… 03/06/2002 – Brasil 2 x 1 Turquia

Três pontos sobre…
… 03/06/2002 – Brasil 2 x 1 Turquia


O Fenômeno estava de volta (Imagem: O Globo)

Campeã da Copa do Mundo de 1994, a Seleção Brasileira sofreu um duro golpe ao perder de 3 a 0 para a França na final do Mundial de 1998. Mesmo contando com uma geração espetacular e craques do nível de Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos, a preparação para 2002 não foi nada tranquila. Zagallo deu lugar a Vanderlei Luxemburgo e o Brasil venceu e convenceu na Copa América de 1999, mas depois começou a oscilar. Ronaldo se lesionou seriamente e ficou mais de dois anos sem jogar.

Luxa foi demitido depois do fiasco nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. Os maus resultados na Copa das Confederações de 2001 derrubou também Emerson Leão, seu sucessor. Luiz Felipe Scolari começou mal, sendo eliminado na Copa América de 2001 pela fraca seleção de Honduras. No fim do ano, a duras penas, Felipão contou com a tabela favorável e a estrela de Luizão para garantir a classificação para a Copa de 2002.

E no ano da Copa, o treinador precisou reconstruir o time à sua maneira. Deu chances a Anderson Polga, Gilberto Silva, Kléberson e Kaká e montou a famosa “Família Scolari”, com jogadores de sua confiança. Com isso, deixou de fora estrelas como Romário, Djalminha, Alex, Zé Roberto, Juan e outros.

Apesar das críticas e do forte apelo popular, Felipão insistiu em deixar Romário de fora das convocações, depois que o “Baixinho” pediu dispensa da Copa América de 2001, alegando que faria um tratamento no olho, mas atuou pelo Vasco em uma excursão caça-níquéis no México. Romário pediu desculpas e chorou em entrevista coletiva, mas não convenceu o treinador, que preferiu convocar Luizão – fundamental na reta final das Eliminatórias.

Apostando no forte e constante apoio dos laterais Cafu e Roberto Carlos, Scolari os transformou em alas e escalou a Seleção no sistema 3-5-2. O esquema não trazia boas recordações para os brasileiros, que se recordavam do fiasco da Seleção em 1990, comandada por Sebastião Lazaroni. Mas, diferente de doze anos atrás, dessa vez o time ficou mais sólido na defesa e continuou forte no ataque.

No sorteio do chaveamento da Copa, o Brasil caiu no Grupo C, com adversários teoricamente fáceis, como a pouco tradicional Turquia, a estreante China e a fraca Costa Rica.


Seleção turca na Copa do Mundo de 2002 (Imagem: UOL)

● A única participação da Turquia em Copas do Mundo havia sido em 1954, quando caiu em um grupo com Hungria, Alemanha Ocidental e Coreia do Sul. Perdeu na estreia para a Alemanha por 4 a 1 e venceu a Coreia do Sul por 7 a 0. Devido ao regulamento, não enfrentou a Hungria e precisou disputar um jogo-desempate, novamente contra os alemães – perdeu por 7 a 2 e foi eliminada na primeira fase.

Mas o histórico recente era bom, muito graças àquela geração que colocava seu país novamente em um Mundial 48 anos depois. Do elenco de 2002, sete atletas haviam disputado a Eurocopa de 1996 e 14 estavam na Euro 2000. A espinha dorsal da equipe era o Galatasaray campeão da Copa da UEFA na temporada 1999/2000 – onze dos 23 convocados haviam participado daquela que é a maior conquista de um clube turco.

Era um time muito bem treinado pelo ex-goleiro Şenol Güneş. Além do ótimo conjunto, haviam destaques individuais, como o forte centroavante Hakan Şükür (da Inter de Milão), o goleiro Rüştü Reçber (que jogaria no Barcelona depois do Mundial) e o meia Yıldıray Baştürk (vice-campeão da UEFA Champions League na temporada 2001/02, com o Bayer Leverkusen). Ao fim da Copa, três turcos foram nomeados para a seleção do torneio: o goleiro Rüştü, o zagueiro Alpay Özalan e o meia-atacante Hasan Şaş.


Felipão apostou no sistema 3-5-2, para liberar o avanço dos laterais. A seleção ficou mais sólida na defesa e continuou forte no ataque. Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo se revezavam na criação e no ataque.


Şenol Güneş espelhava o esquema brasileiro no 3-5-2. As apostas turcas eram na defesa bem postada, na criatividade de Yıldıray Baştürk, na velocidade de Hasan Şaş e no oportunismo de Hakan Şükür.

● Era um dia incomum. Em plena segunda-feira, dia 03 de junho, o Brasil acordou mais cedo. Era a estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002, na cidade de Ulsan, na Coreia do Sul. Devido ao fuso-horário, a partida ocorreu em um horário bastante incomum para nós: seis horas da manhã. Mas valeu a pena ter acordado mais cedo.

Mas nem tudo começou bem. Na véspera da estreia, o então capitão Émerson deslocou o ombro nos treinos, jogando como goleiro. Um desfalque importante para o sistema idealizado por Scolari.

Todavia, como costuma acontecer, a Seleção entrou em campo com total favoritismo. Mas encontrou um duro adversário e enfrentou muitas dificuldades para vencer. O nervosismo é natural na estreia, mas o Brasil começou jogando muito bem. Nos primeiros 15 minutos, dominou totalmente o adversário, embora não tenha conseguido transformar em gol nenhuma das chances criadas. Destaque para o goleiro Rüştü Reçber, que fechou a baliza. Não estava fácil passar pelo goleiro turco.

Ronaldo pedalou pela esquerda e cruzou para Rivaldo cabecear firme. Rüştü foi pego no contrapé, mas fez uma defesa dificílima.

Logo após, Rivaldo chutou da entrada da área, mas o goleiro turco defendeu em dois tempos.

Depois disso, a Turquia pareceu se livrar do nervosismo da estreia e passou a equilibrar as ações. Edmílson fez pênalti em Hasan Şaş, não marcado pelo árbitro.

Aos 47 minutos do primeiro tempo, a Turquia abriu o placar. Yıldıray Baştürk carregou a bola pela direita e inverteu o jogo. Na esquerda, Hasan Şaş apareceu nas costas de Cafu e chutou forte, de primeira, no alto do gol de Marcos.


Ronaldo se esticou todo para marcar o primeiro gol brasileiro na Copa (Imagem: Getty Images)

● Na segunda etapa, o Brasil foi em busca do empate. Rivaldo entrou na área, driblou Rüştü, mas foi travado na hora do chute.

O empate brasileiro veio aos cinco minutos do segundo tempo. Juninho Paulista abriu para Rivaldo na esquerda. O camisa 10 ergueu a cabeça e cruzou para a pequena área. Ronaldo Fenômeno apareceu voando no espaço livre entre os zagueiros e o goleiro e usou todo seu oportunismo, esticando a perna no ar para finalizar com a ponta do pé. Um malabarismo, uma acrobacia, que só poderia ser feita por quem estivesse 100% fisicamente. Foi o primeiro gol de Ronaldo pela Seleção em mais de mil dias. O Fenômeno estava de volta.

Mesmo que de forma desordenada, o Brasil continuou atacando. Ronaldo passou por dois adversários, mas chutou fraco e Rüştü defendeu.

Aos 17′, Cafu tocou para Juninho, livre dentro da área. Ele chutou e Rüştü impediu o segundo gol canarinho. Após a cobrança de escanteio, Rivaldo foi lançado e marcou de cabeça, mas o árbitro anulou o gol. Uma decisão polêmica.

A Turquia também teve as suas chances. Em cobrança de falta ensaiada, Marcos rebateu e voou para pegar o rebote.

Pareceria mesmo que o Brasil seria frustrado com um empate no jogo de estreia. Mas, aos 41 minutos, a Turquia errou a saída de bola. Luizão (que tinha acabado de entrar no lugar de Ronaldo) ganhou de Alpay Özalan na velocidade e foi derrubado na meia-lua. O brasileiro seguiu se arrastando até cair dentro da área. O árbitro sul-coreano Kim Young-joo expulsou corretamente Alpay, mas marcou erradamente o pênalti. Na cobrança, Rivaldo bateu firme, no canto esquerdo de Rüştü e marcou o gol do alívio e da vitória brasileira.

Já nos acréscimos, quase sempre discreto Rivaldo protagonizou um lance ridículo. Enquanto o brasileiro se preparava para cobrar um escanteio, Hakan Ünsal chutou uma bola na coxa do camisa 10 brasileiro, que encenou uma pancada no rosto. O árbitro deu cartão vermelho para Ünsal, que foi o centésimo atleta expulso em uma Copa. Mas o brasileiro acabou multado pela FIFA em US$ 7,5 mil por atitude anti-desportiva.


Luizão sofreu falta fora da área, mas a arbitragem assinalou pênalti (Imagem: Extra / Globo)

“Ganhar da Turquia na primeira fase foi muito importante, o time deles era bom e saímos pendendo. Acho que nessa partida mostramos força e aonde poderíamos ir. Virar aquela partida foi inesquecível.” — Ronaldo

“A estreia é pior que a final. Ali é que você sabe como está. Se o primeiro jogo for ruim, parece que o caminho fica muito mais longo.” — Marcos

Apesar da boa estreia da Turquia, seria injusto que o Brasil não vencesse a partida, principalmente pelo volume de jogo e pelas chances criadas. Mas a verdade é que as decisões do juiz interferiram demais no resultado a favor da Seleção Brasileira.

Após a partida, os atletas turcos argumentaram que foram prejudicados pela arbitragem. Criticados pela imprensa de seu país, os jogadores decidiram que só concederiam entrevistas à imprensa estrangeira – o que ocorreu até o fim da Copa.

Os turcos perderam a batalha, mas se manteriam até o fim da guerra. Ao decorrer da Copa, mostraram um excelente desempenho. Nas partidas seguintes, a Turquia empatou com a Costa Rica em 1 x 1 e venceu a China por 3 x 0. Nas oitavas, bateu o Japão por 1 x 0. Senegal foi o adversário das quartas, só derrotado na prorrogação (1 x 0) com um gol de ouro de İlhan Mansız. Na semifinal, perdeu novamente para o Brasil (1 x 0). Conquistou o histórico 3º lugar no Mundial ao vencer a Coreia do Sul por 3 x 2. Nessa partida, Hakan Şükür marcou o gol mais rápido da história das Copas, aos 10,8 segundos. A Turquia é a única seleção a ter vencido dois anfitriões em uma mesma edição de Mundial (Japão e Coreia do Sul).

Na sequência, o Brasil goleou a China por 4 a 0 e a Costa Rica por 5 a 2. Nas oitavas de final, sofreu para vencer a Bélgica por 2 a 0. Nas quartas, contou com a genialidade de Ronaldinho Gaúcho para virar o placar contra a Inglaterra e vencer por 2 a 1. Nas semifinais, o reencontro com a Turquia só foi decidido com um bico genial de Ronaldo e vitória por 1 a 0. Na decisão, o Brasil foi mais consistente e venceu a Alemanha por 2 a 0, com dois gols de Ronaldo, artilheiro do certame com oito gols.


Rivaldo foi decisivo para a vitória brasileira (Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 1 TURQUIA

 

Data: 03/06/2002

Horário: 18h00 locais

Estádio: Munsu Cup Stadium

Público: 33.842

Cidade: Ulsan (Coreia do Sul)

Árbitro: Kim Young-joo (Coreia do Sul)

 

BRASIL (3-5-2):

TURQUIA (3-5-2):

1  Marcos (G)

1  Rüştü Reçber (G)

3  Lúcio

5  Alpay Özalan

5  Edmílson

16 Ümit Özat

4  Roque Júnior

3  Bülent Korkmaz

2  Cafu (C)

4  Fatih Akyel

8  Gilberto Silva

8  Tugay Kerimoğlu

19 Juninho Paulista

20 Hakan Ünsal

6  Roberto Carlos

21 Emre Belözoğlu

11 Ronaldinho Gaúcho

10 Yıldıray Baştürk

10 Rivaldo

11 Hasan Şaş

9  Ronaldo

9  Hakan Şükür (C)

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Şenol Güneş

 

SUPLENTES:

 

 

12 Dida (G)

12 Ömer Çatkıç (G)

22 Rogério Ceni (G)

23 Zafer Özgültekin (G)

13 Belletti

2  Emre Aşık

14 Ânderson Polga

22 Ümit Davala

16 Júnior

18 Ergün Penbe

18 Vampeta

14 Tayfur Havutçu

15 Kléberson

13 Muzzy Izzet

7  Ricardinho

7  Okan Buruk

23 Kaká

19 Abdullah Ercan

17 Denílson

15 Nihat Kahveci

20 Edílson

6  Arif Erdem

21 Luizão

17 İlhan Mansız

 

GOLS:

45+2′ Hasan Şaş (TUR)

50′ Ronaldo (BRA)

87′ Rivaldo (BRA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

21′ Fatih Akyel (TUR)

24′ Hakan Ünsal (TUR)

44′ Alpay Özalan (TUR)

73′ Denílson (BRA)

 

CARTÕES VERMELHOS:

86′ Alpay Özalan (TUR)

90+4′ Hakan Ünsal (TUR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

66′ Bülent Korkmaz (TUR) ↓

Ümit Davala (TUR) ↑

 

66′ Yıldıray Baştürk (TUR) ↓

İlhan Mansız (TUR) ↑

 

67′ Ronaldinho Gaúcho (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

72′ Juninho Paulista (BRA) ↓

Vampeta (BRA) ↑

 

73′ Ronaldo (BRA) ↓

Luizão (BRA) ↑

 

88′ Tugay Kerimoğlu (TUR) ↓

Arif Erdem (TUR) ↑

(Imagem: Getty Images)

Reportagem sobre a partida (SporTV):

Melhores momentos da partida:

Partida completa:

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