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… 01/07/2006 – França 1 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 01/07/2006 – França 1 x 0 Brasil


Zizou desfilou em campo (Imagem: UOL)

● Podemos começar lembrando das eliminatórias sul-americanas, onde Ronaldo foi o artilheiro e o Brasil o líder geral. Ou podemos mudar o foco para a empolgação causada pelo título da Copa das Confederações de 2005, quando convenceu ao golear a Argentina por 4 x 1 na decisão. Pode ser que o resultado final tenha sido condicionado pela catastrófica preparação desde a chegada à cidade suíça de Weggis. Pode ter sido a exaltação ao fantástico “quadrado mágico”, que não rendeu o esperado quando deveria. Foi a magia de Zizou ou será que a culpa a eliminação brasileira foi de Roberto Carlos e seu meião?

Oito anos depois de ter sido o carrasco brasileiro na final da Copa do Mundo de 1998, Zinedine Zidane estava em seus últimos dias de carreira. Ele carregava consigo a tristeza pela lesão e a eliminação precoce, ainda na fase de grupos do Mundial de 2002. E em 2006, a França estava sem confiança alguma após fazer uma primeira fase medíocre. Ganhou força e confiança ao vencer a forte Espanha por 3 x 1 de virada.

Por sua vez, a Seleção Brasileira obteve 100% de aproveitamento na primeira fase e venceu Gana por 3 x 0 nas oitavas de final, com Ronaldo se tornando o maior artilheiro da história das Copas, com 15 gols. Mesmo não jogando bem, o excesso de confiança era algo que nunca se viu igual, até para os exagerados críticos brasileiros. Era impossível não enxergar que as peças não se encaixavam e que o futebol de teoria não se aplicava na prática. Falando mais didaticamente: o quadrado. Não só a figura geométrica, mas tudo que o envolvia.


Os vencedores da Copa do Mundo e o espelho da pirâmide. Na geometria, o Brasil venceria a Copa de 2006.

● Independentemente nível apresentado pela Seleção Brasileira, o torcedor tinha plena convicção na vitória e no título. Ingênuo, eu acreditei na “Pirâmide das Copas” (veja a figura acima). E era impossível não vencer com aquele esquadrão. No papel, é certamente uma das mais fortes do país em todos os tempos, com todos os titulares sendo destaque nos grandes clubes europeus.

Dida é um dos maiores goleiros da história do país e estava em plena forma. A dupla de zaga, com Lúcio e Juan, era bem entrosada e não comprometia. E no restante da escalação começam os problemas… Os dois lendários laterais, Cafu e Roberto Carlos, estavam mais para lendas mesmo, pois já começavam a entrar em declínio em suas vitoriosas carreiras. Emerson já não tinha o físico de outrora, mas, mesmo no auge, jamais conseguiria marcar sozinho no meio campo e cobrir os avanços dos laterais. Zé Roberto foi o destaque brasileiro na competição, mas seu forte não era a marcação e não conseguiu criar para todos os demais. O quadrado era composto por Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo. Kaká não conseguiu render o seu melhor por causa de uma lesão. Melhor jogador do mundo nos dois anos anteriores, R10 estava no auge e começou a despencar exponencialmente justamente no Mundial. Adriano era o menos famoso, mas talvez tenha sido, dos quatro, o que mais rendeu no torneio. E Ronaldo, embora fosse a esperança de reviver 2002, já começava a perder a luta para a balança.


O técnico Raymond Domenech organizou Les Bleus no sistema tático 4-2-3-1, com liberdade total para Zidane na armação.


Para essa partida, Parreira escalou a Seleção Brasileira no esquema 4-3-2-1, com Juninho Pernambucano entrando no meio para dar mais suporte a Gilberto Silva e Zé Roberto. Adriano foi sacrificado.

● Contra os franceses, o pragmático Carlos Alberto Parreira desmanchou o “quadrado” e escalou Juninho Pernambucano para preencher mais o meio de campo. O “Reizinho de São Januário” era o melhor jogador do futebol francês, reinando no Olympique Lyon. Mas não teve inteligência emocional e chorou no hino nacional. Não conseguiu render em campo. Gilberto Silva substituiu o lesionado Emerson e não conseguiu ver a sombra de Zidane.

Aos 23′, Lúcio fez sua primeira falta na Copa – três minutos após superar o recorde de Carlos Gamarra em 1998.

Mas naquele dia, Zizou era o dono da bola, ou um menino maior brincando com os menores: estava tão acima dos demais, que parecia flutuar sobre o gramado. A bola grudava em seus pés e ele se tornava um bailarino em um festival de Frankfurt. Pouco antes do gol solitário, presenteou seu amigo Ronaldo com um belo chapéu.

Aos doze minutos do segundo tempo, Florent Malouda sofreu falta de Cafu na esquerda. Zidane cobrou a falta no segundo pau e Henry completou sozinho para o gol.

Ficou a história narrada por Galvão Bueno para o Brasil inteiro: enquanto Zizou se preparava para cobrar a falta, Roberto Carlos arrumava seu meião na entrada da área. A bola foi batida no segundo pau e Thierry Henry escapou da posição inicial de Roberto e completou para o gol.

Mas era improvável pensar que o camisa 6 do Brasil era o responsável por acompanhar o francês nas jogadas de bola parada. Henry: 1,88 m; Roberto: 1,68 m. A diferença entre ambos era aparentemente bem maior do que os 20 cm. Henry vinha de frente e tinha faro de gol.


Parreira voltou ao sistema 4-2-2-2, com o retorno de Adriano no lugar de Juninho Pernambucano.

Logo após sofrer o gol, Parreira desfez o sistema tático e voltou ao “quadrado mágico”, trocando Juninho por Adriano.

Ridiculamente, o Brasil só acertou o primeiro chute a gol no último minuto da partida: Ronaldo chutou de fora da área e Fabien Barthez defendeu.

Era impossível que a Seleção Brasileira não fosse mais vencer essa Copa. Como a pirâmide estaria errada? Culpa do quadrado mágico? Até hoje eu não consegui compreender. Mas nunca fui bom em matemática mesmo…

Zidane repetiu o feito de oito anos antes: destruiu os sonhos de um título brasileiro já ganho de véspera. Mas o futebol é resolvido em campo. E em campo, quem mandou novamente naquele dia foi Zidane.

E essa derrota interrompeu uma série de 11 vitórias consecutivas da Seleção Brasileira em Copas. Curiosamente, essa sequência começou após uma derrota para a França de Zidane. E terminou com derrota para a França de Zidane.


Henry se posicionou bem e, livre de marcação, fez o gol da partida (Imagem: UOL)

● Naquele dia 01/07/2006, eu seria padrinho de casamento de um primo, em uma cidade bem pequenina no interior de Minas Gerais. O enlace matrimonial estava marcado para as 19h00 e essa partida começou às 17h00. Eu tinha certeza que o Brasil venceria e que chegaríamos a tempo. Mas quando Henry marcou o gol, só fiquei pensando sobre como estaríamos na cerimônia se houvesse prorrogação. E questionei meu pai: “Será que vamos chegar atrasados?” E com a sabedoria de meio século vivido, meu pai me diz: “Não se preocupe. Nem o padre vai estar na igreja até o jogo acabar”. Infelizmente não houve prorrogação e a igreja foi se enchendo com o passar dos minutos.


Roberto Carlos ficou tachado injustamente como vilão (Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 1 x 0 BRASIL

 

Data: 01/07/2006

Horário: 21h00 locais

Estádio: Waldstadion (atual Commerzbank-Arena)

Público: 48.000

Cidade: Frankfurt (Alemanha)

Árbitro: Luis Medina Cantalejo (Espanha)

 

FRANÇA (4-2-3-1):

BRASIL (4-3-2-1):

16 Fabien Barthez (G)

1  Dida (G)

19 Willy Sagnol

2  Cafu (C)

15 Lilian Thuram

3  Lúcio

5  William Gallas

4  Juan

3  Éric Abidal

6  Roberto Carlos

6  Claude Makélélé

17 Gilberto Silva

4  Patrick Vieira

11 Zé Roberto

22 Franck Ribéry

19 Juninho Pernambucano

10 Zinedine Zidane (C)

8  Kaká

7  Florent Malouda

10 Ronaldinho Gaúcho

12 Thierry Henry

9  Ronaldo

 

Técnico: Raymond Domenech

Técnico: Carlos Alberto Parreira

 

SUPLENTES:

 

 

23 Grégory Coupet (G)

12 Rogério Ceni (G)

1  Mickaël Landreau (G)

22 Júlio César (G)

2  Jean-Alain Boumsong

13 Cicinho

17 Gaël Givet

14 Luisão

13 Mikaël Silvestre

15 Cris

21 Pascal Chimbonda

16 Gilberto

18 Alou Diarra

5  Emerson

8  Vikash Dhorasoo

18 Mineiro

9  Sidney Govou

20 Ricardinho

11 Sylvain Wiltord

23 Robinho

14 Louis Saha

21 Fred

20 David Trezeguet

7  Adriano

 

GOL: 57′ Thierry Henry (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

25′ Cafu (BRA)

45′ Juan (BRA)

45+2′ Ronaldo (BRA)

47′ Lúcio (BRA)

74′ Willy Sagnol (FRA)

87′ Louis Saha (FRA)

88′ Lilian Thuram (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

63′ Juninho Pernambucano (BRA) ↓

Adriano (BRA) ↑

 

76′ Cafu (BRA) ↓

Cicinho (BRA) ↑

 

77′ Franck Ribéry (FRA) ↓

Sidney Govou (FRA) ↑

 

79′ Kaká (BRA) ↓

Robinho (BRA) ↑

 

81′ Florent Malouda (FRA) ↓

Sylvain Wiltord (FRA) ↑

 

86′ Thierry Henry (FRA) ↓

Louis Saha (FRA) ↑

Gol da partida:

Melhores momentos:

… 30/06/1954 – Hungria 4 x 2 Uruguai

Três pontos sobre…
… 30/06/1954 – Hungria 4 x 2 Uruguai


(Imagem: The Guardian)

● Considerada uma das maiores partidas da história do futebol, era o duelo entre os dois principais favoritos ao título.

O Uruguai era a única seleção sul-americana entre os quatro semifinalistas. Era o então campeão mundial após o “Maracanazzo” de 1950 e nunca havia perdido uma partida de Copa do Mundo. A Celeste mantinha seus principais expoentes de 1950. A ausência mais sentida era Alcides Ghiggia, que não foi liberado pelo seu clube, a Roma. Na fase de grupos, venceu a Tchecoslováquia por 2 x 0 e a Escócia por 7 x 0. Na sequência, bateu a Inglaterra por 4 x 2 nas quartas de final.

A Hungria chegava mais forte ainda, campeã olímpica em 1952 e ostentando quatro anos de invencibilidade. Nos últimos 27 jogos, tinha vencido 23 e empatado quatro. Na primeira fase, os húngaros massacraram os adversários. Foram duas goleadas: 9 x 0 sobre a Coreia do Sul e 8 x 3 em cima da Alemanha Ocidental. Nas quartas de final, venceu o Brasil por 4 x 2 na “Batalha de Berna”. Em relação ao Uruguai, a Hungria vinha de um confronto mais difícil e ainda teve um dia a menos de descanso.

Por lesão, ambas equipes estavam desfalcadas de seus capitães e maiores estrelas. Os húngaros não tinha Ferenc Puskás (lesionado desde a primeira fase) e os celestes não podiam contar com o lendário Obdulio Varela (que se machucou contra os ingleses).

O time húngaro tinha ainda duas mudanças em relação ao jogo anterior. László Budai jogou na ponta direita no lugar do contundido József Tóth. Péter Palotás entrou na meia esquerda no lugar de Mihály Tóth.


A Hungria jogou em seu incipiente 4-2-4, com o recuo do centroavante Hidegkuti para armar o jogo e o consequente recuo de Zakariás para a linha defensiva. Palotás jogou na função de Puskás.


O Uruguai atuou no sistema WM adaptado, com um homem na sobra (Martínez) no sistema defensivo.

● Essa semifinal era vista por muitos como a final antecipada da Copa e correspondeu às expectativas com gols e alta qualidade técnica. Mesmo sob forte chuva, os 45 mil expectadores que estiveram no Estádio Olímpico de la Pontaise, em Lausanne, ficaram extasiados com a partida que assistiram.

Como de costume, a Hungria começou o jogo com agressividade no ataque e abriu o placar aos treze minutos. Nándor Hidegkuti ergueu a bola para a entrada da área, Sándor Kocsis desviou de cabeça e Zoltán Czibor a deixou quicar para emendar o voleio rasteiro de canhota, no canto esquerdo do goleiro uruguaio.

Os danubianos seguiam no ataque, mas a defesa rioplatense segurava firme. Em bola jogada para a área, a defesa celeste cortou mal. Czibor recolheu a bola, foi até a linha de fundo, cortou para dentro e cruzou de direita. Kocsis cabeceou forte e no alto, mas Roque Máspoli defendeu à queima roupa.

Essa foi a única partida em que os húngaros não abriram dois gols de vantagem nos vinte primeiros minutos.

A partida se apresentou com um duelo tático interessante. Parte do sucesso dos húngaros foi por causa do recuo do seu centroavante para armar as jogadas de ataque pelo meio (Nándor Hidegkuti ou Péter Palotás), deixando as defesas adversárias sem um homem de referência e abrindo espaço para a infiltração dos meias. Mas nessa partida, o técnico uruguaio Juan López Fontana destacou Néstor Carballo para a marcação individual sobre Hidegkuti. Os húngaros não estavam acostumados com isso e tiveram um pouco de dificuldades. Até que o treinador magiar Gusztáv Sebes contra-arquitetasse orientando para Zoltán Czibor para se movimentar no espaço aberto pela saída de Carballo.

O segundo gol só saiu no primeiro minuto do segundo tempo, László Budai cruzou da direita à meia altura para a segunda trave e Hidegkuti mandou para as redes de peixinho.

Com dois gols de vantagem no placar, a peleja parecia resolvida. Mas do outro lado tinha o bravo Uruguai.


(Imagem: Pinterest)

Aos trinta minutos da etapa final, Juan Alberto Schiaffino fez um lançamento para Juan Hohberg na meia-lua. Sem marcação, ele invadiu a área e chutou rasteiro no canto esquerdo do goleiro.

A Celeste Olímpica cresceu e a Hungria sentiu o golpe.

A quatro minutos do fim, Hohberg aproveitou confusão na área adversária, ganhou uma dividida com o goleiro Grosics e, mesmo caindo, anotou seu segundo tento na partida, igualando o placar.

Curiosamente, Juan Hohberg era nascido na Argentina. Ele esteve lesionado durante a fase de grupos e só foi estrear justamente nessa partida. No lance do gol de empate uruguaio, ele caiu desacordado. Depois soube-se que ele teve uma parada cardíaca ali mesmo, ficando alguns segundos morto. O médico uruguaio, Carlos Abate, deu duas doses de coramina ao jogador, além de fazer massagem cardíaca para reanimá-lo. O Uruguai voltou a campo com dez jogadores para a disputa do tempo extra, mas pouco depois, mesmo desaconselhado pelos médicos, Hohberg voltou a campo.

A partida mudou totalmente na prorrogação, com os uruguaios mais perto da vitória. Logo no primeiro lance, Schiaffino bateu cruzado, Grosics deslizou pela grama molhada e a bola carimbou a trave direita.

Mas prevaleceu o melhor preparo físico e os mágicos magiares reapoderam de forma fatal na segunda parte do tempo extra.

Aos 6′, após cruzamento de Budai para a área, Kocsis ganhou no alto de José Santamaría e cabeceou no canto esquerdo de Máspoli.

Aos 11, jogada muito semelhante. József Bozsik cruzou para a área, Kocsis ganhou no alto e cabeceou no canto direito do goleiro uruguaio, garantindo a passagem dos europeus à decisão.

Placar final: 4 a 2. E a Hungria chegaria mais favorita que nunca para a final da Copa.


(Imagem: Pinterest)

● Em 1960, apenas seis anos depois, a revista inglesa World Soccer chamou a partida de “o maior jogo de futebol de todos os tempos”.

Essa derrota uruguaia foi a primeira do país na história das Copas do Mundo. A Celeste Olímpica foi campeã em 1930 e não disputou os Mundiais de 1934 e 1938. Voltou em 1950 e novamente conquistou o título. O Uruguai também conquistou a medalha de ouro no futebol nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928. Assim, no total, entre 1924 e 1954, entre Olimpíadas e Copas do Mundo, o Uruguai teve uma fantástica série de 21 partidas invictas.

Ao fim da partida, o capitão uruguaio, William Martínez, foi cordialmente ao vestiário da Hungria para cumprimentar os vencedores. Os húngaros mostraram respeito e reverência aos uruguaios, ao contrário do sentimento nutrido em relação aos brasileiros, eliminados três dias antes. Para Kocsis, o Brasil era um time covarde. “Nós éramos melhores e ganharíamos quantas vezes precisássemos”, disse o atacante magiar.

“Nunca vi um desempenho tão notável entre duas equipes jogando no seu nível mais alto. Ambas as equipes foram excelentes. Eu instruí a Hungria a colocar a bola no chão e fazê-la correr o tempo todo. Estávamos conscientes de que a equipe uruguaia não conseguia acompanhar o ritmo que ditava no período final do jogo, e nossa suposição acabou sendo verdadeira na prorrogação.” ― Gusztáv Sebes

“Nunca vi o time húngaro jogando com tanta dedicação, mantendo seus padrões de futebol por tanto tempo, até mesmo na prorrogação.” ― Walter Winterbottom, técnico da seleção inglesa

“O jogo foi especialmente notável, pois os uruguaios jogam o mesmo futebol que nós. Nós apenas jogamos um pouco melhor.”József Bozsik

“O Uruguai foi o melhor time que a Hungria enfrentou em todos os tempos.” ― Gyula Mándi, treinador de campo e assistente de Gusztáv Sebes

“É seguro dizer que o time uruguaio é o melhor que enfrentamos até agora.” ― Gyula Grosics

“Com os húngaros perdemos por 4 a 2 e me tocou converter os dois gols uruguaios. A Hungria foi a melhor equipe que vi em minha vida. Era uma máquina infernal.” ― Juan Hohberg

“A Hungria é o maior time que eu já joguei contra. Sua qualidade é fascinante.” ― Víctor Rodríguez Andrade

“O time uruguaio joga de maneira diferente do Brasil. Eles colocam mais ênfase no trabalho em equipe. Individualmente eles não são tão brilhantes quanto os brasileiros. Mas o Uruguai é mais perigoso por causa de seu trabalho em equipe disciplinado e de seus esforços coletivos. Além disso, os jogadores têm excelente controle de bola e são capazes de boas combinações e lideraram alguns ataques maravilhosos. Víctor Rodríguez Andrade e Juan Alberto Schiaffino são seus melhores jogadores – o último é simplesmente impossível de desarmar. Deve ser notado que a marcação deles era às vezes frouxa e os defensores davam muito espaço para os nossos atacantes (especialmente William Martínez contra László Budai), que poderiam ter a bola relativamente desmarcada, e depois virá-la a seu favor.” (Parte da crônica do jornal húngaro Nemzeti Sport sobre a partida)

Na decisão do 3º lugar, o Uruguai não jogou bem e perdeu para a Áustria por 3 x 1. A Hungria enfrentou novamente a Alemanha Ocidental na final e perdeu de virada por 3 x 2.


(Imagem: Liga Retro)

FICHA TÉCNICA:

 

HUNGRIA 4 x 2 URUGUAI

 

Data: 30/06/1954

Horário: 18h00 locais

Estádio: Stade Olympique de la Pontaise

Público: 45.000

Cidade: Lausanne (Suíça)

Árbitro: Benjamin Griffiths (País de Gales)

 

HUNGRIA (4-2-4):

URUGUAI (WM):

1  Gyula Grosics (G)

1  Roque Máspoli (G)

2  Jenő Buzánszky

2  José Santamaría

3  Gyula Lóránt

3  William Martínez (C)

4  Mihály Lantos

4  Víctor Rodríguez Andrade

5  József Bozsik (C)

16 Néstor Carballo

6  József Zakariás

17 Luis Cruz

16 László Budai

18 Rafael Souto

8  Sándor Kocsis

19 Javier Ambrois

9  Nándor Hidegkuti

8  Juan Hohberg

19 Péter Palotás

10 Juan Alberto Schiaffino

11 Zoltán Czibor

11 Carlos Borges

 

Técnico: Gusztáv Sebes

Técnico: Juan López Fontana

 

SUPLENTES:

 

 

21 Sándor Gellér (G)

12 Julio Maceiras (G)

22 Géza Gulyás (G)

13 Mirto Davoine

12 Béla Kárpáti

14 Eusebio Tejera

13 Pál Várhidi

15 Urbano Rivera

14 Imre Kovács

5  Obdulio Varela

15 Ferenc Szojka

6  Roberto Leopardi

7  József Tóth

7  Julio Abbadie

17 Ferenc Machos

20 Omar Méndez

18 Lajos Csordás

9  Óscar Míguez

20 Mihály Tóth

21 Julio Pérez

10 Ferenc Puskás

22 Luis Ernesto Castro

 

GOLS:

13′ Zoltán Czibor (HUN)

46′ Nándor Hidegkuti (HUN)

75′ Juan Hohberg (URU)

86′ Juan Hohberg (URU)

111′ Sándor Kocsis (HUN)

116′ Sándor Kocsis (HUN)

Gols do jogo:

Compacto estendido da partida:

 

… 29/06/1950 – Estados Unidos 1 x 0 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 29/06/1950 – Estados Unidos 1 x 0 Inglaterra


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Inventores do futebol moderno, a Inglaterra protagonizou a primeira partida entre duas nações em 30/11/1872, ao empatar sem gols com a vizinha Escócia. Com tanta referência e tradição, os ingleses se negavam a disputar as Copas do Mundo, já que mantinha relações rompidas com a FIFA entre 1928 e 1946. E os ingleses se sentiam tão superiores, que não viam a necessidade de colocar a sua superioridade em questão e em disputa.

Ao se reconciliar com a entidade máxima do futebol, a federação inglesa aceitou disputar o Mundial de 1950. E viajaram para o Brasil com total convicção de que levantariam a taça. Na primeira partida, vitória sobre o Chile por 2 x 0, gols de Stan Mortensen e Wilf Mannion. Apesar do placar magro, a vitória tranquila apenas ressaltou o favoritismo inglês para as partidas seguintes.

A curiosidade sobre os ingleses era tão grande, que a delegação brasileira foi assistir à partida. Esse foi o único jogo que os donos da casa foram acompanhar in loco. Foi a primeira vez que o English Team jogou no continente americano.

Então, na segunda partida, contra os ingênuos ianques – semiamadores –, seria moleza.


(Imagem: Getty Images / Globo)

● Sério candidato a saco de pancadas, os Estados Unidos possuíam um time montado às pressas por atletas semi-amadores e recheado de imigrantes. Por exemplo, Frank Borghi foi médico na Segunda Guerra Mundial e trabalhava como motorista da funerária de seu tio na época da Copa. Walter Bahr era professor. Outros eram carteiros ou lavadores de prato. O atacante Ben McLaughlin não conseguiu a liberação do emprego e não viajou ao Brasil.

Cinco jogadores eram nascidos em em outro país: Joe Maca na Bélgica, Gino Gardassanich na região onde atualmente é a Croácia, Ed McIlvenny na Escócia, Adam Wolanin na Polônia e Joe Gaetjens no Haiti. Eles foram inscritos pouco antes da viagem da delegação. Outros sete eram de ascendência europeia: Frank Borghi, Charlie Colombo, Nicholas DiOrio e Gino Pariani eram de origem italiana; Walter Bahr era descendente de alemães; e John Souza e Ed Souza (que não tinham parentesco) eram de família portuguesa.

Curiosamente, o centromédio Charlie Colombo tinha o apelido de “Gloves” (“luvas”, em inglês) porque usava luvas para se lembrar de não colocar as mãos na bola. Depois da Copa, ele receberia o convite para jogar no futebol brasileiro, mas preferiu voltar aos EUA.


(Imagem: Getty Images / Globo)

● A Inglaterra chegou ao Brasil com um retrospecto de 23 vitórias, três empates e quatro derrotas no pós-guerra. Venceu o Campeonato Britânico de Seleções, que valia como eliminatórias e garantia uma vaga ao campeão.

Os Estados Unidos sofreram no grupo qualificatório das Américas do Norte e Central. Foram goleados duas vezes pelo México e só garantiu a vaga ao superar Cuba na última partida, após empatar a primeira. Nos sete últimos jogos desde o Mundial de 1934, haviam levado 45 gols (média de 6,5 gols sofridos por partida) e marcado apenas três. Com esse histórico, era de se esperar que passasse a maior das vergonhas, em um grupo com Inglaterra, Espanha e Chile. Apenas o vencedor de cada grupo se qualificava para o quadrangular final. Como esperado, Estados Unidos perderam para a Espanha por 3 x 1 na primeira partida.

Uma casa de apostas londrina estava pagando 500 para 1 em caso de aposta em vitória dos norte-americanos. O técnico Bill Jeffrey foi honesto à imprensa: “Não temos chance”. Ele também disse que seus jogadores eram “ovelhas prontas para serem abatidas”. O jornal inglês Daily Express esculachou: “Seria justo começar dando aos EUA três gols de vantagem”.

A Inglaterra tinha a expectativa da estreia do ponta direita Stanley Matthews, craque do time e chamado de “Feiticeiro do Drible”. Mas o presidente da federação inglesa, Arthur Drewry, pediu que o técnico Walter Winterbottom escalasse o mesmo time que havia vencido o Chile e, consequentemente, sem Matthews, poupado para o duelo diante da Espanha.


Os EUA atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.


A Inglaterra jogava no sistema WM.

● Na tarde de 29 de junho de 1950, 10.151 expectadores compareceram ao estádio Independência, em Belo Horizonte, Minas Gerais. A expectativa era ver uma surra homérica da Inglaterra no time semiamador dos Estados Unidos.

Normalmente Walter Bahr era o capitão da seleção dos Estados Unidos, mas Ed McIlvenny foi escolhido para essa partida somente por ser britânico. A Inglaterra ganhou no cara ou coroa e optou por começar com a bola.

Em um minuto e meio, Stan Mortensen cruzou da esquerda, Roy Bentley chutou e o goleiro Frank Borghi espalmou.

Aos 12′, a Inglaterra já tinha finalizado seis vezes, com duas bolas na trave, uma por cima e uma defendida milagrosamente por Borghi.

Os EUA só conseguiram chegar ao ataque aos 25′, com um chute defendido pelo goleiro inglês Bert Williams.

Na sequência, o English Team respondeu com três chutes a gol em três minutos. Mortensen chutou duas vezes por cima e o chute de Tom Finney tinha o caminho do ângulo, mas foi desviado por Borghi.

Aos 38 minutos, McIlvenny bateu um lateral para Walter Bahr, que chutou de forma despretensiosa, de longe, a 23 metros do gol. Quando o Williams deu um passo para a direita para segurar, Joe Gaetjens se antecipou e mergulhou de cabeça da marca do pênalti, tocando na bola apenas o suficiente para tirá-la das mãos do goleiro inglês e mandar para o fundo da rede. A multidão explodiu de alegria.

No último lance antes do intervalo, Finney teve a chance de empatar, mas o árbitro italiano Generoso Dattilo apitou antes que ele pudesse chutar.

Ao fim do primeiro tempo, o saldo era de 30 finalizações dos ingleses e apenas duas dos norte-americanos.


(Imagem: Superesportes)

A multidão em volta do estádio aumentou quando os belo-horizontinos ouviram o gol no rádio. Alguns até pularam o muto para entrar no estádio. Em sua grande maioria, os brasileiros estavam torcendo para os americanos, aplaudindo as defesas de Borghi e os falhos ataques ingleses.

“A maioria esmagadora era de brasileiros, mas eles torceram por nós o tempo todo. Não sabíamos o motivo até depois. Eles esperavam que vencêssemos a Inglaterra para que a tirasse do caminho do Brasil nas finais.” ― Walter Bahr

Com a vantagem no placar, o técnico Bill Jeffrey ordenou que seu time se fechasse todo atrás do meio de campo. E os estadunidenses começaram o segundo tempo jogando com confiança e quase ampliaram o marcados aos 54′.

Cinco minutos depois, Mortensen cobrou falta, mas Borghi defendeu bem.

A Inglaterra começou a atacar novamente e pressionava os americanos em seu campo de defesa.

A oito minutos do fim, Charlie Colombo derrubou Mortensen na entrada da área. Os atletas do English Team queriam pênalti, mas o juiz marcou falta fora da área. Na cobrança, Alf Ramsey cruzou e Jimmy Mullen cabeceou firme. A bola ia tomando o rumo do gol, mas Frank Borghi – o melhor jogador em campo – salvou em cima da linha. Os ingleses protestaram, alegando que a bola havia cruzado a linha, mas o árbitro não os atendeu e mandou o jogo seguir.

E o ímpeto britânico se perdeu. Aos 40′, Frank Wallace driblou o goleiro Williams e chutou, mas Alf Ramsey salvou em cima da linha.

Não havia mais tempo para nada. Estava decretada a maior zebra da história das Copas do Mundo.

No fim da partida, a eufórica torcida brasileira invadiu o gramado para erguer os jogadores americanos, especialmente Joe Gaetjens, o autor do milagre.

“O jogo perfeito é vencer e jogar bem. Ganhamos, mas com certeza não fomos melhores do que a Inglaterra. Foi um daqueles jogos onde a melhor equipe não ganha. Eu estou orgulhoso disso. Tínhamos uma boa equipe. Mas, se jogássemos contra a Inglaterra dez vezes, eles teriam ganhado nove.” ― Walter Bahr


(Imagem: Sport 360)

● Reza a lenda que, ao receber o teletipo com a informação do placar “EnglandOX1USA”, um jornal de Londres publicou o resultado da partida sem medo de errar: “England 10 x 1 USA”. Seria impossível para os ingleses acreditarem que não estivesse faltando nenhum caracter ao lado do “0 x 1”. Tinha que ser um erro. Outro jornal britânico foi irônico: “A Inglaterra foi batida pelo time do Mickey Mouse e do Pato Donald”.

A imprensa internacional foi unânime: se tratava do resultado mais inesperado da história das Copas. A zebra repercutiu no mundo todo, menos nos Estados Unidos. Os ianques praticamente ignoravam o futebol e não se ligaram no feito até a década de 1970.

A partida ficou conhecida como o “Milagre de Belo Horizonte”.

Na rodada final, os Estados Unidos perderam para o Chile por 5 x 2 e a Inglaterra foi batida pela Espanha por 1 x 0. Os espanhóis foram líderes do grupo e se classificaram para a fase final.

Por causa da decepcionante queda na primeira fase e o oitavo lugar na classificação geral, a seleção inglesa nunca mais voltou a vestir as camisas e meias azuis escuras que usou nessa partida.

Como zagueiro pela direita, esteve em campo Alf Ramsey, que seria o técnico campeão do mundo com a seleção inglesa em 1966.

Em 2005 foi lançado o filme “The game of their lives” (“Duelo de campeões”), produzido pelos ianques para retratar a histórica zebra. A película mostra como foi feita a montagem do time, as relações entre o elenco e uma partida em que os jogadores teriam enfrentado uma espécie de time B inglês e aprendido com os erros desse jogo para irem à Copa do Mundo (o que, de fato, ocorreu). É lógico que tem muito do tom nacionalista que os ianques adoram, tratando os jogadores como super-heróis. Mas a única falha histórica grotesca foi ignorar completamente o primeiro jogo dos EUA na Copa (derrota para a Espanha por 3 x 1). No fim do filme, aparecem cindo jogadores do time original que ainda estavam vivos mais de meio século depois: o goleiro Frank Borghi, o médio Walter Bahr e os atacantes Frank Wallace, Gino Pariani e John Souza.

O autor do gol da partida foi o haitiano Joe Gaetjens. Ele vivia nos Estados Unidos graças a um visto de estudante para cursar contabilidade na Universidade de Columbia e trabalhava como lavador de pratos eum um restaurante no Brooklin, além de jogar futebol pelo time Brookhattan. Ele obteve um passaporte provisório para poder disputar a Copa do Mundo pelos EUA. Ele já havia representado a seleção do Haiti em 1944 e voltou a jogar em 1953, em uma partida das eliminatórias para a Copa de 1954, contra o México.

No ano seguinte, Joe Gaetjens foi jogar no Racing Club de Paris e retornou ao Haiti posteriormente. Depois, passou a trabalhar para um rival político de François “Papa Doc” Duvalier e foi preso em 1954. Passou a militar politicamente contra a ditadura de “Papa Doc” até que foi visto pela última vez em 08 de julho de 1964, sendo colocado à força em um carro da polícia secreta do ditador e levado à prisão de Fort Dimanche, conhecido como um lugar de tortura e crueldade. Gaetjens nunca mais foi visto.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ESTADOS UNIDOS 1 x 0 INGLATERRA

 

Data: 29/06/1950

Horário: 15h00 locais

Estádio: Independência

Público: 10.151

Cidade: Belo Horizonte (Brasil)

Árbitro: Generoso Dattilo (Itália)

 

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

INGLATERRA (W-M):

1  Frank Borghi (G)

1  Bert Williams (G)

2  Harry Keough

2  Alf Ramsey

3  Joe Maca

3  John Aston

4  Ed McIlvenny (C)

4  Billy Wright

5  Charlie Colombo

5  Laurie Hughes

6  Walter Bahr

6  Jimmy Dickinson

7  Ed Souza

7  Tom Finney

8  John Souza

8  Stan Mortensen

9  Joe Gaetjens

9  Roy Bentley

10 Gino Pariani

10 Wilf Mannion

11 Frank Wallace

11 Jimmy Mullen

 

Técnico: William Jeffrey

Técnico: Walter Winterbottom

 

SUPLENTES:

 

 

Gino Gardassanich (G)

Ted Ditchburn (G)

Robert Annis

Laurie Scott

Geoff Coombes

Jim Taylor

Robert Craddock

Bill Eckersley

Nicholas DiOrio

Willie Watson

Adam Wolanin

Bill Nicholson

 

Eddie Baily

 

Henry Cockburn

 

Stanley Matthews

 

Jackie Milburn

 

GOL: 38′ Joe Gaetjens (EUA)

Algumas imagens da partida:

Reportagem sobre o jogo e entrevista com o zagueiro norte-americano Harry Keough:

… 28/06/1998 – França 1 x 0 Paraguai

Três pontos sobre…
… 28/06/1998 – França 1 x 0 Paraguai


(Imagem: Thomas Kienzle / AP Photo)

● O estádio Félix-Bollaert tinha capacidade para 41 mil pessoas e a cidade onde é situado, Lens, tem apenas 35 mil habitantes. É a menor cidade a receber um jogo de Copa do Mundo. Nessa partida das oitavas de final, recebeu 31.800 expectadores.

Dona da casa, a França foi a líder do Grupo C com 100% de aproveitamento. Venceu a África do Sul por 3 x 0, a Arábia Saudita por 4 x 0 e a Dinamarca por 2 x 1.

O Paraguai teve mais trabalho para se classificar no segundo lugar do Grupo D. Empatou sem gols com a Bulgária e com a Espanha. Na terceira rodada, venceu a Nigéria por 3 x 1 – os nigerianos já estavam garantidos como primeiros do grupo e jogaram com um time reserva.

Na semana da partida pelas oitavas de final, o maior jornal esportivo francês, L’Équipe, perguntou com certo menosprezo: “Onde fica o Paraguai?”

O excelente goleiro José Luis Chilavert liderava o forte sistema defensivo paraguaio, que tinha os bons zagueiros Celso Ayala e Pedro Sarabia, além do excepcional Carlos Gamarra. Na ala direita, Francisco Arce se destacava pelos cruzamentos e bolas paradas. Na esquerda, Jorge Luis Campos era um meia adaptado à função de ala, que apoiava mais que Arce. Como volantes, Julio César Enciso e Carlos Paredes faziam a proteção. O argentino naturalizado Roberto Acuña fazia a ligação com o ataque. O baixinho Miguel Ángel Benítez era mais arisco e veloz, enquanto José Cardozo era o homem de área.


(Imagem: UOL)

● Na França, Zidane estava ausente, cumprindo o segundo jogo de suspensão por ter sido expulso ao pisar propositalmente em Mohammed Al-Khilaiwi, na vitória sobre a Arábia Saudita.

Bernard Diomède foi o substituto de Zizou, mas com funções diferentes. Youri Djorkaeff foi o armador central, com Henry fazendo o lado direito e Diomède pela esquerda. O ponta do AJ Auxerre tinha estrado pela seleção naquele mesmo ano. Era muito impetuoso e tinha pouca técnica, mas seria importante para prender Chiqui Arce e evitar as subidas do ótimo lateral paraguaio.

Sem Zidane, Djorkaeff seria a luz de criatividade no time, dando objetividade e velocidade quando necessário. Os laterais Thuram e Lizarazu pouco apoiariam. A jovem dupla de ataque David Trezeguet e Thierry Henry não funcionaria.


A França jogou em um misto de 4-4-2 e 4-2-3-1. Aimé Jacquet escalou Les Bleus com Djorkaeff armando por dentro, Henry fazendo o lado direito e Diomède pela esquerda, com Trezeguet como centroavante.


Com a bola, o Paraguai jogava no 3-5-2. Sem a bola, se fechava no 5-3-2 e, por vezes, até no 5-4-1 com o recuo de Benítez.

● A primeira chance foi francesa. Youri Djorkaeff bateu com perigo à esquerda do gol.

Pouco depois, Djorkaeff tocou para Emmanuel Petit, que rolou no meio para Diomède chutar, mas ele bateu mascado e mandou para fora.

O Paraguai teve sua melhor chance em um passe longo de Toro Acuña para Cardozo emendar o chute, mas Fabien Barthez defendeu bem.

Paredes tentou cruzar da esquerda e a bola quase encobriu o goleiro francês.

Chiqui Arce também tentou um cruzamento da intermediária direita e a bola chegou a assustar o carequinha Barthez, que agarrou firme antes que ela tomasse o caminho de seu ângulo direito.


(Imagem: Pinterest)

Um novo lançamento de Acuña colocou Miguel Ángel Benítez para correr. Ele avançou e foi travado por Marcel Desailly na hora do chute. Benítez ainda pegou a sobra e tocou para Cardozo no meio, mas ele não conseguiu dominar e Lizarazu tirou o perigo.

Diomède chutou de direita da entrada da área. A bola bateu na defesa paraguaia, que não conseguiu afastar e Trezeguet finalizou com perigo à esquerda de Chilavert.

Novamente Diomède arriscou de esquerda da entrada da área e Chilavert se esticou todo para espalmar para escanteio.

Lizarazu interceptou uma bola na defesa e lançou para Thierry Henry partir em velocidade de seu próprio campo. Sarabia tentou cortar e chutou para cima. E Henry ganhou na velocidade de Ayala e Gamarra e tocou na saída de Chilavert. Caprichosa, a bola bateu na trave e não entrou.

Djorkaeff passou por Enciso e chutou. A bola desviou em Gamarra e passou perto do travessão.

Djorkaeff bateu escanteio e Desailly subiu mais que todo mundo para cabecear, mas Chilavert segurou firme sem dar rebote.

Robert Pirès tocou na área para Stéphane Guivarc’h fazer o pivô. Trezeguet deixou Gamarra no chão e bateu de esquerda, rente à trave direita do Paraguai.

A França reclamou pênalti de Gamarra em Djorkaeff, mas o árbitro Ali Bujsaim viu como lance normal (e foi).


(Imagem: Pinterest)

No final da partida, Gamarra sofreu uma lesão na clavícula, foi atendido fora de campo e voltou para o jogo com o braço em uma tipoia, lembrando o grande Franz Beckenbauer na semifinal da Copa do Mundo de 1970.

Ao fim do tempo normal, Chilavert beijou a medalhinha que carregava o tempo todo e deixava atrás da trave esquerda.

Já na prorrogação, Djorkaeff bateu falta, a bola desviou na barreira e Chilavert fez um milagre, mandando para escanteio com a ponta dos dedos.

A seleção paraguaia não se intimidou com a torcida contra e catimbou o quanto pôde. Se fechou na defesa e ganhou tempo sempre que possível. Chilavert ganhou cartão amarelo por retardar um tiro de meta ainda no começo do jogo. Arce recebeu a mesma advertência por parar uma cobrança de escanteio para amarrar as chuteiras.

O técnico Carpegiani já estava escalando seus cobradores de pênaltis. A seleção guarani apostava que se classificaria nas penalidades. Além de excelentes cobradores, tinha um grande goleiro, experiente nesse tipo de decisão. Mas…

A seis minutos do fim, bola na área da defesa paraguaia e Ayala escorou de cabeça. Pirès pegou o rebote pelo lado direito, entrou na grande área e centrou para a marca do pênalti. O heroico Gamarra não teve forças para subir e Trezeguet foi perfeito ao escorar para o bico direito da pequena área para Laurent Blanc fuzilar Chilavert. O goleiro tentou fechar o ângulo e ainda tocou na bola. Mas ela entrou. Era o primeiro gol de ouro da história dos Mundiais.

Ao término da partida, Chilavert, um líder nato, ainda tentou consolar e animar seus companheiros. O Paraguai caiu de pé e lembrou ao mundo onde fica.


(Imagem: Yahoo)

● As duas seleções tiveram as melhores defesas da Copa, sofrendo apenas dois gols. Porém, ambas sofriam com seus ataques. Na França, os jovens Thierry Henry e David Trezeguet não rendiam como esperado. No Paraguai, Miguel Ángel Benítez e José Cardozo tinham ainda menos poder de fogo que os gauleses. Então, nada mais marcante do que um zagueiro – Laurent Blanc – marcar o gol do jogo.

Essa foi a primeira partida da história das Copas do Mundo decidida na “morte súbita”. Também chamado de “gol de ouro”, era uma novidade daquela edição do Mundial. Se um jogo de mata-mata terminasse empatado, vencia a equipe que fizesse o primeiro gol na prorrogação.

“O Carpegiani não me deixou sair de campo. Disse que precisava de mim.” ― Carlos Gamarra

“Antes da prorrogação, o Gamarra me disse que estava mal [do ombro] e eu podia trocá-lo pelo [Catalino] Rivarola, que era um zagueiro experiente e bom no jogo aéreo. Só que eu precisava fazer outra troca tática no ataque. Disse que a responsabilidade era toda minha da permanência dele. No dia seguinte, quando fez a radiografia, vimos que tinha dois centímetros de desvio da clavícula. E foi em cima dele que perdemos o jogo, porque a bola veio na cabeça do Trezeguet e ele não subiu junto… Tínhamos grandes possibilidades de fazer o crime naquele jogo. Só que paguei esse preço alto porque a jogada do gol foi em cima do Gamarra, que estava machucado. Estivesse em campo o Rivarola, ótimo no jogo aéreo, quem sabe até onde poderíamos ter chegado…” ― Paulo César Carpegiani

José Luis Chilavert e Carlos Gamarra foram escolhidos para a seleção do Mundial. Eles não se bicavam, mas se uniram para fazerem parte de um dos mais memoráveis sistemas defensivos da história das Copas. Em 384 minutos disputados de quatro partidas na Copa de 1998, Gamarra fez inúmeros desarmes não cometeu nenhuma falta sequer.

Na sequência, a França empatou sem gols com a Itália e venceu por 4 x 3 nos pênaltis, na volta de Zidane. Nas semifinais, Thuram foi o herói ao marcar duas vezes contra a Croácia na vitória de virada por 2 x 1. Na decisão, a França jogou melhor e venceu o Brasil por 3 x 0 e conquistou seu primeiro título da Copa do Mundo de Futebol.


(Imagem: Lance!)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 1 X 0 PARAGUAI

 

Data: 28/06/1998

Horário: 16h30 locais

Estádio: Stade Félix-Bollaert (atual Stade Bollaert-Delelis)

Público: 31.800

Cidade: Lens (França)

Árbitro: Ali Bujsaim (Emirados Árabes Unidos)

 

FRANÇA (4-2-3-1):

PARAGUAI (3-5-2):

16 Fabien Barthez (G)

1  José Luis Chilavert (G)(C)

15 Lilian Thuram

5  Celso Ayala

5  Laurent Blanc

4  Carlos Gamarra

8  Marcel Desailly

11 Pedro Sarabia

3  Bixente Lizarazu

2  Francisco Arce

7  Didier Deschamps (C)

16 Julio César Enciso

17 Emmanuel Petit

13 Carlos Paredes

13 Bernard Diomède

10 Roberto Acuña

6  Youri Djorkaeff

21 Jorge Luis Campos

20 David Trezeguet

15 Miguel Ángel Benítez

12 Thierry Henry

9  José Cardozo

 

Técnico: Aimé Jacquet

Técnico: Paulo César Carpegiani

 

SUPLENTES:

 

 

1  Bernard Lama (G)

12 Danilo Aceval (G)

22 Lionel Charbonnier (G)

22 Rubén Ruiz Díaz (G)

18 Frank Leboeuf

3  Catalino Rivarola

2  Vincent Candela

14 Ricardo Rojas

19 Christian Karembeu

20 Denis Caniza

14 Alain Boghossian

6  Edgar Aguilera

4  Patrick Vieira

19 Carlos Morales

11 Robert Pirès

8  Arístides Rojas

10 Zinedine Zidane

18 César Ramírez

21 Christophe Dugarry

7  Julio César Yegros

9  Stéphane Guivarc’h

17 Hugo Brizuela

 

GOL: 114′ Laurent Blanc (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

19′ José Luis Chilavert (PAR)

23′ Miguel Ángel Benítez (PAR)

32′ Julio César Enciso (PAR)

84′ Francisco Arce (PAR)

99′ Arístides Rojas (PAR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

55′ Jorge Luis Campos (PAR) ↓

Julio César Yegros (PAR) ↑

 

64′ Thierry Henry (FRA) ↓

Robert Pirès (FRA) ↑

 

69′ Emmanuel Petit (FRA) ↓

Alain Boghossian (FRA) ↑

 

75′ Carlos Paredes (PAR) ↓

Denis Caniza (PAR) ↑

 

76′ Bernard Diomède (FRA) ↓

Stéphane Guivarc’h (FRA) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO José Cardozo (PAR) ↓

Arístides Rojas (PAR) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 27/06/2006 – França 3 x 1 Espanha

Três pontos sobre…
… 27/06/2006 – França 3 x 1 Espanha


(Imagem: SoccerMuseum)

● A Espanha não chegou à Alemanha com a mesma confiança de outros Mundiais. Não tinha mais a experiência e liderança de Fernando Hierro. Raúl já estava em declínio técnico e não era mais o jogador extraclasse que havia sido. A esperança de gols era Fernando “El Niño” Torres. Treinada por Luis Aragonés desde o fim da Eurocopa de 2004, foi deixando aos poucos de ser “La Fúria” e se tornando “La Roja”. O que isso significava? Que não bastava tentar vencer na base da imposição, a todo custo (como em seu histórico), mas isso era feito com inteligência e muita posse de bola.

Muitos afirmam que foi Pep Guardiola quem implantou no Barcelona o estilo “tiki-taka” que teria sido copiado por Vicente Del Bosque para a seleção que venceu as Eurocopas de 2008 e 2012 e a Copa do Mundo de 2010. Porém, Guardiola chegou ao Barça na temporada 2008/09, logo na sequência do título espanhol na Euro. La Roja ainda era treinada por Aragonés, que usava Xavi e Iniesta como peças principais de uma troca de passes incessante.

Para 2006, era um time muito renovado em comparação com quatro anos antes, com destaques para Cesc Fàbregas (19 anos), Sergio Ramos (20), Fernando Torres (22), Andréa Iniesta (22), José Antonio Reyes (23) e David Villa (25) – que superaria Raúl como o maior goleador da história da seleção espanhola. Desde que Aragonés assumiu o comando, a Espanha não havia perdido nenhum dos últimos 25 jogos.


(Imagem: IFDB)

Como já contamos, a França chegou cheia de expectativas e passou vergonha na Copa do Mundo de 2002. O técnico Raymond Domenech havia treinado a seleção sub-21 da França por onze anos e conhecia bem o potencial daquela geração. Desde 2004 na seleção principal, ele tinha a responsabilidade de recuperar a autoestima do povo em relação à equipe nacional.

A França estava passando apuros para se qualificar para o Mundial. Mas, a quatro partidas do fim, teve a volta de três expoentes. Zinedine Zidane, Lilian Thuram e Claude Makélélé haviam se aposentado da seleção após a Euro 2004, mas voltaram na reta final das eliminatórias europeias para garantir a classificação dos Bleus. O grupo foi tão equilibrado em um festival de empates, que a França ficou apenas três pontos a frente da Irlanda, quarta colocada (França, Suíça e Israel terminaram invictos).

Zidane chegou na Copa aposentado. Ele tinha mais um ano de contrato com o Real Madrid, mas anunciou que penduraria as chuteiras após a Copa. Então, cada jogo na competição poderia ser o último da carreira de Zidane. E isso inflamou os franceses a se doarem mais em campo em prol de seu capitão. E causou uma enorme expectativa nos telespectadores e no público em geral.

A seleção francesa contava com seis veteranos campeões do mundo em 1998: o goleiro Fabien Barthez, o defensor Lilian Thuram, os meio-campistas Patrick Vieira e Zinedine Zidane, além dos atacantes David Trezeguet e Thierry Henry. Já no fim de sua gloriosa passagem pelo Arsenal, o meia Robert Pirès foi preterido pelo técnico Domenech; segundo o jogador, ele teria ficado de fora das convocações por ser do signo de escorpião, incomodando o místico treinador. Djibril Cissé era dado como certo até como titular, mas fraturou a perna uma semana antes do Mundial, em um amistoso contra a China; para seu lugar foi convocado o experiente Trezeguet.


(Imagem: BBC)

● A Espanha foi a líder do Grupo H, com 100% de aproveitamento. Na estreia, goleou a debutante Ucrânia, de Andriy Shevchenko, por 4 x 0. Na sequência, bateu a Tunísia por 3 X 1. Já classificada, jogou com um time reserva e venceu a Arábia Saudita com um magro 1 X 0.

Mas magra mesmo foi a campanha da França no Grupo G. Na primeira partida, empate sem gols com a Suíça. Na segunda, outro empate com a Coreia do Sul, dessa vez por 1 X 1. E o sinal de alerta foi ligado, porque no terceiro jogo, a França precisaria vencer a seleção de Togo, de Emmanuel Adebayor, por dois gols de diferença para depender apenas de si – e sem contar com Zinedine Zidane e Éric Abidal, ambos suspensos com o segundo cartão amarelo. Mas Les Bleus venceram sua ex-colônia africana pelo placar necessário de 2 x 0.

Nas oitavas de final, a França tinha que melhorar muito para desbancar a favorita Espanha. A Espanha era freguesa da França em jogos oficiais (quatro derrotas e um empate em cinco jogos até então). Essa foi a única partida em Copas do Mundo mas o duelo havia se repetido três vezes na Eurocopa. Na decisão de 1984, Michel Platini comandou Les Bleus ao título com vitória sobre a Fúria por 2 x 0. Em 1996, empate por 1 x 1 na fase de grupos. Em 2000, nova vitória francesa nas quartas de final por 2 x 1.


A França atuava no esquema 4-2-3-1.


A Espanha jogou no sistema 4-3-3.

● Na AWD Arena, em Hanover, a partida foi um jogo de xadrez, entre os estrategistas Raymond Domenech e Luis Aragonés. O jogo começou cadenciado, com as duas equipes se arriscando pouco no ataque. A Espanha mantinha a posse de bola e a França buscava roubar e sair em rápidos contragolpes.

Com os sistemas defensivos bem postados, a primeira chance do jogo só ocorreu na metade do primeiro tempo. Zidane lançou Henry na ponta direita e ele chegou cruzando para a pequena área. A bola passou por Franck Ribéry e Patrick Vieira, que não conseguiram alcançá-la e desperdiçaram a chance.

Thierry Henry era o único homem de frente dos Bleus (que jogaram de branco) e invariavelmente era pego em impedimento, pois a defesa espanhola atuava em linha. Os franceses também não davam espaço ao trio de ataque espanhol. Com isso, os gols só podiam sair de erros cometidos pelas defesas.

Aos 28′, Mariano Pernía (lateral esquerdo argentino naturalizado espanhol) bateu escanteio e a defesa francesa cortou mal. Xabi Alonso pegou o rebote e tocou para o meio. Se aventurando no ataque, o zagueiro Pablo Ibáñez tentou dominar dentro da área e Thuram pisou em seu tornozelo. Pênalti para a Espanha. Raúl estava completando 29 anos exatamente naquele dia. O craque merengue tinha desperdiçado uma penalidade no fim do jogo contra a França na Euro 2000 e não foi para a cobrança. David Villa se encarregou e bateu com perfeição, quase no pé da trave direita de Barthez, que até acertou o canto, mas não conseguiu pegar. A Espanha abriu o placar.

A França teve que tomar mais a iniciativa, passou a dominar o jogo e a merecer o empate. E ele veio aos 41′. Franck Ribéry deixou com Vieira, que devolveu com perfeição para o Scarface escapar sem marcação nas costas da defesa ibérica, driblar Iker Casillas e completar para o gol.


(Imagem: BBC)

Tudo igual no intervalo. O jogo estava aberto e as expectativas para a etapa final eram as melhores possíveis.

O jogo voltou a ficar equilibrado, mas em ritmo mais lento. Nenhum dos dois times conseguiam criar chances claras de gol. O ataque espanhol era inócuo e o técnico fez duas mudanças no time aos oito minutos: saíram os atacantes Raúl e David Villa e entraram os pontas Luis García e Joaquín. Os jogadores que entraram auxiliavam mais na recomposição defensiva.

A Espanha tinha mais posse de bola (61%). Mas a França tinha Zinedine Zidane. E ele começou a jogar. Não queria se despedir do futebol dessa maneira e estava determinado a mudar a sorte de sua equipe. E estava no auge da sua magia. Com seu maestro orquestrando as jogadas, a França passou a merecer a virada. E ela veio quando faltavam apenas sete minutos para o fim do jogo.

Aos 38′ da etapa final, Zidane cobrou falta da intermediária direita para a área espanhola. Xabi Alonso cortou mal e Patrick Vieira cabeceou quase da linha de fundo. A bola bateu em Sergio Ramos e tirou Casillas da jogada. Era a virada francesa.

A Fúria não tinha alternativas e tentou partir com tudo para cima nos minutos finais, dando contra-ataques para os franceses e acabou por sofrer o golpe fatal. Já nos acréscimos, Cesc Fàbregas foi cercado por três franceses em seu campo de defesa e perdeu a bola. Sylvain Wiltord lançou Zidane na esquerda. O gênio invadiu a área, cortou Puyol e chutou no contrapé de Casillas. Um golaço que colocou ponto final no duelo.


(Imagem: BBC)

● Placar final: 3 x 1 e classificação francesa garantida. Um placar sem sombra de dúvidas sobre quem era melhor.

Melhor ainda: Zidane estendia a carreira ao menos por mais noventa minutos.

Patrick Vieira era até então o mais importante jogador francês no Mundial, com dois gols e duas assistências.

A Espanha continuava sua sina de amarelar em jogos decisivos.

Nas quartas de final, a França enfrentaria a Seleção Brasileira, do temível “Quadrado Mágico”: Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo. Mas sobre essa partida vamos falar no dia 01/07.


(Imagem: BBC)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 3 x 1 ESPANHA

 

Data: 27/06/2006

Horário: 21h00 locais

Estádio: AWD Arena (atual HDI Arena)

Público: 43.000

Cidade: Hanover (Alemanha)

Árbitro: Roberto Rosetti (Itália)

 

FRANÇA (4-2-3-1):

ESPANHA (4-3-3):

16 Fabien Barthez (G)

1  Iker Casillas (G)

19 Willy Sagnol

15 Sergio Ramos

15 Lilian Thuram

5  Carles Puyol

5  William Gallas

22 Pablo Ibáñez

3  Éric Abidal

3  Mariano Pernía

6  Claude Makélélé

14 Xabi Alonso

4  Patrick Vieira

8  Xavi

22 Franck Ribéry

18 Cesc Fàbregas

10 Zinedine Zidane (C)

21 David Villa

7  Florent Malouda

9  Fernando Torres

12 Thierry Henry

7  Raúl (C)

 

Técnico: Raymond Domenech

Técnico: Luis Aragonés

 

SUPLENTES:

 

 

23 Grégory Coupet (G)

19 Santiago Cañizares (G)

1  Mickaël Landreau (G)

23 Pepe Reina (G)

2  Jean-Alain Boumsong

2  Míchel Salgado

17 Gaël Givet

4  Carlos Marchena

13 Mikaël Silvestre

20 Juanito

21 Pascal Chimbonda

12 Antonio López

18 Alou Diarra

6  David Albelda

8  Vikash Dhorasoo

16 Marcos Senna

9  Sidney Govou

13 Andrés Iniesta

11 Sylvain Wiltord

17 Joaquín

14 Louis Saha

10 José Antonio Reyes

20 David Trezeguet

11 Luis García

 

GOLS:

28′ David Villa (ESP) (pen)

41′ Franck Ribéry (FRA)

83′ Patrick Vieira (FRA)

90+2′ Zinedine Zidane (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

68′ Patrick Vieira (FRA)

82′ Carles Puyol (ESP)

87′ Franck Ribéry (FRA)

90+1′ Zinedine Zidane (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

54′ David Villa (ESP) ↓

Joaquín (ESP) ↑

 

54′ Raúl (ESP) ↓              

Luis García (ESP) ↑

 

72′ Xavi (ESP) ↓

Marcos Senna (ESP) ↑

 

74′ Florent Malouda (FRA) ↓

Sidney Govou (FRA) ↑

 

88′ Thierry Henry (FRA) ↓

Sylvain Wiltord (FRA) ↑

Gols da partida:

… 26/06/1974 – Holanda 4 x 0 Argentina

Três pontos sobre…
… 26/06/1974 – Holanda 4 x 0 Argentina


(Imagem: Sergio Sade / Veja)

● Não existia uma seleção holandesa até duas semanas antes da Copa do Mundo de 1974. No princípio de tudo, era um grupo rachado, formado pela base de dois times multicampeões: o Ajax, tricampeão europeu (1970/71, 1971/72 e 1972/73) e o Feyenoord, campeão europeu em 1969/70. Com a rivalidade à flor da pele, os jogadores desses dois times não se combinavam fora e nem dentro de campo. Coube ao grande técnico do século XX transformar esse amontoado de bons jogadores em um time inesquecível.

Rinus Michels era o arquiteto daquele Ajax encantador. Depois do primeiro título europeu, foi treinar o Barcelona, tirando o time de uma fila de 14 anos sem títulos nacionais. Ele ainda era treinador dos Culés quando foi treinar a seleção holandesa, a apenas três meses da Copa. E Michels contou com a liderança do capitão Johan Cruijff para implementar um novo estilo de jogo.

Resumindo rapidamente, o “Futebol Total” se trata de um sistema em que todos os jogadores são capazes de defender e atacar (às vezes até ao mesmo tempo), sempre avançando em “triângulos”. Ou seja, o jogador que está com a bola sempre tem (pelo menos) duas opções de passe progressivo, uma de cada lado.

A escalação titular que se tornou célebre só foi jogar junta, nas mesmas posições, apenas na Copa do Mundo, na estreia contra o Uruguai. Aliás, que estreia! O “Carrossel Holandês” surpreendeu a todos (e até a si mesmo) e venceu os experientes uruguaios, 4º colocados no Mundial anterior. O placar foi 2 a 0, mas poderia ter sido 7, se não fosse o ótimo goleiro Ladislao Mazurkiewicz.

Na segunda rodada, um empate em 0 x 0 com a Suécia provou que uma partida não precisa ter gols para ser excelente; zero no placar e nota dez para o futebol de ambos. O último jogo da primeira fase foi uma goleada por 4 x 1 sobre a Bulgária. Mas foi na segunda fase que começou o grande espetáculo da “Laranja Mecânica”.


(Imagem: Pinterest)

● O primeiro confronto pelo Grupo A da segunda fase foi entre Holanda e Argentina. Um mês antes, as duas seleções haviam disputado um amistoso em Amsterdã, com goleada dos laranjas por 4 x 1. Já era um aviso do que viria em Gelsenkirchen.

A Argentina tinha bons jogadores, como o zagueiro e capitão Roberto Perfumo (do Cruzeiro), e os atacantes René Houseman e Héctor Yazalde (Chuteira de Ouro da Europa na temporada 1973/74 com 46 gols, jogando pelo Sporting, de Portugal). Mas o técnico Vladislao Cap (ex-zagueiro da Copa de 1962) não conseguiu formar um bom conjunto.

Na primeira fase, a Argentina perdeu para a Polônia por 3 x 2. Depois, empatou com a Itália em 1 x 1. No terceiro jogo, venceu o Haiti por 4 x 1. A Polônia foi líder com 100% de aproveitamento. Argentina e Itália empataram na segunda colocação e os hermanos se classificaram por terem um gol a mais de saldo que os italianos, eliminando a Azzurra do Mundial.

Para o duelo diante dos holandeses, o treinador da albiceleste resolveu fortalecer seu meio de campo, trocando Carlos Babington (mais ofensivo e criativo) por Carlos Squeo (mais defensivo). Trocou também o jovem Mario Kempes pelo mais experiente Agustín Balbuena. Foi corajoso ao manter um trio de ataque não auxiliava na marcação: René Houseman, Rubén Ayala e Héctor Yazalde.


Devido à alta rotação de posições, é quase impossível definir o “Futebol Total” do “Carrossel Holandês”, mas teoricamente era um 4-3-3.


A Argentina atuava no 4-3-3.

● Os primeiros dez minutos tiveram algum equilíbrio, mesmo com a primeira chance sendo dos europeus. Aos três minutos, Johan Cruijff passou para Rob Rensenbrink chutar rente ao travessão.

Aos 11′, Wim Rijsbergen fez falta não marcada em Yazalde. Na sequência, Willem van Hanegem deu um passe em elevação para Cruijff dentro da área. A defesa argentina parou alegando um impedimento que não existiu. O genial camisa 14 dominou, driblou o goleiro Daniel Carnevali e tocou para as redes.

E com o placar a seu favor, começou a girar o “Carrossel Holandês”. Onde a bola estivesse, a Oranje sempre estaria com três ou quatro jogadores, em superioridade numérica.

Aos 17′, Van Hanegem teve a chance de ampliar, mas demorou a chutar. Na sequência do lance, Wim Jansen chutou e Quique Wolff evitou o gol com o peito.

Dois minutos depois aconteceu o lance que melhor representa o “Futebol Total”. Sete holandeses estavam na barreira em uma cobrança de falta de Wolff e a bola espirrou para a linha latera. Incrivelmente, cinco homens de camisa laranja saíram na pressão sobre Ramón Heredia e um sexto partiu sobre um argentino que escapava pela direita. É um lance do célebre arrastão laranja, que intimidava e desgastava qualquer adversário – mas também a própria equipe de Rinus Michels.

Pouco depois, Johan Neeskens driblou Carnevali e cruzou para a área. Jansen errou o carrinho e o capitão albiceleste Roberto Perfumo recuou para o goleiro.

Aos 25′, se repetiu um lance semelhante, com Carnevali saindo para impedir Neeskens e mandou pela linha de fundo. O próprio Neeskens bateu o escanteio e Carnevali tirou de soco para a entrada da área. Ruud Krol pegou a sobra e emendou de primeira uma bomba que estufou as redes, entrando bem próximo à trave direita. Já estava 2 a 0.

O jogo já estava definido, mas a Argentina foi valente e tentou reagir. E apareceu uma característica da defesa holandesa que seria mais vista ainda no duelo diante do Brasil: as entradas duras nos tornozelos dos rivais. Ayala foi vítima de uma delas e ficou mancando. Wolff não teve a mesma sorte e precisou sair no intervalo após um carrinho de Neeskens, sendo substituído por Rubén Glaria. Por decisão técnica, René Houseman deu lugar a Mario Kempes – que não entrou bem novamente.

Com um toque de bola impressionante, Cuijff e companhia nada limitada fez o seu melhor primeiro tempo da competição e arrasou os argentinos, que se limitavam a tentar afastar a bola de sua área de qualquer maneira.


(Imagem: Peter Robinson / Empics Sport)

Na volta para o segundo tempo, um temporal caiu sobre o Parkstadion.

Com o campo pesado, a “Laranja Mecânica” diminuiu o ritmo e controlou a partida, ao mesmo tempo que queria ampliar o saldo de gols – que poderia vir a ser critério de desempate por uma vaga na final. Aos oito minutos, mesmo perseguido por Roberto Telch, Cruijff arrancou e chutou para uma ótima defesa de Carnevali, esticando o pé esquerdo no reflexo.

O árbitro escocês Robert Davidson não marcou pênalti sobre Rensenbrink, aos 13 minutos.

Como sempre jogando sem luvas, o goleiro Jan Jongbloed não precisou fazer nenhuma defesa durante a partida. Curiosamente, o arqueiro holandês já era veterano, usava lentes de contato por ser míope e nunca jogou em um clube grande.

E a “Laranja Mecânica” fazia a pobre Argentina dançar no ritmo de “Singin’ in the Rain”, de Gene Kelly – eternizado pelo infame personagem Alex, do filme de Stanley Kubrick.

O terceiro gol veio aos 28 min. Cruijff fez um cruzamento longo da esquerda (e de canhota) e a bola foi perfeita na segunda trave para Johnny Rep invadir a pequena área e cabecear para o gol.

A dez minutos do fim, Telch teve que deixar o campo lesionado e os hermanos tiveram que jogar com um a menos, porque já haviam feito as duas alterações permitidas. Squeo sentiu a coxa e teve que terminar o jogo mancando.

O técnico Rinus Michels fez uma única substituição, trocando o amarelado Wim Suurbier por Rinus Israël ao 39′.

A chuva apertava cada vez mais e as duas equipes só queriam que o jogo acabasse. Mas no último minuto de jogo, Van Hanegem tabelou com Jansen, entrou na área sem marcação e chutou em cima do goleiro argentino. A bola espirrou para a ponta esquerda onde estava Cruijff. Genial, ele emendou de primeira, mesmo sem nenhum ângulo, e marcou o quarto gol da partida.


(Imagem: Twitter @Netherlands1974)

“Os holandeses não têm especialistas. Existe um goleiro e dez jogadores que sabem fazer tudo. Ao mesmo tempo, estão muito perto de todos e muito longe uns dos outros. É uma vertigem total esse borrão de camisas laranjas. Os mais perigosos são os que não têm a bola, todos coordenados pelo Cruyff.” ― Ángel Bargas, zagueiro reserva da Argentina

“Nunca vi nada parecido. Meus jogadores jamais viram um time assim. É uma nova maneira de conceber o jogo. Eles são um rolo compressor.” ― Vladislao Cap

“Parecia que jogavam com 18 jogadores.” “O futebol deveria ser dividido assim: antes da Holanda e depois da Holanda.” ― Roberto Perfumo

Na sequência, a Argentina perdeu para a Seleção Brasileira de Zagallo por 2 x 1, na primeira vez que os dois rivais se enfrentaram em Copas do Mundo. E os hermanos encerraram sua participação em último lugar do grupo ao empatar em 1 x 1 com a Alemanha Oriental.

A Holanda seguiu firme, vencendo Alemanha Oriental e Brasil, ambos por 2 x 0. Na decisão, começou com tudo e abriu o placar logo no primeiro lance. Mas sucumbiu à força da Alemanha Ocidental e levou a virada, perdendo por 2 x 1. Um vice-campeão do mundo tão lembrado quanto (ou até mais que) o próprio campeão.


(Imagem: UOL)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 4 x 0 ARGENTINA

 

Data: 26/06/1974

Horário: 19h30 locais

Estádio: Parkstadion

Público: 56.548

Cidade: Gelsenkirchen (Alemanha Ocidental)

Árbitro: Robert Davidson (Escócia)

 

HOLANDA (4-3-3?):

ARGENTINA (4-3-3):

8  Jan Jongbloed (G)

1  Daniel Carnevali (G)

20 Wim Suurbier

10 Ramón Heredia

17 Wim Rijsbergen

14 Roberto Perfumo (C)

2  Arie Haan

16 Francisco Pedro Sá

12 Ruud Krol

20 Enrique Wolff

6  Wim Jansen

17 Carlos Squeo

13 Johan Neeskens

18 Roberto Telch

3  Willem van Hanegem

4  Agustín Balbuena

16 Johnny Rep

2  Rubén Ayala

14 Johan Cruijff (C)

22 Héctor Yazalde

15 Rob Rensenbrink

11 René Houseman

 

Técnico: Rinus Michels

Técnico: Vladislao Cap

 

SUPLENTES:

 

 

18 Piet Schrijvers (G)

12 Ubaldo Fillol (G)

21 Eddy Treijtel (G)

21 Miguel Ángel Santoro (G)

4  Kees van Ierssel

5  Ángel Bargas

5  Rinus Israël

7  Jorge Carrascosa

19 Pleun Strik

9  Rubén Glaria

22 Harry Vos

19 Néstor Togneri

7  Theo de Jong

3  Carlos Babington

1  Ruud Geels

8  Enrique Chazarreta

11 Willy van de Kerkhof

6  Miguel Ángel Brindisi

10 René van de Kerkhof

15 Aldo Poy

9  Piet Keizer

13 Mario Kempes

 

GOLS:

11′ Johan Cruijff (HOL)

25′ Ruud Krol (HOL)

73′ Johnny Rep (HOL)

90′ Johan Cruijff (HOL)

 

CARTÕES AMARELOS:

22′ Johan Neeskens (HOL)

35′ Roberto Perfumo (ARG)

58′ Wim Suurbier (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Enrique Wolff (ARG)

Rubén Glaria (ARG)

 

INTERVALO René Houseman (ARG)

Mario Kempes (ARG)

 

84′ Wim Suurbier (HOL)

Rinus Israël (HOL)

Melhores momentos da partida:

… 25/06/2006 – Portugal 1 x 0 Holanda

Três pontos sobre…
… 25/06/2006 – Portugal 1 x 0 Holanda

“A Batalha de Nuremberg”


(Imagem: Jan Pitman / Bongarts / Getty Images)

● Se várias partidas entraram para a história por causa do futebol ofensivo e vistoso, não é o caso dessa. O confronto entre Portugal e Holanda nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2006 é o que se pode chamar de duelo, peleja, luta, batalha… a “Batalha de Nuremberg”. Não deveria ter havido súmula, mas “boletim de ocorrência”, devido ao alto número de jogadas violentas, cartões amarelos e expulsões.

Assistimos de tudo: empurrões, cabeçadas, cotoveladas, toques de mão, trombadas, discussões, cera, carrinhos e nenhum fair play. Poderiam até tirar a logo do Mundial e colocar o da Taça Libertadores da América, pois pareceu a Libertadores raiz, das antigas, quando tudo era permitido.

Se o árbitro russo Valentin Ivanov tivesse sido um pouco mais rigoroso, essa partida poderia ter terminado por número insuficiente de jogadores de ambos os lados.


(Imagem: Imortais do Futebol)

● A seleção portuguesa tinha sua melhor safra de craques desde 1966. Bem treinada pelo brasileiro Luiz Felipe Scolari, foi vice-campeã da Eurocopa de 2004 (passando justamente pela Holanda nas semifinais). Na primeira fase da Copa de 2006, pelo Grupo D, venceu suas três partidas: 1 a 0 sobre a ex-colônia Angola, 2 x 0 contra o Irã e 2 x 1 sobre o bom time do México.

A Holanda vinha renovada após ficar fora do Mundial de 2002. O técnico era o ex-craque Marco van Basten, que apostou na renovação e deixou de fora vários medalhões, como Clarence Seedorf, Edgar Davids, Frank de Boer, Patrick Kluivert e Roy Makaay. Pelo Grupo C da Copa, o “grupo da morte”, venceu Sérvia e Montenegro por 1 x 0 e Costa do Marfim por 2 x 1. Na partida que valia a liderança, empatou sem gols com a Argentina e ficou em segundo lugar da chave no critério de saldo de gols.

Tinha tudo para ser uma bela partida. As duas seleções possuem um histórico de futebol ofensivo e vistoso. Tinham em campo craques como Cristiano Ronaldo, Luís Figo e Deco de um lado, Arjen Robben, Wesley Sneijder e Robin van Persie do outro. Mas virou mesmo uma batalha campal.


Luiz Felipe Scolari escalou Portugal no sistema 4-2-3-1.


Marco van Basten armou seu time no tradicional 4-3-3 holandês.

● Logo no segundo minuto da partida, Mark van Bommel acertou Cristiano Ronaldo por trás e recebeu o primeiro de muitos cartões amarelos.

Mas o clima ficou tenso mesmo aos seis minutos de jogo, quando Khalid Boulahrouz mostrou seu cartão de visitas, deixando as travas de suas chuteiras na coxa de CR7. O holandês deveria ter sido expulso, mas o árbitro Valentin Ivanov foi muito conivente no lance e mostrou apenas amarelo. A partir daí, os ânimos continuaram exaltados até o apito final.

Felipão ficou ensandecido à beira do gramado e incitou seus jogadores a pagarem na mesma moeda – o que acabou se tornando um ciclo vicioso e um show de horrores.

Aos 19′, Maniche deu uma rasteira em Van Bommel e ganhou o primeiro amarelo dos lusos.

Após a solada de Boulahrouz, Cristiano precisou ser atendido três vezes fora do gramado e acabaria substituído por Simão Sabrosa aos 33′ do primeiro tempo. Os holandeses conseguiram tirar o jovem CR7 do jogo.

Aos 36′, Costinha acertou um violento carrinho em Phillip Cocu e também foi amarelado.

Seis minutos depois, Nuno Valente deu uma voadora em Arjen Robben em lance que deveria ter resultado em pênalti e expulsão, mas o juiz russo mandou seguir.

Costinha era um dos mais violentos em campo, mas sua expulsão veio nos acréscimos da etapa inicial após ele interceptar a bola com a mão e ganhar a segunda advertência.

Para recompor o time na cabeça de área, Scolari sacrificou Pauleta para a entrada de Petit.


(Imagem: The Daily Telegraph)

E o segundo tempo se tornou de vez um festival de deslealdade e agressões. Não tinha nenhum inocente em campo, claro.

Aos cinco minutos, Petit foi amarelado por derrubar Robin van Persie.

A partida seguiu nervosa e oito minutos depois, Figo se desentendeu com Van Bommel e acertou uma cabeçada no holandês. O juiz não viu e só deu o amarelo após ser alertado.

Nos bancos, os treinadores eram os extremos: enquanto o elegante Van Basten mantinha a postura calma e com as mãos no bolso, Scolari gritava, xingava e batia no banco.

Aos 14′ Giovanni van Bronckhorst acertou Deco e ganhou amarelo.

Três minutos depois, Figo avançou pela direita e, ao perceber que Boulahrouz colocou os braços para se desvencilhar dele, valorizou como se tivesse tomado uma cotovelada. O árbitro expulsou Boulahrouz com 53 minutos de atraso, mas esse não era um lance para isso.

Boulahrouz não se conformou, se desentendeu com Simão e tentou a todo custo levar alguém de Portugal com ele. A turma dos dois bancos de reservas entraram em campo e o jogo definitivamente ficou sem controle.

Aos 25′, o goleiro Ricardo foi ao chão e a Holanda não teve fair play. John Heitinga não jogou a bola para a lateral e puxava contra-ataque. Transtornado, Deco lhe deu uma tesoura que era para vermelho, mas o árbitro pipocou de novo e deu apenas amarelo. A confusão recomeçou. Wesley Sneijder empurrou Petit e ganhou amarelo, junto com Rafael van der Vaart.

Ricardo levou amarelo aos 31 min por reclamação. Logo depois, Nuno Valente ganhou o seu ao chutar Van Persie.


(Imagem: Imortais do Futebol)

Deco continuou pilhado. Aos 33′, ele se recusou a devolver a bola aos holandeses. Phillip Cocu queria jogo e empurrou o luso-brasileiro. O juiz deu a segunda advertência a Deco por fazer cena e o expulsou.

Aos 42′, Simão deixou o pé no rosto de Edwin van der Sar em uma dividida, mas o bananão do árbitro nada marcou.

Aos 50 do segundo tempo, Giovanni van Bronckhorst deu uma rasteira em Tiago e também ganhou o vermelho.

Aos sair, o holandês se sentou ao lado de Deco, seu companheiro de Barcelona (campeão da UEFA Champions League daquela temporada) e ficaram se bate papo como se nada tivesse acontecido.

A partida termina com nove homens em cada lado. Foi um dos jogos mais tensos da história das Copas.


(Imagem: Sportskeeda)

● O árbitro russo Valentin Ivanov foi o centro das atenções. No total, foram 16 cartões amarelos e quatro vermelhos (todos decorrentes de dupla advertência). O recorde em uma partida de Copa do Mundo.

Foi um número relativamente normal de faltas, 25 ao todo, sendo 10 cometidas pelos portugueses e 15 pelos holandeses. Mas a intensidade dessas faltas foi algo super anormal.

Após a partida, Joseph Blatter, então presidente da FIFA, afirmou que “o juiz mereceu um cartão amarelo por sua atuação e não esteve à altura da partida”.

Ao fim dessa partida, o técnico Luiz Felipe Scolari completou onze vitórias consecutivas em Copas do Mundo, sendo sete pela Seleção Brasileira em 2002 e quatro pela seleção das Quinas em 2006.

O treinador brasileiro teve méritos ao não deixar que Portugal se perdesse em campo nas duas vezes em que ficou com um jogador a menos (10 contra 11 e depois 9 contra 10). No total, a Holanda teve superioridade numérica por 33 minutos, mas o técnico Marco van Basten (genial dentro de campo e mediano na beira do gramado) não conseguiu fazer seu time traduzir isso em gols. O melhor que os holandeses conseguiram foi uma bola no travessão de Phillip Cocu, aos três minutos do segundo tempo.


(Imagem: FIFA)

Ah, já estava me esquecendo! Houve um gol! E que belo gol! Aos 23 minutos de jogo, Miguel cobrou lateral na direita para Deco, que deixou de primeira com Cristiano Ronaldo. Ele segurou a bola, se livrou de dois marcadores e devolveu para Deco na ponta direita. O luso-brasileiro cruzou rasteiro para a área. Pauleta fez o pivô para Maniche passar por André Ooijer e Mark van Bommel e chutar forte no canto direito de Edwin van der Sar.

Nas quartas de final, os portugueses enfrentaram a Inglaterra, eliminada por eles na Eurocopa de 2004. E os lusos venceram de novo nos pênaltis (3 x 1) após empate sem gols durante o tempo normal e a prorrogação. Na semifinal, vendeu caro a derrota para a França de Zinédine Zidane por 1 x 0. Na decisão do 3º lugar, perdeu para a anfitriã Alemanha por 3 x 1, terminando em uma honrosa quarta colocação.


(Imagem: Patrik Stollarz / AFP Photo)

FICHA TÉCNICA:

 

PORTUGAL 1 x 0 HOLANDA

 

Data: 25/06/2006

Horário: 21h00 locais

Estádio: Frankenstadion (atual Max-MorlockStadion)

Público: 41.000

Cidade: Nuremberg (Alemanha)

Árbitro: Valentin Ivanov (Rússia)

 

PORTUGAL (4-2-3-1):

HOLANDA (4-3-3):

1  Ricardo (G)

1  Edwin van der Sar (G)(C)

13 Miguel

3  Khalid Boulahrouz

5  Fernando Meira

13 André Ooijer

16 Ricardo Carvalho

4  Joris Mathijsen

14 Nuno Valente

5  Giovanni van Bronckhorst

6  Costinha

18 Mark van Bommel

18 Maniche

20 Wesley Sneijder

7  Luís Figo (C)

8  Phillip Cocu

20 Deco

17 Robin van Persie

17 Cristiano Ronaldo

7  Dirk Kuyt

9  Pauleta

11 Arjen Robben

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Marco van Basten

 

SUPLENTES:

 

 

12 Quim (G)

23 Maarten Stekelenburg (G)

22 Paulo Santos (G)

22 Henk Timmer (G)

2  Paulo Ferreira

12 Jan Kromkamp

3  Marco Caneira

14 John Heitinga

4  Ricardo Costa

2  Kew Jaliens

8  Petit

15 Tim de Cler

19 Tiago Mendes

16 Hedwiges Maduro

10 Hugo Viana

6  Denny Landzaat

11 Simão Sabrosa

10 Rafael van der Vaart

15 Luís Boa Morte

21 Ryan Babel

23 Hélder Postiga

19 Jan Vennegoor of Hesselink

21 Nuno Gomes

9  Ruud van Nistelrooy

 

GOL: 23′ Maniche (POR)

 

CARTÕES AMARELOS:

2′ Mark van Bommel (HOL)

7′ Khalid Boulahrouz (HOL)

20′ Maniche (POR)

31′ Costinha (POR)

50′ Petit (POR)

59′ Giovanni van Bronckhorst (HOL)

60′ Luís Figo  (POR)

73′ Deco (POR)

73′ Wesley Sneijder (HOL)

74′ Rafael van der Vaart (HOL)

76′ Ricardo (POR)

76′ Nuno Valente (POR)

 

CARTÕES VERMELHOS:

45+1′ Costinha (POR)

63′ Khalid Boulahrouz (HOL)

78′ Deco (POR)

90+5′ Giovanni van Bronckhorst (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

33′ Cristiano Ronaldo (POR) ↓

Simão Sabrosa (POR) ↑

 

INTERVALO Pauleta (POR) ↓

Petit (POR) ↑

 

56′ Joris Mathijsen (HOL) ↓

Rafael van der Vaart (HOL) ↑

 

67′ Mark van Bommel (HOL) ↓

John Heitinga (HOL) ↑

 

84′ Phillip Cocu (HOL) ↓

Jan Vennegoor of Hesselink (HOL) ↑

 

84′ Luís Figo (POR) ↓

Tiago Mendes (POR) ↑

(Imagem: CNN)

Todos os lances violentos com cartões:

Gol da partida:

… 24/06/1990 – Argentina 1 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 24/06/1990 – Argentina 1 x 0 Brasil


(Imagem: Pinterest)

● No início de 1989, Ricardo Teixeira, ex-genro de João Havelange, assumiu como presidente da CBF – mesmo sem experiência alguma no futebol. Seu técnico preferido para a Seleção Brasileira era Carlos Alberto Parreira, que estava impedido de assumir devido a um contrato vigente no mundo árabe. E o escolhido da vez então foi Sebastião Lazaroni, tricampeão carioca: 1986 (pelo Flamengo), 1987 e 1988 (pelo Vasco).

E Lazaroni apostou no sistema tático 3-5-2, com um estilo “europeizado”, com foco na velocidade e aplicação tática – ao contrário da escola do futebol brasileiro vistoso e ofensivo de outrora. E por um tempo, o treinador brasileiro calou os muitos críticos ao conquistar a Copa América de 1989.

No papel, o time não era ruim, com o goleiro Taffarel, os zagueiros Mauro Galvão e Ricardo Gomes, os laterais Jorginho e Branco, os volantes Dunga e Alemão e os atacantes Bebeto, Romário, Renato Gaúcho, Müller e Careca.

Mas, no Mundial de 1990, o ambiente interno estava conturbado e não havia acordo quanto à divisão da premiação prometida em caso de título. A concentração brasileira em Asti era rodeada por familiares e empresários, com acesso livre aos atletas. Especulou-se que muitos não se esforçaram por estarem negociando uma possível transferência para o futebol europeu. O próprio Lazaroni foi para a Fiorentina logo depois do Mundial.

O técnico e o médico Lídio Toledo tinham opiniões divergentes quando ao aproveitamento de Romário, que se recuperava de uma fratura no pé e ficou no banco. E Lazaroni não dava chances a Bebeto que, segundo o treinador, fazia melhor dupla com Romário, enquanto Müller era parceiro de Careca. Sem Romário 100%, Bebeto acabou prejudicado, mesmo estando em ótima fase.

A Argentina queria conquistar seu terceiro título em quatro edições disputadas desde 1978, mas também não era a mesma de quatro anos antes. Fracassou na Copa América que sediou, em 1987, mesmo ainda tendo o time base de um ano antes. Seis campeões mundiais ainda eram titulares. O novo fracasso na Copa América de 1989 levou os argentinos a chegarem com menos cartaz na Itália. A bem da verdade, cada vez mais eles dependiam de Maradona. Entre o fim da Copa de 1986 e o início do Mundial de 1990, os portenhos jogaram 31 vezes e conseguiram apenas seis vitórias. Mas Diego motivou o time, dizendo: “vão ter que arrancar a Copa de nossas mãos”. Ao final das contas, aos trancos e barrancos, ainda era a Argentina.


(Imagem: Agência AP / Globo Esporte)

● Discreta e sem brilho, a Seleção Brasileira teve 100% de aproveitamento (algo que só a anfitriã Itália também conseguiu) com três vitórias em três jogos contra adversários apenas medianos: Suécia (2 x 1), Costa Rica (1 x 0) e Escócia (1 x 0). Mas o fato é que o nível apresentado pelo escrete canarinho não era nada convincente.

A Argentina estava ainda pior. Se classificou apenas como terceiro colocado de sua chave. Estreou passando vergonha ao perder para Camarões (1 x 0) na partida de abertura do Mundial. Depois, venceu sem brilho a União Soviética (2 x 0) e empatou com a Romênia (1 x 1).

Mas em um clássico “Brasil x Argentina” tudo pode acontecer. Afinal, se trata de uma das maiores rivalidades do mundo do futebol.


Carlos Bilardo mandou sua equipe ao campo no 3-5-2, com forte proteção ao sistema defensivo e liberdade para Burruchaga e Maradona criarem.


Sebastião Lazaroni armou a Seleção no sistema 3-5-2, com Mauro Galvão como líbero e os laterais atuando mais à frente, como alas. Por falta de costume com o esquema, os laterais voltavam à linha de defesa e o miolo de zaga se embolava. O time ficou muito defensivo e faltava criatividade no meio campo.

● A rivalidade e o momento ruim do rival fizeram o Brasil começar com tudo. Logo no primeiro minuto, Careca forçou Sergio Goycochea – o Tapa-Penales – a fazer uma boa defesa. Careca estava no auge da forma técnica, campeão italiano pelo Napoli ao lado de Alemão e Maradona.

Aos 18′, Branco cruzou da esquerda e Dunga cabeceou com força, mas a bola foi na trave.

Oito minutos depois, Troglio obrigou Taffarel a fazer a sua única defesa no primeiro tempo.

O volume de jogo do Brasil era muito superior. Goycochea fez cera desde o começo, confiando em seu excepcional retrospecto em cobranças de pênaltis – que se provaria nas quartas de final e na semifinal.

Na reta final do primeiro tempo, em uma rápida parada durante atendimento médico a Pedro Troglio, Branco tomou uma água oferecida pelo massagista argentino Miguel di Lorenzo. Descobriu-se depois que essa água estava “batizada” com tranquilizantes (veja mais abaixo). E o lateral brasileiro, sempre intenso, passou a se arrastar em campo, ficando com os reflexos mais lentos e chutando a bola sem sua potência costumeira.

A Argentina equilibrou mais o jogo na etapa complementar.

Aos 7′, Careca cruzou da esquerda e a a bola foi na trave. Na sobra, Alemão deu um belo chute e a bola foi de novo no poste. Era a terceira bola na trave na partida, a segunda no mesmo lance.

A Seleção Brasileira bombardeava de todos os jeitos e a vitória parecia ser uma questão de tempo.

Aos 17′ do segundo tempo, Burruchaga chutou com perigo, rente à trave direita, mas Taffarel impediu o gol.

“Ali pelos 20 minutos nosso meio-campo começou a ganhar”, analisaria Bilardo depois do jogo.

Depois, Müller furou uma finalização após um passe de Careca.

O Brasil foi amplamente superior durante os noventa minutos, demonstrando um futebol que não havia apresentado até então. Os hermanos não tinham pudor em se defender com todos seus jogadores. E os albicelestes, tão presos ao seu campo de defesa, tiveram um contra-ataque ao seu favor que seria definitivo.


(Imagem: Futebol Portenho)

Aos 35 minutos do segundo tempo, a bola caiu justamente nos pés de Maradona, que fez sua primeira jogada genial na Copa. Ele fez fila, passando Alemão, Dunga e Ricardo Rocha, além de fazer Ricardo Gomes e Mauro Galvão baterem cabeça e deixar Claudio Caniggia livre, em condições para driblar Taffarel e mandar para as redes.

“Alemão saiu atrasado e não fez a falta como devia”, lastimou Lazaroni. Com certeza Alemão deveria ter feito a chamada “falta tática”, em que se mata a jogada em seu nascedouro, antes que ela se torne perigosa.

“Estou jogando com meio Maradona. Mas, mesmo com uma perna só, ele é a diferença.” ― Carlos Bilardo

O esquema de Lazaroni, que privilegiava a disciplina tática, não resistiu à genialidade de Maradona.

Dois minutos depois do gol, José Basualdo fez boa jogada e escapava livre em direção ao gol. Como último recurso, Ricardo Gomes lhe deu um carrinho por trás e foi expulso.

Na cobrança dessa mesma falta, Maradona obrigou Taffarel a uma ótima defesa.

Com um homem a menos, o escrete canarinho ainda pressionou e ainda teve uma chance de ouro para empatar a dois minutos do fim. Uma bola mal rebatida pela defesa portenha caiu nos pés de Müller na linha da pequena área. Mesmo livre, o atacante mandou a bola para fora. Faltou concentração ao atacante brasileiro.

Foi a última chance e o Brasil estava eliminado por seu maior rival.

Certamente não existe justiça no futebol. E não houve, ao menos nesse jogo. A defensiva Seleção de Lazaroni caiu justo no jogo em que foi mais ofensiva e acabou jogando muito bem. “Só” faltaram os gols.


(Imagem: Bol)

● Após a partida, Maradona resumiu tudo: “O Brasil merecia ganhar, mas o futebol é assim mesmo”. E foi consolar seu amigo Careca: “Eu queria festejar, mas não se pode mostrar alegria na frente de um amigo que está muito triste”.

Careca foi o mais sacrificado pelo sistema de jogo, mas defendeu Lazaroni: “Se tivéssemos ganhado, ninguém nem se lembraria do esquema”.

“Fomos muito mal no primeiro tempo. Mas o grupo é forte e mostrou que tem brio depois de tanta gozação, tanta gente prevendo que não iríamos adiante.” “Ganhar do Brasil é, sem dúvida, uma grande alegria. Eu não estava com o palpite de que marcaria, mas sabia que Maradona poderia resolver. Quando a bola chegou, eu só tinha de matar Taffarel.” ― Claudio Caniggia

O Brasil fez 61 desarmes e bateu seu recorde, mas, em compensação, foi desarmado 60 vezes (outro recorde). Errou apenas 24 passes.

Após a derrota, muitos reservas questionaram publicamente o técnico Sebastião Lazaroni por uma vaga no time titular. Alguns atacaram os próprios colegas. “Vim disputar a Copa e o máximo que consegui foram promessas”, reclamou o zagueiro Aldair. “Lazaroni foi desonesto comigo”, afirmou o atacante Bebeto. “O Brasil não perdeu a Copa de 90 fora do campo. Perdeu dentro, por incompetência de alguns jogadores”, criticou o atacante Romário. Renato Gaúcho disse ainda mais: “Fui sacaneado e perseguido por reclamar que o esquema era defensivo demais. A derrota foi um belo castigo para um técnico retranqueiro. Iríamos mais longe com onze Renatos. Falta tesão para muito jogador. Eu não sou um acomodado. O dia em que eu encostar o corpo, eu me aposento”.

“Nós tentamos, fizemos o possível, tudo o que sabíamos. Infelizmente não o bastante para fazer a bola entrar no gol argentino”, dizia Lazaroni desconsolado. “O problema é que a Copa do Mundo é uma guilhotina. E a cabeça que rolou hoje foi a nossa.”

Quando a delegação brasileira chegou ao Rio de Janeiro, uma faixa os recepcionava: “Quem tem merda na cabeça? Camarões ou Lazaroni?” O técnico brasileiro foi muito criticado, taxado como defensivista e acusado de ser conivente com os problemas internos entre os atletas. Antes da Copa, ele era considerado um técnico ultramoderno para a época, antenado às novas tendências táticas e sistemas de treinamento. Após o torneio, Lazaroni se tornou sinônimo de “defensivismo”, “cabeça dura” e “burrice”.

Bebeto e Romário haviam sido titulares na conquista da Copa América de 1989, mas foram relegados ao banco de reservas durante o Mundial. “Pode anotar: foi a minha primeira e última Copa”, disse um negativo Romário. “Estaremos juntos na Copa do Mundo de 1994”, afirmou um positivo Bebeto.

O 9º lugar foi a terceira pior participação brasileira em Copas do Mundo, atrás apenas do 11º na Inglaterra em 1966 e o 14º também na Itália, em 1934.

O título da matéria da revista Placar que foi às bancas dois dias depois do jogo era bem icônico: “Era Maradona”. Uma crítica à tão mencionada “Era Dunga”, tratada pela imprensa de forma pejorativa, devido a importância exagerada que Lazaroni dava ao bom, mas esforçado e limitado volante gaúcho. Mas Dunga foi eleito injustamente como o símbolo do fracasso brasileiro na Copa de 1990 e daria a volta por cima ao ser o capitão da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1994.

E a Argentina seguiu capengando em sua sequência na Copa. Nas quartas, contou com a estrela do goleiro Goycochea, que pegou duas cobranças na vitória por pênaltis por 3 a 2 sobre a Iugosláviam após um empate sem gols. Nas semifinais, após 1 x 1 com a anfitriã Itália, Goycochea pegou outras duas cobranças e a Argentina venceu nos pênaltis por 4 a 3. Na decisão, já no fim da partida, um pênalti polêmico resultou na derrota para a Alemanha Ocidental por 1 a 0 e no vice-campeonato.


(Imagem: O Curioso do Futebol)

● Durante a partida, Branco se queixou que ficou que estava sonolento, zonzo e com náuseas após beber a água suspeita, mas não foi levado a sério por ninguém. “Notei um gosto estranho e senti tontura. Avisei o bandeirinha porque achei que fosse algo dopante.”

O episódio ficou esquecido por quase quinze anos, mas voltou à tona quando Maradona comentou sobre o assunto ao ficar bêbado em um jantar. Durante o programa de TV Mar de Fondo, ele disse que o conteúdo da garrafa era Rohypnol (Rufilin), nome comercial do composto Flunitrazepam, popularmente conhecido como “Boa Noite Cinderela” ou “Droga do Estupro”, que se tornou mais conhecido após o filme “The Hangover” (“Se Beber Não Case”).

Diego confessou que a água realmente tinha sonífero. Quando um Ricardo Giusti foi beber da mesma garrafa, alguém gritou: “dessa aí, não! Da outra”. Em seu antigo programa de televisão La Noche del Diez, Maradona confessou, mas negou a autoria: “Cito o pecado, mas não o pecador”.

O técnico Carlos Bilardo foi evasivo. A revista Veintitrés publicou uma entrevista com El Narigón e o título “(Quase) Confesso que fiz trapaça”. Ele não respondeu diretamente sobre o caso e disse que não sabia de nada, mas acabou afirmando: “Não disse que isso não aconteceu, hein?”. Diversas versões afirmam que o treinador tenha autorizado ou até mesmo ordenado que a tal água fosse entregue a Branco durante a partida.

O assunto se tornou folclore, especialmente no futebol argentino, considerado como parte de uma lista de espertezas, ao lado da icônica “Mão de Deus” de Maradona contra a Inglaterra em 1986.


(Imagem: Getty Images / Globo Esporte)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 1 x 0 BRASIL

 

Data: 24/06/1990

Horário: 17h00 locais

Estádio: Delle Alpi

Público: 61.381

Cidade: Turim (Itália)

Árbitro: Joël Quiniou (França)

 

ARGENTINA (3-5-2):

BRASIL (3-5-2):

12 Sergio Goycochea (G)

1  Taffarel (G)

15 Pedro Monzón

19 Ricardo Rocha

20 Juan Simón

21 Mauro Galvão

19 Oscar Ruggeri

3  Ricardo Gomes (C)

4  José Basualdo

2 Jorginho

7  Jorge Burruchaga

4  Dunga

14 Ricardo Giusti

5  Alemão

21 Pedro Troglio

8  Valdo

16 Julio Olarticoechea

6  Branco

10 Diego Armando Maradona (C)

15 Müller

8  Claudio Caniggia

9  Careca

 

Técnico: Carlos Bilardo

Técnico: Sebastião Lazaroni

 

SUPLENTES:

 

 

22 Fabián Cancelarich (G)

12 Acácio (G)

1  Ángel Comizzo (G)

[1  Nery Pumpido (G)]

22 Zé Carlos (G)

5  Edgardo Bauza

13 Mozer

11 Néstor Fabbri

14 Aldair

18 José Serrizuela

18 Mazinho

2  Sergio Batista

10 Silas

17 Roberto Sensini

7  Bismarck

13 Néstor Lorenzo

20 Tita

6  Gabriel Calderón

17 Renato Gaúcho

3  Abel Balbo

16 Bebeto

9 Gustavo Dezotti

11 Romário

 

GOL: 81′ Claudio Caniggia (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

27′ Pedro Monzón (ARG)

28′ Ricardo Giusti (ARG)

40′ Ricardo Rocha (BRA)

50′ Mauro Galvão (BRA)

87′ Sergio Goycochea (ARG)

 

CARTÃO VERMELHO: 85′ Ricardo Gomes (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

61′ Pedro Troglio (ARG) ↓

Gabriel Calderón (ARG) ↑

 

84′ Alemão (BRA) ↓

Silas (BRA) ↑

 

84′ Mauro Galvão (BRA) ↓

Renato Gaúcho (BRA) ↑

Gol da partida:

Melhores momentos:

Jogo completo:

… 23/06/2018 – Alemanha 2 x 1 Suécia

Três pontos sobre…
… 23/06/2018 – Alemanha 2 x 1 Suécia


(Imagem: FIFA.com)

● Quando a seleção campeã do mundo entra em campo, é sempre a favorita contra qualquer adversário. E como de costume, os alemães apostavam em um trabalho de longo prazo. O técnico Joachim Löw assumiu a Nationalelf após o Mundial de 2006 e levou o time a um 3º lugar em 2010 e ao título em 2014. Para a Copa da Rússia em 2018, jogadores históricos como Philipp Lahm, Bastian Schweinsteiger e Miroslav Klose já haviam pendurado as chuteiras. Mas a renovação foi muito bem feita e o elenco estava tão qualificado quanto o de quatro anos antes ou até mais.

Em 2017, venceu a Copa das Confederações com um time praticamente reserva, quando brilharam as estrelas de Marc-André ter Stegen, Antonio Rüdiger, Joshua Kimmich, Julian Brandt e Timo Werner. Para a Copa, se juntaram a eles medalhões como Manuel Neuer, Mats Hummels, Jérôme Boateng, Sami Khedira, Toni Kroos, Mesut Özil e Thomas Müller. O estilo permanecia o mesmo: marcação sob pressão, posse de bola, toques rápidos e movimentação intensa. A Alemanha chegava muito forte e era considerada a maior favorita à conquista quinto título mundial.

A Suécia era um time pragmático, que jogava um futebol “certinho”: sem muita técnica, mas também sem dar nenhuma facilidade ao rival. Suas duas linhas de quatro bem postadas foram responsáveis por deixar para trás a Holanda e a Itália nas eliminatórias. Desde a Eurocopa de 2016, não contava mais com Zlatan Ibrahimović, sua maior estrela. Ele chegou a ser cogitado para disputar o Mundial, mas foi preterido pelo técnico Janne Andersson, que preferiu apostar no coletivo. Era personificada pelo seu novo capitão, o experiente zagueiro Andreas Granqvist. Tecnicamente, o maior destaque era o meia pela esquerda Emil Forsberg, do RB Leipzig. O ponto fraco da seleção Blågult (azul e amarela) era o ataque, onde ninguém convencia: Ola Toivonen, Marcus Berg e John Guidetti eram voluntariosos e apenas medianos. No primeiro jogo, venceu a Coreia do Sul por 1 x 0, com um gol de pênalti de Granqvist.

Na primeira rodada, os alemães sofreram diante do México e perderam por 1 x 0. Tocavam a bola e não conseguiam entrar na defesa mexicana. Com um pouco mais de pontaria, o placar poderia ter sido de 3 x 0 para mais.


A Alemanha jogou no sistema 4-2-3-1.


A Suécia atuou no 4-4-2 tradicional, com duas linhas de quatro.

● Joachim Löw resolveu fazer quatro mudanças no time titular em relação à péssima partida contra o México. Mats Hummels estava com problemas físicos e deu lugar a Antonio Rüdiger. Jonas Hector voltou a ser titular depois de se recuperar de uma lesão, no lugar de Marvin Plattenhardt. As demais mudanças foram técnicas: saiu a dupla consagrada Sami Khedira e Mesut Özil, para a entrada de Sebastian Rudy e Marco Reus.

Já nos primeiros instantes, a Alemanha começou a pressionar demais. Mas não foi uma pressão de qualquer jeito. Foram jogadas trabalhadas, articuladas, de movimentação dos meia-atacantes. Coisa de quem sabe o que deve fazer em campo, sem desespero. Mas a defesa sueca estava muito bem postada, como em quase todos os momentos de todos os jogos.

E aos 12′, quando a partida ainda estava empatada sem gols, a Suécia foi claramente prejudicada pela arbitragem. Em uma bola roubada e contra-ataque rápido, Marcus Berg ficou cara a cara com o goleiro Neuer, mas Boateng o alcançou na velocidade e o deslocou com a mão no ombro, além de uma pequena alavanca com o pé. O time sueco inteiro reclamou, mas tanto o árbitro quando o VAR decidiram que era lance normal. Uma decisão bastante subjetiva e vergonhosa que beneficiou os alemães.

Mas a Suécia não se intimidou e abriu o placar aos 32′. O detalhe é que dos 25 aos 31, a Alemanha estava com um jogador a menos, devido a um choque casual entre a chuteira de Ola Toivonen e o nariz de Rudy. O jogador alemão foi atendido, mas com suspeita de fratura no nariz e sangramento contínuo, teve que deixar o campo. Mas enquanto Rudy era atendido, a Suécia pressionava. E no minuto seguinte da entrada de Gündogan, Toni Kroos errou um passe (ele também erra passe!). Berg recuperou a bola, passou para Viktor Claesson, que lançou no alto para Ola Toivonen dentro da área. O camisa 20 dominou bonito e tocou por cobertura sobre Manuel Neuer. A bola ainda desviou em Jérôme Boateng e tomou o caminho do gol.

Vencendo por 1 a 0, a Suécia passou a fechar a “casinha” ainda mais. E a Alemanha pressionava. No intervalo, Joachim Löw trocou o nulo Julian Draxler por Mario Gómez, homem de área. Aliás… era pouco inteligente a insistência de Löw em Draxler – um jogador superestimado. Incrivelmente fora dos convocados para o Mundial, Leroy Sané fazia muita falta ao plantel alemão.


(Imagem: FIFA.com)

E logo aos 3′ do segundo tempo, Timo Werner (que passou a jogar na ponta esquerda) chutou cruzado, Mario Gómez tentou alcançar a bola sem conseguir e Marco Reus finalizou do jeito que deu, um misto de joelho com canela. Pouco importa. Importante foi o gol de empate, que manteve as esperanças alemãs vivas.

E dá-lhe blitz para cima dos suecos. A pressão passou a ser ainda mais intensa. E a Suécia foi se cansando. Mesmo depois que Boateng foi expulso por receber justamente o segundo cartão amarelo, os suecos não conseguiam contra-atacar, tampouco atacar.

Toni Kroos chamava o jogo e arriscava bastante. Em um de seus cruzamentos da esquerda, Mario Gomez cabeceou com perigo e o goleiro Robin Olsen fez uma excelente defesa, embora a bola tenha vindo em cima dele.

Com pouco a fazer, Löw tirou o lateral Hector e colocou o meia-atacante Julian Brandt. Em um de seus primeiros lances, ele recebeu fora da área, cortou para a perna esquerda e bateu bem. A bola explodiu na trave. Na volta, Timo Werner estava impedido, mas nem assim acertou o gol.

A Alemanha ainda lutava, não se contentando com o empate. E aos 49′ do segundo tempo, Jimmy Durmaz fez uma falta sem sentido no lado direito de sua área. Uma bola que normalmente seria cruzada. Mas qual equipe no mundo possui um talento como Toni Kroos, que coloca a bola onde quer?! E foi isso que o jogador do Real Madrid fez. Em uma jogada de dois lances com Marco Reus, Kroos bateu bonito, com curva, no ângulo esquerdo do goleiro Olsen. Um gol e uma partida para ficar para a história.

Pode-se dizer que o bom goleiro Robin Olsen falhou no gol de Kroos. Mas o mais xingado foi o atacante Jimmy Durmaz, que cometeu a falta sem necessidade. Filho de imigrantes assírios turcos, ele recebeu graves ofensas raciais por parte dos mais exaltados. A Federação Sueca precisou prestar queixas à polícia por causa de ofensas recebidas pelo atleta nas redes sociais. No treinamento do dia seguinte, o elenco sueco se reuniu atrás de Durmaz, que fez um pronunciamento à imprensa. Ao fim, ele disse: “Somos a Suécia” e todos os jogadores responderam juntos: “Vá se foder, racismo!”


(Imagem: FIFA.com)

● Essa derrota deu forças à Suécia, que venceu o México com muita autoridade por 3 x 0 e garantiu o primeiro lugar no grupo no critério de saldo de gols. Nas oitavas de final, contou com um gol de Forsberg para eliminar a Suíça (1 x 0). Nas quartas, não conseguiu bater de frente com o jovem e bom time da Inglaterra e perdeu por 2 x 0, caindo de pé.

Na terceira rodada, a Alemanha só dependia de si para se classificar. Bastava vencer a já eliminada Coreia do Sul. Mas, com jogadores anêmicos como Neuer, Özil e Müller, ainda foi surpreendida nos minutos finais e perdeu por 2 x 0, com gols aos 48 e aos 51 minutos do segundo tempo. Provavelmente, esses foram os minutos mais desastrosos da história vitoriosa da Nationalelf.

Nas últimas cinco Copas do Mundo, por quatro vezes os campeões foram eliminados na fase de grupos no Mundial seguinte. Apenas o Brasil de 2006 seguiu até as quartas de final. Em 2002, a França de Zinédine Zidane deu vexame. Em 2010 o papelão foi da Itália. Em 2014, a Espanha passou vergonha. E em 2018 foi a vez da Alemanha cair na fase de grupos pela primeira vez em sua história.


(Imagem: FIFA.com)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 2 x 1 SUÉCIA

 

Data: 23/06/2018

Horário: 21h00 locais

Estádio: Olímpico de Fisht (Fisht Stadium)

Público: 44.287

Cidade: Sóchi (Rússia)

Árbitro: Szymon Marciniak (Polônia)

 

ALEMANHA (4-2-3-1):

SUÉCIA (4-4-2):

1  Manuel Neuer (G)(C)

1  Robin Olsen (G)

18 Joshua Kimmich

2  Mikael Lustig

16 Antonio Rüdiger

3  Victor Lindelöf

17 Jérôme Boateng

4  Andreas Granqvist (C)

3  Jonas Hector

6  Ludwig Augustinsson

19 Sebastian Rudy

17 Viktor Claesson

8  Toni Kroos

7  Sebastian Larsson

13 Thomas Müller

8  Albin Ekdal

7  Julian Draxler

10 Emil Forsberg

11 Marco Reus

20 Ola Toivonen

9  Timo Werner

9  Marcus Berg

 

Técnico: Joachim Löw

Técnico: Janne Andersson

 

SUPLENTES:

 

 

22 Marc-André ter Stegen (G)

12 Karl-Johan Johnsson (G)

12 Kevin Trapp (G)

23 Kristoffer Nordfeldt (G)

15 Niklas Süle

16 Emil Krafth

4  Matthias Ginter

18 Pontus Jansson

5  Mats Hummels

14 Filip Helander

2  Marvin Plattenhardt

5  Martin Olsson

6  Sami Khedira

13 Gustav Svensson

21 İlkay Gündoğan

15 Oscar Hiljemark

14 Leon Goretzka

19 Marcus Rohdén

10 Mesut Özil

21 Jimmy Durmaz

20 Julian Brandt

22 Isaac Kiese Thelin

23 Mario Gómez

11 John Guidetti

 

GOLS:

32′ Ola Toivonen (SUE)

48′ Marco Reus (ALE)

90+5′ Toni Kroos (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

52′ Albin Ekdal (SUE)

71′ Jérôme Boateng (ALE)

90+7′ Sebastian Larsson (SUE)

 

CARTÃO VERMELHO: 82′ Jérôme Boateng (ALE)

 

SUBSTITUIÇÕES:

31′ Sebastian Rudy (ALE) ↓

İlkay Gündoğan (ALE) ↑

 

INTERVALO Julian Draxler (ALE) ↓

Mario Gómez (ALE) ↑

 

74′ Viktor Claesson (SUE) ↓

Jimmy Durmaz (SUE) ↑

 

78′ Ola Toivonen (SUE) ↓

John Guidetti (SUE) ↑

 

87′ Jonas Hector (ALE) ↓

Julian Brandt (ALE) ↑

 

90′ Marcus Berg (SUE) ↓

Isaac Kiese Thelin (SUE) ↑

Melhores momentos da partida:

… 22/06/1974 – Alemanha Ocidental 0 x 1 Alemanha Oriental

Três pontos sobre…
… 22/06/1974 – Alemanha Ocidental 0 x 1 Alemanha Oriental

● Eles formaram o mesmo país desde o ano 800, quando foi fundado o primeiro Reich (“império”, no idioma alemão), até o fim da Segunda Guerra Mundial. E voltariam a ser a mesma nação a partir de 03/10/1990, com a reunificação da Alemanha.

Mas de 07/10/1949 até a reunificação, foram duas, separadas. Irmãs e rivais. O mesmo povo, sob símbolos e bandeiras diferentes. Uma capitalista, se reerguendo rumo à hegemonia de maior economia da Europa. A outra, mais pobre, socialista, do “lado de lá” da Cortina de Ferro e bastante influenciada pela União Soviética não apenas na política. Ambas foram separadas na antiga capital, através de uma divisão pelo Muro de Berlim (de 13/08/1961 a 09/11/1989).

A República Democrática Alemã – RDA, normalmente chamada de Alemanha Oriental, era uma potência nos esportes olímpicos, assim como todo o bloco socialista. No futebol, com um “amadorismo de fachada” (já que, na teoria, não haviam atletas profissionais no país) conquistou a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Montreal em 1976, além da prata em Moscou 1980 e o bronze em Munique 1972.

A República Federal da Alemanha – RFA, mais conhecida como Alemanha Ocidental ou até mesmo como apenas Alemanha, tinha conquistado o título da Copa do Mundo de 1954 sobre a badalada Hungria de Puskás, além de ter sido vice-campeã na Inglaterra em 1966 e o 3º lugar no México em 1970.


(Imagem: Pinterest)

● O Mundial de 1974 foi o único Copa com participação da Alemanha Oriental. Se qualificou ao terminar como líder do Grupo 4 das eliminatórias europeias, superando a Romênia por um ponto. Assim, foi só atravessar o muro para disputar a competição que aconteceu no país coirmão.

Eis que o sorteio para o chaveamento do Grupo 1 definiu que as duas “Alemanhas” se enfrentariam na terceira rodada. Era como se a própria Guerra Fria entrasse em campo: capitalistas versus socialistas.

Na primeira partida, a Alemanha Oriental venceu a Austrália por 2 x 0 em Hamburgo. Depois, empatou por 1 x 1 com o Chile de Don Elías Figueroa, em Berlim Ocidental. Agora, voltava a Hamburgo para o que seria a maior partida de sua história: contra a Alemanha Ocidental, valendo a classificação para a segunda fase e até a liderança do grupo, em caso de vitória.

A Alemanha Ocidental venceu o Chile por 1 x 0 na primeira rodada e a Austrália por 3 x 0 na segunda. Já estava classificada e podia até escolher sua posição no grupo, dependendo do que lhe beneficiasse. E, para muitos, foi o que aconteceu.


A Alemanha jogava no 4-3-3, tendo Franz Beckenbauer como líbero e os avanços constantes pelo meio do lateral esquerdo Paul Breitner.


A Alemanha Oriental foi escalada pelo técnico Georg Buschner no sistema 4-4-2, com um zagueiro na sobra.

● Mas quem assistiu a partida afirma que o time de Helmut Schön atacou muito e merecia vencer.

Não era um time reserva. Foram apenas duas alterações no time que seguiria jogando junto até a decisão. O meia esquerda Heinz Flohe entrou na ponta esquerda no lugar que era normalmente ocupado por Jupp Heynckes ou Jürgen Grabowski. O motorzinho Rainer Bonhof descansou e deu lugar a Bernhard Cullmann.

Logo no início do jogo, Flohe errou um gol feito de dentro da pequena área.

Aos cinco minutos, Franz Beckenbauer entrou tabelando com Gerd Müller e quase abriu o placar, em lance que foi facilitado pelo entrosamento dos dois, que jogavam juntos no Bayern de Munique.

Quatro minutos depois, Jürgen Grabowski perdeu um gol incrível, em uma boa defesa de Jürgen Croy.

O meio campo estava congestionado. Os orientais marcavam duro, mas não conseguiam atacar. Tentavam explorar as bolas longas para os atacantes Jürgen Sparwasser (marcado por Hans-Georg Schwarzenbeck) e Martin Hoffmann (cercado por Berti Vogts).

Paul Breitner estava guardando mais a posição do que o normal, mas ainda avançava sempre que podia. Aos 24′, ele foi derrubado por Harald Irmscher na área, mas o árbitro uruguaio Ramón Barreto Ruíz ignorou o pênalti.

Para uma equipe que entrou em campo destinada a entregar o jogo, os ocidentais estavam atacando demais. Em toda a partida, a RFA criou cinco chances claríssimas de gol, incluindo uma bola de Müller na trave.

No segundo tempo, a Alemanha Ocidental criou poucas chances de gol e só arriscava em chutes de longa distância.

A delegação ocidental tinha dois grupos: o de Beckenbauer e o de Netzer. O Kaiser queria a escalação de seu parceiro Wolfgang Overath e venceu a disputa.

A TV alemã estava sempre mostrando o ex-titular Günter Netzer sentado no banco de reservas com sua camisa 10. Genial, genioso e criativo, ele era preterido pelo técnico Helmut Schön depois de ter sido um dos destaques na conquista da Eurocopa em 1972.

Aos 19′, Netzer saiu para aquecer sob chuva forte e o estádio inteiro aplaudiu como se fosse um gol. Ele entrou cinco minutos depois no lugar de Overath, que estava sentindo uma pequena lesão. E Netzer entrou sem ritmo nenhum de jogo, mais lento do que já era e errando os passes que costumava acertar. E a torcida alemã passou a dar razão ao técnico por deixá-lo no banco. Foram seus únicos minutos em uma Copa do Mundo.

Apesar do esperado clima de guerra, foi uma partida bastante leal. Houve mais um pênalti não marcado a favor dos ocidentais. Flohe pedalou e foi derrubado por Gerd Kische, mas o juiz marcou falta fora da área.

A partida de arrastava para um zero a zero até os 32′ minutos. O goleiro Croy saiu a bola com Erich Hamann na direita. Ele avançou até pouco para frente do meio do campo e fez um lançamento para a área. Jürgen Sparwasser se antecipou à Horst-Dieter Höttges e dominou na marca do pênalti, avançando em diagonal e batendo no alto para estufar as redes, antes da chegada de Sepp Maier. Essa foi a única chance dos orientais no segundo tempo.

Favorita e já classificada, a RFA dominou o jogo e perdeu várias chances claras.


(Imagem: Pinterest)

“Se na minha lápide eles escreverem apenas ‘Hamburgo 74’, as pessoas saberão quem está lá embaixo.” ― Jürgen Sparwasser

Após o apito final, os atletas da RDA festejaram como se tivessem sido campeões. O zagueiro Siegmar Wätzlich deu cambalhotas em campo. Era uma enorme vitória particular dos azuis sobre os brancos. Para os orientais, era a vitória dos pobres sobre os ricos, dos subjugados contra os mais abastados, do bem contra o mal. Para os ocidentais, era apenas uma derrota para outro país qualquer e ponto.

Satisfeita pelo chaveamento da fase semifinal, a torcida dos donos da casa não vaiou o time pela derrota – ao contrário do que havia feito nos dois jogos anteriores, mesmo com vitórias.

Algumas teorias dizem que os ocidentais entregaram o resultado para se beneficiarem com um grupo mais acessível na segunda fase. Em 1954, já havia sido acusada de usar de artimanhas ao escalar um time misto na primeira fase para esconder o jogo e bater muito em Puskás ate tirá-lo da sequência da Copa. Em 1982, faria um jogo de compadres com a Áustria, com o único placar (1 x 0) que classificaria as duas seleções e eliminaria a Argélia.

Se não é possível afirmar que a derrota para a RDA foi armada, certamente o chaveamento para o quadrangular semifinal foi muito mais sossegado do que se tivesse sido líder do grupo. Um empate garantia a liderança e a derrota significava o segundo lugar. Ao invés de enfrentar Brasil, Argentina e Holanda, foi enfrentar Polônia, Suécia e Iugoslávia.

Mas, ainda permanece a pergunta: se queriam mesmo perder, por que teriam atacado tanto?

Paul Breitner deu sua opinião, colocando mais lenha nessa fogueira: “Quando um alemão pratica um esporte, a ideia é somente vencer. Você não fica exibindo suas habilidades técnicas como os sul-americanos. Você vence. E faz de tudo para isso. Usando tudo que o regulamento permite”.

O time da Alemanha Ocidental havia perdido a confiança da torcida por causa do jogo feio e nada convincente nas três partidas da primeira fase. Foi quando o capitão Franz Beckenbauer se reuniu com o técnico Helmut Schön e disse que, por causa do grande período de concentração, os jogadores estavam sentindo falta de liberdade e do contato com a família. O Kaiser argumentou que estavam em território alemão e propôs que os casados pudessem ver suas mulheres e filhos. Por sua vez, os solteiros teriam permissão para namorar um pouco. O técnico concordou e colocou fim ao enclausuramento.

Na sequência, a Alemanha Oriental ficou no Grupo A. Perdeu para o Brasil por 1 x 0 e para a Holanda por 2 x 0. Conseguiu um heroico empate por 1 x 1 com a bagunçada Argentina, terminado em 3º na chave e deixando os sul-americanos com o último lugar.

Pelo Grupo B, a Alemanha Ocidental venceu a Iugoslávia por 2 x 0, a Suécia por 4 x 2 e a Polônia por 1 x 0. Na decisão, venceu por 2 x 1 de virada a poderosa e temida Holanda, a Laranja Mecânica de Johan Cruijff, e conquistou seu segundo título da Copa do Mundo de futebol.


(Imagem: Revista Movimento)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 0 X 1 ALEMANHA ORIENTAL

 

Data: 22/06/1974

Horário: 19h30 locais

Estádio: Volksparkstadion

Público: 60.200

Cidade: Hamburgo (Alemanha Ocidental)

Árbitro: Ramón Barreto Ruíz (Uruguai)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-3-3):

ALEMANHA ORIENTAL (4-4-2):

1  Sepp Maier (G)

1  Jürgen Croy (G)

2  Berti Vogts

18 Gerd Kische

4  Hans-Georg Schwarzenbeck

3  Bernd Bransch (C)

5  Franz Beckenbauer (C)

4  Konrad Weise

3  Paul Breitner

12 Siegmar Wätzlich

8  Bernhard Cullmann

16 Harald Irmscher

14 Uli Hoeneß

13 Reinhard Lauck

12 Wolfgang Overath

10 Hans-Jürgen Kreische

9  Jürgen Grabowski

2  Lothar Kurbjuweit

13 Gerd Müller

14 Jürgen Sparwasser

15 Heinz Flohe

20 Martin Hoffmann

 

Técnico: Helmut Schön

Técnico: Georg Buschner

 

SUPLENTES:

 

 

21 Norbert Nigbur (G)

21 Wolfgang Blochwitz (G)

22 Wolfgang Kleff (G)

22 Werner Friese (G)

6  HorstDieter Höttges

5  Joachim Fritsche

20 Helmut Kremers

6  Rüdiger Schnuphase

19 Jupp Kapellmann

7  Jürgen Pommerenke

7  Herbert Wimmer

19 Wolfgang Seguin

16 Rainer Bonhof

17 Erich Hamann

10 Günter Netzer

8  Wolfram Löwe

17 Bernd Hölzenbein

9  Peter Ducke

18 Dieter Herzog

11 Joachim Streich

11 Jupp Heynckes

15 Eberhard Vogel

 

GOL: 77′ Jürgen Sparwasser (RDA)

 

CARTÕES AMARELOS:

27′ Jürgen Sparwasser (RDA)

81′ Jürgen Croy (RDA)

84′ Hans-Jürgen Kreische (RDA)

 

SUBSTITUIÇÕES: 

65′ Harald Irmscher (RDA) ↓

Erich Hamann (RDA) ↑

 

68′ Hans-Georg Schwarzenbeck (ALE) ↓

Horst-Dieter Höttges (ALE) ↑

 

69′ Wolfgang Overath (ALE) ↓

Günter Netzer (ALE) ↑


(Imagem: Lance!)

Gol da partida:

Melhores momentos do jogo: