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… 11/06/2002 – Dinamarca 2 x 0 França

Três pontos sobre…
… 11/06/2002 – Dinamarca 2 x 0 França


(Imagem: Pinterest)

● A França era a então campeã mundial e a maior favorita ao título, junto com a Argentina. Estava em uma sequência de títulos, com a Copa do Mundo de 1998, a Eurocopa de 2000 e a Copa das Confederações de 2001. E estavam ainda mais fortes do que quatro anos antes, mais experientes, com opções melhores no meio campo e no ataque.

Se o que faltava para a França em 1998 eram atacantes decisivos, de classe mundial, esse problema não existia mais em 2002. Thierry Henry e David Trezeguet formavam uma dupla de frente letal, que poderia ter a companhia de Sylvain Wiltord – sem contar Nicolas Anelka, que nem foi convocado. A dupla de volantes se completava. Claude Makélélé destruía e Patrick Vieira construía. Robert Pires foi uma ausência bastante sentida, ao ficar fora do Mundial por lesão nos ligamentos do joelho.

Mas o problema maior era a envelhecida defesa. Ainda permaneciam os mesmos nomes que venceram o Brasil na final em 1998: Barthez, Thuram, Lebœuf, Desailly e Lizarazu. Laurent Blanc se aposentou, mas a renovação foi fraca e Frank Lebœuff se tornou titular.

Mas o astro principal ainda era Zinédine Zidane, melhor jogador do mundo no ano anterior. Ele havia sido recém campeão da UEFA Champions League pelo Real Madrid, inclusive fazendo um gol histórico e decisivo na final, em vitória sobre o Bayer Leverkusen por 2 x 1. Pelo seu momento e pelo seu histórico decisivo em Copas, todas as expectativas francesas giravam em torno dele. Porém, como uma peça pregada pelo destino, Zizou se contundiu em um amistoso contra a Coreia do Sul, a quatro dias da estreia na Copa.


(Imagem: Whoateallthepies.tv)

● Os dinamarqueses estavam em sua terceira Copa, sendo a segunda consecutiva. Haviam chegado nas quartas de final em 1998, quando venderam caro a derrota de 3 a 2 para o Brasil. No Grupo 3 das eliminatórias europeias, se classificou invicta em um grupo que contava ainda com a Tchéquia e a Bulgária.

Não tinha mais suas referências históricas, como o goleiro Peter Schmeichel e os irmãos Brian e Michael Laudrup – aposentados. Mesmo assim, tinha a confiança da torcida e da imprensa de seu país. Apesar de não ter grandes estrelas, o time era mais equilibrado do que o de quatro anos antes.

O goleiro Thomas Sørensen substituiu Schmeichel com qualidade. Contava com a bola aérea e com o faro de gol do atacante Ebbe Sand, artilheiro da Bundesliga na temporada 2000/01. Seu parceiro de ataque era o ardiloso Jon Dahl Tomasson. O técnico era Morten Olsen, líbero da grande “Dinamáquina” de 1986. Michael Laudrup era seu auxiliar.


O técnico Morten Olsen armou o time no sistema 4-3-2-1, com um homem a mais no meio para fechar os espaços. O time tinha muita velocidade pelas pontas e jogadas aéreas.


A França jogava em um 4-2-3-1 bem compacto, com liberdade total para os ponteiros e para o maestro Zidane.

● Na partida de abertura do Mundial de 2002, a França foi surpreendida por Senegal – sua ex-colônia – e perdeu por 1 x 0. No jogo seguinte, uma partida sem gols com o Uruguai. Ambas sem Zidane.

Por ser uma situação bastante delicada, Zizou acelerou sua volta, mesmo sentindo dores, para jogar contra os dinamarqueses. Ele entrou em campo e jogou no sacrifício, pois ainda se recuperava de lesão na coxa. Mesmo sentindo dores e estando muito longe de apresentar uma forma física razoável, Zidane ainda seria o melhor da França em campo.

Se Les Bleus vencessem por uma diferença de dois gols, estariam classificados. E exatamente por isso os dois técnicos fizeram mudanças importantes em suas respectivas equipes.

O francês Roger Lemerre mudou sua tradicional defesa, deslocando Lilian Thuram para a zaga e colocando Vincent Candela na lateral direita. Christophe Dugarry ficou com a vaga de Thierry Henry, expulso contra o Uruguai. Zidane entrou na posição de Youri Djorkaeff.

Morten Olsen preferiu rechear seu meio campo para dificultar a criação francesa, com marcação especial em Zidane. Ele tirou seu artilheiro nas eliminatórias, o grandalhão Ebbe Sand, e colocou o jovem volante Christian Poulsen. Niclas Jensen dava juventude e fôlego na lateral esquerda, ao invés do veterano Jan Heintze. Martin Jørgensen era a experiência na ponta, no lugar de Jesper Grønkjær.

O primeiro ataque perigoso foi da França. Wiltord puxou contragolpe rápido e deixou para Trezeguet. Ele invadiu a área pela direita, cortou a marcação do zagueiro (que passou lotado no carrinho) e chutou com a perna boa, a esquerda. Mas Sørensen defendeu bem.

Mas a Dinamarca era mais perigosa com seu jogo vertical e velocidade pelas pontas.

Aos 22 minutos do primeiro tempo, Stig Tøfting cobrou o lateral para a área. A zaga rebateu e Tøfting cruzou na segunda trave. Dennis Rommedahl apareceu sozinho, livre nas costas da marcação para finalizar de primeira, sem qualquer chance para o goleiro Fabien Barthez. Dinamarca 1, França 0.

Logo na sequência, Zidane quase fez um golaço. Ele roubou uma bola na intermediária ofensiva e emendou de primeira. A bola passou muito próxima ao travessão, quase no ângulo.

Depois, Dugarry cruzou da esquerda e Trezeguet cabeceou bem, para o chão, como manda o figurino. Mas Sørensen defendeu de novo.

Os franceses sempre buscavam Zidane, para carimbar as jogadas de ataque. Mas ele estava muito bem marcado, além de estar longe de 100% fisicamente.

Zidane cobrou escanteio e Marcel Desailly cabeceou no travessão.

Aos 22′ da etapa final, Thomas Gravesen fez um belo passe em profundidade para Gronkjaer na ponta esquerda, que cruzou rasteiro de primeira para a área para Tomasson emendar para o gol. Tomasson segurou a camisa de Desailly, mas o árbitro não viu a falta. Com isso, o camisa 9 da Dinamarca apareceu livre na risca da pequena área e bateu de primeira no canto direito do goleiro. Dinamarca 2 a 0.

Mais próximo ao fim da partida, Bixente Lizarazu deixou com Wiltord que avançou e cruzou rasteiro da esquerda para Trezeguet chutar de primeira. A bola explodiu no travessão e não entrou.

Les Bleus criaram algumas chances de gol, mas não acabou fazendo nenhum.

Ficou para a posteridade a imagem de Zidane completamente frustrado e decepcionado com a eliminação.


(Imagem: Trivela)

● Na primeira rodada, a Dinamarca venceu o Uruguai por 2 x 1. Depois, empatou com Senegal por 1 x 1. Confirmou sua classificação em primeiro do grupo ao derrotar a França (2 x 0). Nas oitavas de final, não foi páreo para a Inglaterra e foi eliminada com a derrota por 3 a 0.

A França protagonizou o maior vexame de um campeão na Copa seguinte à da conquista da taça. Foi a pior campanha de um detentor de título mundial em toda a história, além de ser a primeira e única vez que uma seleção então campeã do mundo foi eliminada sem marcar sequer um mísero golzinho na competição.

FICHA TÉCNICA:

 

DINAMARCA 2 x 0 FRANÇA

 

Data: 11/06/2002

Horário: 15h30 locais

Estádio: Incheon Munhak Stadium

Público: 48.100

Cidade: Incheon (Coreia do Sul)

Árbitro: Vítor Melo Pereira (Portugal)

 

DINAMARCA (4-3-2-1):

FRANÇA (4-2-3-1):

1  Thomas Sørensen (G)

16 Fabien Barthez (G)

6  Thomas Helveg

2  Vincent Candela

4  Martin Laursen

15 Lilian Thuram

3  René Henriksen (C)

8  Marcel Desailly (C)

12 Niclas Jensen

3  Bixente Lizarazu

2  Stig Tøfting

4  Patrick Vieira

17 Christian Poulsen

7  Claude Makélélé

7  Thomas Gravesen

11 Sylvain Wiltord

19 Dennis Rommedahl

10 Zinedine Zidane

10 Martin Jørgensen

21 Christophe Dugarry

9  Jon Dahl Tomasson

20 David Trezeguet

 

Técnico: Morten Olsen

Técnico: Roger Lemerre

 

SUPLENTES:

 

 

16 Peter Kjær (G)

23 Grégory Coupet (G)

22 Jesper Christiansen (G)

1  Ulrich Ramé (G)

20 Kasper Bøgelund

19 Willy Sagnol

13 Steven Lustü

18 Frank Lebœuf

5  Jan Heintze

5  Philippe Christanval

23 Brian Steen Nielsen

13 Mikaël Silvestre

15 Jan Michaelsen

14 Alain Boghossian

14 Claus Jensen

17 Emmanuel Petit

8  Jesper Grønkjær

22 Johan Micoud

21 Peter Madsen

6  Youri Djorkaeff

18 Peter Løvenkrands

9  Djibril Cissé

11 Ebbe Sand

12 Thierry Henry

 

GOLS:

22′ Dennis Rommedahl (DIN)

67′ Jon Dahl Tomasson (DIN)

 

CARTÕES AMARELOS:

8′ Christophe Dugarry (FRA)

27′ Christian Poulsen (DIN)

71′ Niclas Jensen (DIN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Martin Jørgensen (DIN) ↓

Jesper Grønkjær (DIN) ↑

 

54′ Christophe Dugarry (FRA) ↓

Djibril Cissé (FRA) ↑

 

71’Patrick Vieira (FRA) ↓

Johan Micoud (FRA) ↑

 

76′ Christian Poulsen (DIN) ↓

Kasper Bøgelund (DIN) ↑

 

79′ Stig Tøfting (DIN) ↓

Brian Steen Nielsen (DIN) ↑

 

83′ Sylvain Wiltord (FRA) ↓

Youri Djorkaeff (FRA) ↑

Melhores momentos da partida:

… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia

Três pontos sobre…
… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia


(Imagem: BBC)

● A Seleção Brasileira vinha de uma sequência inédita de títulos: Copa do Mundo de 1994, Copa América de 1997 (primeira conquista do torneio fora do território nacional) e Copa das Confederações de 1997. Qualquer pessoa que acompanhasse o futebol se encantava com os torpedos de Roberto Carlos, o fôlego interminável de Cafu, a liderança de Dunga, os dribles de Denílson, o poder decisivo de Rivaldo e o encanto da dupla de ataque: Romário e Ronaldo.

Com apenas 21 anos, Ronaldo jogava na Internazionale de Milão e vivia seu auge físico e técnico. Tinha sido eleito o melhor jogador do mundo nos dois anos anteriores. Era chamado na Itália de “Il Fenomeno”.

Por tudo isso, havia uma certeza inquebrantável: era só esperar o dia 12 de julho e ouvir Galvão Bueno gritar pelo penta.

Mas, como sabemos, não seria bem assim.


(Imagem: BBC)

● O maior adversário da Seleção Brasileira no jogo de abertura da Copa do Mundo de 1998 não foi a Escócia: foram os problemas internos. O Château de Grande Romaine, nos arredores de Paris, onde a delegação ficou concentrada, era uma bomba atômica pronta para explodir.

Como na maioria das vezes, a Seleção Brasileira viajou para a Copa do Mundo de 1998 com diversas questões a serem resolvidas. Nos quinze dias que antecederam a partida, treinou pouco e mal. A discórdia foi semeada no plantel e teve problemas médicos com diagnósticos tardios e equivocados. O técnico Zagallo insistiu em variações táticas que não aproveitaram o melhor de seus craques.

Zagallo queria o time com um meio campo em losango, com Dunga mais recuado, César Sampaio ajudando e fechar os espaços e avançando pela direita, e Rivaldo fazendo esse espelho pela esquerda. Sampaio sofria para atacar e Rivaldo para defender. O time até voltou ao 4-4-2 em quadrado, com dois volantes e dos meias armadores. Mas o técnico ainda insistia com o seu famoso “número 1” (veja mais abaixo).


(Imagem: AP)

● Na tentativa de minimizar esses problemas internos, Zico foi contratado para ser o coordenador técnico, uma espécie de elo entre a CBF, a comissão técnica e os jogadores. O Galinho de Quintino usou toda sua experiência e coerência para impor suas ideias e tentar dar o sentido de união necessário para a disputa de um Mundial.

O pior dos obstáculos foi o corte de Romário. A oito dias antes da estreia na Copa, Zico foi o responsável por informar a Romário que ele estava sendo cortado da Seleção. Zico era favorável a manter uma seleção sem jogadores lesionados, com todos inteiros e à disposição. Ele teve o apoio de Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, e ganhou a queda de braço com Zagallo e o Dr. Lídio Toledo. O treinador e o médico queriam manter o Baixinho no grupo. Clinicamente, o craque estaria apto para jogar as fases de mata-mata. Ele garantia que conseguiria suportar as dores na panturrilha e culpou Zico pela sua dispensa. O atacante Romário foi substituído pelo meio campista Emerson.


(Imagem: BBC)

E sem Romário, o caminho da titularidade estava aberto para Edmundo. O Animal estava na grande fase de sua carreira e foi discutivelmente um dos melhores jogadores do mundo no ano anterior, quando “comeu a bola” e levou o Vasco da Gama ao título do Campeonato Brasileiro. Mas Zagallo preferia apostar na experiência de Bebeto, mesmo em uma fase não tão prolífica. Edmundo não suportou a ideia de treinar com o colete dos reservas e, no primeiro coletivo, quase rachou a perna de Júnior Baiano. Após o amistoso com o Athletic Bilbao, bateu boca no vestiário com Ronaldo e com Leonardo. A turma do “deixa-disso” entrou em ação, mas um zagueiro resumiu o pensamento da maioria do elenco: “Não deviam ter trazido esse cara”. A discussão ganhou as páginas dos jornais. Cinco dias antes do jogo, Edmundo deu uma entrevista por telefone na qual afirmou que estava melhor fisicamente e tecnicamente do que Bebeto. Zico entrou na questão e fez o atacante se retratar com todo o grupo.

Além da ausência de Romário, as lesões obrigaram a outras modificações no elenco original. Juninho Paulista nem chegou a estar na lista final por não estar em plena forma física após se recuperar de contusão. André Cruz foi convocado para a vaga de Márcio Santos. O lateral direito Zé Carlos substituiu Flávio Conceição, que seria um coringa como volante e lateral.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Giovanni era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.


A Escócia jogou no 3-4-3. Sem a bola, Dailly fechava como lateral esquerdo e Jackson fazia o quarto homem de meio campo, em um falso 4-4-2.

● Foi no meio desse turbilhão que o Brasil estreou na Copa. Oitenta mil pessoas lotaram o novíssimo Stade de France, em Saint-Denis, e viram os jogadores brasileiros entrarem em campo de mãos dadas, tentando emular 1994. O time de 1998 tinha mais talento que o do tetra, mas não tinha conjunto. O espírito era outro.

A Escócia não tinha nenhum jogador fora de série, como chegou a ter antigamente, com Denis Law e Kenny Dalglish. Mas possuía muita força física e um meio campo até criativo para os padrões do país.

O jogo mal tinha começado e, logo aos cinco minutos, Bebeto cobrou escanteio na primeira trave. César Sampaio se antecipou à marcação do desdentado Craig Burley e cabeceou meio de têmpora, meio de pescoço, meio de ombro… mas mandou a bola para o gol.

As estreias são naturalmente tensas e difíceis, mas o gol deixou o time brasileiro relaxado. Durante a partida, por varias vezes Ronaldo chamou o capitão escocês Colin Hendry para dançar. Mas Hendry era duro demais e ruim de dança.

Mas a técnica refinada dos brasileiros não conseguia disfarçar os problemas táticos. Giovanni era um grande jogador, mas não se adaptou à função do “número 1” de Zagallo. Os laterais Cafu e Roberto Carlos avançavam muito e os volantes Dunga e César Sampaio, já trintões, não tinham o fôlego o suficiente e demoravam na cobertura.

E em uma dessas falhas na cobertura, Sampaio derrubou Kevin Gallacher na área. Aos 38′, John Collins cobrou pênalti de pé esquerdo e mandou no cantinho direito, sem chance alguma de defesa para Taffarel – que até acertou o canto.

O empate não estava nos planos de Zagallo. Vendo a ineficácia de Giovanni, o técnico aceitou rever seus conceitos e fez o que não tinha costume, mudando tudo no intervalo.


(Imagem: Pinterest)

Aqui cabe um parêntese. Quando Zagallo reassumiu a Seleção Brasileira, após a conquista do tetra, anunciou uma “grande revolução tática de sua autoria” (sic), o sistema 4-3-1-2. Esse jogador chamado por ele de “número 1” não era um meia comum, nem um volante ou atacante, nem o ponta de lança das antigas e muito menos o ponta tradicional. Ele seria um “elo de ligação entre meio campo e ataque”, capaz de ajudar na marcação, na transição ofensiva, aparecer em todos os lugares do campo para trocar passes, servir o ataque e atacar. Nas palavras do técnico, esse jogador seria o “elo de ligação entre o meio campo e o ataque”. Foram testados na “posição”: Djalminha, Leonardo, Amoroso, Denílson, Zinho e Rivaldo. Por motivos diferentes, nenhum passou no teste. O que chegou mais próximo foi Juninho Paulista, que não se recuperou de lesão. Giovanni foi o dono da posição nos primeiros 45 minutos do Mundial. Mas o “número 1” era pura teoria e não sobreviveu à prancheta de Zagallo. No segundo tempo, o treinador trocou Giovanni por Leonardo e o sistema 4-3-1-2 pelo tradicional 4-4-2. Nessa formação, o Brasil atacava menos. Mas o “Velho Lobo” tinha certo apreço por Leonardo, que possuía a mesma disciplina tática de Zagallo quando jogador.

Mas não houve chances para a zebra e o gol da vitória veio aos 28 minutos da etapa complementar. Dunga lançou Cafu nas costas da defesa. Ele entrou na pequena área e tentou encobrir Leighton, mas a bola explodiu no peito do goleiro, que fechou bem o ângulo. O zagueiro Tom Boyd vinha na corrida, a bola bateu em seu peito e tomou o caminho do gol. Um gol contra claro. Mas que teve comemoração efusiva de Cafu, com direito a cambalhota.

As estatísticas históricas contam um início de Copa com o pé direito. Mas o que não está escrito um lugar algum é o quanto os fatores externos afetaram o rendimento do time em campo. Um gol contra da Escócia salvou os três pontos.


(Imagem: The Scottish Sun)

● Essa partida marcou a vitória de número 50 da Seleção Brasileira na história das Copas do Mundo.

O Brasil se tornou a primeira seleção a marcar mais de um gol na primeira partida da Copa desde 1966, quando o “jogo de abertura” foi instituído oficialmente.

Na segunda rodada, a Escócia empatou com a Noruega por 1 x 1. Na última rodada, os escoceses se classificariam se vencesse o Marrocos e a Noruega não vencesse o Brasil. Aconteceu tudo ao contrário. Os nórdicos venceram. E os escoceses foram goleados pelos marroquinos por 3 x 0. Com oito participações no currículo (1954, 1958, 1974, 1978, 1982, 1986, 1990 e 1998), a Escócia nunca passou de fase em uma Copa do Mundo.

Na sequência, o Brasil venceu o Marrocos por 3 x 0. Já classificado em primeiro lugar na chave, perdeu para a Noruega – sua asa negra – por 2 x 1, levando dois gols nos últimos sete minutos. Nas oitavas de final, venceu o Chile de Zamorano e Salas por 4 x 1. Nas quartas, suou para passar pela Dinamarca (3 x 2), que tinha goleado a ardilosa Nigéria. Nas semifinais, um jogo histórico contra a Holanda (1 x 1), com vitória nos pênaltis (4 x 3) graças a Taffarel. Na final, perdeu para a França por 3 x 0, com dois gols de Zidane e um de Petit.


(Imagem: By Jeff J. Mitchell / Reuters / IFDB)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 X 1 ESCÓCIA

 

Data: 10/06/1998

Horário: 17h30 locais

Estádio: Stade de France

Público: 80.000

Cidade: Saint-Denis (França)

Árbitro: José María García-Aranda (Espanha)

 

BRASIL (4-3-1-2):

ESCÓCIA (3-4-3):

1  Taffarel (G)

1  Jim Leighton (G)

2  Cafu

4  Colin Calderwood

4  Júnior Baiano

5  Colin Hendry (C)

3  Aldair

3  Tom Boyd

6 Roberto Carlos

14 Paul Lambert

5  César Sampaio

8  Craig Burley

8  Dunga (C)

22 Christian Dailly

7  Giovanni

11 John Collins

10 Rivaldo

10 Darren Jackson

20 Bebeto

7  Kevin Gallacher

9  Ronaldo

9  Gordon Durie

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Craig Brown

 

SUPLENTES:

 

 

12 Carlos Germano (G)

12 Neil Sullivan (G)

22 Dida (G)

21 Jonathan Gould (G)

13 Zé Carlos

2  Jackie McNamara

14 Gonçalves

6  Tosh McKinlay

15 André Cruz

16 David Weir

16 Zé Roberto

18 Matt Elliott

17 Doriva

19 Derek Whyte

11 Emerson

15 Scot Gemmill

18 Leonardo

17 Billy McKinlay

19 Denílson

13 Simon Donnelly

21 Edmundo

20 Scott Booth

 

GOLS:

5′ César Sampaio (BRA)

38′ John Collins (ESC) (pen)

74′ Tom Boyd (BRA) (gol contra)

 

CARTÕES AMARELOS:

25′ Darren Jackson (ESC)

37′ César Sampaio (BRA)

45+2′ Aldair (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Giovanni (BRA) ↓

Leonardo (BRA) ↑

 

72′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

78′ Darren Jackson (ESC) ↓

Billy McKinlay (ESC) ↑

 

84′ Christian Dailly (ESC) ↓

Tosh McKinlay (ESC) ↑

(Imagem: EPA – Daily Mail)

Melhores momentos da partida:

Veja o primeiro tempo e o segundo tempo completos, com transmissão da Rede Globo, nos respectivos links:
1º tempo: https://www.dailymotion.com/video/x5viwgf
2º tempo: https://www.dailymotion.com/video/x5w1jqh


(Imagem: Pinterest)

… 09/06/1990 – Colômbia 2 x 0 Emirados Árabes Unidos

Três pontos sobre…
… 09/06/1990 – Colômbia 2 x 0 Emirados Árabes Unidos


(Imagem: AFP Photo / Thenational.ae)

● A Colômbia voltava a participar de uma Copa do Mundo 28 anos depois. Foi a campeã do Grupo 2 das eliminatórias da Conmebol, deixando para trás o Paraguai e o Equador. E por ter sido o líder que somou menos pontos dentre os sul-americanos, teve que disputar a repescagem intercontinental contra Israel, que havia sido o vencedor na Oceania. Com uma vitória em casa e o empate sem gols fora, enfim, Los Cafeteros se garantiram no Mundial.

O sorteio dos grupos não foi muito favorável. Embora o Grupo D contasse com o “sparring” Emirados Árabes Unidos, tinha também as fortíssimas seleções de Alemanha Ocidental e Iugoslávia. Mas os colombianos viajaram à Itália prontos para roubarem a cena.

Todos os olhares buscavam a cabeleira acaju e despenteada de Carlos “El Pibe” Valderama. Era um “falso lento”, mas rápido com a bola nos pés e inteligente na armação. Era o capitão e cérebro do time.

O título maior de astro do país era dividido com René “El Loco” Higuita. O “goleiro-líbero” sempre roubava os olhares a cada saída espalhafatosa do gol. Pouco importava se fosse bem ou mal sucedido. Seu estilo não era nada ortodoxo e uma novidade para os europeus. Por vezes assumia o papel de zagueiro e até iniciava a armação de seu time, gerando bons contra-ataques. Se especializou também em cobranças de pênalti (cobrando e defendendo), além de ser bom batedor de falta. Terminaria a carreira com 41 gols marcados (37 em cobranças de pênalti e 4 de falta) e até hoje é o 3º maior goleiro artilheiro da história. Se não bastasse tudo isso, era ainda muito bom em sua principal função: como goleiro mesmo. Era um astro em campo, que deixava a torcida de pé.

Não eram apenas as cabeleiras exóticas que atraíam os olhares. Pela primeira vez em sua história, a Colômbia possui mais do que jogadores esforçados. Os sul-americanos praticavam um futebol moderno.

A eficiente equipe foi montada por Francisco Maturana, que começou uma revolução no futebol do país desde 1987, ao trabalhar a marcação sob pressão. Ex-jogador do Atlético Nacional, ele levou o time ao histórico título da Copa Libertadores da América de 1989, ao mesmo tempo em que treinava a seleção de seu país. Focou na renovação do plantel nacional, dando chance a novos talentos como os meias Bernardo Redín e Freddy Rincón, além do zagueiro Andrés Escobar.

Com isso, a Colômbia era a seleção que gerava mais curiosidade antes do início do Mundial. Era uma incógnita. Ninguém sabia o que realmente esperar.

Na única Copa que havia disputado, em 1962, perdeu para o Uruguai (2 x 1) e para a Iugoslávia (5 x 0), além de ter conseguido um heroico empate por 4 x 4 com a União Soviética – com direito ao único gol olímpico da história dos Mundiais – após estar perdendo por 4 x 1.


Valderrama tabela com Gildardo Gómez (Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Situado no Golfo Pérsico, os Emirados Árabes Unidos existem como nação desde 1971. Menos de duas décadas se passaram e a seleção desse país de apenas 83.600 km² (menor que o estado de Pernambuco) foi fazer a sua estreia em Copas do Mundo.

Os árabes ficaram em segundo lugar no hexagonal final das eliminatórias asiáticas. Com uma vitória e quatro empates, ficou com uma das duas vagas do continente – juntamente com a líder Coreia do Sul, que somou dois pontos a mais. Zagallo era o treinador do time. Ele soube reconhecer as deficiências de seu elenco e armou um time bastante defensivo. O “Velho Lobo” foi demitido pelo então príncipe Khalifa bin Zayed al Nahyan (atual emir – líder político do país) após discutir a premiação pela qualificação para o Mundial. O principal problema do futebol do país sempre foi a interferência das autoridades.

O técnico polonês Bernard Blaut durou um mês no emprego. Desesperados, os sheiks foram atrás de Carlos Alberto Parreira, aprendiz de Zagallo. Ele já havia treinado os emiratenses entre 1984 e 1988, formando jogadores que seriam a base desse time. Ele conhecia o potencial de cada jogador e sabia que o time era fraco. Os próprios árabes reconheciam as suas limitações e viajaram para a Itália com um objetivo em mente: não serem humilhados.

A Revista Placar da época dizia que era um “elenco repleto de homônimos barbudos que dificultam a identificação para o torcedor estrangeiro”.


A Colômbia jogava no 4-4-2 com um meio campo muito técnico. Valderrama era livre para criar. Rincón era atacante nessa época; só alguns anos depois ele se tornaria o grande volante que foi.


Parreira escalou os EAU com três zagueiros. Como o time pouco avançava, era um 5-3-2, na prática.

● Diante de quase 31 mil presentes no Stadio Renato Dall’Ara, em Bologna, a Colômbia demorou muito a fazer valer seu claro favoritismo diante da frágil seleção dos Emirados Árabes Unidos.

Durante 50 minutos, só Higuita chamou a atenção ao sair da área para tirar uma bola de cabeça e para driblar um atacante rival.

Os cafeteros só acordaram aos cinco minutos do segundo tempo.

A defesa emiratense errou a linha de impedimento e Álvarez cruzou para Rodín cabecear no contrapé do goleiro.

O placar foi fechado a cinco minutos do fim.

Aos 41′, Estrada fez um lançamento de seu campo. Valderrama dominou pela esquerda, cortou para o meio de chutou de fora da área, no canto esquerdo do goleiro.


Gildardo Gómez disputa a bola com Adnan Al Talyani (Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Como esperado, a seleção dos Emirados Árabes Unidos foi a última colocada da Copa do Mundo de 1990. A menor das derrotas foi para os colombianos (2 x 0). As goleadas vieram para Alemanha Ocidental (5 x 1) e para a Iugoslávia (4 x 1).

A Colômbia, após vencer os árabes, perdeu para a Iugoslávia por 1 x 0 e empatou com a Alemanha Ocidental nos minutos finais, com gol de Freddy Rincón. Se classificou para a próxima fase como um dos melhores terceiros colocados. Enfrentou a também surpreendente seleção de Camarões e perdeu na prorrogação por 2 x 1, com dois gols do velhinho Roger Milla – o segundo em uma falha gritante de René Higuita, que tentou driblar quase no meio campo e perdeu a bola.


Andrés Escobar disputa no alto com o goleiro Muhsin Musabah (Imagem: Michel Lipchetz / AP / SFFS / sfgate.com)

FICHA TÉCNICA:

 

COLÔMBIA 2 x 0 EMIRADOS ÁRABES UNIDOS

 

Data: 09/06/1990

Horário: 17h00 locais

Estádio: Stadio Renato Dall’Ara

Público: 30.791

Cidade: Bologna (Itália)

Árbitro: George Courtney (Inglaterra)

 

COLÔMBIA (4-4-2):

EMIRADOS ÁRABES UNIDOS (5-3-2):

1  René Higuita (G)

17 Muhsin Musabah (G)

4  Luis Fernando Herrera

19 Eissa Meer

15 Luis Carlos Perea

6  Abdulrahman Mohamed

2  Andrés Escobar

20 Yousuf Hussain

3  Gildardo Gómez

2  Khalil Ghanim

14 Leonel Álvarez

15 Ibrahim Meer

8  Gabriel “Barrabás” Gómez

3  Ali Thani Jumaa

11 Bernardo Redín

14 Nasir Khamees

10 Carlos Valderrama (C)

12 Hussain Ghuloum

19 Freddy Rincón

7  Fahad Khamees (C)

16 Arnoldo Iguarán

10 Adnan Al Talyani

 

Técnico: Francisco Maturana

Técnico: Carlos Alberto Parreira

 

SUPLENTES:

 

 

12 Eduardo Niño (G)

1  Abdullah Musa (G)

21 Alexis Mendoza

22 Abdulqadir Hassan (G)

5  León Villa

21 Abdulrahman Al-Haddad

6  José Ricardo Pérez

4  Mubarak Ghanim

13 Carlos Hoyos

16 Mohamed Salim

17 Geovanis Cassiani

5  Abdullah Ali Sultan

18 Wilmer Cabrera

13 Hassan Mohamed

22 Rubén Darío Hernández

8  Khalid Ismaïl

20 Luis Fajardo

18 Fahad Abdulrahman

9  Miguel Guerrero

9  Abdulaziz Mohamed

7  Carlos Estrada

11 Zuhair Bakheet

 

GOLS:

50′ Bernardo Redín (COL)

85′ Carlos Valderrama (COL)

 

CARTÕES AMARELOS:

5′ Eissa Meer (EAU)

55′ Yousuf Hussain (EAU)

70′ Ibrahim Meer (EAU)

 

SUBSTITUIÇÕES:

57′ Fahad Khamees (EAU) ↓

Zuhair Bakheet (EAU) ↑

 

74′ Eissa Meer (EAU) ↓

Abdullah Ali Sultan (EAU) ↑

 

75′ Arnoldo Iguarán (COL) ↓

Carlos Estrada (COL) ↑

Veja os gols da partida – em imagens bastante prejudicadas pelo reflexo do sol, mas que são as únicas disponíveis:

Vídeo com a escalação das duas seleções:

… 08/06/1958 – França 7 x 3 Paraguai

Três pontos sobre…
… 08/06/1958 – França 7 x 3 Paraguai


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Na primeira partida das eliminatórias europeias para a Copa do Mundo de 1958, a França logo tratou de mostrar suas credenciais. Em Paris, goleou sua maior concorrente, a Bélgica, por 6 x 3, com cinco gols do centroavante Thadée Cisowski, polonês naturalizado francês. O empate sem gols no jogo da volta, em Bruxelas, garantiu a liderança do Grupo 2 (que também tinha a Islândia) e a vaga no Mundial. Nessa partida, os destaques foram o goleiro Claude Abbes e o zagueiro Mustapha Zitouni. Porém, Zitouni, que era argelino, abandonou Les Bleus antes da Copa para se juntar à seleção da FLN – Frente de Libertação Nacional –, que era um grupo de guerrilheiros que vinham travando combates contra o domínio francês desde 1954 e lutando pela independência da Argélia – o que só viria a ocorrer em 1962. As ações da FLN ganharam maior força em 1958. Outros três argelinos deixaram a seleção francesa e voltaram para seu país natal: os meias Rachid Mekloufi e Abdelaziz Ben Tifour, além do ponta direita Said Brahimi. O atacante Célestin Oliver, também argelino, permaneceu na seleção francesa.

Se já não bastasse o problema da deserção, ainda houve a lesão de Cisowski, que fraturou a perna jogando pelo Racing de Paris. Para piorar, René Bliard, outro atacante, lesionou o tornozelo em jogo-treino contra um clube sueco, a poucos dias do Mundial. Essas ausências acabaram abrindo brecha para a convocação de Just Fontaine. Ele era outro imigrante, nascido no Marrocos, mas seu país de nascimento já era independente desde 1956 e ele já estava radicado na França há cinco anos. Fontaine era um atacante de enorme poder de finalização, como seria provado durante o Mundial.

Assim, o técnico Albert Batteux não conseguiu formar seu time ideal e teve que remontar sua lista de convocados. O treinador optou pelo entrosamento, ao chamar seis jogadores do Stade de Reims, multicampeão nacional e duas vezes vice-campeão da Copa dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League).

Raymond Kopa não esteve presente nas eliminatórias, mas pôde fortalecer o elenco bleu no Mundial. O meia jogava no Real Madrid desde 1956 e, como a Espanha não se qualificou para a Copa, os dirigentes do Real Madrid concordaram em sua liberação.


(Imagem: Pinterest)

● No Grupo 3 do qualificatório sul-americano, o Uruguai jogava pelo empate, mas o Paraguai surpreendeu. Com a lesão do ponta esquerda Genaro Benítez (único da equipe que jogava no exterior, no Millonarios, da Colômbia), o jovem Florencio Amarilla estreou na seleção albirroja e marcou um “hat trick” na goleada de 5 x 0 sobre a Celeste Olímpica, que garantiu o Paraguai na liderança da chave e, consequentemente, a vaga para a Copa.

O time na Suécia era praticamente o das eliminatórias. Não pôde contar com alguns dos melhores jogadores nascidos em seu território: o já citado Genaro Benítez, o zagueiro Heriberto Herrera (do Atlético de Madrid) e o atacante Eulogio Martínez (do Barcelona). Ambos haviam se naturalizado e vestiram a camisa da seleção espanhola. Certamente esses três elevariam muito o nível técnico da aguerrida equipe guarani, treinada por Aurelio González, ex-atacante do Olimpia e da seleção.


Como praticamente todas as seleções da Copa de 1958, o sistema defensivo francês ainda estava disposto no WM, mas já indicava uma transição para uma formação com quatro defensores. Armand Penverne era o meia defensivo pela direita, mas recuava com frequência quase como se fosse um quarto zagueiro. Kopa era mais armador e Piantoni avançava como um ponta de lança.


O Paraguai jogava duro e cometia muitas faltas. Atuava em tática semelhante, mais parecido ao sistema WM Diagonal criado pelo técnico brasileiro Flávio Costa. Salvador Villalba era o meia defensivo que jogava mais recuado. José Parodi fazia o balanço no meio, enquanto Cayetano Ré (que seria artilheiro no Barcelona na década seguinte) avançava para completar o quarteto de ataque.

● No domingo, dia 08/06/1958, mais de 16 mil pessoas estiveram no estádio Idrottsparken, na cidade de Norrköping, no sudoeste da Suécia. Cercada de expectativas, a França estreou contra o Paraguai. Os expectadores puderam presenciar uma partida incrível, com três viradas e dez gols marcados.

Aos 21 minutos de jogo, o centroavante Jorge Lino Romero foi derrubado dentro da área. Amarilla converteu e abriu o placar.

Quatro minutos depois, Fontaine recebeu de Kopa dentro da área e finalizou da marca do pênalti, empatando a partida.

A primeira virada foi francesa. Aos 30′, novamente Kopa fez o passe e Fontaine finalizou de dentro da área, vencendo o goleiro Ramón Mayeregger e fazendo 2 x 1. Foram dois passes geniais de Kopa e dois gols quase idênticos de Fontaine.

Mas os paraguaios estavam ligados em uma tomada de 220 volts e não se deram por vencidos. Como o time francês era muito ofensivo, oferecia espaços entre as linhas, especialmente na defesa. Amarilla, de novo, empatou no finalzinho do primeiro tempo. Ele recebeu na entrada da área e chutou no angulo esquerdo do goleiro François Remetter.

Mais uma virada ocorreu aos cinco minutos da etapa final, quando Amarilla lançou para Romero finalizar. Paraguai 3, França 2.

Logo na sequência, o jogo mudaria drasticamente. O meia José Parodi levou a pior em um choque de cabeças com Jean-Jacques Marcel e ficou praticamente desacordado. Ele teve que sair de campo e deixou os guaranis com um a menos, já que não haviam substituições na época.

Foi o que precisava para começar o show do avassalador ataque francês. Aos 7, o ponta de lança Roger Piantoni finalizou sem defesa para o goleiro Ramón Mayeregger: 3 a 3.

Maryan Wisnieski fez boa jogada individual e marcou aos 17′, na derradeira e definitiva virada desse memorável jogo: 4 x 3.

O quinto gol saiu aos 21′. Piantoni cruzou para a pequena área. Fontaine ganhou a dividida com o goleiro e marcou seu “hat trick”.

Kopa fez o seu aos 25′, avançando com a bola dominada e chutando sem chances para o goleiro paraguaio.

A seis minutos do apito final, o marcador foi fechado pelo ponta esquerda Jean Vincent, que recebeu de Kopa e arrematou no canto, fechando o jogo em absurdos 7 x 3.


(Imagem: Europe1.fr)

● Quem viu apenas o resultado não imagina o quanto a partida foi difícil. Foi um duelo muito equilibrado, em que a linha ofensiva dos bleus estava imparável e, comandada por Fontaine, fez toda a diferença para a goleada exagerada.

O placar elástico surpreendeu o público e a imprensa, assim como o outro resultado do grupo, o empate por 1 x 1 entre Iugoslávia e Escócia – pois os iugoslavos eram amplamente favoritos.

O Paraguai caiu na primeira fase, mas teve uma despedida honrada, ao vencer a Escócia por 3 x 2 e empatar com a Iugoslávia por 3 x 3.

Por sua vez, a França perdeu para a Iugoslávia por 3 a 2 e venceu a Escócia por 2 a 1, se classificando como líder do Grupo 2, com quatro pontos. Nas quartas de final, goleou a Irlanda do Norte por 4 a 0. Nas semifinais, não foi páreo para o Brasil de Didi e Pelé e perdeu por 5 a 2. Na decisão do 3º lugar, massacrou a Alemanha Ocidental por 6 a 3, com quatro gols de Fontaine, artilheiro do Mundial com 13 gols em 6 partidas. Até hoje ele é o maior goleador em uma única edição de Copa do Mundo.


Fontaine é festejado pelos companheiros de seleção (Imagem: Getty Images / FIFA)

● Quando se fala em seleção francesa de futebol, logo se pensa nos campeões do mundo de 1998 e 2018. O que essas grandes equipes tem em comum? As três cores principais da bandeira estão mais para “black, blanc, beur” (uma alusão aos negros, brancos e árabes) do que azul, branco e vermelho. Os imigrantes sempre foram a principal força do futebol no país, desde seus primórdios. Se em 1998, 13 dos jogadores possuíam alguma ligação ou origem estrangeira, no time de 2018 eram 20 dos 23. A primeira equipe francesa de destaque, que ficou com o 3º lugar na Copa do Mundo de 1958, também tinha “pé de obra” importado. Além dos argelinos que deixaram Les Bleus para atuarem pela FLN e de Thadée Cisowski, nascido na Polônia, o destaque foi o artilheiro do Mundial com 13 gols: o marroquino Just Fontaine. O grande craque era Raymond Kopaszewski, o Kopa, de família polonesa, assim como Maryan Wisnieski. Por sua vez, o ponta direita era amigo de infância de Roger Piantoni, de ascendência italiana, assim como o arqueiro Dominique Colonna e o meia Bernard Chiarelli. O atacante Célestin Oliver nasceu na Argélia. O goleiro Claude Abbes era filho de um agricultor espanhol. Já os familiares de Kazimir Hnatow deixou a região onde fica a atual Ucrânia antes que o atleta nascesse.


Em pé: Kaelbel, Penverne, Jonquet, Marcel, Remetter e Lerond. Sentados: Wisnieski, Fontaine, Kopa, Piantoni e Vincent. (Imagem: Imortais do Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 7 x 3 PARAGUAI

 

Data: 08/06/1958

Horário: 19h00 locais

Estádio: Idrottsparken

Público: 16.518

Cidade: Norrköping (Suécia)

Árbitro: Juan Gardeazábal Garay (Espanha)

 

FRANÇA (WM):

PARAGUAI (WM):

3  François Remetter (G)

1  Ramón Mayeregger (G)

4  Raymond Kaelbel

2  Edelmiro Arévalo

10 Robert Jonquet (C)

3  Juan Vicente Lezcano

5  André Lerond

17 Agustín Miranda

13 Armand Penverne

5  Salvador Villalba

12 Jean-Jacques Marcel

4  Ignacio Achúcarro

22 Maryan Wisnieski

7  Juan Bautista Agüero (C)

20 Roger Piantoni

8  José Parodi

17 Just Fontaine

9  Jorge Lino Romero

18 Raymond Kopa

21 Cayetano

21 Jean Vincent

11 Florencio Amarilla

 

Técnico: Albert Batteux

Técnico: Aurelio González

 

SUPLENTES:

 

 

1  Claude Abbes (G)

12 Samuel Aguilar (G)

2  Dominique Colonna (G)

13 Luis Gini

6  Roger Marche

14 Darío Segovia

7  Robert Mouynet

6  Eligio Echagüe

11 Maurice Lafont

19 Eliseo Insfrán

8  Bernard Chiarelli

15 Luis Santos Silva

9  Kazimir Hnatow

16 Claudio Lezcano

14 Raymond Bellot

18 Benigno Gilberto Penayo

15 Stéphane Bruey

20 José Raúl Aveiro

16 Yvon Douis

10 Óscar Aguilera

19 Célestin Oliver

22 Eligio Antonio Insfrán

 

GOLS:

20′ Florencio Amarilla (PAR)

24′ Just Fontaine (FRA)

30′ Just Fontaine (FRA)

44′ Florencio Amarilla (PAR) (pen)

50′ Jorge Lino Romero (PAR)

52′ Roger Piantoni (FRA)

61′ Maryan Wisnieski (FRA)

67′ Just Fontaine (FRA)

70′ Raymond Kopa (FRA)

83′ Jean Vincent (FRA)

Veja os gols da partida:

 

… 07/06/1962 – México 3 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 07/06/1962 – México 3 x 1 Tchecoslováquia


(Imagem: @tabaspas no Twitter / The18.com)

● A maior surpresa do Mundial de 1962 foi a vitória do México sobre a Tchecoslováquia. Até então, os latino-americanos nunca haviam ganhado uma partida de Copa do Mundo, enquanto os europeus tinham um bom time e já tinham história por terem sido vice-campeões em 1934.

A Tchecoslováquia venceu o Grupo 8 das eliminatórias da UEFA, ao bater a Escócia na prorrogação do jogo desempate, em um grupo que tinha também a Irlanda.

O México precisou passar por mais fases no qualificatório para ficar com a única vaga da CONCACAF na fase final do torneio. Na primeira, passou pelos Estados Unidos. Na segunda, venceu um triangular final com apenas um ponto a mais que a Costa Rica e dois a mais que as Antilhas Holandesas. Enfrentou o Paraguai na repescagem intercontinental e empatou sem gols em Assunção após vencer por 1 x 0 na Cidade do México. Enfim, La Tri estava na Copa.

Na primeira rodada, os astecas perderam para o Brasil por 2 x 0. No segundo jogo, vendeu muito caro a derrota para a Espanha (1 x 0), que só conseguiu marcar no último minuto.

A Tchecoslováquia vinha de uma vitória sobre a Espanha por 1 x 0 e de um empate sem gols com o Brasil – partida na qual o Rei Pelé se lesionou e se despediu do Mundial.

Com a derrota da Espanha para o Brasil no dia anterior, a partida entre México e Tchecoslováquia havia perdido importância, já que os tchecos estavam classificados com três pontos e os mexicanos eliminados, sem somar pontos até então. Apesar disso, foi uma partida histórica. Até então, o México nunca havia vencido uma partida em Copas do Mundo desde sua primeira edição, em 1930. Nos treze jogos anteriores, o retrospecto era um empate (1 x 1 com o País de Gales, em 1958) e doze derrotas. E o jejum foi quebrado 32 anos depois, na 14ª partida.


Ambas equipes atuavam no esquema tático 4-2-4.

● Com sua camisa vermelho bordô, os mexicanos deram a saída. Os tchecoslovacos, de uniforme branco, roubaram a bola no meio de campo e trocaram passes até que Josef Masopust lançou o ponta esquerda Václav Mašek nas costas da defesa. Ele correu mais que Del Muro, invadiu a área e tocou cruzado, no canto esquerdo do goleiro. Eram jogados apenas 15 segundos de partida.

Este foi o gol mais rápido da história das Copas até 2002, quando o Hakan Şükür marcou para a Turquia aos 11 segundos, na partida que decidiu o 3º lugar contra a Coreia do Sul.

Parecia que seria mais um jogo daqueles para os mexicanos – igual a tantos outros –, em que a derrota era certa.

Os europeus continuaram no ataque. Adolf Scherer abriu com Jozef Štibrányi na ponta direita e ele chutou rasteiro para uma importante defesa de Carbajal.

Com muita vontade e garra, o México passou a neutralizar os ataques adversários, colocou a bola no chão e passou a jogar.

O empate veio aos 13 minutos. De cabeça erguida, Alfredo Hernández arrancou pelo meio e passou para Héctor Hernández próximo à meia-lua. Ele se livrou da marcação e tocou para Salvador Reyes, que deixou o zagueiro no chão tocou para Héctor Hernández. O camisa 9 tabelou com Alfredo del Águila na ponta direita e, ao receber de volta, chutou cruzado. Isidoro Díaz apareceu sozinho dentro da pequena área para escorar para o gol vazio.

Mesmo com mais toque de bola e tentando avançar, os europeus não conseguiam impor sua pressão, insistindo nas mesmas jogadas manjadas pelas pontas.

Aos 29′, a Tchecoslováquia errou a saída de bola. Del Águila roubou de Svatopluk Pluskal, tabelou com Alfredo Hernández, entrou na área e chutou de esquerda no canto esquerdo do goleiro Viliam Schrojf.

No segundo tempo, os astecas recuaram para segurar o resultado e os tchecos acordaram. E Carbajal foi se tornando o melhor homem em campo.

A melhor chance dos europeus foi em um chute do perigoso atacante Scherer, que o veterano goleiro defendeu em dois tempos.

Mesmo com dois jogadores mexicanos machucados (não havia substituições na época), os tchecos não conseguiram romper a defesa latina.

Mas o contragolpe mexicano estava fatal naquele dia. Na última volta do ponteiro, o lateral direito Jan Lála colocou a mão na bola dentro da área. Hector Hernández bateu no canto direito, deslocando Schroijff e fechando o placar.


(Imagem: Pinterest)

● O triunfo foi o maior presente de aniversário possível para o goleiro Antonio Carbajal, que completava 33 anos exatamente naquele dia. Carbajal é um dos mais longevos e importantes goleiros da história do futebol mexicano e mundial. Foi eleito pela IFFHS o 15º melhor de sua posição no século XX. Com apenas 19 anos, foi o maior destaque de sua seleção nos Jogos Olímpicos de 1948 e esteve no elenco que disputou a Copa do Mundo de 1966. Foi o primeiro jogador a disputar cinco Mundiais (1950, 1954, 1958, 1962 e 1966). Assim, conseguiu a “proeza” de sofrer gols de jogadores de gerações tão diferentes, como Ademir de Menezes e Pelé. Apesar de ter a “honra” de ser um dos goleiros que mais levaram gols em Mundiais (25 em 11 jogos), certamente a seleção mexicana teria sofrido muito mais se ele não tivesse sido o dono da camisa 1 por tantos anos. Era dotado de bom posicionamento, reflexo apurado e boa saída do gol, além da coragem e liderança que sempre o caracterizou – não a toa foi capitão em três Copas.

Viva México! A Cidade do México viu uma festa que se faz aos campeões, com os festejos indo até a madrugada. Provavelmente foi a maior comemoração que já se viu para um time eliminado na primeira fase da Copa.

Com essa vitória, pela primeira vez os mexicanos não foram lanternas de seu grupo. Graças ao critério do goal average (divisão do número de gols pró pelo número de gols contra), ficaram à frente da poderosa Espanha de Ferenc Puskás e Paco Gento no Grupo III. México e Espanha terminaram com dois pontos ganhos e o mesmo saldo de gols (1 negativo). La Tri marcou 3 e sofreu 4 (goal average de 0,75) e a Fúria fez dois gols e levou 3 (goal average de 0,66).

Para os fãs das teorias conspiratórias, a derrota da Tchecoslováquia foi… digamos… conveniente. Como já estava classificada, pôde escolher o próximo adversário. Entre Hungria e Inglaterra, preferiram perder para os mexicanos para enfrentar os húngaros na próxima fase. Se essa teoria for verdade, a escolha não foi tão inteligente. A Hungria tinha um time melhor e estava jogando mais do que a Inglaterra naquele momento.

E mesmo sofrendo muito, a Tchecoslováquia conseguiu vencer a Hungria por 1 x 0 nas quartas de final. Nas semifinais, passou pelo bom time da Iugoslávia em vitória por 3 x 1. Na decisão, enfrentou o invencível Brasil e perdeu por 3 x 1, gols de Amarildo, Zito e Vavá, com Josef Masopust descontando. Foi a segunda e última vez que o país chegou à final da Copa do Mundo.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

MÉXICO 3 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 07/06/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Sousalito

Público: 10.648

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça)

 

MÉXICO (4-2-4):

TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):

1  Antonio Carbajal (G)(C)

1  Viliam Schrojf (G)

2  Jesús del Muro

2  Jan Lála

5  Raúl Cárdenas

5  Svatopluk Pluskal

3  Guillermo Sepúlveda

3  Ján Popluhár

15 Ignacio Jáuregui

4  Ladislav Novák (C)

8  Salvador Reyes

19 Andrej Kvašňák

6  Pedro Nájera

6  Josef Masopust

7  Alfredo del Águila

7  Jozef Štibrányi

9  Héctor Hernández

8  Adolf Scherer

18 Alfredo Hernández

10 Jozef Adamec

11 Isidoro Díaz

14 Václav Mašek

 

Técnico: Ignacio Trelles

Técnico: Rudolf Vytlačil

 

SUPLENTES:

 

 

12 Jaime Gómez (G)

22 Pavel Kouba (G)

22 Antonio Mota (G)

21 Jozef Bomba

13 Arturo Chaires

12 Jiří Tichý

4  José Villegas

13 František Schmucker

14 Pedro Romero

15 Vladimír Kos

16 Salvador Farfán

16 Titus Buberník

19 Antonio Jasso

17 Tomáš Pospíchal

20 Mario Velarde

18 Josef Kadraba

10 Guillermo Ortiz

9  Pavol Molnár

17 Felipe Ruvalcaba

20 Jaroslav Borovička

21 Alberto Baeza

11 Josef Jelínek

 

GOLS:

15” Václav Mašek (TCH)

12′ Isidoro Díaz (MEX)

29′ Alfredo del Águila (MEX)

90′ Héctor Hernández (MEX) (pen)

Veja a partida completa no vídeo abaixo.
(Seguem os minutos das jogadas completas dos gols:
– 04:10 Mašek 0-1;
– 16:05 Díaz 1-1;
– 32:25 Del Águila 2-1; e
– 1:38:35 Hernández 3-1.)

… 06/06/1978 – Argentina 2 x 1 França

Três pontos sobre…
… 06/06/1978 – Argentina 2 x 1 França


(Imagem: AFP / Folha)

● Após 48 anos, a Copa do Mundo voltou a ser disputada às margens do Rio da Prata. A primeira vez foi no Uruguai. Em 1978 foi a vez da Argentina ser o maior palco do futebol mundial. Os portenhos já tinham pleiteado o direito de sediar o torneio em outras ocasiões, mas só tiveram sucesso em 1966, quando foi escolhida como anfitriã para a competição que seria disputada doze anos depois.

Dois anos antes, uma junta militar foi responsável por dar um golpe de estado e tirar do poder Isabelita Perón, viúva do mítico presidente Juan Domingo Perón. Autodenominada “Processo de Reorganização Nacional”, a junta foi constituída pelos comandantes das três forças armadas: Jorge Rafael Videla (exército), Emilio Massera (marinha) e Orlando Agosti (força aérea). Logo na sequência, o general Videla assumiu a presidência e governou por cinco anos com mão de ferro.

E foi nesse período, em meio a um turbilhão de acontecimentos na política e na sociedade argentina, que o Mundial ocorreu: bem no período mais crítico da ditadura militar. A tortura e os métodos de combate aos opositores geravam controvérsia internacional e houve até boatos de boicote em massa à competição.

Era um país sem confiança e baixa autoestima. E, assim como em outros países sul-americanos, o futebol era tido como um eficiente meio de propaganda do país ao mundo e uma forma de distração para o povo.

Realizar a Copa do Mundo com êxito se tornou fundamental. Foram construídos três estádios (nas cidades de Córdoba, Mendoza e Mar del Plata) e outros três foram reformados (Gigante de Arroyito – em Rosário; Monumental de Núñez e El Fortín de Liniers – em Buenos Aires). Na capital, foi construído em tempo recorde o mais bem equipado centro de imprensa da América do Sul. Ironicamente, os pobres hermanos só podiam assistir ao torneio em preto e branco, enquanto as imagens mais sofisticadas da época eram transmitidas mundo afora.

César Luis Menotti (ex-jogador do Santos de Pelé) se tornou técnico da seleção há quatro anos. Nesse último ciclo, armou um time limitado, mas voluntarioso e competitivo. Tinha a difícil missão de consertar a imagem arranhada da qual os portenhos saíram dos últimos Mundiais, voltando ao tempo em que sua seleção era mais conhecida pela prática do bom futebol do que pelas jogadas ríspidas. Para isso, contava com o ótimo meia-atacante Mario Kempes, o único de seus convocados que jogava no exterior – no Valencia, da Espanha.

Menotti preferiu prescindir do talento de um genial e genioso menino de apenas 17 anos chamado Diego Armando Maradona. Ele havia estreado na albiceleste no início do ano anterior, mas foi um dos três cortados de última hora. O treinador julgou que o mancebo não tinha a experiência necessária para lidar com a enorme pressão que a torcida exercia (veja mais abaixo).


(Imagem: AFP)

● A França voltava a disputar uma Copa do Mundo após doze anos. Tendo como time-base o bom time do Saint-Étienne, tricampeão francês na década de 1970 (Christian Lopez, Dominique Bathenay e Dominique Rocheteau eram titulares de Les Bleus), possuía uma geração inexperiente em nível internacional, mas de enorme talento, com destaques para Michel Platini, Dominique Rocheteau e Didier Six. O calcanhar de aquiles era o sistema defensivo, embora contasse com o bons nomes como Marius Trésor e Maxime Bossis.

Os franceses venceram o Grupo 5 das eliminatórias europeias com cinco pontos. Na última rodada, Les Bleus precisavam vencer os búlgaros em Paris e venceram por 3 x 1. Na ocasião, a Bulgária não conseguiu ser a “asa negra” da França, como havia sido em 1961 e seria ainda mais em 1993 – mas esse é um delicioso assunto para outra hora.

A seleção francesa tentou boicotar a sua ida para a Copa em resposta ao assassinato de freiras francesas pelo regime militar argentino, mas não tiveram êxito no boicote.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.


A França também jogava no 4-3-3, com Platini tendo liberdade para criar e com muita movimentação dos pontas.

● O Grupo 1 era bastante equilibrado, com a dona da casa e favorita Argentina, a sempre poderosa Itália, além da rejuvenescida França e do bom time da Hungria. Na primeira rodada, a Squadra Azzurra venceu Les Bleus por 2 x 1 e os albicelestes bateram os magiares pelo mesmo placar.

Uma segunda vitória praticamente garantia a dona da casa no quadrangular semifinal. Assim, mais de 70 mil expectadores lotaram o mítico estádio Monumental de Núñez. Vestidos de azul e branco, os fanáticos torcedores argentinos jogavam junto com o time, enchendo o campo de muita serpentina e papel picado quando sua seleção entrava em campo.

A primeira chance do jogo foi argentina. René Houseman entrou na área pelo lado esquerdo e deixou com Kempes na entrada da área. O camisa 10 encheu a perna esquerda de primeira, mas a bola foi na trave.

O primeiro tempo estava prestes a terminar sem gols, mas o árbitro suíço Jean Dubach marcou um pênalti a favor dos hermanos. Após uma boa jogada de Kempes, Luque chutou cruzado e Trésor tentou cortar, mas, já caído, a bola desviou em seu braço dentro da área. Toda a Argentina reclamou. O volante Américo Gallego perseguiu o juiz desde o meio de campo até a conversa com o bandeira. Deu a impressão de ter ganhado no grito, mas a penalidade existiu mesmo. O capitão Daniel Passarella cobrou o pênalti com força no canto esquerdo e converteu, fazendo a festa de seus compatriotas. No último minuto do primeiro tempo, a Argentina abriu o placar.

Aos dez minutos da segunda etapa, Luque chutou da intermediária e a bola subiu. O goleiro francês Bertrand-Demanes espalmou por cima, mas, na queda, sofreu o choque da trave no meio das costas. O arqueiro não conseguiu continuar em campo e foi substituído por Dominique Baratelli.

A França lutou e conseguiu a reação aos 15′. Battiston lançou por cima da defesa platina. Bernard Lacombe recebeu na direita e tentou encobrir Fillol, mas a bola foi no travessão. O próprio Lacombe dominou o rebote e deixou para Platini, que vinha de frente, encher a perna esquerda para a baliza desprotegida e empatar o jogo, marcando o seu primeiro gol em Copas.

A França mantinha a pressão e se inspirava no jovem Michel Platini, então camisa 15, que estava prestes a completar 23 anos. Ele estava sempre no centro das melhores jogadas. Com a visão de jogo de um veterano, ele avançou desde sua intermediária defensiva, viu uma brecha na defesa adversária e achou Didier Six livre. O ponta esquerda passou por Tarantini e tocou na saída de Fillol. Caprichosamente, a bola passou rente à trave e foi para fora.

Como diz aquele velho ditado: “quem não faz…” O erro custou caro à França, que deixou passar seu melhor momento no jogo.

Aos 28′, Ardiles tocou para Luque na entrada da área. Ele teve tempo e espaço para dominar sozinho, deixar a bola quicar e chutar para o gol. A bola vadia de Luque desviou no meio do caminho, traiu o goleiro Baratelli e tomou o rumo do gol.

Leopoldo Luque foi o melhor em campo, sendo fundamental nos dois gols. Mesmo com uma luxação no ombro, após uma dividida com o zagueiro francês Christian Lopez, o camisa 14 continuou firme em campo. O que ele não sabia é que seu irmão Oscar tinha falecido após sofrer um acidente naquela manhã. Seus pais só lhe informaram do acontecimento no dia seguinte.

Esse havia sido o melhor jogo da Copa até aquele momento. A Argentina estava classificada. A França, mesmo com um dos melhores times do campeonato, era eliminada após apenas dois jogos.


Luque marca o segundo gol da albiceleste (Imagem: Pinterest)

● Com a vitória da Itália sobre a Hungria por 3 x 1, italianos e argentinos já estavam classificados quando se enfrentaram na terceira rodada. A Itália ganhou de 1 x 0 na Argentina, enquanto a França (jogando com uma equipe mista e o uniforme listrado em verde e branco, do time do Kimberley, da terceira divisão) venceu a Hungria por 3 x 1, e ambas ficaram na primeira fase.

No quadrangular semifinal, a Argentina venceu a Polônia por 2 x 0 e empatou sem gols com o Brasil. Na terceira rodada (como explicamos aqui), precisava vencer o Peru por quatro ou mais gols de diferença para chegar à final. E em uma partida no mínimo estranha, venceu por 6 x 0. Na final, continuou contando com a sorte e venceu a Holanda por 3 x 1 na prorrogação.

Essa foi o último Mundial em que 16 participaram da fase final. A partir de 1982, na Espanha, seriam 24 seleções.

Curiosamente, essa foi a primeira Copa do Mundo em que a Argentina usou o famoso uniforme com o escudo da AFA (Asociación del Fútbol Argentino). Nas edições anteriores, a camisa albiceleste ainda não tinha o escudo.

A numeração dos jogadores da Argentina era feita pela ordem alfabética dos sobrenomes, independentemente da posição. Assim, o volante Norberto Alonso ficou com a camisa 1, enquanto o goleiro titular Ubaldo Fillol jogou com a 5. Coincidências da vida, o maior craque, Mario Kempes, ficou mesmo com a 10 – o que lhe cabia tão bem.

Em 27/02/1977, com apenas 16 anos, Diego Armando Maradona estreou pela seleção argentina principal em um amistoso com a Hungria. Apenas alguns dias depois, em 03/04, estreou na seleção sub-17 no Sul-Americano, onde não teve bons resultados. Foi pré-convocado para a Copa de 1978, mas mesmo com clamor do público e da mídia, o treinador César Luis Menotti decidiu não convocá-lo. O técnico explicaria: “Ele ainda é um garoto e precisa amadurecer. Mas sem dúvida ele pode mais que os outros e ainda vai brilhar muito no futebol”. Diego não guarda mágoas de Menotti e o considera o melhor treinador que já teve. O ex-craque Omar Sívori também o consolou: “Me escute, garoto… você tem a verdade do futebol dentro de si e toda uma vida para mostrá-la”. Mesmo decepcionado, Diego enviaria um telegrama aos jogadores, desejando sorte, e assistiu in loco dois jogos (contra a Itália e a final contra a Holanda).


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 2 x 1 FRANÇA

 

Data: 06/06/1978

Horário: 19h15 locais

Estádio: Monumental Antonio Vespucio Liberti (Monumental de Núñez)

Público: 71.666

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Jean Dubach (Suíça)

 

ARGENTINA (4-3-3):

FRANÇA (4-3-3):

5  Ubaldo Fillol (G)

21 Jean-Paul Bertrand-Demanes (G)

15 Jorge Olguín

2  Patrick Battiston

7  Luis Galván

6  Christian Lopez

19 Daniel Passarella (C)

8  Marius Trésor (C)

20 Alberto Tarantini

3  Maxime Bossis

6  Américo Gallego

9  Dominique Bathenay

2  Osvaldo Ardiles

11 Henri Michel

21 José Daniel Valencia

15 Michel Platini

10 Mario Kempes

18 Dominique Rocheteau

9  René Houseman

17 Bernard Lacombe

14 Leopoldo Luque

19 Didier Six

 

Técnico: César Luis Menotti

Técnico: Michel Hidalgo

 

SUPLENTES:

 

 

3  Héctor Baley (G)

1  Dominique Baratelli (G)

13 Ricardo La Volpe (G)

22 Dominique Dropsy (G)

18 Rubén Pagnanini

4  Gérard Janvion

11 Daniel Killer

5  François Bracci

8  Rubén Galván

7  Patrice Rio

12 Omar Larrosa

10 Jean-Marc Guillou

17 Miguel Oviedo

12 Claude Papi

1  Norberto Alonso

13 Jean Petit

16 Oscar Alberto Ortiz

14 Marc Berdoll

4  Daniel Bertoni

16 Christian Dalger

22 Ricardo Villa

20 Olivier Rouyer

 

GOLS:

45′ Daniel Passarella (ARG) (pen)

60′ Michel Platini (FRA)

73′ Leopoldo Luque (ARG)

 

CARTÃO AMARELO: 88′ Didier Six (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

55′ Jean-Paul Bertrand-Demanes (FRA) ↓

Dominique Baratelli (FRA)

 

64′ José Daniel Valencia (ARG) ↓

Norberto Alonso (ARG) ↑

 

71′ Norberto Alonso (ARG) ↓

Oscar Alberto Ortiz (ARG) ↑

Melhores momentos da partida:

… 05/06/1938 – Itália 2 x 1 Noruega

Três pontos sobre…
… 05/06/1938 – Itália 2 x 1 Noruega


(Imagem: Youtube)

Campeã em 1934, a Itália vinha bastante renovada e ainda melhor do que quatro anos antes. A dupla de zaga, Foni e Rava era mais jovem e mais segura que a anterior (Allemandi e Monzeglio). Na posição de centromédio, o truculento Luisito Monti deu lugar a outro oriundi, o uruguaio Michele Andreolo, mais técnico e mais criativo. O ataque estava melhor e mais móvel com Silvio Piola, um centroavante de muita mobilidade, capaz de criar e concluir as jogadas. Só dois jogadores da Copa anterior permaneceram no time titular: o agora capitão Giuseppe Meazza e o atacante Giovanni Ferrari.

Os italianos contavam com o mesmo “incentivador” de 1934: o ditador fascista Benito Mussolini. Mas como a Copa agora não era em seu território, “Il Duce” não pôde pressionar FIFA e arbitragem como quatro anos antes. Mas nem precisava, pois a Itália tinha a melhor seleção do mundo.

Um dos motivos para isso era a continuidade do técnico Vittorio Pozzo. Uma das suas principais virtudes era saber explorar a natural autoconfiança dos italianos para formar uma seleção forte.


(Imagem: Youtube)

● A Squadra Azzurra parecia imbatível e não perdia há quase três anos. Em 1935, enfrentou o Wunderteam da Áustria em Viena e venceu por 2 x 0, com dois gols de Silvio Piola – que acabaria se tornando um dos atacantes mais letais de seu tempo. Chegou embalada ao Mundial, com duas goleadas nos últimos amistosos: 6 x 1 na Bélgica, no dia 15/05 em Milão, e 4 x 0 na Iugoslávia, em 22/05 na cidade de Gênova.

O primeiro obstáculo foi a Noruega, que tinha um time jovem, alto e forte.

Mesmo com uma mais qualificada, a Noruega sofreu para eliminar a Irlanda no Grupo 2 das eliminatórias. Na primeira partida, disputada em Oslo no dia 10/10/1937, vitória por 3 x 2. No jogo disputado em Dublin, em 07/11/1937, os nórdicos venciam por 3 x 1, mas cederam o empate e levaram um sufoco. Essa partida entrou para a história porque, pela primeira vez em uma competição da FIFA, os dois times usaram camisas numeradas – o que permitia aos torcedores e à imprensa a identificação imediata dos jogadores em campo. Mas essa novidade não seria utilizada na Copa de 1938.


(Imagem: Footforever.com)

● Aqui cabe um parêntese sobre a semifinal dos Jogos Olímpicos de 1936. No dia 10/08, italianos e noruegueses se enfrentaram para 90 mil pessoas no Estádio Olímpico de Berlim. A partida foi apitada pelo húngaro Paul von Hertzka. A Itália de Pozzo foi representada por uma seleção amadora. Apenas quatro de seus jogadores estariam presentes no Mundial dois anos depois (Alfredo Foni, Pietro Rava, Ugo Locatelli e Sergio Bertoni) e só dois seriam titulares na partida de abertura (Rava e Locatelli).

Do lado nórdico, o time era praticamente o mesmo. Devido ao amadorismo do futebol do país, o técnico Asbjørn Halvorsen pôde levar seu time principal para as Olimpíadas (que não aceitava profissionais à época). Doze dos 14 presentes em Berlim estariam entre os 22 que disputariam a Copa na França. Só houve três alterações no time titular: o médio direito Kristian Henriksen era reserva e ganhou a titularidade de Frithjof Ulleberg. O zagueiro Rolf Johannessen entrou na vaga de Jørgen Juve e o centroavante Knut Brynildsen substituiu Alf Martinsen.

Naquela partida, Alfonso Negro abriu o placar aos 15′, Arne Brustad empatou aos 58′ e Annibale Frossi fez o segundo tento italiano aos 6′ da prorrogação.

Na final, a Itália bateu a Áustria por 2 x 1. E a Noruega ficou com a honrada medalha de bronze ao vencer a Polônia por 3 x 2.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


A Nuruega atuava como praticamente todas as equipes da época, no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Valeu a pena der feito esse parêntese, porque a partida das oitavas de final da Copa do Mundo de 1938 teve praticamente o mesmo roteiro da que havia ocorrido 664 dias antes.

Dessa vez, a poderosa Squadra Azzurra vinha com seus renomados profissionais, liderada pela lenda Giuseppe Meazza.

E inaugurou o marcador logo na segunda volta do ponteiro, com Giovanni Ferrari.

Quando todos achavam que o jogo estava ganho, o bom ponta esquerda Arne Brustad empatou aos 38′ do segundo tempo e levou o jogo para a prorrogação.

A Azzurra passou à frente no início do tempo extra, logo aos quatro minutos. O ponta direita Pietro Pasinati chutou cruzado, rasteiro e forte. O goleiro Henry Johansen espalmou e Piola escorou para o gol.

Com um pouquinho de boa vontade, podemos dizer que o jogo de Marselha foi praticamente o replay de Berlim. Por uma incrível coincidência, o resultado se repetiu quase nos mesmos detalhes: a Itália abriu o placar no início do jogo, Brustad empatou para a Noruega no segundo tempo e a Itália venceu o jogo no início da prorrogação.


(Imagem: Keystone Franc /Gamma Keystone / Getty Images)

● A tão aguardada estreia dos campeões do mundo decepcionou os 19 mil presentes no estádio Vélodrome, em Marselha, que esperavam uma goleada. Juntou-se a essa decepção o fato de o time italiano ter feito a saudação fascista antes e depois da partida. Estava dado o sinal para a enorme vaia ouvida logo ao apito final.

A primeira fase do Mundial de 1938 foi marcada pelo equilíbrio. Das sete confrontos, cinco foram para a prorrogação (Itália 2 x 1 Noruega, Brasil 6 x 5 Polônia, Tchecoslováquia 3 x 0 Holanda, Alemanha 1 x 1 Suíça e Cuba 3 x 3 Romênia). Duas dessas partidas terminaram empatadas e foram necessários jogos extras.

Nas quartas de final, a Itália jogou toda de preto (cor do fascismo) e venceu a anfitriã França por 3 x 1. Nas semifinais, arbitragem foi conivente com os azuis e acabou com o sonho brasileiro, na polêmica vitória dos italianos por 2 x 1. Na decisão, derrotou a Hungria por 4 x 2 e, de forma incontestável, se se sagrou bicampeã do mundo.


(Imagem: AP)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 1 NORUEGA

 

Data: 05/06/1938

Horário: 17h00 locais

Estádio: Vélodrome

Público: 19.000

Cidade: Marselha (França)

Árbitro: Alois Beranek (Áustria / Alemanha)

 

ITÁLIA (2-3-5):

NORUEGA (2-3-5):

Aldo Olivieri (G)

Henry Johansen (G)

Eraldo Monzeglio

Rolf Johannessen

Pietro Rava

Øivind Holmsen

Pietro Serantoni

Kristian Henriksen

Michele Andreolo

Nils Eriksen (C)

Ugo Locatelli

Rolf Holmberg

Pietro Pasinati

Odd Frantzen

Giuseppe Meazza (C)

Reidar Kvammen

Silvio Piola

Knut Brynildsen

Giovanni Ferrari

Magnar Isaksen

Pietro Ferraris

Arne Brustad

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Asbjørn Halvorsen

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Anker Kihle (G)

Carlo Ceresoli (G)

Sverre Nordby (G)

Alfredo Foni

Roald Amundsen

Bruno Chizzo

Oddmund Andersen

Aldo Donati

Gunnar Andreassen

Renato Olmi

Sverre Hansen

Mario Genta

Frithjof Ulleberg

Mario Perazzolo

Jørgen Juve

Sergio Bertoni

Hjalmar Andresen

Amedeo Biavati

Arne Ileby

Gino Colaussi

Alf Martinsen

 

GOLS:

2′ Pietro Ferraris (ITA)

83′ Arne Brustad (NOR)

94′ Silvio Piola (ITA)

Veja algumas imagens da partida:

Veja abaixo também a ficha técnica da partida válida pelas semifinais dos Jogos Olímpicos de 1936.

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 1 NORUEGA

 

Data: 10/08/1936

Horário: 17h00 locais

Estádio: Olímpico

Público: 95.000

Cidade: Berlim (Alemanha)

Árbitro: Pál von Hertzka (Hungria)

 

ITÁLIA (2-3-5):

NORUEGA (2-3-5):

Bruno Venturini (G)

Henry Johansen (G)

Alfredo Foni (C)

Nils Eriksen

Pietro Rava

Øivind Holmsen

Giuseppe Baldo

Frithjof Ulleberg

Achille Piccini

Jørgen Juve (C)

Ugo Locatelli

Rolf Holmberg

Annibale Frossi

Odd Frantzen

Libero Marchini

Reidar Kvammen

Sergio Bertoni

Alf Martinsen

Carlo Biagi

Magnar Isaksen

Alfonso Negro

Arne Brustad

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Asbjørn Halvorsen

 

SUPLENTES:

 

 

Luigi Scarabello

Fredrik Horn

Giulio Cappelli

Sverre Hansen

Francesco Gabriotti

Magdalon Monsen

 

GOLS:

15′ Alfonso Negro (ITA)

58′ Arne Brustad (NOR)

96′ Annibale Frossi (ITA)

… 04/06/1986 – Alemanha Ocidental 1 x 1 Uruguai

Três pontos sobre…
… 04/06/1986 – Alemanha Ocidental 1 x 1 Uruguai


(Imagem: Impromptuinc)

● O Grupo E era o mais equilibrado da Copa do Mundo de 1986. Alemanha Ocidental, Uruguai, Dinamarca a Escócia faziam o “grupo da morte”.

Na estreia, duas camisas pesadas se enfrentaram. Dois pesos pesados do futebol, Alemanha Ocidental e Uruguai haviam duelado quatro vezes até aquele confronto em Querétaro. Haviam sido quatro vitórias alemãs, sendo dois amistosos (3 x 0 em 1962 e 2 x 0 em 1977) e dois confrontos válidos por Copas do Mundo (4 x 0 em 1966 e 1 x 0 em 1970).

Ausente desde 1974, a Celeste Olímpica se garantiu no Mundial ao vencer o Grupo 2 das eliminatórias sul-americanas. Nesses doze anos sem estar entre os protagonistas, muitos diziam que os charruas estavam em decadência. Mas a renovação foi bem feita e o time conquistou a Copa América de 1983.

O maior problema estava dentro do próprio elenco, dividido em “panelinhas”. Muitos atletas tinham uma relação ruim e o treinador Omar Borrás não era muito afeito ao diálogo. O ambiente interno era péssimo. O técnico, cabeça dura, prescindia da experiência e talento dos jogadores que atuavam no futebol brasileiro.

Um dos melhores do mundo em sua posição, o goleiro Rodolfo Rodríguez (do Santos) vivia o auge de sua forma, mas perdeu a titularidade e a braçadeira de capitão. “Não fui escalado porque falta ao técnico o que eu tenho de sobra: coragem”, cutucou o arqueiro.

O zagueiro Hugo de León, eterno capitão do Grêmio e que estava no atuando no Corinthians, foi sumariamente ignorado e nem foi convocado por Borrás. Don Darío Pereyra, ídolo do São Paulo, se recuperava de problemas físicos. Rubén Paz, meia do Inter, nunca justificou seu talento na seleção de seu país. Os quatro eram craques e incontestáveis no futebol tupiniquim. O único dos “brasileiros” titulares era o lateral direito Víctor Diogo, do Palmeiras.

Mas havia em campo um craque capaz de mudar o curso de uma partida. Enzo Francescoli era o camisa 10 e o líder técnico dentro de campo. No entanto, a maior força uruguaia era a mística, a velha valentia, a pesada camisa celeste – sempre capaz de grandes façanhas.


Alzamendi dribla Schumacher e abre o placar (Imagem: Impromptuinc)

● Na prática, duas coisas mantiveram a Alemanha Ocidental na briga por títulos na década de 1980: tradição e Rummenigge.

No Grupo 2 da qualificatória europeia, se classificou como líder, com Portugal em segundo e deixando Suécia e Tchecoslováquia fora do Mundial.

A Nationalelf viajou para o México sem a confiança de sua torcida. Em pesquisa feita pela antiga revista Quick, apenas 12% dos conterrâneos acreditavam no título mundial. A falta de confiança é mais pelo modo crítico dos alemães de verem as coisas do que propriamente pelos últimos resultados.

Treinada por Franz Beckenbauer, os alemães sempre entram em qualquer disputa para vencer. Vencedor dentro de campo, o Kaiser queria se provar também fora dele. E havia material humano para isso.

Embora às vezes violento e temperamental, o goleiro “Toni” Schumacher estava entre os melhores da Europa. A defesa era consistente, com destaque para o polivalente panzer Briegel, que podia jogar na defesa, na lateral e no meio campo. No meio, Matthäus dava consistência e Magath o tom de criatividade. No ataque, Völler se recuperou totalmente de uma grave distensão muscular que sofreu em novembro passado. Mas o grande fator de desequilíbrio continuava sendo o velho Karl-Heinz Rummenigge, que vinha de seguidas contusões.


Na Copa em que a Dinamarca apresentou o 3-5-2 ao mundo como novidade tática, outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. A Alemanha jogava em um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. O lateral esquerdo Briegel fazia o papel de um terceiro zagueiro, a fim de liberar o outro lateral, Berthold, que apoiava um pouquinho mais pela direita, fazendo o contra-peso do meia esquerda Brehme. Matthäus era o “todo-campista” indo de área a área. Eder marcava para Magath armar as jogadas para os atacantes Klaus Allofs e Rudi Völler.


O Uruguai atuava no 4-4-2, com um jogador na sobra na defesa (como era mania na época). Francescoli tinha liberdade para circular e criar para os rápidos atacantes Alzamendi e Da Silva.

● Ao meio-dia a bola rolou no estádio La Corregidora, em Querétaro. Mais de 30 pessoas viram duas falhas defensivas resolverem a partida.

O Uruguai abriu o placar rapidamente, graças a uma falha grotesca. Logo aos quatro minutos de jogo, a Alemanha trocava passes na intermediária até que Norbert Eder tentou recuar para o goleiro. Uma tremenda burrice! A bola caiu no pé de Antonio Alzamendi, que entrou em velocidade, deixou Klaus Augenthaler no chão, invadiu a área, driblou Schumacher e chutou. A bola tocou no travessão e caiu após a linha do gol, antes de Briegel afastar de bicicleta. A bola entrou. Gol legal, confirmado pelo árbitro tchecoslovaco Vojtěch Christov.

Die Mannschaft acordou e começou a atacar. Pouco depois de sofrer o gol, Matthäus chutou forte do lado direito e Fernando Álvez teve dificuldades para jogar para escanteio.

Na sequência, Augenthaler fez um ótimo lançamento para Rudi Völler, que ganhou da marcação e chutou para boa defesa do arqueiro celeste.

Depois, os sul-americanos se fecharam começaram a puxar contra-ataques perigosos. Aos 16′, Francescoli criou a jogada e Alzamendi abriu para Da Silva chutar por cima.

Três minutos depois, Alzamendi puxou o contragolpe e correu o campo todo, mas foi travado por Augenthaler na hora H.

No início do segundo tempo, Francescoli ia fazendo fila na defesa germânica, mas Augenthaler (sempre ele), fez falta na risca da grande área, impedindo um golaço.

Aos 35′, Francescoli chegou a driblar Schumacher e chutar para fora. O Uruguai ia desperdiçando chances preciosas.

No lance seguinte, Rummenigge (que entrou no segundo tempo) cruzou da esquerda para cabeçada forte de Thomas Berthold, mas Álvez fez uma ótima defesa.

Aos 39′ do segundo tempo, após cobrança de escanteio dos alemães, a bola viajou no alto de uma intermediária a outra por duas vezes até que Augenthaler cortou de cabeça do meio campo. A bola viajou até a área uruguaia e a zaga não cortou. Klaus Allofs foi oportunista e chutou de esquerda, rasteiro e cruzado, no cantinho de Álvez, empatando a partida.


Allofs faz o gol de empate (Imagem: Impromptuinc)

● Após o empate com os alemães, o Uruguai foi massacrado pela “Dinamáquina” por 6 x 1 e empatou sem gols com a Escócia. Mesmo sem nenhuma vitória, passou de fase como um dos melhores terceiros colocados e enfrentou a Argentina nas oitavas de final. No clássico sul-americano, não conseguiu parar o imparável Maradona e foi eliminada após derrota por 1 x 0.

Na primeira fase, a Alemanha Ocidental se classificou em segundo lugar no Grupo E, com três pontos: empatou com o Uruguai (1 x 1), venceu a Escócia (2 x 1) e perdeu para a Dinamarca (2 x 0). Nas oitavas, penou para passar pelo Marrocos (1 x 0). Nas quartas, passou sufoco, vencendo o México apenas nos pênaltis por 4 a 1, após um empate sem gols. Fez seu melhor jogo na semifinal, vencendo a favorita França por 2 a 0. Na decisão, buscou um improvável empate, mas sofreu o gol derradeiro de Jorge Burruchaga nos minutos finais, após mais uma jogada genial de Maradona. A Argentina venceu por 3 x 2 e conquistou seu segundo título, deixando a Alemanha com seu segundo vice-campeonato consecutivo.

O Uruguai continuou freguês da Alemanha. Em dez duelos, nunca venceu uma partida (oito derrotas e dois empates). A única vitória ocorreu no primeiro duelo: 4 x 1 na primeira fase dos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã, com o time base que se tornaria o primeiro campeão do mundo dois anos depois.


(Imagem: impromptuinc.wordpress.com)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 1 x 1 URUGUAI

 

Data: 04/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: La Corregidora

Público: 30.500

Cidade: Querétaro (México)

Árbitro: Vojtěch Christov (Tchecoslováquia)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-4-2):

URUGUAI (4-4-2):

1  Harald Schumacher (G)(C)

12 Fernando Álvez (G)

14 Thomas Berthold

4  Víctor Diogo

4  Karlheinz Förster

2  Nelson Gutiérrez

15 Klaus Augenthaler

3  Eduardo Mario Acevedo

2  Hans-Peter Briegel

6  José Batista

6  Norbert Eder

5  Miguel Bossio

8  Lothar Matthäus

8  Jorge Barrios (C)

3  Andreas Brehme

11 Sergio Santín

10 Felix Magath

10 Enzo Francescoli

19 Klaus Allofs

9  Jorge Orosmán da Silva

9  Rudi Völler

7  Antonio Alzamendi

 

Técnico: Franz Beckenbauer

Técnico: Omar Borrás

 

SUPLENTES:

 

 

12 Uli Stein (G)

1  Rodolfo Rodríguez (G)

22 Eike Immel (G)

22 Celso Otero (G)

17 Ditmar Jakobs

13 César Veja

5  Matthias Herget

14 Darío Pereyra

16 Olaf Thon

15 Eliseo Rivero

13 Karl Allgöwer

16 Mario Saralegui

21 Wolfgang Rolff

17 José Zalazar

18 Uwe Rahn

18 Rubén Paz

7  Pierre Littbarski

19 Venancio Ramos

20 Dieter Hoeneß

20 Carlos Aguilera

11 Karl-Heinz Rummenigge

21 Wilmar Cabrera

 

GOLS:

4′ Antonio Alzamendi (URU)

84′ Klaus Allofs (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

28′ Víctor Diogo (URU)

62′ Mario Saralegui (URU)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Andreas Brehme (ALE) ↓

Pierre Littbarski (ALE) ↑

 

56′ Jorge Barrios (URU) ↓

Mario Saralegui (URU) ↑

 

75′ Lothar Matthäus (ALE) ↓

Karl-Heinz Rummenigge (ALE) ↑

 

80′ Antonio Alzamendi (URU) ↓

Venancio Ramos (URU) ↑

 

Melhores momentos da partida (em espanhol):

Gols do jogo (em inglês):

Partida completa (em inglês):

… 03/06/1934 – Itália 1 x 0 Áustria

Três pontos sobre…
… 03/06/1934 – Itália 1 x 0 Áustria

(Imagem: AP Photo)

● A revolução no futebol austríaco teve nome e sobrenome: Hugo Meisl. Nascido na cidade de Malešov (hoje na República Tcheca), então pertencente ao antigo Império Austro-Húngaro, ele era um homem rico que dedicou toda sua vida ao futebol. Foi treinador da seleção austríaca de 1919 até sua morte, em 1937. Seu maior sonho era construir uma seleção forte.

Meisl foi um dos que solidificaram o sistema tático 2-3-5 na Europa Central. Seus times eram conhecidos pela movimentação constante de seus jogadores do meio para a frente, sempre com rápidas trocas de passes, ao invés de um estilo mais físico. Essa característica ficou ainda mais incisiva a partir de 1931, quando o treinador resolveu seguir uma sugestão de jornalistas presentes no Café Ring, em Viena.

A Áustria tinha dois excelentes jogadores que eram centroavantes em seus clubes. Matthias Sindelar jogava no Austria Vienna e Josef Smistik no Rapid Wien. Por serem da mesma posição, ninguém pensava em escalá-los juntos. Mas Meisl ouviu a imprensa e fez uma adaptação, deslocando seu capitão Smistik para jogar como centromédio, onde ele poderia usar toda sua inteligência e visão de jogo. Assim, trocou um centroavante estático (Smistik) por outro que flutuava entre as linhas e armava os ataques do time Sindelar (conhecido como “Der Papierene” – “Homem de Papel -, pelo seu físico magro, leveza e mobilidade).

Na primeira partida dessa forma, a Áustria goleou a Escócia por 5 x 0, em amistoso disputado em 16/05/1931. O time ficou invicto durante quase dois anos e só voltou a perder em 1932 para a Inglaterra (4 x 3) em Wembley, onde o “English Team” nunca havia sido derrotado por um adversário não-britânico até então (só veio a perder em 1953, para a Hungria de Ferenc Puskás). Mas os austríacos venderam caro a derrota, abalando o inquestionável futebol-força praticado na Inglaterra.

Até o início do Mundial de 1934, a Áustria havia vencido ou empatado 28 dos 31 jogos que disputou nos três anos anteriores. Havia vencido adversários fortes, como Suécia, Suíça, Itália, Hungria, Alemanha e outras. Não era simplesmente resultado. O time dava show. Tanto, que ganhou o apelido de “Der Wunderteam” (“time maravilha”). Possuía uma verdadeira legião de craques como os já citados Sindelar (maior gênio do futebol do país), Smistik e Josef Bican (um dos maiores artilheiros da história).

Com tudo isso, e por possuir o melhor retrospecto entre todas as seleções, era impossível que a Áustria não fosse apontada como a maior favorita ao título da segunda Copa do Mundo.


(Imagem: Pinterest)

● Mas haviam outras grandes forças na Europa à época. A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, “Il Duce” queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi”. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota disputaram o Mundial em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro).

Mas a Squadra Azzurra não era só política, mas contava com um ótimo time, com craques como Giuseppe Meazza e Giovanni Ferrari e contava com um bom retrospecto em partidas recentes.

Chegava extenuada para a semifinal, após precisar de 210 minutos para eliminar a excelente seleção da Espanha.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


No 2-3-5 de Meisl, os meio-campistas tinham liberdade para armar, embora suas maiores preocupações fossem as defensivas. Sindelar flutuava pelas linhas adversárias em busca de espaço e era apoiado por uma linha de frente bem experiente.

● Novamente sob o olhar atento de Mussolini, mais de 35 mil pessoas assistiram a esse duelo da Europa Central, no estádio San Siro, em Milão.

Mas a Áustria foi bastante prejudicada por dois fatos: a forte chuva que deixou o campo pesado demais para se tocar a bola e a arbitragem do sueco Ivan Eklind, sempre conivente com o jogo desleal dos italianos.

O único gol do jogo saiu aos 19 minutos do primeiro tempo. Após um cruzamento rasteiro na área austríaca, Meazza chutou e o goleiro Peter Platzer não conseguiu segurar. O ponta direita Enrique Guaita (um dos “oriundi”) trombou com ele e foi chutando bola, goleiro, lama e tudo mais para o dentro do gol.

A Azzurra foi novamente beneficiada pelo homem do apito. Mas isso não pode ser desculpa. Na verdade, a Áustria não conseguiu reeditar seu bom futebol e a Itália soube usar suas armas para vencer.

E a Itália, liderada pelo ótimo centromédio argentino Luisito Monti (especialista nisso), passou a distribuir pancadas e chutões para todos os lados, garantindo a classificação para a final da Copa.


(Imagem: Pinterest)

● Na primeira fase, a Áustria passou pela França por 3 x 2, na primeira prorrogação da história dos Mundiais. Na segunda partida, venceu a vizinha e rival Hungria por 2 x 1. Na semifinal, caiu para os futuros campeões, os italianos, por 1 x 0. Na decisão do 3º lugar, jogou sem ânimo e foi derrotada pela Alemanha por 3 x 2. O 4º lugar foi muito pouco perto do potencial do “Wunderteam”.

Nas oitavas de final, a Itália massacrou os Estados Unidos por 7 x 1. Nas quartas, teve maiores dificuldades e precisou da ajuda da arbitragem para vencer a forte Espanha por 1 x 0 apenas na partida desempate, após 1 x 1 na primeira partida. Na semifinal, bateu o “Wunderteam” da Áustria por 1 x 0 – novamente com auxílio do “apito amigo”. Na final, a Squadra Azzurra venceu a Tchecoslováquia por 2 x 1 em mais um jogo polêmico apitado pelo sueco Ivan Eklind, e garantiu a primeira de suas quatro conquistas da Copa do Mundo.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 0 ÁUSTRIA

 

Data: 03/06/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: San Siro

Público: 35.000

Cidade: Milão (Itália)

Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ÁUSTRIA (2-3-5):

Giampiero Combi (G)(C)

Peter Platzer (G)

Eraldo Monzeglio

Franz Cisar

Luigi Allemandi

Karl Sesta

Attilio Ferraris IV

Franz Wagner

Luis Monti

Josef Smistik (C)

Luigi Bertolini

Johann Urbanek

Enrique Guaita

Karl Zischek

Giuseppe Meazza

Josef Bican

Angelo Schiavio

Matthias Sindelar

Giovanni Ferrari

Anton Schall

Raimundo Orsi

Rudolf Viertl

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Hugo Meisl

 

SUPLENTES:

 

 

GuidoMasetti (G)

Friederich Franzl (G)

Giuseppe Cavanna (G)

Rudolf Raftl (G)

Umberto Caligaris

Anton Janda

Virginio Rosetta

Willibald Schmaus

Armando Castellazzi

Leopold Hofmann

Mario Pizziolo

Josef Hassmann

Mario Varglien I

Matthias Kaburek

Pietro Arcari

Josef Stroh

Felice Borel II

Hans Walzhofer

Anfilogino Guarisi

Johann Horvath

Attilio Demaría

Georg Braun

 

GOL: 19′ Enrique Guaita (ITA)

Veja algumas imagens da partida:

… 02/06/1970 – Peru 3 x 2 Bulgária

Três pontos sobre…
… 02/06/1970 – Peru 3 x 2 Bulgária


(Imagem: FIFA / Getty Images)

● O Peru é um país que costuma sofrer muito com catástrofes naturais, como tremores de terra e erupções de vulcões. Mas, em toda sua história, nada foi tão devastador quanto o mortal terremoto de Ancash.

Era um domingo, dia 31 de maio de 1970, exatamente às 15h23m29s, e durou “apenas” 45 segundos. O epicentro foi a 35 km ao largo da costa de Casma e Chimbote, no Oceano Pacífico, onde a placa tectônica de Nazca se encontra com a placa Sul-Americana. Com magnitude momento de 7,9 na escala Richter, o fortíssimo terremoto afetou uma área de cerca de 83 mil km² (uma área maior que a Bélgica e a Holanda juntas). Os locais mais afetados foram a região de Ancash e o sul de La Libertad. Com o tremor, a parede norte do monte Huascarán se rompeu e causou uma avalanche de rocha, gelo e neve, enterrando as cidades de Yungay e Ranrahirca. Cerca de 60 mil pessoas morreram devido ao desastre, que ainda deixou mais de 70 mil feridos ou desabrigados. Foi o maior abalo sísmico do país, não só na alta magnitude, mas também em número de perdas de vidas humanas.

O fato, ocorrido apenas dois dias antes da estreia peruana no Mundial, abalou todos os cidadão do país, inclusive os jogadores. Já no México, eles ficaram desesperados pelo fato de não conseguirem entrar em contato com seus familiares. E, nesse cenário, eles queriam voltar para casa, mas o governo decidiu que o time deveria disputar a competição e dar o melhor de si, para trazer alguma alegria aos seus sofridos conterrâneos.


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Com a melhor geração de sua história, os sul-americanos tinham bons jogadores, como Teófilo Cubillas, Héctor Chumpitaz, Hugo Sotil, Ramón Mifflin e Alberto Gallardo. Mas a grande atração era mesmo o técnico Didi, um dos maiores craques de todos os tempos. O brasileiro Waldir Pereira havia sido bicampeão mundial como jogador em 1958 e 1962, sendo eleito o melhor jogador da Copa na primeira conquista.

Didi trabalhava como treinador no Sporting Cristal e foi campeão peruano em 1968. No ano seguinte, foi convidado pela federação para treinar a seleção. Deu certo. Com um futebol solto, cheio de trocas de passes, o time deixou para trás o complexo de inferioridade e terminou na liderança do Grupo A das eliminatórias sul-americanas. Com duas vitórias, um empate e uma derrota, o talentoso time se sobrepôs a Bolívia e Argentina – que foi lanterna do grupo, atrás até dos bolivianos.

Com quatro vitórias, um empate e uma derrota, a Bulgária se garantiu em sua terceira Copa do Mundo, ficando com a vaga no difícil Grupo 8 da UEFA, contra as ascendentes Holanda e Polônia, além do sparring Luxemburgo. Os “Demônios da Europa” contavam com uma das equipes mais competitivas da Europa naquela época. Tinha bons jogadores, como Georgi Asparuhov (em seu terceiro Mundial), Hristo Bonev e Petar Zhekov (Chuteira de Ouro da Europa em 1969, com 36 gols).


Didi escalou o Peru no 4-3-3. Com a bola, Teófilo Cubillas avançava e o sistema se tornava um 4-2-4.


Stefan Bozhkov armou a Bulgária no sistema 4-3-3 clássico.

● O escrete peruano não tinha ânimo algum para a partida. Entraram em campo com uma fita preta na camisa, em sinal de luto. Os andinos entraram dispersos e a Bulgária aproveitou.

O primeiro gol saiu logo aos treze minutos. Em cobrança de falta frontal muito bem ensaiada, Dermendzhiev fingiu que ia chutar e avançou. Yakimov rolou para Bonev tocar de calcanhar para a infiltração de Dermendzhiev, que invadiu a área sozinho e tocou na saída do goleiro peruano. Foi o primeiro gol do Mundial, já que a partida de abertura entre México e União Soviética havia terminado 0 x 0.

No intervalo, o presidente da delegação peruana, Javier Aramburú visitou o vestiário da equipe para tentar inflar o ânimo dos jogadores. O dirigente entrou carregando um punhado de terra e disse: “Rapazes, essa terra é do Peru. Beijem-a!” Todos ficaram tocados com aquilo e cumpriram a ordem. “E nós, como éramos jovens, a beijamos e saímos para jogar como bestas”, disse o ex-meia Roberto Challe. Eles creditaram nas palavras de Aramburú e lembraram dos entes queridos e do povo que tanto estava sofrendo. Obviamente, a terra não era peruana. O dirigente enfiou a mão em um vaso que estava lá mesmo, no lado de fora do vestiário no estádio de León. Mas, na hora do desesperou, valeu e surtiu o efeito desejado.

Aos 4′ do segundo tempo, Mifflin cometeu falta em Popov próximo à grande área. Hristo Bonev cobrou falta e o péssimo goleiro Rubiños aceitou. Ele foi com “mão de alface” e acabou levando um frango. A bola bateu na trave, nas costas do arqueiro e foi para o gol.

A Bulgária mantinha total controle do jogo. Parecia ser uma tarde desastrosa para o futebol peruano. Mas a jovem e promissora equipe deixou a apatia de lado e reagiu no minuto seguinte.

Perico León abriu na esquerda para Gallardo. O ponta, ex-Palmeiras, chutou cruzado da esquerda, sem ângulo. A bola bateu no travessão e entrou. O gol encheu de brios a seleção Bicolor.

Cinco minutos depois, o bom atacante Hugo Sotil (que viria a jogar por quatro anos no Barcelona de Rinus Michels e Johan Cruijff) tabelou com Perico León, driblou três adversários e sofreu falta de Shalamanov na meia lua. O capitão Héctor Chumpitaz cobrou falta escorregando e acertou o cantinho para deixar tudo igual.

A vidada veio aos 28′. Ramón Mifflin (que jogaria no Santos em 1974/75) passou a bola para Teófilo Cubillas. O camisa 10 fez uma jogada do craque que era: entrou na área driblando dois adversários, puxou para a perna direita e chutou forte no canto esquerdo do goleiro Simeonov.

No fim, a vitória peruana satisfez o pedido do governo e a vontade do país. Um alento ao povo peruano.

Essa foi a primeira vitória do Peru em Copas do Mundo. A seleção Blanquirroja havia disputado apenas a edição de 1930, com derrotas para a Romênia por 3 a 1 e para o Uruguai por 1 a 0.


(Imagem: Depor.com)

● A Bulgária seguiu sua sina de nunca ter vencido em Copas, o que duraria até 1994. Foi eliminada na primeira fase, após perder para alemães por 5 x 2 e empatar com marroquinos em 1 x 1.

Em sua segunda partida, o Peru goleou o Marrocos por 3 x 0. Já classificado para a próxima fase, perdeu para a Alemanha Ocidental por 3 x 1. Nas quartas de final, a sorte ingrata colocou os andinos no caminho da poderosa Seleção Brasileira. Os peruanos até tentaram, mas não foram páreo para o Brasil e perderam por 4 x 2. Honrosamente, o Peru terminou no 7º lugar geral.

Com essa equipe como base, o Peru ainda conquistou a Copa América de 1975 e fazia uma boa Copa do Mundo em 1978 até a vergonha diante da Argentina.


(Imagem: Andina.pe)

FICHA TÉCNICA:

 

PERU 3 x 2 BULGÁRIA

 

Data: 02/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: León

Público: 13.765

Cidade: León (México)

Árbitro: Antonio Sbardella (Itália

 

PERU (4-3-3):

BULGÁRIA (4-3-3):

1  Luis Rubiños (G)

1  Simeon Simeonov (G)

2  Eloy Campos

2  Aleksandar Shalamanov

3  Orlando de la Torre

3  Ivan Dimitrov (C)

4  Héctor Chumpitaz (C)

5  Ivan Davidov

5  Nicolás Fuentes

4  Stefan Aladzhov

6  Ramón Mifflin

6  Dimitar Penev

7  Roberto Challe

8  Hristo Bonev

10 Teófilo Cubillas

10 Dimitar Yakimov

8  Julio Baylón

7  Georgi Popov

9  Perico León

9  Petar Zhekov

11 Alberto Gallardo

11 Dinko Dermendzhiev

 

Técnico: Didi

Técnico: Stefan Bozhkov

 

SUPLENTES:

 

 

12 Rubén Correa (G)

13 Stoyan Yordanov (G)

21 Jesus Goyzueta (G)

22 Georgi Kamenski (G)

14 José Fernández

12 Milko Gaydarski

16 Félix Salinas

14 Dobromir Zhechev

13 Pedro González

15 Boris Gaganelov

15 Javier González

17 Todor Kolev

17 Luis Cruzado

16 Asparuh Nikodimov

18 José del Castillo

20 Vasil Mitkov

19 Eladio Reyes

21 Bozhidar Grigorov

20 Hugo Sotil

18 Dimitar Marashliev

22 Oswaldo Ramírez

19 Georgi Asparuhov

 

GOLS:

13′ Dinko Dermendzhiev (BUL)

49′ Hristo Bonev (BUL)

50′ Alberto Gallardo (PER)

55′ Héctor Chumpitaz (PER)

73′ Teófilo Cubillas (PER)

 

SUBSTITUIÇÕES:

29′ Eloy Campos (PER) ↓

Javier González (PER) ↑

 

51′ Julio Baylón (PER) ↓

Hugo Sotil (PER) ↑

 

59′ Georgi Popov (BUL) ↓

Dimitar Marashliev (BUL) ↑

 

73′ Hristo Bonev (BUL) ↓

Georgi Asparuhov (BUL) ↑

Veja os gols da partida: