… 04/07/1990 – Alemanha Ocidental 1 x 1 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 04/07/1990 – Alemanha Ocidental 1 x 1 Inglaterra


(Imagem: The Guardian)

● Uma das semifinais da Copa do Mundo de 1990 foi um clássico do futebol mundial: Alemanha e Inglaterra.

Na primeira fase, a Alemanha Ocidental foi a primeira do Grupo D com cinco pontos. Começou goleando a Iugoslávia por 4 a 1 e os Emirados Árabes Unidos por 5 a 1. Na última rodada, empatou por 1 x 1 com a Colômbia. Nas oitavas de final, venceu a grande rival Holanda por 2 a 1, em uma verdadeira batalha. Nas quartas, vitória simples por 1 a 0 sobre a Tchecoslováquia.

Pelo Grupo F, a Inglaterra estreou empatando com a Irlanda (1 x 1) e a Holanda (0 x 0). Uma vitória simples (1 x 0) sobre o Egito garantiu o English Team no primeiro lugar da chave. Nas oitavas, um gol de David Platt no último minuto da prorrogação valeu a vitória sobre a Bélgica (1 x 0). Nas quartas, um jogo duríssimo e nova prorrogação para eliminar Camarões, os surpreendentes Leões Indomáveis, em uma vitória por 3 x 2.


O técnico Franz Beckenbauer escalou sua equipe no sistema 3-5-2.


Na teoria, o time escalado por Bobby Robson era um 3-5-2. Mas, na prática, se defendia no 5-4-1, deixando apenas Lineker na frente. Quando atacava, os alas se apresentavam bem, os meias apareciam no ataque e Beardsley e Waddle avançavam como pontas, formando um 3-4-3.

● Nas arquibancadas, algumas bandeiras da Inglaterra, mas várias do Reino Unido. Os hooligans estavam presentes. Assim como a barulhenta torcida alemã.

Logo nos primeiros minutos, Paul Gascoigne pegou o rebote de um escanteio e emendou de esquerda, da entrada da área, exigindo uma ótima defesa de Bodo Illgner, que espalmou para escanteio.

Chris Waddle aproveitou um erro da defesa alemã na saída de bola e, de sua intermediária, tentou surpreender Illgner. A bola tinha o rumo do gol, mas o goleiro se esticou todo e conseguiu espalmar para cima. A bola ainda tocou no travessão antes de sair. O árbitro brasileiro José Roberto Wright já havia marcado falta no início da jogada, mas esse lance foi o mais bonito do jogo.

David Platt abriu com Stuart Pearce na esquerda. Ele chegou cruzando rasteiro de primeira, mas Gary Lineker foi travado pela marcação e não conseguiu finalizar.

Em cobrança de falta da direita, a bola sobrevoou a área germânica e Thomas Berthold cabeceou para trás. A defesa alemã tirou e Gascoigne pegou o rebote e encheu o pé. Mas Illgner segurou sem dar rebote.

A Alemanha respondeu. Olaf Thon chutou de muito longe de perna esquerda, mas o veterano Peter Shilton segurou sem dar rebote.

Peter Beardsley tocou para Waddle, que cruzou para a área. Lineker desviou, Platt aparou na linha de fundo e rolou para trás. Pearce dominou de esquerda, cortou a marcação de Thon e bateu de direita. Mas o inglês foi travado pela marcação e a bola se perdeu pela linha de fundo.

Ainda no primeiro tempo, o técnico Franz Beckenbauer precisou substituir o lesionado Rudi Völler por Karl-Heinz Riedle.

Em cobrança de falta ensaiada na entrada da área, Andreas Brehme rolou para Klaus Augenthaler encher o pé. A bola foi forte e o goleiro Shilton espalmou por cima.


(Imagem: Alambrado)

A Alemanha Ocidental passou a se soltar mais no segundo tempo, lembrando a seleção brilhante do início do torneio. Lothar Matthäus e Thomas Häßler dominam as ações no meio de campo.

Thon avançou, cortou a marcação de Paul Parker e bateu de esquerda. A bola foi fraca e fácil para Shilton.

A Inglaterra respondeu. Gascoigne cobrou falta da esquerda. Pearce desviou na primeira trave e a bola passou assustando Illgner.

O gol da Nationalelf saiu em uma bola parada, aos 15′ do segundo tempo. Häßler avançou pela direita e foi derrubado por um carrinho de Pearce. Na cobrança da falta, Thon rolou para o ambidestro Brehme chutar de esquerda. A bola desviou em Paul Parker (que se adiantou) e encobriu Shilton, que havia saído do gol e estava mal colocado. Alemanha, 1 a 0.

Aos 21′, Häßler saiu para a entrada de Stefan Reuter.

Do lado inglês, o meia atacante Trevor Steven entrou no lugar do zagueiro e capitão Terry Butcher, aos 25′. Foi o último jogo de Butcher com a camisa do English Team.

Pearce – que era um bom ala – avançou em velocidade pela esquerda, passou por um adversário e foi derrubado por Berthold. Falta que Gascoigne rolou para Des Walker. Na hora do chute, ele foi prensado por um alemão. No rebote, a bola sobrou para Steven. Em seu primeiro toque na bola, o camisa 20 chutou de esquerda, mas a bola foi fácil para Illgner.

O English Team conseguiu o empate a dez minutos do fim. Da direita, Parker fez um lançamento longo para a área e Jürgen Kohler não conseguiu cortar. Lineker dominou cortando a marcação de Augenthaler e chutou cruzado de esquerda. A bola foi no pé da trave esquerda de Illgner. Inglaterra 1, Alemanha também 1.

Foi o quarto gol de Lineker no Mundial de 1990. Ele havia sido o artilheiro da Copa de 1986 com seis gols.

A igualdade no placar levou o jogo para a prorrogação.


(Imagem: The Guardian)

Foi o terceiro jogo entre alemães e ingleses em Copas do Mundo que ia para a prorrogação, assim como 1966 (final) e 1970 (quartas de final).

Nos minutos que antecedem ao tempo extra, uma cena inusitada para os dias atuais. Foi engraçado ver Gascoigne torcendo a própria camisa para retirar o suor e deixar a camisa sequinha para a prorrogação.

Brehme cruzou da esquerda, Jürgen Klinsmann cabeceou bem e Shilton espalmou. Uma bola perigosa.

Em uma jogada no meio campo, aos 9′, Gascoigne adiantou demais e deu um carrinho idiota em Berthold. A jogada lhe rendeu um cartão amarelo, que tiraria o inglês de uma eventual final. Era o segundo cartão amarelo de Gazza na competição, o que lhe garantiria uma suspensão na partida seguinte. O intenso meia inglês começou a chorar dentro de campo mesmo.

No finalzinho do primeiro tempo, Steven cruzou da esquerda para a área e a zaga alemã cortou. Lineker ganhou no alto de Berthold e a bola sobrou para Waddle. No lado esquerdo da grande área, o camisa 8 ajeitou e chutou cruzado de esquerda. A bola bateu no pé da trave esquerda.

Guido Buchwald recebeu pouco antes da meia lua, ajeitou a bateu. A bola quicou e passou por Shilton, mas também bateu no pé da trave.

Brehme deu um carrinho por trás em Gascoigne e ele se levantou rápido. Todos esperavam que ele fosse tirar satisfação com o alemão, mas ele só queria recomeçar logo o jogo. A Inglaterra estava ligeiramente melhor. Gazza logo aceitou as desculpas de Brehme (que recebeu o cartão amarelo) e voltaram para o jogo.

No último lance com a bola rolando, Platt cabeceou para o gol após uma cobrança de falta da direita, mas José Roberto Wright anulou o gol por impedimento do inglês.


(Imagem: UOL)

Com tudo igual também na prorrogação, o semifinalista teve que ser decidido nos pênaltis.

Os técnicos se cumprimentam cheios de sorrisos, orgulhosos das exibições de suas respectivas seleções.

O goleiro Dave Beasant, do Chelsea, foi convocado de última hora no lugar de David Seaman, que havia se machucado. Beasant não teve chances no torneio, mas posteriormente o Bobby Robson admitiu que pretendia colocá-lo no lugar de Shilton no último minuto da prorrogação, apenas para a disputa de pênaltis. Shilton tinha 1,83 m de altura e Beasant media dez centímetros a mais. Mas o treinador acabou não fazendo a alteração e manteve o titular.

Lineker bateu firme no canto direito, deslocando Illgner, que caiu para o esquerdo. Inglaterra, 1 a 0.

Brehme bateu com precisão, no canto direito. O goleiro acertou o lado, mas não conseguiu pegar. 1 a 1.

Beardsley bateu no canto esquerdo, no alto, quase no ângulo. Illgner foi no canto certo, mas não pegou. Inglaterra, 2 a 1.

Matthäus bateu com muita força no canto direito e Shilton pouco se mexeu. 2 a 2.

Platt bateu à meia altura no canto direito. Illgner chegou a tocar na bola, mas ela acabou entrando. Inglaterra 3 a 2.

Riedle mandou no ângulo esquerdo. Shilton acertou o canto, mas a cobrança foi bem feita. 3 a 3.

Pearce, o vilão inglês na partida, bateu muito mal. A bola foi rasteira e no meio do gol. Illgner, que caía para seu canto direito, defendeu com as pernas. Ainda 3 a 3.

Thon bateu colocado, no cantinho esquerdo do goleiro. Alemanha 4 a 3.

Waddle tinha que marcar para manter as chances da Inglaterra. Ele tentou acertar o ângulo direito, mas bateu alto e fora do rumo do gol.

Final: Alemanha Ocidental 4 x 3 Inglaterra.


(Imagem: AFP / Globo Esporte)

● Pela quinta vez, a Alemanha estava em uma final de Copa do Mundo – a terceira decisão seguida (1982, 1986 e 1990).

Após a partida, Gary Lineker deu uma declaração que se tornaria histórica e seria repetida inúmeras vezes desde então: O futebol é um esporte muito simples, no qual 22 homens correm atrás da bola, e a Alemanha sempre vence no final.

Com a vitória da Argentina diante da Itália, também nos pênaltis, a final da Copa de 1990 foi a reedição da decisão de 1986. Um pênalti polêmico convertido por Brehme trouxe o terceiro título mundial para os alemães, diante da Argentina de Diego Maradona.

A Inglaterra superou até as próprias expectativas e passou a ser mais respeitada. Na decisão do 3º lugar, perdeu por 2 x 1 para a anfitriã Itália.


(Imagem: Getty Images / Globo Esporte)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 1 x 1 INGLATERRA

 

Data: 04/07/1990

Horário: 20h00 locais

Estádio: Delle Alpi

Público: 62.628

Cidade: Turim (Itália)

Árbitro: José Roberto Wright (Brasil)

 

ALEMANHA
OCIDENTAL (3-5-2):

INGLATERRA (3-6-1):

1  Bodo Illgner (G)

1  Peter Shilton (G)

6  Guido Buchwald

5  Des Walker

5  Klaus Augenthaler

14 Mark Wright

4  Jürgen Kohler

6  Terry Butcher (C)

14 Thomas Berthold

12 Paul Parker

8  Thomas Häßler

17 David Platt

10 Lothar Matthäus (C)

19 Paul Gascoigne

20 Olaf Thon

3  Stuart Pearce

3  Andreas Brehme

8  Chris Waddle

9  Rudi Völler

9  Peter Beardsley

18 Jürgen Klinsmann

10 Gary Lineker

 

Técnico: Franz Beckenbauer

Técnico: Bobby Robson

 

SUPLENTES:

 

 

12 Raimond Aumann (G)

22 Dave Beasant (G)

[22 David Seaman (G)]

22 Andreas Köpke (G)

13 Chris Woods (G)

16 Paul Steiner

2  Gary Stevens

19 Hans Pflügler

15 Tony Dorigo

2  Stefan Reuter

4  Neil Webb

15 Uwe Bein

16 Steve McMahon

21 Günter Hermann

18 Steve Hodge

17 Andreas Möller

7  Bryan Robson

11 Frank Mill

20 Trevor Steven

7  Pierre Littbarski

21 Steve Bull

13 Karl-Heinz Riedle

11 John Barnes

 

GOLS:

60′ Andreas Brehme (ALE)

80′ Gary Lineker (ING)

 

CARTÕES AMARELOS:

66′ Paul Parker (ING)

99′ Paul Gascoigne (ING)

109′ Andreas Brehme (ALE)

 

SUBSTITUIÇÕES:

38′ Rudi Völler (ALE) ↓

Karl-Heinz Riedle (ALE) ↑

 

66′ Thomas Häßler (ALE) ↓

Stefan Reuter (ALE) ↑

 

70′ Terry Butcher (ING) ↓

Trevor Steven (ING) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

ALEMANHA OCIDENTAL 4

INGLATERRA 3

Andreas Brehme (gol, no canto direito de Shilton)

Gary Lineker (gol, no canto direito de Illgner)

Lothar Matthäus (gol, forte, no canto direito)

Peter Beardsley (gol, no ângulo esquerdo)

Karl-Heinz Riedle (gol, no ângulo esquerdo do goleiro inglês)

David Platt (gol, no canto direito do arqueiro alemão)

Olaf Thon (gol, no ângulo esquerdo)

Stuart Pearce (perdeu, no meio do gol e Illgner defendeu com as pernas)

 

Chris Waddle (perdeu, por cima do gol, à direita)

Melhores momentos da partida (Narração de Galvão Bueno):

Decisão por pênaltis (Narração de Silvio Luiz):

Melhores momentos (em inglês):

… 03/07/1974 – Holanda 2 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 03/07/1974 – Holanda 2 x 0 Brasil


(Imagem: World Football Index)

● Depois de 36 anos ausentes dos grandes palcos, a Holanda voltou como protagonista. Com a melhor geração de sua história, os times do país conquistaram a Copa dos Campeões da Europa por quatro anos consecutivos – o Feyenoord em 1970 e o Ajax tricampeão entre 1971 e 1973.

Com uma equipe de grande qualidade técnica e uma revolução tática, o “Carrossel Holandês” massacrou o Uruguai na estreia. O placar baixo (2 x 0) não representou em nada o que foi a partida. No segundo jogo veio o empate sem gols diante da Suécia, em uma tarde sem inspiração. No jogo seguinte, goleada sobre a Bulgária por 4 x 1.

A segunda fase da Copa de 1974 não era composta por oitavas ou quartas de final em partidas eliminatórias (o famoso mata-mata), mas sim uma nova fase de grupos, que classificaria o vencedor para a final. Nessa fase, pelo Grupo A, a Holanda estraçalhou a Argentina em uma goleada por 4 x 0 (que ficou até barata). Depois, venceu a Alemanha Oriental por 2 x 0.

Na última rodada, os holandeses jogavam por um empate contra o Brasil para chegar à sua primeira final de Copa.


(Imagem: Pinterest)

● O Brasil era o atual campeão e queria manter o título. Na caminhada rumo à Copa de 1974, a Seleção Brasileira foi perdendo boa parte dos craques do tricampeonato, como Pelé, Tostão, Gérson, Carlos Alberto e Clodoaldo.

O Brasil começou mal na Copa, com dois empates sem gols, com Iugoslávia e Escócia, respectivamente. A vitória por 3 x 0 sobre o Zaire foi minimamente suficiente para que a Seleção superasse a fraca Escócia apenas no saldo de gols. Na segunda fase, venceu a Alemanha Oriental por 1 x 0 e a Argentina por 2 x 1, na primeira vez que os dois rivais se enfrentaram em Copas do Mundo.

Brasil e Holanda chegaram à última rodada do grupo com duas vitórias, mas de forma bem diferente. Enquanto o escrete canarinho vencia jogando aquém de suas possibilidades, a “Laranja Mecânica” brilhava e encantava o mundo.

Os jogadores brasileiros não tinham nenhum conhecimento sobre a seleção holandesa. Não sabiam que o revolucionário time de Rinus Michels atacava e marcava em bloco. “Nós fomos jogar contra a Holanda sem ter visto nenhum jogo”, disse Marinho Peres em 2011, em entrevista ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas. “Não é como hoje, que você fala: ‘Olha, eles apoiam mais pela direita, pela esquerda, fazem linha de impedimento’. Quer dizer, não se sabia nada.”

O preparador físico Paulo Amaral foi olheiro de Zagallo em 1974 e tinha como missão identificar como jogavam os adversários brasileiros. Ao assistir o jogo entre holandeses e argentinos, ele identificou dois fatores preponderantes: 1. a marcação argentina foi feita de forma individual e a movimentação dos holandeses deixou a defesa albiceleste desguarnecida; 2. os deslocamentos do holandeses foram tantos que era impossível identificar as variações.

Zagallo optou por manter Paulo Cézar Caju como titular, mesmo escalando Dirceu. Ambos jogavam na mesma posição – um ponta esquerda que recua ou um meia esquerda que avança. O treinador brasileiro descartou Edu, ponta veloz e bastante agudo que poderia aproveitar os espaços deixados pelo lateral direito holandês Wim Suurbier.


Devido à alta rotação de posições, é quase impossível definir o “Futebol Total” do “Carrossel Holandês”, mas teoricamente era um 4-3-3.


O Brasil de Zagallo jogou no 4-3-3.

● O Brasil sempre se destacou pelo futebol técnico, habilidoso e leal. A Holanda de 1974 brilhava pelo futebol ofensivo, com muita movimentação. Assim, o encontro entre essas duas equipes tinha tudo para ser um espetáculo dos dois times. Mas aconteceu justamente o contrário.

Aos 4′, Zé Maria deu uma solada violenta em Cruijff. A Holanda respondeu com Johnny Rep revidando no mesmo Zé Maria.

No minuto seguinte, em menos de 20 segundos, três entradas horríveis: uma sola com os dois pés de Zé Maria, uma pegada e Carpegiani no tornozelo de Johnny Rep e duas entradas feias por trás de Luís Pereira em Willem van Hanegem.

Johnny Rep cruzou da ponta direita. Luís Pereira subiu, mas não afastou. A bola bateu em Zé Maria e sobrou para Johan Cruijff. Ele emendou de esquerda e Leão defendeu à queima roupa. Segundo Cruijff, essa foi a maior defesa que ele já viu. Uma das maiores defesas de todas as Copas.

Valdomiro deu um chapéu longo em Arie Haan e se desequilibrou ao entrar na área. O goleiro Jan Jongbloed já saía para abafar o lance. Na sobra, Ruud Krol dominou a bola e saiu com tranquilidade.

Aos 16′, Marinho Peres salvou o Brasil de sofrer o primeiro gol, quando sete holandeses estavam dentro da área brasileira.

O Brasil equilibrou um pouco as ações a partir dos 20 minutos. Rivellino recuou para armar e lançar. Paulo Cézar se mexeu mais, buscando o lado esquerdo – sempre com Van Hanegem na cola dele.

Foi Caju quem perdeu a melhor oportunidade do escrete canarinho, ao chutar em cima de Jongbloed quando estava cara a cara com o goleiro.

Aos 28′, Jairzinho prendeu demais a bola e perdeu. Wim Jansen tocou na esquerda para Rob Rensenbrink. Ele deixou mais atrás novamente para Jansen, que viu a infiltração de Wim Suurbier na ponta esquerda, nas costas da zaga. Ele chegou chutando, mas Leão espalmou. Luís Pereira dominou o rebote, mas Suurbier chegou de carrinho e o atingiu no tornozelo. Luís Pereira, Rivelino, Marinho Peres e Valdomiro foram para cima do holandês.

Wim Jansen avançou em velocidade e o capitão Marinho Peres colocou o corpo na frente para impedir a progressão do holandês.

O jogo estava pegado. Os brasileiros pareciam nervosos e os holandeses respondiam na mesma moeda.

O primeiro tempo terminou sem gols. O jogo estava igual, tanto na bola quanto na pancadaria.

Mas a Holanda tratou de mudar isso logo aos cinco minutos do segundo tempo.


(Imagem: Jornalheiros)

Próximo ao círculo central, Willem van Hanegem bateu falta rápida para Johan Neeskens já na intermediária ofensiva e ele abriu para Johan Cruijff na direita. O camisa 14 apareceu nas costas de Marinho Chagas (a “Avenida Marinho Chagas”), dominou e cruzou rasteiro na marca do pênalti, onde o camisa 13 se infiltrava. Neeskens se antecipou à zaga brasileira e acertou um voleio que encobriu Leão.

O empate classificava a Holanda para a decisão. O Brasil precisava atacar em busca da virada.

Claramente, a Holanda tinha o ataque como seu ponto mais forte. Mas, defensivamente, o time também era muito seguro. Havia sofrido apenas um gol em toda a Copa até então.

Dirceu recuava demais. Rivellino estava muito atrás, sem poder explorar seus chutes de longe.

Aos 14′, Zagallo tirou Paulo Cézar e escalou Mirandinha no comando de ataque, com Jairzinho jogando mais recuado.

Aos 17′, Luís Pereira teve sua segunda investida no ataque e tinha chance de fazer o gol, mas o árbitro se antecipou e marcou impedimento inexistente, em lance que seria do bandeirinha.

Aos 20′, Wim Jansen abriu para Ruud Krol na esquerda. Ele tabelou com Rob Rensenbrink, recebeu na frente e cruzou para o centro da área. Johan Cruijff apareceu na primeira trave e desviou a bola para o canto direito de Emerson Leão. Foi o terceiro gol de Cruijff na Copa. De forma desplicente, os brasileiros pararam no início da jogada pedindo impedimento de Rensenbrink.

A Holanda estava muito perto de quebrar uma invencibilidade de 19 jogos da Seleção Brasileira.

A partir daí o Brasil virou uma bagunça. Luís Pereira se mandou de vez, Marinho Chagas nem voltava mais, Carpegiani estava sobrecarregado pela marcação no meio…

Aos 22′, Michels teve que tirar Rob Rensenbrink, que sentiu a coxa direita.

Marinho Chagas avançou pela esquerda e foi derrubado por Wim Suurbier. Ao cair, o brasileiro deixou a sola da chuteira no rosto do holandês. A sorte foi que o árbitro alemão Kurt Tschenscher não viu o lance. E enquanto o juiz falava com Marinho Chagas, Valdomiro deu um chute por trás em Ruud Krol. O escrete canarinho estava tenso e começava a perder a mão.


(Imagem: Twitter @OldFootball11)

Jairzinho deu um “chega pra lá” sem bola em Wim Jansen. Na sequência do lance, Johan Neeskens devolveu na mesma moeda em Rivellino. O camisa 10 do Brasil seguiu com a bola, mas foi derrubado por Arie Haan. Uma sequência de lances muito violentos. Se tirassem a bola, os jogadores nem perceberiam. Só estavam preocupados em se atacarem mutuamente.

Sem bola, Johnny Rep deu uma cotovelada feia em Rivellino, que estava na marcação do holandês.

Rep cruzou da esquerda. Luís Pereira se antecipou a Cruijff e tentou fazer o que fazia bem com a camisa do Palmeiras. O Luís Chevrolet arrancou, deixou Neeskens no chão depois de um carrinho malsucedido, passou pela linha do meio de campo, deixou com Rivellino e se mandou para a área. Riva abriu com Valdomiro na direita, que cruzou. A bola passou por Jairzinho, bateu em Haan e sobrou na entrada da área. Marinho Chagas dominou de chaleira já tocando para a frente, mas adiantou demais. Jongbloed saiu e se atrapalhou, quase perdendo a bola, mas caiu no chão e ficou com ela.

Lamentavelmente, os brasileiros perderam a cabeça. A seis minutos do apito final, Neeskens carregou a bola pelo lado esquerdo e Luís Pereira deu uma voadora no holandês. Foi expulso diretamente.

Se o árbitro não fosse um “bananão” e fosse mais rigoroso, o cartão vermelho teria sido mostrado mais vezes. Muita gente fez por merecê-lo: Willem van Hanegem, Rivellino, Suurbier, Cruijff, Rep, Valdomiro, Zé Maria e Marinho Chagas.

Luís Pereira saiu de campo apoiado por Jairzinho, Rivellino e Marinho Peres. Vaiado pela torcida alemã, o zagueiro fez o sinal de “3” com os dedos, fazendo todos lembrarem dos três títulos de Copa do Mundo da Seleção Brasileira. Uma cena melancólica que marcou a eliminação brasileira.

Com a vitória, a Holanda se classificou pela primeira vez para uma final de Copa do Mundo.


(Imagem: Alamy)

● A Holanda se tornou a única seleção a vencer os três gigantes sul-americanos em uma mesma edição de Copa: Uruguai, Argentina e Brasil.

“Foi nosso jogo mais difícil. Estávamos com medo dos brasileiros nos primeiros 15 minutos. Depois fizemos nossa partida.” ― Johan Cruijff

“Eles aqueceram do nosso lado. Víamos a preocupação com nosso time antes do jogo. Estavam com medo e demoraram quase um tempo para se assentar no jogo.” ― Émerson Leão

“Até esta partida, o símbolo do jogo bonito era o Brasil. Tudo mudou depois: os brasileiros bateram mais que os argentinos. Aliás, eles foram piores que os uruguaios.” ― Johan Neeskens

“O Zagallo foi vê-los jogar e voltou preocupado demais. Não deixou transparecer, mas nós ficamos sabendo.” ― Paulo César Carpegiani

“A Holanda era um puta time. Eu não conhecia e ninguém conhecia. Se a gente tivesse enfrentado a Holanda no primeiro jogo, estaríamos ferrados, como aconteceu com o Uruguai. Era um futebol totalmente diferente. Só fomos ver na Copa. Eu não sabia como eles jogavam, não conhecia o Cruyff, fui conhecer na Copa. Eu me perguntava: ‘Quem é esse cara? Como joga!’. O time girava em torno dele. Pegaram o Ajax e adaptaram à seleção. Merecia ser campeã, apesar do grande time da Alemanha. Diziam que a Alemanha perdeu da Alemanha Oriental para não pegar o Brasil. Mesmo assim, fizemos um bom jogo. Colocaram a partida num campo pequeno, apertado, em Hannover [Nota჻ O jogo foi em Dortmund, não em Hannover, como afirmou Rivellino.] Jogamos de igual para igual no primeiro tempo, perdemos duas grandes chances e, depois que a Holanda fez 1 a 0, nosso time se perdeu. Quarto lugar foi bom pra gente. Alemanha, Holanda e Polônia tinham belos times. Não adiantava apenas ter grandes jogadores. Em 1970, treinamos dois meses com o time que jogou a Copa, em Guanajuato. Em 1974, houve uma mudança, uma aposta em jogadores que não estavam bem.”Roberto Rivellino, em sua biografia contada pelo jornalista Maurício Noriega.

Anteriormente, Zagallo já havia qualificado a seleção de Rinus Michels de forma depreciativa, como dona de um “futebol alegrinho”. Antes da partida, Zagalo provocou: “A Holanda é muito tico-tico-no-fubá, que nem o América dos anos 50”. Às vésperas da partida, o técnico brasileiro continuou alfinetando, dizendo que os holandeses não tinham tradição em Copas e isso pesava contra eles. “Nós somos tricampeões, eles é que têm que ter medo da gente. A Holanda não me preocupa. Estou pensando na final com a Alemanha.” Após o jogo, Zagallo reconheceu a força dos holandeses: “Perdemos para uma grande equipe”.

O bandeirinha escocês Bob Davidson viu uma agressão de Marinho Peres em Johan Neeskens e não comunicou ao árbitro alemão Kurt Tschenscher. Alguns dias depois, Marinho foi contratado pelo Barcelona e foi recebido no aeroporto por Neeskens, que já atuava pelo clube catalão. O holandês ainda estava com a marca da agressão sofrida. Jogando juntos, os dois logo se tornariam amigos.

Na decisão do 3º lugar, o Brasil perdeu para a Polônia por 1 x 0, terminando em uma decepcionante 4ª colocação geral.

Na final da Copa, a Holanda começou com tudo e abriu o placar logo no primeiro lance. Mas sucumbiu à força da Alemanha Ocidental e levou a virada, perdendo por 2 x 1. Um vice-campeão do mundo tão lembrado quanto (ou até mais que) o próprio campeão, por ousar criar uma nova e encantadora forma de praticar futebol.


(Imagem: Twitter @OldFootball11)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 2 x 0 BRASIL

 

Data: 03/07/1974

Horário: 19h30 locais

Estádio: Westfalenstadion (atual Signal Iduna Park)

Público: 53.700

Cidade: Dortmund (Alemanha Ocidental)

Árbitro: Kurt Tschenscher (Alemanha Ocidental)

 

HOLANDA (4-3-3?):

BRASIL (4-3-3):

8  Jan Jongbloed (G)

1  Leão (G)

20 Wim Suurbier

4  Maria

17 Wim Rijsbergen

2  Luís Pereira

2  Arie Haan

3  Marinho Peres (C)

12 Ruud Krol

6  Marinho Chagas

6  Wim Jansen

17 Paulo César Carpegiani

13 Johan Neeskens

10 Rivellino

3  Willem van Hanegem

11 Paulo Cézar Caju

16 Johnny Rep

13 Valdomiro

14 Johan Cruijff (C)

7  Jairzinho

15 Rob Rensenbrink

21 Dirceu

 

Técnico: Rinus Michels

Técnico: Zagallo

 

SUPLENTES:

 

 

18 Piet Schrijvers (G)

12 Renato (G)

21 Eddy Treijtel (G)

22 Waldir Peres (G)

4  Kees van Ierssel

14 Nelinho

5  Rinus Israël

15 Alfredo Mostarda

19 Pleun Strik

16 Marco Antônio

22 Harry Vos

5  Wilson Piazza

7  Theo de Jong

18 Ademir da Guia

1  Ruud Geels

8  Leivinha

11 Willy van de Kerkhof

20 Edu

10 René van de Kerkhof

19 Mirandinha

9  Piet Keizer

9  César Maluco

 

GOLS:

50′ Johan Neeskens (HOL)

65′ Johan Cruijff (HOL)

 

CARTÕES AMARELOS:

29′ Wim Suurbier (HOL)

29′ Luís Pereira (BRA)

37′ Maria (BRA)

44′ Marinho Peres (BRA)

69′ Johnny Rep (HOL)

 

CARTÃO VERMELHO: 84′ Luís Pereira (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

61′ Paulo Cézar Caju (BRA) ↓

Mirandinha (BRA) ↑

 

67′ Rob Rensenbrink (HOL) ↓

Theo de Jong (HOL) ↑

 

85′ Johan Neeskens (HOL) ↓

Rinus Israël (HOL) ↑

Melhores momentos da partida (Canal 100):

Jogo completo:

… 02/07/2010 – Holanda 2 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 02/07/2010 – Holanda 2 x 1 Brasil


Felipe Melo tirou a bola das mãos de Júlio César no primeiro gol holandês (Imagem: abc.net.au)

● Em campo, eram dois dos favoritos ao título, que chegaram invictas às quartas de final.

Até então, o retrospecto entre Brasil e Holanda era de igualdade. A Holanda venceu em 1974 (2 x 0), o Brasil venceu em 1994 (3 x 2) e houve um empate em 1998 (1 x 1, com vitória brasileira nos pênaltis).

Eram duas das mais tradicionais escolas de futebol, com um estilo historicamente vistoso efetivo. Mas não foi bem isso que elas mostraram na África do Sul.

Treinada pelo ex-capitão Dunga, a Seleção Brasileira jogava à sua imagem e semelhança. Embora tivesse jogadores tecnicamente acima da média, como Kaká e Robinho, a Seleção de 2010 estava mais para uma equipe de operários do que de artistas. Mas inegavelmente era um bom conjunto. O principal mérito do treinador foi dar um padrão tático à equipe, potencializando suas duas armas letais: o contra-ataque e as bolas paradas. Mas o time sofria sofria quando enfrentava retrancas bem montadas.

Júlio César era considerado o melhor goleiro do mundo na época, campeão da UEFA Champions League com a Internazionale na temporada 2009/10. Assim como o lateral Maicon, de muita força física e bom no apoio. O experiente capitão Lúcio também era outro destaque da Inter de Milão e continuava em ótima fase – como nos últimos oito anos. Juan complementava a zaga com muita classe, elegância e eficiência. Uma das surpresas foi Michel Bastos, que era meia no Lyon e jogava na Seleção como lateral esquerdo (sua posição de origem). No meio, Felipe Melo aliava raça, marcação e ótima transição na saída defensiva. Gilberto Silva era a experiência na meia cancha. Daniel Alves estava improvisado na meia direita, substituindo o lesionado Elano. Kaká, melhor jogador do mundo três anos antes, era o grande craque do time, mas chegou à Copa com problemas físicos. Robinho era a habilidade e eficiência, jogando melhor pela Seleção do que nos clubes. Luís Fabiano era a certeza de gols e explosão – no bom e no mau sentido.

No banco, jogadores como o zagueiro Thiago Silva, o lateral esquerdo Gilberto, os meio-campistas Josué, Ramires (que estava suspenso por ter recebido o segundo cartão amarelo contra o Chile) e Júlio Baptista e os atacantes Grafite e Nilmar. E convocações inexplicáveis, como o goleiro Doni e o meia Kléberson – que claramente não era o mesmo de 2002 e muitas vezes ficava na reserva do Flamengo.

Foi uma convocação contestada, embora coerente do ponto de vista do trabalho realizado. As principais ausências – que fomentam discussões até os dias atuais – foram a do atacante Adriano (que havia levado o Flamengo ao título do Brasileirão de 2009) e os jovens Neymar e Paulo Henrique Ganso (destaques em um Santos que encantou o Brasil e seguiria encantando até o ano seguinte).

Um ano antes, o Brasil havia conquistado a Copa das Confederações no sufoco. Depois de uma primeira fase tranquila, venceu a África do Sul nas semifinais com um gol de falta de Daniel Alves a dois minutos do fim. Na decisão, saiu perdendo por 0 x 2 para os Estados Unidos (que eliminaram a poderosa Espanha nas semi), mas conseguiu reverter o placar no segundo tempo para 3 x 2, com um gol do capitão Lúcio nos minutos finais. Antes, em 2007, havia conquistado o título da Copa América com tranquilidade, vencendo a Argentina na final por 3 x 0.

Mas a Seleção chegou nervosa demais à Copa do Mundo. Na primeira partida, o Brasil sofreu demais para vencer a frágil Coreia do Norte por 2 x 1. Na segunda partida, venceu uma guerra contra a Costa do Marfim por 3 x 1 – com lesão séria de Elano e expulsão de Kaká. Na terceira partida, um insípido empate sem gols com Portugal garantiu o primeiro lugar do Grupo G. Nas oitavas de final, vitória fácil sobre o Chile de Marcelo Bielsa por 3 x 0.

Dunga nunca teve uma relação boa com a imprensa, principalmente depois da Copa de 1990. Mas tudo só piorou em 2010. Em entrevista coletiva após a partida contra a Costa do Marfim, o técnico ofendeu o jornalista da Globo Alex Escobar, o chamando de “cagão” e de “merda”. Escobar ficou sem entender o motivo. De acordo com algumas pessoas presentes, Dunga respondia às perguntas quando olhou na direção do jornalista, que falava ao telefone com o apresentador Tadeu Schmidt e balançava a cabeça, o que irritou o treinador. Segundo o jornalista, ele havia balançado a cabeça discordando dos colegas de profissão que pediam a saída de Luís Fabiano do time titular. Dunga não entendeu assim e partiu para a ofensa gratuita.


Robinho fez um belo gol em excelente passe de Felipe Melo (Imagem: UOL)

● A Holanda estava invicta desde 2008, mas o futebol pragmático era alvo de críticas. O técnico Bert van Marwijk fez tudo totalmente diferente do que prega a escola holandesa, cujos maiores símbolos são Rinus Michels e Johan Cruijff. Historicamente a seleção holandesa tinha o sistema tático “4-3-3 à holandesa” quase como uma regra: com uma linha de quatro na defesa, um volante e dois meias armadores, dois pontas bem abertos e velozes e um centroavante goleador. Mas Van Marwij – sogro do volante Mark van Bommel – preferiu mandar seu time a campo no 4-2-3-1, um esquema mais atual, que permitia um maior número de estrelas em campo e potencializava o talento delas – principalmente pela liberdade dada a Sneijder.

A Oranje já não contava mais com Edwin van der Sar e Clarence Seedorf, que ainda jogavam em alto nível, mas haviam aposentado da seleção.

No gol, o gigante Maarten Stekelenburg estava em seu auge. Nas laterais, Gregory van der Wiel compria bem o seu papel e o capitão Gio van Bronckhorst era a experiência e liderança em campo. No miolo de zaga, a impetuosidade de John Heitinga era compensada pela segurança de Joris Mathijsen. Van Bommel era responsável por dar qualidade na saída de bola e era duro na marcação. Nigel de Jong só batia, mas batia bem. Mas o destaque mesmo era o quarteto de ataque. Pela esquerda, o operário-padrão Dirk Kuyt. Na direita, Arjen Robben, toda sua habilidade e sua jogada “manjada” de cortar da direita para o meio – mas que ninguém conseguia marcar. Como armador, Wesley Sneijder, campeão da Champions pela Inter de Milão e, discutivelmente, o melhor jogador do mundo no ano (embora Lionel Messi tenha sido injustamente eleito pela FIFA). No comando de ataque, o habilidoso goleador Robin van Persie.

No banco de reservas, toda a qualidade do meia Rafael van der Vaart e o faro de gol de Klaas-Jan Huntelaar. Curiosamente, Van der Vaart, Sneijder, Robben e Huntelaar jogaram todos juntos no Real Madrid em 2009.

A Oranje estava com 100% de aproveitamento. Pelo Grupo E da primeira fase, venceu Dinamarca (2 x 0), Japão (1 x 0) e Camarões (2 x 1). Nas oitavas, bateu a surpreendente Eslováquia por 2 x 1.


A Holanda não honrou a tradição do 4-3-3. O pragmático técnico Bert van Marwijk preferia o sistema 4-2-3-1, com muita força física no meio campo e o talento de seus quatro homens mais avançados.


O Brasil também jogou no esquema 4-2-3-1. Pela direita, Daniel Alves era mais um meia de recomposição, enquanto Robinho era mais um atacante pela esquerda.

● Eram duas seleções que chegaram invictas nas quartas de final – a Holanda com 100% de aproveitamento. O mínimo que se poderia esperar era um grande jogo. E essa expectativa foi cumprida.

Já no aquecimento, o zagueiro holandês Mathijsen sentiu uma lesão e não foi para o jogo, sendo substituído pelo experiente André Ooijer.

O jogo começou aberto, com os dois times procurando o gol.

O Brasil começou melhor. Chegou a balançar as redes logo aos sete minutos de jogo, quando Luís Fabiano passou para Daniel Alves, que tocou para Robinho marcar. Mas a arbitragem, liderada pelo japonês Yuichi Nishimura, viu corretamente o impedimento de Daniel.

Mas apenas dois minutos depois, a torcida pôde soltar de verdade o grito de gol. Do círculo central, Felipe Melo mostrou sua melhor versão. Com uma visão de jogo impressionante, ele fez um lançamento perfeito em profundidade para Robinho. O camisa 11 surgiu livre por trás da zaga holandesa, em condição legal e, da meia lua, bateu de primeira na saída do goleiro. Um belo gol, não só pela finalização, mas principalmente pela precisão cirúrgica do lançamento rasteiro de 40 metros de Felipe Melo.

No restante do primeiro tempo, os holandeses não conseguiram passar pela marcação defensiva brasileira, enquanto o goleiro Stekelenburg impediu que o Brasil ampliasse a vantagem no marcador.

Mas os holandeses também levaram perigo. Júlio César espalmou para escanteio uma bola chutada de longe por Kuyt.

Aos 24′, a defesa holandesa afastou mal depois de um escanteio, Daniel Alves cruzou à meia altura e Juan finalizou por cima do gol.

Aos 30′, Kaká bateu colocado da intermediária e obrigou Stekelenburg a fazer uma bela defesa. Seria um golaço.

O Brasil dominava o jogo, mas não conseguia ampliar o placar. Os holandeses estavam irritados, pois não conseguiam criar diante da boa marcação brasileira.


Wesley Sneijder fez o primeiro gol de cabeça de sua carreira (Imagem: Flickr)

Mas no intervalo tudo mudou. A Holanda voltou mais organizada e conseguindo passar mais tempo no campo de ataque.

Aos oito minutos, Michel Bastos deu um carrinho violento em Robben. O árbitro foi conivente e não mostrou o segundo cartão amarelo ao lateral brasileiro. Na cobrança dessa falta, Sneijder recebeu e ergueu a bola para a área. Felipe Melo atrapalhou Júlio César ao tentar cortar pelo alto, a bola tocou na cabeça do volante e entrou no canto direito. Faltou comunicação da defesa brasileira. O gol foi inicialmente registrado como gol contra de Felipe Melo, mas a FIFA logo creditaria o gol a Sneijder.

A partir daí, o Brasil se perdeu de vez. Os europeus continuaram com mais volume de jogo, mas não chegaram a dominar a partida, como os sul-americanos fizeram nos primeiros 45 minutos. Mesmo assim, a Oranje estava mais perto da virada.

E ela veio Aos 23′. Robben bateu escanteio da direita, Kuyt desviou na primeira trave e Sneijder (de 1,70 m) não foi incomodado pela marcação de Felipe Melo (1,83 m) e cabeceou no ângulo direito de Júlio César, marcando seu primeiro gol de cabeça na carreira.

E as coisas se inverteram totalmente. A tensão que antes era dos holandeses, passou a ser dos brasileiros, que perderam o controle emocional.

Com medo de ficar com um homem a menos, Dunga já havia trocado o lateral esquerdo, tirando o perdido Michel Bastos para colocar o experiente Gilberto. Mas quem foi expulso foi Felipe Melo. Ele fez uma falta dura em Robben e ainda deu um pisão na perna do holandês. O árbitro japonês estava de olhos abertos e expulsou corretamente o brasileiro.

Felipe Melo foi o maior protagonista da partida, com uma bela assistência, um gol contra, a falha na marcação do segundo gol e a expulsão.

Sem nenhuma estratégia, a Seleção Brasileira partiu para o desespero. Estranhamente, Dunga tirou Luís Fabiano para a entrada de Nilmar, justamente quando precisava de um homem de área para as jogadas aéreas.

E o técnico “morreu” com uma substituição por fazer. A contestada convocação provou mesmo a sua falta de opções, quando o treinador olhou para o banco e não viu ninguém capaz de mudar a partida. “Morreu” pelas suas convicções e gratidão por jogadores comuns como Kléberson, Ramires, Júlio Baptista, Grafite e companhia muito limitada.

Com a desvantagem no placar e no número de homens em campo, o Brasil não resistiu. No fim, ainda escapou de levar pelo menos dois gols em contra-ataques.

Pela segunda Copa do Mundo consecutiva, o Brasil se despedia da competição nas quartas de final.


Felipe Melo deu um pisão irresponsável em Arjen Robben (Imagem: Twitter @Canelada_FC)

● Essa derrota foi apenas a terceira de vidada da Seleção Brasileira em toda a história das Copas. As duas anteriores foram para o Uruguai em 1950 e para a Noruega em 1998, ambas por 2 x 1.

Duas celebridades ficaram em foco nessa partida. A socialite Paris Hilton foi pega fumando maconha dentro do estádio Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth, mas foi liberada depois de prestar depoimento. Mas quem foi condenado pelas redes sociais foi o Rolling Stone Mick Jagger, que ganhou fama de pé frio durante o Mundial. Nos três jogos que ele esteve presente no estádio, os times para os quais ele torcia foram derrotados. No jogo das oitavas de final entre Estados Unidos e Gana, ele sentou nas arquibancadas ao lado do ex-presidente americano Bill Clinton e viu os EUA perderem por 2 x 1. Depois, viu seu país natal, a Inglaterra, perder na mesma fase para a Alemanha por 2 x 1. Para completar de vez a infame fama, ele estava na torcida para o Brasil diante da Holanda, nas quartas de final.

Após a partida, Dunga assumiu a responsabilidade pela derrota brasileira e confirmou que deixaria a Seleção ao término de seu contrato – que havia se iniciado em 2006 e tinha validade de quatro anos.

Bert van Marwijk atacou a Seleção Brasileira, alegando que o pisão de Felipe Melo em Robben o deixou “envergonhado pelo futebol brasileiro”.

Júlio César deu entrevista chorando e dizendo que se sentia culpado pelo primeiro gol sofrido. Ele e Felipe Melo disseram que a comunicação entre ambos foi dificultada por causa do barulho das vuvuzelas – uma corneta utilizada pelos torcedores sul-africanos, que faz parte da cultura do futebol no país desde os anos 1950.

Ainda fora da realidade, Felipe Melo tentou desmentir a imagem da TV dizendo que a falta com pisão em Robben foi lance normal de jogo e que não deveria resultar em expulsão.

Com o cartão vermelho de Felipe Melo, o Brasil se tornou a seleção com maior número de expulsões na história das Copas: 11, à frente da Argentina, com 10.

Nas semifinais, a Holanda eliminou o Uruguai em um jogaço e vitória por 3 x 2. Na decisão, teve as melhores oportunidades, mas não conseguiu aproveitar. Na prorrogação, o gol solitário de Andrés Iniesta garantiu o título para a Espanha. A Holanda se tornava a única seleção três vezes vice-campeã (1974, 1978 e 2010) sem nunca ter conquistado uma Copa do Mundo.


Felipe Melo foi corretamente expulso pelo pisão em Robben (Imagem: UOL)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 2 x 1 BRASIL

 

Data: 02/07/2010

Horário: 16h00 locais

Estádio: Nelson Mandela Bay Stadium

Público: 40.186

Cidade: Port Elizabeth (África do Sul)

Árbitro: Yuichi Nishimura (Japão)

 

HOLANDA (4-2-3-1):

BRASIL (4-2-3-1):

1  Maarten Stekelenburg (G)

1  Júlio César (G)

2  Gregory van der Wiel

2  Maicon

3  John Heitinga

3  Lúcio (C)

13 André Ooijer

4  Juan

5  Giovanni van Bronckhorst (C)

6  Michel Bastos

6  Mark van Bommel

5  Felipe Melo

8  Nigel de Jong

8  Gilberto Silva

11 Arjen Robben

13 Daniel Alves

10 Wesley Sneijder

10 Kaká

7  Dirk Kuyt

11 Robinho

9  Robin van Persie

9  Luís Fabiano

 

Técnico: Bert van Marwijk

Técnico: Dunga

 

SUPLENTES:

 

 

16 Michel Vorm (G)

12 Gomes (G)

22 Sander Boschker (G)

22 Doni (G)

12 Khalid Boulahrouz

14 Luisão

4  Joris Mathijsen

15 Thiago Silva

15 Edson Braafheid

16 Gilberto

14 Demy de Zeeuw

17 Josué

18 Stijn Schaars

20 Kléberson

23 Rafael van der Vaart

18 Ramires

20 Ibrahim Afellay

7  Elano

17 Eljero Elia

19 Júlio Baptista

19 Ryan Babel

21 Nilmar

21 Klaas-Jan Huntelaar

23 Grafite

 

GOLS:

10′ Robinho (BRA)

53′ Wesley Sneijder (HOL)

68′ Wesley Sneijder (HOL)

 

CARTÕES AMARELOS:

14′ John Heitinga (HOL)

37′ Michel Bastos (BRA)

47′ Gregory van der Wiel (HOL)

64′ Nigel de Jong (HOL)

76′ André Ooijer (HOL)

 

CARTÃO VERMELHO:
73′ Felipe Melo (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

62′ Michel Bastos (BRA) ↓

Gilberto (BRA) ↑

 

77′ Luís Fabiano (BRA) ↓

Nilmar (BRA) ↑

 

85′ Robin van Persie (HOL) ↓

Klaas-Jan Huntelaar (HOL) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 01/07/1990 – Inglaterra 3 x 2 Camarões

Três pontos sobre…
… 01/07/1990 – Inglaterra 3 x 2 Camarões

● A seleção de Camarões havia sido uma grande surpresa em 1982, quando debutou na Copa do Mundo e terminou invicta. Oito anos depois, voltava a disputar um Mundial. Quatro eram os atletas remanescentes: os goleiros Thomas N’Kono e Joseph-Antoine Bell, o zagueiro Emmanuel Kundé e o atacante Roger Milla.

Com 38 anos, o “velhinho” Milla havia se retirado da seleção em 1988 e estava à beira da aposentadoria. Mas recebeu um convite do presidente de Camarões, Paul Biya (seu amigo pessoal) e retornou à convocatória dos Leões Indomáveis para disputar o Mundial de 1990. Sem o mesmo fôlego dos garotos, Milla normalmente entrava nas partidas no início do segundo tempo. Ainda sim, anotou quatro gols durante a competição e se tornou um dos destaques da Copa.

Com o objetivo de profissionalizar a seleção, a federação camaronesa montou uma eficiente estrutura, além de trazer o técnico soviético Valery Nepomnyashchy, ex-auxiliar do treinador da URSS Valeriy Lobanovskyi. Apreciador dos métodos de seu mestre, Nepomnyashchy tratou de misturar o talento natural dos africanos a um sistema tático mais rigoroso, mas sem deixar de potencializar a técnica.

Camarões foi líder do difícil e equilibrado Grupo B. Estreou vencendo por 1 x 0 a campeã mundial Argentina, de Diego Maradona. Depois, bateu a Romênia, do maestro Gheorghe Hagi, por 2 x 1. Já classificado, foi goleado por 4 x 0 pela União Soviética, campeã olímpica dois anos antes. A Colômbia foi a adversária nas oitavas de final, em uma partida histórica. Roger Milla fez dois gols na prorrogação, um deles ao roubar a bola do goleiro René Higuita, que tentou sair driblando. O placar de 2 x 1 sobre os cafeteros garantiu Camarões como a primeira seleção africana da história a chegar às quartas de final da Copa do Mundo.

A seleção de Camarões era considerada o “segundo time” de todos os torcedores que assistiram à Copa do Mundo de 1990. Muito por ser novidade, mas mais ainda pelo futebol bonito que havia sido apresentado até então. Os otimistas acreditavam que os africanos pudessem surpreender o bom time da Inglaterra.

Embora jogasse bonito, os africanos também eram muito duros na marcação. Comumente, até apelavam para a violência. Por isso o time tinha quatro importantes desfalques para o duelo diante dos ingleses, todos por terem recebido o segundo cartão amarelo no Mundial: os zagueiros Victor N’Dip e Jules Onana, o volante André Kana-Biyik e o meia Émile Mbouh.

● A seleção inglesa chegava com uma grande invencibilidade pré-Copa – inclusive com uma vitória sobre o Brasil por 1 x 0. O experiente técnico Bobby Robson soube montar um time que acabou com a histórica desconfiança dos torcedores e era considerado um dos favoritos ao título.

Gary Lineker continuava sendo o responsável pelos gols, mas o grande queridinho da torcida era o meia Paul Gascoigne. Com tamanha elegância em campo, ele nem parecia um inglês. Mas Gazza não agradava totalmente ao técnico por usa indisciplina tática, embora compensasse com o seu talento. Ambos demonstravam na seleção o entrosamento que adquiriram jogando juntos no Tottenham.

Outro destaque era o meia driblador Chris Waddle, que atravessava excelente fase no Olympique de Marselha. A experiência em campo vinha do ótimo goleiro Peter Shilton e seus 40 anos. A surpresa na convocação foi o explosivo atacante Steve Bull, artilheiro do Wolverhampton, que estava na terceira divisão inglesa na época. A grande ausência era o capitão Bryan Robson, que ainda não havia se recuperado totalmente de uma cirurgia de hérnia.

Pelo Grupo F, a Inglaterra estreou empatando com a Irlanda (1 x 1) e a Holanda (0 x 0). Uma vitória simples (1 x 0) sobre o Egito garantiu o English Team no primeiro lugar da chave. Nas oitavas de final, um gol de David Platt no último minuto da prorrogação valeu a vitória sobre a Bélgica (1 x 0).

O English Team se preparou para as oitavas de final sabendo o perigo que corria ao enfrentar os fortes e arrojados camaroneses.


Na teoria, o time escalado por Bobby Robson era um 3-5-2. Mas, na prática, se defendia no 5-4-1, deixando apenas Lineker na frente. Quando atacava, os alas se apresentavam bem, os meias apareciam no ataque e Barnes e Waddle avançavam como pontas, formando um 3-4-3.


No papel, o técnico soviético Valery Nepomnyashchy escalou seu time em uma espécie de 4-4-2. Sem a bola, Emmanuel Kundé se transformava em líbero e o time se defendia no 4-5-1. Com a bola, os meias avançavam em velocidade e o time se formava no 4-3-3. No ataque, Omam-Biyik recebia a companhia de Roger Milla no segundo tempo de todas as partidas.

● Inglaterra e Camarões fizeram o melhor jogo da etapa das quartas de final da Copa do Mundo de 1990, na Itália.

Mais de 55 mil expectadores se fizeram presentes no estádio San Paolo, em Nápoles.

Camarões teve a chance de abrir o placar e só não o fez porque Shilton salvou um chute cara a cara com François Omam-Biyik.

Aos 25 minutos de jogo, David Platt abriu o placar. Stuart Pearce avançou pela esquerda e cruzou pelo alto. Platt apareceu sozinho na pequena área e cabeceou firme para baixo. A bola passou entre as pernas do goleiro Thomas N’Kono, que havia saltado para fechar o ângulo. Foi o segundo gol do camisa 17 na Copa de 1990.

Mas, como era de praxe, Roger Milla entrou no intervalo para mudar o rumo da partida. O “vovô” camaronês era a arma secreta – nem tão secreta assim.

Aos 16′ da etapa final, ele recebeu passe dentro da área, protegeu com o corpo e foi derrubado por Gascoigne. O líbero Emmanuel Kundé bateu com precisão e a bola foi no ângulo esquerdo de Peter Shilton – que até acertou o canto, mas não conseguiu pegar.

Quatro minutos depois, Milla viu a infiltração de Eugène Ekéké e fez o passe com precisão para o meio da área. Ekéké só deu um toque por cima para tirar o goleiro da jogada. Era a virada camaronesa.

Em sua ampla maioria, a torcida napolitana era para os azarões africanos.

Depois, os camaroneses passaram a abusar das firulas e jogadas de efeito, mas sem efetividade. “A bola pune”, como diria Muricy Ramalho.

A sete minutos do fim, Paul Parker interceptou um lançamento já na intermediária ofensiva e Mark Wright ajeitou para Gary Lineker. Dentro da área, o atacante inglês deu um corte em Benjamin Massing e foi derrubado. O próprio Lineker bateu o pênalti à meia altura no canto esquerdo, deslocando o goleiro Thomas N’Kono, que pulou para a direita.

Camarões ainda teve uma última chance. Ekéké tocou para Cyrille Makanaky. Ele invadiu a área, deixou Pearce no chão, mas foi travado em cima da hora por Trevor Steven.

Com o placar igual no tempo normal, o jogo foi definido na prorrogação.

O líbero Mark Wright se machucou em um choque de cabeça acidental com Roger Milla e voltou ao jogo com uma caixa amarrada na cabeça. Ele cortou o supercílio esquerdo.

Os Leões Indomáveis farejam sangue e foram para cima dos Three Lions. Makanaky fez boa jogada pelo lado direito, passou por Pearce e cruzou. Wright tirou a bola da cabeça de Ekéké. Ela subiu, François Omam-Biyik ganhou no alto de Des Walker e cabeceou, mas Shilton segurou firme.

No fim do primeiro tempo extra, Gascoigne fez um passe magistral. Lineker arrancou sozinho e foi derrubado dentro da área em dividida com Massing e N’Kono. Outra penalidade. Dessa vez, Lineker encheu o pé no meio do gol e N’Kono caiu para o lado esquerdo. Nova virada no marcador, dessa vez em definitivo, a favor dos ingleses.

De forma dramática, a Inglaterra segurou o 3 x 2 e se classificou.

O técnico Bobby Robson, que sempre tratou Paul Gascoigne como uma bomba relógio prestes a explodir – o que de fato era – se abraçou forte com o jogador após o apito final.

Com exceção dos ingleses, todos lamentavam a queda do time que ousou enfrentar seus adversários com criatividade e alegria – e uma pitada de irresponsabilidade, que acabou lhe custando a vaga nas semifinais.

Mas os camaroneses não se sentiram derrotados. Foram aplaudidos de pé e deram a volta olímpica no estádio San Paolo.

Roger Milla e seus companheiros já tinham entrado para a história das Copas.

● A arbitragem do mexicano Edgardo Codesal foi bastante elogiada pela imprensa internacional, principalmente pela coragem em marcar três pênaltis em um mesmo jogo (todos existentes), algo difícil de acontecer. Por causa dessa atuação, ele acabaria sendo indicado para apitar a final da Copa – quando não foi muito bem e apitou um pênalti bastante polêmico.

Na semifinal, a Inglaterra encontrou seus dois algozes que se tornariam históricos dali adiante: as decisões por pênaltis e a Alemanha Ocidental. O empate por 1 x 1 no tempo normal se manteve na prorrogação. Na decisão por penalidades, os erros de Stuart Pearce e Chris Waddle impediram que os britânicos voltassem a disputar uma final, com a derrota por 4 x 3. Na decisão do 3º lugar, a Inglaterra perdeu por 2 x 1 para a anfitriã Itália.

Curiosamente, o filho mais velho do goleiro italiano Gianluigi Buffon se chama Thomas, em homenagem ao goleiro camaronês Thomas N’Kono.

O antigo estádio San Paolo foi renomeado no fim de 2020 para estádio Diego Armando Maradona, maior ídolo da história do Napoli – clube que manda seus jogos no estádio.


(Imagens desse texto: Imortais do Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

INGLATERRA 3 x 2 CAMARÕES

 

Data: 01/07/1990

Horário: 21h00 locais

Estádio: San Paolo

Público: 55.205

Cidade: Nápoles (Itália)

Árbitro: Edgardo Codesal (México)

 

INGLATERRA (3-6-1):

CAMARÕES (4-2-3-1):

1  Peter Shilton (G)

16 Thomas N’Kono (G)

12 Paul Parker

14 Stephen Tataw (C)

5  Des Walker

6  Emmanuel Kundé

14 Mark Wright

4  Benjamin Massing

6  Terry Butcher (C)

5  Bertin Ebwellé

3  Stuart Pearce

15 Thomas Libiih

8  Chris Waddle

21 Emmanuel Maboang

17 David Platt

13 Jean-Claude Pagal

19 Paul Gascoigne

10 Louis-Paul M’Fédé

11 John Barnes

20 Cyrille Makanaky

10 Gary Lineker

7  François Omam-Biyik

 

Técnico: Bobby Robson

Técnico: Valery Nepomnyashchy

 

SUPLENTES:

 

 

13 Chris Woods (G)

22 Jacques Songo’o (G)

22 Dave Beasant (G)

[22 David Seaman (G)]

1  Joseph-Antoine Bell (G)

2  Gary Stevens

17 Victor N’Dip

15 Tony Dorigo

3  Jules Onana

4  Neil Webb

12 Alphonse Yombi

16 Steve McMahon

2  André Kana-Biyik

18 Steve Hodge

8  Émile Mbouh

7  Bryan Robson

19 Roger Feutmba

20 Trevor Steven

11 Eugène Ekéké

9  Peter Beardsley

18 Bonaventure Djonkep

21 Steve Bull

9  Roger Milla

 

GOLS:

25′ David Platt (ING)

61′ Emmanuel Kundé (CAM) (pen)

65′ Eugène Ekéké (CAM)

83′ Gary Lineker (ING) (pen)

105′ Gary Lineker (ING) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

28′ Benjamin Massing (CAM)

70′ Stuart Pearce (ING)

104′ Thomas N’Kono (CAM)

120′ Roger Milla (CAM)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO John Barnes (ING) ↓

Peter Beardsley (ING)

 

INTERVALO Emmanuel Maboang (CAM) ↓

Roger Milla (CAM)

 

62′ Louis-Paul M’Fédé (CAM) ↓

Eugène Ekéké (CAM)

 

73′ Terry Butcher (ING) ↓

Trevor Steven (ING)

Melhores momentos da partida (Band):

… 30/06/1998 – Argentina 2 x 2 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 30/06/1998 – Argentina 2 x 2 Inglaterra

● O técnico argentino Daniel Passarella gostava de armar seu time com três zagueiros. A frente do goleiro Carlos Roa, ficavam Nelson Vivas mais pela direita, José Chamot mais pela esquerda e Roberto Ayala na sobra. Javier Zanetti fazia a ala direita. Torto, o capitão Diego Simeone fazia a ala esquerda, caindo pelo meio em muitas vezes. Essa função limitava Simeone a uma faixa do campo, mas o liberava para aparecer mais no ataque, o que fazia muito bem. Matías Almeyda era o responsável pela proteção no meio de campo. A criatividade estava a cargo de Juan Sebastián Verón. Ariel Ortega era o meia-atacante que pendia para a direita. Claudio López era o atacante de lado que caía para a esquerda. Todos jogando em função de um dos atacantes mais prolíficos da década: Gabriel Batistuta. No banco, Marcelo Gallardo era da mesma posição de Ortega e Hernán Crespo fazia a função de Batistuta. Não a toa, nenhum técnico seleção albiceleste colocou Crespo e Batistuta para jogarem juntos.

A Argentina terminou a primeira fase como líder go Grupo H com 100% de aproveitamento. Na estreia, venceu o Japão por 1 x 0. No segundo jogo, massacrou a inexperiente Jamaica por 5 x 0. Na terceira rodada, bateu a Croácia por 1 x 0.

No caminho da Argentina, um adversário conhecido, de grandes duelos no campo e fora dele: a Inglaterra.

● O English Team terminou em segundo lugar no Grupo G. Estreou vencendo Tunísia por 2 x 0. Na sequência, perdeu para a Romênia por 2 x 1 e venceu a Colômbia por 2 x 0, com um gol de David Beckham contando falta.

A Inglaterra contava com um bom time, que havia sido semifinalista da Eurocopa de 1996. No gol, o experiente e seguro David Seaman. Na defesa, um trio duro de passar: Gary Neville, Tony Adams e Sol Campbell. Darren Anderton na ala direita e Graeme Le Saux na esquerda. No meio, Paul Ince, Paul Scholes e David Beckham. No ataque, a juventude é impetuosidade de Michael Owen se completava com a experiência e faro de gol de Alan Shearer. No banco, bons nomes como o jovem zagueiro Rio Ferdinand, o meia Steve McManaman e o atacante Teddy Sheringham.

Com apenas 18 anos, Michael Owen, o “Wonderkid” (“Garoto Maravilha”) foi convocado por causa da sequência de lesões e má formação física do genial Paul Gascoigne. Gazza já estava iniciando seu declínio sem fim, sofrendo com o alcoolismo. Segundo as más línguas, foi um curandeira quem recomendou ao técnico Glenn Hoddle para que cortasse o meia do Mundial.

Com a injeção de energia e juventude, o time inglês ficou mais equilibrado e menos previsível.


As duas seleções jogavam em sistemas táticos espelhados – ambas no 3-5-2.

● O que se viu no estádio Geoffroy-Guichard, em Saint-Étienne, foi mais um jogo épico entre argentinos e ingleses.

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A Argentina abriu o marcador logo aos cinco minutos. Do lado direito da intermediária defensiva, Roberto Ayala fez o passe na vertical para Gabriel Batistuta. Ele dominou e abriu com Ariel Ortega na direita. O camisa 10 fez o lançamento para a área e Batistuta só conseguiu desviar a bola de leve. Simeone aparece como homem surpresa e, mesmo com a marcação de Southgate, o goleiro Seaman saiu e atropelou o capitão argentino. Pênalti claro. Batistuta bateu com força no canto direito. Seaman chegou a tocar na bola, mas ela entrou. Foi o quinto gol de Batistuta em quatro jogos.

Quatro minutos depois, a Inglaterra pagou na mesma moeda. Le Saux passou para Scholes no meio e ele deu um toque de cabeça para Owen. O Wonderkid invadiu a área e foi levemente tocado por Ayala. Shearer bateu o pênalti no ângulo direito do goleiro Carlos Roa, colocando fim à invencibilidade do gol argentino na Copa.

A virada veio aos 16′. Da meia direita, Beckham fez um lançamento para Owen no meio. Ele dominou de chaleira, ganhou de José Chamot na velocidade e no corpo, driblou Ayala e bateu cruzado, por cima de Roa. Um golaço histórico, que ajudou a consolidar de vez o talento de Michael Owen. Não era mais promessa: era uma bela realidade. Sua imagem era transmitida para todo o planeta e seu talento reconhecido com entusiasmo pela imprensa. Surgia um novo astro – que, infelizmente, não brilharia tanto como aquele prenúncio devido às sucessivas e sérias lesões.

Incentivada pela torcida, a Inglaterra pressionou em busca do terceiro gol. Teve chances para liquidar a partida, mas não aproveitou.

Beckham cobrou falta da direita. A defesa argentina afastou. Paul Ince chutou de longe e a bola saiu, mas assustou bastante o goleiro Roa.

Le Saux avançou pela esquerda, passou por Zanetti e cruzou da linha de fundo, mas Ayala cortou para escanteio.

Seaman bateu falta de sua área mandando a bola para a frente. Ela viajou o campo todo e Shearer escorou de cabeça para o meio da área. Sozinho, quase na pequena área, Scholes não teve tranquilidade e bateu cruzado de esquerda, mas mandou a bola para fora. Foi um verdadeiro gol perdido. Faria muita falta.

A Argentina conseguiu sustentar a pressão e alcançou o empate nos acréscimos do primeiro tempo. Verón tocou para Claudio López próximo à meia lua. Ele recebeu de costas e sofreu falta de Campbell. Na cobrança, uma bela jogada ensaiada. Batistuta fez que chutaria forte, mas deixou para Verón. Ele só rolou para dentro da área para Javier Zanetti, que passou rápido atrás da barreira inglesa e ficou livre. Ele dominou de direita e ajeitou o corpo para bater de esquerda, no alto, sem chances para Seaman. Uma jogada ensaiada que funcionou à beira da perfeição.

Mas o jogo lindo e bem jogado até então se transformou em uma guerra de um momento para outro.

No começo do segundo tempo houve o lance mais polêmico da partida. Simeone chegou firme em uma disputa com Beckham. O astro inglês perdeu a paciência e revidou dando um “coice” de leve no argentino. O árbitro dinamarquês Kim Milton Nielsen mostrou o cartão amarelo a Simeone (pela falta) e o cartão vermelho a Beckham (pela tentativa de agressão).

Um prato cheio para os críticos implacáveis do Spice Boy. O técnico Glenn Hoddle teve que organizar seu time com dez jogadores.

E a Argentina começou a pressionar. Verón abriu na ponta direita para Claudio López, que foi até a linha de fundo e cruzou para trás. A bola chegaria limpa para Nelson Vivas só completar para o gol, mas Shearer estava ajudando a defesa e afastou o perigo.

Depois, o jogo ficou truncado, com muitas faltas no meio de campo. Nenhuma das equipes teve força e criatividade para superar a defesa adversária e marcar o gol que lhe daria a vitória.

No fim da partida, Anderton bateu escanteio fechado e Campbell cabeceou para o gol. Todos já comemoravam até ver que o árbitro havia anulado por falta cometida por Shearer no goleiro Roa. Uma decisão muito discutível da arbitragem.

Depois, Verón abriu na esquerda para Gallardo. Neville cortou e a bola sobrou para Ortega, que deu ótimo passe para Crespo. Mas o camisa 19 chutou em cima da marcação.

As duas equipes sobreviveram à agonia da prorrogação com morte súbita. Mas, para a Inglaterra e seu histórico de cair nas penalidades, viria outro momento agônico.

Sergio Berti bateu a primeira penalidade para os argentinos. O chute foi no cantinho esquerdo. 1 a 0.

Alan Shearer repetiu a cobrança do tempo normal, mandando no ângulo. 1 a 1.

Hernán Crespo bateu fraco, à meia altura, no canto esquerdo. David Seaman pulou certo e fez a defesa sem dificuldades. Permanecia 1 a 1.

Paul Ince bateu mal, do mesmo jeito e no mesmo lugar. Carlos Roa pegou. Ainda estava 1 a 1.

Juan Sebastián Verón, “La Brujita”, bateu da mesma forma que Shearer e mandou no alto, no canto direito do goleiro inglês. 2 a 1.

Paul Merson tentou imitar. A bola foi mais baixa e mais no meio. Roa chegou a tocar, mas a bola entrou. 2 a 2.

Cheio de confiança, Marcelo Gallardo bateu no canto direito. Seaman novamente acertou o canto, mas não conseguiu pegar. 3 a 2.

Michael Owen, no alto de seus 18 anos, mostrou toda a sua confiança. Bateu no ângulo direito. Roa pulou no canto esquerdo pelo chão. 3 a 3.

Roberto Ayala não fugiu da responsabilidade. Ele bateu rasteiro, no canto esquerdo. Incrivel: Seaman acertou o canto em todas as batidas, mas só conseguiu defender uma das penalidades. 4 a 3.

O inglês David Batty tinha que marcar para forçar a segunda série de cobranças, as chamadas “alternadas”. Ele bateu â meia altura no canto direito, quase no meio do gol. Foi uma defesa fácil para Carlos Roa. Placar final: 4 a 3 para a Argentina.

● Após a disputa nas penalidades, David Batty confessou que nunca havia batido um pênalti sequer como profissional, porém, estava se sentindo confiante e com muita vontade de cobrar e, por isso, pediu ao técnico. Apesar do erro, Batty disse que faria isso novamente, se a oportunidade aparecesse e ele se sentisse bem.

Se em 1990 Sergio Coycochea havia sido o herói nos pênaltis, essa era a vez de Carlos Roa, o novo tapa penales. A Argentina voltava às quartas de final.

Foi a terceira eliminação seguida da Inglaterra na decisão por pênaltis em grandes torneios – Copa do Mundo de 1990, Eurocopa de 1996 e Copa do Mundo de 1998.

A Argentina caiu nas quartas de final ao perder para a Holanda por 2 x 1, com um gol fenomenal de Dennis Bergkamp no último lance da partida.

Na Copa do Mundo seguinte, em 2002, Inglaterra e Argentina estavam no mesmo grupo na primeira fase. Os ingleses venceram por 1 x 0, com um gol de pênalti marcado por David Beckham. Era a vingança pessoal do jogador inglês contra a Diego Simeone e a Argentina. O resultado praticamente classificou os ingleses e deixou os albicelestes em más condições. De fato, os hermanos seriam eliminados ainda na fase de grupos. Um vexame.

Uma curiosidade sobre Alan Shearer. Conhecido pelo seu faro de gol e seu poder goleador, o atacante inglês era muito supersticioso. Ele acreditava que seu talismã era… sua sogra! Ela assistiu das arquibancadas à sua estreia na seleção inglesa – um amistoso contra a França em fevereiro de 1992 –, e ele marcou um gol na partida. Nos quatro jogos seguintes, ela não compareceu e ele não marcou. No jogo seguinte, ela voltou a assistir e ele voltou a marcar – contra a Turquia, em novembro de 1992, pelas eliminatórias da Copa de 1994. Desde então, a sogra se tornou um amuleto e Shearer passou a levá-la para todos os jogos do English Team.

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 2 X 2 INGLATERRA

 

Data: 30/06/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Geoffroy-Guichard

Público: 30.600

Cidade: Saint-Étienne (França)

Árbitro: Kim Milton Nielsen (Dinamarca)

 

ARGENTINA (3-5-2):

INGLATERRA (3-5-2):

1  Carlos Roa (G)

1  David Seaman (G)

14 Nelson Vivas

12 Gary Neville

2  Roberto Ayala

5  Tony Adams

3  José Chamot

2  Sol Campbell

22 Javier Zanetti

14 Darren Anderton

5  Matías Almeyda

3  Graeme Le Saux

8  Diego Simeone (C)

4  Paul Ince

11 Juan Sebastián Verón

7  David Beckham

10 Ariel Ortega

16 Paul Scholes

7  Claudio López

20 Michael Owen

9  Gabriel Batistuta

9  Alan Shearer (C)

 

Técnico: Daniel Passarella

Técnico: Glenn Hoddle

 

SUPLENTES:

 

 

12 Germán Burgos (G)

13 Nigel Martyn (G)

17 Pablo Cavallero (G)

22 Tim Flowers (G)

6  Roberto Sensini

21 Rio Ferdinand

13 Pablo Paz

18 Martin Keown

4  Mauricio Pineda

6  Gareth Southgate

15 Leonardo Astrada

8  David Batty

16 Sergio Berti

17 Rob Lee

20 Marcelo Gallardo

11 Steve McManaman

21 Marcelo Delgado

15 Paul Merson

18 Abel Balbo

19 Les Ferdinand

19 Hernán Crespo

10 Teddy Sheringham

 

GOLS:

5′ Gabriel Batistuta (ARG) (pen)

9′ Alan Shearer (ING) (pen)

16′ Michael Owen (ING)

45+1′ Javier Zanetti (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

5′ David Seaman (ING)

10′ Paul Ince (ING)

44′ Juan Sebastián Verón (ARG)

47′ Diego Simeone (ARG)

73′ Matías Almeyda (ARG)

110′ Carlos Roa (ARG)

 

CARTÃO VERMELHO:
47′ David Beckham (ING)

 

SUBSTITUIÇÕES:

68′ Claudio López (ARG) ↓

Marcelo Gallardo (ARG) ↑

 

68′ Gabriel Batistuta (ARG) ↓

Hernán Crespo (ARG) ↑

 

71′ Graeme Le Saux (ING) ↓

Gareth Southgate (ING) ↑

 

78′ Paul Scholes (ING) ↓

Paul Merson (ING) ↑

 

97′ Darren Anderton (ING) ↓

David Batty (ING) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO Diego Simeone (ARG) ↓

Sergio Berti (ARG) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

ARGENTINA 4

INGLATERRA 3

Sergio Berti (gol, rasteiro, no canto esquerdo)

Alan Shearer (gol, no ângulo direito)

Hernán Crespo (perdeu, à esquerda, defendido por Seaman)

Paul Ince (perdeu, à esquerda, espalmado pelo goleiro Roa)

Juan Sebastián Verón (gol, forte, no alto do gol, à direita)

Paul Merson (gol, no alto)

Marcelo Gallardo (gol, forte, no canto direito)

Michael Owen (gol, à direita, com a bola batendo na trave antes de entrar)

Roberto Ayala (gol, rasteiro, à esquerda do goleiro inglês)

David Batty (perdeu, à direita, defendido por Roa)


(Imagens desse texto: Imortais do Futebol)

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 29/06/1998 – Holanda 2 x 1 Iugoslávia

Três pontos sobre…
… 29/06/1998 – Holanda 2 x 1 Iugoslávia


(Imagem: Getty Images / Stu Forster / Allsport)

● A Holanda não tinha mais a geração de Ronald Koeman, Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco van Basten, mas havia craques em todas as posições do campo. E o clima interno era bom – bem diferente da Eurocopa de 1996, quando surgiram sérios problemas racistas, que culminaram na dispensa de Davids da delegação.

Treinada por Guus Hiddink, a Holanda era uma equipe muito ofensiva. O goleiro era o excepcional Edwin van der Sar. Os laterais Michael Reiziger e Arthur Numan marcavam e apoiavam com eficiência. Jaap Stam era forte na marcação e tinha bom tempo de bola. O capitão Frank de Boer tinha mais técnica, ótimo posicionamento e era um líder em campo. Clarence Seedorf e Edgar Davids eram completos: marcavam, armavam e se apresentavam à frente. Ronald de Boer era o meia pela direita, ótimo nos passes e perfeito cruzamentos. Phillip Cocu era o meia pela esquerda, também muito técnico e de boa chegada ao ataque. Marc Overmars era habilidade, técnica, velocidade e inteligência. No ataque, Dennis Bergkamp era a própria excelência, com lances geniais e gols incríveis. No banco, ótimos nomes como o volante Wim Jonk e o ponta Boudewijn Zenden. A ausência era o centroavante Patrick Kluivert, que cumpria sua terceira e última partida de suspensão, após ter sido expulso na estreia por agredir Lorenzo Staelens no empate sem gols com a Bélgica.

A Holanda foi a cabeça de chave do Grupo E. Na primeira fase, empatou por 0 x 0 com a vizinha Bélgica, goleou a Coreia do Sul por 5 x 0 e empatou por 2 x 2 com o bom time do México.


(Imagem: Getty Images / Ben Radford / Allsport)

● A Iugoslávia estava longe das competições internacionais desde 1992, quando foi excluída da Eurocopa por causa dos conflitos étnicos e da guerra civil que culminou com o desmembramento do país. Da República Socialista Federativa da Iugoslávia, surgiram os países: República Federal da Iugoslávia (essa que disputou o Mundial – que era formada pelas repúblicas da Sérvia e Montenegro, além das províncias autônomas Voivodina e Kosovo), Croácia, Eslovênia, Bósnia e Herzegovina e Macedônia do Norte.

Esse desmembramento enfraqueceu a seleção iugoslava. A maioria dos melhores jogadores do antigo país agora pertencia à Croácia – tanto que o país foi 3º colocado na Copa de 1998 em sua primeira participação.

Em 1998 a seleção “Plavi” (“azuis”, em sérvio) contou apenas com atletas nascidos na Sérvia e em Montenegro.

Os destaques eram os zagueiros Siniša Mihajlović (Sampdoria) e Miroslav Đukić (Deportivo La Coruña – não jogou por estar lesionado), os meias Vladimir Jugović (Lazio), Dejan Stanković (Estrela Vermelha – depois jogaria na Lazio e faria história na Internazionale), Ljubinko Drulović (Porto), Dejan Savićević (Milan), o capitão Dragan Stojković (Nagoya Grampus Eight, do Japão) e os atacantes Savo Milošević (Aston Villa), Darko Kovačević (Real Sociedad) e Predrag Mijatović (Real Madrid – fez o gol do título da UEFA Champions League da temporada 1997/98 na final sobre a Juventus).

Na primeira fase, a Iugoslávia estreou vencendo o Irã por 1 x 0, com um gol de falta de Siniša Mihajlović. Na segunda partida, abriu 2 x 0 com gols de Predrag Mijatović e Dragan Stojković, mas permitiu o empate da Alemanha por 2 x 2. No terceiro jogo, um gol de cabeça do zagueiro Slobodan Komljenović logo no início garantiu a vitória por 1 x 0. Assim, a Iugoslávia se classificou com o segundo lugar do Grupo F, com o mesmo número de pontos dos alemães, mas com um saldo de gols menor (+4 para a Nationalelf e +2 para os Plavi).


A Holanda jogava no 4-4-2, com muita aproximação dos homens de meio campo.


A Iugoslávia jogou no sistema 4-5-1, com liberdade para o capitão Dragan Stojković criar.

● O duelo entre Holanda e Iugoslávia, válido pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 1998, foi muito equilibrado.

A Holanda era tida como favorita para o duelo e dominou o jogo durante o primeiro tempo.

O placar foi aberto aos 38 minutos. Desde seu campo de defesa, o capitão Frank de Boer fez um de seus lançamentos espetaculares. Dennis Bergkamp ganhou no corpo de Zoran Mirković, dominou e finalizou. A bola passou por baixo do goleiro Ivica Kralj, que quase pegou, mas ela acabou indo rumo ao gol. Esse foi o segundo gol do genial Bergkamp na Copa.

O empate iugoslavo foi aos três minutos da segunda etapa. O capitão Dragan Stojković cobrou falta pelo lado esquerdo, quase na linha lateral da grande área. A bola foi na segunda trave e Slobodan Komljenović subiu bem, ganhou no alto de Phillip Cocu e cabeceou para o gol. Foi também o segundo gol de Komljenović no Mundial.

E a Iugoslávia poderia ter virado o jogo três minutos depois. Vladimir Jugović sofreu pênalti de Jaap Stam. Predrag Mijatović, maior artilheiro das eliminatórias de 1998 com 14 gols em 12 jogos, foi para a cobrança. Ele bateu firme no meio do gol. A bola subiu demais e explodiu no travessão. Peđa Mijatović diria posteriormente que aquele foi o pior momento de sua carreira.

Esse foi o único pênalti desperdiçado dos 17 marcados na Copa de 1998. Esse erro interrompeu uma série de 39 cobranças bem sucedidas. Antes de Mijatović, o último a perder uma penalidade durante o tempo regulamentar havia sido o italiano Gianluca Vialli, contra os Estados Unidos em 1990. Depois foram convertidos mais dez na Copa de 1990, 15 na Copa de 1994 e 14 na Copa de 1994 até o erro do iugoslavo.

Sem confiança, os holandeses tiveram que se arriscar mais no ataque. E foram recompensados.

No segundo minuto dos acréscimos da partida, Edgar Davids pegou rebote próximo à grande área. Ele teve tempo para dominar, ajeitar o corpo e soltar a bola. Com muita gente na frente, a bola ainda desviou no meio do caminho e dificultou para o goleiro Kralj, que ainda tocou na bola antes dela morrer no cantinho esquerdo.

Pouco antes, Davids havia sentido cãibras e pediu para ser substituído. Mas o técnico Guus Hiddink manteve o camisa 16 em campo e foi recompensado.


(Imagem: Getty Images / Stu Forster / Allsport)

● Oficialmente essa foi a última partida da Iugoslávia em uma Copa do Mundo – uma das mais tradicionais seleções europeias na história dos Mundiais, que sempre praticou um futebol com técnica apurada. Tanto, que recebeu o apelido de “Brasileiros do Leste Europeu”. O maior estádio do país, em Belgrado, é chamado de “Marakana”. Ao todo, foram nove Copas disputadas, sendo a melhor campanha o 4º lugar em 1962. Foram 37 partidas com 16 vitórias, oito empates e 13 derrotas, 60 gols marcados e 46 sofridos.

A Iugoslávia deixou de existiu como um país em 2003, quando se tornou “Sérvia e Montenegro” – países de se separariam de vez em 2006. A Sérvia é considerada pela FIFA como a herdeira legítima da Iugoslávia no futebol.

O meia Dejan Stanković disputou três Copas do Mundo, por três países diferentes. Ele representou a Iugoslávia em 1998, a Sérvia e Montenegro em 2006 e a Sérvia em 2010.

Discutivelmente, Edgar Davids foi o melhor e mais consistente jogador da Copa de 1998. Além do ótimo futebol, ele se notabilizou também por jogar com um óculos moderno. Porém, na única Copa em que atuou, ele jogou sem óculos. Vale ressaltar que as regras da FIFA não proíbem o uso de óculos, mas o jogador que deles se utilizar deve ter consciência que joga sob sua responsabilidade e risco.

A comemoração dessa vitória levou a imprensa holandesa a especular sobre novos problemas entre brancos e negros no elenco da Oranje. Logo após o apito final no Stade de Toulouse, todos os jogadores se abraçaram no meio do campo. Por trás, Winston Bogarde e Cocu abraçaram Van der Sar. O goleiro se incomodou e deu um soco no zagueiro, que devolveu olhando feio. Em sua biografia, lançada em 2011, Van der Sar explicou o que houve: “Na comemoração, veio um braço direto em minha garganta. Eu não conseguia respirar e dei um soco no braço. Parecia o braço de Bogarde e eu realmente fui para cima dele. Só notei depois que era o braço de Pierre van Hooijdonk. Aí, na zona mista, os jornalistas começaram a dar ênfase nisso. Virou assunto. Quando um repórter começou com a história de problemas étnicos, eu fiquei furioso: ‘Que problemas de raça? Não tem nada disso atualmente!” E de fato não tinha mesmo. Foi uma das seleções holandesas mais unidas de todos os tempos. Provavelmente, a mais talentosa e equilibrada.

Nas quartas de final, a Holanda contou com um gol fenomenal de Dennis Bergkamp no último lance da partida para eliminar a ótima seleção argentina pelo placar de 2 x 1. Com essa vitória, a Oranje se garantia novamente entre os quatro primeiros após vinte anos. Na semifinal, enfrentou o Brasil. Jogou melhor. Saiu atrás no placar, mas buscou o empate no fim da partida. Na decisão dos pênaltis, Taffarel defendeu as cobranças de Ronald de Boer e Phillip Cocu, colocando o Brasil na decisão. Na decisão do 3º lugar, a Holanda jogou sem motivação nenhuma e perdeu para a Croácia de Davor Šuker por 2 x 1.


(Imagem: Alamy)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 2 X 1 IUGOSLÁVIA

 

Data: 29/06/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Stade de Toulouse

Público: 33.500

Cidade: Toulouse (França)

Árbitro: José María García-Aranda (Espanha)

 

HOLANDA (4-4-2):

IUGOSLÁVIA (4-5-1):

1  Edwin van der Sar (G)

1  Ivica Kralj (G)

2  Michael Reiziger

2  Zoran Mirković

3  Jaap Stam

13 Slobodan Komljenović

4  Frank de Boer (C)

11 Siniša Mihajlović

5  Arthur Numan

3  Goran Đorović

16 Edgar Davids

4  Slaviša Jokanović

10 Clarence Seedorf

6  Branko Brnović

7  Ronald de Boer

16 Željko Petrović

11 Phillip Cocu

7  Vladimir Jugović

14 Marc Overmars

10 Dragan Stojković (C)

8  Dennis Bergkamp

9  Predrag Mijatović

 

Técnico: Guus Hiddink

Técnico: Slobodan Santrač

 

 

 

 

18 Ed de Goey (G)

12 Dragoje Leković (G)

22 Ruud Hesp (G)

5  Miroslav Đukić

13 André Ooijer

14 Niša Saveljić

15 Winston Bogarde

18 Dejan Govedarica

19 Giovanni van Bronckhorst

19 Miroslav Stević

20 Aron Winter

20 Dejan Stanković

6  Wim Jonk

8  Dejan Savićević

12 Boudewijn Zenden

15 Ljubinko Drulović

17 Pierre van Hooijdonk

21 Perica Ognjenović

21 Jimmy Floyd Hasselbaink

22 Darko Kovačević

9  Patrick Kluivert

17 Savo Milošević

 

GOLS:

38′ Dennis Bergkamp (HOL)

48′ Slobodan Komljenović (IUG)

90+2′ Edgar Davids (HOL)

 

CARTÕES AMARELOS:

38′ Dragan Stojković (IUG)

52′ Zoran Mirković (IUG)

73′ Goran Đorović (IUG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

57′ Dragan Stojković

Dejan Savićević

 

78′ Siniša Mihajlović

Niša Saveljić

Melhores momentos da partida (Band):

… 28/06/1994 – Rússia 6 x 1 Camarões

Três pontos sobre…
… 28/06/1994 – Rússia 6 x 1 Camarões


(Imagem: FIFA)

● Como já contamos aqui, com a desfragmentação da União Soviética poucos anos antes, muitos jogadores permaneceram representando a Rússia. Mas o clima era tenso e seis dos melhores atletas promoveram um boicote e abandonaram a seleção por divergências com o polêmico treinador Pavel Sadyrin.

Também com muitas brigas internas, a seleção de Camarões não eram nem sombra dos Leões Indomáveis de 1990. Era o mesmo time-base, mas quatro anos mais velhos e cansados. O ataque era forte, mas a defesa não inspirava a mínima confiança.

O técnico francês Henri Michel surpreendeu ao convocar o veteraníssimo Roger Milla para disputar a Copa do Mundo de 1994. O atacante esteve presente no Mundial de 1982, quando Camarões fez sua estreia no torneio e terminou invicto. Em 1990, Milla já tinha 38 anos, mas foi o líder de uma seleção que surpreendeu ao chegar nas quartas de final.

Nas duas primeiras rodadas, a Rússia havia perdido para o Brasil por 2 x 0 e para a Suécia por 3 x 1.

Por sua vez, Camarões empatou com a Suécia por 2 a 2 no primeiro jogo e perdeu para a Seleção Brasileira por 3 a 0 no segundo.

O goleiro titular de Camarões nas duas primeiras partidas foi Joseph-Antoine Bell. A população camaronesa elegeu Bell como o principal responsável pela má campanha de seu país no Mundial e sua casa chegou a ser incendiada durante o torneio.

Para o último jogo, Henri Michel resolveu trocar o goleiro. Bell era veterano, com quase 40 anos. Todos esperavam que jogasse o antigo titular, o também veterano Thomas N’Kono, de 38 anos. Mas quem jogou foi o mais novo dos três, Jacques Songo’o, de “apenas” 30 anos.

Pavel Sadyrin também trocou seu goleiro. Tirou Dmitri Kharine, seu capitão, para colocar Stanislav Cherchesov – o atual técnico da seleção russa.

Enquanto a Rússia estava praticamente eliminada, Camarões ainda tinha chances de se classificar, em caso de vitória nessa última rodada.


A Rússia jogou no 3-5-2, com os alas Tetradze e Tsymbalar bastante adiantados.


Camarões atuou no sistema 4-4-2.

● A enxurrada de gols começou aos 15 minutos. A defesa camaronesa travou o avanço de Omari Tetradze e a bola sobrou para Oleg Salenko bater entre as pernas do goleiro Songo’o. 1 a 0.

Camarões teve chance de empatar. François Omam-Biyik fez jogada individual pela esquerda e chutou no travessão.

Aos 41′, Ilya Tsymbalar recebeu nas costas da marcação – que pedia impedimento – avançou e rolou para o lado. Salenko, sozinho e sem goleiro, tocou para o gol vazio. O goleiro até tentou pular em seus pés, mas não teve chances. 2 a 0.

Um minuto antes do fim da etapa inicial, Victor N’Dip derrubou Tsymbalar dentro da área. Salenko bateu pênalti fraquinho no canto esquerdo, deslocando Songo’o, que pulou para o lado oposto. 3 a 0.

Em 1994, assim como em 1990, Roger Milla entrou no intervalo de todas as partidas dos Leões Indomáveis. Ele tinha acabado de entrar quando recebeu passe de David Embé dentro da área. Milla ganhou de Dmitri Khlestov no corpo e, mesmo caindo, finalizou cruzado, sem chances para o goleiro Cherchesov. 3 a 1.

Aos 27′, Tetradze arrancou pela direita, entrou dentro da área e cruzou rasteiro para trás. Salenko chegou batendo no alto, fazendo seu quarto gol na partida. 4 a 1.

Os africanos se arrastavam em campo. Os russos aproveitaram a incrível facilidade para consagrar o atacante Oleg Salenko.

Aos 30′, Salenko escapou da marcação, recebeu o passe perfeito de Khlestov em profundidade e só teve o trabalho de dar um toque por cima do goleiro. 5 a 1.

O último gol veio sete minutos depois. Vladimir Beschastnykh puxou jogada pela esquerda, desde seu campo e lançou Salenko. De cabeça, ainda na intermediária, ele serviu Dmitri Radchenko, que invadiu a área e bateu entre as pernas do goleiro. 6 a 1.


(Imagem: Lance!)

● Só depois foi descoberto o motivo da apatia dos africanos. Boa parte do elenco havia caído na farra durante a madrugada que antecedeu ao jogo. Eles achavam que não tinham mais chances de classificação.

Com a goleada, a Rússia mantinha viva a expectativa de terminar a fase de grupos como um dos melhores terceiros colocados – o que acabou não acontecendo. No fim, as duas seleções morreram abraçadas e ambas foram eliminadas na primeira fase.

Mesmo com a goleada sofrida, os camaroneses tiveram o que comemorar. Roger Milla estabeleceu dois recordes nessa partida. Ele se tornou o mais velho a marcar um gol em Copas do Mundo, marca que se mantém até os dias atuais. Mais que isso, ele também se tornou o mais velho a disputar uma partida de Copa do Mundo, com 42 anos e 39 dias. Esse recorde permaneceu até 2014, quando o goleiro colombiano Faryd Mondragón o quebrou, com 43 anos e 3 dias. Essa marca seria quebrada no Mundial seguinte, em 2018, quando o goleiro egípcio Essam El-Hadary foi titular e até defendeu pênalti diante da Arábia Saudita.

Também nessa partida, Oleg Salenko se tornou o primeiro jogador da história das Copas a marcar cinco gols em um mesmo jogo de Copa do Mundo. Somando esses cinco gols ao tento que ele havia anotado diante da Suécia, Salenko acabou como um dos artilheiros do Mundial, ao lado do búlgaro Hristo Stoichkov.

Nada mal para um jogador de uma seleção que acabou eliminada na primeira fase. Foi o ápice da carreira do medíocre Salenko, que nunca mais faria sucesso. Esse foi o último jogo dele pela seleção russa. Esses seis gols na Copa de 1994 foram os únicos dele pela seleção, em oito jogos. Ele teve que encerrar a carreira poucos anos depois devido à sequência de sérias lesões. Mas, enquanto jogou, Salenko jamais repetiu o que fez naquele verão americano. Nunca mais fez nem dois gols em uma mesma partida.


(Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

RÚSSIA 6 x 1 CAMARÕES

 

Data: 28/06/1994

Horário: 13h00 locais

Estádio: Stanford Stadium

Público: 74.914

Cidade: Stanford (Estados Unidos)

Árbitro: Jamal Al Sharif (Síria)

 

RÚSSIA (3-5-2):

CAMARÕES (4-4-2):

1  Stanislav Cherchesov (G)

22 Jacques Songo’o (G)

5  Yuriy Nikiforov

14 Stephen Tataw (C)

21 Dmitri Khlestov

13 Raymond Kalla

6  Vladislav Ternavsky

5  Victor N’Dip

12 Omari Tetradze

15 Hans Agbo

18 Viktor Onopko (C)

2  André Kana-Biyik

20 Igor Lediakhov

17 Marc-Vivien Foé

10 Valeri Karpin

6  Thomas Libiih

17 Ilya Tsymbalar

10 Louis-Paul M’Fédé

14 Igor Korneev

19 David Embé

9  Oleg Salenko

7  François Omam-Biyik

 

Técnico: Pavel Sadyrin

Técnico: Henri Michel

 

SUPLENTES:

 

 

16 Dmitri Kharine (G)

1  Joseph-Antoine Bell (G)

3  Sergei Gorlukovich

21 Thomas N’Kono (G)

2  Dmitri Kuznetsov

3  Rigobert Song

4  Dmitri Galiamin

4  Samuel Ekemé

8  Dmitri Popov

12 Paul Loga

7  Andrey Pyatnitsky

18 Jean-Pierre Fiala

19 Aleksandr Mostovoi

8  Émile Mbouh

13 Aleksandr Borodyuk

11 Emmanuel Maboang

11 Vladimir Beschastnykh

20 Georges Mouyémé

15 Dmitri Radchenko

16 Alphonse Tchami

22 Sergei Yuran

9  Roger Milla

 

GOLS:

15′ Oleg Salenko (RUS)

41′ Oleg Salenko (RUS)

44′ Oleg Salenko (RUS) (pen)

46′ Roger Milla (CAM)

72′ Oleg Salenko (RUS)

75′ Oleg Salenko (RUS)

81′ Dmitri Radchenko (RUS)

 

CARTÕES AMARELOS:

12′ André Kana-Biyik (CAM)

44′ Jacques Songo’o (CAM)

57′ Valeri Karpin (RUS)

87′ Dmitri Khlestov (RUS)

90′ Yuriy Nikiforov (RUS)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Louis-Paul M’Fédé (CAM) ↓

Roger Milla (CAM) ↑

 

47′ David Embé (CAM) ↓

Alphonse Tchami (CAM) ↑

 

65′ Igor Korneev (RUS) ↓

Dmitri Radchenko (RUS) ↑

 

78′ Igor Lediakhov (RUS) ↓

Vladimir Beschastnykh (RUS) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile

Três pontos sobre…
… 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile


(Imagem: Lance!)

● O Chile voltava a disputar sua primeira Copa do Mundo desde 1982. Em 1986, parou nas eliminatórias ao perder nas últimas partidas para o Paraguai. Em 1990, foi punido pela FIFA por um episódio no qual o goleiro são-paulino Roberto Rojas cortou seu próprio rosto e fingiu ter sido atingido por um sinalizador no jogo contra o Brasil. Por isso, a FIFA suspendeu o Chile também das eliminatórias de 1994. Em 1998, a vaga veio com muito sufoco, apenas no critério de saldo de gols, após um empate em número de pontos com o arqui-inimigo Peru.

O time chegou ao Mundial com confiança, após vencer a Inglaterra em Wembley por 2 x 0. O elenco era mediano, mas a dupla de ataque era muito boa e entrosada: o experiente Iván “Bam-Bam” Zamorano e o jovem Marcelo Salas, “El Matador”. Salas estava em uma fase esplendorosa e tinha acabado de ser vendido pelo River Plate (Argentina) à Lazio (Itália) por US$ 20 milhões.

O Chile se classificou em segundo lugar do Grupo B, empatando os três jogos da primeira fase: Itália (2 x 2), Áustria (1 x 1) e Camarões (1 x 1).

Para as oitavas de final, contra o Brasil, os chilenos tinham três desfalques importantes, todos por suspensão por terem recebido o segundo cartão amarelo na competição: os alas Francisco Rojas e Moisés Villarroel, além do meia Nelson Parraguez. Em seus respectivos lugares entraram Fernando Cornejo, Mauricio Aros e Miguel Ramírez. O técnico Nelson Acosta optou por manter no time titular o armador José Luis Sierra, mais técnico e lento, ao invés de Fabián Estay, mais dinâmico. Sierra havia passado pelo São Paulo F.C. em 1995, sem sucesso.


(Imagem: AFP / Globo Esporte)

● Pelo Grupo A, o Brasil venceu a Escócia por 2 x 1 no jogo de abertura do Mundial. Na sequência, venceu o Marrocos por 3 x 0. Já classificado em primeiro lugar na chave, perdeu para a Noruega – sua asa negra – por 2 x 1, levando dois gols nos últimos sete minutos.

Após essa derrota para a Noruega, os jogadores brasileiros trocaram farpas publicamente. O clima só foi amenizado em uma reunião comandada pelo zagueiro Aldair, no dia 25. Um dos pontos consensuais era que o capitão Dunga tinha que voltar a gritar em campo. Outro era que os jogadores deveriam evitar bate-bocas via imprensa.

Mesmo com os problemas internos, a Seleção Brasileira continuava entrando em campo de mãos dadas, tentando reviver o espírito vencedor de 1994.

O Brasil contava com o retorno do zagueiro Aldair, poupado contra a Noruega, e do volante César Sampaio, que cumpriu suspensão no jogo anterior.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.


O uruguaio Nelson Acosta armava seu time no 3-5-2. Sierra era quem criava as jogadas para a dupla Salas e Zamorano.

● Brasil e Chile fizeram uma festa sul-americana para 45.500 espectadores no estádio Parc de Princes, em Paris. O melhor jogador da América de 1997 (Marcelo Salas) enfrentava o melhor jogador do mundo do mesmo ano (Ronaldo).

O mundo inteiro esperava uma Seleção Brasileira sem imaginação, como foi diante da Noruega. Mas quem entrou em campo foi o Brasil show, o Brasil “sambá” – como era chamado na França.

A Seleção de Mário Jorge Lobo Zagallo começou com ímpeto total. Logo no início, Júnior Baiano deu uma chegada mais forte em Salas na tentativa de intimidar o atacante chileno.

Aos 11 minutos, em uma falta pela esquerda, perto da linha lateral, Dunga ergueu a bola para a área. A defesa chilena ficou parada, César Sampaio apareceu livre e cabeceou para o gol. 1 a 0.

Aos 26′, Roberto Carlos cobrou falta de muito longe. A bola foi rasteira e desviou na barreira. Bebeto tocou para o meio e César Sampaio bateu de primeira, da linha da grande área. A bola foi no cantinho direito, no contrapé do goleiro Nelson Tapia – que futuramente jogaria no Santos, em 2004. 2 a 0. Foi o segundo gol de Sampaio na partida (algo inédito até então em sua carreira) e o terceiro na Copa. Ele havia feito também o primeiro gol da Copa na vitória diante da Escócia.

Nos acréscimos do primeiro tempo, Ronaldo arrancou em direção ao gol e sofreu pênalti do goleiro Tapia. O próprio Ronaldo cobrou a penalidade à meia altura, no canto esquerdo. O goleiro tocou na bola, mas ela acabou entrando. 3 a 0.


(Imagem: Partidos de la Roja)

O Chile voltou melhor com as duas alterações feitas no intervalo. Saíram Sierra e Ramírez, entraram Estay e Marcelo Vega.

O Brasil só melhorou quando Zagallo trocou o apagado Bebeto pelo aceso Denílson, aos 20′ da etapa final.

Uma bela troca de passes entre Roberto Carlos, Dunga, Leonardo e César Sampaio deu o tom da habilidade dos brasileiros.

Aos 25′, Salas buscou a bola em seu campo de defesa, tabelou com Vega, que alçou a bola para a área, nas costas de Júnior Baiano. Aldair ficou parado e Zamorano cabeceou em cima de Taffarel, que saiu bem para abafar. Mas Salas pegou o rebote e, sem goleiro, cabeceou para o gol. 3 a 1. Foi o quarto gol de “El Matador” no Mundial.

Dois minutos depois, Denílson fez boa jogada pelo meio, tabelou com Rivaldo, chamou a marcação e tocou para Ronaldo avançar sozinho pela direita. O Fenômeno entrou na área e chutou cruzado e rasteiro para marcar. 4 a 1. Em seu auge, Ronaldo estava impossível.

Outro belo lance foi de Leonardo. Ele avançou pela direita, deixou Vega no chão e passou entre Aros e Estay, deixando ambos no chão também. Leonardo tinha classe, categoria e habilidade, mesmo sendo escalado torto pela direita.

Enfim, o Brasil fez uma apresentação convincente. Aquela Seleção de 1998 era realmente um enigma indecifrável. Era impossível prever se seria a Seleção avassaladora dos 45 minutos iniciais contra do Chile ou dos 30 minutos de prorrogação diante a Holanda ou se seria a infrutífera e insípida dos jogos contra Escócia e Noruega.

Rivaldo, Denílson e Leonardo desfilaram habilidade e talento no Parc de Princes. Ronaldo foi efetivo. Dunga voltou a berrar e terminou o jogo com a meia empapada de sangue, demonstrando a garra que tinha. Roberto Carlos despertou de sua profunda hibernação, ensaiou algumas jogadas de efeito e apoiou bastante o ataque, repetindo as atuações que o levaram a ser eleito o segundo melhor jogador do mundo em 1997. Mas, em uma equipe cheia de estrelas, quem mais brilhou foi o operário César Sampaio. Merecidamente, o volante foi eleito o melhor em campo.


(Imagem: Twitter @CuriosidadesBRL)

● Com a derrota para o Brasil, o Chile se despediu do Mundial sem nenhuma vitória. Foram três empates na primeira fase e essa derrota nas oitavas de final. La Roja seguia sem vencer em Copas desde a decisão do 3º lugar de 1962. Só conseguiria uma vitória na primeira rodada da Copa de 2010, sobre Honduras (1 x 0).

Mesmo com a queda precoce, Marcelo Salas foi um dos destaques do torneio, marcando quatro gols.

Nas quartas de final, o Brasil suou para vencer por 3 x 2 o ótimo time da Dinamarca, do goleiro Peter Schmeichel e dos irmãos Laudrup. A Dinamáquina havia goleado e eliminado a ardilosa Nigéria nas oitavas. Nas semifinais, um jogo histórico contra a Holanda (1 x 1), com vitória nos pênaltis (4 x 3) graças a Taffarel. Na final, perdeu para a França por 3 x 0, com dois gols de Zinedine Zidane e um de Emmanuel Petit.


(Imagem: CONMEBOL)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 1 CHILE

 

Data: 27/06/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Parc de Princes

Público: 45.500

Cidade: Paris (França)

Árbitro: Marc Batta (França)

 

BRASIL (4-4-2):

CHILE (3-5-2):

1  Taffarel (G)

1  Nelson Tapia (G)

2  Cafu

6  Pedro Reyes

4  Júnior Baiano

3  Ronald Fuentes

3  Aldair

5  Javier Margas

Roberto Carlos

19 Fernando Cornejo

5  César Sampaio

16 Mauricio Aros

8  Dunga (C)

8  Clarence Acuña

18 Leonardo

14 Miguel Ramírez

10 Rivaldo

10 José Luis Sierra

20 Bebeto

11 Marcelo Salas

9  Ronaldo

9  Iván Zamorano (C)

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Nelson Acosta

 

 

 

 

12 Carlos Germano (G)

12 Marcelo Ramírez (G)

22 Dida (G)

22 Carlos Tejas (G)

13 Zé Carlos

2  Cristián Castañeda

14 Gonçalves

18 Luis Musrri

15 André Cruz

15 Moisés Villarroel

16 Zé Roberto

4  Francisco Rojas

17 Doriva

7  Nelson Parraguez

11 Emerson

17 Marcelo Veja

7  Giovanni

20 Fabián Estay

19 Denílson

21 Rodrigo Barrera

21 Edmundo

13 Manuel Neira

 

GOLS:

11′ César Sampaio (BRA)

26′ César Sampaio (BRA)

45+3′ Ronaldo (BRA) (pen)

70′ Marcelo Salas (CHI)

72′ Ronaldo (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

34′ Ronald Fuentes (CHI)

45′ Nelson Tapia (CHI)

45′ Leonardo (BRA)

90+1′ Cafu (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO José Luis Sierra (CHI) ↓

Fabián Estay (CHI) ↑

 

INTERVALO Miguel Ramírez (CHI) ↓

Marcelo Vega (CHI) ↑

 

65′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

78′ Aldair (BRA) ↓

Gonçalves (BRA) ↑

 

80′ Clarence Acuña (CHI) ↓

Luis Musrri (CHI) ↑

Melhores momentos da partida:

… 26/06/2002 – Brasil 1 x 0 Turquia

Três pontos sobre…
… 26/06/2002 – Brasil 1 x 0 Turquia


Sem Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo era o articulador das jogadas de ataque (Imagem: FIFA)

● Depois de 48 anos, a Turquia estava de volta a uma Copa do Mundo. Com uma boa geração de jogadores – a melhor de sua história – não queria apenas ser coadjuvante. Queria ser um dos personagens principais.

“Ay-Yıldızlılar” (“As Estrelas Crescentes”, no idioma turco) era um time muito equilibrado e organizado taticamente, que se defendia com eficiência e assustava no ataque. Tinha meias rápidos e habilidosos e atacantes corpulentos que sabiam usar a força física dentro da área e eram muito bons na jogada aérea.

Na primeira rodada, 23 dias antes, a Turquia vendeu caro a derrota para o Brasil por 2 x 1, em uma partida polêmica e de decisões desastrosas da arbitragem a favor do escrete canarinho. Criticados pela imprensa de seu país, os jogadores turcos decidiram que só concederiam entrevistas a jornalistas estrangeiros. Um empate contra a Costa Rica (1 x 1) e a vitória sobre a China (3 x 0) garantiram a classificação para a próxima fase. Nas oitavas de final, venceu o co-anfitrião Japão por 1 x 0. Nas quartas, eliminou a Senegal – sensação da Copa até então – com um gol de ouro de İlhan Mansız. Na semifinal, enfrentaria novamente o Brasil com sede de vingança. Os turcos sonhavam com uma inédita e histórica final.

“Depois de perdermos o primeiro jogo para o Brasil, estávamos preparados para incidentes como aquele com Rivaldo. Analisamos aquele primeiro jogo para saber como proceder no segundo.” ― Yıldıray Baştürk


Hakan Şükür era o mais perigoso do ataque turco (Imagem: FIFA)

● O Brasil vinha de cinco vitórias consecutivas. Depois de bater a Turquia na estreia, venceu China (4 x 0) e Costa Rica (5 x 2). Nas oitavas, eliminou a Bélgica com uma vitória por 2 x 0, que não refletiu o quão foi difícil o jogo. Nas quartas, venceu a Inglaterra de virada por 2 x 1, em uma tarde inspiradíssima de Ronaldinho Gaúcho. Mas no fim da partida, o “R11” foi expulso e desfalcaria o Brasil na semifinal.

Poucos dias antes, Ronaldo Fenômeno apareceu com um corte de cabelo diferente. A cabeça estava toda raspada, menos a parte da frente. Logo ganhou o apelido de “corte Cascão”, em referência ao personagem dos quadrinhos infantis criado por Maurício de Sousa. A princípio, o centroavante disse que havia pegado a máquina e cortado desse jeito apenas para brincar um pouco. Posteriormente, de acordo com o livro “Histórias insólitas de los Mundiales de fútbol”, de Luciano Wernicke, Ronaldo falou que o motivo foi outro. Ele soube que seu filho Ronald, de dois anos, estava assistindo ao jogo “Brasil x Inglaterra” e dizia “papai, papai” sempre que via o lateral Roberto Carlos no vídeo. Roberto também era careca, assim como Ronaldo. Então o camisa 9 resolveu mudar o visual para que o filho não o confundisse mais. Verdade ou não, o fato é que o cabelo desviou as atenções sobre uma lesão na coxa esquerda do atacante, que era dúvida para a partida. “Quando ele cortou o cabelo daquele jeito, eu soube que ele teria condições de jogar”, disse o técnico Luiz Felipe Scolari.

O Brasil se mostrava mais encorpado que no primeiro duelo, principalmente pela entrada de Kléberson no lugar de Juninho Paulista. A entrada do volante do Atlético Paranaense no time titular deu mais velocidade na transição e fechou melhor os espaços no meio. Sem Ronaldinho Gaúcho, Edílson foi o titular, mudando um pouco as características do ataque.

Mas o maior desafio de Scolari era manter firme a concentração dos jogadores brasileiros. A Turquia cresceu em nível técnico e em autoconfiança desde o último confronto entre os dois.


Felipão apostou no sistema 3-5-2, para liberar o avanço dos laterais. A seleção ficou mais sólida na defesa e continuou forte no ataque.


Şenol Güneş mudou o esquema para o 4-4-2. As apostas turcas eram na defesa bem postada, na criatividade de Yıldıray Baştürk, na velocidade de Hasan Şaş e no oportunismo de Hakan Şükür.

● O Brasil parou às 08h30 da manhã daquela quarta-feira para assistir à semifinal da Copa do Mundo de 2002.

A Turquia adotou uma formação mais ofensiva do que a do primeiro jogo em Ulsan. Şenol Güneş mudou inclusive o sistema tático, do 3-5-2 para o 4-4-2. Algumas peças desse xadrez também mudaram. Na lateral esquerda, Ergün Penbe entrou no lugar de Hakan Ünsal. Também saiu do time o zagueiro Ümit Özat para a entrada do meia Ümit Davala.

No início da partida, o Brasil sofreu para criar jogadas de ataque e foi dominado pela Turquia nos 20 minutos iniciais.

A primeira jogada de perigo foi dos turcos, aos seis minutos. Emre arriscou de fora da área e Marcos pulou um pouco atrasado e espalmou para escanteio.

Três minutos depois, Emre cobrou falta próxima à área e Marcos tirou de soco.

Bem marcados, os craques brasileiros não conseguiam uma jogada individual. Sem Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo era o incumbido de criar as jogadas de ataque, mas errava muito. Ronaldo estava ofuscado pela marcação e pelas dores.

Yıldıray Baştürk abriu na direita para Fatih. O lateral cortou para a perna esquerda e cruzou para a área. Alpay apareceu sozinho na marca do pênalti cabeceou no cantinho, mas Marcos voou na bola e espalmou para escanteio. Uma grande defesa.

Mas tudo mudou a partir dos 25 minutos. O time brasileiro começou a se acertar e fez do goleiro Rüştü o melhor em campo. Uma das marcas registradas do goleiro turco Rüştü Reçber era a pintura que ele fazia no rosto para evitar o reflexo da luz – assim como fazem os jogadores de futebol americano. Um ano depois do Mundial, ele se transferiu para o Barcelona, mas só vestiu a camisa blaugrana por sete partidas, na temporada 2003/04.

Da esquerda, Kléberson tocou para Rivaldo no meio. Ele passou para Ronaldo, que abriu na direita onde chegava Cafu. O capitão brasileiro invadiu a área, dominou e chutou forte, mesmo sem muito ângulo. Rüştü fez uma boa defesa e a bola saiu por cima do gol.

Pouco depois, Roberto Carlos tocou de cabeça para Edílson, que deixou com Rivaldo no meio. O camisa 10 passou entre dois marcadores e chutou cruzado de longe, com muito veneno. A bola quicou e atrapalhou Rüştü, que soltou nos pés de Ronaldo (como faria Oliver Kahn quatro dias depois), mas o Fenômeno não chegou inteiro na bola e chutou em cima do goleiro, que segurou a bola em dois tempos.

Ronaldo arrancou do meio de campo, tabelou com Rivaldo e trombou com um marcador. Rivaldo pegou a sobra na meia lua e chutou colocado. Rüştü – o melhor em campo – voou no cantinho esquerdo e espalmou para escanteio.

Edílson avançou e tocou para Rivaldo. Quase da mesma posição, ele chutou novamente no mesmo cantinho esquerdo. A bola passou perto, mas foi direto para fora.

O Brasil insistia em busca do gol. Gilberto Silva roubou a bola no campo de ataque e Roberto Carlos cruzou para a área. Ronaldo não conseguiu alcançar de carrinho e Rüştü defendeu do jeito que pôde.

Nada de gol até o intervalo.

Ronaldo se arrastava por causa de uma lesão muscular e errava tudo que tentava. Tudo indicava que ele seria substituído e nem voltaria para a etapa final. Felizmente não foi. Scolari manteve o camisa 9 para o segundo tempo e acabou premiado com a teimosia.

Logo aos quatro minutos do segundo tempo, Gilberto Silva arrancou pela esquerda e tocou para Ronaldo na intermediária ofensiva. Ele passou por Bülent Korkmaz, invadiu a área e, mesmo cercado, bateu cruzado de bico (ao melhor estilo Romário). A bola foi no cantinho esquerdo de Rüştü, que chegou a tocar nela, mas não impediu o sexto gol de Ronaldo no Mundial.


Ronaldo arrancou e marcou o gol da partida (Imagem: Ricardo Correa / Veja)

“Ronaldinho encosta. Tocou pro Ronaldinho, botou na frente. Isso Ronaldinho, acredita Ronaldinho. Bateu pro gol. Goooooool! Rrrrrrronaldinho é o nome dele!” ― Galvão Bueno

“Aquele jogo foi bem difícil. Eu tive um primeiro tempo com poucas ocasiões. O time sofrendo até a pressão da Turquia. E logo no segundo tempo o time começou a crescer e no final eu tive a sorte de, em uma jogada individual, pegar e levar até a grande área e dar um biquinho na bola e ela foi no cantinho. Fiz o gol da vitória. Mas esse jogo pra mim foi e vai ser inesquecível.” ― Ronaldo

O Brasil queria mais. Em um contra-ataque, Rivaldo abriu na esquerda para Ronaldo, que encontrou Kléberson livre. Já dentro da área, o volante chutou sem força e no meio do gol. Ficou fácil para a defesa do goleiro.

Ronaldo avançou pelo meio e viu a infiltração de Edílson pela esquerda. O passe foi bom, mas o “Capetinha” finalizou mal e mandou a bola para fora.

Na metade do segundo tempo, Ronaldo foi descansar e deu lugar a Luizão.

Edílson puxou outro contragolpe e abriu para Cafu na direita. O capitão cruzou para a marca do pênalti e Luizão emendou um bonito voleio. A bola quicou no chão e saiu por cima do gol.

O Brasil perdia chances de matar o jogo por pura ansiedade no momento da finalização.

Ergün Penbe avançou e tocou para İlhan Mansız na ponta esquerda. Na tentativa de cruzamento, a bola encobriu Marcos e passou bem perto do travessão. O goleiro brasileiro conseguiu tocá-la para fora com a ponta dos dedos.

Aos 40 minutos da etapa final, o lateral Belletti entrou no lugar de Kléberson. Belletti já tinha jogado no meio de campo no início da carreira e entrou para ajudar a fechar o meio de campo e garantir a vitória. Com isso, Scolari colocou em campo 21 dos 23 jogadores convocados. Apenas os goleiros Dida e Rogério Ceni não entraram em campo.

A Turquia teve sua última chance de empatar já perto do fim. Hasan Şaş bateu falta da esquerda e Hakan Şükür emendou um voleio, mas São Marcos estava em cima para mandar para escanteio.

No fim da partida, uma das cenas mais marcantes da história das Copas. Na intensão de ganhar tempo, Denílson conduziu a bola para a lateral e foi perseguido por quatro marcadores turcos. Uma imagem hilária.

Após viver um conto de fadas, a Turquia estava eliminada da Copa do Mundo.

No fim, valeu pela vitória – a sexta consecutiva, igualando o recorde de 1970. Mas o placar foi magro pelo que foi a partida. Mas o que mais importava é a vaga na decisão – a terceira final seguida do Brasil (1994, 1998 e 2002).


Denílson puxou a marcação de quatro turcos, em lance histórico (Imagem: Getty Images / CBF)

● Na decisão do 3º lugar, a Turquia confirmou sua fama de visitante indesejado, estraga prazeres, e venceu a outra anfitriã, a Coreia do Sul, por 3 x 2. Um resultado e uma classificação final histórica e merecida para o selecionado turco.

Na final, o Brasil contou com dois gols de Ronaldo e conquistou o pentacampeonato mundial, como contamos detalhadamente aqui.


Edílson “Capetinha” foi o substituto de Ronaldinho Gaúcho, mas não conseguiu brilhar (Imagem: ESPN)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 TURQUIA

 

Data: 26/06/2002

Horário: 20h30 locais

Estádio: Saitama 2002

Público: 61.058

Cidade: Saitama (Japão)

Árbitro: Kim Milton Nielsen (Dinamarca)

 

BRASIL (3-5-2):

TURQUIA (4-4-2):

1  Marcos (G)

1  Rüştü Reçber (G)

3  Lúcio

4  Fatih Akyel

5  Edmílson

5  Alpay Özalan

4  Roque Júnior

3  Bülent Korkmaz

2  Cafu (C)

18 Ergün Penbe

8  Gilberto Silva

8  Tugay Kerimoğlu

15 Kléberson

22 Ümit Davala

6  Roberto Carlos

21 Emre Belözoğlu

20 Edílson

10 Yıldıray Baştürk

10 Rivaldo

11 Hasan Şaş

9  Ronaldo

9  Hakan Şükür (C)

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Şenol Güneş

 

SUPLENTES:

 

 

12 Dida (G)

12 Ömer Çatkıç (G)

22 Rogério Ceni (G)

23 Zafer Özgültekin (G)

13 Belletti

2  Emre Aşık

14 Ânderson Polga

16 Ümit Özat

16 Júnior

20 Hakan Ünsal

18 Vampeta

14 Tayfur Havutçu

7  Ricardinho

13 Muzzy Izzet

19 Juninho Paulista

7  Okan Buruk

23 Kaká

19 Abdullah Ercan

17 Denílson

15 Nihat Kahveci

11 Ronaldinho Gaúcho

6  Arif Erdem

21 Luizão

17 İlhan Mansız

 

GOL: 49′ Ronaldo (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

41′ Gilberto Silva (BRA)

59′ Tugay Kerimoğlu (TUR)

90′ Hasan Şaş (TUR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

62′ Emre Belözoğlu (TUR) ↓

İlhan Mansız (TUR) ↑

 

68′ Ronaldo (BRA) ↓

Luizão (BRA) ↑

 

74′ Ümit Davala (TUR) ↓

Muzzy Izzet (TUR) ↑

 

75′ Edílson (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

85′ Kléberson (BRA) ↓

Belletti (BRA) ↑

 

88′ Yıldıray Baştürk (TUR) ↓

Arif Erdem (TUR) ↑

Gol do jogo:

Lance de Denílson cercado por quatro jogadores turcos:

Lances marcantes da partida (Rede Globo):

Lances da partida:

… 25/06/1982 – Alemanha Ocidental 1 x 0 Áustria

Três pontos sobre…
… 25/06/1982 – Alemanha Ocidental 1 x 0 Áustria

“A vergonha de Gijón”


(Imagem: Werek / DPA / Corbis)

● Esse jogo é conhecido no idioma alemão como “Nichtangriffspakt von Gijón” (“Pacto de não-agressão de Gijón”) ou “Schande von Gijón” (“Vergonha de Gijón”). No resto do mundo, basta falar “Jogo da Vergonha”.

Essa partida foi a última da terceira rodada do Grupo 2, pois Argélia e Chile haviam se enfrentado no dia anterior, com vitória dos argelinos por 3 x 2. Com isso, alemães e austríacos entraram em campo no dia 25/06/1982 sabendo antecipadamente do que precisariam para que ambas as equipes conseguissem a classificação.

A Argélia tinha 4 pontos e nenhum gol de saldo e isso não mudaria. A Áustria tinha 4 pontos e três gols de saldo. A Alemanha tinha dois pontos e dois gols de saldo. Como a vitória valia dois pontos, bastaria a Alemanha vencer por um ou dois gols de diferença que se classificaria juntamente com a Áustria justamente pelo critério de saldo de gols. Ou seja, bastaria que as duas seleções “combinassem” um placar que fosse bom para ambas. Conhecendo o histórico das “estratégias” dos alemães, é lógico que fariam algo assim.


(Imagem: Impromptuinc)

● As duas seleções estavam no mesmo Grupo nas eliminatórias europeias, juntamente com Bulgária, Albânia e Finlândia. A Alemanha Ocidental venceu as duas vezes: 2 x 0 em Hamburgo e 3 x 1 em Viena. A Alemanha terminou como líder, com 100% de aproveitamento, oito vitórias em oito jogos, 33 gols marcados e apenas três sofridos. A Áustria ficou em segundo no grupo, com dois pontos a mais que a Bulgária. Em oito partidas, os austríacos venceram cinco, empataram um (com a Bulgária, em Sófia) e perderam as duas vezes para os alemães. Marcaram 16 gols e sofreram seis.

Um mês depois de garantir a qualificação para o Mundial, a Federação Austríaca demitiu o técnico Karl Stotz e convidou para o cargo o então técnico do Hamburgo, o também austríaco Ernst Happel. Por ter contrato vigente com o clube alemão, ele precisava ser liberado pela Bundesliga para aceitar o convite. O presidente da Bundesliga disse então que se Alemanha e Áustria fossem sorteadas no mesmo grupo da Copa, o técnico não seria liberado. E foi justamente o que aconteceu. O assistente de Stotz, Georg Schmidt foi promovido como um dos técnicos da seleção, juntamente com Felix Latzke.

A Alemanha Ocidental vinha credenciada pelo título da Europa em 1980. Não contava com Bernd Schuster (que preferiu passar as férias com a esposa do que disputar o Mundial), mas tinha jogadores como o ex-lateral e agora meia Paul Breitner, o meia Felix Magath e o atacante Karl-Heinz Rummenigge.

A Áustria também tinha um bom time, com destaques para o goleiro Friedrich Koncilia, o zagueiro e capitão Erich Obermayer, o meia Herbert Prohaska e os atacantes Walter Schachner e Hans Krankl.


(Imagem: Futebol na Veia)

● Na ocasião, o equilíbrio entre os dois vizinhos era enorme. Em quatro confrontos, eram duas vitórias para cada lado. O primeiro jogo foi nos Jogos Olímpicos de 1912, em Estocolmo, e os austríacos venceram por 5 x 1. Os outros três duelos foram em Copas do Mundo. Na decisão do 3º lugar de 1934, a Alemanha venceu por 3 x 2. Nas seminais de 1954, goleada alemã por 6 x 1.

Na segunda fase do Mundial anterior, em 1978, a Áustria tinha feito um jogo duríssimo, vencendo a Alemanha Ocidental por 3 x 2, o que tirou de vez os germânicos da final da Copa. Assim, a rivalidade entre os dois países vizinhos teoricamente estava aflorada. Todos esperavam uma revanche, mas…

Tudo começou quando a Alemanha Ocidental perdeu na estreia para a Argélia por 2 x 1, com gols de Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi. Foi a primeira vitória de uma seleção africana sobre uma europeia na história das Copas. Na segunda partida, a Nationalelf venceu o Chile por 4 x 1.

Em suas duas primeiras partidas, a Áustria venceu o Chile por 1 x 0 e a Argélia por 2 x 0. Estava praticamente classificada. Só seria eliminada em caso de derrota por três ou mais gols de diferença.


A Alemanha Ocidental jogou no esquema 4-3-3.


A Áustria foi escalada no sistema 4-4-2.

● Assim que rolou a bola, a Alemanha começou a pressionar em busca do gol.

E ele aconteceu logo aos 10′. Pierre Littbarski cruzou da esquerda e Horst Hrubesch se antecipou ao goleiro Koncilia e desviou para o gol.

A torcida vibrou pelo começo triunfal da Nationalelf. Pelo nível que os teutônicos impuseram no início, muitos esperavam até uma goleada.

Mas foi só isso. Com o placar resolvido e a classificação de ambos encaminhada, os dois times trataram de manter a posse de bola, trocando passes infrutíferos no meio de campo e na defesa até expirar o tempo regulamentar e o juiz dar o apito final.

Em certo momento, o árbitro escocês Bob Valentine parou o jogo para chamar os capitães dos dois times e pedir a eles que orientassem seus companheiro a jogarem futebol. Mas de nada adiantou o pedido do juiz.

Foram 80 minutos de pura procrastinação em campo.

O máximo que houve foram dois chutes ao gol, de Felix Magath e Karl-Heinz Rummenigge. Ambos resultaram em defesas fáceis do goleiro Friedrich Koncilia.

Pelo lado austríaco, Walter Schachner era o mais inquieto, mas não produziu chances de gol.

Não demorou para os 41 mil presentes no estádio El Molinón começasse a vaiar e a gritar “Argélia, Argélia”. Foram ouvidos também os gritos de “fora, fora” e “beija, beija” – como se as seleções dos dois países vizinhos fossem “namoradinhos”.

Enquanto isso, os argelinos sofriam com a sensação de impotência. Estavam vendo sua seleção ser eliminada em um “jogo de compadres” e nada podiam fazer. Alguns argelinos que estavam na arquibancada tentaram invadir o gramado diversas vezes, mas não tiveram sucesso.

Muitas pessoas, especialmente argelinos, também mostravam dinheiro para os atletas e até atiravam moedas.

Antes mesmo do apito final, já era possível ver dirigentes dos dois países comemorando a “vitória”.

Na TV, o comentarista alemão Eberhard Stanjek se recusou a seguir trabalhando na partida por mais tempo. Seu colega austríaco Robert Seeger lamentou o “espetáculo” e pediu aos telespectadores que desligassem seus televisores para não dar audiência àquela vergonha.

E houve uma cena marcante: torcedor alemão, inconformado com a postura dos atletas em campo, queimou a bandeira de seu país.


(Imagem: UOL)

● No dia seguinte, um jornal de Gijón publicou a crônica dessa partida nas páginas policiais e não nas esportivas. O jornal alemão Bild estampou em sua manchete: “Passamos, mas que vergonha” e no também alemão Der Spiegel a capa dizia tudo: “Alemanha e Áustria enganam o público”.

Os argelinos chegaram a entrar com pedido de anulação do resultado na FIFA, que nada fez.

Na segunda fase, pelo Grupo 4, a Áustria perdeu para a França por 1 x 0, empatou com a Irlanda do Norte por 2 x 2 e foi eliminada.

Classificada em primeiro lugar da chave na primeira fase, a Alemanha disputou a fase de quartas de final no Grupo 2. Empatou sem gols com a Inglaterra e venceu a Espanha por 2 x 1. Nas semifinais, em um jogo de altíssimo nível, intensidade e polêmica, venceu a ótima França de Platini por 5 x 4 nos pênaltis, depois de empate por 1 x 1 no tempo normal e 2 x 2 na prorrogação. Na final, perdeu para a Itália por 3 x 1 e ficou com o vice-campeonato.

Anos mais tarde, alguns jogadores falaram sobre a partida. O austríaco Walter Schachner comentou que não sabia porque seus companheiros não corriam para marcar e demoravam para passar a bola: “Eu mesmo só soube depois, quando reclamei com o técnico que ninguém me passava a bola”. O alemão Hans-Peter Briegel disse que após o gol os dois times combinaram de fazer um jogo leve para que ninguém se machucasse. O goleiro Harald Schumacher negou qualquer tipo de combinação.

A partir de então, a entidade máxima do futebol decidiu que as duas partidas da rodada final da fase de grupos seriam jogadas simultaneamente, para que não se repita nada semelhante à “Vergonha de Gijón”.


(Imagem: Twitter @lbertozzi)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 1 x 0 ÁUSTRIA

 

Data: 25/06/1982

Horário: 17h15 locais

Estádio: El Molinón

Público: 41.000

Cidade: Gijón (Espanha)

Árbitro: Bob Valentine (Escócia)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-3-3):

ÁUSTRIA (4-4-2):

1  Harald Schumacher (G)

1  Friedrich Koncilia (G)

20 Manfred Kaltz

2  Bernd Krauss

15 Uli Stielike

3  Erich Obermayer (C)

4  Karlheinz Förster

5  Bruno Pezzey

2  Hans-Peter Briegel

4  Josef Degeorgi

6  Wolfgang Dremmler

19 Heribert Weber

3  Paul Breitner

10 Reinhold Hintermaier

14 Felix Magath

8  Herbert Prohaska

11 Karl-Heinz Rummenigge (C)

6  Roland Hattenberger

9  Horst Hrubesch

9  Hans Krankl

7  Pierre Littbarski

7  Walter Schachner

 

Técnico: Jupp Derwall

Técnicos: Felix Latzke / Georg Schmidt

 

SUPLENTES:

 

 

22 Eike Immel (G)

22 Klaus Lindenberger (G)

21 Bernd Franke (G)

21 Herbert Feurer (G)

12 Wilfried Hannes

12 Anton Pichler

19 Holger Hieronymus

13 Max Hagmayr

5  Bernd Förster

16 Gerald Messlender

17 Stephan Engels

17 Johann Pregesbauer

18 Lothar Matthäus

14 Ernst Baumeister

10 Hansi Müller

11 Kurt Jara

13 Uwe Reinders

15 Johann Dihanich

16 Thomas Allofs

18 Gernot Jurtin

8  Klaus Fischer

20 Kurt Welzl

 

GOL: 10′ Horst Hrubesch (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

32′ Reinhold Hintermaier (AUT)

74′ Walter Schachner (AUT)

 

SUBSTITUIÇÕES:

66′ Karl-Heinz Rummenigge (ALE)

Lothar Matthäus (ALE) ↑

 

69′ Horst Hrubesch (ALE) ↓

Klaus Fischer (ALE) ↑

Gol da partida: