Três pontos sobre…
… 01/07/2006 – França 1 x 0 Brasil
Zizou desfilou em campo (Imagem: UOL)
● Podemos começar lembrando das eliminatórias sul-americanas, onde Ronaldo foi o artilheiro e o Brasil o líder geral. Ou podemos mudar o foco para a empolgação causada pelo título da Copa das Confederações de 2005, quando convenceu ao golear a Argentina por 4 x 1 na decisão. Pode ser que o resultado final tenha sido condicionado pela catastrófica preparação desde a chegada à cidade suíça de Weggis. Pode ter sido a exaltação ao fantástico “quadrado mágico”, que não rendeu o esperado quando deveria. Foi a magia de Zizou ou será que a culpa a eliminação brasileira foi de Roberto Carlos e seu meião?
Oito anos depois de ter sido o carrasco brasileiro na final da Copa do Mundo de 1998, Zinedine Zidane estava em seus últimos dias de carreira. Ele carregava consigo a tristeza pela lesão e a eliminação precoce, ainda na fase de grupos do Mundial de 2002. E em 2006, a França estava sem confiança alguma após fazer uma primeira fase medíocre. Ganhou força e confiança ao vencer a forte Espanha por 3 x 1 de virada.
Por sua vez, a Seleção Brasileira obteve 100% de aproveitamento na primeira fase e venceu Gana por 3 x 0 nas oitavas de final, com Ronaldo se tornando o maior artilheiro da história das Copas, com 15 gols. Mesmo não jogando bem, o excesso de confiança era algo que nunca se viu igual, até para os exagerados críticos brasileiros. Era impossível não enxergar que as peças não se encaixavam e que o futebol de teoria não se aplicava na prática. Falando mais didaticamente: o quadrado. Não só a figura geométrica, mas tudo que o envolvia.
Os vencedores da Copa do Mundo e o espelho da pirâmide. Na geometria, o Brasil venceria a Copa de 2006.
● Independentemente nível apresentado pela Seleção Brasileira, o torcedor tinha plena convicção na vitória e no título. Ingênuo, eu acreditei na “Pirâmide das Copas” (veja a figura acima). E era impossível não vencer com aquele esquadrão. No papel, é certamente uma das mais fortes do país em todos os tempos, com todos os titulares sendo destaque nos grandes clubes europeus.
Dida é um dos maiores goleiros da história do país e estava em plena forma. A dupla de zaga, com Lúcio e Juan, era bem entrosada e não comprometia. E no restante da escalação começam os problemas… Os dois lendários laterais, Cafu e Roberto Carlos, estavam mais para lendas mesmo, pois já começavam a entrar em declínio em suas vitoriosas carreiras. Emerson já não tinha o físico de outrora, mas, mesmo no auge, jamais conseguiria marcar sozinho no meio campo e cobrir os avanços dos laterais. Zé Roberto foi o destaque brasileiro na competição, mas seu forte não era a marcação e não conseguiu criar para todos os demais. O quadrado era composto por Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo. Kaká não conseguiu render o seu melhor por causa de uma lesão. Melhor jogador do mundo nos dois anos anteriores, R10 estava no auge e começou a despencar exponencialmente justamente no Mundial. Adriano era o menos famoso, mas talvez tenha sido, dos quatro, o que mais rendeu no torneio. E Ronaldo, embora fosse a esperança de reviver 2002, já começava a perder a luta para a balança.
O técnico Raymond Domenech organizou Les Bleus no sistema tático 4-2-3-1, com liberdade total para Zidane na armação.
Para essa partida, Parreira escalou a Seleção Brasileira no esquema 4-3-2-1, com Juninho Pernambucano entrando no meio para dar mais suporte a Gilberto Silva e Zé Roberto. Adriano foi sacrificado.
● Contra os franceses, o pragmático Carlos Alberto Parreira desmanchou o “quadrado” e escalou Juninho Pernambucano para preencher mais o meio de campo. O “Reizinho de São Januário” era o melhor jogador do futebol francês, reinando no Olympique Lyon. Mas não teve inteligência emocional e chorou no hino nacional. Não conseguiu render em campo. Gilberto Silva substituiu o lesionado Emerson e não conseguiu ver a sombra de Zidane.
Aos 23′, Lúcio fez sua primeira falta na Copa – três minutos após superar o recorde de Carlos Gamarra em 1998.
Mas naquele dia, Zizou era o dono da bola, ou um menino maior brincando com os menores: estava tão acima dos demais, que parecia flutuar sobre o gramado. A bola grudava em seus pés e ele se tornava um bailarino em um festival de Frankfurt. Pouco antes do gol solitário, presenteou seu amigo Ronaldo com um belo chapéu.
Aos doze minutos do segundo tempo, Florent Malouda sofreu falta de Cafu na esquerda. Zidane cobrou a falta no segundo pau e Henry completou sozinho para o gol.
Ficou a história narrada por Galvão Bueno para o Brasil inteiro: enquanto Zizou se preparava para cobrar a falta, Roberto Carlos arrumava seu meião na entrada da área. A bola foi batida no segundo pau e Thierry Henry escapou da posição inicial de Roberto e completou para o gol.
Mas era improvável pensar que o camisa 6 do Brasil era o responsável por acompanhar o francês nas jogadas de bola parada. Henry: 1,88 m; Roberto: 1,68 m. A diferença entre ambos era aparentemente bem maior do que os 20 cm. Henry vinha de frente e tinha faro de gol.
Parreira voltou ao sistema 4-2-2-2, com o retorno de Adriano no lugar de Juninho Pernambucano.
Logo após sofrer o gol, Parreira desfez o sistema tático e voltou ao “quadrado mágico”, trocando Juninho por Adriano.
Ridiculamente, o Brasil só acertou o primeiro chute a gol no último minuto da partida: Ronaldo chutou de fora da área e Fabien Barthez defendeu.
Era impossível que a Seleção Brasileira não fosse mais vencer essa Copa. Como a pirâmide estaria errada? Culpa do quadrado mágico? Até hoje eu não consegui compreender. Mas nunca fui bom em matemática mesmo…
Zidane repetiu o feito de oito anos antes: destruiu os sonhos de um título brasileiro já ganho de véspera. Mas o futebol é resolvido em campo. E em campo, quem mandou novamente naquele dia foi Zidane.
E essa derrota interrompeu uma série de 11 vitórias consecutivas da Seleção Brasileira em Copas. Curiosamente, essa sequência começou após uma derrota para a França de Zidane. E terminou com derrota para a França de Zidane.
Henry se posicionou bem e, livre de marcação, fez o gol da partida (Imagem: UOL)
● Naquele dia 01/07/2006, eu seria padrinho de casamento de um primo, em uma cidade bem pequenina no interior de Minas Gerais. O enlace matrimonial estava marcado para as 19h00 e essa partida começou às 17h00. Eu tinha certeza que o Brasil venceria e que chegaríamos a tempo. Mas quando Henry marcou o gol, só fiquei pensando sobre como estaríamos na cerimônia se houvesse prorrogação. E questionei meu pai: “Será que vamos chegar atrasados?” E com a sabedoria de meio século vivido, meu pai me diz: “Não se preocupe. Nem o padre vai estar na igreja até o jogo acabar”. Infelizmente não houve prorrogação e a igreja foi se enchendo com o passar dos minutos.
Roberto Carlos ficou tachado injustamente como vilão (Imagem: Getty Images)
● FICHA TÉCNICA: |
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FRANÇA 1 x 0 BRASIL |
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Data: 01/07/2006 Horário: 21h00 locais Estádio: Waldstadion (atual Commerzbank-Arena) Público: 48.000 Cidade: Frankfurt (Alemanha) Árbitro: Luis Medina Cantalejo (Espanha) |
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FRANÇA (4-2-3-1): |
BRASIL (4-3-2-1): |
16 Fabien Barthez (G) |
1 Dida (G) |
19 Willy Sagnol |
2 Cafu (C) |
15 Lilian Thuram |
3 Lúcio |
5 William Gallas |
4 Juan |
3 Éric Abidal |
6 Roberto Carlos |
6 Claude Makélélé |
17 Gilberto Silva |
4 Patrick Vieira |
11 Zé Roberto |
22 Franck Ribéry |
19 Juninho Pernambucano |
10 Zinedine Zidane (C) |
8 Kaká |
7 Florent Malouda |
10 Ronaldinho Gaúcho |
12 Thierry Henry |
9 Ronaldo |
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Técnico: Raymond Domenech |
Técnico: Carlos Alberto Parreira |
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SUPLENTES: |
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23 Grégory Coupet (G) |
12 Rogério Ceni (G) |
1 Mickaël Landreau (G) |
22 Júlio César (G) |
2 Jean-Alain Boumsong |
13 Cicinho |
17 Gaël Givet |
14 Luisão |
13 Mikaël Silvestre |
15 Cris |
21 Pascal Chimbonda |
16 Gilberto |
18 Alou Diarra |
5 Emerson |
8 Vikash Dhorasoo |
18 Mineiro |
9 Sidney Govou |
20 Ricardinho |
11 Sylvain Wiltord |
23 Robinho |
14 Louis Saha |
21 Fred |
20 David Trezeguet |
7 Adriano |
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GOL: 57′ Thierry Henry (FRA) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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25′ Cafu (BRA) |
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45′ Juan (BRA) |
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45+2′ Ronaldo (BRA) |
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47′ Lúcio (BRA) |
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74′ Willy Sagnol (FRA) |
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87′ Louis Saha (FRA) |
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88′ Lilian Thuram (FRA) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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63′ Juninho Pernambucano (BRA) ↓ |
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Adriano (BRA) ↑ |
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76′ Cafu (BRA) ↓ |
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Cicinho (BRA) ↑ |
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77′ Franck Ribéry (FRA) ↓ |
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Sidney Govou (FRA) ↑ |
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79′ Kaká (BRA) ↓ |
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Robinho (BRA) ↑ |
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81′ Florent Malouda (FRA) ↓ |
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Sylvain Wiltord (FRA) ↑ |
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86′ Thierry Henry (FRA) ↓ |
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Louis Saha (FRA) ↑ |
Gol da partida:
Melhores momentos: