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… 06/07/1974 – Polônia 1 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 06/07/1974 – Polônia 1 x 0 Brasil


(Imagem: Game of the People)

● A Polônia não disputava uma Copa do Mundo desde 1938, quando perdeu para o Brasil por 6 x 5 logo na partida de estreia. Mas, o país fez uma preparação de sete anos, revelou talentos, soube potencializar suas qualidades e colheu os frutos: a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, e chegava para decidir o 3º lugar da Copa do Mundo de 1974.

O time polonês tinha como maiores qualidades o entrosamento e a disciplina tática, que permitia uma certa liberdade aos jogadores mais talentosos.

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… 03/07/1974 – Polônia 0 x 1 Alemanha Ocidental

Vários jogadores se destacavam, como o goleiro Jan Tomaszewski, o zagueiro Władysław Żmuda, o meia Kazimierz Deyna e o atacante Andrzej Szarmach. Mas o maior destaque era o ponta direita Grzegorz Lato.

O carequinha, que envergava a camisa de nº 16, não era conhecido pelas suas qualidades técnicas ou pelo oportunismo, mas por ser um jogador extremamente veloz para os padrões da época. Ele conseguia correr os 100 metros em 10s8, tempo que poderia habilitá-lo para disputar a prova dos 100 metros rasos nos Jogos Olímpicos de 1972.

A maior ausência nas “Białe Orły” (“As Águias Brancas”, em polonês) foi o atacante Włodzimierz Lubański, que ficou fora do Mundial por causa de uma fratura no pé.

Com uma campanha praticamente irrepreensível, a Polônia só perdeu uma partida no Mundial de 1974. Na primeira fase, 100% de aproveitamento, ao vencer a Argentina (3 x 2), Haiti (7 x 0) e Itália (2 x 1). Na segunda fase, bateu Suécia (1 x 0) e Iugoslávia (2 x 1). Na última rodada, na partida que valia vaga na final, perdeu para a Alemanha, a dona da casa, por 1 x 0.


(Imagem: Twitter @tphoto2005)

● Depois da derrota diante da Holanda, alguns jogadores brasileiros simularam contusões para não jogar a decisão do 3º lugar. Outros declararam que não entrariam em campo em nome de uma certa dignidade pessoal ou profissional.

O time que entrou em campo finalmente tinha Ademir da Guia como titular. Já veterano, o meia, considerado um dos maiores jogadores da história do Palmeiras, vinha sendo sistematicamente ignorado pelo treinador, não ficando nem no banco de reservas.

Sem poder contar com Luís Pereira, expulso contra a Holanda, Zagallo escalou Alfredo Mostarda na zaga.


As duas seleções jogavam no sistema 4-3-3. Mas enquanto os brasileiros eram estáticos, os poloneses jogavam com muita movimentação.

● A decisão do terceiro lugar, no estádio Olímpico de Munique. Aparentemente, nem Brasil, nem Polônia pareciam muito interessados.

Os poloneses sentiram muito o cansaço e diminuíram o ritmo de seu jogo, mas nem assim o Brasil conseguiu impor o seu estilo.

Como nas outras partidas, Jairzinho passou a maior parte do tempo tentando jogadas individuais e perdendo. Rivellino foi discreto e Dirceu recuava demais.

Na melhor jogada do Brasil, Valdomiro recebeu lançamento longo na ponta direita, ganhou da marcação e chutou cruzado. Tomaszewski espalmou para escanteio.

Desinteressada, a Polônia fazia sua pior partida na Copa. Mas, depois da saída de Ademir, os poloneses passaram a ter mais controle no meio de campo. O “Divino” era um dos melhores em campo, quando foi substituído por Mirandinha aos 21 minutos do segundo tempo. Em pouco mais de uma hora, Ademir mostrou que poderia ter sido titular durante o torneio.


(Imagem: Twitter @tphoto2005)

Em um lance, Mirandinha saiu em disparada com a bola quando foi agarrado por Henryk Kasperczak. Mesmo sendo fortemente seguro, Mirandinha ainda percorreu vinte metros até finalmente cair. O jornal alemão Bild definiu o lance como “a falta mais comprida da história das Copas”.

A 15 minutos do fim, Marinho Chagas prendeu demais a bola pelo lado esquerdo e deu um passe errado. Zygmunt Maszczyk acionou Lato na ponta direita, nas costas de Marinho. O carequinha arrancou sozinho com extrema velocidade, passou por Alfredo, invadiu a área e tocou cruzado na saída de Leão, mandando a bola no canto direito. Um contra-ataque letal.

Lato acabaria como artilheiro da Copa de 1974 com sete gols em sete partidas, média de um gol por jogo.

Ele ainda teve a chance de marcar mais um. Após uma dividida, a bola sobrou novamente para Lato arrancar em velocidade, ganhar na corrida de Marinho Chagas e finalizar. Mas Leão defendeu com o pé e impediu o gol.

Parabéns para a Polônia, que chegou brilhantemente ao terceiro lugar, com seis vitórias e apenas uma derrota, marcando 16 gols e sofrendo só cinco.


(Imagem: Pinterest)

● O Brasil de Zagallo foi castigado pelo excesso de cautela, apesar do talento disponível no elenco. Na prática, esse foi um dos piores desempenhos da Seleção em Copas do Mundo. Merecidamente, a Seleção Brasileira foi a pior entre as quatro finalistas.

Depois do jogo, nos vestiários, Leão teria dado um tapa em Marinho Chagas, o culpando pelo gol. Era o retrato do péssimo ambiente da Seleção Brasileira na Copa da Alemanha.

“Tiramos o quarto lugar? Ótimo. Está compatível com o futebol brasileiro do momento.” ― Rivellino, realista

“Pelo que o Brasil apresentou, o quarto lugar foi fenomenal. Eu sou um cara muito consciente. Isso pode até magoar alguns jogadores, mas é isso mesmo: só merecíamos um terceiro ou um quarto lugar.” ― Luís Pereira

“Para quem se preparou para o título, disputar o terceiro lugar não motiva”, disse Zagallo em forma de deboche. Por mais que isso seja verdade, quem pode ser terceiro e não faz nada para isso, não mereceria nunca nem sonhar em ser o primeiro.

Uma das desculpas pelo mau resultado foi a ação de empresários, que negociavam transferências de jogadores durante a Copa. Paulo Cézar foi acusado de “tirar o pé” nas divididas para não se machucar e atrapalhar sua transferência para o Olympique de Marselha.

O 3º lugar na Alemanha Ocidental em 1974 foi a melhor classificação geral da seleção da Polônia na história das Copas – que só foi igualada em 1982, na Espanha.

Ao marcar o gol de honra na derrota da Polônia por 3 x 1 contra o Brasil em 1978, Grzegorz Lato se tornou o único jogador que marcou gols no Brasil em Copas do Mundo diferentes.

A partir de 1974 a FIFA teve um presidente brasileiro. João Havelange derrotou o então mandatário Stanley Rous e se perpetuou no poder até 1998.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

POLÔNIA 1 x 0 BRASIL

 

Data: 06/07/1974

Horário: 16h00 locais

Estádio: Olympiastadion

Público: 77.100

Cidade: Munique (Alemanha Ocidental)

Árbitro: Aurelio Angonese (Itália)

 

POLÔNIA (4-3-3):

BRASIL (4-3-3):

2  Jan Tomaszewski (G)

1  Leão (G)

4  Antoni Szymanowski

4  Maria

9  Władysław Żmuda

15 Alfredo Mostarda

6  Jerzy Gorgoń

3  Marinho Peres (C)

10 Adam Musiał

6  Marinho Chagas

12 Kazimierz Deyna (C)

17 Paulo César Carpegiani

14 Zygmunt Maszczyk

10 Rivellino

13 Henryk Kasperczak

18 Ademir da Guia

16 Grzegorz Lato

13 Valdomiro

17 Andrzej Szarmach

7  Jairzinho

18 Robert Gadocha

21 Dirceu

 

Técnico: Kazimierz Górski

Técnico: Zagallo

 

SUPLENTES:

 

 

1  Andrzej Fischer (G)

12 Renato (G)

3  Zygmunt Kalinowski (G)

22 Waldir Peres (G)

5  Zbigniew Gut

14 Nelinho

8  Mirosław Bulzacki

2  Luís Pereira

7  Henryk Wieczorek

16 Marco Antônio

11 Lesław Ćmikiewicz

5  Wilson Piazza

15 Roman Jakóbczak

11 Paulo Cézar Caju

20 Zdzisław Kapka

8  Leivinha

22 Marek Kusto

20 Edu

21 Kazimierz Kmiecik

19 Mirandinha

19 Jan Domarski

9  César Maluco

 

GOL: 76′ Grzegorz Lato (POL)

 

CARTÕES AMARELOS:

71′ Henryk Kasperczak (POL)

76′ Jairzinho (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

66′ Ademir da Guia (BRA) ↓

Mirandinha (BRA) ↑

 

73′ Henryk Kasperczak (POL) ↓

Lesław Ćmikiewicz (POL) ↑

 

75′ Andrzej Szarmach (POL) ↓

Zdzisław Kapka (POL) ↑

Melhores momentos da partida:

… 03/07/1974 – Holanda 2 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 03/07/1974 – Holanda 2 x 0 Brasil


(Imagem: World Football Index)

● Depois de 36 anos ausentes dos grandes palcos, a Holanda voltou como protagonista. Com a melhor geração de sua história, os times do país conquistaram a Copa dos Campeões da Europa por quatro anos consecutivos – o Feyenoord em 1970 e o Ajax tricampeão entre 1971 e 1973.

Com uma equipe de grande qualidade técnica e uma revolução tática, o “Carrossel Holandês” massacrou o Uruguai na estreia. O placar baixo (2 x 0) não representou em nada o que foi a partida. No segundo jogo veio o empate sem gols diante da Suécia, em uma tarde sem inspiração. No jogo seguinte, goleada sobre a Bulgária por 4 x 1.

A segunda fase da Copa de 1974 não era composta por oitavas ou quartas de final em partidas eliminatórias (o famoso mata-mata), mas sim uma nova fase de grupos, que classificaria o vencedor para a final. Nessa fase, pelo Grupo A, a Holanda estraçalhou a Argentina em uma goleada por 4 x 0 (que ficou até barata). Depois, venceu a Alemanha Oriental por 2 x 0.

Na última rodada, os holandeses jogavam por um empate contra o Brasil para chegar à sua primeira final de Copa.


(Imagem: Pinterest)

● O Brasil era o atual campeão e queria manter o título. Na caminhada rumo à Copa de 1974, a Seleção Brasileira foi perdendo boa parte dos craques do tricampeonato, como Pelé, Tostão, Gérson, Carlos Alberto e Clodoaldo.

O Brasil começou mal na Copa, com dois empates sem gols, com Iugoslávia e Escócia, respectivamente. A vitória por 3 x 0 sobre o Zaire foi minimamente suficiente para que a Seleção superasse a fraca Escócia apenas no saldo de gols. Na segunda fase, venceu a Alemanha Oriental por 1 x 0 e a Argentina por 2 x 1, na primeira vez que os dois rivais se enfrentaram em Copas do Mundo.

Brasil e Holanda chegaram à última rodada do grupo com duas vitórias, mas de forma bem diferente. Enquanto o escrete canarinho vencia jogando aquém de suas possibilidades, a “Laranja Mecânica” brilhava e encantava o mundo.

Os jogadores brasileiros não tinham nenhum conhecimento sobre a seleção holandesa. Não sabiam que o revolucionário time de Rinus Michels atacava e marcava em bloco. “Nós fomos jogar contra a Holanda sem ter visto nenhum jogo”, disse Marinho Peres em 2011, em entrevista ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas. “Não é como hoje, que você fala: ‘Olha, eles apoiam mais pela direita, pela esquerda, fazem linha de impedimento’. Quer dizer, não se sabia nada.”

O preparador físico Paulo Amaral foi olheiro de Zagallo em 1974 e tinha como missão identificar como jogavam os adversários brasileiros. Ao assistir o jogo entre holandeses e argentinos, ele identificou dois fatores preponderantes: 1. a marcação argentina foi feita de forma individual e a movimentação dos holandeses deixou a defesa albiceleste desguarnecida; 2. os deslocamentos do holandeses foram tantos que era impossível identificar as variações.

Zagallo optou por manter Paulo Cézar Caju como titular, mesmo escalando Dirceu. Ambos jogavam na mesma posição – um ponta esquerda que recua ou um meia esquerda que avança. O treinador brasileiro descartou Edu, ponta veloz e bastante agudo que poderia aproveitar os espaços deixados pelo lateral direito holandês Wim Suurbier.


Devido à alta rotação de posições, é quase impossível definir o “Futebol Total” do “Carrossel Holandês”, mas teoricamente era um 4-3-3.


O Brasil de Zagallo jogou no 4-3-3.

● O Brasil sempre se destacou pelo futebol técnico, habilidoso e leal. A Holanda de 1974 brilhava pelo futebol ofensivo, com muita movimentação. Assim, o encontro entre essas duas equipes tinha tudo para ser um espetáculo dos dois times. Mas aconteceu justamente o contrário.

Aos 4′, Zé Maria deu uma solada violenta em Cruijff. A Holanda respondeu com Johnny Rep revidando no mesmo Zé Maria.

No minuto seguinte, em menos de 20 segundos, três entradas horríveis: uma sola com os dois pés de Zé Maria, uma pegada e Carpegiani no tornozelo de Johnny Rep e duas entradas feias por trás de Luís Pereira em Willem van Hanegem.

Johnny Rep cruzou da ponta direita. Luís Pereira subiu, mas não afastou. A bola bateu em Zé Maria e sobrou para Johan Cruijff. Ele emendou de esquerda e Leão defendeu à queima roupa. Segundo Cruijff, essa foi a maior defesa que ele já viu. Uma das maiores defesas de todas as Copas.

Valdomiro deu um chapéu longo em Arie Haan e se desequilibrou ao entrar na área. O goleiro Jan Jongbloed já saía para abafar o lance. Na sobra, Ruud Krol dominou a bola e saiu com tranquilidade.

Aos 16′, Marinho Peres salvou o Brasil de sofrer o primeiro gol, quando sete holandeses estavam dentro da área brasileira.

O Brasil equilibrou um pouco as ações a partir dos 20 minutos. Rivellino recuou para armar e lançar. Paulo Cézar se mexeu mais, buscando o lado esquerdo – sempre com Van Hanegem na cola dele.

Foi Caju quem perdeu a melhor oportunidade do escrete canarinho, ao chutar em cima de Jongbloed quando estava cara a cara com o goleiro.

Aos 28′, Jairzinho prendeu demais a bola e perdeu. Wim Jansen tocou na esquerda para Rob Rensenbrink. Ele deixou mais atrás novamente para Jansen, que viu a infiltração de Wim Suurbier na ponta esquerda, nas costas da zaga. Ele chegou chutando, mas Leão espalmou. Luís Pereira dominou o rebote, mas Suurbier chegou de carrinho e o atingiu no tornozelo. Luís Pereira, Rivelino, Marinho Peres e Valdomiro foram para cima do holandês.

Wim Jansen avançou em velocidade e o capitão Marinho Peres colocou o corpo na frente para impedir a progressão do holandês.

O jogo estava pegado. Os brasileiros pareciam nervosos e os holandeses respondiam na mesma moeda.

O primeiro tempo terminou sem gols. O jogo estava igual, tanto na bola quanto na pancadaria.

Mas a Holanda tratou de mudar isso logo aos cinco minutos do segundo tempo.


(Imagem: Jornalheiros)

Próximo ao círculo central, Willem van Hanegem bateu falta rápida para Johan Neeskens já na intermediária ofensiva e ele abriu para Johan Cruijff na direita. O camisa 14 apareceu nas costas de Marinho Chagas (a “Avenida Marinho Chagas”), dominou e cruzou rasteiro na marca do pênalti, onde o camisa 13 se infiltrava. Neeskens se antecipou à zaga brasileira e acertou um voleio que encobriu Leão.

O empate classificava a Holanda para a decisão. O Brasil precisava atacar em busca da virada.

Claramente, a Holanda tinha o ataque como seu ponto mais forte. Mas, defensivamente, o time também era muito seguro. Havia sofrido apenas um gol em toda a Copa até então.

Dirceu recuava demais. Rivellino estava muito atrás, sem poder explorar seus chutes de longe.

Aos 14′, Zagallo tirou Paulo Cézar e escalou Mirandinha no comando de ataque, com Jairzinho jogando mais recuado.

Aos 17′, Luís Pereira teve sua segunda investida no ataque e tinha chance de fazer o gol, mas o árbitro se antecipou e marcou impedimento inexistente, em lance que seria do bandeirinha.

Aos 20′, Wim Jansen abriu para Ruud Krol na esquerda. Ele tabelou com Rob Rensenbrink, recebeu na frente e cruzou para o centro da área. Johan Cruijff apareceu na primeira trave e desviou a bola para o canto direito de Emerson Leão. Foi o terceiro gol de Cruijff na Copa. De forma desplicente, os brasileiros pararam no início da jogada pedindo impedimento de Rensenbrink.

A Holanda estava muito perto de quebrar uma invencibilidade de 19 jogos da Seleção Brasileira.

A partir daí o Brasil virou uma bagunça. Luís Pereira se mandou de vez, Marinho Chagas nem voltava mais, Carpegiani estava sobrecarregado pela marcação no meio…

Aos 22′, Michels teve que tirar Rob Rensenbrink, que sentiu a coxa direita.

Marinho Chagas avançou pela esquerda e foi derrubado por Wim Suurbier. Ao cair, o brasileiro deixou a sola da chuteira no rosto do holandês. A sorte foi que o árbitro alemão Kurt Tschenscher não viu o lance. E enquanto o juiz falava com Marinho Chagas, Valdomiro deu um chute por trás em Ruud Krol. O escrete canarinho estava tenso e começava a perder a mão.


(Imagem: Twitter @OldFootball11)

Jairzinho deu um “chega pra lá” sem bola em Wim Jansen. Na sequência do lance, Johan Neeskens devolveu na mesma moeda em Rivellino. O camisa 10 do Brasil seguiu com a bola, mas foi derrubado por Arie Haan. Uma sequência de lances muito violentos. Se tirassem a bola, os jogadores nem perceberiam. Só estavam preocupados em se atacarem mutuamente.

Sem bola, Johnny Rep deu uma cotovelada feia em Rivellino, que estava na marcação do holandês.

Rep cruzou da esquerda. Luís Pereira se antecipou a Cruijff e tentou fazer o que fazia bem com a camisa do Palmeiras. O Luís Chevrolet arrancou, deixou Neeskens no chão depois de um carrinho malsucedido, passou pela linha do meio de campo, deixou com Rivellino e se mandou para a área. Riva abriu com Valdomiro na direita, que cruzou. A bola passou por Jairzinho, bateu em Haan e sobrou na entrada da área. Marinho Chagas dominou de chaleira já tocando para a frente, mas adiantou demais. Jongbloed saiu e se atrapalhou, quase perdendo a bola, mas caiu no chão e ficou com ela.

Lamentavelmente, os brasileiros perderam a cabeça. A seis minutos do apito final, Neeskens carregou a bola pelo lado esquerdo e Luís Pereira deu uma voadora no holandês. Foi expulso diretamente.

Se o árbitro não fosse um “bananão” e fosse mais rigoroso, o cartão vermelho teria sido mostrado mais vezes. Muita gente fez por merecê-lo: Willem van Hanegem, Rivellino, Suurbier, Cruijff, Rep, Valdomiro, Zé Maria e Marinho Chagas.

Luís Pereira saiu de campo apoiado por Jairzinho, Rivellino e Marinho Peres. Vaiado pela torcida alemã, o zagueiro fez o sinal de “3” com os dedos, fazendo todos lembrarem dos três títulos de Copa do Mundo da Seleção Brasileira. Uma cena melancólica que marcou a eliminação brasileira.

Com a vitória, a Holanda se classificou pela primeira vez para uma final de Copa do Mundo.


(Imagem: Alamy)

● A Holanda se tornou a única seleção a vencer os três gigantes sul-americanos em uma mesma edição de Copa: Uruguai, Argentina e Brasil.

“Foi nosso jogo mais difícil. Estávamos com medo dos brasileiros nos primeiros 15 minutos. Depois fizemos nossa partida.” ― Johan Cruijff

“Eles aqueceram do nosso lado. Víamos a preocupação com nosso time antes do jogo. Estavam com medo e demoraram quase um tempo para se assentar no jogo.” ― Émerson Leão

“Até esta partida, o símbolo do jogo bonito era o Brasil. Tudo mudou depois: os brasileiros bateram mais que os argentinos. Aliás, eles foram piores que os uruguaios.” ― Johan Neeskens

“O Zagallo foi vê-los jogar e voltou preocupado demais. Não deixou transparecer, mas nós ficamos sabendo.” ― Paulo César Carpegiani

“A Holanda era um puta time. Eu não conhecia e ninguém conhecia. Se a gente tivesse enfrentado a Holanda no primeiro jogo, estaríamos ferrados, como aconteceu com o Uruguai. Era um futebol totalmente diferente. Só fomos ver na Copa. Eu não sabia como eles jogavam, não conhecia o Cruyff, fui conhecer na Copa. Eu me perguntava: ‘Quem é esse cara? Como joga!’. O time girava em torno dele. Pegaram o Ajax e adaptaram à seleção. Merecia ser campeã, apesar do grande time da Alemanha. Diziam que a Alemanha perdeu da Alemanha Oriental para não pegar o Brasil. Mesmo assim, fizemos um bom jogo. Colocaram a partida num campo pequeno, apertado, em Hannover [Nota჻ O jogo foi em Dortmund, não em Hannover, como afirmou Rivellino.] Jogamos de igual para igual no primeiro tempo, perdemos duas grandes chances e, depois que a Holanda fez 1 a 0, nosso time se perdeu. Quarto lugar foi bom pra gente. Alemanha, Holanda e Polônia tinham belos times. Não adiantava apenas ter grandes jogadores. Em 1970, treinamos dois meses com o time que jogou a Copa, em Guanajuato. Em 1974, houve uma mudança, uma aposta em jogadores que não estavam bem.”Roberto Rivellino, em sua biografia contada pelo jornalista Maurício Noriega.

Anteriormente, Zagallo já havia qualificado a seleção de Rinus Michels de forma depreciativa, como dona de um “futebol alegrinho”. Antes da partida, Zagalo provocou: “A Holanda é muito tico-tico-no-fubá, que nem o América dos anos 50”. Às vésperas da partida, o técnico brasileiro continuou alfinetando, dizendo que os holandeses não tinham tradição em Copas e isso pesava contra eles. “Nós somos tricampeões, eles é que têm que ter medo da gente. A Holanda não me preocupa. Estou pensando na final com a Alemanha.” Após o jogo, Zagallo reconheceu a força dos holandeses: “Perdemos para uma grande equipe”.

O bandeirinha escocês Bob Davidson viu uma agressão de Marinho Peres em Johan Neeskens e não comunicou ao árbitro alemão Kurt Tschenscher. Alguns dias depois, Marinho foi contratado pelo Barcelona e foi recebido no aeroporto por Neeskens, que já atuava pelo clube catalão. O holandês ainda estava com a marca da agressão sofrida. Jogando juntos, os dois logo se tornariam amigos.

Na decisão do 3º lugar, o Brasil perdeu para a Polônia por 1 x 0, terminando em uma decepcionante 4ª colocação geral.

Na final da Copa, a Holanda começou com tudo e abriu o placar logo no primeiro lance. Mas sucumbiu à força da Alemanha Ocidental e levou a virada, perdendo por 2 x 1. Um vice-campeão do mundo tão lembrado quanto (ou até mais que) o próprio campeão, por ousar criar uma nova e encantadora forma de praticar futebol.


(Imagem: Twitter @OldFootball11)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 2 x 0 BRASIL

 

Data: 03/07/1974

Horário: 19h30 locais

Estádio: Westfalenstadion (atual Signal Iduna Park)

Público: 53.700

Cidade: Dortmund (Alemanha Ocidental)

Árbitro: Kurt Tschenscher (Alemanha Ocidental)

 

HOLANDA (4-3-3?):

BRASIL (4-3-3):

8  Jan Jongbloed (G)

1  Leão (G)

20 Wim Suurbier

4  Maria

17 Wim Rijsbergen

2  Luís Pereira

2  Arie Haan

3  Marinho Peres (C)

12 Ruud Krol

6  Marinho Chagas

6  Wim Jansen

17 Paulo César Carpegiani

13 Johan Neeskens

10 Rivellino

3  Willem van Hanegem

11 Paulo Cézar Caju

16 Johnny Rep

13 Valdomiro

14 Johan Cruijff (C)

7  Jairzinho

15 Rob Rensenbrink

21 Dirceu

 

Técnico: Rinus Michels

Técnico: Zagallo

 

SUPLENTES:

 

 

18 Piet Schrijvers (G)

12 Renato (G)

21 Eddy Treijtel (G)

22 Waldir Peres (G)

4  Kees van Ierssel

14 Nelinho

5  Rinus Israël

15 Alfredo Mostarda

19 Pleun Strik

16 Marco Antônio

22 Harry Vos

5  Wilson Piazza

7  Theo de Jong

18 Ademir da Guia

1  Ruud Geels

8  Leivinha

11 Willy van de Kerkhof

20 Edu

10 René van de Kerkhof

19 Mirandinha

9  Piet Keizer

9  César Maluco

 

GOLS:

50′ Johan Neeskens (HOL)

65′ Johan Cruijff (HOL)

 

CARTÕES AMARELOS:

29′ Wim Suurbier (HOL)

29′ Luís Pereira (BRA)

37′ Maria (BRA)

44′ Marinho Peres (BRA)

69′ Johnny Rep (HOL)

 

CARTÃO VERMELHO: 84′ Luís Pereira (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

61′ Paulo Cézar Caju (BRA) ↓

Mirandinha (BRA) ↑

 

67′ Rob Rensenbrink (HOL) ↓

Theo de Jong (HOL) ↑

 

85′ Johan Neeskens (HOL) ↓

Rinus Israël (HOL) ↑

Melhores momentos da partida (Canal 100):

Jogo completo:

… 02/07/2010 – Holanda 2 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
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Felipe Melo tirou a bola das mãos de Júlio César no primeiro gol holandês (Imagem: abc.net.au)

● Em campo, eram dois dos favoritos ao título, que chegaram invictas às quartas de final.

Até então, o retrospecto entre Brasil e Holanda era de igualdade. A Holanda venceu em 1974 (2 x 0), o Brasil venceu em 1994 (3 x 2) e houve um empate em 1998 (1 x 1, com vitória brasileira nos pênaltis).

Eram duas das mais tradicionais escolas de futebol, com um estilo historicamente vistoso efetivo. Mas não foi bem isso que elas mostraram na África do Sul.

Treinada pelo ex-capitão Dunga, a Seleção Brasileira jogava à sua imagem e semelhança. Embora tivesse jogadores tecnicamente acima da média, como Kaká e Robinho, a Seleção de 2010 estava mais para uma equipe de operários do que de artistas. Mas inegavelmente era um bom conjunto. O principal mérito do treinador foi dar um padrão tático à equipe, potencializando suas duas armas letais: o contra-ataque e as bolas paradas. Mas o time sofria sofria quando enfrentava retrancas bem montadas.

Júlio César era considerado o melhor goleiro do mundo na época, campeão da UEFA Champions League com a Internazionale na temporada 2009/10. Assim como o lateral Maicon, de muita força física e bom no apoio. O experiente capitão Lúcio também era outro destaque da Inter de Milão e continuava em ótima fase – como nos últimos oito anos. Juan complementava a zaga com muita classe, elegância e eficiência. Uma das surpresas foi Michel Bastos, que era meia no Lyon e jogava na Seleção como lateral esquerdo (sua posição de origem). No meio, Felipe Melo aliava raça, marcação e ótima transição na saída defensiva. Gilberto Silva era a experiência na meia cancha. Daniel Alves estava improvisado na meia direita, substituindo o lesionado Elano. Kaká, melhor jogador do mundo três anos antes, era o grande craque do time, mas chegou à Copa com problemas físicos. Robinho era a habilidade e eficiência, jogando melhor pela Seleção do que nos clubes. Luís Fabiano era a certeza de gols e explosão – no bom e no mau sentido.

No banco, jogadores como o zagueiro Thiago Silva, o lateral esquerdo Gilberto, os meio-campistas Josué, Ramires (que estava suspenso por ter recebido o segundo cartão amarelo contra o Chile) e Júlio Baptista e os atacantes Grafite e Nilmar. E convocações inexplicáveis, como o goleiro Doni e o meia Kléberson – que claramente não era o mesmo de 2002 e muitas vezes ficava na reserva do Flamengo.

Foi uma convocação contestada, embora coerente do ponto de vista do trabalho realizado. As principais ausências – que fomentam discussões até os dias atuais – foram a do atacante Adriano (que havia levado o Flamengo ao título do Brasileirão de 2009) e os jovens Neymar e Paulo Henrique Ganso (destaques em um Santos que encantou o Brasil e seguiria encantando até o ano seguinte).

Um ano antes, o Brasil havia conquistado a Copa das Confederações no sufoco. Depois de uma primeira fase tranquila, venceu a África do Sul nas semifinais com um gol de falta de Daniel Alves a dois minutos do fim. Na decisão, saiu perdendo por 0 x 2 para os Estados Unidos (que eliminaram a poderosa Espanha nas semi), mas conseguiu reverter o placar no segundo tempo para 3 x 2, com um gol do capitão Lúcio nos minutos finais. Antes, em 2007, havia conquistado o título da Copa América com tranquilidade, vencendo a Argentina na final por 3 x 0.

Mas a Seleção chegou nervosa demais à Copa do Mundo. Na primeira partida, o Brasil sofreu demais para vencer a frágil Coreia do Norte por 2 x 1. Na segunda partida, venceu uma guerra contra a Costa do Marfim por 3 x 1 – com lesão séria de Elano e expulsão de Kaká. Na terceira partida, um insípido empate sem gols com Portugal garantiu o primeiro lugar do Grupo G. Nas oitavas de final, vitória fácil sobre o Chile de Marcelo Bielsa por 3 x 0.

Dunga nunca teve uma relação boa com a imprensa, principalmente depois da Copa de 1990. Mas tudo só piorou em 2010. Em entrevista coletiva após a partida contra a Costa do Marfim, o técnico ofendeu o jornalista da Globo Alex Escobar, o chamando de “cagão” e de “merda”. Escobar ficou sem entender o motivo. De acordo com algumas pessoas presentes, Dunga respondia às perguntas quando olhou na direção do jornalista, que falava ao telefone com o apresentador Tadeu Schmidt e balançava a cabeça, o que irritou o treinador. Segundo o jornalista, ele havia balançado a cabeça discordando dos colegas de profissão que pediam a saída de Luís Fabiano do time titular. Dunga não entendeu assim e partiu para a ofensa gratuita.


Robinho fez um belo gol em excelente passe de Felipe Melo (Imagem: UOL)

● A Holanda estava invicta desde 2008, mas o futebol pragmático era alvo de críticas. O técnico Bert van Marwijk fez tudo totalmente diferente do que prega a escola holandesa, cujos maiores símbolos são Rinus Michels e Johan Cruijff. Historicamente a seleção holandesa tinha o sistema tático “4-3-3 à holandesa” quase como uma regra: com uma linha de quatro na defesa, um volante e dois meias armadores, dois pontas bem abertos e velozes e um centroavante goleador. Mas Van Marwij – sogro do volante Mark van Bommel – preferiu mandar seu time a campo no 4-2-3-1, um esquema mais atual, que permitia um maior número de estrelas em campo e potencializava o talento delas – principalmente pela liberdade dada a Sneijder.

A Oranje já não contava mais com Edwin van der Sar e Clarence Seedorf, que ainda jogavam em alto nível, mas haviam aposentado da seleção.

No gol, o gigante Maarten Stekelenburg estava em seu auge. Nas laterais, Gregory van der Wiel compria bem o seu papel e o capitão Gio van Bronckhorst era a experiência e liderança em campo. No miolo de zaga, a impetuosidade de John Heitinga era compensada pela segurança de Joris Mathijsen. Van Bommel era responsável por dar qualidade na saída de bola e era duro na marcação. Nigel de Jong só batia, mas batia bem. Mas o destaque mesmo era o quarteto de ataque. Pela esquerda, o operário-padrão Dirk Kuyt. Na direita, Arjen Robben, toda sua habilidade e sua jogada “manjada” de cortar da direita para o meio – mas que ninguém conseguia marcar. Como armador, Wesley Sneijder, campeão da Champions pela Inter de Milão e, discutivelmente, o melhor jogador do mundo no ano (embora Lionel Messi tenha sido injustamente eleito pela FIFA). No comando de ataque, o habilidoso goleador Robin van Persie.

No banco de reservas, toda a qualidade do meia Rafael van der Vaart e o faro de gol de Klaas-Jan Huntelaar. Curiosamente, Van der Vaart, Sneijder, Robben e Huntelaar jogaram todos juntos no Real Madrid em 2009.

A Oranje estava com 100% de aproveitamento. Pelo Grupo E da primeira fase, venceu Dinamarca (2 x 0), Japão (1 x 0) e Camarões (2 x 1). Nas oitavas, bateu a surpreendente Eslováquia por 2 x 1.


A Holanda não honrou a tradição do 4-3-3. O pragmático técnico Bert van Marwijk preferia o sistema 4-2-3-1, com muita força física no meio campo e o talento de seus quatro homens mais avançados.


O Brasil também jogou no esquema 4-2-3-1. Pela direita, Daniel Alves era mais um meia de recomposição, enquanto Robinho era mais um atacante pela esquerda.

● Eram duas seleções que chegaram invictas nas quartas de final – a Holanda com 100% de aproveitamento. O mínimo que se poderia esperar era um grande jogo. E essa expectativa foi cumprida.

Já no aquecimento, o zagueiro holandês Mathijsen sentiu uma lesão e não foi para o jogo, sendo substituído pelo experiente André Ooijer.

O jogo começou aberto, com os dois times procurando o gol.

O Brasil começou melhor. Chegou a balançar as redes logo aos sete minutos de jogo, quando Luís Fabiano passou para Daniel Alves, que tocou para Robinho marcar. Mas a arbitragem, liderada pelo japonês Yuichi Nishimura, viu corretamente o impedimento de Daniel.

Mas apenas dois minutos depois, a torcida pôde soltar de verdade o grito de gol. Do círculo central, Felipe Melo mostrou sua melhor versão. Com uma visão de jogo impressionante, ele fez um lançamento perfeito em profundidade para Robinho. O camisa 11 surgiu livre por trás da zaga holandesa, em condição legal e, da meia lua, bateu de primeira na saída do goleiro. Um belo gol, não só pela finalização, mas principalmente pela precisão cirúrgica do lançamento rasteiro de 40 metros de Felipe Melo.

No restante do primeiro tempo, os holandeses não conseguiram passar pela marcação defensiva brasileira, enquanto o goleiro Stekelenburg impediu que o Brasil ampliasse a vantagem no marcador.

Mas os holandeses também levaram perigo. Júlio César espalmou para escanteio uma bola chutada de longe por Kuyt.

Aos 24′, a defesa holandesa afastou mal depois de um escanteio, Daniel Alves cruzou à meia altura e Juan finalizou por cima do gol.

Aos 30′, Kaká bateu colocado da intermediária e obrigou Stekelenburg a fazer uma bela defesa. Seria um golaço.

O Brasil dominava o jogo, mas não conseguia ampliar o placar. Os holandeses estavam irritados, pois não conseguiam criar diante da boa marcação brasileira.


Wesley Sneijder fez o primeiro gol de cabeça de sua carreira (Imagem: Flickr)

Mas no intervalo tudo mudou. A Holanda voltou mais organizada e conseguindo passar mais tempo no campo de ataque.

Aos oito minutos, Michel Bastos deu um carrinho violento em Robben. O árbitro foi conivente e não mostrou o segundo cartão amarelo ao lateral brasileiro. Na cobrança dessa falta, Sneijder recebeu e ergueu a bola para a área. Felipe Melo atrapalhou Júlio César ao tentar cortar pelo alto, a bola tocou na cabeça do volante e entrou no canto direito. Faltou comunicação da defesa brasileira. O gol foi inicialmente registrado como gol contra de Felipe Melo, mas a FIFA logo creditaria o gol a Sneijder.

A partir daí, o Brasil se perdeu de vez. Os europeus continuaram com mais volume de jogo, mas não chegaram a dominar a partida, como os sul-americanos fizeram nos primeiros 45 minutos. Mesmo assim, a Oranje estava mais perto da virada.

E ela veio Aos 23′. Robben bateu escanteio da direita, Kuyt desviou na primeira trave e Sneijder (de 1,70 m) não foi incomodado pela marcação de Felipe Melo (1,83 m) e cabeceou no ângulo direito de Júlio César, marcando seu primeiro gol de cabeça na carreira.

E as coisas se inverteram totalmente. A tensão que antes era dos holandeses, passou a ser dos brasileiros, que perderam o controle emocional.

Com medo de ficar com um homem a menos, Dunga já havia trocado o lateral esquerdo, tirando o perdido Michel Bastos para colocar o experiente Gilberto. Mas quem foi expulso foi Felipe Melo. Ele fez uma falta dura em Robben e ainda deu um pisão na perna do holandês. O árbitro japonês estava de olhos abertos e expulsou corretamente o brasileiro.

Felipe Melo foi o maior protagonista da partida, com uma bela assistência, um gol contra, a falha na marcação do segundo gol e a expulsão.

Sem nenhuma estratégia, a Seleção Brasileira partiu para o desespero. Estranhamente, Dunga tirou Luís Fabiano para a entrada de Nilmar, justamente quando precisava de um homem de área para as jogadas aéreas.

E o técnico “morreu” com uma substituição por fazer. A contestada convocação provou mesmo a sua falta de opções, quando o treinador olhou para o banco e não viu ninguém capaz de mudar a partida. “Morreu” pelas suas convicções e gratidão por jogadores comuns como Kléberson, Ramires, Júlio Baptista, Grafite e companhia muito limitada.

Com a desvantagem no placar e no número de homens em campo, o Brasil não resistiu. No fim, ainda escapou de levar pelo menos dois gols em contra-ataques.

Pela segunda Copa do Mundo consecutiva, o Brasil se despedia da competição nas quartas de final.


Felipe Melo deu um pisão irresponsável em Arjen Robben (Imagem: Twitter @Canelada_FC)

● Essa derrota foi apenas a terceira de vidada da Seleção Brasileira em toda a história das Copas. As duas anteriores foram para o Uruguai em 1950 e para a Noruega em 1998, ambas por 2 x 1.

Duas celebridades ficaram em foco nessa partida. A socialite Paris Hilton foi pega fumando maconha dentro do estádio Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth, mas foi liberada depois de prestar depoimento. Mas quem foi condenado pelas redes sociais foi o Rolling Stone Mick Jagger, que ganhou fama de pé frio durante o Mundial. Nos três jogos que ele esteve presente no estádio, os times para os quais ele torcia foram derrotados. No jogo das oitavas de final entre Estados Unidos e Gana, ele sentou nas arquibancadas ao lado do ex-presidente americano Bill Clinton e viu os EUA perderem por 2 x 1. Depois, viu seu país natal, a Inglaterra, perder na mesma fase para a Alemanha por 2 x 1. Para completar de vez a infame fama, ele estava na torcida para o Brasil diante da Holanda, nas quartas de final.

Após a partida, Dunga assumiu a responsabilidade pela derrota brasileira e confirmou que deixaria a Seleção ao término de seu contrato – que havia se iniciado em 2006 e tinha validade de quatro anos.

Bert van Marwijk atacou a Seleção Brasileira, alegando que o pisão de Felipe Melo em Robben o deixou “envergonhado pelo futebol brasileiro”.

Júlio César deu entrevista chorando e dizendo que se sentia culpado pelo primeiro gol sofrido. Ele e Felipe Melo disseram que a comunicação entre ambos foi dificultada por causa do barulho das vuvuzelas – uma corneta utilizada pelos torcedores sul-africanos, que faz parte da cultura do futebol no país desde os anos 1950.

Ainda fora da realidade, Felipe Melo tentou desmentir a imagem da TV dizendo que a falta com pisão em Robben foi lance normal de jogo e que não deveria resultar em expulsão.

Com o cartão vermelho de Felipe Melo, o Brasil se tornou a seleção com maior número de expulsões na história das Copas: 11, à frente da Argentina, com 10.

Nas semifinais, a Holanda eliminou o Uruguai em um jogaço e vitória por 3 x 2. Na decisão, teve as melhores oportunidades, mas não conseguiu aproveitar. Na prorrogação, o gol solitário de Andrés Iniesta garantiu o título para a Espanha. A Holanda se tornava a única seleção três vezes vice-campeã (1974, 1978 e 2010) sem nunca ter conquistado uma Copa do Mundo.


Felipe Melo foi corretamente expulso pelo pisão em Robben (Imagem: UOL)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 2 x 1 BRASIL

 

Data: 02/07/2010

Horário: 16h00 locais

Estádio: Nelson Mandela Bay Stadium

Público: 40.186

Cidade: Port Elizabeth (África do Sul)

Árbitro: Yuichi Nishimura (Japão)

 

HOLANDA (4-2-3-1):

BRASIL (4-2-3-1):

1  Maarten Stekelenburg (G)

1  Júlio César (G)

2  Gregory van der Wiel

2  Maicon

3  John Heitinga

3  Lúcio (C)

13 André Ooijer

4  Juan

5  Giovanni van Bronckhorst (C)

6  Michel Bastos

6  Mark van Bommel

5  Felipe Melo

8  Nigel de Jong

8  Gilberto Silva

11 Arjen Robben

13 Daniel Alves

10 Wesley Sneijder

10 Kaká

7  Dirk Kuyt

11 Robinho

9  Robin van Persie

9  Luís Fabiano

 

Técnico: Bert van Marwijk

Técnico: Dunga

 

SUPLENTES:

 

 

16 Michel Vorm (G)

12 Gomes (G)

22 Sander Boschker (G)

22 Doni (G)

12 Khalid Boulahrouz

14 Luisão

4  Joris Mathijsen

15 Thiago Silva

15 Edson Braafheid

16 Gilberto

14 Demy de Zeeuw

17 Josué

18 Stijn Schaars

20 Kléberson

23 Rafael van der Vaart

18 Ramires

20 Ibrahim Afellay

7  Elano

17 Eljero Elia

19 Júlio Baptista

19 Ryan Babel

21 Nilmar

21 Klaas-Jan Huntelaar

23 Grafite

 

GOLS:

10′ Robinho (BRA)

53′ Wesley Sneijder (HOL)

68′ Wesley Sneijder (HOL)

 

CARTÕES AMARELOS:

14′ John Heitinga (HOL)

37′ Michel Bastos (BRA)

47′ Gregory van der Wiel (HOL)

64′ Nigel de Jong (HOL)

76′ André Ooijer (HOL)

 

CARTÃO VERMELHO:
73′ Felipe Melo (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

62′ Michel Bastos (BRA) ↓

Gilberto (BRA) ↑

 

77′ Luís Fabiano (BRA) ↓

Nilmar (BRA) ↑

 

85′ Robin van Persie (HOL) ↓

Klaas-Jan Huntelaar (HOL) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile

Três pontos sobre…
… 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile


(Imagem: Lance!)

● O Chile voltava a disputar sua primeira Copa do Mundo desde 1982. Em 1986, parou nas eliminatórias ao perder nas últimas partidas para o Paraguai. Em 1990, foi punido pela FIFA por um episódio no qual o goleiro são-paulino Roberto Rojas cortou seu próprio rosto e fingiu ter sido atingido por um sinalizador no jogo contra o Brasil. Por isso, a FIFA suspendeu o Chile também das eliminatórias de 1994. Em 1998, a vaga veio com muito sufoco, apenas no critério de saldo de gols, após um empate em número de pontos com o arqui-inimigo Peru.

O time chegou ao Mundial com confiança, após vencer a Inglaterra em Wembley por 2 x 0. O elenco era mediano, mas a dupla de ataque era muito boa e entrosada: o experiente Iván “Bam-Bam” Zamorano e o jovem Marcelo Salas, “El Matador”. Salas estava em uma fase esplendorosa e tinha acabado de ser vendido pelo River Plate (Argentina) à Lazio (Itália) por US$ 20 milhões.

O Chile se classificou em segundo lugar do Grupo B, empatando os três jogos da primeira fase: Itália (2 x 2), Áustria (1 x 1) e Camarões (1 x 1).

Para as oitavas de final, contra o Brasil, os chilenos tinham três desfalques importantes, todos por suspensão por terem recebido o segundo cartão amarelo na competição: os alas Francisco Rojas e Moisés Villarroel, além do meia Nelson Parraguez. Em seus respectivos lugares entraram Fernando Cornejo, Mauricio Aros e Miguel Ramírez. O técnico Nelson Acosta optou por manter no time titular o armador José Luis Sierra, mais técnico e lento, ao invés de Fabián Estay, mais dinâmico. Sierra havia passado pelo São Paulo F.C. em 1995, sem sucesso.


(Imagem: AFP / Globo Esporte)

● Pelo Grupo A, o Brasil venceu a Escócia por 2 x 1 no jogo de abertura do Mundial. Na sequência, venceu o Marrocos por 3 x 0. Já classificado em primeiro lugar na chave, perdeu para a Noruega – sua asa negra – por 2 x 1, levando dois gols nos últimos sete minutos.

Após essa derrota para a Noruega, os jogadores brasileiros trocaram farpas publicamente. O clima só foi amenizado em uma reunião comandada pelo zagueiro Aldair, no dia 25. Um dos pontos consensuais era que o capitão Dunga tinha que voltar a gritar em campo. Outro era que os jogadores deveriam evitar bate-bocas via imprensa.

Mesmo com os problemas internos, a Seleção Brasileira continuava entrando em campo de mãos dadas, tentando reviver o espírito vencedor de 1994.

O Brasil contava com o retorno do zagueiro Aldair, poupado contra a Noruega, e do volante César Sampaio, que cumpriu suspensão no jogo anterior.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.


O uruguaio Nelson Acosta armava seu time no 3-5-2. Sierra era quem criava as jogadas para a dupla Salas e Zamorano.

● Brasil e Chile fizeram uma festa sul-americana para 45.500 espectadores no estádio Parc de Princes, em Paris. O melhor jogador da América de 1997 (Marcelo Salas) enfrentava o melhor jogador do mundo do mesmo ano (Ronaldo).

O mundo inteiro esperava uma Seleção Brasileira sem imaginação, como foi diante da Noruega. Mas quem entrou em campo foi o Brasil show, o Brasil “sambá” – como era chamado na França.

A Seleção de Mário Jorge Lobo Zagallo começou com ímpeto total. Logo no início, Júnior Baiano deu uma chegada mais forte em Salas na tentativa de intimidar o atacante chileno.

Aos 11 minutos, em uma falta pela esquerda, perto da linha lateral, Dunga ergueu a bola para a área. A defesa chilena ficou parada, César Sampaio apareceu livre e cabeceou para o gol. 1 a 0.

Aos 26′, Roberto Carlos cobrou falta de muito longe. A bola foi rasteira e desviou na barreira. Bebeto tocou para o meio e César Sampaio bateu de primeira, da linha da grande área. A bola foi no cantinho direito, no contrapé do goleiro Nelson Tapia – que futuramente jogaria no Santos, em 2004. 2 a 0. Foi o segundo gol de Sampaio na partida (algo inédito até então em sua carreira) e o terceiro na Copa. Ele havia feito também o primeiro gol da Copa na vitória diante da Escócia.

Nos acréscimos do primeiro tempo, Ronaldo arrancou em direção ao gol e sofreu pênalti do goleiro Tapia. O próprio Ronaldo cobrou a penalidade à meia altura, no canto esquerdo. O goleiro tocou na bola, mas ela acabou entrando. 3 a 0.


(Imagem: Partidos de la Roja)

O Chile voltou melhor com as duas alterações feitas no intervalo. Saíram Sierra e Ramírez, entraram Estay e Marcelo Vega.

O Brasil só melhorou quando Zagallo trocou o apagado Bebeto pelo aceso Denílson, aos 20′ da etapa final.

Uma bela troca de passes entre Roberto Carlos, Dunga, Leonardo e César Sampaio deu o tom da habilidade dos brasileiros.

Aos 25′, Salas buscou a bola em seu campo de defesa, tabelou com Vega, que alçou a bola para a área, nas costas de Júnior Baiano. Aldair ficou parado e Zamorano cabeceou em cima de Taffarel, que saiu bem para abafar. Mas Salas pegou o rebote e, sem goleiro, cabeceou para o gol. 3 a 1. Foi o quarto gol de “El Matador” no Mundial.

Dois minutos depois, Denílson fez boa jogada pelo meio, tabelou com Rivaldo, chamou a marcação e tocou para Ronaldo avançar sozinho pela direita. O Fenômeno entrou na área e chutou cruzado e rasteiro para marcar. 4 a 1. Em seu auge, Ronaldo estava impossível.

Outro belo lance foi de Leonardo. Ele avançou pela direita, deixou Vega no chão e passou entre Aros e Estay, deixando ambos no chão também. Leonardo tinha classe, categoria e habilidade, mesmo sendo escalado torto pela direita.

Enfim, o Brasil fez uma apresentação convincente. Aquela Seleção de 1998 era realmente um enigma indecifrável. Era impossível prever se seria a Seleção avassaladora dos 45 minutos iniciais contra do Chile ou dos 30 minutos de prorrogação diante a Holanda ou se seria a infrutífera e insípida dos jogos contra Escócia e Noruega.

Rivaldo, Denílson e Leonardo desfilaram habilidade e talento no Parc de Princes. Ronaldo foi efetivo. Dunga voltou a berrar e terminou o jogo com a meia empapada de sangue, demonstrando a garra que tinha. Roberto Carlos despertou de sua profunda hibernação, ensaiou algumas jogadas de efeito e apoiou bastante o ataque, repetindo as atuações que o levaram a ser eleito o segundo melhor jogador do mundo em 1997. Mas, em uma equipe cheia de estrelas, quem mais brilhou foi o operário César Sampaio. Merecidamente, o volante foi eleito o melhor em campo.


(Imagem: Twitter @CuriosidadesBRL)

● Com a derrota para o Brasil, o Chile se despediu do Mundial sem nenhuma vitória. Foram três empates na primeira fase e essa derrota nas oitavas de final. La Roja seguia sem vencer em Copas desde a decisão do 3º lugar de 1962. Só conseguiria uma vitória na primeira rodada da Copa de 2010, sobre Honduras (1 x 0).

Mesmo com a queda precoce, Marcelo Salas foi um dos destaques do torneio, marcando quatro gols.

Nas quartas de final, o Brasil suou para vencer por 3 x 2 o ótimo time da Dinamarca, do goleiro Peter Schmeichel e dos irmãos Laudrup. A Dinamáquina havia goleado e eliminado a ardilosa Nigéria nas oitavas. Nas semifinais, um jogo histórico contra a Holanda (1 x 1), com vitória nos pênaltis (4 x 3) graças a Taffarel. Na final, perdeu para a França por 3 x 0, com dois gols de Zinedine Zidane e um de Emmanuel Petit.


(Imagem: CONMEBOL)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 1 CHILE

 

Data: 27/06/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Parc de Princes

Público: 45.500

Cidade: Paris (França)

Árbitro: Marc Batta (França)

 

BRASIL (4-4-2):

CHILE (3-5-2):

1  Taffarel (G)

1  Nelson Tapia (G)

2  Cafu

6  Pedro Reyes

4  Júnior Baiano

3  Ronald Fuentes

3  Aldair

5  Javier Margas

Roberto Carlos

19 Fernando Cornejo

5  César Sampaio

16 Mauricio Aros

8  Dunga (C)

8  Clarence Acuña

18 Leonardo

14 Miguel Ramírez

10 Rivaldo

10 José Luis Sierra

20 Bebeto

11 Marcelo Salas

9  Ronaldo

9  Iván Zamorano (C)

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Nelson Acosta

 

 

 

 

12 Carlos Germano (G)

12 Marcelo Ramírez (G)

22 Dida (G)

22 Carlos Tejas (G)

13 Zé Carlos

2  Cristián Castañeda

14 Gonçalves

18 Luis Musrri

15 André Cruz

15 Moisés Villarroel

16 Zé Roberto

4  Francisco Rojas

17 Doriva

7  Nelson Parraguez

11 Emerson

17 Marcelo Veja

7  Giovanni

20 Fabián Estay

19 Denílson

21 Rodrigo Barrera

21 Edmundo

13 Manuel Neira

 

GOLS:

11′ César Sampaio (BRA)

26′ César Sampaio (BRA)

45+3′ Ronaldo (BRA) (pen)

70′ Marcelo Salas (CHI)

72′ Ronaldo (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

34′ Ronald Fuentes (CHI)

45′ Nelson Tapia (CHI)

45′ Leonardo (BRA)

90+1′ Cafu (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO José Luis Sierra (CHI) ↓

Fabián Estay (CHI) ↑

 

INTERVALO Miguel Ramírez (CHI) ↓

Marcelo Vega (CHI) ↑

 

65′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

78′ Aldair (BRA) ↓

Gonçalves (BRA) ↑

 

80′ Clarence Acuña (CHI) ↓

Luis Musrri (CHI) ↑

Melhores momentos da partida:

… 24/06/1978 – Brasil 2 x 1 Itália

Três pontos sobre…
… 24/06/1978 – Brasil 2 x 1 Itália


(Imagem: Pinterest)

● Em uma Copa do mundo, o jogo da decisão do 3º lugar é sempre frustrante. Em 1978 esse sentimento foi ainda maior.

A Itália perdeu a vaga na decisão de virada, depois de ter jogado muito bem nos primeiros 45 minutos. O Brasil ainda remoía a polêmica partida entre Argentina e Peru, cuja goleada a favor dos albicelestes classificou os donos da casa para a final no saldo de gols.

O Brasil tinha jogadores talentosos, como Rivellino, Zico, Reinaldo, Dirceu, Toninho Cerezo e Roberto Dinamite. Mas não conseguia engrenar. O técnico era Cláudio Coutinho, que havia sido o preparador físico da Seleção em 1970 e supervisor da comissão técnica em 1974. Ele foi o responsável por implantar os conceitos de “overlapping”, “ponto futuro” e “polivalência” na Seleção. A ignorância de Coutinho em não convocar Falcão e Marinho Chagas deixou a Seleção sem dois dos maiores craques da década de 1970.

O técnico Enzo Bearzot renovou boa parte do elenco italiano que foi um fiasco no Mundial de 1974, caindo na primeira fase. Ele preferiu não convocar jogadores como Giacinto Facchetti, Gianni Rivera, Roberto Boninsegna, Enrico Albertosi, Fabio Capello e Giorgio Chinaglia.

Na primeira fase, a Itália terminou com 100% de aproveitamento no difícil Grupo 1. Venceu a França por 2 x 1, a Hungria por 3 x 1 e a Argentina por 1 x 0. Na fase semifinal, no Grupo A, a Azzurra empatou sem gols com a Alemanha Ocidental, venceu a Áustria por 1 x 0 perdeu para a Holanda por 2 x 1.

Por sua vez, o Brasil mal “deu pro gasto” no Grupo 3 e acabou se classificando em segundo lugar da chave. Empatou os dois primeiros jogos, com Suécia (1 x 1) e Espanha (0 x 0). Depois de dois jogos sem vitória, foi instituído um “Comitê de Apoio” ao técnico Coutinho, liderado pelo presidente da CBD, o almirante Heleno Nunes. Esse “Comitê” serviria para ajudar o treinador a escalar o time que enfrentaria a Áustria. Traduzindo: era uma interferência direta da Confederação na escalação do time. O almirante, vascaíno de coração, forçou a entrada de Roberto Dinamite no lugar de Reinaldo, além de Rodrigues Neto e Jorge Mendonça nos lugares de Edinho e Zico. Coincidência ou não, o time conseguiu a vitória necessária sobre os austríacos por 1 x 0. Na segunda fase, pelo Grupo B, o Brasil venceu o Peru por 3 x 0, empatou sem gols com a Argentina e venceu a Polônia por 3 x 1.


O Brasil foi escalado 4-3-3, que se tornava um 4-4-2 com a boa recomposição de Dirceu.


A Itália jogava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços. Atacava no 3-4-3 e defendia no 4-4-2.

● Em um clima de “fim de festa”, a Itália dominou o primeiro tempo.

Giancarlo Antognoni cobrou falta da entrada da área, mas Leão espalmou. O capitão Emerson Leão tentava acalmar seus companheiros depois de um início de jogo tenso.

No primeiro ataque brasileiro, Dirceu chutou de fora da área e Zoff pulou no cantinho esquerdo para segurar.

Após escanteio cobrado por Nelinho, Dino Zoff segurou a bola em dois tempos e Oscar trombou com ele de forma desnecessária. Até o banco de reservas do Brasil se irritou com a atitude virulenta de Oscar.

A Itália saiu na frente aos 38′. Roberto perdeu a bola no ataque, Giancarlo Antognoni puxou o contragolpe, passou por Batista e abriu com Paolo Rossi na direita. O atacante cortou a marcação de Rodrigues Neto e cruzou para a pequena área. Sem marcação, Franco Causio apareceu na segunda trave e cabeceou no contrapé de Leão.

Esse gol iniciou uma sequência de bons ataques italianos, nos quais a Azzurra poderia ter ampliado o placar.

No lado esquerdo do ataque italiano, Antonio Cabrini driblou Nelinho e cruzou para a área, mas Amaral cortou. Antognoni pegou a sobra e chutou de primeira. A bola quicou, Leão não segurou e Oscar bobeou. Paolo Rossi chutou em cima de Leão e Roberto Bettega 18 passou da bola. Na sobra, após nova indecisão entre Franco Causio e Antonello Cuccureddu, a bola bateu em Nelinho e voltou para Causio chutar da marca do pênalti. A bola subiu e bateu no travessão. Um festival de horrores! Uma jogada confusa da defesa brasileira, que o ataque italiano não conseguiu aproveitar.

Em outro lance, Paolo Rossi driblou Leão e chutou. O goleiro brasileiro chegou a resvalar na bola antes dela tocar na trave e sair.

Esgotados, os dois times terminaram o primeiro tempo disputando desordenadamente a posse de bola. O ataque brasileiro pouco produziu. Roberto Dinamite estava perdido no meio da marcação da defesa italiana.


(Imagem: Michel Barrault / Onze / Icon Sport / Getty Images)

Na etapa final, a Seleção Brasileira ficou mais ofensiva com a entrada de Reinaldo no lugar de Gil. Jogando com dois centroavantes de ofício, a movimentação do ataque brasileiro começou a confundir a defesa italiana. Nessa formação, os jogadores canarinhos pareciam estar mais seguros e jogaram de forma mais solta.

No primeiro lance de perigo, Nelinho bateu escanteio, Zoff socou a bola para fora da área e Jorge Mendonça emendou de primeira para fora.

O Brasil manteve a pressão e conseguiu o empate aos 19′. Sem muito ângulo, Nelinho foi capaz de um chute de rara precisão, força e uma curva surreal. Zoff chegou a tocar na bola, mas ela só poderia ter um endereço: o fundo do gol. Em uma Copa do Mundo cheia de gols bonitos, com chutes de longe, esse foi o mais lindo de todos eles.

Na sequência, Cerezo deu lugar a Rivellino, em sua 120ª e última partida pela Seleção Brasileira. Ele ainda estava se recuperando da contusão sofrida no primeiro jogo da Copa.


(Imagem: Pinterest)

Roberto Rivellino, um artista do futebol que fazia sua despedida dos grandes palcos. Mesmo fora de forma, ele mal entrou e começou a desfilar seu talento, com várias jogadas de efeito no meio do campo. Parecia que o mágico queria fazer todos os seus truques no pouco tempo que teria. Ele transformou uma partida sem graça em uma ocasião especial. O camisa 10 fez de tudo: catimbou, dividiu, reclamou do juiz, ameaçou brigar, segurou a bola, chutou e fez alguns lançamentos, inclusive criando a jogada que resultou no gol da vitória.

Aos 26′, Rodrigues Neto avançou pela esquerda e deixou com Rivellino pelo meio. O craque fez o lançamento curto para a entrada da área. Jorge Mendonça escorou com o peito e deixou na medida para o chute de primeira de Dirceu. A bola foi de novo no canto direito de Zoff. Outro golaço. Dirceu certamente foi o melhor jogador brasileiro na Copa de 1978 – um dos melhores de todo o Mundial.

A última chance da Itália foi em uma cobrança de falta ensaiada. Causio cruzou para a marca do pênalti, Bettega subiu mais que Amaral, cabeceou firme, mas a bola explodiu no travessão e saiu por cima do gol.

Depois o jogo ficou feio, com pancadas distribuídas de lado a lado. Claudio Gentile não foi nada gentil e acertou Rodrigues Neto sem bola. Pouco depois, o mesmo Gentile deu um carrinho forte em Amaral. Patrizio Sala deixou o braço no rosto de Batista. Rivellino revidou e acertou Sala por trás e encarou catimbando.


(Imagem: Diego Goldberg / Sygma / Corbis)

● A vitória do Brasil foi justificada pelo bom futebol apresentado no segundo tempo.

Após a partida, o técnico Cláudio Coutinho declarou que o Brasil era “campeão moral” – mesma expressão usada pelos argentinos quando perderam para o Uruguai na final da Copa de 1930. O escrete canarinho foi o único invicto do Mundial.

A bem da verdade, principalmente para o brasileiro, o 3º lugar vale pouco. Se não for o campeão, todos os outros são derrotados. Se não for primeiro, tudo é último.

Apenas quatro jogadores brasileiros disputaram todos os minutos de todos os jogos: o goleiro Leão, os zagueiros Oscar e Amaral e o volante Batista. A rotatividade foi grande no escrete canarinho. Coutinho utilizou 17 dos 22 convocados. Apenas os goleiros Waldir Peres e Carlos, os zagueiros Abel Braga e Polozzi e o ponta Zé Sérgio não entraram em campo.

Curiosamente, essa foi a última partida de Copa do Mundo que a Seleção Brasileira utilizou o escudo da CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Em 24/09/1979 foi criada a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).


(Imagem: FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 1 ITÁLIA

 

Data: 24/06/1978

Horário: 15h00 locais

Estádio: Monumental Antonio Vespucio Liberti (Monumental de Núñez)

Público: 69.659

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Abraham Klein (Israel)

 

BRASIL (4-3-3):

ITÁLIA (4-3-3):

1  Leão (G)(C)

1  Dino Zoff (G)(C)

13 Nelinho

5  Claudio Gentile

3  Oscar

8  Gaetano Scirea

4  Amaral

4  Antonello Cuccureddu

16 Rodrigues Neto

3  Antonio Cabrini

17 Batista

6  Aldo Maldera

5  Toninho Cerezo

9  Giancarlo Antognoni

19 Jorge Mendonça

13 Patrizio Sala

18 Gil

16 Franco Causio

20 Roberto Dinamite

21 Paolo Rossi

11 Dirceu

18 Roberto Bettega

 

Técnico: Cláudio Coutinho

Técnico: Enzo Bearzot

 

SUPLENTES:

 

 

12 Carlos (G)

12 Paolo Conti (G)

22 Waldir Peres (G)

22 Ivano Bordon (G)

2  Toninho Baiano

2  Mauro Bellugi

14 Abel Braga

7  Lionello Manfredonia

15 Polozzi

14 Marco Tardelli

6  Edinho

15 Renato Zaccarelli

21 Chicão

17 Claudio Sala

10 Rivellino

10 Romeo Benetti

8  Zico

11 Eraldo Pecci

7  Sérgio

19 Francesco Graziani

9  Reinaldo

20 Paolo Pulici

 

GOLS:

38′ Franco Causio (ITA)

64′ Nelinho (BRA)

71′ Dirceu (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

35′ Nelinho (BRA)

44′ Batista (BRA)

72′ Claudio Gentile (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Gil (BRA) ↓

Reinaldo (BRA) ↑

 

64′ Toninho Cerezo (BRA) ↓

Rivellino (BRA) ↑

 

78′ Giancarlo Antognoni (ITA) ↓

Claudio Sala (ITA) ↑

Melhores momentos da partida:

… 19/06/1938 – Brasil 4 x 2 Suécia

Três pontos sobre…
… 19/06/1938 – Brasil 4 x 2 Suécia


(Imagem: CBF / Correio da Manhã)

● A bem da verdade, a Suécia chegou tão longe por causa dos “atalhos”. Foi sorteada na chave da Áustria, em jogo que não ocorreu (como contamos detalhadamente aqui). Nas quartas de final, enfrentou a inexpressiva seleção de Cuba e goleou por 8 a 0. E foi reprovada logo em seu primeiro teste, ao perder para a Hungria nas semifinais por 5 a 1. Assim, sem fazer força alguma, a Suécia estava entre os quatro melhores da Copa.

Por sua vez, a Seleção Brasileira só enfrentou adversários com alto grau de dificuldade. Nas oitavas, precisou da prorrogação para bater a Polônia por 6 a 5. Nas quartas, foram necessárias duas partidas para passar pela Tchecoslováquia (1 x 1 no primeiro duelo e 2 x 1 no jogo desempate). Na semi, não contou com Leônidas, mas mesmo assim vendeu caro a derrota por 2 a 1 para a então campeã Itália.

Confiante na vitória sobre a Itália, os dirigentes brasileiros já haviam comprado as passagens aéreas de Marselha a Paris, onde seria a final da Copa. Depois da derrota, tomados pela raiva, os brasileiros se recusaram a ceder as passagens aos italianos – que tiveram de fazer a viagem de trem. Também foi de trem a volta do Brasil para Bordeaux.

Aliás, certamente o Brasil foi a seleção mais prejudicada pelas viagens em toda a história das Copas. Jogou contra a Polônia em Estrasburgo. De lá, viajou 758 quilômetros até Bordeaux para enfrentar a Tchecoslováquia. Depois, andou mais 503 km até Marselha, onde enfrentou a Itália. E, pra encerrar, voltou até Bordeaux (mais 503 km). Ao todo foram 1.764 km, ou seja, quase dois dias em viagem de trem.

Assim, Brasil e Suécia se encontraram na partida que decidiu o 3º lugar da Copa de 1938. Curiosamente, esse jogo ocorreu simultaneamente à final, que foi disputada entre Itália e Hungria.

Leônidas não pôde jogar contra a Itália, mas se recuperou a tempo de atuar contra os suecos.


O Brasil atuava no sistema clássico, o 2-3-5, com muita fragilidade no sistema defensivo.


A Suécia também atuava no 2-3-5, como era comum na época, mas mais obediente taticamente do que o Brasil.

● O que mais chamava a atenção da imprensa estrangeira em relação à Seleção Brasileira na Copa de 1938 foi o abismo entre o alto nível técnico dos jogadores e a disposição tática rudimentar. As duas equipes eram escaladas no sistema clássico, mas a linha de meio-campo brasileira era mais estática, ao invés de ser mais combativa e focar na marcação. Afinal, no esquema 2-3-5, a defesa e o meio campo deveriam ser os responsáveis pela marcação da linha de frente adversária. Mas os médios brasileiros costumavam deixar os zagueiros muito expostos. Um pouco devido às características dos jogadores tupiniquins, mas também por causa da falta de entrosamento e da bagunça feita pelo técnico Ademar Pimenta.

A Suécia era uma equipe que passava muito longe de ter o talento brasileiro, mas era melhor distribuída em campo.

O confronto começou com certo equilíbrio, mas logo o Brasil começou a tomar conta do jogo. E desperdiçou várias oportunidades com Leônidas, Patesko e Roberto.

Aos 28′, Brandão errou o passe, Harry Andersson interceptou e lançou Sven Jonasson, que chutou forte para abrir o placar.

O escrete brasileiro tentou reagir, mas continuou errando muitos gols.

Os nórdicos aproveitaram para marcar o segundo, aos 38′. O perigoso Jonasson avançou pelo lado esquerdo e cruzou para Arne Nyberg, que driblou Machado e finalizou para notar o segundo tento de sua equipe.

No último minuto da etapa inicial, Zezé Procópio lançou Romeu, que driblou dois adversários e chutou para marcar. Esse gol aliviou um pouco a situação e permitiu que o Brasil fosse para o vestiário com menos peso sobre os ombros.

A Seleção voltou para o segundo tempo pressionando em busca do empate e teve a chance logo aos dois minutos. Domingos lançou para Romeu, que passou para Roberto. Ele invadiu a área e foi derrubado por Erik Almgren. O árbitro belga John Langenus assinalou o pênalti. Patesko foi o encarregado da cobrança, mas bateu por cima do gol.

O empate veio aos 18′. Zezé tocou para Romeu (o artífice da criação do ataque brasileiro), que cruzou para a área. Leônidas se antecipou e deu um toquinho para encobrir o goleiro Henock Abrahamsson.

A partir dali, o Brasil passou a ter o controle da partida e os brasileiros, enfim, conseguiram transformar a superioridade técnica em gols.

O terceiro saiu aos 29′. Leônidas fez uma triangulação com Roberto e Romeu pelo lado direito e, contrariando as suas características, chutou de longe para virar o jogo.

A dez minutos do fim, Romeu (sempre ele) trocou passes com Leônidas, que lançou Perácio. O atacante do Botafogo mandou uma bomba de fora da área, sem chances para o goleiro sueco.

Cabe ressaltar que esse foi o único jogo em que Domingos da Guia passou sem cometer algum pênalti. Ele havia cometido três nos três jogos anteriores – justamente pela falta de proteção à defesa.


(Imagem: Pinterest)

● Essa até hoje é a maior virada brasileira na história das Copas.

No fim, ambos os países estavam orgulhosos por terem emplacado suas melhores campanhas em Copas até então.

A classificação final fez nascer no Brasil inteiro um sentimento de orgulho pelo bom desempenho da Seleção.

A delegação chegou de volta ao Rio de Janeiro 15 dias depois e teve uma recepção “apoteótica”, segundo o cronista Thomas Mazzoni, de A Gazeta Esportiva. Antes, o navio Almanzora teve que fazer escalas em Recife e Salvador e a recepção foi igualmente frenética. Na Bahia, um torcedor chegou a roubar o sapato de Leônidas. No Rio, às 15h30 de 02 de julho, o navio iniciou as manobras para atracar no porto e a polícia teve dificuldades para manter o cordão de isolamento que impedia o público de se aproximar do cais.

Em seguida, os jogadores desfilaram em carros abertos pela Avenida Rio Branco. Leônidas era o mais assediado e precisou ser conduzido em um veículo de transportes de soldados do Corpo de Fuzileiros Navais, protegido por uma brigada inteira de militares. Ainda assim, o cortejo não se movia e a polícia teve que fazer uso de força para que o público deixasse o desfile acontecer. A alegria era tamanha que os torcedores esqueceram todas as críticas anteriores. Até o técnico foi aplaudido e carregado pela multidão.

Como sempre, as autoridades políticas fizeram questão de posar para fotos com os jogadores, especialmente os mais populares segundo um concurso feito na época pelo Cigarro Magnólia: Leônidas, Domingos da Guia e Romeu.

Leônidas da Silva foi o artilheiro do certame com sete gols, sendo o único brasileiro a marcar gols em todas as partidas que disputou em Copas (fez um gol também em 1934). Aproveitando-se da popularidade de Leônidas, a Lacta lançou a barra de chocolate “Diamante Negro”, em referência ao apelido que o craque tinha recebido dos uruguaios em 1932.


A multidão se aglomera para receber a delegação brasileira (Imagem: CBF / Correio da Manhã)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 2 SUÉCIA

 

Data: 19/06/1938

Horário: 17h00 locais

Estádio: Parc Lescure

Público: 12.000

Cidade: Bordeaux (França)

Árbitro: John Langenus (Bélgica)

 

BRASIL (2-3-5):

SUÉCIA (2-3-5):

Walter (G)

Henock Abrahamsson (G)

Domingos da Guia

Ivar Eriksson

Machado

Erik Nilsson

Zezé Procópio

Erik Almgren

Brandão

Arne Linderholm

Afonsinho

Kurt Svanström (C)

Roberto

Åke Andersson

Romeu Pellicciari

Sven Jonasson

Leônidas da Silva (C)

Arne Nyberg

Perácio

Harry Andersson

Patesko

Erik Persson

 

Técnico: Ademar Pimenta

Técnico: József Nagy

 

SUPLENTES:

 

 

Batatais (G)

Gustav Sjöberg (G)

Jaú

Olle Källgren

Nariz

Harry Nilsson

Britto

Sven Jacobsson

Martim Silveira

Karl-Erik Grahn

Argemiro

Curt Bergsten

Lopes

Lennart Bunke

Luisinho Mesquita de Oliveira

Knut Hansson

Niginho

Tore Keller

Tim

Sven Unger

Hércules

Gustav Wetterström

 

GOLS:

28′ Sven Jonasson (SUE)

38′ Arne Nyberg (SUE)

44′ Romeu Pellicciari (BRA)

63′ Leônidas da Silva (BRA)

74′ Leônidas da Silva (BRA)

80′ Perácio (BRA)

Imagens da partida:

… 13/06/2021 – O melhor do primeiro dia da Copa América

Três pontos sobre…
… 13/06/2021 – O melhor do primeiro dia da Copa América


(Imagem: Getty SBT)

A Seleção Brasileira jogou com o freio de mão puxado e goleou uma Venezuela toda desfigurada.

No outro jogo, a Colômbia bateu o Equador em uma bela jogada ensaiada em cobrança de falta.

… Brasil 3 x 0 Venezuela


(Imagem: Getty Images)

● A Venezuela estava toda desfigurada. Com oito casos de jogadores que testaram positivo para Covid-19, apenas três atletas que foram titulares contra o Uruguai, também estiveram no onze inicial diante do Brasil.

Se a seleção principal dos vinotintos não é lá essas coisas, imagina um time alternativo?! A única alternativa para o técnico português José Peseiro era tentar se defender ao máximo, fechar o meio e parar as jogadas de velocidade nas faltas.

E foi isso que aconteceu. Um primeiro tempo chato, com muitas jogadas faltosas de lado a lado.

Neymar era a fonte de inspiração da Seleção Brasileira, principalmente nas bolas paradas. Aos 23′, foi Neymar quem bateu o escanteio na primeira trave, Richarlison desviou e Marquinhos dominou e bateu de esquerda, do jeito que deu. A bola passou embaixo das pernas do marcador antes de entrar.

Neymar quase ampliou ainda na primeira etapa. Ele recebeu um lançamento de Éder Militão pela esquerda, dominou, limpou a marcação e bateu rasteiro. A bola passou perto.

Aos 17, em bela tabela de Danilo com Everton Ribeiro, o lateral direito deu uma meia lua em um adversário e recebeu um empurrão de Yohan Cumana dentro da área. Pênalti. Com sua paradinha característica, Neymar bateu no canto esquerdo e deslocou o goleiro Joel Graterol.

No último minuto do tempo regulamentar, Alexsandro fez um lançamento nas costas da defesa. Um zagueiro tentou cortar e falhou. Neymar dominou, driblou o goleiro e cruzou da linha de fundo. Dentro da pequena área, Gabigol só empurrou de peito para o gol vazio.

A Seleção Brasileira levou o jogo em “banho maria” e venceu bem sem se esforçar. Não fez mais que a obrigação.

… Colômbia 1 x 0 Equador


(Imagem: El País)

● Em novembro, essas mesmas seleções se enfrentaram em Quito, com goleada do Equador por 6 x 1.

Agora, em campo neutro, dificilmente algo do tipo aconteceria. Mas o Equador começou bem melhor, pressionando no ataque. O técnico argentino Gustavo Alfaro escalou quatro atacantes de ofício: Gonzalo Plata e Fidel Martínez pelas pontas, além de Michael Estrada e Enner Valencia no comando do ataque.

Na Colômbia, a fonte de inspiração era Juan Cuadrado, pela direita. Foi ele quem sofreu a falta que deu origem ao gol do jogo.

Aos 42′ do primeiro tempo, Edwin Cardona foi o protagonista de uma belíssima jogada. Se foi ensaiada ou não, jamais saberemos.

Cardona bateu curto, Cuadrado devolveu de primeira, Cardona deu de volta a Cuadrado que lançou por cima da defesa. Miguel Borja escorou de cabeça para o meio onde apareceu o próprio Cardona para finalizar chicoteando. A bola entrou no canto esquerdo do goleiro Ortiz, que nem se mexeu.

A defesa equatoriana ficou parada apostando no impedimento. O bandeira até apontou o “offside”, mas foi salvo pelo VAR, que confirmou o gol legal. Angelo Preciado dava condição a Borja no momento do lançamento de Cuadrado.

No segundo tempo, o Equador pressionou o quanto conseguiu, mas não foi o suficiente para impedir a derrota.

 

… Roberto Carlos, “la zurda sinistra”

Três pontos sobre…
… Roberto Carlos, “la zurda sinistra”

(Imagem: Acredite ou não)

Roberto Carlos da Silva Rocha nasceu em Garça, cidade do interior paulista, em 10 de abril de 1973.

Roberto Carlos nunca se limitou a marcar, mesmo sendo um lateral esquerdo – responsável por compor o sistema defensivo.

Com o advento do sistema 4-4-2 em meados da década de 1980, os antigos pontas praticamente tiveram seu fim decretado. Com isso, os laterais passaram a ser fundamentais no apoio, criação de jogadas, aproximação, cruzamentos.

Por mais que escola brasileira sempre tenha sido vanguardeira nesse sentido (com Nílton Santos, Carlos Alberto Torres e outros), ela se estabeleceu e fez sucesso na Seleção e no futebol europeu com o surgimento de laterais como Branco, Jorginho, Cafu e do próprio Roberto Carlos.


(Imagem: Band)

Aos 16 anos, Roberto já era titular do União São João. Disputou sua primeira partida pela Seleção Brasileira principal em 1992, aos 18 anos, ainda jogando pelo clube de Araras/SP.


(Imagem: Terceiro Tempo)

No mesmo ano teve um curto período de empréstimo ao Atlético Mineiro, que perdeu todas suas cinco partidas em uma excursão na Europa. RC não conseguiu mostrar todo seu potencial e acabou voltando ao União São João.


(Imagem: Grupo Opinião)

Mas em 1993 foi uma das primeiras estrelas das inúmeras contratações da Parmalat para o Palmeiras. E se tornou lenda no Parque Antártica. Em pouco mais de dois anos, foi bicampeão paulista (1993 e 1994), bicampeão brasileiro (1993 e 1994), além de campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1993.


(Imagem: Calciopédia)

Despertou o interesse da Inter de Milão, onde passou a jogar como ala pela esquerda, meia e até ponta. Disputou apenas uma temporada com a camisa interista, a de 1995/96. Foram sete gols em 34 jogos – insuficientes para convencer o então presidente Massimo Moratti, que o trocou com o Real Madrid pelo já veterano atacante chileno Iván “Bam-Bam” Zamorano.


(Imagem: Getty Images)

Em Madrid, foram onze anos vestindo a camisa merengue e se tornou lenda. Logo em sua primeira temporada, marcou cinco gols e conquistou La Liga. No fim do ano de 1997, foi eleito o segundo melhor jogador do mundo pela FIFA, atrás apenas do fenômeno Ronaldo.

Nesse mesmo ano, marcou o gol de falta contra a França, que a bola fez uma curva que fez os físicos estudarem essa batida na bola.

Em 21/02/1998, marcou sobre o Tenerife um dos gols mais impressionantes da história, chamado de “gol impossível”. No início do segundo tempo, em uma bola esticada rumo à linha de fundo, Roberto disparou, alcançou e mandou um canhão para dentro da área. Inicialmente parecia ser um cruzamento, já que não havia nenhum ângulo para o chute direto. Mas a bola fez uma curva memorável e entrou no ângulo oposto. O gol mais espírita de todos os “gols espíritas”.

O sucesso permaneceu e o lado esquerdo do Madrid permanecia sendo responsável pela grande maioria dos gols do time – que continuou enfileirando títulos: UEFA Champions League (1997/98, 1999/00 e 2001/02), Copa Intercontinental (1998 e 2002), Campeonato Espanhol (1996/97, 2000/01, 2002/03 e 2006/07), Supercopa da Europa (2002) e Supercopa da Espanha (1997, 2001 e 2003).


(Imagem: Fenerbahçe)

Saiu do clube pela porta da frente e foi campeão da Supercopa da Turquia de 2007 pelo Fenerbahçe. Depois, até teve um bom ano pelo Corinthians em 2010, mas fez parte do time que passou a vergonha história caindo na pré-Libertadores para o Tolima em 2011. Logo depois, foi atuar no futebol russo, pelo Anzhi Makhachkala. Anunciou sua aposentadoria dos gramados em 2012 e se tornou auxiliar técnico do time russo. Na sequência, foi técnico dos turcos Sivasspor (2013/14) e Akhisar Belediyespor (2015). Ainda em 2015, foi desbravar o incipiente futebol da Índia, onde foi jogador-treinador do Delhi Dynamos FC em 2015/16 e encerrou definitivamente a carreira.


(Imagem: eotimedopovo.com.br)

Pela Seleção Brasileira, foram 126 jogos e onze gols. Disputou três Copas do Mundo: 1998, 2002 e 2006. Foi vice-campeão e muito criticado em 1998. Se tornou campeão e fundamental no time de 2002. Foi considerado o principal vilão em 2006 (contamos melhor toda a história aqui). Conquistou também os títulos da Copa América de 1997 e 1999, a Copa das Confederações de 1997, a Copa Umbro de 1995 e foi medalhe de bronze nos Jogos Olímpicos de 1996.

É considerado um dos melhores laterais esquerdos de todos os tempos – discutivelmente, para muitos ele é o maior. Recentemente foi nomeado para o segundo time do “Dream Team” histórico da Bola de Ouro da revista France Football.

Roberto Carlos é uma lenda. É história, títulos, gols, explosão, raiva, tudo ao mesmo tempo.

Parabéns pelo seu aniversário, Roberto!


(Imagem: Esportes Online)

… A Copa do Mundo que me fez apaixonar de vez por futebol

Três pontos sobre…
… A Copa do Mundo que me fez apaixonar de vez por futebol

● Minha paixão por futebol é hereditária e eu herdei do meu pai.

Mas se na Copa de 1990 eu era muito pequeno e me recordo vagamente dos nomes de Maradona e Matthäus, em 1994 eu já tinha oito anos e começava a entender alguma coisa sobre futebol. Começava a brincar de bola na escola e, pra apaixonar de vez mesmo, tinha uma Copa do Mundo para assistir.

Hoje muitos criticam o nível do futebol apresentado, especificamente da Seleção Brasileira, o que é uma injustiça tremenda.

● Vamos lembrar de algumas seleções marcantes daquela edição do Mundial.

Uma das favoritas era a então campeã Alemanha, na primeira Copa depois da reunificação. Contava com grandes jogadores como os experientes Bodo Illgner, Andreas Brehme, Matthias Sammer, Guido Buchwald, Andreas Möller, o baixinho Thomas Häßler, Rudi Völler, Jürgen Klinsmann e, claro, Lothar Matthäus.

Essa Alemanha caiu nas quartas de final para a mítica Bulgária, do genial e genioso Hristo Stoichkov, de Borislav Mihaylov (o goleiro que usava peruca), do ídolo cult Trifon Ivanov, o “Lobo Búlgaro”, do carequinha Yordan Lechkov, além dos perigosos Krasimir Balakov, Nasko Sirakov e Emil Kostadinov. Vale ressaltar que a Bulgária nunca tinha vencido uma partida em Copas e chegou nas semifinais.


(Imagem: Getty Images)

Mas no mesmo grupo da Alemanha, ainda tinha a Espanha, do goleiro Andoni Zubizarreta, Fernando Hierro, Pep Guardiola e Luis Enrique.

Até a fraca Bolívia tinha Julio César Baldivieso, Erwin “Platini” Sánchez e Marco “El Diablo” Etcheverry.

A Colômbia era a favorita para Pelé. Depois de enfiar 5 a 0 na Argentina em pleno Monumental de Núñez nas eliminatórias, o mundo inteiro ficou esperando mais de jogadores como Carlos “El Pibe” Valderrama, Freddy Rincón, Faustino Asprilla, Adolfo Valencia, Iván Valenciano, Antony de Ávila, Víctor Aristizábal. Mas o que vimos foi Andrés Escobar fazer um gol contra e ser tristemente assassinado. Cabe ressaltar que René Higuita – o goleiro espetáculo, desfalcou sua seleção por ter sido acusado de ter participado de um sequestro e acabou ficando preso por seis meses, em 1993. Depois ele seria inocentado pela justiça, mas ficou fora da Copa.

A Rússia veio toda remendada, com um amontoado de jogadores nascidos em outros países da União Soviética. Mas seis de seus melhores atletas não gostavam dos métodos do técnico Pavel Sadyrin e fizeram boicote, ficando fora do Mundial.

Camarões tinham encantado em 1990, mas fizeram feio em 1994, mesmo com uma seleção ainda mais forte.

A surpresa africana ficou por conta da Nigéria, que disputava sua primeira Copa. Foi lá que ouvimos pela primeira vez os nomes de Rashid Yekini, Sunday Oliseh, Finidi George, Augustine “Jay-Jay” Okocha, Victor Ikpeba, Emmanuel Amunike e Daniel Amokachi. Ficou em primeiro lugar do Grupo D, que tinha a poderosa Argentina.

A Argentina é um capítulo a parte. Se a ridícula seleção de 1990 chegou na final, imagina o que poderiam fazer em 1994?! Diego Maradona continuava tendo a companhia de Sergio Goycochea, Claudio “El Pájaro” Caniggia, José Basualdo, mas agora tinha também Gabriel Batistuta – o “Batigol”, Fernando Redondo – genial, Diego Simeone – que jogava demais, além do jovem Ariel Ortega. Mas tudo ruiu com o doping de Maradona. Sem ele, caiu nas oitavas de final em um jogaço diante da Romênia, do maestro Gheorghe Hagi, Ilie Dumitrescu, Gheorghe Popescu e do goleiro Florin Prunea.


(Imagem: Pinterest)

A Irlanda tinha um time limitado, mas chegou a vencer a Itália na estreia. No mesmo grupo tinha a Noruega e o México, do goleiro baixinho e espalhafatoso Jorge Campos e do veterano Hugo Sánchez.

No Grupo F, Arábia Saudita contou com um golaço de Saeed Al-Owairan para vencer a Bélgica por 1 x 0. Bélgica que tinha o fantástico goleiro Michel Preud’homme – o melhor da Copa, além de Marc Wilmots, Enzo Scifo e Luc Nilis, que seria parceiro de Ronaldo no PSV.

A líder desse grupo foi a Holanda, que já não contava com Ruud Gullit e Marco Van Basten, mas ainda tinha Frank Rijkaard e Ronald Koeman (novo técnico do Barcelona), além de talentos como os irmãos Frank e Ronald de Boer, o arisco ponta Marc Overmars e o genial Dennis Bergkamp.

● A Seleção Brasileira sempre foi cobrada para jogar bonito e criticada quando isso não acontecia. E em 1994, muitos dizem que era um futebol burocrático, que dava sono. Mas devemos confessar que sentimos muita saudade daquele nosso futebol.

Taffarel era criticado, chamado de frangueiro, mas na “hora H” foi fundamental e um dos esteios do time.

Os cruzamentos de Jorginho eram certeiros, assim como as “bombas santas” de Branco.

Aldair e Márcio Santos a dupla de zaga reserva, que o destino fez se tornar titular e incontestável durante o torneio.

Mauro Silva era um grande volante, o pilar defensivo e ainda quase fez o gol do título, em uma bola que o goleiro Pagliuca deixou escapar e parou na trave.

Muitos criticam Dunga, mas o capitão marcava bem e era muito bom na saída de bola e nos passes em profundidade, com uma excelente visão de jogo. Basta ver um jogo completo de Dunga na Copa de 1994 para parar de criticar.


(Imagem: Pinterest)

Zinho era o mais criticado. Enceradeira, jogador de passes laterais… mas fundamental para que a seleção não rifasse a bola. Era ele o responsável pelo equilíbrio do time. Só depois, ao vê-lo jogar no Palmeiras, eu fui entender isso. Ele era bom. Sacrificou seu talento para fazer o que o time precisava.

Raí não estava em boa fase e perdeu o lugar no time. Com a visão e conhecimento de futebol que eu tenho hoje, eu teria colocado Paulo Sérgio ou até Müller em seu lugar. Mas o pragmático Parreira colocou Mazinho, que deu conta do recado e foi muito bem.

Bebeto não era apenas o coadjuvante de Romário. Em seu auge, Bebeto foi um dos melhores atacantes do mundo. Foi fundamental no título.

Título que só veio com a genialidade de Romário. Nem preciso citar a última partida das Eliminatórias. Quem viu o “Baixinho” jogar apenas no fim da carreira, viu um centroavante de área, que ficava parado esperando a bola para tocar para o gol. Mas, no auge de seus 28 anos, Romário era o melhor jogador do mundo. E tratou se mostrar isso naquela Copa. Tinha velocidade, habilidade, faro de gol e não era fominha. Sem ele, muito provavelmente o Brasil não teria conquistado o título.


(Imagem: Globo)

● Era lindo ver a Seleção Brasileira entrando de mãos dadas.

Na primeira partida, vitória sobre a Rússia por 2 x 0, com gols de Romário e Raí.

Depois, 3 x 0 sobre Camarões. Gols de Romário, Márcio Santos e Bebeto.

Na terceira partida, com a Seleção já classificada, empate em 1 x 1 contra a ótima Suécia, do goleiro Thomas Ravelli, Patrik Andersson, do cabeludo Larsson, de Dahlin, Ingesson, Thomas Brolin e Kennet Andersson. E foi justamente ele, o gigante Kennet Andersson, quem usou sua habilidade para abrir o placar encobrindo Taffarel. E eu, um menino de oito anos, que nunca tinha visto o Brasil sair atrás do placar em uma Copa, caí no choro. Mas Romário, tratou de empatar a partida e devolver meu sorriso.

Nas oitavas de final, o Brasil enfrentou os Estados Unidos no território americano e em pleno Dia da Independência, 04 de julho. A torcida, que sempre era verde e amarela, mudou de lado e os gritos de “USA” chegaram a me assustar. Leonardo tratou de piorar as coisas ao ser expulso por dar uma cotovelada estúpida em Tab Ramos. Mas Romário, sempre ele, tratou de fazer uma jogada genial e serviu para Bebeto fazer o único gol do jogo, a menos de 20 minutos do fim. Caía os donos da casa e suas figuras folclóricas, como o goleiro Tony Meola e os zagueiros Marcelo Balboa e Alexi Lalas.

Nas quartas de final, 3 x 2 sobre a Holanda. Romário abriu o placar em um sem-pulo e Bebeto ampliou após driblar o goleiro, tocar para a rede e comemorar no ritmo de “embala Mattheus”, junto com Romário e Mazinho. Aron Winter e Dennis Bergkamp empataram em dois raros vacilos defensivos do Brasil. E o gol da vitória veio de um personagem emblemático. Branco teve sua convocação criticada, foi mantido pela equipe médica mesmo estando lesionado e foi fundamental naquela partida. Além de parar Marc Overmars, ele cavou a falta no fim do jogo e bateu com perfeição. Era o gol “cala a boca” para mostrar aos críticos que ainda podia ser importante em sua terceira Copa.

Na semifinal, o Brasil perdeu várias chances de matar o jogo e sofreu para vencer a Suécia por 1 a 0. Cruzamento perfeito de Jorginho e gol de… adivinha de quem? Romário. O “Baixinho” apareceu entre os gigantes suecos e fez o gol da vitória.


(Imagem: FIFA)

Na final, a Itália de Paolo Maldini, Franco Baresi, Dino Baggio e dele… Roberto Baggio… um dos melhores jogadores que já vi. O craque perfeito, responsável por cinco dos seis gols italianos na fase de mata-mata. Um gênio.

Quem nunca viu essa partida na íntegra, aconselho a ver. Foi um baita jogo, com chances dos dois lados. Duas grandes seleções. Mas que não saíram do zero. Pela primeira vez não houve gol em uma final de Copa. Pela primeira vez, o campeão foi decidido nos pênaltis.

No começo do jogo eu cantei a pedra: o jogo vai pros pênaltis. Eu tinha ficado tão encantado com os pênaltis entre Suécia e Romênia, que eu queria mais. E foi atendido pelos deuses do futebol.

Baresi, que voltava de uma artroscopia feita durante a Copa e marcou Romário por 120 minutos de forma limpa e perfeita, começou chutando para o alto.

Márcio Santos, melhor cobrador brasileiro nos treinos, bateu mal e Pagliuca pegou.

Demetrio Albertini mandou a primeira bola na rede.

Romário, que até então não gostava de bater pênalti, converteu.

Alberigo Evani também fez e Branco empatou.

Daniele Massaro bateu e Taffarel pegou.

Dunga bateu com perfeição e comemorou com raiva.

Roberto Baggio, o gênio, que em sua longa carreira bateu 159 pênaltis e converteu 141 e perdeu apenas 18 (incríveis 89% de aproveitamento), com certeza faria o gol. Mas poucos se lembram que ele foi substituído por lesão no meio do segundo tempo da semifinal diante da Bulgária. Ele jogou contra o Brasil no sacrifício, com uma proteção na coxa. E Baggio bateu o pênalti lá na lua.

Nocaute Jack dava cambalhota, o menino Ronaldo se abraçava aos demais, Zagallo era campeão de novo, os atletas com a faixa homenageando Ayrton Senna, Dunga levantando a taça e xingando meio mundo e Galvão Bueno se abraçando a Pelé e gritando “É Tetra! É Tetra!”

Foi nessa época, nessa Copa, que o vírus do futebol me pegou definitivamente. O resto é história.


(Imagem: IFDB)

Hoje completamos quatro anos do blog. Agradecemos demais a sua companhia nesse tempo e que venham vários anos.

“Três pontos: paixão com conteúdo.”

… 12/07/1966 – Brasil 2 x 0 Bulgária

Três pontos sobre…
… 12/07/1966 – Brasil 2 x 0 Bulgária


(Imagem: Pinterest)

● No país do futebol, a desordem imperava. Os cartolas estavam convencidos de que o futebol que o Brasil jogava era imbatível. João Havelange, presidente da CBD, foi também o chefe da delegação brasileira na Inglaterra. Ele depôs o antigo dono da função, o Dr. Paulo Machado de Carvalho, por divergências sobre a escolha do técnico da Seleção. Enquanto o Dr. Paulo queria manter Aymoré Moreira, técnico de 1962, Havelange bateu o pé que deveria ser Vicente Feola, treinador em 1958. E Havelange resolveu sozinho.

Feola era mais influenciável e, sem o escudo do Dr. Paulo, o técnico perdeu a autoridade e sofreu pressão para agradar ao máximo os dirigentes dos times brasileiros, com a política de apadrinhamento dos jogadores. Ao todo, foram 47 convocados de quinze clubes diferentes para os treinos preparatórios. Isso mesmo: mais de quatro times completos! Havia tantos jogadores que o Brasil chegou a realizar dois amistosos no mesmo dia, em 08 de junho (vitórias por 3 x 1 sobre Peru e 2 x 1 sobre a Polônia).

Essa convocação foi tão ridícula, que, em certo momento, um dirigente da CBD ponderou que havia pouca gente do Corinthians. Então outro cartola sugeriu o nome do zagueiro Ditão. Mas na hora de datilografar a lista oficial, era necessário o nome completo do jogador e ninguém sabia. Perguntaram a um jornalista que, sem saber o que estava se passando, forneceu o nome de Ditão do Flamengo, que também era zagueiro e era irmão do corintiano. Sem saber o que fazer e para não piorar mais as coisas, a comissão técnica preferiu manter o Ditão do Flamengo mesmo.

A convocação inicial anunciada pela CBD em 10 de maio tinha 45 jogadores: os goleiros Gylmar (Santos), Manga (Botafogo), Valdir de Moraes (Palmeiras), Ubirajara (Bangu) e Fábio (São Paulo); os laterais Djalma Santos (Palmeiras), Fidélis (Bangu), Carlos Alberto Torres (Santos), Murilo (Flamengo), Paulo Henrique (Flamengo), Rildo (Botafogo) e Edson Cegonha (Corinthians); os zagueiros Bellini (São Paulo), Orlando Peçanha (Santos), Altair (Fluminense), Brito (Vasco), Djalma Dias (Palmeiras), Roberto Dias (São Paulo), Fontana (Vasco), Leônidas (América-RJ) e Ditão (Flamengo); os meio-campistas Denílson (Fluminense), Lima (Santos), Gérson (Botafogo), Zito (Santos), Dino Sani (Corinthians), Dudu (Palmeiras), Fefeu (São Paulo) e Oldair (Vasco); e os atacantes Garrincha (Corinthians), Jairzinho (Botafogo), Alcindo (Grêmio), Silva Batuta (Flamengo), Tostão (Cruzeiro), Pelé (Santos), Edu (Santos), Paraná (São Paulo), Servílio (Palmeiras), Flávio Minuano (Corinthians), Ivair (Portuguesa), Paulo Borges (Bangu), Nado (Náutico), Célio (Vasco), Parada (Botafogo) e Rinaldo (Palmeiras).

Posteriormente, esse número inchou ainda mais com dois outros nomes. Pela primeira vez foram convocados jogadores que atuavam no exterior: o ponta direita Jair da Costa, da Inter de Milão, e o ponta de lança Amarildo, do Milan. Ambos estavam no elenco campeão mundial em 1962.

Os atletas foram divididos em quatro times: branco, azul, verde e grená. Mas não havia nenhuma regra. Eles treinavam juntos, mas nos amistosos eram todos misturados. Devido à pouca transparência da comissão técnica, havia uma alta carga de tensão entre os jogadores nos treinos coletivos, pois mais da metade deles seriam cortados às vésperas do Mundial.

A primeira lista de dispensa saiu dia 16 de junho, com 19 nomes. O corte mais criticado foi o do lateral direito Carlos Alberto Torres. Para sua posição, acabaram viajando o veterano Djalma Santos e Fidélis – jogador muito limitado, mas que jogava no Bangu, time do supervisor Carlos Nascimento.

Já na Europa, os últimos cinco cortes aconteceram onze dias antes da estreia: o goleiro Valdir, o zagueiro Fontana, o volante Dino Sani e os atacantes Amarildo e Servílio – sendo que Servílio vinha se mostrando a melhor opção para fazer dupla com Pelé. Zito viajou mesmo lesionado e praticamente sem chances de entrar em campo. “Carlos Alberto e Djalma Dias colocariam no bolso três ou quatro dos preferidos para a inscrição na FIFA”, disse Dino Sani.


(Imagem: Pinterest)

Mas a ordem era clara: a CBD planejava fazer o maior número possível de tricampeões. Gylmar (prestes a completar 36 anos), Djalma Santos (37), Bellini (36), Orlando (31), Zito (quase 34) e Garrincha (quase 33). Aquela geração de craques estava no ocaso de suas carreiras e era preciso renovar. Não foi feito um planejamento para essa transição. Dos bicampeões, só Pelé era mais jovem, com 25 anos. Em compensação, craques inexperientes faziam o contrapeso aos mais idosos. Tostão tinha 19 anos e Edu, ponta esquerda do Santos, tinha 16 – ele é até hoje o mais jovem a ser convocado pela Seleção Brasileira para uma Copa do Mundo, mas não chegou a entrar em campo na Inglaterra.

Se a preparação para 1958 e 1962 foi pautada pelo sossego de cidades aconchegantes, em 1966 foi completamente ao contrário. A Seleção que seria tricampeã precisava ser exibida e treinou em oito cidades diferentes: Lambari, Caxambu, Três Rios, Teresópolis, Niterói, Amparo, Campinas e Serra Negra. Depois disso, ainda fez amistosos em um tour de duas semanas na Europa.

Outra das principais críticas se devia à preparação física. Rudolf Hermanny era responsável, mas não tinha nenhuma experiência no futebol. Seu foco e conhecimento era o condicionamento de atletas de judô, o que acabou comprometendo a equipe brasileira. Com a metodologia de Hermanny, os jogadores ficavam desgastados mais rapidamente e sem fôlego ainda no primeiro tempo.

Soberba, a imprensa brasileira ignorava os problemas. Até que no dia 07 de julho, o jornal gaúcho Correio do Povo publicou reportagens bastante pessimistas sobre o destino da Seleção na Copa, alertando para a presença de jogadores sem preparo físico ou psicológico para a disputa de um Mundial. “Se os brasileiros encararem a realidade, vão perceber que o tricampeonato só virá por milagre”, disse Ernesto Santos, um dos grandes estudiosos de futebol da história do país e olheiro da Seleção.

Antes da Copa, um jornalista disse a Pelé que os Beatles adoravam futebol e queriam fazer um show exclusivo para os jogadores brasileiros. Pelé foi conversar com Feola e Nascimento, mas o supervisor técnico foi logo negando: “O que, aqueles garotos cabeludos? Olha, vocês, rapazes, estão aqui para jogar futebol, não para ouvir rock n’roll. Não vou permitir”.


Ambas as equipes jogavam no sistema 4-2-4.

● Os onze jogadores que entraram em campo naquele dia, no estádio Goodson Park, nunca haviam jogado juntos. Jairzinho nunca tinha jogado na ponta esquerda e ocupava essa posição, para Garrincha se manter na ponta direita. A faixa de capitão foi devolvida a Bellini. Mas a principal mudança era tática. Nas duas Copas anteriores, a Seleção se acostumou com o recuo voluntário do ponta esquerda Zagallo para auxiliar na marcação. Mas agora, o Brasil jogava com quatro atacantes de ofício, sobrecarregando o trabalho de Denílson, único volante marcador. O coringa Lima era coadjuvante no grande time do Santos, mas não tinha características de ser o cérebro do time, como foi escalado para ser diante da Bulgária.

Garrincha estava em um declínio físico acentuado e era titular apenas pelo nome. Para a comissão técnica brasileira, os adversários seriam levados a acreditar que precisariam de dois ou três para marcá-lo, abrindo espaço para os demais atacantes.

Depois da contusão que o tirou da maior parte da Copa de 1962, Pelé estava disposto a mostrar que ainda era o “Rei do Futebol”.

O técnico da Bulgária era o austríaco-tcheco Rudolf Vytlačil, que havia conduzido a Tchecoslováquia ao vice-campeonato em 1962. Ele sabia que não poderia das espaços para o Brasil. Por isso, ele entrou com um time mais defensivo e agressivo na marcação – no pior sentido da palavra. Desde o primeiro minuto ele deixou claro que seu time faria de tudo para afastar Pelé da área.

Aos 14′, Jairzinho dominou na ponta esquerda e tocou para o Rei, que foi derrubado por Dimitar Yakimov na meia-lua. Essa era a quarta falta dos búlgaros, sendo a terceira em Pelé. Ele mesmo ajeitou a bola e aproveitou uma barreira mal formada, com apenas quatro homens, e bateu a falta com força, rasteiro e no canto direito. O goleiro Georgi Naydenov tocou na bola, mas não conseguiu impedir o gol.

Com esse tento, Pelé se tornou o primeiro jogador a marcar gols em três edições de Copa. Oito dias depois, esse feito seria igualado pelo alemão Uwe Seeler.

Foi o primeiro gol da Copa, já que o jogo de abertura entre Inglaterra e Uruguai havia terminado 0 x 0.

O lance deu a falsa impressão de que o Brasil ganharia com facilidade, mas não foi o que aconteceu. O Brasil até criou algumas oportunidades, mas nenhuma tão clara o suficiente para passar algum susto em Naydenov.

Pelé fez ótima jogada pela ponta esquerda, passou como quis por dois marcadores, mas cruzou em cima do arqueiro búlgaro.

Djalma Santos fez o lançamento para o meio, Lima escorou de cabeça e Alcindo, já dentro da área, dominou errado e não conseguiu finalizar.

Logo depois, uma bela tabela entre Dimitar Yakimov e Ivan Kolev é interrompida por um desarme primordial de Denílson.


(Imagem: Efemérides do Efémello)

Pelé cansou de tanto apanhar e entrou com as travas da chuteira sobre Ivan Vutsov. Era lance para expulsão, mas o árbitro alemão Kurt Tschenscher era mesmo um bananão.

Jairzinho tabelou com Pelé, se infiltrou pelo meio da área e bateu cruzado, mas Naydenov defendeu bem.

Mas, no segundo tempo, Dobromir Zhechev deu uma entrada criminosa em Pelé, que o fez ficar fora da partida seguinte, diante da Hungria.

Lima tocou para Alcindo no meio. O Bugre tabelou com Pelé, que devolveu por cima da defesa. O centroavante recebeu batendo, mas Naydenov fez a defesa.

O goleiro Gylmar não precisou fazer nenhuma defesa durante os noventa minutos.

A única chance búlgara foi uma bola recuada de cabeça por Bellini, que escapou das mãos do goleiro brasileiro. Mas o perigoso Georgi Asparuhov não teve paciência para encontrar o melhor ângulo para o chute e finalizou para fora.

Mesmo marcado por três jogadores, Pelé fez boa jogada próximo à meia-lua e a bola sobrou para Alcindo chutar para fora.

O segundo gol do Brasil também saiu de uma bola parada, mostrando que o time não estava tão bem.

Garrincha foi derrubado por trás perto da área, naquela que foi a 17ª falta cometida pelos búlgaros até então. Ele mesmo bateu de trivela e acertou uma bomba, com curva, no ângulo esquerdo do goleiro búlgaro. Seria seu último gol com a camisa canarinho.

Garrincha ainda tinha seus pequenos lances de brilho, mas claramente já não era nem sombra do jogador de quatro anos antes, no Chile. Seus problemáticos joelhos já não permitiam a tradicional arrancada rumo à linha de fundo. Ele acabou por fazer pouco, além do gol.

Próximo ao fim da partida, Pelé recebeu lançamento na intermediária, ele avançou em velocidade, se livrou da marcação e bateu firme, mas Naydenov fez uma defesa sensacional.


(Imagem: Efemérides do Efémello)

● Ninguém poderia prever, mas essa foi a última vez em que Pelé e Garrincha jogariam juntos pela Seleção Brasileira. Coincidentemente, a primeira vez em que eles atuaram junto também foi diante da Bulgária, com vitória por 3 x 0 no estádio Pacaembu, no dia 18/05/1958, em amistoso preparatório para a Copa do Mundo de 1958.

Em 40 partidas, a Seleção Brasileira nunca perdeu com Pelé e Garrincha jogando juntos. Foram 40 jogos, com 36 vitórias e quatro empates. Juntos, eles marcaram 55 gols: 44 de Pelé e 11 de Garrincha. E, mesmo sem Pelé, Garrincha só perderia aquele que seria seu último jogo oficial pela Seleção: a partida seguinte, a derrota por 3 x 1 para a Hungria. Foram 60 jogos de Mané pelo escrete canarinho, com 52 vitórias, sete empates e só essa derrota.

O Brasil se preocupou mais com seu passado do que com a competição que estava por vir. Convocou vários ex-campeões, mas, ao invés de estarem respeitando a história desses craques, os expunham a condições que seus físicos já não mais suportavam. Faltou a humildade e o planejamento que sobrou nas duas Copas anteriores.

As partidas seguintes eram as mais difíceis do grupo e iriam mostrar as deficiências do time de Vicente Ítalo Feola. Foram duas derrotas por 3 x 1, para Hungria e Portugal, respectivamente.

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 0 BULGÁRIA

 

Data: 12/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Goodison Park

Público: 47.308

Cidade: Liverpool (Inglaterra)

Árbitro: Kurt Tschenscher (Alemanha Ocidental)

 

BRASIL (4-2-4):

BULGÁRIA (4-2-4):

1  Gylmar (G)

1  Georgi Naydenov (G)

2  Djalma Santos

2  Aleksandar Shalamanov

4  Bellini (C)

5  Dimitar Penev

6  Altair

3  Ivan Vutsov

8  Paulo Henrique

4  Boris Gaganelov

13 Denílson

6 Dobromir Zhechev

14 Lima

8  Stoyan Kitov

16  Garrincha

7  Dinko Dermendzhiev

18 Alcindo Bugre

9  Georgi Asparuhov

10 Pelé

13 Dimitar Yakimov

17 Jairzinho

11 Ivan Kolev

 

Técnico: Vicente Feola

Técnico: Rudolf Vytlačil

 

SUPLENTES:

 

 

12 Manga (G)

21 Simeon Simeonov (G)

3  Fidélis

22 Ivan Deyanov (G)

5  Brito

18 Evgeni Yanchovski

7  Orlando

19 Vidin Apostolov

9  Rildo

20 Ivan Davidov

15 Zito

12 Vasil Metodiev

11 Gérson

15 Dimitar Largov

22 Edu

17 Stefan Abadzhiev

19 Silva Batuta

10  Petar Zhekov

20 Tostão

14 Nikola Kotkov

21 Paraná

16 Aleksandar Kostov

 

GOLS:

15′ Pelé (BRA)

63′ Garrincha (BRA)

 

ADVERTÊNCIAS:

Dobromir Zhechev (BUL)

Ivan Kolev (BUL)

Denílson (BRA)

Gols e alguns lances da partida:

Lances da partida e comentários do ex-jogador Lima: