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… 04/06/1986 – Alemanha Ocidental 1 x 1 Uruguai

Três pontos sobre…
… 04/06/1986 – Alemanha Ocidental 1 x 1 Uruguai


(Imagem: Impromptuinc)

● O Grupo E era o mais equilibrado da Copa do Mundo de 1986. Alemanha Ocidental, Uruguai, Dinamarca a Escócia faziam o “grupo da morte”.

Na estreia, duas camisas pesadas se enfrentaram. Dois pesos pesados do futebol, Alemanha Ocidental e Uruguai haviam duelado quatro vezes até aquele confronto em Querétaro. Haviam sido quatro vitórias alemãs, sendo dois amistosos (3 x 0 em 1962 e 2 x 0 em 1977) e dois confrontos válidos por Copas do Mundo (4 x 0 em 1966 e 1 x 0 em 1970).

Ausente desde 1974, a Celeste Olímpica se garantiu no Mundial ao vencer o Grupo 2 das eliminatórias sul-americanas. Nesses doze anos sem estar entre os protagonistas, muitos diziam que os charruas estavam em decadência. Mas a renovação foi bem feita e o time conquistou a Copa América de 1983.

O maior problema estava dentro do próprio elenco, dividido em “panelinhas”. Muitos atletas tinham uma relação ruim e o treinador Omar Borrás não era muito afeito ao diálogo. O ambiente interno era péssimo. O técnico, cabeça dura, prescindia da experiência e talento dos jogadores que atuavam no futebol brasileiro.

Um dos melhores do mundo em sua posição, o goleiro Rodolfo Rodríguez (do Santos) vivia o auge de sua forma, mas perdeu a titularidade e a braçadeira de capitão. “Não fui escalado porque falta ao técnico o que eu tenho de sobra: coragem”, cutucou o arqueiro.

O zagueiro Hugo de León, eterno capitão do Grêmio e que estava no atuando no Corinthians, foi sumariamente ignorado e nem foi convocado por Borrás. Don Darío Pereyra, ídolo do São Paulo, se recuperava de problemas físicos. Rubén Paz, meia do Inter, nunca justificou seu talento na seleção de seu país. Os quatro eram craques e incontestáveis no futebol tupiniquim. O único dos “brasileiros” titulares era o lateral direito Víctor Diogo, do Palmeiras.

Mas havia em campo um craque capaz de mudar o curso de uma partida. Enzo Francescoli era o camisa 10 e o líder técnico dentro de campo. No entanto, a maior força uruguaia era a mística, a velha valentia, a pesada camisa celeste – sempre capaz de grandes façanhas.


Alzamendi dribla Schumacher e abre o placar (Imagem: Impromptuinc)

● Na prática, duas coisas mantiveram a Alemanha Ocidental na briga por títulos na década de 1980: tradição e Rummenigge.

No Grupo 2 da qualificatória europeia, se classificou como líder, com Portugal em segundo e deixando Suécia e Tchecoslováquia fora do Mundial.

A Nationalelf viajou para o México sem a confiança de sua torcida. Em pesquisa feita pela antiga revista Quick, apenas 12% dos conterrâneos acreditavam no título mundial. A falta de confiança é mais pelo modo crítico dos alemães de verem as coisas do que propriamente pelos últimos resultados.

Treinada por Franz Beckenbauer, os alemães sempre entram em qualquer disputa para vencer. Vencedor dentro de campo, o Kaiser queria se provar também fora dele. E havia material humano para isso.

Embora às vezes violento e temperamental, o goleiro “Toni” Schumacher estava entre os melhores da Europa. A defesa era consistente, com destaque para o polivalente panzer Briegel, que podia jogar na defesa, na lateral e no meio campo. No meio, Matthäus dava consistência e Magath o tom de criatividade. No ataque, Völler se recuperou totalmente de uma grave distensão muscular que sofreu em novembro passado. Mas o grande fator de desequilíbrio continuava sendo o velho Karl-Heinz Rummenigge, que vinha de seguidas contusões.


Na Copa em que a Dinamarca apresentou o 3-5-2 ao mundo como novidade tática, outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. A Alemanha jogava em um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. O lateral esquerdo Briegel fazia o papel de um terceiro zagueiro, a fim de liberar o outro lateral, Berthold, que apoiava um pouquinho mais pela direita, fazendo o contra-peso do meia esquerda Brehme. Matthäus era o “todo-campista” indo de área a área. Eder marcava para Magath armar as jogadas para os atacantes Klaus Allofs e Rudi Völler.


O Uruguai atuava no 4-4-2, com um jogador na sobra na defesa (como era mania na época). Francescoli tinha liberdade para circular e criar para os rápidos atacantes Alzamendi e Da Silva.

● Ao meio-dia a bola rolou no estádio La Corregidora, em Querétaro. Mais de 30 pessoas viram duas falhas defensivas resolverem a partida.

O Uruguai abriu o placar rapidamente, graças a uma falha grotesca. Logo aos quatro minutos de jogo, a Alemanha trocava passes na intermediária até que Norbert Eder tentou recuar para o goleiro. Uma tremenda burrice! A bola caiu no pé de Antonio Alzamendi, que entrou em velocidade, deixou Klaus Augenthaler no chão, invadiu a área, driblou Schumacher e chutou. A bola tocou no travessão e caiu após a linha do gol, antes de Briegel afastar de bicicleta. A bola entrou. Gol legal, confirmado pelo árbitro tchecoslovaco Vojtěch Christov.

Die Mannschaft acordou e começou a atacar. Pouco depois de sofrer o gol, Matthäus chutou forte do lado direito e Fernando Álvez teve dificuldades para jogar para escanteio.

Na sequência, Augenthaler fez um ótimo lançamento para Rudi Völler, que ganhou da marcação e chutou para boa defesa do arqueiro celeste.

Depois, os sul-americanos se fecharam começaram a puxar contra-ataques perigosos. Aos 16′, Francescoli criou a jogada e Alzamendi abriu para Da Silva chutar por cima.

Três minutos depois, Alzamendi puxou o contragolpe e correu o campo todo, mas foi travado por Augenthaler na hora H.

No início do segundo tempo, Francescoli ia fazendo fila na defesa germânica, mas Augenthaler (sempre ele), fez falta na risca da grande área, impedindo um golaço.

Aos 35′, Francescoli chegou a driblar Schumacher e chutar para fora. O Uruguai ia desperdiçando chances preciosas.

No lance seguinte, Rummenigge (que entrou no segundo tempo) cruzou da esquerda para cabeçada forte de Thomas Berthold, mas Álvez fez uma ótima defesa.

Aos 39′ do segundo tempo, após cobrança de escanteio dos alemães, a bola viajou no alto de uma intermediária a outra por duas vezes até que Augenthaler cortou de cabeça do meio campo. A bola viajou até a área uruguaia e a zaga não cortou. Klaus Allofs foi oportunista e chutou de esquerda, rasteiro e cruzado, no cantinho de Álvez, empatando a partida.


Allofs faz o gol de empate (Imagem: Impromptuinc)

● Após o empate com os alemães, o Uruguai foi massacrado pela “Dinamáquina” por 6 x 1 e empatou sem gols com a Escócia. Mesmo sem nenhuma vitória, passou de fase como um dos melhores terceiros colocados e enfrentou a Argentina nas oitavas de final. No clássico sul-americano, não conseguiu parar o imparável Maradona e foi eliminada após derrota por 1 x 0.

Na primeira fase, a Alemanha Ocidental se classificou em segundo lugar no Grupo E, com três pontos: empatou com o Uruguai (1 x 1), venceu a Escócia (2 x 1) e perdeu para a Dinamarca (2 x 0). Nas oitavas, penou para passar pelo Marrocos (1 x 0). Nas quartas, passou sufoco, vencendo o México apenas nos pênaltis por 4 a 1, após um empate sem gols. Fez seu melhor jogo na semifinal, vencendo a favorita França por 2 a 0. Na decisão, buscou um improvável empate, mas sofreu o gol derradeiro de Jorge Burruchaga nos minutos finais, após mais uma jogada genial de Maradona. A Argentina venceu por 3 x 2 e conquistou seu segundo título, deixando a Alemanha com seu segundo vice-campeonato consecutivo.

O Uruguai continuou freguês da Alemanha. Em dez duelos, nunca venceu uma partida (oito derrotas e dois empates). A única vitória ocorreu no primeiro duelo: 4 x 1 na primeira fase dos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã, com o time base que se tornaria o primeiro campeão do mundo dois anos depois.


(Imagem: impromptuinc.wordpress.com)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 1 x 1 URUGUAI

 

Data: 04/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: La Corregidora

Público: 30.500

Cidade: Querétaro (México)

Árbitro: Vojtěch Christov (Tchecoslováquia)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-4-2):

URUGUAI (4-4-2):

1  Harald Schumacher (G)(C)

12 Fernando Álvez (G)

14 Thomas Berthold

4  Víctor Diogo

4  Karlheinz Förster

2  Nelson Gutiérrez

15 Klaus Augenthaler

3  Eduardo Mario Acevedo

2  Hans-Peter Briegel

6  José Batista

6  Norbert Eder

5  Miguel Bossio

8  Lothar Matthäus

8  Jorge Barrios (C)

3  Andreas Brehme

11 Sergio Santín

10 Felix Magath

10 Enzo Francescoli

19 Klaus Allofs

9  Jorge Orosmán da Silva

9  Rudi Völler

7  Antonio Alzamendi

 

Técnico: Franz Beckenbauer

Técnico: Omar Borrás

 

SUPLENTES:

 

 

12 Uli Stein (G)

1  Rodolfo Rodríguez (G)

22 Eike Immel (G)

22 Celso Otero (G)

17 Ditmar Jakobs

13 César Veja

5  Matthias Herget

14 Darío Pereyra

16 Olaf Thon

15 Eliseo Rivero

13 Karl Allgöwer

16 Mario Saralegui

21 Wolfgang Rolff

17 José Zalazar

18 Uwe Rahn

18 Rubén Paz

7  Pierre Littbarski

19 Venancio Ramos

20 Dieter Hoeneß

20 Carlos Aguilera

11 Karl-Heinz Rummenigge

21 Wilmar Cabrera

 

GOLS:

4′ Antonio Alzamendi (URU)

84′ Klaus Allofs (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

28′ Víctor Diogo (URU)

62′ Mario Saralegui (URU)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Andreas Brehme (ALE) ↓

Pierre Littbarski (ALE) ↑

 

56′ Jorge Barrios (URU) ↓

Mario Saralegui (URU) ↑

 

75′ Lothar Matthäus (ALE) ↓

Karl-Heinz Rummenigge (ALE) ↑

 

80′ Antonio Alzamendi (URU) ↓

Venancio Ramos (URU) ↑

 

Melhores momentos da partida (em espanhol):

Gols do jogo (em inglês):

Partida completa (em inglês):

… 03/06/1934 – Itália 1 x 0 Áustria

Três pontos sobre…
… 03/06/1934 – Itália 1 x 0 Áustria

(Imagem: AP Photo)

● A revolução no futebol austríaco teve nome e sobrenome: Hugo Meisl. Nascido na cidade de Malešov (hoje na República Tcheca), então pertencente ao antigo Império Austro-Húngaro, ele era um homem rico que dedicou toda sua vida ao futebol. Foi treinador da seleção austríaca de 1919 até sua morte, em 1937. Seu maior sonho era construir uma seleção forte.

Meisl foi um dos que solidificaram o sistema tático 2-3-5 na Europa Central. Seus times eram conhecidos pela movimentação constante de seus jogadores do meio para a frente, sempre com rápidas trocas de passes, ao invés de um estilo mais físico. Essa característica ficou ainda mais incisiva a partir de 1931, quando o treinador resolveu seguir uma sugestão de jornalistas presentes no Café Ring, em Viena.

A Áustria tinha dois excelentes jogadores que eram centroavantes em seus clubes. Matthias Sindelar jogava no Austria Vienna e Josef Smistik no Rapid Wien. Por serem da mesma posição, ninguém pensava em escalá-los juntos. Mas Meisl ouviu a imprensa e fez uma adaptação, deslocando seu capitão Smistik para jogar como centromédio, onde ele poderia usar toda sua inteligência e visão de jogo. Assim, trocou um centroavante estático (Smistik) por outro que flutuava entre as linhas e armava os ataques do time Sindelar (conhecido como “Der Papierene” – “Homem de Papel -, pelo seu físico magro, leveza e mobilidade).

Na primeira partida dessa forma, a Áustria goleou a Escócia por 5 x 0, em amistoso disputado em 16/05/1931. O time ficou invicto durante quase dois anos e só voltou a perder em 1932 para a Inglaterra (4 x 3) em Wembley, onde o “English Team” nunca havia sido derrotado por um adversário não-britânico até então (só veio a perder em 1953, para a Hungria de Ferenc Puskás). Mas os austríacos venderam caro a derrota, abalando o inquestionável futebol-força praticado na Inglaterra.

Até o início do Mundial de 1934, a Áustria havia vencido ou empatado 28 dos 31 jogos que disputou nos três anos anteriores. Havia vencido adversários fortes, como Suécia, Suíça, Itália, Hungria, Alemanha e outras. Não era simplesmente resultado. O time dava show. Tanto, que ganhou o apelido de “Der Wunderteam” (“time maravilha”). Possuía uma verdadeira legião de craques como os já citados Sindelar (maior gênio do futebol do país), Smistik e Josef Bican (um dos maiores artilheiros da história).

Com tudo isso, e por possuir o melhor retrospecto entre todas as seleções, era impossível que a Áustria não fosse apontada como a maior favorita ao título da segunda Copa do Mundo.


(Imagem: Pinterest)

● Mas haviam outras grandes forças na Europa à época. A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, “Il Duce” queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi”. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota disputaram o Mundial em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro).

Mas a Squadra Azzurra não era só política, mas contava com um ótimo time, com craques como Giuseppe Meazza e Giovanni Ferrari e contava com um bom retrospecto em partidas recentes.

Chegava extenuada para a semifinal, após precisar de 210 minutos para eliminar a excelente seleção da Espanha.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


No 2-3-5 de Meisl, os meio-campistas tinham liberdade para armar, embora suas maiores preocupações fossem as defensivas. Sindelar flutuava pelas linhas adversárias em busca de espaço e era apoiado por uma linha de frente bem experiente.

● Novamente sob o olhar atento de Mussolini, mais de 35 mil pessoas assistiram a esse duelo da Europa Central, no estádio San Siro, em Milão.

Mas a Áustria foi bastante prejudicada por dois fatos: a forte chuva que deixou o campo pesado demais para se tocar a bola e a arbitragem do sueco Ivan Eklind, sempre conivente com o jogo desleal dos italianos.

O único gol do jogo saiu aos 19 minutos do primeiro tempo. Após um cruzamento rasteiro na área austríaca, Meazza chutou e o goleiro Peter Platzer não conseguiu segurar. O ponta direita Enrique Guaita (um dos “oriundi”) trombou com ele e foi chutando bola, goleiro, lama e tudo mais para o dentro do gol.

A Azzurra foi novamente beneficiada pelo homem do apito. Mas isso não pode ser desculpa. Na verdade, a Áustria não conseguiu reeditar seu bom futebol e a Itália soube usar suas armas para vencer.

E a Itália, liderada pelo ótimo centromédio argentino Luisito Monti (especialista nisso), passou a distribuir pancadas e chutões para todos os lados, garantindo a classificação para a final da Copa.


(Imagem: Pinterest)

● Na primeira fase, a Áustria passou pela França por 3 x 2, na primeira prorrogação da história dos Mundiais. Na segunda partida, venceu a vizinha e rival Hungria por 2 x 1. Na semifinal, caiu para os futuros campeões, os italianos, por 1 x 0. Na decisão do 3º lugar, jogou sem ânimo e foi derrotada pela Alemanha por 3 x 2. O 4º lugar foi muito pouco perto do potencial do “Wunderteam”.

Nas oitavas de final, a Itália massacrou os Estados Unidos por 7 x 1. Nas quartas, teve maiores dificuldades e precisou da ajuda da arbitragem para vencer a forte Espanha por 1 x 0 apenas na partida desempate, após 1 x 1 na primeira partida. Na semifinal, bateu o “Wunderteam” da Áustria por 1 x 0 – novamente com auxílio do “apito amigo”. Na final, a Squadra Azzurra venceu a Tchecoslováquia por 2 x 1 em mais um jogo polêmico apitado pelo sueco Ivan Eklind, e garantiu a primeira de suas quatro conquistas da Copa do Mundo.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 0 ÁUSTRIA

 

Data: 03/06/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: San Siro

Público: 35.000

Cidade: Milão (Itália)

Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ÁUSTRIA (2-3-5):

Giampiero Combi (G)(C)

Peter Platzer (G)

Eraldo Monzeglio

Franz Cisar

Luigi Allemandi

Karl Sesta

Attilio Ferraris IV

Franz Wagner

Luis Monti

Josef Smistik (C)

Luigi Bertolini

Johann Urbanek

Enrique Guaita

Karl Zischek

Giuseppe Meazza

Josef Bican

Angelo Schiavio

Matthias Sindelar

Giovanni Ferrari

Anton Schall

Raimundo Orsi

Rudolf Viertl

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Hugo Meisl

 

SUPLENTES:

 

 

GuidoMasetti (G)

Friederich Franzl (G)

Giuseppe Cavanna (G)

Rudolf Raftl (G)

Umberto Caligaris

Anton Janda

Virginio Rosetta

Willibald Schmaus

Armando Castellazzi

Leopold Hofmann

Mario Pizziolo

Josef Hassmann

Mario Varglien I

Matthias Kaburek

Pietro Arcari

Josef Stroh

Felice Borel II

Hans Walzhofer

Anfilogino Guarisi

Johann Horvath

Attilio Demaría

Georg Braun

 

GOL: 19′ Enrique Guaita (ITA)

Veja algumas imagens da partida:

… 02/06/1970 – Peru 3 x 2 Bulgária

Três pontos sobre…
… 02/06/1970 – Peru 3 x 2 Bulgária


(Imagem: FIFA / Getty Images)

● O Peru é um país que costuma sofrer muito com catástrofes naturais, como tremores de terra e erupções de vulcões. Mas, em toda sua história, nada foi tão devastador quanto o mortal terremoto de Ancash.

Era um domingo, dia 31 de maio de 1970, exatamente às 15h23m29s, e durou “apenas” 45 segundos. O epicentro foi a 35 km ao largo da costa de Casma e Chimbote, no Oceano Pacífico, onde a placa tectônica de Nazca se encontra com a placa Sul-Americana. Com magnitude momento de 7,9 na escala Richter, o fortíssimo terremoto afetou uma área de cerca de 83 mil km² (uma área maior que a Bélgica e a Holanda juntas). Os locais mais afetados foram a região de Ancash e o sul de La Libertad. Com o tremor, a parede norte do monte Huascarán se rompeu e causou uma avalanche de rocha, gelo e neve, enterrando as cidades de Yungay e Ranrahirca. Cerca de 60 mil pessoas morreram devido ao desastre, que ainda deixou mais de 70 mil feridos ou desabrigados. Foi o maior abalo sísmico do país, não só na alta magnitude, mas também em número de perdas de vidas humanas.

O fato, ocorrido apenas dois dias antes da estreia peruana no Mundial, abalou todos os cidadão do país, inclusive os jogadores. Já no México, eles ficaram desesperados pelo fato de não conseguirem entrar em contato com seus familiares. E, nesse cenário, eles queriam voltar para casa, mas o governo decidiu que o time deveria disputar a competição e dar o melhor de si, para trazer alguma alegria aos seus sofridos conterrâneos.


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Com a melhor geração de sua história, os sul-americanos tinham bons jogadores, como Teófilo Cubillas, Héctor Chumpitaz, Hugo Sotil, Ramón Mifflin e Alberto Gallardo. Mas a grande atração era mesmo o técnico Didi, um dos maiores craques de todos os tempos. O brasileiro Waldir Pereira havia sido bicampeão mundial como jogador em 1958 e 1962, sendo eleito o melhor jogador da Copa na primeira conquista.

Didi trabalhava como treinador no Sporting Cristal e foi campeão peruano em 1968. No ano seguinte, foi convidado pela federação para treinar a seleção. Deu certo. Com um futebol solto, cheio de trocas de passes, o time deixou para trás o complexo de inferioridade e terminou na liderança do Grupo A das eliminatórias sul-americanas. Com duas vitórias, um empate e uma derrota, o talentoso time se sobrepôs a Bolívia e Argentina – que foi lanterna do grupo, atrás até dos bolivianos.

Com quatro vitórias, um empate e uma derrota, a Bulgária se garantiu em sua terceira Copa do Mundo, ficando com a vaga no difícil Grupo 8 da UEFA, contra as ascendentes Holanda e Polônia, além do sparring Luxemburgo. Os “Demônios da Europa” contavam com uma das equipes mais competitivas da Europa naquela época. Tinha bons jogadores, como Georgi Asparuhov (em seu terceiro Mundial), Hristo Bonev e Petar Zhekov (Chuteira de Ouro da Europa em 1969, com 36 gols).


Didi escalou o Peru no 4-3-3. Com a bola, Teófilo Cubillas avançava e o sistema se tornava um 4-2-4.


Stefan Bozhkov armou a Bulgária no sistema 4-3-3 clássico.

● O escrete peruano não tinha ânimo algum para a partida. Entraram em campo com uma fita preta na camisa, em sinal de luto. Os andinos entraram dispersos e a Bulgária aproveitou.

O primeiro gol saiu logo aos treze minutos. Em cobrança de falta frontal muito bem ensaiada, Dermendzhiev fingiu que ia chutar e avançou. Yakimov rolou para Bonev tocar de calcanhar para a infiltração de Dermendzhiev, que invadiu a área sozinho e tocou na saída do goleiro peruano. Foi o primeiro gol do Mundial, já que a partida de abertura entre México e União Soviética havia terminado 0 x 0.

No intervalo, o presidente da delegação peruana, Javier Aramburú visitou o vestiário da equipe para tentar inflar o ânimo dos jogadores. O dirigente entrou carregando um punhado de terra e disse: “Rapazes, essa terra é do Peru. Beijem-a!” Todos ficaram tocados com aquilo e cumpriram a ordem. “E nós, como éramos jovens, a beijamos e saímos para jogar como bestas”, disse o ex-meia Roberto Challe. Eles creditaram nas palavras de Aramburú e lembraram dos entes queridos e do povo que tanto estava sofrendo. Obviamente, a terra não era peruana. O dirigente enfiou a mão em um vaso que estava lá mesmo, no lado de fora do vestiário no estádio de León. Mas, na hora do desesperou, valeu e surtiu o efeito desejado.

Aos 4′ do segundo tempo, Mifflin cometeu falta em Popov próximo à grande área. Hristo Bonev cobrou falta e o péssimo goleiro Rubiños aceitou. Ele foi com “mão de alface” e acabou levando um frango. A bola bateu na trave, nas costas do arqueiro e foi para o gol.

A Bulgária mantinha total controle do jogo. Parecia ser uma tarde desastrosa para o futebol peruano. Mas a jovem e promissora equipe deixou a apatia de lado e reagiu no minuto seguinte.

Perico León abriu na esquerda para Gallardo. O ponta, ex-Palmeiras, chutou cruzado da esquerda, sem ângulo. A bola bateu no travessão e entrou. O gol encheu de brios a seleção Bicolor.

Cinco minutos depois, o bom atacante Hugo Sotil (que viria a jogar por quatro anos no Barcelona de Rinus Michels e Johan Cruijff) tabelou com Perico León, driblou três adversários e sofreu falta de Shalamanov na meia lua. O capitão Héctor Chumpitaz cobrou falta escorregando e acertou o cantinho para deixar tudo igual.

A vidada veio aos 28′. Ramón Mifflin (que jogaria no Santos em 1974/75) passou a bola para Teófilo Cubillas. O camisa 10 fez uma jogada do craque que era: entrou na área driblando dois adversários, puxou para a perna direita e chutou forte no canto esquerdo do goleiro Simeonov.

No fim, a vitória peruana satisfez o pedido do governo e a vontade do país. Um alento ao povo peruano.

Essa foi a primeira vitória do Peru em Copas do Mundo. A seleção Blanquirroja havia disputado apenas a edição de 1930, com derrotas para a Romênia por 3 a 1 e para o Uruguai por 1 a 0.


(Imagem: Depor.com)

● A Bulgária seguiu sua sina de nunca ter vencido em Copas, o que duraria até 1994. Foi eliminada na primeira fase, após perder para alemães por 5 x 2 e empatar com marroquinos em 1 x 1.

Em sua segunda partida, o Peru goleou o Marrocos por 3 x 0. Já classificado para a próxima fase, perdeu para a Alemanha Ocidental por 3 x 1. Nas quartas de final, a sorte ingrata colocou os andinos no caminho da poderosa Seleção Brasileira. Os peruanos até tentaram, mas não foram páreo para o Brasil e perderam por 4 x 2. Honrosamente, o Peru terminou no 7º lugar geral.

Com essa equipe como base, o Peru ainda conquistou a Copa América de 1975 e fazia uma boa Copa do Mundo em 1978 até a vergonha diante da Argentina.


(Imagem: Andina.pe)

FICHA TÉCNICA:

 

PERU 3 x 2 BULGÁRIA

 

Data: 02/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: León

Público: 13.765

Cidade: León (México)

Árbitro: Antonio Sbardella (Itália

 

PERU (4-3-3):

BULGÁRIA (4-3-3):

1  Luis Rubiños (G)

1  Simeon Simeonov (G)

2  Eloy Campos

2  Aleksandar Shalamanov

3  Orlando de la Torre

3  Ivan Dimitrov (C)

4  Héctor Chumpitaz (C)

5  Ivan Davidov

5  Nicolás Fuentes

4  Stefan Aladzhov

6  Ramón Mifflin

6  Dimitar Penev

7  Roberto Challe

8  Hristo Bonev

10 Teófilo Cubillas

10 Dimitar Yakimov

8  Julio Baylón

7  Georgi Popov

9  Perico León

9  Petar Zhekov

11 Alberto Gallardo

11 Dinko Dermendzhiev

 

Técnico: Didi

Técnico: Stefan Bozhkov

 

SUPLENTES:

 

 

12 Rubén Correa (G)

13 Stoyan Yordanov (G)

21 Jesus Goyzueta (G)

22 Georgi Kamenski (G)

14 José Fernández

12 Milko Gaydarski

16 Félix Salinas

14 Dobromir Zhechev

13 Pedro González

15 Boris Gaganelov

15 Javier González

17 Todor Kolev

17 Luis Cruzado

16 Asparuh Nikodimov

18 José del Castillo

20 Vasil Mitkov

19 Eladio Reyes

21 Bozhidar Grigorov

20 Hugo Sotil

18 Dimitar Marashliev

22 Oswaldo Ramírez

19 Georgi Asparuhov

 

GOLS:

13′ Dinko Dermendzhiev (BUL)

49′ Hristo Bonev (BUL)

50′ Alberto Gallardo (PER)

55′ Héctor Chumpitaz (PER)

73′ Teófilo Cubillas (PER)

 

SUBSTITUIÇÕES:

29′ Eloy Campos (PER) ↓

Javier González (PER) ↑

 

51′ Julio Baylón (PER) ↓

Hugo Sotil (PER) ↑

 

59′ Georgi Popov (BUL) ↓

Dimitar Marashliev (BUL) ↑

 

73′ Hristo Bonev (BUL) ↓

Georgi Asparuhov (BUL) ↑

Veja os gols da partida:

… 01/06/2002 – Irlanda 1 x 1 Camarões

Três pontos sobre…
… 01/06/2002 – Irlanda 1 x 1 Camarões


Lauren e Holland disputavam a bola no meio campo (Imagem: Pinterest)

● Camarões tinha a expectativa de fazer uma campanha de destaque. Os mais delirantes otimistas sonhavam até com o título. Em franca evolução, muitos apostavam que os “Leões Indomáveis” seriam a primeira seleção africana a vencer uma Copa do Mundo. Nos últimos dois anos, haviam conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, além do bicampeonato da Copa Africana das Nações (2000 e 2002).

Eram muitos os veteranos de Mundiais anteriores. De 1994, se mantinham no elenco o goleiro Jacques Songo’o, os zagueiros Rigobert Song e Raymond Kalla, além do volante Marc-Vivien Foé (que faleceria em campo na semifinal da Copa das Confederações de 2003). Dos convocados em 1998, ainda estavam os alas Pierre Womé e Pierre Njanka, os meias Lauren e Salomon Olembé e os atacantes Joseph-Désiré Job, Patrick Mboma e Samuel Eto’o. Dentre os novos nomes, destaque para o ala Geremi, do Real Madrid.

Possuía jogadores de qualidade técnica e experiência no futebol europeu. Como não poderia deixar de ser, a principal força ainda era a perigosa dupla de ataque formada pelo veterano Mboma e o jovem Eto’o.

Mas o ciclo até o Mundial foi tumultuado. De 1998 a 2002, cinco técnicos passaram pelo comando da equipe. Os últimos preparativos foram caóticos, com a viagem até o Japão demorando cinco dias.


Seleção de Camarões no Mundial de 2002 (Imagem: ESPN)

● O ex-zagueiro inglês Jack Charlton se tornou treinador da Irlanda em 1986 e adaptou o time às características de seus jogadores. Com isso, “The Boys in Green” (apelido da seleção) passaram a ser conhecidos pelo futebol em que a determinação tática e a força física se sobrepunham à técnica. Resumindo: normalmente eram poucos gols, tanto a favor quanto contra. Os especialistas consideravam um jogo chato, de futebol feio, mas que era muito difícil ser derrotado. Havia participado de dois Mundiais e passado de fase em ambos: chegou às quartas de final em 1990 (perdeu para a Itália por 1 x 0) e ficou nas oitavas em 1994 (caiu para a Holanda, 2 x 0).

Para o lugar de Charlton, foi escolhido o ex-zagueiro Mick McCarthy. O técnico irlandês havia disputado a Copa de 1990 e ainda se sentia como se estivesse dentro do campo: usava blusa, calções, meiões e chuteiras para comandar seu time à beira do campo. McCarthy assumiu a equipe em 1996 e se deparou com uma equipe envelhecida. Logo, tratou de renovar o elenco e deixar de fora figurinhas carimbadas como o lateral Denis Irwin e o zagueiro Phil Babb. O trabalho não deu resultados de imediato, ficando fora da Copa de 1998 e da Eurocopa 2000.

Nas eliminatórias para a Copa de 2002, a descrença foi enorme ao cair em um grupo com Holanda e Portugal, semifinalistas da Euro 2000. Mas a Irlanda surpreendeu e terminou invicta, com sete vitórias e três empates – eliminando a poderosa Holanda, 4º lugar na Copa de 1998 e com um elenco magnífico. Os verdes ficaram empatados com lusos na liderança do Grupo 2, perdendo apenas no saldo de gols. E por terem feito a melhor campanha entre os segundos colocados nos grupos da qualificatória europeia, se beneficiaram ao disputar a repescagem intercontinental contra o Irã. Vitória por 2 x 0 em Dublin e derrota por 1 x 0 em Teerã colocaram os gaélicos no Mundial.

Já em maio, às vésperas da estreia no Mundial, houve um discussão pública entre o experiente capitão Roy Keane e o técnico McCarthy. O volante do Manchester United fez fortes críticas à preparação da seleção e, principalmente à infraestrutura das instalações da cidade de Saipan, nas Ilhas Marianas do Norte, no meio do Oceano Índico. O treinador considerou como um desrespeito e expulsou Keane da delegação, mantendo sua posição mesmo após o volante ter pedido desculpas. “Enquanto eu continuar como técnico da seleção, ele não volta. Se ele retornasse, eu perderia vários jogadores”, afirmou. A federação irlandesa tentou substituir Roy Keane por Colin Healy na lista dos inscritos, mas a FIFA não autorizou. As regras dizem que a lista só pode ser alterada em caso de lesão de um atleta ou por algum motivo de força maior, como, por exemplo, o falecimento de um familiar.

Com a saída de Roy Keane, o zagueiro Steve Staunton se tornou o capitão. Junto a ele, eram outros três remanescentes da Copa de 1994: o goleiro reserva Alan Kelly, o lateral direito Gary Kelly e o meia direita Jason McAteer. E ainda havia um remanescente de 1990, o veterano atacante grandalhão Niall Quinn (o mais pesado da Copa, com 100 kg – que ficou ausente de 1994 por lesão).

Mesmo com atacantes leves e habilidosos como Robbie Keane e Damien Duff, o time era adepto do estilo “kick and rush”, com foco nas bolas longas, lançamentos e cruzamentos. A técnica que faltava era compensada pela energia que sobrava. Os atletas sempre se doavam ao máximo.


A Irlanda jogava no 4-4-2 clássico, com dois atacantes leves.


O técnico alemão Winfried Schäfer formava sua equipe no sistema 3-5-2, com destaques individuais em todos os setores.

● A primeira partida do Grupo E foi na cidade japonesa de Niigata. Mais de 33 mil pessoas foram ver um duelo escolas de futebol bastante diferentes. E foram mesmo dois tempos muito desiguais, quase que dois jogos distintos. Cada seleção dominou uma etapa.

Considerado favorito, Camarões levou a melhor nos primeiros 45 minutos. Com um futebol mais habilidoso e rápido, conseguiu vencer a sempre bem postada defesa irlandesa.

Aos 39, Geremi abriu na ponta direita para Eto’o, que invadiu a área e passou a bola entre as pernas de Ian Harte. O goleiro irlandês Given se precipitou e saiu mal, deixando o gol livre. E Eto’o deixou a bola para Mboma, mesmo caído, chutar no canto e inaugurar o marcador.

Na etapa final, a Irlanda conseguiu equilibrar o jogo e se impor. O futebol simples e objetivo funcionou e o gol de empate veio aos sete minutos. Given cobrou o tiro de meta. Kevin Kilbane, o melhor em campo, dominou, avançou pela esquerda e cruzou para a área. A defesa africana escorou para o meio e, de fora da área, Matt Holland emendou um balaço de primeira, no cantinho direito do goleiro Alioum Boukar.

E pouco houve nos minutos seguintes. Nada digno de nota.

Por ser o jogo de estreia, o empate acabou sendo um bom resultado para os dois.


Salomon Olembé e Matt Holland disputam bola (Imagem: Masahide Tomikoshi)

Na segunda rodada, a Irlanda surpreendeu e conseguiu um bravo empate com a Alemanha por 1 x 1, no último minuto. Na terceira partida, não teve dificuldades para bater a fraca Arábia Saudita por 3 x 0, se classificando como segundo lugar no Grupo E. Mas oitavas de final, empatou com a Espanha em 1 x 1, mas perdeu nos pênaltis por 3 x 2. Juntamente com o campeão Brasil e com a Espanha (que foi eliminada também nos pênaltis nas quartas de final para a Coreia do Sul), a Irlanda terminou a Copa de 2002 invicta.

No extremo oriente, os “Leões” não foram tão “Indomáveis” assim. Os camaroneses não cumpriram as expectativas exageradamente criadas e ficaram ainda na primeira fase. Após o empate com a Irlanda por 1 x 1, ganhou da Arábia Saudita apenas por 1 x 0. Na rodada final, perdeu por 2 a 0 para a Alemanha em um jogo bastante truculento, chegando a ser violento em alguns momentos.

O principal destaque na quinta participação camaronesa seria fora de campo. Na Copa Africana de Nações de 2002, os atletas usaram uma camisa sem mangas. O modelo recebeu o nome em inglês de sleeveless (literalmente “sem mangas”, em português). O estilo foi utilizado tanto para o uniforme principal, camisa verde, quanto para o reserva, camisa branca. A justificativa da fabricante Puma para a criação do modelo foi a inspiração no basquete, como uma forma para tentar refrescar os atletas. A ideia revolucionária deu “pano pra manga” e não agradou à Fifa, que reprovou o uniforme e proibiu o uso da camisa em março de 2002, três meses antes do início do Mundial. A entidade máxima do futebol alegou que o uniforme fugia das regras de jogo e impossibilitava a colocação de um brasão de uso obrigatório nos jogos da Copa. E para não perder o trabalho de marketing, a Puma contornou a situação desenvolvendo uma camisa com mangas pretas, dando a impressão de que os jogadores estavam mesmo sem mangas.

Curiosamente, o ex-goleiro Thomas N’Kono (titular em 1982 e 1990) era o treinador de goleiros da seleção. Na semifinal da CAN, no começo de 2002, foi preso após praticar magia negra durante a semifinal, quando Camarões venceu Mali por 3 x 0.


Uniforme sem mangas utilizado por Camarões na CAN 2002 (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

IRLANDA 1 x 1 CAMARÕES

 

Data: 01/06/2002

Horário: 15h30 locais

Estádio: Big Swan

Público: 33.679

Cidade: Niigata (Japão)

Árbitro: Ubaldo Aquino (Paraguai)

 

IRLANDA (4-4-2):

CAMARÕES (3-5-2):

1  Shay Given (G)

1  Alioum Boukar (G)

18 Gary Kelly

4  Rigobert Song (C)

14 Gary Breen

5  Raymond Kalla

5  Steve Staunton (C)

2  Bill Tchato

3  Ian Harte

8  Geremi Njitap

7  Jason McAteer

12 Lauren Etame

12 Mark Kinsella

17 Marc-Vivien Foé

8  Matt Holland

20 Salomon Olembé

11 Kevin Kilbane

3  Pierre Womé

9  Damien Duff

10 Patrick Mboma

10 Robbie Keane

9  Samuel Eto’o

 

Técnico: Mick McCarthy

Técnico: Winfried Schäfer

 

SUPLENTES:

 

 

16 Dean Kiely (G)

22 Idriss Carlos Kameni (G)

23 Alan Kelly (G)

16 Jacques Songo’o (G)

2  Steve Finnan

13 Lucien Mettomo

15 Richard Dunne

6  Pierre Njanka

4  Kenny Cunningham

14 Joël Epalle

20 Andy O’Brien

15 Nicolas Alnoudji

21 Steven Reid

19 Eric Djemba-Djemba

22 Lee Carsley

23 Daniel Ngom Kome

6  Roy Keane (cortado da delegação)

7  Joseph Ndo

19 Clinton Morrison

21 Joseph-Désiré Job

13 David Connolly

11 Pius N’Diefi

17 Niall Quinn

18 Patrick Suffo

 

GOLS:

39′ Patrick Mboma (IRL)

52′ Matt Holland (IRL)

 

CARTÕES AMARELOS:

30′ Jason McAteer (IRL)

51′ Steve Finnan (IRL)

82′ Steven Reid (IRL)

89′ Raymond Kalla (CAM)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Jason McAteer (IRL) ↓

Steve Finnan (IRL) ↑

 

69′ Patrick Mboma (CAM) ↓

Patrick Suffo (CAM) ↑

 

77′ Ian Harte (IRL) ↓

Steven Reid (IRL) ↑

Melhor momentos da partida:

… 31/05/1986 – Itália 1 x 1 Bulgária

Três pontos sobre…
… 31/05/1986 – Itália 1 x 1 Bulgária


Nasko Sirakov empatou para a Bulgária a cinco minutos do fim (Imagem: Pinterest)

● No dia 11/04/1974, a Colômbia foi escolhida como país sede da 13ª edição da Copa do Mundo de futebol. Porém, já em 1982, os cafeteros renunciaram alegando “insuperáveis dificuldades” econômicas e sociais. Um dos argumentos foi o aumento de 16 para 24 seleções, o que exigiria pelo menos dez estádios – que o país não possuía prontos e nem tinha condições de construir.

Com isso, se candidataram inicialmente: Brasil, Estados Unidos, México, Canadá, Peru, Inglaterra, Alemanha Ocidental e Holanda-Bélgica (em conjunto). Devido ao sistema de rodízio entre os continentes, os europeus foram rapidamente descartados, pois essa era a vez das Américas. Logo o Brasil desistiu (um veto do General Figueiredo, então presidente da República, devido ao momento econômico conturbado que o país passava). Depois foi a vez de norte-americanos, canadenses e peruanos. Por fim, em julho de 1983, a FIFA decidiu de forma polêmica a favor dos mexicanos. Com isso, o México se tornou o primeiro país a receber duas edições do torneio, sendo a segunda apenas 16 anos depois da primeira.

Porém, nos dias 19 e 20 de setembro de 1985, menos de um ano antes do início do Mundial, dois terremotos atingiram o México. O primeiro foi mais violento. Às 07h30 do dia 19, em menos de dois minutos, um forte tremor devastou a Cidade do México (maior cidade do mundo na época). Milhares de pessoas perderam a vida. As fontes oficiais citam 9.500 mortos, outras afirmam que chegaram a 35 mil; além de 30 mil feridos e mais de 100 mil desabrigados. Foram 412 prédios totalmente destruídos e 3.124 parcialmente danificados. Mas o estádio Azteca e os principais hotéis da cidade ficaram incólumes e a Copa pôde ser realizada sem nenhum problema. Em oito meses, o batalhador povo mexicano se reergueu e, com muito entusiasmo, o país novamente foi palco da maior festa do futebol mundial.

O Brasil era o principal candidato ao título, pela tradição e por manter os craques que encantaram o mundo em 1982. Mas qualquer aposta séria sempre incluíam Itália, Alemanha Ocidental e Inglaterra. A Argentina vinha mais fraca que antes, mas Diego Armando Maradona estava melhor que nunca. A França venceu a Eurocopa, os Jogos Olímpicos e contava com Michel Platini em pleno esplendor. O Uruguai voltava ao torneio após duas ausências e tinha Enzo Francescoli. Até a Hungria possuía um jogador diferenciado, como Lajos Détári. A Bélgica tinha um bom time, com o goleiro Jean-Marie Pfaff e o capitão Jan Ceulemans. A União Soviética tinha o paredão Rinat Dasayev no gol e Igor Belanov (que viria a ser eleito Bola de Ouro no fim do ano) no ataque. A Fúria espanhola era liderada por Emilio Butragueño, “El Buitre”. O México tinha a força da torcida e Hugo Sánchez no ataque. O Paraguai tinha Romerito, ídolo do Fluminense campeão brasileiro de 1984. A Argélia mantinha Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi como seus destaques. A Irlanda do Norte contava com o veterano arqueiro Pat Jennings e com o jovem Norman Whiteside. A Escócia tinha um time experiente em nível europeu e era treinada por Sir Alex Ferguson. A Polônia ainda contava com Zbigniew Boniek e Wladyslaw Zmuda. Portugal sonhava em reviver os bons momentos de vinte anos antes. Marrocos tentava ser a primeira seleção africana a passar de fase em Mundiais. E a Dinamarca desfilava a novidade do 3-5-2, além de figuras importantes como o líbero Morten Olsen e a dupla de ataque Michael Laudrup e Preben Elkjær Larsen. Apenas Coreia do Sul, Iraque e Canadá eram cartas fora do baralho.


Salvatore Bagni luta pela bola com Bozhidar Iskrenov (Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● A tradicional Squadra Azzurra chegava no México para disputar com o Brasil a honra de ser o primeiro tetracampeão do mundo. A camisa italiana sempre teve força própria. O azul da Casa di Savoia é uma das mais tradicionais e pesadas do mundo.

Desde que levantou a taça em 1982, os italianos sonhavam e trabalhavam para conquistar a Copa seguinte, assim como foi em 1934 e 1938. A Federazione Italiana Giuoco Calcio definiu Puebla como local da concentração dois anos antes. E, assim como o Brasil de 1958/1962, a superstição era grande e os dirigentes da Federação exigiram a mesma tripulação da Alitalia que havia levado a delegação à Espanha quatro anos antes.

Acompanhado de seu fiel cachimbo, o técnico Enzo Bearzot completava dez anos no cargo. Ele era uma verdadeira raposa, um ás das estratégias e adepto da marcação mista: individual no maior destaque adversário e por zona nas demais partes do campo. Ao desembarcar no México, ele foi político ao afirmar que a Copa de 1986 seria vencida por sul-americanos. Claramente não estava sendo sincero, mas apenas tirando o peso de sua equipe e jogando a responsabilidade para os adversários.

No gol, na posição que foi do mítico Dino Zoff, estava Giovanni Galli, prestes a trocar a Fiorentina pelo Milan. O velho líbero Gaetano Scirea agora era o capitão do time, dando segurança para os avanços do ala esquerdo Cabrini. O meio campo não contava mais com Giancarlo Antognoni; Marco Tardelli e Carlo Ancelotti eram reservas. Com isso, faltava criatividade e as transições entre defesa e ataque eram rápidas, com a bola passando pouco pelo meio campo. O ataque contava com diversas opções de estilo: Aldo Serena, Giuseppe Galderisi, Alessandro Altobelli, Gianluca Vialli, o talismã Paolo Rossi e Bruno Conti. (Curiosamente, Conti praticava beisebol em sua juventude; se destacou tanto, que quase foi jogar profissionalmente nos Estados Unidos.)


Os “Demônios da Europa” (apelido da seleção búlgara) no Mundial de 1986 (Imagem: Pinterest)

● Nas eliminatórias, a Bulgária surpreendeu ao terminar em primeiro lugar, empatada com a França e perdendo apenas no saldo de gols. O principal responsável pela evolução nos últimos tempos foi o técnico Ivan Voutsov, ex-meio campista da seleção na Copa de 1970. Ele fez o time praticar um futebol simples, solidário e objetivo – bem diferente do velho sistema baseado no vigor físico das equipes da Europa Oriental. Estava mais “ocidentalizada”. A força foi dando lugar a um estilo moderno, de mais mobilidade, com defesa sólida, meio campo atuante e ataque com muita velocidade.

Apesar da falta de tradição, vários jogadores tinham um nível técnico acima da média, como o goleiro Borislav Mikhailov, o líbero e capitão Georgi Dimitrov, o meia-atacante Nasko Sirakov e o armador Plamen Getov – melhor jogador do time, habilidoso e com um chute potente. Mikhailov e Sirakov haviam sido punidos por sua federação por terem participado de uma luta campal na final da Copa da Bulgária no ano anterior, mas acabaram absolvidos devido à importância de ambos e um pedido especial do técnico. Um jovem chamado Hristo Stoichkov não obteve o mesmo perdão e não foi convocado para a Copa. Oito anos depois, os três viriam a ser destaques da equipe búlgara no Mundial dos Estados Unidos.

A Bulgária carregava a sina de ter disputado quatro Copas do Mundo (1962, 1966, 1970 e 1974), sem nunca ter vencido uma partida. Sempre fazia boas campanhas nas eliminatórias, mas sucumbia nos Mundiais. Lutava pela honra de representar seu país. Qualquer coisa diferente de três derrotas, já seria um avanço.


A Itália jogava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços. Atacava no 3-4-3 e defendia no 4-5-1. Na prática, com o “afunilamento” de Bruno Conti, era 4-4-2.


A Bulgária atuava no 4-4-2 clássico, com os meias laterais se apresentando bastante no meio e no ataque.

● Via de regra, a partida de abertura do mundial costuma ser dura, nervosa e nenhuma das equipes conseguem se soltar e praticar um bom futebol.

E foi bem isso que ocorreu no dia 31 de maio no estádio Azteca. Mais de 96 mil expectadores foram assistir a toda poderosa Itália, campeã do mundo, massacrar os pobres búlgaros. Não viram. Na teoria, a prática foi outra. A Squadra Azzurra já não era mais o mesmo time consistente e sagaz de quatro anos antes, quando bateu os favoritos Brasil e Argentina para se embalar rumo ao tricampeonato. Paolo Rossi estava em má forma e era reserva de Altobelli.

O péssimo retrospecto não jogava a favor dos búlgaros, que sonhavam em surpreender desde a festa de abertura.

E o marcador só foi inaugurado no fim do primeiro tempo. Aos 43′, Di Gennaro cobrou falta da intermediária esquerda, a defesa búlgara ficou parada e Altobelli escorou para as redes.

Estava tudo preparado para ser uma festa, com vitória fácil dos italianos, mas eles se deram ao luxo de perder alguns gols na etapa final. E, como diria o ditado: quem não faz…

No fim da partida, quando tudo indicava uma vitória sofrível da Azzurra, ficou ainda pior. Aos 40 minutos do segundo tempo, Zdravkov ergueu a bola na área italiana. Sirakov apareceu entre dois marcadores e cabeceou de forma esquisita, mas o suficiente para colocar a bola no canto do goleiro Galli.

Essa partida foi uma luta permanente pelo domínio no meio campo, na qual o 4-4-2 em voga praticamente eliminou a figura do ponta. Bruno Conti, ponta de origem, afunilava muito o jogo e não teve uma tarde boa.

No fim, o empate foi o placar mais justo pelo que apresentaram ambas as equipes.

Mesmo sendo um jogo deveras tenso e amarrado, pelo menos essa partida teve dois gols – o que não ocorria numa partida de abertura desde 1962.


Alessandro Altobelli, agora titular no ataque na função de Paolo Rossi, foi oportunista e inaugurou o marcador (Imagem: Pinterest)

● Na segunda rodada, a Itália repetiu o placar e empatou por 1 x 1 com a futura campeã Argentina, de Maradona. Na última partida, bateu a Coreia do Sul por 3 x 2 e se classificou como vice-líder do Grupo A. Nas oitavas de final, perdeu para a França de Platini, Giresse e Tigana por 2 x 0 (caindo uma invencibilidade de sessenta anos dos italianos diante dos franceses).

Por sua vez, a Bulgária também repetiu o empate em 1 a 1 contra a Coreia do Sul e perdeu para a Argentina por 2 a 0. Mesmo sem nenhuma vitória, os búlgaros conquistaram dois pontos e se classificaram para a segunda fase pela primeira vez em sua história. Nas oitavas, caiu para o México, dono da casa, por 2 a 0.


Altobelli foi um dos melhores em campo. Nessa foto, em disputa de bola com o bom lateral Radoslav Zdravkov (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 1 BULGÁRIA

 

Data: 31/05/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 96.000

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Erik Fredriksson (Suécia)

 

ITÁLIA (4-4-2):

BULGÁRIA (4-4-2):

1  Giovanni Galli (G)

1  Borislav Mikhailov (G)

2  Giuseppe Bergomi

12 Radoslav Zdravkov

6  Gaetano Scirea (C)

5  Georgi Dimitrov (C)

8  Pietro Vierchowod

3  Nikolay Arabov

3  Antonio Cabrini

13 Aleksandar Markov

10  Salvatore Bagni

8  Ayan Sadakov

13  Fernando De Napoli

10 Zhivko Gospodinov

14 Antonio Di Gennaro

2 Nasko Sirakov

16  Bruno Conti

11 Plamen Getov

18 Alessandro Altobelli

7  Bozhidar Iskrenov

19 Giuseppe Galderisi

9  Stoycho Mladenov

 

Técnico: Enzo Bearzot

Técnico: Ivan Vutsov

 

SUPLENTES:

 

 

12 Franco Tancredi (G)

22 Iliya Valov (G)

22 Walter Zenga (G)

21 Iliya Dyakov

4  Fulvio Collovati

4 Petar Petrov

5  Sebastiano Nela

14 Plamen Markov

7  Roberto Tricella

15 Georgi Yordanov

11 Giuseppe Baresi

17 Hristo Kolev

15 Marco Tardelli

6  Andrey Zhelyazkov

9  Carlo Ancelotti

16 Vasil Dragolov

21 Aldo Serena

18 Boycho Velichkov

17 Gianluca Vialli

19 Atanas Pashev

20 Paolo Rossi

20 Kostadin Kostadinov

 

GOLS:

44′ Alessandro Altobelli (ITA)

85′ Nasko Sirakov (BUL)

 

CARTÕES AMARELOS:

48′ Giuseppe Bergomi (ITA)

51′ Aleksandar Markov (BUL)

64′ Antonio Cabrini (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

65′ Bruno Conti (ITA) ↓

Gianluca Vialli (ITA) ↑

 

65′ Bozhidar Iskrenov (BUL) ↓

Kostadin Kostadinov (BUL) ↑

 

74′ Zhivko Gospodinov (BUL) ↓

Andrey Zhelyazkov (BUL) ↑

Alguns lances do jogo, em reportagem da TV Globo:

… 30/05/1962 – Argentina 1 x 0 Bulgária

Três pontos sobre…
… 30/05/1962 – Argentina 1 x 0 Bulgária


(Imagem: Pinterest)

● Os argentinos viajaram para o vizinho Chile com a missão de apagar a vergonha de quatro anos antes. Em 1958, na Suécia, os hermanos ficaram na lanterna do Grupo 1. Com uma equipe bem envelhecida, perderam da Alemanha Ocidental por 3 x 1 e venceram a Irlanda do Norte pelo mesmo placar. Precisando de uma vitória simples contra a Tchecoslováquia para se classificarem para as quartas de final, o que se viu foi uma goleada dos tchecos por 6 a 1 (a maior goleada sofrida na história pela seleção albiceleste).

Assim, por mais desastrosa que poderia ser a campanha argentina nos Andes, provavelmente seria melhor que a de 1958.

O elenco portenho foi bem renovado, mas mas sofreu com os mesmos problemas de sempre: não poder contar com as maiores estrelas nascidas em seu país.

Alfredo Di Stéfano já era um veterano, com 36 anos e só havia jogado com a camisa da nação onde nasceu em 1947, quando venceu a Copa América. Depois, jogou pela Colômbia entre 1951 e 1952 e pela Espanha entre 1957 e 1962. Estava no elenco da Fúria no Mundial do Chile, mas não jogou por não ter se recuperado totalmente de uma lesão. Um grande pecado: Don Alfredo acabou nunca entrando em campo em uma Copa do Mundo.

Os casos de Enrique Omar Sívori e Humberto Maschio são ainda mais emblemáticos. Ambos eram os destaques dos “Carasucias de Lima”, que venceram a Copa América em 1957. Agora, os dois estavam na Squadra Azzurra que viria a fracassar no Chile.


(Imagem: Pinterest)

● Mesmo sem os maiores craques, a Argentina tinha uma boa equipe, tendo como destaques o goleiro Antonio Roma, o lateral esquerdo Silvio Marzolini (ambos do Boca Juniors), o atacante José Sanfilippo (San Lorenzo) e o ponta esquerda Raúl Belén (Racing).

Nas eliminatórias, a Argentina goleou o Equador por duas vezes: 6 x 3 em Guayaquil e 5 a 0 em Buenos Aires.

A Bulgária, por sua vez, bateu forte seleção da França por 1 a 0 no jogo desempate em Milão, após terminarem iguais em número de pontos no Grupo 2 (que também tinha a Finlândia).

A comunista e obscura Bulgária era uma surpresa. Todos seus jogadores atuavam em seu país e não havia nenhum destaque individual. Tecnicamente, seu melhor jogador era o ponta esquerda Ivan Kolev. No banco estava o jovem Georgi Asparuhov, que viria a ser um dos maiores artilheiros de seu país em todos os tempos.


A Argentina atuava no sistema tático 4-2-4.


A Bulgária jogava em uma espécie de “WW”: uma defesa moderna, com quatro defensores no formato do 4-2-4; e o ataque em W, derivando do antigo WM.

● O sonho dos argentinos ao chegar no Chile era disputar a final contra o Brasil. Mas logo de cara veriam que era um sonho alto demais.

A Bulgária era inexperiente e estreava em Mundiais.

Assim, os argentinos aproveitaram o nervosismo dos búlgaros e abriram o placar com o ponta direita Héctor Facundo, chutando cruzado, logo aos quatro minutos de jogo.

Mas depois disso, o time sofreu. A Bulgária passou a dar mostras do estilo que a faria disputar também as três Copas seguintes: a força física e um time fechado, com marcação forte e dura, tentando explorar os contra-ataques.

Com isso, os búlgaros anularam o sistema de jogo albiceleste, que consistia em toques curtos e habilidade individual. Sanfilippo, por exemplo, reclamou bastante da truculência dos adversários.

E nenhuma das equipes conseguiu mais passar pela defesa adversária e o jogo terminou em uma vitória sofrível da Argentina.

Mesmo com a vitória, o técnico Juan Carlos Lorenzo foi bastante criticado por ter deixado o meia Antonio Rattín na reserva. Ele era uma fonte de ótimos passes e excelente visão de jogo, mas não tinha a confiança de seu treinador.


(Imagem: Pinterest)

● Apesar de jogar perto de sua torcida, a Argentina não conseguiu nenhuma boa atuação e foi novamente eliminada na fase de grupos, assim como havia ocorrido em 1958. Na segunda partida, perdeu para a Inglaterra por 3 a 1. Na rodada final, precisava vencer a Hungria para se classificar. Os magiares já estavam classificados e escalaram uma equipe mista. E mesmo assim, os argentinos não conseguiram furar o bloqueio dos europeus e ficaram no empate em 0 a 0, parando em uma atuação magistral do goleiro Grosics – último remanescente do esquadrão húngaro de 1954.

No dia seguinte, a delegação argentina foi assistir à partida entre Inglaterra e Bulgária, na qual uma vitória búlgara classificaria os portenhos. Mas de nada adiantou a torcida. A Bulgária (que havia sido goleada pela Hungria por 6 x 1 na partida anterior) empatou sem gols com a Inglaterra, conquistando seu primeiro ponto na história das Copas – resultado que deu a classificação ao English Team e eliminou a Argentina.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 1 X 0 BULGÁRIA

 

Data: 30/05/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Braden Copper Co. (El Teniente-Codelco)

Público: 7.134

Cidade: Rancagua (Chile)

Árbitro: Juan Garay Gardeazábal (Espanha)

 

ARGENTINA (4-2-4):

BULGÁRIA (WW):

1  Antonio Roma (G)

1  Georgi Naydenov (G)

4  Alberto Sainz

5  Dimitar Kostov

15 Rubén Navarro (C)

2  Kiril Rakarov (C)

6  Raúl Páez

3  Ivan Dimitrov

3  Silvio Marzolini

6  Nikola Kovachev

5  Federico Sacchi

4  Stoyan Kitov

13 Oscar Rossi

7  Todor Diev

7  Héctor Facundo

13 Petar Velichkov

9  Marcelo Pagani

9  Hristo Iliev

10 José Sanfilippo

11 Dimitar Yakimov

11 Raúl Belén

10 Ivan Kolev

 

Técnico: Juan Carlos Lorenzo

Técnico: Georgi Pachedzhiev

 

SUPLENTES:

 

 

12 Rogelio Domínguez (G)

18 Ivan Ivanov (G)

2  José Ramos Delgado

20 Nikola Parchanov (G)

18 Vladislao Cap

12 Dobromir Zhechev

14 Alberto Mariotti

8  Dimitar Dimov

17 Rafael Albrecht

17 Panteley Dimitrov

21 Ramón Abeledo

14 Georgi Sokolov

16 Antonio Rattín

21 Panayot Panayotov

8  Martín Pando

22 Georgi Nikolov

19 Rubén Héctor Sosa

19 Dinko Dermendzhiev

20 Juan Carlos Oleniak

16 Aleksandar Kostov

22 Alberto Mario González

15 Georgi Asparuhov

 

GOL: 4′ Héctor Facundo (ARG)

 

ADVERTÊNCIA: Rubén Navarro

Gol da partida:

Algumas imagens do jogo:

… 27/05/1934 – Suécia 3 x 2 Argentina

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Suécia 3 x 2 Argentina


(Imagem: Bob Thomas / Popperfoto / Getty Images)

Como já contamos anteriormente, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias.

A Suécia foi a vencedora do Grupo 1 das eliminatórias ao vencer a Estônia (6 x 2, em Estocolmo) e a Lituânia (2 x 0, em Kaunas).

A Argentina ficou com uma das duas vagas da América do Sul (juntamente com o Brasil), após a desistência do Chile.

Era a estreia dos suecos em Copas, enquanto a Argentina havia sido vice-campeã da primeira edição do Mundial, disputado quatro anos antes no Uruguai.


(Imagem: El Gráfico)

● A Argentina chegava bastante enfraquecida para a disputa do torneio, basicamente por dois motivos: a busca da Itália pelos oriundi mundo afora e o início do futebol profissional no país.

Liderada pelo ditador Benito Mussolini, a Itália queria mostrar a superioridade do fascismo e resolveu fortalecer sua seleção com os descendentes de italianos. O Brasil perdeu o ponta direita Filó (Anfilogino Guarisi). Mas os argentinos foram mais prejudicados, ao perderem talentos como o centromédio Luisito Monti, o atacante Attilio Demaría (ambos vice-campeões do mundo em 1930), o ponta direita Enrique Guaita e o ponta esquerda Raimundo Orsi.

Posteriormente, Guaita revelou que havia combinado com seus três companheiros no início da Copa que não entrariam em campo se tivessem de enfrentar a Argentina. Certamente enfrentariam a fúria do Duce, mas a fuga não foi necessária, graças à eliminação precoce dos portenhos.

Na época, o critério utilizado pela FIFA autorizava o jogador a representar outra seleção desde que estivesse morando em seu novo país há pelo menos três anos e não houvesse atuado pela antiga seleção nesse período. Mas Monti havia jogado pela Argentina em julho de 1931 e Guaita em 1933 – menos de três anos antes da Copa. A FIFA foi condescendente com a Itália, mas não fez o mesmo com o húngaro Iuliu Baratky, que só pôde jogar pela Romênia na Copa de 1938. Privilégios que eram conquistados graças à influência de Mussolini junto à entidade máxima do futebol.

Além desses importantes desfalques, os grandes clubes portenhos (River Plate, Boca Juniors e San Lorenzo) haviam aderido ao profissionalismo, formaram uma associação fora da tutela da FIFA e não cederam jogadores para a seleção. Com isso, nenhum atleta vice-campeão de 1930 pôde ir à Copa de 1934. Craques como Francisco Varallo, Carlos Peucelle e Manuel Ferreira não puderam exibir suas qualidades nos gramados do belpaese.

O mesmo aconteceu com o Brasil, já que a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) era uma entidade amadora e teve dificuldades de reunir uma seleção competitiva.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Mesmo com um time formado por amadores, os hermanos exigiram bastante da Suécia, que já era adepta ao profissionalismo sem problemas e estava composta pelos seus principais jogadores.

Mas quem abriu o placar foi o zagueiro argentino Ernesto Belis, aos 16 minutos de partida.

O centroavante sueco Sven Jonasson empatou aos 33′.

No início da segunda etapa, aos 4 minutos, Alberto Galateo deu mais esperanças aos albicelestes e fez 2 a 1.

O empate veio aos 22′, quando Jonasson fez seu segundo gol.

Os argentinos chegaram a ficar na frente do placar por duas vezes, mas a Suécia teve calma e ratificou sua superioridade técnica conquistando a vitória a dez minutos do fim, com o ponteiro esquerdo Knut Kroon.


(Imagem: Pinterest)

● Os suecos seriam eliminados logo na sequência pela Alemanha, nas quartas de final.

No dia 31/05/1934, os alemães venceram por 2 x 1, com dois gols de Karl Hohmann (Dunker diminuiu para os nórdicos).

FICHA TÉCNICA:

 

SUÉCIA 3 x 2 ARGENTINA

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h00 locais

Estádio: Littoriale

Público: 14.000

Cidade: Bologna (Itália)

Árbitro: Eugen Braun (Áustria)

 

SUÉCIA (2-3-5):

ARGENTINA (2-3-5):

Anders Rydberg (G)

Héctor Freschi (G)

Nils Axelsson

Juan Pedevilla

Sven Andersson

Ernesto Belis

Rune Carlsson

José Nehin

Nils Rosén (C)

Constantino Urbieta Sosa

Ernst Andersson

Arcadio López

Gösta Dunker

Francisco Rúa

Ragnar Gustavsson

Federico Wilde

Sven Jonasson

Alfredo Devincenzi (C)

Tore Keller

Alberto Galateo

Knut Kroon

Roberto Irañeta

 

Técnico: József Nagy

Técnico: Felipe Pascucci

 

SUPLENTES:

 

 

Eivar Widlund (G)

Ángel Grippa (G)

Otto Andersson

Ramón Astudillo

Victor Carlund

Enrique Chimento

Helge Liljebjörn

Ernesto Albarracín

Einar Snitt

Alfonso Lorenzo

Harry Lundahl

Luis Izzeta

Carl-Erik Holmberg

Francisco Pérez

Gunnar Jansson

 

Georg Johansson

 

Gunnar Olsson

 

Arvid Thörn

 

 

GOLS:

4′ Ernesto Belis (ARG)

9′ Sven Jonasson (SUE)

48′ Alberto Galateo (ARG)

67′ Sven Jonasson (SUE)

79′ Knut Kroon (SUE)

Veja alguns lances da partida:

… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru

Três pontos sobre…
… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru


(Imagem: Futebol nas 4 linhas)

● Na primeira Copa do Mundo transmitida ao vivo, com imagens ainda em preto e branco, o Brasil parou para assistir a mais um show do escrete canarinho. Com o primeiro lugar do Grupo 3, a delegação brasileira permaneceu em Guadalajara para o confronto das quartas de final diante do Peru.

Os peruanos tinham a simpatia da torcida mexicana por causa da tragédia que atingiu o país andino no mesmo dia da abertura da Copa, em 31 de maio. Um terremoto matou mais de 60 mil pessoas e a delegação estava muito abalada. O governo decidiu que o time deveria continuar na competição.

Pouco cotados antes do início do torneio, os peruanos eram franco-atiradores. Com a melhor geração de sua história, vizinhos sul-americanos tinham bons jogadores, como Teófilo Cubillas, Héctor Chumpitaz, Ramón Mifflin e Alberto Gallardo. Mas a grande atração era mesmo o técnico Didi. O brasileiro Waldir Pereira havia sido bicampeão mundial como jogador em 1958 e 1962 (assim como seu colega Zagallo, treinador do Brasil), sendo eleito o craque da Copa na primeira conquista.

Na primeira fase, os peruanos conseguiram duas boas vitórias, vencendo a Bulgária de virada por 3 a 2 e batendo o Marrocos por 3 a 0. Depois, perderam para a Alemanha Ocidental por 3 a 1. A inédita classificação para as quartas de final tornou Didi uma celebridade no Peru.


O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.


Didi escalou o Peru no 4-3-3. Com a bola, Teófilo Cubillas avançava e o sistema se tornava um 4-2-4.

● No estádio Jalisco, eram 54.233 as testemunhas de mais uma mostra de futebol arte. O meia Gérson voltou ao time após dois jogos se recuperando de lesão. Na lateral esquerda, o garoto Marco Antônio (19 anos) foi escolhido como titular por apoiar melhor que Everaldo.

Em toda a partida, o Brasil não correu mais que o necessário, mudando o ritmo da partida como lhe convinha.

No comecinho, Gérson fez um lançamento ao seu estilo. Pelé dominou no peito antes de entrar na área, driblou a marcação com o joelho e chutou na trave. O mesmo Pelé apanhou o rebote e tocou para trás de calcanhar, mas Tostão chegou chutando para fora.

Aos 11 minutos de jogo, Carlos Alberto cobrou lateral para Pelé na direita. O Rei cruzou para a área de pé esquerdo. O lateral Eloy Campos errou o domínio e deixou a bola nos pés de Tostão, que ajeitou para a meia-lua. Rivellino, em uma de suas “patadas atômicas” mandou de três dedos. A bola fez uma curva e morreu no canto esquerdo do arqueiro peruano. 1 a 0.

Quatro minutos depois, escanteio para o Brasil. Após cobrança curta, Tostão e Rivellino tabelam perto da linha de fundo. De um ângulo improvável, Tostão chuta direto para o gol. O quique da bola enganou o péssimo goleiro Luis Rubiños, que tentou encaixar e deixou a bola entrar. 2 a 0.

Pouco depois, em falta na intermediária, Pelé encheu o pé esquerdo e a bola foi no ângulo. Mas o árbitro belga Vital Loraux anulou o gol, pois tinha determinado tiro livre indireto (em dois lances).

Tostão abriu com Rivellino na esquerda. Ele usou sua habilidade, enganou o marcador e deixou com Pelé na entrada da área. O Rei tentou o gol por cobertura, mas a bola foi por cima.


(Imagem: Futebol nas 4 linhas)

O Brasil diminuiu o ritmo, trocando passes e procurando esfriar o jogo. Do outro lado, o Peru atacava a todo vapor. Tinha uma grande equipe e se aproveitou do primeiro descuido fatal da defesa brasileira – e é bom lembrar que a retaguarda canarinho tinha mesmo os seus problemas.

Aos 27′, o capitão Héctor Chumpitaz lançou Alberto Gallardo (ex-Palmeiras, nos anos 1960) na ponta esquerda. Ele cortou Carlos Alberto e chutou sem ângulo. Inseguro, o goleiro Félix praticamente fez um gol contra ao tentar pegar o chute cruzado do peruano e desviou para dentro. Um gol com certa semelhança ao de Tostão, pelos chutes com pouco ângulo e falhas dos goleiros.

No finzinho da etapa inicial, Jairzinho escapou pela ponta direita e tocou para Pelé no meio. O camisa 10 bateu de esquerda e Rubiños defendeu sem conseguir segurar. A bola escapou e foi na trave.

O primeiro tempo terminou em 2 a 1. Os onze comandados por Zagallo se entendiam às mil maravilhas e voltaram a campo dispostos a resolverem logo o jogo.

Aos 7′, Pelé deixou com Jairzinho, que devolveu para o Rei no costado da zaga. Ele tocou para o meio da área, a bola desviou na defesa, tirou o goleiro do lance e sobrou livre para Tostão completar para o gol vazio. Esses gols contra o Peru foram os únicos de Tostão no Mundial do México.

Mesmo com vantagem, o Brasil continuou atacando. E, com muita categoria, o Peru respondia com ferocidade nos contragolpes. Aos 24′, após uma bela jogada coletiva, Cubillas ficou com a sobra e chutou de primeira. A bola foi no meio do gol e passou por baixo de Félix. 3 a 2.

No meio do segundo tempo, Gérson foi poupado e deu lugar a Paulo Cézar. O “Canhota de Ouro” jogou 67 minutos, fez 57 passes e errou apenas um.

Com duas alterações, Didi lançou sua equipe à frente.

Antes que o Peru começasse a gostar do jogo de vez, a reação do Brasil foi quase imediata. Aos 31 minutos, Jairzinho deixou com Rivellino e arrancou. Riva devolveu com perfeição para o “Furacão da Copa”. Ele entrou na área, driblou o goleiro, foi à linha de fundo e tocou para o gol vazio antes da chegada do beque peruano. Jairzinho marcou pela quinta vez na Copa. Logo depois, esgotado, ele deu lugar a Roberto.

Com a vitória garantida, o escrete canarinho trocou muitos passes e deixou o tempo correr. Embora o placar tenha sido 4 a 2, o Brasil foi senhor do jogo o tempo todo e não sofreu em momento algum.


(Imagem: Peru.com)

● Finalmente Tostão marcou seus primeiros gols na Copa. Ele vinha merecendo. Antes do Mundial, muitos diziam que Tostão não poderia jogar ao lado de Pelé. E a crítica sempre pesa para o lado mais fraco. Nesse caso, para Tostão. Ele, que foi o artilheiro das Eliminatórias com dez gols. Ele, que fez um esforço comovente para provar que poderia voltar a jogar em alto nível após o descolamento da retina. O próprio Zagallo só não barrou Tostão porque a opinião pública o queria no time. E nos jogos anteriores, jogando como “falso 9” (quarenta anos antes de Lionel Messi), o cruzeirense abria espaços para Pelé, Jair e Rivellino, com intensa movimentação e passes geniais. Mais que ninguém, ele merecia marcar esses dois gols contra o Peru.

O Brasil estava classificado para enfrentar o arquirrival Uruguai nas semifinais. A lembrança do “Maracanazzo” de 1950 ainda pairava na lembrança dos brasileiros.

Quem ganhasse, enfrentaria o vencedor do clássico entre Itália x Alemanha Ocidental.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 2 PERU

 

Data: 14/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 54.233

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Vital Loraux (Bélgica)

 

BRASIL (4-3-3):

PERU (4-2-4):

1  Félix (G)

1  Luis Rubiños (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

2  Eloy Campos

2  Brito

14 José Fernández

3  Wilson Piazza

4  Héctor Chumpitaz (C)

6  Marco Antônio

5  Nicolás Fuentes

5  Clodoaldo

6  Ramón Mifflin

8  Gérson

7  Roberto Challe

7  Jairzinho

8  Julio Baylón

9  Tostão

9  Perico León

10 Pelé

10 Teófilo Cubillas

11 Rivellino

11 Alberto Gallardo

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Didi

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Rubén Correa (G)

22 Leão (G)

21 Jesus Goyzueta (G)

21 Zé Maria

3  Orlando de la Torre

14 Baldocchi

16 Félix Salinas

15 Fontana

13 Pedro González

17 Joel Camargo

15 Javier González

16 Everaldo

17 Luis Cruzado

18 Paulo Cézar Caju

18 José del Castillo

13 Roberto

19 Eladio Reyes

20 Dadá Maravilha

20 Hugo Sotil

19 Edu

22 Oswaldo Ramírez

 

GOLS:

11′ Rivellino (BRA)

15′ Tostão (BRA)

28′ Alberto Gallardo (PER)

52′ Tostão (BRA)

70′ Teófilo Cubillas (PER)

75′ Jairzinho (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

54′ Julio Baylón (PER) ↓

Hugo Sotil (PER) ↑

 

61′ Pedro Pablo León (PER) ↓

Eladio Reyes (PER) ↑

 

67′ Gérson (BRA) ↓

Paulo Cézar Caju (BRA) ↑

 

80′ Jairzinho (BRA) ↓

Roberto (BRA) ↑


(Imagem: Peru.com)

Melhores momentos da partida:

… 13/06/1962 – Brasil 4 x 2 Chile

Três pontos sobre…
… 13/06/1962 – Brasil 4 x 2 Chile


(Imagem: FIFA)

Três dias antes, Garrincha havia descido do céu como um “extra-terrestre” e tinha acabado com a Inglaterra na vitória por 3 a 1, que classificou a Seleção Brasileira para a semifinal. O adversário seria o pior de todos – não pelo futebol, mas por ser o dono da casa.

O Chile estava fazendo uma campanha digna, de certa forma até surpreendente. Estreou vencendo a Suíça por 3 x 1 de virada. Na sequência, venceu um jogo duríssimo contra a Itália por 2 x 0. A derrota por 2 x 0 para a Alemanha Ocidental deixou os anfitriões em segundo lugar do grupo. Nas quartas de final, o Chile bateu a União Soviética por 2 a 1 e estava entre os quatro melhores do mundo pela primeira (e até hoje única) vez em sua história.

Animados com a campanha, os torcedores comemoraram tanto a classificação, como se tivessem vencido a final. A capital Santiago foi tomada pela febre do futebol, que contagiou a todos – até mesmo os que nunca assistiram a uma partida na vida. Até nas casas noturnas e teatros, o tema era a bola. O Chile era a capital da bola.

A empolgação da torcida local passava do ponto, chegando a encher a capital Santiago de frases cômicas e ameaçadoras, como, por exemplo: “Com Pelé ou sem Pelé, haveremos de tomar café” ou “Com Didi ou sem Didi, haveremos de fazer xixi”.

Por isso, naquela manhã de quarta-feira, a comissão técnica brasileira decidiu providenciar ela mesma a refeição dos jogadores e comprou salame, mortadela, queijo e pão. Os atletas almoçaram apenas sanduíches. Os dirigentes brasileiros tinham receio de que algo pudesse ser colocado na comida do hotel.


(Imagem: FIFA / Getty Images)

● Se fosse seguida a tabela original da Copa, a semifinal entre Brasil e Chile deveria ser disputada em Viña del Mar, enquanto Tchecoslováquia e Iugoslávia se enfrentariam em Santiago. Mas o comitê organizador, inverteu as sedes com o objetivo de ter uma renda maior.

Assim, ao mesmo tempo em que tchecos e iugoslavos duelavam no estádio Sousalito para 5.890 pessoas, brasileiros e chilenos jogavam para 76.594 expectadores. O “detalhe” é que o estádio Nacional tinha capacidade para 70 mil. Ou seja, o público presente extrapolou em mais de seis mil a lotação máxima. Foi o maior público e a maior renda da Copa.

Muitos jogos tiveram poucos expectadores no Chile. Cabe ressaltar o motivo não foi a falta de entusiasmo que afastou o público dos estádios, mas sim a falta de dinheiro. E não era possível adquirir o ingresso para um jogo só. Eles eram vendidos em pacotes e eram muito caros. O jeito era assistir de graça pelas televisões nas ruas. Onde houvesse uma TV ligada, havia uma multidão de chilenos com os olhos grudados na tela.

Recém saindo de um terremoto arrasador, o país vivia problemas econômicos, financeiros e até estruturais, inclusive com racionamento de energia elétrica. O fornecimento era interrompido em todas as tardes. A única exceção naqueles dias foi em 13/06, justamente no dia da semifinal entre Brasil e Chile. A direção geral da companhia energética recebeu milhares de cartas e telefonemas de pessoas que não tinham ingressos para o jogo, mas que não queriam perder a transmissão pelo rádio ou pela TV. Curiosamente, um dos bairros que deveria sofrer o corte naquele dia era justamente o do estádio Nacional, palco da disputa. Em caráter de exceção, o pedido foi prontamente atendido.


O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo.


O Chile atuava no sistema 4-2-4, com muita força pelas pontas.

● Os jogadores pareciam nervosos nos minutos iniciais, mas o Brasil dominou o jogo desde os primeiros momentos.

Didi cobrou falta com perigo, mas a bola foi por cima.

Após bola na área brasileira, Mauro escorou de cabeça e Djalma Santos cortou mal, para o meio da área. Leonel Sánchez chutou de esquerda e a bola bateu na trave direita de Gylmar. No rebote, Landa cabeceou por cima.

E os locais se decepcionaram logo aos nove minutos de bola rolando. Da esquerda, Zagallo ergueu a bola na área. Amarildo furou na tentativa de bicicleta e Vavá deixou para Garrincha. De fora da área, o ponta dominou e mandou uma bomba de perna esquerda no ângulo esquerdo do goleiro Misael Escuti, sem chance alguma de defesa.

Garrincha continuava a brilhar, aparecendo em todos os lados do ataque. Pouco depois, ele avançou pela direita e chutou cruzado para dentro da pequena área. A bola passou por todo mundo, até pelo goleiro chileno, mas a zaga recuperou e afastou o perigo. Claramente a marcação sobre Garrincha não estava funcionando. Para tentar parar o ponta direita, o técnico Fernando Riera havia escalado Manuel Rodríguez (mais forte e melhor na marcação individual) na lateral esquerda, ao invés de Sergio Navarro – que havia sido titular nas partidas anteriores.

Aos 21′, Vavá marcou o segundo, mas o árbitro Arturo Yamasaki anulou alegando impedimento. Foi a primeira de algumas decisões controversas do juiz peruano.

Mas nem fez muita diferença. Dez minutos depois, Zagallo cobrou escanteio de trivela da esquerda. Garrincha subiu mais que Rodríguez e, do bico da pequena área, cabeceou forte para dentro. Foi um lance muito semelhante ao gol de cabeça que o mesmo Mané havia marcado contra a Inglaterra três dias antes. Desde o princípio, o Chile já havia se mostrado vulnerável na bola aérea defensiva.

Mas a animada e esperançosa torcida local não se cansava de incentivar o seu time. E empurrado pela fanática torcida, o Chile não se dava por vencido. Jorge Toro recebeu na intermediária ofensiva e sofreu falta de Zito. O próprio Toro cobrou com perfeição e mandou no ângulo direito de Gylmar.

Os donos da casa foram para o segundo tempo na esperança de conseguir o empate, mas foram frustrados logo aos três minutos. Garrincha cobrou escanteio da direita. Vavá escapou da marcação, subiu nas costas de Raúl Sánchez e cabeceou para baixo. A bola quicou no chão e tomou o rumo do gol, sem chances para o goleiro (que foi com a mão mole na bola).


(Imagem: Barão Lhkz)

Mas a vantagem de dois gols não deixou o jogo mais fácil para o Brasil. O Chile passava a ter mais posse de bola.

No esforço de agradar ao time da casa, Yamasaki tomou outra de suas decisões discutíveis ao marcar um pênalti para o Chile aos 16′. Os brasileiros reclamaram muito, alegando que a bola teria batido na mão de Zózimo de forma involuntária. Nada adiantou. Leonel Sánchez cobrou rasteiro, no canto esquerdo e diminuiu para os chilenos. Gylmar nem pulou.

Mas Garrincha continuava a mandar no jogo. Em outra arrancada, Mané finalizou, mas o chute saiu fraco para uma defesa fácil do goleiro Escuti.

Somente aos 33′ o escrete canarinho respiraria aliviado. Em cobrança de falta da esquerda, Zagallo ergueu a bola na pequena área. Vavá, forte e sempre bem posicionado, apareceu entre Sánchez e Rodríguez e cabeceou para o gol. Curiosamente, Vavá se desgastou tanto nessa partida, que perdeu 3,5 kg.

E depois o jogo descambou para a violência. Aos 35′, Honorino Landa fez falta dura em Zito e acabou expulso.

Na tentativa de fazer o impossível e tentar parar Garrincha, Eladio Rojas utilizou todas suas “ferramentas”: pontapés, cotoveladas e dedos nos olhos. E o juiz foi complacente com tudo isso. E aos 39 minutos do segundo tempo, com o placar já definido, Garrincha levou outro pontapé de Rojas. Caiu e se levantou. De forma cômica, com todo o “estilo Garrincha de ser”, o Mané deu um peteleco de joelho na bunda de Rojas. O chileno se atirou ao chão, como se houvesse sido agredido brutalmente. Os chilenos acusaram o lance e cercaram o árbitro. Depois de consulta ao bandeirinha uruguaio Esteban Marino (que estava a um metro do lance), o juiz expulsou o brasileiro – que havia apanhado calado o jogo todo. Após sair de campo e enquanto caminhava junto à linha lateral, Garrincha foi atingido na cabeça por uma pedra atirada pela torcida (algumas fontes indicam que foi uma garrafa). Abriu-se um corte que precisou de pontos e o craque passou a noite com a cabeça enfaixada.

Mesmo com tudo isso, após o apito final, os craques brasileiros homenagearam a torcida chilena, para que ela ficasse ao seu favor na decisão. O Brasil estava em sua segunda final de Copa do Mundo consecutiva.

Com o resultado definido, a preocupação era outra. Garrincha seria punido e suspenso da final pela FIFA?

“Foi um pontapezinho de amizade” — afirmou o ingênuo Garrincha.


(Imagem: FIFA)

● Embora o regulamento da época não previsse a suspensão automática em caso de expulsão, a pressão dos chilenos era enorme para que isso acontecesse. A imprensa transformou a atitude pueril de Garrincha em uma agressão criminosa. A comissão disciplinar da FIFA se reuniu no dia seguinte para julgar o caso.

Foi feita uma força-tarefa na tentativa de absolver Garrincha. Representantes da CBD fizeram um amplo dossiê, baseando sua defesa no fato dele nunca ter sido expulso de campo. Tancredo Neves, primeiro-ministro brasileiro, passou um telegrama à comissão “em nome do povo brasileiro” pedindo perdão para o jogador. Até o presidente do Peru pediu ao árbitro para que não prejudicasse o craque brasileiro.

Mas o maior feito foi o “sumiço” do bandeirinha uruguaio Esteban Marino. O presidente da CBD, João Havelange, por intermédio do árbitro brasileiro João Etzel Filho, deu de presente a Marino um passeio de Santiago a Paris, saindo logo de manhã. Coincidentemente, antes do julgamento ocorrer.

E tudo ficou mais fácil quando a comissão disciplinar leu a súmula. O árbitro escreveu que “não viu a infração de Garrincha” e que seu auxiliar “tivera de viajar”, mas que lhe deixou um bilhete descrevendo a suposta agressão como um “revide típico de lance de jogo”. Assim, a agressão estava descaracterizada e Garrincha foi absolvido por 5 votos a 2, recebendo apenas uma advertência simbólica.

Cabe ressaltar que o mesmo Marino tinha sido bandeirinha na vitória do Brasil sobre a Espanha, quando o escrete canarinho foi beneficiado pela não marcação de um pênalti e por um gol sofrido incorretamente anulado, quando perdia por 1 a 0. “Coincidentemente”, um mês depois, Marino foi contratado como árbitro pela Federação Paulista de Futebol.

Mas possivelmente nem seria necessária toda essa proeza. Ninguém tinha interesse que um país comunista (Tchecoslováquia) vencesse a Copa. Além disso, a FIFA era grata ao Brasil por ter sediado a Copa de 1950, logo no pós-Guerra. Por isso e muito mais, a FIFA é historicamente “simpática” ao Brasil.

E se Garrincha foi absolvido, o chileno Landa foi suspenso para a decisão do bronze entre Chile e Iugoslávia. Mas, mesmo sem ele, o Chile venceu por 1 a 0. A festa pelo terceiro lugar tomou as ruas de Santiago e só parou no dia seguinte, poucas horas antes da final entre Brasil e Tchecoslováquia.


(Imagem: FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 2 CHILE

 

Data: 13/06/1962

Horário: 14h30 locais

Estádio: Nacional

Público: 76.594

Cidade: Santiago (Chile)

Árbitro: Arturo Yamasaki (Peru)

 

BRASIL (4-2-4):

CHILE (4-2-4):

1  Gylmar (G)

1  Misael Escuti (G)

2  Djalma Santos

2  Luis Eyzaguirre

3  Mauro (C)

3  Raúl Sánchez

5  Zózimo

15 Manuel Rodríguez

6  Nilton Santos

5  Carlos Contreras

4  Zito

6  Eladio Rojas

8  Didi

7  Jaime Ramírez

7  Garrincha

8  Jorge Toro (C)

19 Vavá

9  Honorino Landa

20 Amarildo

21 Armando Tobar

21 Zagallo

11 Leonel Sánchez

 

Técnico: Aymoré Moreira

Técnico: Fernando Riera

 

SUPLENTES:

 

 

22  Castilho (G)

12 Adán Godoy (G)

12 Jair Marinho

22 Manuel Astorga (G)

13 Bellini

13 Sergio Valdés

14 Jurandir

14 Hugo Lepe

15 Altair

4  Sergio Navarro

16 Zequinha

16 Humberto Cruz

17 Mengálvio

17 Mario Ortiz

18 Jair da Costa

18 Mario Moreno

9  Coutinho

19 Braulio Musso

10 Pelé

20 Carlos Campos Silva

11 Pepe

10 Alberto Fouilloux

 

GOLS:

9′ Garrincha (BRA)

32′ Garrincha (BRA)

42′ Jorge Toro (CHI)

47′ Vavá (BRA)

61′ Leonel Sánchez (CHI) (pen)

78′ Vavá (BRA)

 

EXPULSÕES:

80′ Honorino Landa (CHI)

83′ Garrincha (BRA)

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 12/06/2002 – Suécia 1 x 1 Argentina

Três pontos sobre…
… 12/06/2002 – Suécia 1 x 1 Argentina


(Imagem: UOL)

● A Argentina tentava se reerguer depois da pior crise econômica de sua história. Um dos raros alentos para o país era sua seleção, maior favorita para conquistar o título da Copa do Mundo de 2002 – juntamente com a França, então campeã da Europa e do mundo. Os portenhos fizeram a melhor campanha da história das eliminatórias sul-americanas, com 43 pontos, 13 vitórias, 4 empates e só uma derrota; foram 42 gols marcados e 15 sofridos (melhor ataque e melhor defesa). Terminou 12 pontos à frente do segundo colocado, o Equador. Estava invicta há 18 jogos, desde a derrota por 3 a 1 para o Brasil no Morumbi, em 26/07/2000. Mas, além de vencer, aquele time encantava em campo.

Muito bem treinada por Marcelo “El Loco” Bielsa, a albiceleste era armada em um 3-4-3 com ótima ocupação dos espaços. Era um time completo, com zagueiros fortes e de boa técnica (Pochettino, Samuel e Placente), os melhores laterais da história do país (Zanetti e Sorín), dois dínamos no meio campo (Simeone e Verón), dois pontas rápidos e habilidosos (Ortega e Kily González) e um goleador de respeito (Batistuta). Era uma base que jogava junta há muito tempo na seleção e contava com grande entrosamento.

Mas, justamente no Mundial, quando tudo deveria estar perfeito, o time desandou. No jogo de abertura do Grupo F, teve muito volume de jogo, mas venceu a Nigéria com um magro 1 a 0. Na partida seguinte, deu muitas brechas na defesa e perdeu para a Inglaterra por 1 a 0, com um gol de pênalti (e cheio de raiva) de David Beckham. Na rodada final, precisava vencer a Suécia para se classificar. Se empatasse, precisaria torcer para uma vitória por dois gols dos nigerianos sobre os ingleses.

Com dois técnicos, Lars Lagerbäck e Tommy Söderberg (coisa rara), a Suécia era uma equipe aplicada taticamente e composta de bons valores individuais. Havia um misto de experiência e juventude. Magnus Hedman, Patrik Andersson, Teddy Lučić e Henrik Larsson estavam presentes no elenco de 1994, que levou a seleção “Blågult” ao 3º lugar. E a jovem guarda era muito bem representada por um jovem reserva de 20 anos, chamado Zlatan Ibrahimović.

Nas duas primeiras rodadas, os suecos empataram com a Inglaterra (1 x 1) e venceram a Nigéria (2 x 1). Precisava de um empate contra os argentinos para se classificar.


A Argentina atuava no 3-4-3 consagrado por Marcelo “Loco” Bielsa. Dessa vez, com muitas mudanças na escalação.


A Suécia jogava no sistema 4-4-2 clássico, com muita aplicação tática.

● Insatisfeito com o rendimento dos jogos anteriores, “El Loco” Bielsa mudou quase meio time. Entraram Chamot, Almeyda, Pablo Aimar e Claudio López, nos lugares de Placente, Simeone, Verón e Kily González. Surpreendente mesmo foi a saída do capitão Verón, mesmo não atuando bem nas partidas anteriores.

O jogo começou com cautela de ambos os lados. Mas logo a Argentina começaria a demonstrar a sua superioridade técnica e a ditar o ritmo da partida. Mas os hermanos mostraram que não haviam aprendido com os erros da derrota anterior e continuaram insistindo nas jogadas pela linha de fundo. Até chegavam com perigo, mas erravam na finalização. Nos 90 minutos, foram 57 bolas erguidas na área sueca, consagrando a dupla de zaga Jakobsson e Mjällby.

Aos 13′, Zanetti foi à linha de fundo e cruzou da direita. Na pequena área, Sorín cabeceou o o goleiro Hedman espalmou.

Claudio López perdeu duas chances. Uma aos 29′, quando chutou para fora um cruzamento da direita. A outra foi pouco depois, ao receber na área e chutar de esquerda por cima.

Aimar tabelou com Ortega e deixou Batistuta livre para chutar cruzado. Ele encheu o pé, mas a bola foi para fora, assustando Hedman.

Próximo ao intervalo, o experiente atacante Claudio Caniggia xingou o bandeirinha e foi recebeu o cartão vermelho mesmo sem ter entrado em campo. Caniggia se tornou o primeiro jogador expulso do banco de reservas em toda a história das Copas. Foi praticamente uma viagem turística do veterano pela Ásia, já que não entrou em campo nem um minuto.


(Imagem: Tim De Waele / Getty Images)

O placar foi aberto aos 14 minutos do segundo tempo. Anders Svensson cobrou falta da intermediária com perfeição e acertou o canto direito. O goleiro Pablo Cavallero se esticou todo, chegou a tocar na bola, mas não conseguiu impedir o gol.

Aos 27, Verón (que entrou no lugar de Almeyda) cruzou na área, mas a bola passou por todo mundo.

Um pouco antes, Batistuta tinha dado lugar a Crespo. Uma das maiores críticas feitas a Bielsa e ao seu antecessor, Daniel Passarella, foi o fato de não deixarem Batistuta e Crespo em campo ao mesmo tempo em hipótese alguma. No primeiro tempo, joga Batigol; no segundo, entra “Valdanito”. Mesmo precisando fazer gols e contando com dois dos maiores goleadores do mundo na época, os treinadores não mantinham os dois centroavantes juntos em campo.

Sem a bola, os argentinos tinham dificuldade para retomá-la. Uma das ausências mais sentidas em campo foi do experiente zagueiro Roberto Ayala. Ele havia se lesionado no aquecimento contra a Nigéria e nem chegou a jogar durante o torneio.

Na necessidade de atacar a qualquer custo, a Argentina abriu a defesa. A Suécia respondeu nos contra-ataques em velocidade. Andreas Andersson cruzou rasteiro da esquerda. Pochettino tentou cortar e a bola explodiu no peito do goleiro Cavallero, evitando o gol contra.

Aos 32, Larsson partiu sozinho em um contragolpe e foi derrubado por Chamot. O árbitro Ali Bujsaim, dos Emirados Árabes Unidos, interpretou que o atacante sueco simulou a falta e lhe aplicou cartão amarelo. Foi um erro crasso. A falta aconteceu e resultaria na expulsão de Chamot, por ser o último defensor.

Mas a Argentina reagiu. Após cruzamento da esquerda, a zaga sueca afastou e Zanetti chutou forte da entrada da área. Hedman foi bem espalmou para fora.

Depois, Chamot invadiu a área pela direita e chutou de esquerda. A bola bateu no travessão, quicou na linha e não entrou.

Aos 39, Andersson penetrou na área portenha e tocou por cima na saída do goleiro. A bola tocou no travessão e não entrou.

A dois minutos do fim, Ortega entrou na área pela direita e se jogou na disputa com Mattias Jonson. O juiz marcou pênalti. O próprio Ortega bateu no canto esquerdo, Hedman defendeu e Hernán Crespo pegou o rebote para completar para o gol. O detalhe é que Crespo havia invadido a área antes da cobrança. Portanto o gol foi irregular – embora tenha sido validado pela arbitragem.

Mas não havia tempo para mais nada. Ex-favoritos, os argentinos choraram a eliminação ainda em campo.


(Imagem: FIFA)

● Como o jogo entre Inglaterra e Nigéria terminou sem gols, o empate garantiu a Suécia no primeiro lugar do “grupo da morte”.

Nas oitavas de final, a Suécia saiu na frente de Senegal, mas viu os africanos empatarem e vencerem na prorrogação (2 x 1) com um gol de ouro de Henri Camara. Foi uma campanha digna dos suecos. E uma vergonha a dos argentinos.

Marcelo Bielsa continuou como técnico da seleção argentina por mais dois anos e conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, com um time que tinha Roberto Ayala, Javier Mascherano, Kily González, Javier Saviola, Carlos Tévez e outros ótimos nomes.


(Imagem: O Curioso do Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

SUÉCIA 1 x 1 ARGENTINA

 

Data: 12/06/2002

Horário: 15h30 locais

Estádio: Miyagi Stadium (atual Hitomebore Stadium Miyagi)

Público: 45.777

Cidade: Miyagi (Japão)

Árbitro: Ali Bujsaim (Emirados Árabes Unidos)

 

SUÉCIA (4-4-2):

ARGENTINA (3-4-3):

1  Magnus Hedman (G)

12 Pablo Cavallero (G)

2  Olof Mellberg

4  Mauricio Pochettino

15 Andreas Jakobsson

6  Walter Samuel

4  Johan Mjällby (C)

22 José Chamot

16 Teddy Lučić

8  Javier Zanetti

7  Niclas Alexandersson

5  Matías Almeyda

8  Anders Svensson

16 Pablo Aimar

6  Tobias Linderoth

3  Juan Pablo Sorín

17 Magnus Svensson

10 Ariel Ortega

10 Marcus Allbäck

Gabriel Batistuta (C)

11 Henrik Larsson

7  Claudio López

 

Técnicos: Lars Lagerbäck / Tommy Söderberg

Técnico: Marcelo “Loco” Bielsa

 

SUPLENTES:

 

 

23 Andreas Isaksson (G)

23 Roberto Bonano (G)

12 Magnus Kihlstedt (G)

1  Germán Burgos (G)

3  Patrik Andersson

2  Roberto Ayala

5  Michael Svensson

13 Diego Placente

13 Tomas Antonelius

14 Diego Simeone

14 Erik Edman

15 Claudio Husaín

20 Daniel Andersson

20 Marcelo Gallardo

19 Pontus Farnerud

11 Juan Sebastián Verón

18 Mattias Jonson

17 Gustavo López

9  Freddie Ljungberg

18 Kily González

22 Andreas Andersson

21 Claudio Caniggia

21 Zlatan Ibrahimović

19 Hernán Crespo

 

GOLS:

59′ Anders Svensson (SUE)

88′ Hernán Crespo (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

55′ José Chamot (ARG)

58′ Matías Almeyda (ARG)

65′ Magnus Svensson (SUE)

75′ Kily González (ARG)

78′ Henrik Larsson (SUE)

 

CARTÃO VERMELHO: 45+2′ Claudio Caniggia (ARG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Marcus Allbäck (SUE) ↓

Andreas Andersson (SUE) ↑

 

58′ Gabriel Batistuta  (ARG) ↓

Hernán Crespo (ARG) ↑

 

63′ Matías Almeyda (ARG) ↓

Juan Sebastián Verón (ARG) ↑

 

63′ Juan Pablo Sorín (ARG) ↓

Kily González (ARG) ↑

 

68′ Anders Svensson (SUE) ↓

Mattias Jonson (SUE) ↑

 

78′ Henrik Larsson (SUE) ↓

Zlatan Ibrahimović (SUE) ↑


(Imagem: Mundo Albiceleste)

Melhores momentos da partida: