… 20/07/1966 – Inglaterra 2 x 0 França

Três pontos sobre…
… 20/07/1966 – Inglaterra 2 x 0 França


(Imagem: Getty Images)

● A Inglaterra estreou com um horrível empate sem gols com o Uruguai. Depois, bateu o México por 2 a 0 em uma partida fraca, com um futebol previsível e pouca inspiração ofensiva. Um empate contra os franceses garantiria o primeiro lugar do Grupo A.

Por sua vez, a França estreou empatando com o México por 1 a 1, na primeira vez que os mexicanos não estrearam perdendo em uma Copa do Mundo. Na sequência, os franceses perderam para o Uruguai por 2 a 1, de virada. Agora, precisariam vencer os donos da casa para ter chances de avançar.

Para os ingleses, não bastava organizar a Copa do Mundo. Era preciso conquistá-la para reafirmar sua “supremacia”. Os “inventores do futebol” ainda procuravam a melhor formação de seu ataque. Martin Peters já havia conquistado sua vaga na ponta esquerda, no lugar de John Connelly. Mas na ponta direita, o técnico Alf Ramsey estava na terceira tentativa, dessa vez sacando Terry Paine e colocando Ian Callaghan (ainda hoje quem mais vestiu a camisa do Liverpool, com 857 jogos em 18 anos).

Mas aquela linha de frente só duraria essa partida. Mais ofensivo que Paine, Callaghan fez tudo que um ponta deveria fazer à época: avançar, driblar, ir à linha de fundo e cruzar. Mas era pouco para o técnico Alf Ramsey. Ele queria pontas que fizessem a recomposição no meio de campo, quando o time não tivesse a posse de bola. Por mais que a França não ameaçaria em momento algum, a partida foi usada para observações. Quis o destino que esse fosse o jogo certo para o English Team definir de uma vez seus onze titulares.


O técnico Alf Ramsey ainda insistia em utilizar o sistema 4-3-3, em sua terceira tentativa. Dessa vez, Ian Callaghan foi escalado na ponta direita, mas não fez uma boa partida.


Henri Guérin escalou a França no sistema 4-2-4.

● Como diria Mauro Beting no livro “As Melhores seleções estrangeiras de todos os tempos”, assim como o confronto bélico entre ingleses e franceses que ocorreu entre 1337 e 1453, essa partida “lembrou a Guerra dos Cem Anos: muita luta e desinteligência (mas sem deslealdade). E pareceu levar um longo tempo para acabar…”

A seleção francesa era fraca tecnicamente. Talvez uma das piores de sua história. Precisava da vitória para tentar a classificação, mas entrou em campo sem Néstor Combin, ainda machucado. Para piorar, o meia Robert Herbin se lesionou logo nos primeiros minutos e foi fazer número no ataque, já que não eram permitidas substituições à época. Les Bleus teriam que segurar os ingleses em Wembley com um jogador a menos.

A Inglaterra era muito melhor, mas confundia velocidade com afobação.

Aos 28 minutos de jogo, Jimmy Greaves chegou a mandar a bola para as redes, mas o assistente tcheco Karol Galba anulou o gol.

Esse mesmo bandeirinha seria fundamental para que o placar fosse aberto em Wembley. Aos 38 do primeiro tempo, Nobby Stiles disputa a bola na área. A zaga afasta nos pés de Jimmy Greaves, que cruza de primeira. Jack Charlton cabeceia livre no segundo pau, a bola bate na trave e sobra para Roger Hunt mandar para as redes. Os zagueiros Marcel Artelesa e Robert Budzynski reclamam veementemente de impedimento, mas o árbitro peruano confirmou o gol.

Curiosamente, Jack, o irmão mais velho do craque Bobby Charlton só chegou à seleção inglesa aos 30 anos, um ano antes dessa Copa. Jogou por 21 anos no Leeds United. Era veloz, ofensivo e aproveitava muito bem seu 1,91 m de altura. Do irmão mais novo, só tinha a fisionomia e a falta de cabelo. Com a bola nos pés, eram completamente desiguais. Não se combinavam fora de campo. Mas os dois foram fundamentais para a caminhada dos Three Lions no Mundial em casa.

Aos 16′ do segundo tempo, outro gol inglês anulado. Em jogada muito bem treinada, a bola alta na segunda trave encontrou Hunt, que ajeitou de cabeça para Bobby Charlton vir de trás e finalizar. Dessa vez, um impedimento absurdo, anotado pelo assistente búlgaro Dimitar Rumenchev.

Os ingleses ampliaram o marcador naturalmente, aos 30 minutos da etapa final. Bobby Charlton (mais uma vez o melhor em campo), desarmou o lateral rival e cruzou para a área. A defesa francesa bateu cabeça e Callaghan cruzou para Roger Hunt cabecear sozinho na pequena área. A cabeçada foi em cima do goleiro Marcel Aubour, que não conseguiu segurar. Dois gols de Roger Hunt, ainda hoje o segundo maior goleador da história do Liverpool, com 286 gols.

Os franceses contestaram também esse segundo gol, pois pediam que o jogo fosse paralisado para atendimento médico a Jacques Simon, duramente atingido por Nobby Stiles. Foi realmente uma entrada criminosa. Tanto, que a FIFA lhe deu uma advertência e o técnico Ramsey recebeu uma mensagem de sua federação questionando se “era mesmo necessário continar escalando Stiles”. Por uma questão de princípios, evitando interferência externa, e também porque sabia da importância do volante do Manchester United, o treinador ameaçou se demitir no meio do Mundial. Stiles era fundamental e continuaria sendo.

É completamente injusta a história de que a Copa estava “arranjada” para que a Inglaterra a conquistasse. Por diversas vezes naquele Mundial (principalmente na primeira fase), os ingleses foram duramente prejudicados por decisões equivocadas dos árbitros. Assim, chegamos à conclusão de que não era a intenção de beneficiar a seleção local: a arbitragem era realmente péssima, errando para todos os lados. Nessa partida mesmo, foram validados dois gols duvidosos e anulados dois gols legítimos.

Nos 90 minutos, a Inglaterra mandou no jogo. Criou nove chances de gol e a França apenas quatro. O placar só ficou em 2 a 0 porque a Inglaterra era um time que tinha pressa, mas não pensava.


(Imagem: Scoopnest)

● A França terminou em último lugar do grupo, com um empate e duas derrotas.

A vitória classificou o English Team como primeiros colocados do Grupo A. Enfrentariam a boa seleção da Argentina, que também estava invicta e tinha sido segunda colocada no Grupo B, atrás da Alemanha Ocidental apenas nos critérios de desempate.

Mas Alf Ramsey queria que o time rendesse mais. A equipe estava jogando pouco e se achando muito. Para se consolidar como favorita, precisava jogar mais bola.

Com a recuperação do lesionado Alan Ball e a manutenção de Martin Peters como titular, Ramsey teria pontas que fazem a recomposição, como ele tanto queria. Assim, contra a Argentina nas quartas de final, o técnico teria seu “4-4-2 ideal”. Mas, como uma providência divina, o astro Jimmy Greaves se machucou. Ele era o queridinho da imprensa e torcida. Era talentoso, mas não ajudava taticamente a equipe. Seu substituto seria Geoff Hurst, que até então só tinha cinco jogos pelos Three Lions. Era menos espetacular que Greaves, mas era mais forte fisicamente e mais capacitado para ganhar as disputas pelo alto, segurar a bola e fazer o papel de pivô. Como veremos no próximo dia 30/07, essa simples mudança alterou os rumos da história do futebol mundial.


(Imagem: Scoopnest)

FICHA TÉCNICA:

 

INGLATERRA 2 x 0 FRANÇA

 

Data: 20/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Wembley

Público: 98.270

Cidade: Londres (Inglaterra)

Árbitro: Arturo Yamasaki (Peru)

 

INGLATERRA (4-3-3):

FRANÇA (4-2-4):

1  Gordon Banks (G)

1  Marcel Aubour (G)

2  George Cohen

2  Marcel Artelesa (C)

5  Jack Charlton

5  Bernard Bosquier

6  Bobby Moore (C)

6  Robert Budzynski

3  Ray Wilson

12 Jean Djorkaeff

4  Nobby Stiles

16 Robert Herbin

9  Bobby Charlton

4  Joseph Bonnel

20 Ian Callaghan

13 Philippe Gondet

8  Jimmy Greaves

15 Yves Herbet

21 Roger Hunt

20 Jacques Simon

16 Martin Peters

14 Gérard Hausser

 

Técnico: Alf Ramsey

Técnico: Henri Guérin

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ron Springett (G)

21 Georges Carnus (G)

13 Peter Bonetti (G)

22 Johnny Schuth (G)

14 Jimmy Armfield

7  André Chorda

18 Norman Hunter

18 Jean-Claude Piumi

15 Gerry Byrne

11 Gabriel De Michèle

17 Ron Flowers

17 Lucien Muller

7  Alan Ball

10 Héctor De Bourgoing

22 George Eastham

3  Edmond Baraffe

19 Terry Paine

8  Néstor Combin

11 John Connelly

9  Didier Couécou

10 Geoff Hurst

19 Laurent Robuschi

 

GOLS:

38′ Roger Hunt (ING)

75′ Roger Hunt (ING)

 

ADVERTÊNCIA:
Nobby Stiles (ING)


(Imagem: Scoopnest)

Gols e alguns lances da partida:

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