… Josef Bican: o artilheiro inigualável

Três pontos sobre…
… Josef Bican: o artilheiro inigualável


(Imagem: UEFA)

● Há exatos quinze anos Josef Bican deixava a vida e ficava apenas na história. Reza a lenda que ele fez mais de 5.000 gols.

Josef Bican, conhecido também como “Pepi” Bican (se pronuncia “Bítsan”), nasceu em um bairro pobre de Viena, na Áustria, em 25/09/1913. Era o segundo de quatro filhos de František e Ludmila Bican. Sua mãe era vienense, dos austro-checos e seu pai era da cidade de Sedlice, na Boêmia do Sul. František também foi jogador de futebol e atuou no Hertha Viena. Era famoso na cidade e certa vez recusou a se transferir para o gigante Rapid Viena. Ele lutou na 1ª Guerra Mundial e voltou ileso, mas morreu com apenas 30 anos, em 1921, pois não quis fazer uma cirurgia renal, necessária por ter tomado uma violenta pancada em uma partida justamente contra o Rapid. Sua mãe era cozinheira em um restaurante. Sua família era tão pobre, que o menino Josef teve que aprender a jogar futebol descalço, o que acabou o ajudando a melhorar suas habilidades com a bola. Bican frequentou a Jan Amos Komenskýa, uma escola tcheca em Viena. Em 1925, quatro anos após a morte de seu pai, tinha doze anos quando começou a jogar nas divisões inferiores do Hertha Viena, o Hertha Viena II. Certa vez, quando Pepi jogava nas divisões de base, sua mãe Ludmila foi vê-lo jogar. Depois de uma falta sofrida pelo garoto, ela invadiu o campo e bateu no marcador de seu filho com um guarda-chuva.

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Ainda jovem, atuou pelo Schustek (1927-1930) e Farbenlutz (1930-1931). Aos 18 anos, foi descoberto pelo Rapid Viena, grande clube do país na época. Sua transferência custou ao Rapid 150 schillings (valor alto pago em um garoto), mas dois anos depois 600 schillings era seu salário mensal, aos 20 anos (enquanto um bom jogador recebia cerca de 100 schillings). Estreou pelo clube em 1931, marcando um hat-trick no grande rival, o Austria Viena. Passou quatro anos liderando o clube, com 68 gols marcados em 61 jogos oficiais. Depois, passou pelo Admira Viena, com 21 tentos anotados em 31 partidas.


(Imagem: Futebol de Todos os Tempos)

● Desde 1937, Bican já atuava no Slavia Praga, na terra de seus ancestrais. Ficaria na Tchecoslováquia até o fim de sua carreira e seu melhor momento foram os onze anos passados no Slavia, onde marcou absurdos 537 gols em 274 partidas, sendo 328 gols na liga nacional, incluindo 57 gols em 24 partidas no ano de 1939/40. Por três vezes em sua carreira, marcou sete gols em um jogo. Em uma partida da liga de 1939/40, Bican fez sete gols e o Slavia goleou o Zlín por 10 a 1. Na temporada seguinte (1940/41), novamente marcou 7 vezes contra o Zlín e seu time venceu por inacreditáveis 12 a 10. Já em 1947/48, marcou sete vezes na goleada do Slavia em cima do České Budějovice por 15 x 1. Nas duas ligas nacionais que disputou, Pepi Bican foi artilheiro por 12 vezes, em uma carreira de 27 anos. Foi o maior artilheiro da Europa por cinco temporadas consecutivas, de 1939/40 a 1943/44, situação um pouco facilidada porque a maioria dos jogadores mais jovens e de bom físico foram convocados para a Guerra.

Na Europa devastada após a Guerra, vários dos grandes times desejaram ter Bican. A Juventus lhe ofereceu uma fortuna para ir jogar em Turim, mas ele se recusou por medo, devido a boato de que os comunistas iriam controlar a Itália. Ele resolveu ficar em Praga e, ironicamente, os comunistas chegaram ao poder por lá em 1948. Ele se recusou a se filiar ao Partido Comunista, da mesma forma que se recusou anteriormente a se juntar ao Partido Nazista na Áustria. Ele tentou melhorar sua relação com os “comunas” ao jogar no Železárny Vítkovice na temporada 1950/51. Na temporada seguinte, jogou no FC Hradec Králové, mas a perseguição do governo o forçou a deixar a cidade em 01/05/1953 e, consequentemente, o clube. O regime comunistra classificou o craque como “ídolo burguês” e tentou dimunuir sua popularidade em vão, pois os fãs continuaram fiéis a ele. Assim, voltou para a capital para jogar pelo seu antigo clube, o Slavia, que tinha sido renomeado para Dinamo Praga. Jogou mais dois anos e se aposentou em 1955, aos 42 anos de idade. Era o jogador mais velho do país na época e já era jogador e treinador ao mesmo tempo desde 1954.

● Depois de se retirar dos gramados, continuou sendo técnico do Dinamo até 1956. Treinou também: Slovan Liberec (1956-1959), Spartak ZJS Brno (1959-1960), Baník Příbram (1963-1964), Hradec Králové (1964), SONP Kladno (1967-1969). Em 1969, ele foi autorizado pelo governo a trabalhar como técnico de uma equipe estrangeira, o KSK Tongeren, da Bélgica, onde teve muito sucesso, levando a equipe da 4ª para 2ª divisão nacional, de 1969 a 1972. Encerrou a carreira de técnico em 1977, de volta a seu país, no SK Benešov. Depois, trabalhou como operário, motorista de ônibus e até alimentando animais ferozes no zoológico de Praga. Nos seus últimos meses de vida, Bican passou a sofrer problemas cardíacos e faleceu duas semanas antes do natal de 2001, que planejava passar com sua família. Faleceu em Praga, na República Tcheca, em 12/12/2001.

Durante o período de domínio comunista, que foi até 1989, Josef Bican teve seu legado esportivo praticamente apagado e somente agora, aos poucos, Pepi volta a surgir como um grande atleta, um dos maiores da história da Áustria e, principalmente, da Tchecoslováquia. Chegamos à conclusão que Bican não é mais conhecido porque a explosão midiática do futebol internacional ocorreu apenas no fim da década de 1950, principalmente com a concepção da Copa dos Campeões Europeus, enquanto Josef Bican é da geração anterior.

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