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… 09/06/1990 – Colômbia 2 x 0 Emirados Árabes Unidos

Três pontos sobre…
… 09/06/1990 – Colômbia 2 x 0 Emirados Árabes Unidos


(Imagem: AFP Photo / Thenational.ae)

● A Colômbia voltava a participar de uma Copa do Mundo 28 anos depois. Foi a campeã do Grupo 2 das eliminatórias da Conmebol, deixando para trás o Paraguai e o Equador. E por ter sido o líder que somou menos pontos dentre os sul-americanos, teve que disputar a repescagem intercontinental contra Israel, que havia sido o vencedor na Oceania. Com uma vitória em casa e o empate sem gols fora, enfim, Los Cafeteros se garantiram no Mundial.

O sorteio dos grupos não foi muito favorável. Embora o Grupo D contasse com o “sparring” Emirados Árabes Unidos, tinha também as fortíssimas seleções de Alemanha Ocidental e Iugoslávia. Mas os colombianos viajaram à Itália prontos para roubarem a cena.

Todos os olhares buscavam a cabeleira acaju e despenteada de Carlos “El Pibe” Valderama. Era um “falso lento”, mas rápido com a bola nos pés e inteligente na armação. Era o capitão e cérebro do time.

O título maior de astro do país era dividido com René “El Loco” Higuita. O “goleiro-líbero” sempre roubava os olhares a cada saída espalhafatosa do gol. Pouco importava se fosse bem ou mal sucedido. Seu estilo não era nada ortodoxo e uma novidade para os europeus. Por vezes assumia o papel de zagueiro e até iniciava a armação de seu time, gerando bons contra-ataques. Se especializou também em cobranças de pênalti (cobrando e defendendo), além de ser bom batedor de falta. Terminaria a carreira com 41 gols marcados (37 em cobranças de pênalti e 4 de falta) e até hoje é o 3º maior goleiro artilheiro da história. Se não bastasse tudo isso, era ainda muito bom em sua principal função: como goleiro mesmo. Era um astro em campo, que deixava a torcida de pé.

Não eram apenas as cabeleiras exóticas que atraíam os olhares. Pela primeira vez em sua história, a Colômbia possui mais do que jogadores esforçados. Os sul-americanos praticavam um futebol moderno.

A eficiente equipe foi montada por Francisco Maturana, que começou uma revolução no futebol do país desde 1987, ao trabalhar a marcação sob pressão. Ex-jogador do Atlético Nacional, ele levou o time ao histórico título da Copa Libertadores da América de 1989, ao mesmo tempo em que treinava a seleção de seu país. Focou na renovação do plantel nacional, dando chance a novos talentos como os meias Bernardo Redín e Freddy Rincón, além do zagueiro Andrés Escobar.

Com isso, a Colômbia era a seleção que gerava mais curiosidade antes do início do Mundial. Era uma incógnita. Ninguém sabia o que realmente esperar.

Na única Copa que havia disputado, em 1962, perdeu para o Uruguai (2 x 1) e para a Iugoslávia (5 x 0), além de ter conseguido um heroico empate por 4 x 4 com a União Soviética – com direito ao único gol olímpico da história dos Mundiais – após estar perdendo por 4 x 1.


Valderrama tabela com Gildardo Gómez (Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Situado no Golfo Pérsico, os Emirados Árabes Unidos existem como nação desde 1971. Menos de duas décadas se passaram e a seleção desse país de apenas 83.600 km² (menor que o estado de Pernambuco) foi fazer a sua estreia em Copas do Mundo.

Os árabes ficaram em segundo lugar no hexagonal final das eliminatórias asiáticas. Com uma vitória e quatro empates, ficou com uma das duas vagas do continente – juntamente com a líder Coreia do Sul, que somou dois pontos a mais. Zagallo era o treinador do time. Ele soube reconhecer as deficiências de seu elenco e armou um time bastante defensivo. O “Velho Lobo” foi demitido pelo então príncipe Khalifa bin Zayed al Nahyan (atual emir – líder político do país) após discutir a premiação pela qualificação para o Mundial. O principal problema do futebol do país sempre foi a interferência das autoridades.

O técnico polonês Bernard Blaut durou um mês no emprego. Desesperados, os sheiks foram atrás de Carlos Alberto Parreira, aprendiz de Zagallo. Ele já havia treinado os emiratenses entre 1984 e 1988, formando jogadores que seriam a base desse time. Ele conhecia o potencial de cada jogador e sabia que o time era fraco. Os próprios árabes reconheciam as suas limitações e viajaram para a Itália com um objetivo em mente: não serem humilhados.

A Revista Placar da época dizia que era um “elenco repleto de homônimos barbudos que dificultam a identificação para o torcedor estrangeiro”.


A Colômbia jogava no 4-4-2 com um meio campo muito técnico. Valderrama era livre para criar. Rincón era atacante nessa época; só alguns anos depois ele se tornaria o grande volante que foi.


Parreira escalou os EAU com três zagueiros. Como o time pouco avançava, era um 5-3-2, na prática.

● Diante de quase 31 mil presentes no Stadio Renato Dall’Ara, em Bologna, a Colômbia demorou muito a fazer valer seu claro favoritismo diante da frágil seleção dos Emirados Árabes Unidos.

Durante 50 minutos, só Higuita chamou a atenção ao sair da área para tirar uma bola de cabeça e para driblar um atacante rival.

Os cafeteros só acordaram aos cinco minutos do segundo tempo.

A defesa emiratense errou a linha de impedimento e Álvarez cruzou para Rodín cabecear no contrapé do goleiro.

O placar foi fechado a cinco minutos do fim.

Aos 41′, Estrada fez um lançamento de seu campo. Valderrama dominou pela esquerda, cortou para o meio de chutou de fora da área, no canto esquerdo do goleiro.


Gildardo Gómez disputa a bola com Adnan Al Talyani (Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Como esperado, a seleção dos Emirados Árabes Unidos foi a última colocada da Copa do Mundo de 1990. A menor das derrotas foi para os colombianos (2 x 0). As goleadas vieram para Alemanha Ocidental (5 x 1) e para a Iugoslávia (4 x 1).

A Colômbia, após vencer os árabes, perdeu para a Iugoslávia por 1 x 0 e empatou com a Alemanha Ocidental nos minutos finais, com gol de Freddy Rincón. Se classificou para a próxima fase como um dos melhores terceiros colocados. Enfrentou a também surpreendente seleção de Camarões e perdeu na prorrogação por 2 x 1, com dois gols do velhinho Roger Milla – o segundo em uma falha gritante de René Higuita, que tentou driblar quase no meio campo e perdeu a bola.


Andrés Escobar disputa no alto com o goleiro Muhsin Musabah (Imagem: Michel Lipchetz / AP / SFFS / sfgate.com)

FICHA TÉCNICA:

 

COLÔMBIA 2 x 0 EMIRADOS ÁRABES UNIDOS

 

Data: 09/06/1990

Horário: 17h00 locais

Estádio: Stadio Renato Dall’Ara

Público: 30.791

Cidade: Bologna (Itália)

Árbitro: George Courtney (Inglaterra)

 

COLÔMBIA (4-4-2):

EMIRADOS ÁRABES UNIDOS (5-3-2):

1  René Higuita (G)

17 Muhsin Musabah (G)

4  Luis Fernando Herrera

19 Eissa Meer

15 Luis Carlos Perea

6  Abdulrahman Mohamed

2  Andrés Escobar

20 Yousuf Hussain

3  Gildardo Gómez

2  Khalil Ghanim

14 Leonel Álvarez

15 Ibrahim Meer

8  Gabriel “Barrabás” Gómez

3  Ali Thani Jumaa

11 Bernardo Redín

14 Nasir Khamees

10 Carlos Valderrama (C)

12 Hussain Ghuloum

19 Freddy Rincón

7  Fahad Khamees (C)

16 Arnoldo Iguarán

10 Adnan Al Talyani

 

Técnico: Francisco Maturana

Técnico: Carlos Alberto Parreira

 

SUPLENTES:

 

 

12 Eduardo Niño (G)

1  Abdullah Musa (G)

21 Alexis Mendoza

22 Abdulqadir Hassan (G)

5  León Villa

21 Abdulrahman Al-Haddad

6  José Ricardo Pérez

4  Mubarak Ghanim

13 Carlos Hoyos

16 Mohamed Salim

17 Geovanis Cassiani

5  Abdullah Ali Sultan

18 Wilmer Cabrera

13 Hassan Mohamed

22 Rubén Darío Hernández

8  Khalid Ismaïl

20 Luis Fajardo

18 Fahad Abdulrahman

9  Miguel Guerrero

9  Abdulaziz Mohamed

7  Carlos Estrada

11 Zuhair Bakheet

 

GOLS:

50′ Bernardo Redín (COL)

85′ Carlos Valderrama (COL)

 

CARTÕES AMARELOS:

5′ Eissa Meer (EAU)

55′ Yousuf Hussain (EAU)

70′ Ibrahim Meer (EAU)

 

SUBSTITUIÇÕES:

57′ Fahad Khamees (EAU) ↓

Zuhair Bakheet (EAU) ↑

 

74′ Eissa Meer (EAU) ↓

Abdullah Ali Sultan (EAU) ↑

 

75′ Arnoldo Iguarán (COL) ↓

Carlos Estrada (COL) ↑

Veja os gols da partida – em imagens bastante prejudicadas pelo reflexo do sol, mas que são as únicas disponíveis:

Vídeo com a escalação das duas seleções: