… 01/06/2002 – Irlanda 1 x 1 Camarões

Três pontos sobre…
… 01/06/2002 – Irlanda 1 x 1 Camarões


Lauren e Holland disputavam a bola no meio campo (Imagem: Pinterest)

● Camarões tinha a expectativa de fazer uma campanha de destaque. Os mais delirantes otimistas sonhavam até com o título. Em franca evolução, muitos apostavam que os “Leões Indomáveis” seriam a primeira seleção africana a vencer uma Copa do Mundo. Nos últimos dois anos, haviam conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, além do bicampeonato da Copa Africana das Nações (2000 e 2002).

Eram muitos os veteranos de Mundiais anteriores. De 1994, se mantinham no elenco o goleiro Jacques Songo’o, os zagueiros Rigobert Song e Raymond Kalla, além do volante Marc-Vivien Foé (que faleceria em campo na semifinal da Copa das Confederações de 2003). Dos convocados em 1998, ainda estavam os alas Pierre Womé e Pierre Njanka, os meias Lauren e Salomon Olembé e os atacantes Joseph-Désiré Job, Patrick Mboma e Samuel Eto’o. Dentre os novos nomes, destaque para o ala Geremi, do Real Madrid.

Possuía jogadores de qualidade técnica e experiência no futebol europeu. Como não poderia deixar de ser, a principal força ainda era a perigosa dupla de ataque formada pelo veterano Mboma e o jovem Eto’o.

Mas o ciclo até o Mundial foi tumultuado. De 1998 a 2002, cinco técnicos passaram pelo comando da equipe. Os últimos preparativos foram caóticos, com a viagem até o Japão demorando cinco dias.


Seleção de Camarões no Mundial de 2002 (Imagem: ESPN)

● O ex-zagueiro inglês Jack Charlton se tornou treinador da Irlanda em 1986 e adaptou o time às características de seus jogadores. Com isso, “The Boys in Green” (apelido da seleção) passaram a ser conhecidos pelo futebol em que a determinação tática e a força física se sobrepunham à técnica. Resumindo: normalmente eram poucos gols, tanto a favor quanto contra. Os especialistas consideravam um jogo chato, de futebol feio, mas que era muito difícil ser derrotado. Havia participado de dois Mundiais e passado de fase em ambos: chegou às quartas de final em 1990 (perdeu para a Itália por 1 x 0) e ficou nas oitavas em 1994 (caiu para a Holanda, 2 x 0).

Para o lugar de Charlton, foi escolhido o ex-zagueiro Mick McCarthy. O técnico irlandês havia disputado a Copa de 1990 e ainda se sentia como se estivesse dentro do campo: usava blusa, calções, meiões e chuteiras para comandar seu time à beira do campo. McCarthy assumiu a equipe em 1996 e se deparou com uma equipe envelhecida. Logo, tratou de renovar o elenco e deixar de fora figurinhas carimbadas como o lateral Denis Irwin e o zagueiro Phil Babb. O trabalho não deu resultados de imediato, ficando fora da Copa de 1998 e da Eurocopa 2000.

Nas eliminatórias para a Copa de 2002, a descrença foi enorme ao cair em um grupo com Holanda e Portugal, semifinalistas da Euro 2000. Mas a Irlanda surpreendeu e terminou invicta, com sete vitórias e três empates – eliminando a poderosa Holanda, 4º lugar na Copa de 1998 e com um elenco magnífico. Os verdes ficaram empatados com lusos na liderança do Grupo 2, perdendo apenas no saldo de gols. E por terem feito a melhor campanha entre os segundos colocados nos grupos da qualificatória europeia, se beneficiaram ao disputar a repescagem intercontinental contra o Irã. Vitória por 2 x 0 em Dublin e derrota por 1 x 0 em Teerã colocaram os gaélicos no Mundial.

Já em maio, às vésperas da estreia no Mundial, houve um discussão pública entre o experiente capitão Roy Keane e o técnico McCarthy. O volante do Manchester United fez fortes críticas à preparação da seleção e, principalmente à infraestrutura das instalações da cidade de Saipan, nas Ilhas Marianas do Norte, no meio do Oceano Índico. O treinador considerou como um desrespeito e expulsou Keane da delegação, mantendo sua posição mesmo após o volante ter pedido desculpas. “Enquanto eu continuar como técnico da seleção, ele não volta. Se ele retornasse, eu perderia vários jogadores”, afirmou. A federação irlandesa tentou substituir Roy Keane por Colin Healy na lista dos inscritos, mas a FIFA não autorizou. As regras dizem que a lista só pode ser alterada em caso de lesão de um atleta ou por algum motivo de força maior, como, por exemplo, o falecimento de um familiar.

Com a saída de Roy Keane, o zagueiro Steve Staunton se tornou o capitão. Junto a ele, eram outros três remanescentes da Copa de 1994: o goleiro reserva Alan Kelly, o lateral direito Gary Kelly e o meia direita Jason McAteer. E ainda havia um remanescente de 1990, o veterano atacante grandalhão Niall Quinn (o mais pesado da Copa, com 100 kg – que ficou ausente de 1994 por lesão).

Mesmo com atacantes leves e habilidosos como Robbie Keane e Damien Duff, o time era adepto do estilo “kick and rush”, com foco nas bolas longas, lançamentos e cruzamentos. A técnica que faltava era compensada pela energia que sobrava. Os atletas sempre se doavam ao máximo.


A Irlanda jogava no 4-4-2 clássico, com dois atacantes leves.


O técnico alemão Winfried Schäfer formava sua equipe no sistema 3-5-2, com destaques individuais em todos os setores.

● A primeira partida do Grupo E foi na cidade japonesa de Niigata. Mais de 33 mil pessoas foram ver um duelo escolas de futebol bastante diferentes. E foram mesmo dois tempos muito desiguais, quase que dois jogos distintos. Cada seleção dominou uma etapa.

Considerado favorito, Camarões levou a melhor nos primeiros 45 minutos. Com um futebol mais habilidoso e rápido, conseguiu vencer a sempre bem postada defesa irlandesa.

Aos 39, Geremi abriu na ponta direita para Eto’o, que invadiu a área e passou a bola entre as pernas de Ian Harte. O goleiro irlandês Given se precipitou e saiu mal, deixando o gol livre. E Eto’o deixou a bola para Mboma, mesmo caído, chutar no canto e inaugurar o marcador.

Na etapa final, a Irlanda conseguiu equilibrar o jogo e se impor. O futebol simples e objetivo funcionou e o gol de empate veio aos sete minutos. Given cobrou o tiro de meta. Kevin Kilbane, o melhor em campo, dominou, avançou pela esquerda e cruzou para a área. A defesa africana escorou para o meio e, de fora da área, Matt Holland emendou um balaço de primeira, no cantinho direito do goleiro Alioum Boukar.

E pouco houve nos minutos seguintes. Nada digno de nota.

Por ser o jogo de estreia, o empate acabou sendo um bom resultado para os dois.


Salomon Olembé e Matt Holland disputam bola (Imagem: Masahide Tomikoshi)

Na segunda rodada, a Irlanda surpreendeu e conseguiu um bravo empate com a Alemanha por 1 x 1, no último minuto. Na terceira partida, não teve dificuldades para bater a fraca Arábia Saudita por 3 x 0, se classificando como segundo lugar no Grupo E. Mas oitavas de final, empatou com a Espanha em 1 x 1, mas perdeu nos pênaltis por 3 x 2. Juntamente com o campeão Brasil e com a Espanha (que foi eliminada também nos pênaltis nas quartas de final para a Coreia do Sul), a Irlanda terminou a Copa de 2002 invicta.

No extremo oriente, os “Leões” não foram tão “Indomáveis” assim. Os camaroneses não cumpriram as expectativas exageradamente criadas e ficaram ainda na primeira fase. Após o empate com a Irlanda por 1 x 1, ganhou da Arábia Saudita apenas por 1 x 0. Na rodada final, perdeu por 2 a 0 para a Alemanha em um jogo bastante truculento, chegando a ser violento em alguns momentos.

O principal destaque na quinta participação camaronesa seria fora de campo. Na Copa Africana de Nações de 2002, os atletas usaram uma camisa sem mangas. O modelo recebeu o nome em inglês de sleeveless (literalmente “sem mangas”, em português). O estilo foi utilizado tanto para o uniforme principal, camisa verde, quanto para o reserva, camisa branca. A justificativa da fabricante Puma para a criação do modelo foi a inspiração no basquete, como uma forma para tentar refrescar os atletas. A ideia revolucionária deu “pano pra manga” e não agradou à Fifa, que reprovou o uniforme e proibiu o uso da camisa em março de 2002, três meses antes do início do Mundial. A entidade máxima do futebol alegou que o uniforme fugia das regras de jogo e impossibilitava a colocação de um brasão de uso obrigatório nos jogos da Copa. E para não perder o trabalho de marketing, a Puma contornou a situação desenvolvendo uma camisa com mangas pretas, dando a impressão de que os jogadores estavam mesmo sem mangas.

Curiosamente, o ex-goleiro Thomas N’Kono (titular em 1982 e 1990) era o treinador de goleiros da seleção. Na semifinal da CAN, no começo de 2002, foi preso após praticar magia negra durante a semifinal, quando Camarões venceu Mali por 3 x 0.


Uniforme sem mangas utilizado por Camarões na CAN 2002 (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

IRLANDA 1 x 1 CAMARÕES

 

Data: 01/06/2002

Horário: 15h30 locais

Estádio: Big Swan

Público: 33.679

Cidade: Niigata (Japão)

Árbitro: Ubaldo Aquino (Paraguai)

 

IRLANDA (4-4-2):

CAMARÕES (3-5-2):

1  Shay Given (G)

1  Alioum Boukar (G)

18 Gary Kelly

4  Rigobert Song (C)

14 Gary Breen

5  Raymond Kalla

5  Steve Staunton (C)

2  Bill Tchato

3  Ian Harte

8  Geremi Njitap

7  Jason McAteer

12 Lauren Etame

12 Mark Kinsella

17 Marc-Vivien Foé

8  Matt Holland

20 Salomon Olembé

11 Kevin Kilbane

3  Pierre Womé

9  Damien Duff

10 Patrick Mboma

10 Robbie Keane

9  Samuel Eto’o

 

Técnico: Mick McCarthy

Técnico: Winfried Schäfer

 

SUPLENTES:

 

 

16 Dean Kiely (G)

22 Idriss Carlos Kameni (G)

23 Alan Kelly (G)

16 Jacques Songo’o (G)

2  Steve Finnan

13 Lucien Mettomo

15 Richard Dunne

6  Pierre Njanka

4  Kenny Cunningham

14 Joël Epalle

20 Andy O’Brien

15 Nicolas Alnoudji

21 Steven Reid

19 Eric Djemba-Djemba

22 Lee Carsley

23 Daniel Ngom Kome

6  Roy Keane (cortado da delegação)

7  Joseph Ndo

19 Clinton Morrison

21 Joseph-Désiré Job

13 David Connolly

11 Pius N’Diefi

17 Niall Quinn

18 Patrick Suffo

 

GOLS:

39′ Patrick Mboma (IRL)

52′ Matt Holland (IRL)

 

CARTÕES AMARELOS:

30′ Jason McAteer (IRL)

51′ Steve Finnan (IRL)

82′ Steven Reid (IRL)

89′ Raymond Kalla (CAM)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Jason McAteer (IRL) ↓

Steve Finnan (IRL) ↑

 

69′ Patrick Mboma (CAM) ↓

Patrick Suffo (CAM) ↑

 

77′ Ian Harte (IRL) ↓

Steven Reid (IRL) ↑

Melhor momentos da partida:

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