Copa se não for homem. Você é homem?” Pelé gritou que era muito macho e todos riram. E nesse momento, quando viu mexerem com seus “brios”, o menino começou a ganhar confiança.


(Imagem: Pinterest)

● A Seleção fez ainda mais dois amistosos em solo europeu: uma foi em 29/05, na partida de despedida de Julinho da Fiorentina, e outra contra a Internazionale de Milão, no dia 01/06. Em ambas, o Brasil goleou por 4 a 0.

Julinho é um caso a parte nessa história. Ele havia se firmado como titular indiscutível da ponta direita da Seleção, após as excelentes partidas na Copa de 1954. No ano seguinte, ele foi jogar na Fiorentina, da Itália. Mas na época, não era comum a convocação de jogadores que atuavam no exterior. Devido ao grande moral que tinha e sua enorme qualidade, uma exceção seria aberta para ele. Então, no início de 1958, João Havelange escreveu uma carta a Julinho perguntando quando terminaria seu contrato e se ele estaria disposto a defender o Brasil na Copa. Ele respondeu que seu contrato terminaria dia 30/05, às vésperas do Mundial, e que gostaria muito de representar a Seleção, pois estava em plena condição física. No entanto, com muito pesar, ele disse que recusaria a convocação em consideração aos colegas que haviam atuado na posição com a camisa da Seleção nos últimos anos. Um gesto de hombridade de um jogador deste tamanho. Possivelmente, Joel seria o reserva, caso Julinho tivesse ido para a Copa. Dessa forma, Garrincha ficaria de fora.

Garrincha também merece um parágrafo só para ele neste texto. Feola tinha uma dúvida na posição: Joel ou Garrincha. O Mané tinha desagradado à comissão técnica por uma molecagem no amistoso contra a Fiorentina. No lance do quarto gol brasileiro, ele driblou o goleiro e ficou esperando, pouco antes da risca; quando o zagueiro veio em sua direção, Garrincha o driblou e tocou de calcanhar para o gol. Agradou à torcida, mas não ao supervisor Carlos Nascimento e ao psicólogo João Carvalhaes. Eles disseram que o ponta tinha mentalidade de criança e poderia comprometer a Seleção. Uma grande irresponsabilidade, que poderia por tudo a perder em uma partida oficial. Feola teria escalado Garrincha mesmo assim, mas, segundo Ruy Castro, essa difícil decisão contou com a participação do observador Ernesto Santos.

Ernesto expôs à comissão técnica sobre a qualidade dos quatro meio campistas do WM austríaco e sugeriu que o Brasil reforçasse o setor para equilibrar as ações. Portanto, seria necessário que o ponta direita auxiliasse na recomposição, como Zagallo fazia com maestria pelo lado esquerdo. Feola argumentou que eles poderiam pedir a Garrincha para executar esse papel. Mas o preparador físico Paulo Amaral, que conhecia bem o ponta do Botafogo, foi taxativo ao afirmar que ele não conseguiria cumprir função tática nenhuma e que não seguiria o pedido de marcar pelo meio. Assim, Joel, ótimo ponta direita e mais disciplinado, foi o escolhido para a primeira partida do Mundial.

Nílton Santos era o jogador mais experiente do grupo, com 33 anos e iria para seu terceiro Mundial. Ele era o titular da lateral esquerda nos anos anteriores, mas havia uma pressão da imprensa paulista a favor de Oreco, que atuava no Corinthians. De acordo com Ruy Castro, Nílton estava definido como titular desde os amistosos na Itália, mas Péris Ribeiro (autor do livro “Didi – o gênio da folha-seca”) garante que Oreco é quem começaria o primeiro jogo de estreia. Mas, na véspera, o lateral do time paulista sofreu um afundamento de malar.

Na preparação para a Copa, notícias diziam que Moacir, do Flamengo, estava treinando melhor que Didi, que não se esforçava nos treinos. A imprensa logo pediu a troca no time titular. A responsa de Didi ficou na história: “Treino é treino, jogo é jogo”.


Garrincha passa por marcador soviético (Imagem: R7)

● Na primeira partida do Grupo 4, o Brasil bateu a forte Áustria por 3 a 0. Essa vitória contundente deixou a torcida brasileira esperançosa. Mas no jogo seguinte, o bom futebol não se repetiu e o Brasil empatou em 0 a 0 com a Inglaterra, com uma grande atuação do goleiro inglês Colin McDonald. Essa foi a primeira partida sem gols da história das Copas, depois de 116 jogos.

O resultado e o nível apresentado desagradaram Feola, que promoveu três alterações para a partida seguinte: saíram da equipe Dino Sani, Joel e Mazzola, e entraram Zito, Garrincha e Pelé. Zito entrou no time porque Dino Sani sentia dores. O menino Pelé se recuperou da contusão, como esperado, e tinha seu lugar no time titular. Joel sentiu dores e Garrincha foi escalado. Há também a lenda que diz sobre uma reunião sobre a escalação entre Feola, Nilton Santos e dois jornalistas, mas de qualquer forma Garrincha entraria.

Assim, com essas mudanças, o Brasil começou o jogo com tudo contra a União Soviética. O jornalista francês Gabriel Hanot (criador da UEFA Champions League) afirmou que aqueles foram os “três minutos mais incríveis da história do futebol”. Garrincha mostrou a que veio e o Brasil venceu por 2 a 0, com dois gols de Vavá.

Nas quartas de final, a Seleção Brasileira passou por País de Gales, que tinha uma equipe modesta, mas muito bem armada. A vitória foi por 1 a 0, com um gol espetacular de Pelé, seu primeiro em Copas do Mundo. Ele iniciava ali o seu longo reinado.

O adversário na semifinal foi a fortíssima seleção francesa, que vinha de resultados expressivos e tinha ótimos jogadores, como Robert Jonquet, Roger Piantoni, Raymond Kopa e Just Fontaine (o artilheiro do Mundial, com incríveis 13 gols em seis jogos). Mas a Seleção venceu por 5 a 2, com um gol de Vavá, um de Didi e três de Pelé (“hat trick”).

Na decisão, o Brasil bateu os donos da casa, de virada, por 5 a 2, com dois gols de Vavá, dois de Pelé e um de Zagallo. Vitória maiúscula na final! Brasil campeão do mundo!

Pela primeira vez a taça não ficou no continente que a promoveu. O Brasil foi o primeiro país a vencer uma Copa do Mundo fora de seu continente, e repetiu a façanha em 2002, ao ganhar a Copa da Coreia do Sul e do Japão. Esse feito foi repetido pela Espanha em 2010, com o título na África do Sul, e pela Alemanha, vencendo no Brasil em 2014.


Bellini foi escolhido pelo técnico Feola depois da recusa de Didi e Nilton Santos. Mal sabiam que o zagueiro ficaria eternizado na história do futebol por isso… (Imagem: Baú do Futebol)

Todos os gols da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958:

… 12/07/1998 – França 3 x 0 Brasil

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… 12/07/1998 – França 3 x 0 Brasil

Allez Le Bleus!”


Zinedine Zidane desfilou em campo. (Imagem: Globo Esporte)

● Era a final dos sonhos: França e Brasil. Considerados favoritos desde o início, era a primeira decisão entre o país sede e o então campeão mundial. Era a primeira decisão dos franceses e a quinta dos brasileiros. Até então, a melhor classificação da França em uma Copa do Mundo tinha sido o 3º lugar em 1958 e 1986 (eles não disputavam um Mundial desde então). Mesmo anfitriã, “Les Bleus” não eram favoritos diante do Brasil, que defendia o título e tinha uma camisa pesada, com quatro títulos mundiais.

A França mostrava a sinergia de um grupo heterogêneo ao cantar emocionadamente o hino nacional, a linda “Marselhesa“, repetida por 80 mil pessoas no Stade de France, em Saint-Denis. Ainda houve tempo para o zagueiro Laurent Blanc dar o tradicional beijo na careca de Barthez, como tinha feito antes de cada jogo. Blanc estava suspenso. Em seu lugar, entrou o (também) ótimo Frank Leboeuf.

Na escalação, uma surpresa: Edmundo jogaria na vaga de Ronaldo. Mas na entrada em campo, o “Fenômeno” estava lá no lugar do “Animal”. Haviam rumores de que Ronaldo tinha sofrido um mal-estar à tarde (leia sobre isso mais abaixo). Cafu, suspenso na semifinal contra a Holanda, estava de volta ao time.

VEJA MAIS:
… 07/07/1998 – Brasil 1 x 1 Holanda
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Mesmo com as críticas da torcida e da imprensa, o técnico francês Aimé Jacquet demonstrava total confiança em seu próprio trabalho e deu um “nó tático” no ultrapassado Zagallo. Um ano antes do Mundial aconteceu o Torneio da França, uma competição amistosa que reunia brasileiros, franceses, italianos e ingleses. Aquele mesmo torneio em que Roberto Carlos fez um gol de falta contra a França, em que a bola fez uma curva incrível, em um empate por 1 a 1. Naqueles dias, o esperto treinador francês tomou nota de tudo que viu em campo. Mas, principalmente uma sobre a Seleção Brasileira: era preciso impedir os avanços pelas laterais; se os laterais não jogassem, o time também não jogava. Assim, a estratégia estava bem definida: Karembeu foi escalado para marcar Rivaldo, mas fechava para ajudar Thuram a cercar Roberto Carlos. Da mesma forma era do outro lado: Petit marcava Leonardo, mas auxiliava Lizarazu a barrar Cafu. Foi uma marcação que não deu a mínima chance ao ataque brasileiro.


A França jogou no sistema 4-5-1, fechando os espaços do Brasil e apostando no contra-ataque.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.

● Logo aos 28 segundos, o péssimo atacante francês Stéphane Guivarc’h quase fez um gol de puxeta, na primeira das inúmeras falhas do zagueiro Júnior Baiano nessa final.

A primeira jogada do ataque canarinho foi aos 21 minutos, quando Ronaldo (mesmo com todos os problemas) cruzou fechado para o gol. O excêntrico e careca goleiro Barthez quase falhou, mas desviou para fora.

Aos 23′, Leonardo cobrou escanteio para a cabeçada de Rivaldo, mas Barthez foi seguro na defesa.

Quando o Brasil errava menos passes e parecia se encontrar no jogo, Roberto Carlos desarma Karembeu, mas deixa a bola escapar e concede um escanteio bobo no lado direito do ataque francês. Petit cobrou de pé trocado, de esquerda, e Zidane veio correndo da entrada da área para desviar de cabeça para o gol, se antecipando a Leonardo e marcando seu primeiro gol na Copa. O técnico Jacquet sabia que não teria marcação sobre Zidane, já que ele (apesar de alto) não era conhecido como um bom cabeceador (e normalmente, ele era o responsável por várias das bolas paradas). Assim, aos 26 minutos, a dona da casa abria o placar. Foi o primeiro gol de cabeça de Zizou pela seleção (e logo viria o segundo…).

Poucos minutos após o gol francês, um lance ilustrou o frágil estado emocional do time brasileiro. Ronaldo recebeu lançamento de Dunga na entrada da área adversária e se chocou com Barthez, caindo imóvel no chão. Os jogadores do Brasil se desesperaram, pensando que algo mais grave poderia ter acontecido. Mas, felizmente, foi um choque normal. Mas esse fato só deixou ainda mais clara a preocupação que todos os jogadores tinham com Ronaldo, com medo de que ele repetisse a crise.

Uma incessante troca de passes, que até fez a torcida gritar “olé“, terminou no pé direito de Petit, que perdeu a chance de ampliar o marcador.

No fim do tempo regulamentar, Guivarc’h recebeu lançamento livre, após nova falha de Júnior Baiano, e chutou cruzado para uma excelente defesa de Taffarel. Na sequência, novo escanteio. Dessa vez era do lado esquerdo e foi cobrado também de pé trocado por Djorkaeff. A bola foi fechada, Dunga caiu e Zidane se antecipou e entrou de cabeça. A bola passou entre as pernas de Roberto Carlos. Dois gols de Zidane de cabeça! Inédito!

O Brasil voltou melhor para o segundo tempo. Zagallo atirou o Brasil no ataque. No intervalo, tirou Leonardo e colocou Denílson aberto na ponta esquerda e abriu Bebeto na direita. Avançou Rivaldo para ajudar Ronaldo no centro do ataque. Em determinado momento, o Brasil teve, ao mesmo tempo, cinco atacantes em campo: Bebeto, Ronaldo, Rivaldo, Denílson e Edmundo. Mas não conseguiu produzir como precisava.

A primeira grande chance foi de Ronaldo, aos 11 minutos. Rivaldo cobrou falta ensaiada com Roberto Carlos, que cruzou para o segundo pau. O camisa 9 apareceu livre, na pequena área, mas chutou sem ângulo em cima de Barthez.

Aos 15′, Roberto Carlos alçou uma cobrança de arremesso lateral para a área. Barthez saiu “catando borboletas” e a bola sobrou para Bebeto finalizar e Desailly salvar quase em cima da linha.

A França passou todo o segundo tempo tocando a bola e esperando o fim do jogo, ajudado pela apatia do time brasileiro. Mas ainda teve suas chances.

Foi uma aula de futebol do maestro Zinedine Zidane, muito mais do que os dois gols de cabeça. No meio campo, ele era marcado à distância por Dunga e César Sampaio, jogando livre e tomando conta do jogo. No lado esquerdo, Djorkaeff caía pelo meio para ajudar a armar as jogadas ofensivas. Os laterais Thuram e Lizarazu não apoiavam, cumprindo estritamente seus papeis defensivos.

Na metade do segundo tempo, Desailly avançou em contra-ataque, perdeu a bola e fez falta dura em Cafu, recebendo o segundo cartão amarelo e, por consequência, sendo expulso.

Aos 18′, pela terceira vez no jogo, Guivarc’h apareceu livre e isolou a bola. Aos 37, Dugarry imitou o colega e “conseguiu” perder um gol feito, chutando de forma bisonha à direita de Taffarel. Poderia ter sido uma goleada histórica, se os atacantes franceses tivessem acertado alguma das muitas chances perdidas.

No minuto 45, Edmundo fez uma boa jogada e tocou para Denílson. De esquerda, o chute tocou no travessão e foi para fora.

No fim, uma discussão sem necessidade entre Edmundo e Rivaldo, quando o camisa 10 colocou uma bola para fora para que Zidane recebesse atendimento médico. Edmundo, com seu excesso de vontade, foi contra o “fair play” do camisa 10.

A Seleção Canarinho foi definitivamente destroçada aos 47 minutos do segundo tempo. Denílson cobrou escanteio, Rivaldo não dominou a bola e Dugarry puxou o contra-ataque. Ele tocou para Vieira, que lançou de primeira para Petit nas costas de Cafu. O cabeludo, camisa nº 17, tocou cruzado na saída de Taffarel. 3 a 0.

Festa em todo o país! Enfim, a França conquistava sua primeira Copa do Mundo. O presidente Jacques Chirac entregou a taça ao capitão Didier Deschamps, que, merecidamente, a levantou. Justíssimo!


Zizou abriu o placar de cabeça. (Imagem: Baú do Futebol)

● Não faltaram motivos para o Brasil perder a final da Copa de 1998 para a França por 3 a 0. Mas até hoje há diversas pessoas que acreditam piamente em teorias da conspiração. Uma delas diz que o Brasil “vendeu” o jogo em troca de ser a sede da Copa do Mundo de 2014. Outra diz que houve um acordo entre Nike (fornecedora de material esportivo da Seleção Brasileira) e a Adidas (fornecedora dos franceses), para que o título de 1998 ficasse na França e o de 2002 viesse para o Brasil (mas será que acertaram também com todas as seleções que jogaram em 2002?) Outra versão diz que Ronaldo foi envenenado por um cozinheiro francês na concentração. A mais pura verdade é que a França se preparou e fez um Copa do Mundo melhor do que o Brasil. Os franceses anularam Ronaldo e Rivaldo, as principais peças do Brasil até a final, e explorou os contra-ataques e as deficiências da defesa brasileira.

A França era o primeiro país sede a conquistar o título desde a Argentina em 1978. Foi o primeiro país campeão a terminar uma Copa com o melhor ataque (15 gols) e a melhor defesa (dois gols). Já o Brasil sofreu seu maior revés em Copas (0 x 3 contra a França) e terminou com a defesa mais vazada da competição (dez gols).


O mundo parou quando Ronaldo se chocou com Barthez. Felizmente, nada mais grave. (Imagem localizada no Google)

● Primeiro, falou-se em uma lesão no tornozelo. Depois, descobriu-se que o atacante havia sofrido um mal súbito na concentração durante a tarde. Existem várias versões: uma diz que foi um colapso nervoso, outra que foi o excesso de infiltrações de xilocaína no joelho (oito injeções em 32 dias) e até uma que diz que foi um ataque cardíaco.

Segue abaixo a reprodução do “Guia dos Curiosos das Copas do Mundo“, de Marcelo Duarte:

“No dia da decisão da Copa, por volta das 14 horas, Roberto Carlos levou o maior susto ao ver seu companheiro de quarto, Ronaldo, salivando, revirando os olhos, respirando com dificuldade. “Para com isso, Ronaldo, acorda!”, disse Roberto Carlos. Vendo que a coisa era séria, o jogador saiu do quarto correndo, pedindo ajuda. César Sampaio e Leonardo prestaram os primeiros socorros, enquanto Bebeto e Edmundo foram chamar o médico Lídio Toledo. Edmundo chegou a gritar pelos corredores que “Ronaldinho estava morrendo”. Quando o médico chegou, Ronaldo pediu para continuar a dormir. Ao acordar para o lanche, ele não se lembrava da crise convulsiva. Foi levado a uma clínica para fazer exames neurológicos completos, que nada acusaram. A convulsão, segundo uma das versões, teria sido causada por uma injeção de xilocaína aplicada no joelho do jogador. Mesmo assim, Edmundo foi escalado como titular. Ronaldo chegou ao estádio às 20h10, trocou-se rapidamente e pediu para ser escalado – o jogo começaria às 21 horas, no horário local. A comissão técnica fez uma reunião numa sala ao lado do vestiário:
– Estou bem, professor, ninguém me tira desse jogo – disse Ronaldo.
– Como é, Lídio? – perguntou o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que desceu apressado das tribunas ao receber a escalação da equipe sem Ronaldo.
– Não vou assumir sozinho. É muita responsabilidade – respondeu Lídio.
– Está bem? Não sente nada? Então, pronto, está decidido: você vai jogar – disparou o técnico Zagallo.
– Então, bota o garoto – ordenou Ricardo Teixeira.”

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 3 X 0 BRASIL

 

Data: 12/07/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Stade de France

Público: 80.000

Cidade: Saint-Denis (França)

Árbitro: Said Belqola (Marrocos)

 

FRANÇA (4-5-1):

BRASIL (4-3-1-2):

16 Fabien Barthez (G)

1  Taffarel (G)

15 Lilian Thuram

2  Cafu

18 Frank Leboeuf

4  Júnior Baiano

8  Marcel Desailly

3  Aldair

3  Bixente Lizarazu

6  Roberto Carlos

7  Didier Deschamps (C)

5  César Sampaio

19 Christian Karembeu

8  Dunga (C)

17 Emmanuel Petit

18 Leonardo

10 Zinedine Zidane

10 Rivaldo

6  Youri Djorkaeff

20 Bebeto

9  Stéphane Guivarc’h

9  Ronaldo

 

Técnico: Aimé Jacquet

Técnico: Zagallo

 

SUPLENTES:

 

 

1  Bernard Lama (G)

12 Carlos Germano (G)

22 Lionel Charbonnier (G)

22 Dida (G)

5  Laurent Blanc

13 Zé Carlos

2  Vincent Candela

14 Gonçalves

14 Alain Boghossian

15 André Cruz

4  Patrick Vieira

16 Zé Roberto

11 Robert Pirès

17 Doriva

13 Bernard Diomède

11 Emerson

21 Christophe Dugarry

7  Giovanni

12 Thierry Henry

19 Denílson

20 David Trezeguet

21 Edmundo

 

GOLS:

27′ Zinedine Zidane (FRA)

45+1′ Zinedine Zidane (FRA)

90+3′ Emmanuel Petit (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

33′ Júnior Baiano (BRA)

39′ Didier Deschamps (FRA)

48′ Marcel Desailly (FRA)

56′ Christian Karembeu (FRA)

 

CARTÃO VERMELHO: 68′ Marcel Desailly (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Leonardo (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

57′ Christian Karembeu (FRA) ↓

Alain Boghossian (FRA) ↑

 

66′ Stéphane Guivarc’h (FRA) ↓

Christophe Dugarry (FRA) ↑

 

73′ César Sampaio (BRA) ↓

Edmundo (BRA) ↑

 

74′ Youri Djorkaeff (FRA) ↓

Patrick Vieira (FRA) ↑

VEJA OUTROS JOGOS DA COPA DE 1998:
… 30/06/1998 – Argentina 2 x 2 Inglaterra
… 04/07/1998 – Holanda 2 x 1 Argentina
… 29/06/1998 – Holanda 2 x 1 Iugoslávia
… 13/06/1998 – Nigéria 3 x 2 Espanha
… 11/07/1998 – Croácia 2 x 1 Holanda
… 20/06/1998 – Bélgica 2 x 2 México
… 11/06/1998 – Itália 2 x 2 Chile


França campeã do mundo em 1998. (Imagem: AFP / Getty Images)

Gols da decisão:

Jogo completo: