Três pontos sobre…
… A explicação para o inexplicável
16 de julho, 72 anos depois do Maracanazzo, uma narrativa de uma alma que sentiu a emoção que não viveu e as explicações para a inexplicável e amarga derrota.
Esse vídeo vale os seus minutos.
Três pontos sobre…
… A explicação para o inexplicável
16 de julho, 72 anos depois do Maracanazzo, uma narrativa de uma alma que sentiu a emoção que não viveu e as explicações para a inexplicável e amarga derrota.
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Três pontos sobre…
… 23/07/1966 – Alemanha Ocidental 4 x 0 Uruguai
● Depois da vitória da Inglaterra sobre a Argentina por 1 x 0, o duelo entre alemães e uruguaios era o segundo capítulo da novela “arbitragem vs. países sul-americanos”.
A Alemanha Ocidental foi a líder do Grupo 2 na primeira fase. Goleou a Suíça por 5 x 0, empatou sem gols com a Argentina e venceu a Espanha por 2 x 1.
O Uruguai estreou empatando sem gols com a Inglaterra, dona da casa. Na segunda partida, venceu a França por 2 x 1. No terceiro jogo, o empate por 0 x 0 com o México valeu a classificação em segundo lugar do Grupo 1.
O Uruguai tinha em seu elenco vários personagens que teriam passagem pelo futebol brasileiro. O goleiro Ladislao Mazurkiewicz jogou no Atlético Mineiro entre 1971 e 1974. O lateral direito Pablo Forlán atuou pelo São Paulo F.C. entre 1970 e 1976. O atacante Héctor Silva passou pelo Palmeiras (1970-1971) e Portuguesa (1972-1973). O craque Pedro Rocha se tornou ídolo do São Paulo F.C., onde jogou entre 1970 e 1977, além de ter passagens por Palmeiras (1978), Coritiba (1979) e Bangu (1979). Após encerrar a carreira, Pedro Rocha treinou doze clubes brasileiros, sendo o Internacional o de maior expressão.
Além dos atletas, o técnico da Celeste Olímpica já tinha sua história marcada no futebol brasileiro. Entre as décadas de 1930 e 1960, Ondino Viera foi vitorioso treinando clubes como Fluminense, Vasco da Gama, Botafogo, Bangu, Palmeiras e Atlético Mineiro.
As duas seleções atuavam no sistema 4-2-4.
● Mais de 40 mil pessoas estiveram presentes no estádio Hillsborough, em Sheffield.
O Uruguai começou melhor e deu o primeiro susto logo aos 4′. Julio César Cortés aproveitou um rebote e chutou de longe, mas a bola explodiu no travessão. O goleiro Hans Tilkowski pegou o rebote. Mas Héctor Silva, que já tinha derrubado Willi Schulz no lance, passou pelo goleiro alemão e lhe deixou o joelho na cabeça – já mostrando um pouco do nervosismo charrua.
Dois minutos depois veio a primeira decisão controversa do juiz. Pedro Rocha cabeceou para o gol, a bola passou pelo goleiro Tilkowski e desviou na mão de Karl-Heinz Schnellinger. Era um lance em que comumente se apitava pênalti, mas o árbitro inglês Jim Finney deixou o lance seguir sem nada marcar.
Os uruguaios se convenceram que seria algo premeditado e começaram a perder a cabeça.
Para piorar, os alemães abriram o placar aos 11′. Sigfried Held chutou de fora da área. No meio do caminho, a bola desviou em Helmut Haller e enganou Ladislao Mazurkiewicz, entrando no canto direito.
No resto do primeiro tempo, o Uruguai bateu, a Alemanha revidou e o juiz não coibiu a violência.
Wolfgang Overath avançou sem marcação e chutou de esquerda, da entrada da área. A bola quicou e Mazurka segurou bem.
Héctor Salva chutou de fora da área e Tilkowski fez uma ponte para segurar. A bola ia no ângulo direito.
Wolfgang Weber avança e Cortés lhe dá um carrinho por trás. O árbitro inglês Jim Finney contemporizou e avisou ao uruguaio que seria a última.
De muito longe, Franz Beckenbauer bateu a falta de três dedos. A bola ia no ângulo, mas Mazurkiewicz espalmou para escanteio.
Ao invés de esfriar os ânimos, os uruguaios voltaram mais acesos.
Aos quatro minutos da etapa final, o capitão charrua Horacio Troche foi expulso por dar um pontapé sem bola em Lothar Emmerich. Quando estava saindo de campo, Troche passou por Uwe Seeler e lhe deu um tapa no rosto.
Os uruguaios perderam de vez a cabeça cinco minutos depois. Silva foi expulso por atingir Haller. Na saída do atacante celeste, houve até certo desentendimento entre alguns uruguaios e os policiais britânicos.
Com nove homens em campo, o Uruguai só conseguiu resistir por mais quinze minutos.
Com dois homens a mais, a Alemanha foi cada vez mais soberana. Haller avançou sozinho da direita e cruzou para o meio da área. Uwe Seeler não dominou bem, perdeu o tempo de bola e não conseguiu finalizar. Seeler foi muito bem marcado durante a partida.
Aos 25′, Beckenbauer recebeu de Uwe Seeler na área, passou fácil pela marcação, driblou o goleiro e tocou para o gol vazio. Alemanha: 2 a 0.
Aos 30′, Emmerich avançou pela esquerda, tocou para Held, que virou o jogo para Uwe Seeler. Sem marcação, o capitão alemão dominou, avançou e bateu da entrada da área, no ângulo esquerdo de Mazurkiewcz. Alemanha: 3 a 0.
O placar foi fechado aos 38′. Dentro da área, Haller passou por um adversário e tocou rasteiro de pé esquerdo na saída do goleiro. A bola morreu no canto direito. Final: Alemanha 4, Uruguai 0.
● Na saída de campo, Cortés deu um pontapé no árbitro – o que resultaria em uma suspensão por seis jogos internacionais.
As duas seleções saíram de campo reclamando da arbitragem. O técnico alemão Helmut Schön disse que o juiz acertou nas suas decisões, mas demorou demais para expulsar os “violentos jogadores uruguaios”. Ondino Viera foi mais equilibrado, dizendo que “as arbitragens foram, no mínimo, defeituosas”. Mas seguiu dizendo que o árbitro deu um presente para os alemães: “A exibição do filme do jogo dará razão aos uruguaios sobre o penal não apitado no início do encontro”.
Diego Lucero, decano jornalista da Argentina, resumiu a situação pela ótica dos não-europeus: “Se um sul-americano se classificasse para as semifinais, seríamos todos mortos”.
Na semifinal, a Alemanha Ocidental venceu a União Soviética por 2 x 1. Na decisão, conseguiu o empate por 2 x 2 diante da Inglaterra em Wembley, mas, em uma decisão controversa da arbitragem (como detalhamos aqui) acabou perdendo por 4 x 2 na prorrogação.
(Imagem: Impromptuinc)
● FICHA TÉCNICA: |
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ALEMANHA OCIDENTAL 4 x 0 URUGUAI |
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Data: 23/07/1966 Horário: 15h00 locais Estádio: Hillsborough Público: 40.007 Cidade: Sheffield (Inglaterra) Árbitro: Jim Finney (Inglaterra) |
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ALEMANHA OCIDENTAL (4-2-4): |
URUGUAI (4-2-4): |
1 Hans Tilkowski (G) |
1 Ladislao Mazurkiewicz (G) |
2 Horst-Dieter Höttges |
15 Luis Ubiña |
5 Willi Schulz |
2 Horacio Troche (C) |
6 Wolfgang Weber |
3 Jorge Manicera |
3 Karl-Heinz Schnellinger |
6 Omar Caetano |
4 Franz Beckenbauer |
5 Néstor Gonçalves |
12 Wolfgang Overath |
17 Héctor Salva |
8 Helmut Haller |
7 Julio César Cortés |
9 Uwe Seeler (C) |
19 Héctor Silva |
10 Sigfried Held |
10 Pedro Rocha |
11 Lothar Emmerich |
11 Domingo Pérez |
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Técnico: Helmut Schön |
Técnico: Ondino Viera |
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SUPLENTES: |
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22 Sepp Maier (G) |
12 Roberto Sosa (G) |
21 Günter Bernard (G) |
22 Walter Taibo (G) |
14 Friedel Lutz |
4 Pablo Forlán |
15 Bernd Patzke |
13 Nelson Díaz |
17 Wolfgang Paul |
14 Emilio Álvarez |
18 Klaus-Dieter Sieloff |
16 Eliseo Álvarez |
7 Albert Brülls |
20 Luis Ramos |
16 Max Lorenz |
18 Milton Viera |
19 Werner Krämer |
21 Víctor Espárrago |
13 Heinz Hornig |
8 José Urruzmendi |
20 Jürgen Grabowski |
9 José Sasía |
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GOLS: |
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11′ Helmut Haller (ALE) |
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70′ Franz Beckenbauer (ALE) |
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75′ Uwe Seeler (ALE) |
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83′ Helmut Haller (ALE) |
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ADVERTÊNCIAS: |
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20′ Héctor Silva (URU) |
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86′ Wolfgang Weber (ALE) |
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EXPULSÕES: |
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49′ Horacio Troche (URU) |
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54′ Héctor Silva (URU) |
Melhores momentos da partida:
Três pontos sobre…
… 14/06/2014 – Costa Rica 3 x 1 Uruguai
(Imagem: Getty Images / FIFA)
● Em sua quarta Copa do Mundo (já havia disputado 1990, 2002 e 2006), a seleção da Costa Rica chegou totalmente sem expectativas. O único objetivo era não passar vergonha. Afinal, o que mais poderia esperar no “grupo da morte” – o único da história formado por três campeões mundiais: Uruguai, Inglaterra e Itália? A Costa Rica certamente serviria de sparring no Grupo D. E justamente por não ter nada a perder, daria tudo de si.
O técnico colombiano Jorge Luis Pinto montou um esquema tático teoricamente retranqueiro (5-4-1) e acabou forjando mesmo um sistema defensivo muito forte, liderado pelo goleiro Keylor Navas. Mas os Ticos sabiam como agredir o adversário, seja na técnica e no toque de bola, na bola parada, na velocidade contra-ataque ou nos chutes de longa distância.
Com muita velocidade e movimentação, o trio de ataque era muito perigoso, com os habilidosos Joel Campbell, Christian Bolaños e o capitão Bryan Ruiz. Os principais desfalques eram o lateral Bryan Oviedo e o atacante Álvaro Saborío, artilheiro do time nas eliminatórias da CONCACAF, com oito gols.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
● No Mundial anterior, o Uruguai havia sido a melhor seleção sul-americana, com o quarto lugar. A evolução se seguiu e os charruas conquistaram a Copa América de 2011, quebrando um jejum de 16 anos.
Bem treinados pelo Maestro Óscar Tabárez, os charruas mantinham praticamente o mesmo elenco, com apenas seis modificações.
O forte dos uruguaios era o conjunto, mas alguns jogadores se destacavam pela qualidade técnica individual. A defesa era consistente, com os Diegos Godín e Lugano. O ataque estava em seu ápice, com Edison Cavani e Luis Suárez. Porém, nem tudo era maravilha. Faltava criatividade no meio e o goleiro Muslera nunca inspirou confiança.
E, se em 2014 estava quatro anos mais experiente e maduro (principalmente nos casos de Suárez e Cavani), também estava quatro anos mais envelhecido (casos de Lugano e Forlán – eleito o melhor jogador do Mundial de 2010).
O técnico colombiano Jorge Luis Pinto conseguiu armar uma defesa consistente, com cinco homens. No meio, se fechava com outra linha de quatro. E, quando esse paredão era vazado, ainda tinha outra muralha: o goleiro Keylor Navas.
Maestro Tabárez armou o Uruguai no sistema tático 4-4-2, com duas linha de quatro.
● Há uma ligação quase umbilical entre o futebol brasileiro e o uruguaio. Vários jogadores charruas são ídolos de clubes brasileiros. Até por isso, o ambiente no estádio Castelão era praticamente todo favorável ao Uruguai, com ampla maioria nas arquibancadas.
Mas, com o nível competitivo do futebol apresentado, a seleção da Costa Rica conquistou os brasileiros presentes – que costuma ter tendência a torcer para os mais fracos. Desde então a torcida brasileira passou a adotar a Costa Rica como segundo time.
O Uruguai tinha uma qualidade técnica muito superior ao seu adversário, mas não conseguiu transformar essa diferença em superioridade.
A principal estrela do duelo estava ausente. Luis Suárez estava se recuperando de uma cirurgia no joelho e não foi pro jogo. Ele foi poupado para os duelos teoricamente mais difíceis, contra Inglaterra e Itália. O time sentiu muito a ausência de seu camisa 9, pois faltou criatividade e poder de fogo.
Mas ainda assim conseguiu abrir o placar. Aos 23 minutos do primeiro tempo, Diego Forlán cobrou falta da esquerda e Diego Lugano foi agarrado por Júnior Díaz dentro da área e o árbitro alemão Felix Brych marcou a penalidade. Edinson Cavani bateu com segurança no canto esquerdo de Navas. O goleiro até acertou o canto, mas não conseguiu pegar.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
Minutos depois, um atacante costarriquenho também foi agarrado na área uruguaia em um lance muito parecido, mas o juiz não marcou nada. Dois pesos, duas medidas.
O Uruguai seguiu um pouco melhor em campo. Cebolla Rodríguez arrancou pelo meio, passou por dois costarriquenhos e abriu na esquerda para Forlán. O camisa 10 bateu de canhota do bico da grande área, a bola desviou em Duarte e tinha o caminho das redes. Mas Navas deu um tapa por cima e evitou o gol. Uma defesa de alto grau de dificuldade.
O ataque dos Ticos sofria com a falta de inspiração no primeiro tempo. Mas voltou aceso para a etapa final e virou o jogo na bola aérea.
Mesmo tendo jogadores altos e fortes, como Lugano e Godín, a defesa celeste sofreu muito nas bolas altas. Qualquer levantamento para a área uruguaia era um “Deus nos acuda”. Os dois gols da virada vieram de erros de posicionamento dos defensores celestes.
O primeiro foi aos nove minutos. Bryan Ruiz deu um passe vertical na direita para Bolaños, que escorou de primeira para Cristian Gamboa cruzar da linha de fundo. Celso Borges dividiu no alto com Lugano e a bola sobrou dentro da área para Joel Campbell dominar no peito e chutar forte, sem chances para Muslera.
Apenas três minutos depois ocorreu a surpreendente virada. Bolaños bateu falta da intermediária central. Óscar Duarte se livrou da marcação de Cristhian Stuani e apareceu na segunda trave para cabecear de peixinho. A bola entrou no canto esquerdo do goleiro uruguaio.
O meio campo uruguaio errava muitos passes, especialmente Walter Gargano. Ele cometeu várias faltas e não conseguiu marcar Bryan Ruiz, o articulador das jogadas costarriquenhas.
Com pouca criatividade e muito desespero, o Uruguai se atirou ao ataque, mas parou no bloqueio defensivo do adversário.
O golpe fatal veio a seis minutos do fim, em um contra-ataque. Campbell recebeu na direita e lançou rasteiro para Marco Ureña dentro da área. O atacante, que tinha acabado de entrar, deu apenas um toque para tirar de Muslera e marcar o terceiro gol dos Ticos.
No minuto final, Campbell (o melhor em campo) dominou na ponta esquerda e prendeu a bola para ganhar tempo. Impaciente, Maxi Pereira lhe deu uma rasteira e foi corretamente expulso de campo.
A vitória costarriquenha por 3 x 1 acabou surpreendendo a todos.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
● Na segunda partida, o Uruguai venceu a Inglaterra por 2 x 1, com dois gols de Luisito Suárez. No terceiro jogo, vitória sobre a Itália por 1 x 0 (gol de Godín), quando houve a famosa mordida de Suárez em Giorgio Chiellini. Nas oitavas de final, já sem poder contar com Suárez – suspenso pela FIFA –, o Uruguai perdeu para a Colômbia por 2 x 0, com dois gols de James Rodríguez.
A Costa Rica levou seu sonho mais adiante. Ficou em primeiro de seu grupo, vencendo a Itália por 1 x 0 e empatando por 0 x 0 com a Inglaterra. Nas oitavas, empatou por 1 x 1 com a Grécia e venceu nos pênaltis por 5 x 3. Nas quartas, empatou sem gols com a Holanda. E acordou para a realidade após ser eliminada nas penalidades por 5 x 3. No fim, terminou em um honroso oitavo lugar e a melhor defesa do torneio, com apenas dois gols sofridos. Acabou sendo muito mais do que os mais otimistas e ferrenhos torcedores esperavam. E o time de Keylor Navas, Bryan Ruiz e Joel Campbell entrou positivamente para os almanaques das Copas.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
● FICHA TÉCNICA: |
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COSTA RICA 3 x 1 URUGUAI |
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Data: 14/06/2014 Horário: 16h00 locais Estádio: Castelão Público: 58.679 Cidade: Fortaleza (Brasil) Árbitro: Felix Brych (Alemanha) |
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COSTA RICA (5-4-1): |
URUGUAI (4-4-2): |
1 Keylor Navas (G) |
1 Fernando Muslera (G) |
16 Cristian Gamboa |
16 Maxi Pereira |
6 Óscar Duarte |
2 Diego Lugano (C) |
3 Giancarlo González |
3 Diego Godín |
4 Michael Umaña |
22 Martín Cáceres |
15 Júnior Díaz |
17 Egidio Arévalo Ríos |
17 Yeltsin Tejeda |
5 Walter Gargano |
5 Celso Borges |
7 Cristian Rodríguez |
7 Christian Bolaños |
11 Cristhian Stuani |
10 Bryan Ruiz (C) |
10 Diego Forlán |
9 Joel Campbell |
21 Edinson Cavani |
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Técnico: Jorge Luis Pinto |
Técnico: Óscar Tabárez |
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SUPLENTES: |
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18 Patrick Pemberton (G) |
23 Martín Silva (G) |
23 Daniel Cambronero (G) |
12 Rodrigo Muñoz (G) |
2 Johnny Acosta |
4 Jorge Fucile |
8 David Myrie |
13 José Giménez |
19 Roy Miller |
19 Sebastián Coates |
12 Waylon Francis |
6 Álvaro Pereira |
13 Óscar Granados |
15 Diego Pérez |
22 José Miguel Cubero |
20 Álvaro González |
11 Michael Barrantes |
14 Nicolás Lodeiro |
20 Diego Calvo |
18 Gastón Ramírez |
14 Randall Brenes |
8 Abel Hernández |
21 Marco Ureña |
9 Luis Suárez |
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GOLS: |
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24′ Edinson Cavani (URU) (pen) |
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54′ Joel Campbell (COS) |
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57′ Óscar Duarte (COS) |
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84′ Marco Ureña (COS) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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50′ Diego Lugano (URU) |
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56′ Walter Gargano (URU) |
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81′ Martín Cáceres (URU) |
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CARTÃO VERMELHO: |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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60′ Walter Gargano (URU) ↓ |
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Álvaro González (URU) ↑ |
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60′ Diego Forlán (URU) ↓ |
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Nicolás Lodeiro (URU) ↑ |
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75′ Yeltsin Tejeda (COS) ↓ |
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José Miguel Cubero (COS) ↑ |
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76′ Cristian Rodríguez (URU) ↓ |
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Abel Hernández (URU) ↑ |
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83′ Bryan Ruiz (COS) ↓ |
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Marco Ureña (COS) ↑ |
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89′ Christian Bolaños (COS) ↓ |
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Michael Barrantes (COS) ↑ |
Melhores momentos da partida:
Três pontos sobre…
… 30/06/1954 – Hungria 4 x 2 Uruguai
(Imagem: The Guardian)
● Considerada uma das maiores partidas da história do futebol, era o duelo entre os dois principais favoritos ao título.
O Uruguai era a única seleção sul-americana entre os quatro semifinalistas. Era o então campeão mundial após o “Maracanazzo” de 1950 e nunca havia perdido uma partida de Copa do Mundo. A Celeste mantinha seus principais expoentes de 1950. A ausência mais sentida era Alcides Ghiggia, que não foi liberado pelo seu clube, a Roma. Na fase de grupos, venceu a Tchecoslováquia por 2 x 0 e a Escócia por 7 x 0. Na sequência, bateu a Inglaterra por 4 x 2 nas quartas de final.
A Hungria chegava mais forte ainda, campeã olímpica em 1952 e ostentando quatro anos de invencibilidade. Nos últimos 27 jogos, tinha vencido 23 e empatado quatro. Na primeira fase, os húngaros massacraram os adversários. Foram duas goleadas: 9 x 0 sobre a Coreia do Sul e 8 x 3 em cima da Alemanha Ocidental. Nas quartas de final, venceu o Brasil por 4 x 2 na “Batalha de Berna”. Em relação ao Uruguai, a Hungria vinha de um confronto mais difícil e ainda teve um dia a menos de descanso.
Por lesão, ambas equipes estavam desfalcadas de seus capitães e maiores estrelas. Os húngaros não tinha Ferenc Puskás (lesionado desde a primeira fase) e os celestes não podiam contar com o lendário Obdulio Varela (que se machucou contra os ingleses).
O time húngaro tinha ainda duas mudanças em relação ao jogo anterior. László Budai jogou na ponta direita no lugar do contundido József Tóth. Péter Palotás entrou na meia esquerda no lugar de Mihály Tóth.
A Hungria jogou em seu incipiente 4-2-4, com o recuo do centroavante Hidegkuti para armar o jogo e o consequente recuo de Zakariás para a linha defensiva. Palotás jogou na função de Puskás.
O Uruguai atuou no sistema WM adaptado, com um homem na sobra (Martínez) no sistema defensivo.
● Essa semifinal era vista por muitos como a final antecipada da Copa e correspondeu às expectativas com gols e alta qualidade técnica. Mesmo sob forte chuva, os 45 mil expectadores que estiveram no Estádio Olímpico de la Pontaise, em Lausanne, ficaram extasiados com a partida que assistiram.
Como de costume, a Hungria começou o jogo com agressividade no ataque e abriu o placar aos treze minutos. Nándor Hidegkuti ergueu a bola para a entrada da área, Sándor Kocsis desviou de cabeça e Zoltán Czibor a deixou quicar para emendar o voleio rasteiro de canhota, no canto esquerdo do goleiro uruguaio.
Os danubianos seguiam no ataque, mas a defesa rioplatense segurava firme. Em bola jogada para a área, a defesa celeste cortou mal. Czibor recolheu a bola, foi até a linha de fundo, cortou para dentro e cruzou de direita. Kocsis cabeceou forte e no alto, mas Roque Máspoli defendeu à queima roupa.
Essa foi a única partida em que os húngaros não abriram dois gols de vantagem nos vinte primeiros minutos.
A partida se apresentou com um duelo tático interessante. Parte do sucesso dos húngaros foi por causa do recuo do seu centroavante para armar as jogadas de ataque pelo meio (Nándor Hidegkuti ou Péter Palotás), deixando as defesas adversárias sem um homem de referência e abrindo espaço para a infiltração dos meias. Mas nessa partida, o técnico uruguaio Juan López Fontana destacou Néstor Carballo para a marcação individual sobre Hidegkuti. Os húngaros não estavam acostumados com isso e tiveram um pouco de dificuldades. Até que o treinador magiar Gusztáv Sebes contra-arquitetasse orientando para Zoltán Czibor para se movimentar no espaço aberto pela saída de Carballo.
O segundo gol só saiu no primeiro minuto do segundo tempo, László Budai cruzou da direita à meia altura para a segunda trave e Hidegkuti mandou para as redes de peixinho.
Com dois gols de vantagem no placar, a peleja parecia resolvida. Mas do outro lado tinha o bravo Uruguai.
(Imagem: Pinterest)
Aos trinta minutos da etapa final, Juan Alberto Schiaffino fez um lançamento para Juan Hohberg na meia-lua. Sem marcação, ele invadiu a área e chutou rasteiro no canto esquerdo do goleiro.
A Celeste Olímpica cresceu e a Hungria sentiu o golpe.
A quatro minutos do fim, Hohberg aproveitou confusão na área adversária, ganhou uma dividida com o goleiro Grosics e, mesmo caindo, anotou seu segundo tento na partida, igualando o placar.
Curiosamente, Juan Hohberg era nascido na Argentina. Ele esteve lesionado durante a fase de grupos e só foi estrear justamente nessa partida. No lance do gol de empate uruguaio, ele caiu desacordado. Depois soube-se que ele teve uma parada cardíaca ali mesmo, ficando alguns segundos morto. O médico uruguaio, Carlos Abate, deu duas doses de coramina ao jogador, além de fazer massagem cardíaca para reanimá-lo. O Uruguai voltou a campo com dez jogadores para a disputa do tempo extra, mas pouco depois, mesmo desaconselhado pelos médicos, Hohberg voltou a campo.
A partida mudou totalmente na prorrogação, com os uruguaios mais perto da vitória. Logo no primeiro lance, Schiaffino bateu cruzado, Grosics deslizou pela grama molhada e a bola carimbou a trave direita.
Mas prevaleceu o melhor preparo físico e os mágicos magiares reapoderam de forma fatal na segunda parte do tempo extra.
Aos 6′, após cruzamento de Budai para a área, Kocsis ganhou no alto de José Santamaría e cabeceou no canto esquerdo de Máspoli.
Aos 11, jogada muito semelhante. József Bozsik cruzou para a área, Kocsis ganhou no alto e cabeceou no canto direito do goleiro uruguaio, garantindo a passagem dos europeus à decisão.
Placar final: 4 a 2. E a Hungria chegaria mais favorita que nunca para a final da Copa.
(Imagem: Pinterest)
● Em 1960, apenas seis anos depois, a revista inglesa World Soccer chamou a partida de “o maior jogo de futebol de todos os tempos”.
Essa derrota uruguaia foi a primeira do país na história das Copas do Mundo. A Celeste Olímpica foi campeã em 1930 e não disputou os Mundiais de 1934 e 1938. Voltou em 1950 e novamente conquistou o título. O Uruguai também conquistou a medalha de ouro no futebol nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928. Assim, no total, entre 1924 e 1954, entre Olimpíadas e Copas do Mundo, o Uruguai teve uma fantástica série de 21 partidas invictas.
Ao fim da partida, o capitão uruguaio, William Martínez, foi cordialmente ao vestiário da Hungria para cumprimentar os vencedores. Os húngaros mostraram respeito e reverência aos uruguaios, ao contrário do sentimento nutrido em relação aos brasileiros, eliminados três dias antes. Para Kocsis, o Brasil era um time covarde. “Nós éramos melhores e ganharíamos quantas vezes precisássemos”, disse o atacante magiar.
“Nunca vi um desempenho tão notável entre duas equipes jogando no seu nível mais alto. Ambas as equipes foram excelentes. Eu instruí a Hungria a colocar a bola no chão e fazê-la correr o tempo todo. Estávamos conscientes de que a equipe uruguaia não conseguia acompanhar o ritmo que ditava no período final do jogo, e nossa suposição acabou sendo verdadeira na prorrogação.” ― Gusztáv Sebes
“Nunca vi o time húngaro jogando com tanta dedicação, mantendo seus padrões de futebol por tanto tempo, até mesmo na prorrogação.” ― Walter Winterbottom, técnico da seleção inglesa
“O jogo foi especialmente notável, pois os uruguaios jogam o mesmo futebol que nós. Nós apenas jogamos um pouco melhor.” ― József Bozsik
“O Uruguai foi o melhor time que a Hungria enfrentou em todos os tempos.” ― Gyula Mándi, treinador de campo e assistente de Gusztáv Sebes
“É seguro dizer que o time uruguaio é o melhor que enfrentamos até agora.” ― Gyula Grosics
“Com os húngaros perdemos por 4 a 2 e me tocou converter os dois gols uruguaios. A Hungria foi a melhor equipe que vi em minha vida. Era uma máquina infernal.” ― Juan Hohberg
“A Hungria é o maior time que eu já joguei contra. Sua qualidade é fascinante.” ― Víctor Rodríguez Andrade
“O time uruguaio joga de maneira diferente do Brasil. Eles colocam mais ênfase no trabalho em equipe. Individualmente eles não são tão brilhantes quanto os brasileiros. Mas o Uruguai é mais perigoso por causa de seu trabalho em equipe disciplinado e de seus esforços coletivos. Além disso, os jogadores têm excelente controle de bola e são capazes de boas combinações e lideraram alguns ataques maravilhosos. Víctor Rodríguez Andrade e Juan Alberto Schiaffino são seus melhores jogadores – o último é simplesmente impossível de desarmar. Deve ser notado que a marcação deles era às vezes frouxa e os defensores davam muito espaço para os nossos atacantes (especialmente William Martínez contra László Budai), que poderiam ter a bola relativamente desmarcada, e depois virá-la a seu favor.” (Parte da crônica do jornal húngaro Nemzeti Sport sobre a partida)
Na decisão do 3º lugar, o Uruguai não jogou bem e perdeu para a Áustria por 3 x 1. A Hungria enfrentou novamente a Alemanha Ocidental na final e perdeu de virada por 3 x 2.
(Imagem: Liga Retro)
● FICHA TÉCNICA: |
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HUNGRIA 4 x 2 URUGUAI |
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Data: 30/06/1954 Horário: 18h00 locais Estádio: Stade Olympique de la Pontaise Público: 45.000 Cidade: Lausanne (Suíça) Árbitro: Benjamin Griffiths (País de Gales) |
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HUNGRIA (4-2-4): |
URUGUAI (WM): |
1 Gyula Grosics (G) |
1 Roque Máspoli (G) |
2 Jenő Buzánszky |
2 José Santamaría |
3 Gyula Lóránt |
3 William Martínez (C) |
4 Mihály Lantos |
4 Víctor Rodríguez Andrade |
5 József Bozsik (C) |
16 Néstor Carballo |
6 József Zakariás |
17 Luis Cruz |
16 László Budai |
18 Rafael Souto |
8 Sándor Kocsis |
19 Javier Ambrois |
9 Nándor Hidegkuti |
8 Juan Hohberg |
19 Péter Palotás |
10 Juan Alberto Schiaffino |
11 Zoltán Czibor |
11 Carlos Borges |
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Técnico: Gusztáv Sebes |
Técnico: Juan López Fontana |
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SUPLENTES: |
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21 Sándor Gellér (G) |
12 Julio Maceiras (G) |
22 Géza Gulyás (G) |
13 Mirto Davoine |
12 Béla Kárpáti |
14 Eusebio Tejera |
13 Pál Várhidi |
15 Urbano Rivera |
14 Imre Kovács |
5 Obdulio Varela |
15 Ferenc Szojka |
6 Roberto Leopardi |
7 József Tóth |
7 Julio Abbadie |
17 Ferenc Machos |
20 Omar Méndez |
18 Lajos Csordás |
9 Óscar Míguez |
20 Mihály Tóth |
21 Julio Pérez |
22 Luis Ernesto Castro |
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GOLS: |
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13′ Zoltán Czibor (HUN) |
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46′ Nándor Hidegkuti (HUN) |
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75′ Juan Hohberg (URU) |
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86′ Juan Hohberg (URU) |
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111′ Sándor Kocsis (HUN) |
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116′ Sándor Kocsis (HUN) |
Gols do jogo:
Compacto estendido da partida:
Três pontos sobre…
… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai
(Imagem: Pinterest)
● As históricas semifinais reuniam quatro dos cinco campeões mundiais de então. Apenas a Inglaterra parou nas quartas de final. Brasil, Uruguai e Itália tinham dois títulos cada, enquanto a Alemanha Ocidental tinha um. O destino definitivo da Taça Jules Rimet nunca esteve tão perto.
Ninguém no Brasil ficou feliz com a ideia de enfrentar o Uruguai nas semifinais. Era impossível evitar a carga dramática do fato ocorrido vinte anos antes. Bem lá no fundo, havia o medo de um novo Maracanazzo. Os uruguaios faziam o possível para criar um clima de tensão esbanjavam confiança. Uma manchete de um jornal do país estampava: “Uruguay 30 – 50 – 70″, fazendo referência aos títulos mundiais conquistados em 1930 e 1950 e já considerando uma eventual conquista em 1970.
Conforme a tabela do Mundial, a partida entre os vizinhos sul-americanos estava prevista para ocorrer no estádio Azteca, na Cidade do México – onde o Uruguai havia enfrentado a União Soviética três dias antes. Porém, a organização do torneio inverteu as sedes das semifinais, passando esse jogo para o estádio Jalisco, em Guadalajara. O duelo entre Itália e Alemanha, que seria disputado em Guadalajara, foi transferido para o estádio Azteca. Essa troca favoreceu muito o Brasil, que havia jogado no Jalisco as quatro partidas anteriores, já estava adaptado, nem precisou viajar e tinha grande apoio do público local. O Uruguai foi prejudicado e reclamou bastante, pois havia disputado uma duríssima e cansativa prorrogação contra os soviéticos e ainda teve que viajar quase 600 km.
O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.
A Seleção Brasileira contava com um time muito mais vistoso e competente no ataque. Até então, havia marcado doze gols em quatro partidas, enquanto a Celeste tinha anotado apenas três tentos na mesma quantidade de jogos.
O Uruguai jogava no sistema 4-3-3. Sentiu muita falta do seu capitão Pedro Rocha, lesionado logo na primeira partida, na vitória por 2 x 0 sobre Israel.
Uma ausência entre os 22 convocados foi o lateral direito Pablo Forlán. Em abril de 1970, o São Paulo FC ofereceu US$ 80 mil ao Peñarol pelo passe do jogador, mas condicionou que ele se apresentasse imediatamente. Forlán receberia US$ 30 mil na negociação e concordou com a negociação, mesmo ficando fora do Mundial.
● Foi só o juiz apitar o início da partida que os uruguaios passaram a fechar a frente de sua área e deixar somente Luis Cubilla na frente. E foi justamente ele quem abriu o placar aos 19 minutos de jogo.
A defesa brasileira parecia sentir o nervosismo do jogo e Clodoaldo errou um passe fácil. Julio Morales recuperou a bola e lançou na área. Cubilla apareceu na direita, nas costas de Piazza, dominou e adiantou demais. Na hora de finalizar, errou o chute cruzado e a bola foi mascada, pegando um efeito esquisito. Félix errou o golpe de vista e saiu catando cavaco ao ver a bola pingando dentro do gol.
Nervosa, a Seleção passou a errar mais passes, facilitando o trabalho defensivo do rival. Deu seu primeiro chute a gol só aos 27 minutos. No jogo todo, finalizou apenas 14 vezes.
Pelé levou perigo em uma cobrança de falta, mas o grande goleiro Ladislao Mazurkiewicz (melhor de sua posição na Copa de 1970) encaixou firme sem dar rebote.
Gérson não estava no melhor de suas condições físicas. E, genial como ele só, percebeu que estava sofrendo marcação individual de Cortés e inverteu de posição com Clodoaldo. Ele ficaria mais na defensiva e teria espaço para seus lançamentos, liberando o camisa 5 do Brasil para avançar e aparecer como homem surpresa. O Canhota de Ouro contaria mais tarde: “Eu estava sofrendo marcação individual do número 20 deles, que não saía de perto de mim. Então, combinei com o Clodoaldo: ‘você avança e eu fico’. Deu certo!”
O Brasil não queria ir para o intervalo em desvantagem no marcador e empatou o duelo aos 45′, em uma jogada bem construída desde seu início. Piazza começou o jogo com Rivellino, que tocou para Everaldo passar para Clodoaldo já na intermediária ofensiva. Ele abriu com Tostão na esquerda, que devolveu com precisão para o volante invadir a área entre os zagueiros e chutar de bico antes da chegada de Montero Castillo. Esse foi o único gol em 39 jogos oficiais de Corró com a camisa da Seleção.
(Imagem: Pinterest)
No segundo tempo, o Brasil voltou mais confiante, tocando melhor a bola, mas ainda telegrafava as jogadas de ataque. O Uruguai não dava espaço algum, catimbava e tentava ganhar tempo em todos os lances.
Aos 16′, Pelé driblou toda a defesa uruguaia, entrou na área e sofreu pênalti de Ancheta. Tostão correu para a marca da cal, mas o juiz marcou falta fora da área. No lance, o volante Julio César Montero Castillo (pai do ex-zagueiro Paolo Montero, que disputou a Copa de 2002), pisou em Pelé já com o jogo parado.
Os uruguaios bateram o jogo todo, principalmente Dagoberto Fontes. Em um lance na ponta esquerda, Pelé levou um pisão por trás de Fontes e desferiu uma forte cotovelada, que acertou em cheio o rosto do uruguaio. O árbitro espanhol José María Ortiz de Mendíbil não viu o lance maldoso de Pelé e marcou falta a favor do Brasil – o que, de fato, foi mesmo. Felizmente não haviam tantas câmeras na época para flagrar o lance em tempo real e levar o Rei a julgamento na FIFA. Se houvesse, ele poderia ter sido punido e ter ficado fora da final da Copa. Para o bem do futebol, nada aconteceu e ele estaria desfilando em campo quatro dias depois.
Um lance lindo do Rei aconteceu aos 21 minutos. Mazurkiewicz bateu um tiro de meta errado e, da intermediária, o camisa 10 do Brasil emendou de primeira para o gol. Mazurka teve que se entortar todo para segurar a bola.
O pobre Uruguai pensou que poderia vencer a partida e o técnico Juan Hohberg tirou o meia Ildo Maneiro para colocar o atacante Víctor Espárrago – que havia feito o gol da vitória nas quartas de final, contra a União Soviética.
(Imagem: FIFA)
A mudança tática fez a Celeste ficar mais vulnerável no meio e permitiu mais espaços para a Seleção Canarinho tocar a bola.
E o resultado veio apenas dois minutos depois. Jairzinho interceptou um passe errado de Fontes na intermediária defensiva, arrancou e passou para Pelé, que deixou com Tostão. Do meio do campo, ele lançou Jair. O Furacão ganhou na corrida de Roberto Matosas e tocou na saída de Mazurkiewicz, fazendo 2 a 1. Ao contrário do Maracanazzo, dessa vez a virada foi brasileira. Esse foi o sexto gol de Jairzinho na Copa.
O time uruguaio, que tinha recursos técnicos, começou a atacar. A chance mais perigosa foi uma cabeçada à queima-roupa de Cubilla, que Félix defendeu bem e se redimiu do lance do gol.
Apesar da superioridade técnica e no placar, os brasileiros continuavam tensos. Só conseguiram relaxar mesmo na última volta do ponteiro. O capitão Carlos Alberto chutou para cima para aliviar a defesa e ganhar tempo. Pressionado por Pelé, Ubiña escorou de cabeça para o meio onde só tinha Tostão. Ele abriu na esquerda para Pelé, que avançou até a área, esperou e rolou na medida para Rivellino, que chegou soltando a sua “Patada Atômica” da entrada da área. A bola foi morrer no canto esquerdo de Mazurka. Estava tudo concluído. Quase.
O árbitro ainda queria jogo. Já nos acréscimos, teve tempo para Pelé protagonizar o “quase gol” mais lindo de todos os tempos. Do meio do campo, Tostão fez um belo lançamento rasteiro para o Rei nas costas da defesa. Sem tocar na bola, Pelé deu um drible de corpo no goleiro uruguaio que havia saído da área para fechar o ângulo ou tentar fazer a falta. O Rei deixou que ela fosse para um lado e correu para o outro, como um drible da vaca sem tocar na bola. Mesmo desequilibrado, Pelé ainda conseguiu finalizar chutando cruzado, mas a bola, caprichosamente, raspou a trave direita e foi para fora.
O Brasil sofreu muito mais que o placar final indica. Mas o Maracanazzo estava vingado e pago com juros: 3 a 1. O fantasma estava definitivamente exorcizado. E, mais importante, conquistou a vaga para a decisão contra o vencedor de Itália e Alemanha Ocidental.
(Imagem: Lance!)
● FICHA TÉCNICA: |
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BRASIL 3 X 1 URUGUAI |
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Data: 17/06/1970 Horário: 16h00 locais Estádio: Jalisco Público: 51.261 Cidade: Guadalajara (México) Árbitro: José María Ortiz de Mendíbil (Espanha) |
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BRASIL (4-3-3): |
URUGUAI (4-3-3): |
1 Félix (G) |
1 Ladislao Mazurkiewicz (G) |
4 Carlos Alberto Torres (C) |
4 Luis Ubiña (C) |
2 Brito |
2 Atilio Ancheta |
3 Wilson Piazza |
3 Roberto Matosas |
16 Everaldo |
6 Juan Mujica |
5 Clodoaldo |
5 Julio César Montero Castillo |
8 Gérson |
20 Julio César Cortés |
7 Jairzinho |
10 Ildo Maneiro |
9 Tostão |
7 Luis Cubilla |
10 Pelé |
15 Dagoberto Fontes |
11 Rivellino |
11 Julio Morales |
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Técnico: Zagallo |
Técnico: Juan Hohberg |
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SUPLENTES: |
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12 Ado (G) |
12 Héctor Santos (G) |
22 Leão (G) |
22 Walter Corbo (G) |
21 Zé Maria |
14 Francisco Cámera |
15 Fontana |
13 Rodolfo Sandoval |
14 Baldocchi |
16 Omar Caetano |
17 Joel Camargo |
17 Rúben Bareño |
6 Marco Antônio |
8 Pedro Rocha |
18 Paulo Cézar Caju |
21 Julio Losada |
13 Roberto |
9 Víctor Espárrago |
18 Alberto Gómez |
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19 Edu |
19 Oscar Zubía |
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GOLS: |
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19′ Luis Cubilla (URU) |
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44′ Clodoaldo (BRA) |
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76′ Jairzinho (BRA) |
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89′ Rivellino (BRA) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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5′ Juan Mujica (URU) |
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18′ Dagoberto Fontes (URU) |
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33′ Carlos Alberto Torres (BRA) |
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37′ Ildo Maneiro (URU) |
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SUBSTITUIÇÃO: |
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73′ Ildo Maneiro (URU) ↓ |
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Víctor Espárrago (URU) ↑ |
(Imagem: CBF)
Melhores momentos da partida:
Três pontos sobre…
… 04/06/1986 – Alemanha Ocidental 1 x 1 Uruguai
(Imagem: Impromptuinc)
● O Grupo E era o mais equilibrado da Copa do Mundo de 1986. Alemanha Ocidental, Uruguai, Dinamarca a Escócia faziam o “grupo da morte”.
Na estreia, duas camisas pesadas se enfrentaram. Dois pesos pesados do futebol, Alemanha Ocidental e Uruguai haviam duelado quatro vezes até aquele confronto em Querétaro. Haviam sido quatro vitórias alemãs, sendo dois amistosos (3 x 0 em 1962 e 2 x 0 em 1977) e dois confrontos válidos por Copas do Mundo (4 x 0 em 1966 e 1 x 0 em 1970).
Ausente desde 1974, a Celeste Olímpica se garantiu no Mundial ao vencer o Grupo 2 das eliminatórias sul-americanas. Nesses doze anos sem estar entre os protagonistas, muitos diziam que os charruas estavam em decadência. Mas a renovação foi bem feita e o time conquistou a Copa América de 1983.
O maior problema estava dentro do próprio elenco, dividido em “panelinhas”. Muitos atletas tinham uma relação ruim e o treinador Omar Borrás não era muito afeito ao diálogo. O ambiente interno era péssimo. O técnico, cabeça dura, prescindia da experiência e talento dos jogadores que atuavam no futebol brasileiro.
Um dos melhores do mundo em sua posição, o goleiro Rodolfo Rodríguez (do Santos) vivia o auge de sua forma, mas perdeu a titularidade e a braçadeira de capitão. “Não fui escalado porque falta ao técnico o que eu tenho de sobra: coragem”, cutucou o arqueiro.
O zagueiro Hugo de León, eterno capitão do Grêmio e que estava no atuando no Corinthians, foi sumariamente ignorado e nem foi convocado por Borrás. Don Darío Pereyra, ídolo do São Paulo, se recuperava de problemas físicos. Rubén Paz, meia do Inter, nunca justificou seu talento na seleção de seu país. Os quatro eram craques e incontestáveis no futebol tupiniquim. O único dos “brasileiros” titulares era o lateral direito Víctor Diogo, do Palmeiras.
Mas havia em campo um craque capaz de mudar o curso de uma partida. Enzo Francescoli era o camisa 10 e o líder técnico dentro de campo. No entanto, a maior força uruguaia era a mística, a velha valentia, a pesada camisa celeste – sempre capaz de grandes façanhas.
Alzamendi dribla Schumacher e abre o placar (Imagem: Impromptuinc)
● Na prática, duas coisas mantiveram a Alemanha Ocidental na briga por títulos na década de 1980: tradição e Rummenigge.
No Grupo 2 da qualificatória europeia, se classificou como líder, com Portugal em segundo e deixando Suécia e Tchecoslováquia fora do Mundial.
A Nationalelf viajou para o México sem a confiança de sua torcida. Em pesquisa feita pela antiga revista Quick, apenas 12% dos conterrâneos acreditavam no título mundial. A falta de confiança é mais pelo modo crítico dos alemães de verem as coisas do que propriamente pelos últimos resultados.
Treinada por Franz Beckenbauer, os alemães sempre entram em qualquer disputa para vencer. Vencedor dentro de campo, o Kaiser queria se provar também fora dele. E havia material humano para isso.
Embora às vezes violento e temperamental, o goleiro “Toni” Schumacher estava entre os melhores da Europa. A defesa era consistente, com destaque para o polivalente panzer Briegel, que podia jogar na defesa, na lateral e no meio campo. No meio, Matthäus dava consistência e Magath o tom de criatividade. No ataque, Völler se recuperou totalmente de uma grave distensão muscular que sofreu em novembro passado. Mas o grande fator de desequilíbrio continuava sendo o velho Karl-Heinz Rummenigge, que vinha de seguidas contusões.
Na Copa em que a Dinamarca apresentou o 3-5-2 ao mundo como novidade tática, outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. A Alemanha jogava em um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. O lateral esquerdo Briegel fazia o papel de um terceiro zagueiro, a fim de liberar o outro lateral, Berthold, que apoiava um pouquinho mais pela direita, fazendo o contra-peso do meia esquerda Brehme. Matthäus era o “todo-campista” indo de área a área. Eder marcava para Magath armar as jogadas para os atacantes Klaus Allofs e Rudi Völler.
O Uruguai atuava no 4-4-2, com um jogador na sobra na defesa (como era mania na época). Francescoli tinha liberdade para circular e criar para os rápidos atacantes Alzamendi e Da Silva.
● Ao meio-dia a bola rolou no estádio La Corregidora, em Querétaro. Mais de 30 pessoas viram duas falhas defensivas resolverem a partida.
O Uruguai abriu o placar rapidamente, graças a uma falha grotesca. Logo aos quatro minutos de jogo, a Alemanha trocava passes na intermediária até que Norbert Eder tentou recuar para o goleiro. Uma tremenda burrice! A bola caiu no pé de Antonio Alzamendi, que entrou em velocidade, deixou Klaus Augenthaler no chão, invadiu a área, driblou Schumacher e chutou. A bola tocou no travessão e caiu após a linha do gol, antes de Briegel afastar de bicicleta. A bola entrou. Gol legal, confirmado pelo árbitro tchecoslovaco Vojtěch Christov.
Die Mannschaft acordou e começou a atacar. Pouco depois de sofrer o gol, Matthäus chutou forte do lado direito e Fernando Álvez teve dificuldades para jogar para escanteio.
Na sequência, Augenthaler fez um ótimo lançamento para Rudi Völler, que ganhou da marcação e chutou para boa defesa do arqueiro celeste.
Depois, os sul-americanos se fecharam começaram a puxar contra-ataques perigosos. Aos 16′, Francescoli criou a jogada e Alzamendi abriu para Da Silva chutar por cima.
Três minutos depois, Alzamendi puxou o contragolpe e correu o campo todo, mas foi travado por Augenthaler na hora H.
No início do segundo tempo, Francescoli ia fazendo fila na defesa germânica, mas Augenthaler (sempre ele), fez falta na risca da grande área, impedindo um golaço.
Aos 35′, Francescoli chegou a driblar Schumacher e chutar para fora. O Uruguai ia desperdiçando chances preciosas.
No lance seguinte, Rummenigge (que entrou no segundo tempo) cruzou da esquerda para cabeçada forte de Thomas Berthold, mas Álvez fez uma ótima defesa.
Aos 39′ do segundo tempo, após cobrança de escanteio dos alemães, a bola viajou no alto de uma intermediária a outra por duas vezes até que Augenthaler cortou de cabeça do meio campo. A bola viajou até a área uruguaia e a zaga não cortou. Klaus Allofs foi oportunista e chutou de esquerda, rasteiro e cruzado, no cantinho de Álvez, empatando a partida.
Allofs faz o gol de empate (Imagem: Impromptuinc)
● Após o empate com os alemães, o Uruguai foi massacrado pela “Dinamáquina” por 6 x 1 e empatou sem gols com a Escócia. Mesmo sem nenhuma vitória, passou de fase como um dos melhores terceiros colocados e enfrentou a Argentina nas oitavas de final. No clássico sul-americano, não conseguiu parar o imparável Maradona e foi eliminada após derrota por 1 x 0.
Na primeira fase, a Alemanha Ocidental se classificou em segundo lugar no Grupo E, com três pontos: empatou com o Uruguai (1 x 1), venceu a Escócia (2 x 1) e perdeu para a Dinamarca (2 x 0). Nas oitavas, penou para passar pelo Marrocos (1 x 0). Nas quartas, passou sufoco, vencendo o México apenas nos pênaltis por 4 a 1, após um empate sem gols. Fez seu melhor jogo na semifinal, vencendo a favorita França por 2 a 0. Na decisão, buscou um improvável empate, mas sofreu o gol derradeiro de Jorge Burruchaga nos minutos finais, após mais uma jogada genial de Maradona. A Argentina venceu por 3 x 2 e conquistou seu segundo título, deixando a Alemanha com seu segundo vice-campeonato consecutivo.
O Uruguai continuou freguês da Alemanha. Em dez duelos, nunca venceu uma partida (oito derrotas e dois empates). A única vitória ocorreu no primeiro duelo: 4 x 1 na primeira fase dos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã, com o time base que se tornaria o primeiro campeão do mundo dois anos depois.
(Imagem: impromptuinc.wordpress.com)
● FICHA TÉCNICA: |
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ALEMANHA OCIDENTAL 1 x 1 URUGUAI |
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Data: 04/06/1986 Horário: 12h00 locais Estádio: La Corregidora Público: 30.500 Cidade: Querétaro (México) Árbitro: Vojtěch Christov (Tchecoslováquia) |
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ALEMANHA OCIDENTAL (4-4-2): |
URUGUAI (4-4-2): |
1 Harald Schumacher (G)(C) |
12 Fernando Álvez (G) |
14 Thomas Berthold |
4 Víctor Diogo |
4 Karlheinz Förster |
2 Nelson Gutiérrez |
15 Klaus Augenthaler |
3 Eduardo Mario Acevedo |
2 Hans-Peter Briegel |
6 José Batista |
6 Norbert Eder |
5 Miguel Bossio |
8 Lothar Matthäus |
8 Jorge Barrios (C) |
3 Andreas Brehme |
11 Sergio Santín |
10 Felix Magath |
10 Enzo Francescoli |
19 Klaus Allofs |
9 Jorge Orosmán da Silva |
9 Rudi Völler |
7 Antonio Alzamendi |
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Técnico: Franz Beckenbauer |
Técnico: Omar Borrás |
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SUPLENTES: |
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12 Uli Stein (G) |
1 Rodolfo Rodríguez (G) |
22 Eike Immel (G) |
22 Celso Otero (G) |
17 Ditmar Jakobs |
13 César Veja |
5 Matthias Herget |
14 Darío Pereyra |
16 Olaf Thon |
15 Eliseo Rivero |
13 Karl Allgöwer |
16 Mario Saralegui |
21 Wolfgang Rolff |
17 José Zalazar |
18 Uwe Rahn |
18 Rubén Paz |
7 Pierre Littbarski |
19 Venancio Ramos |
20 Dieter Hoeneß |
20 Carlos Aguilera |
11 Karl-Heinz Rummenigge |
21 Wilmar Cabrera |
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GOLS: |
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4′ Antonio Alzamendi (URU) |
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84′ Klaus Allofs (ALE) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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28′ Víctor Diogo (URU) |
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62′ Mario Saralegui (URU) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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INTERVALO Andreas Brehme (ALE) ↓ |
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Pierre Littbarski (ALE) ↑ |
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56′ Jorge Barrios (URU) ↓ |
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Mario Saralegui (URU) ↑ |
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75′ Lothar Matthäus (ALE) ↓ |
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Karl-Heinz Rummenigge (ALE) ↑ |
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80′ Antonio Alzamendi (URU) ↓ |
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Venancio Ramos (URU) ↑ |
Melhores momentos da partida (em espanhol):
Gols do jogo (em inglês):
Partida completa (em inglês):
Três pontos sobre…
… 01/06/2002 – Dinamarca 2 x 1 Uruguai
Darío Rodríguez marcou um golaço (Imagem: Reuters)
● Na abertura da Copa do Mundo de 2002 e primeira partida do Grupo A, Senegal surpreendeu a França e venceu por 1 a 0.
No segundo jogo da chave, Dinamarca e Uruguai se enfrentaram no dia 1º de junho em Ulsan.
Internamente, os jogadores da Celeste Olímpica queriam vingança pela derrota por 6 a 1 na Copa de 1986. Aquele massacre sofrido ainda estava entalado na garganta.
Bicampeões, os uruguaios estavam ausentes de um Mundial desde 1990. Por isso, não foi cabeça de chave e caiu em um grupo difícil.
Os dinamarqueses estavam em sua terceira Copa, sendo a segunda consecutiva. Haviam chegado nas quartas de final em 1998, quando venderam caro a derrota de 3 a 2 para o Brasil.
O técnico Morten Olsen armava seu time no 4-4-2, com muita velocidade pelas pontas e jogadas aéreas.
Víctor Púa armava o Uruguai no sistema 4-4-2 em losango, com liberdade para Álvaro Recoba circular e criar.
● Foi uma partida de muito equilíbrio, onde as duas equipes se alternavam no ataque.
As maiores armas dos charruas eram a visão de jogo e a bola parada de Álvaro Recoba, além da velocidade de Darío Silva. Os vikings apostavam mais nos cruzamentos para a área.
A primeira chance foi dos europeus. Aos seis minutos, Dennis Rommedahl arriscou de longe, mas para fora.
No minuto seguinte, Recoba cobrou falta pelo lado direito e a bola passou rente à trave, assustando o ótimo goleiro Thomas Sørensen.
O jogo era “lá e cá”. Aos 11′, a bola veio da direita, Ebbe Sand desviou e a bola bateu na trave.
Aos 39, Recoba – fonte da inspiração Celeste – fez boa jogada e cruzou para Silva, que cabeceou. A bola iria em direção ao gol, mas a zaga tirou.
O lance seguiu e Gustavo Méndez segurou Tomasson na área. Pênalti ignorado pelo árbitro Saad Mane, do Kuwait.
No finzinho da etapa inicial, Jesper Grønkjær e Jon Dahl Tomasson tabelaram pelo alto. O camisa 8, nascido na Groenlândia, recebeu na esquerda e cruzou rasteiro. Na risca da área, Tomasson se antecipou à marcação e finalizou de primeira para abrir o placar.
A Dinamarca teve apenas o intervalo para comemorar. Logo no reinício, aos dois minutos, Recoba cobrou escanteio e a zaga rebateu. Pablo García aproveitou a sobra na meia-lua, fez embaixadinhas e tocou no alto para Darío Rodríguez. Sem deixar a bola cair, o camisa 6 emendou de primeira e mandou um foguete com efeito, no ângulo de Sørensen. Um golaço! Talvez o mais bonito da Copa de 2002.
O gol encheu os uruguaios de esperança. Aos 19, Recoba chutou de longe, mas o goleiro defendeu.
Os dinamarqueses tinham mais posse de bola no campo ofensivo, mas não conseguiam finalizar.
Mas, a sete minutos do fim, Martin Jørgensen roubou a bola na saída de jogo do Uruguai e cruzou da esquerda. Tomasson apareceu entre os zagueiros e cabeceou firme. A bola ainda bateu no travessão antes de entrar, sem chance de defesa para o goleiro Fabián Carini. Jon Dahl Tomasson foi mais que decisivo na vitória dos nórdicos.
(Imagem: Pinterest)
● Nos jogos seguintes, o Uruguai empatou com a França por 0 a 0 e com Senegal por 3 a 3, sendo eliminado ainda na primeira fase.
A Dinamarca empatou com Senegal por 1 x 1 e venceu a França (com um combalido Zinédine Zidane) por 2 x 0. Nas oitavas de final, não foi páreo para a Inglaterra e foi eliminada com a derrota por 3 a 0.
(Imagem: Reuters)
● FICHA TÉCNICA: |
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DINAMARCA 2 x 1 URUGUAI |
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Data: 01/06/2002 Horário: 18h00 locais Estádio: Munsu Cup Stadium Público: 30.157 Cidade: Ulsan (Coreia do Sul) Árbitro: Saad Mane (Kuwait) |
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DINAMARCA (4-4-2): |
URUGUAI (4-4-2): |
1 Thomas Sørensen (G) |
1 Fabián Carini (G) |
6 Thomas Helveg |
2 Gustavo Méndez |
4 Martin Laursen |
14 Gonzalo Sorondo |
3 René Henriksen |
4 Paolo Montero (C) |
5 Jan Heintze (C) |
6 Darío Rodríguez |
2 Stig Tøfting |
5 Pablo García |
7 Thomas Gravesen |
8 Gustavo Varela |
8 Jesper Grønkjær |
7 Gianni Guigou |
19 Dennis Rommedahl |
20 Álvaro Recoba |
9 Jon Dahl Tomasson |
9 Darío Silva |
11 Ebbe Sand |
13 Sebastián “Loco” Abreu |
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Técnico: Morten Olsen |
Técnico: Víctor Púa |
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SUPLENTES: |
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16 Peter Kjær (G) |
12 Gustavo Munúa (G) |
22 Jesper Christiansen (G) |
23 Federico Elduayen (G) |
20 Kasper Bøgelund |
3 Alejandro Lembo |
13 Steven Lustü |
19 Joe Bizera |
12 Niclas Jensen |
22 Gonzalo de los Santos |
17 Christian Poulsen |
16 Marcelo Romero |
23 Brian Steen Nielsen |
10 Fabián O’Neill |
15 Jan Michaelsen |
17 Mario Regueiro |
14 Claus Jensen |
15 Nicolás Olivera |
10 Martin Jørgensen |
21 Diego Forlán |
21 Peter Madsen |
11 Federico Magallanes |
18 Peter Løvenkrands |
18 Richard Morales |
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GOLS: |
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45′ Jon Dahl Tomasson (DIN) |
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47′ Darío Rodríguez (URU) |
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83′ Jon Dahl Tomasson (DIN) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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25′ Gustavo Méndez (URU) |
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34′ Jan Heintze (DIN) |
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51′ Martin Laursen (DIN) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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58′ Jan Heintze (DIN) ↓ |
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Niclas Jensen (DIN) ↑ |
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70′ Jesper Grønkjær (DIN) ↓ |
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Martin Jørgensen (DIN) ↑ |
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80′ Álvaro Recoba (URU) ↓ |
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Mario Regueiro (URU) ↑ |
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87′ Darío Rodríguez (URU) ↓ |
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Federico Magallanes (URU) ↑ |
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88′ Sebastián “Loco” Abreu (URU) ↓ |
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Richard Morales (URU) ↑ |
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89′ Ebbe Sand (DIN) ↓ |
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Christian Poulsen (DIN) ↑ |
Darío Silva, entre Ebbe Sand e Stig Tøfting (Imagem: Reuters)
Melhores momentos da partida:
Três pontos sobre…
… 30/05/1962 – Uruguai 2 x 1 Colômbia
(Imagem: Fútbol Red)
● Atualmente estamos acostumados aos sorteios dirigidos que a FIFA faz para determinar os grupos da primeira fase das Copas do Mundo. Uma das regras é evitar que caiam mais de uma equipe do mesmo continente no mesmo grupo. Não era assim em 1962. Tanto, que os sul-americanos Uruguai e Colômbia foram sorteados para se enfrentarem logo de cara, em partida válida pelo Grupo 1.
O Uruguai voltava à disputa de um Mundial, após ter ficado de fora em 1958, quando caiu para o Paraguai nas eliminatórias. A experiência pelos dois títulos anteriores (1930 e 1950) e o confronto direto davam um enorme favoritismo diante da Colômbia.
Os cafeteros estreavam em Copas do Mundo. Eliminaram o Peru na fase classificatória. Curiosamente, a cidade escolhida para sede do grupo foi Arica, no norte do Chile, justamente por ser próxima ao Peru. Os organizadores tinham certeza da classificação peruana, mas a Colômbia “estragou” o planejamento feito.
Com isso, apenas 7.908 pessoas assistiram o confronto no estádio Carlos Dittborn. Segundo a imprensa, o alto preço dos ingressos foi o principal responsável pelo baixo público – composto em sua maioria por chilenos e peruanos.
Os dois times atuavam no sistema tático 4-2-4.
● Desde aquela época, o futebol colombiano era baseado mais na técnica do que na força física e velocidade. E os abusados estreantes foram melhores no primeiro tempo, com mais posse de bola e boas trocas de passe. E mereceram abrir o placar.
Com 19 minutos jogados, o capitão Francisco “Cobo” Zuluaga abriu o placar cobrando pênalti. Bola à meia altura, no canto esquerdo, deslocando o goleiro Roberto Sosa.
A Colômbia ainda teve chances para ampliar o marcador. No fim do primeiro tempo, Marcos Coll acertou a trave. O Uruguai não conseguia criar chances.
Na etapa final, a Celeste (que naquele dia jogou de vermelho) se agigantou. Aos 11′, o craque Luis Cubilla dominou dentro da área e cruzou rasteiro para o centroavante José Sasía só completar para o fundo da rede do goleiro Efraín “Caimán” Sánchez.
Minutos depois, após uma cobrança de escanteio, Sasía atingiu as costas de Zuluaga e lhe quebrou três costelas. Sem condições de jogo, ele teve que sair do jogo. Com isso, a Colômbia perdia não apenas um atleta, mas o seu capitão, que dava as ordens dentro de campo.
Para piorar, Delio “Maravilla” Gamboa também se lesionou e precisou sair. Como não haviam substituições à época, o time colombiano ficou com nove homens em campo. Com dois a menos, era difícil que os cafeteros segurassem o ímpeto charrua. Era uma luta desigual. Foi muito duro para eles perderem seu capitão e sua maior estrela.
E a inevitável virada ocorreu aos 30. O jovem Pedro Rocha (futuro ídolo do São Paulo FC), de apenas 19 anos, recebeu dentro da área e rolou para Cubilla dominar e bater cruzado e fechar o placar.
(Imagem: FIFA)
● “Estivemos bem. Perdemos para a experiência do qualificado rival, que cresceu no segundo tempo.” — Delio “Maravilla” Gamboa, centroavante colombiano.
“Pagamos o preço pela primeira participação em um Mundial. Tivemos uma boa equipe, que perdeu por nervosismo e falta de experiência.” — Adolfo Pedernera, técnico argentino que dirigiu a Colômbia (e foi um excepcional jogador na década de 1940).
Embora decepcionados pela forma como perderam, os colombianos ainda protagonizaram um elétrico empate por 4 a 4 com os soviéticos na rodada seguinte. Só decepcionaram mesmo ao se despedirem do torneio sofrendo uma goleada por 5 a 0 para os iugoslavos. Ainda assim, na chegada à Bogotá, o público fez festa para receber “los pioneros”.
O Uruguai também decepcionou e caiu na primeira fase. Nos jogos seguintes, perdeu para a Iugoslávia por 3 x 1 e para a União Soviética por 2 x 1.
(Imagem: Jornal “El Tiempo”)
● FICHA TÉCNICA: |
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URUGUAI 2 x 1 COLÔMBIA |
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Data: 30/05/1962 Horário: 15h00 locais Estádio: Carlos Dittborn Público: 7.908 Cidade: Arica (Chile) Árbitro: Andor Dorogi (Hungria) |
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URUGUAI (4-2-4): |
COLÔMBIA (4-2-4): |
1 Roberto Sosa (G) |
1 Efraín Sánchez (G) |
4 Omar Méndez |
3 Francisco Zuluaga (C) |
2 Horacio Troche (C) |
8 Hector Echeverri |
3 Emilio Álvarez |
5 Jaime González |
18 Eliseo Álvarez |
11 Óscar López |
5 Néstor Gonçalves |
9 Jaime Silva |
19 Ronald Langón |
13 Germán Aceros |
11 Luis Cubilla |
15 Marcos Coll |
9 José Sasía |
17 Marino Klinger |
10 Pedro Rocha |
19 Delio Gamboa |
7 Domingo Pérez |
22 Jairo Arias |
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Técnico: Juan Carlos Corazzo |
Técnico: Adolfo Pedernera |
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SUPLENTES: |
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12 Luis Maidana (G) |
2 Adelmo Vivas (G) |
14 William Martínez |
4 Aníbal Alzate |
15 Rubén Soria |
6 Ignacio Calle |
17 Rubén González |
7 Carlos Aponte |
20 Mario Bergara |
16 Ignacio Pérez |
6 Pedro Cubilla |
10 Rolando Serrano |
8 Julio César Cortés |
12 Hernando Tovar |
16 Edgardo González |
14 Luis Paz |
21 Héctor Silva |
18 Eusebio Escobar |
22 Ángel Cabrera |
20 Antonio Rada |
23 Guillermo Escalada |
21 Héctor González |
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GOLS: |
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19′ Francisco Zuluaga (COL) (pen) |
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56′ José Sasía (URU) |
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75′ Luis Cubilla (URU) |
Alguns lances da partida:
Três pontos sobre…
… 29/05/1919 – Brasil 1 x 0 Uruguai
Em pé: Píndaro, Sérgio, Marcos, Fortes, Bianco e Amílcar. Agachados: Millon, Neco, Friedenreich, Heitor e Arnaldo. (Imagem: O Malho)
● O Brasil foi a sede da terceira edição do Campeonato Sul-Americano de futebol (atual Copa América). Esse foi o ponto chave de inclusão da massa no futebol brasileiro. E um simples esporte, um relés jogo de bola mudou para sempre o jeito de ser do brasileiro, representando a inclusão do povão em uma modalidade antes reservada às elites. E, desde então, os governantes perceberam o poder do futebol e passaram a capitalizar sobre suas vitórias. Era a já centenária política de “pão e circo”.
Antes de tudo, é necessário tentar compreender um pouco de como era o Brasil cem anos atrás. Era um país bem menos igualitário, em que o poder da elite predominava sobre as massas ainda mais do que é hoje em dia. Uma nação sem identidade, que era conduzida com mãos de ferro por barões e coronéis. A Lei Áurea havia sido assinada há pouco mais de trinta anos. Os negros, mestiços e pobres não tinham “direito” de praticar o futebol.
Até o fim da década de 1910, para praticar o esporte sem ser malvisto era preciso estudar ou trabalhar. Via de regra, os treinos aconteciam após o expediente ou em dias de folga, tendo como objetivo se preparar para o jogo do final de semana. Os “atletas” geralmente trabalhavam em firmas estrangeiras ou faziam faculdade. Nunca se imaginava que alguém poderia ganhar a vida com isso, receber exclusivamente para praticar futebol.
Pouco a pouco, a paixão pela bola foi se espalhando pelas periferias e atingiu o grande público. E o povão foi levando jeito para a coisa. Com o tempo, os clubes elitistas acabaram abrindo as portas para os brancos pobres e, depois, para os mulatos e negros. O importante já passava a ser fortalecer o time. Era o início das rivalidades locais, hoje tão enraizadas.
(Imagem: CBF)
● O Campeonato Sul-Americano de 1919 estava marcado para acontecer em 1918, no Rio de Janeiro. Mas uma devastadora epidemia de gripe espanhola obrigou o adiamento da competição. O vírus foi responsável por milhares de mortes no Brasil e cerca de 40 milhões em todo o mundo. Escolas e comércio foram fechados para diminuir o contágio. Relatos da época contam que os caminhões da Saúde Pública percorriam as ruas das cidades para recolher corpos deixados às portas das casas. Mas, felizmente, a partir de 1919, o Brasil foi totalmente infestado por outro vírus: o do futebol.
Situado no Rio de Janeiro, então capital federal, o estádio das Laranjeiras, propriedade do Fluminense FC, foi construído para ser palco do Campeonato Sul-Americano. Era o maior estádio da América Latina, mas pequeno diante do surpreendente interesse do público pela competição.
Foi inaugurado em 11/05/1919, na abertura do campeonato, quando o Brasil goleou o Chile por 6 x 0, com um hat-trick de Friedenreich, dois gols de Neco e um de Haroldo.
Uma semana depois, a Seleção venceu a Argentina por 3 x 1, com gols de Heitor, Amílcar e Millon.
Na última rodada, dia 26, o Brasil enfrentou o Uruguai e empatou por 2 x 2, após sair perdendo por 2 a 0. Neco fez os dois gols brasileiros.
Com isso, Brasil e Uruguai terminaram o campeonato empatados com cinco pontos (duas vitórias e um empate). Os charruas haviam vencido a Argentina por 3 a 2 e o Chile por 2 a 0. Assim, precisariam disputar um jogo desempate três dias depois.
O time uruguaio era a mesma base que havia vencido os dois primeiros Sul-Americanos e era grande favorito para vencer o terceiro. As futuras medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928, além do título da primeira Copa do Mundo, em 1930, foram frutos colhidos pelo espírito de competitividade e pela organização uruguaia desde os primórdios. E o símbolo dessa transição vitoriosa era Héctor Scarone, um jovem de 20 anos naquele longínquo 1919 e um dos veteranos em 1930.
(Imagem: CBF)
● No dia 29/05/1919, em plena quinta-feira à tarde, o Rio parou. Por ordem de Delfim Moreira, presidente da República, as repartições públicas tiveram ponto facultativo e o comércio fechou suas portas ao meio-dia. Os bancos nem abriram.
Mesmo tendo capacidade para “apenas” 18 mil expectadores, o público oficial da decisão foi de mais de 28 mil – uma superlotação que se tornaria costumeira. Mas o desejo de assistir à final era tão grande, que quem não conseguiu adquirir seu ingresso escalou o morro vizinho e acompanhou a partida de lá mesmo. Naquele momento, começou-se algo que se tornaria também a marca do nosso povo: o “jeitinho brasileiro”.
Outra coisa marcante também e, até então inédita, foi a mistura do povo simples com os endinheirados. Agora, choravam e sorriam juntos, se abraçavam… começando a quebrar preconceitos. Era a democratização do futebol. E, paradoxalmente, o futebol sendo usado para democratizar. O esporte elitizado pelos ricos e brancos, passava a fazer parte da vida dos menos favorecidos. E todos unidos em dois objetivos: torcer para seu país e ser hostil aos rivais. O brasileiro queria a taça a qualquer custo para mostrar seu valor – nem que fosse através do futebol.
Os cavalheiros vestiam terno com gravata (na maioria borboleta) e chapéus – que, na comemoração dos gols, voavam das arquibancadas. As damas usavam vestidos bordados de seda e luvas, que no auge da aflição eram tiradas e torcidas a cada perigo de gol. Vem daí a origem do verbo “torcer” no esporte.
Houve uma espécie de catarse coletiva que envolveu toda a população. No decorrer das partidas, os ânimos ficavam exaltados e o futebol ganhava contornos de paixão. Na tentativa de evitar maiores problemas, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos, que depois se tornaria a CBF) pediu para que o policiamento no estádio fosse reforçado, evitando invasões ao campo.
Tanto Brasil quanto Uruguai jogavam no tradicional sistema tático clássico, 2-3-5 ou pirâmide.
● O início da partida foi um verdadeiro jogo de xadrez. A preocupação inicial das duas equipes era não sofrer gols. Tanto, que nenhuma grande chance foi criada no primeiro tempo e os goleiros foram meros expectadores.
Mas tudo mudou na segunda etapa. Com o cansaço dos atletas, as oportunidades começaram a surgir. Romano chuta forte e Marcos espalma para a linha de fundo. Friedenreich responde e obriga Saporiti a defender. Desde então, os goleiros não mais pararam de trabalhar. Heitor e Neco obrigaram o arqueiro uruguaio a fazer grandes defesas. Marcos também foi testado em um chute de primeira de Morán.
O passar do tempo causava uma angústia enorme na torcida, como nunca antes. A incerteza reinava e o jogo era lá e cá. Fried e Heitor tentaram, mas não conseguiram acabar com essa agonia. Isabelino Gradín, o único negro do Uruguai, melhor jogador do time e principal responsável pelas conquistas anteriores, chutou firme e Marcos pegou.
Como o empate prevaleceu ao fim dos 90 minutos, eram necessárias sucessivas prorrogações até que houvesse um vencedor. Mas os jogadores estavam destruídos fisicamente. Se atualmente os atletas sofrem com o tempo extra, imagine há cem anos, quando a preparação física era ainda incipiente. E ainda não eram permitidas as substituições. Agora, a vitória era mais uma questão de honra patriótica para ambos os lados.
O duelo continuou. Scarone passou pela marcação e chutou forte no canto. Em um voo espetacular, Marcos Carneiro de Mendonça conseguiu espalmar pela linha de fundo. Em suas memórias, o legendário goleiro afirmaria: “Foi a defesa mais difícil e importante da minha vida”. E talvez seja a mais fundamental de todo o futebol brasileiro. Sem ela, não haveria mais trinta extenuantes minutos de um novo tempo extra.
(Imagem: CBF)
● E, depois de mais de duas horas de jogo, o tão esperado grito de gol saiu da garganta logo aos três minutos da segunda prorrogação. Neco avançou pela direita marcado por Foglino, foi até a linha de fundo e cruzou. Heitor chutou em cima de Saporiti, que socou a bola para fora da área. Mas Friedenreich acompanhava a jogada e bateu de primeira, à meia altura, no canto do goleiro celeste.
O recém construído estádio das Laranjeiras quase veio abaixo. Os expectadores foram ao delírio, gritando, se abraçando e jogando seus chapéus para o alto. Os jogadores se abraçavam e beijavam Fried.
A vantagem no placar deu ânimo aos brasileiros, que permaneciam no ataque para tentar matar o jogo. Mas ele ainda não tinha acabado e o adversário era o Uruguai, que jamais se entrega em nenhuma peleja. Ainda restavam metade do primeiro tempo e todo o segundo.
Nos minutos finais, os uruguaios não se conformavam com a derrota e estavam irritados. Quase houve uma briga. O início, segundo o jornal “O Imparcial”, foi a provocação de um torcedor. “Scarone comete um foul na linha de fundo, do lado das gerais. Um popular diz-lhe qualquer coisa que não pudemos ouvir. O jogador uruguaio parte para tentar agredir o mesmo popular. A polícia intervém. Scarone e Gradim ameaçam deixar o campo. Os outros jogadores orientais não concordam e eles são demovidos dessa idéia.”
No recomeço, a pressão uruguaia aumenta e Marcos defende um último chute de Gradín. Já eram 17h25 e não restava mais tempo. Já estava começando a escurecer no Rio de Janeiro. E, enfim, o árbitro argentino Juan Pedro Barbera apita o fim da partida. O estádio é imediatamente invadido, se transformando em um grande palco de comemoração, em uma celebração que se arrastaria por toda a capital federal. Os mais festejados eram Arthur Friedenreich, autor do gol, e Marcos Carneiro de Mendonça, responsável por defesas milagrosas.
(Imagem: CBF)
● Um inédito e estranho orgulho de ser brasileiro se embrenhava por toda aquela gente. E tudo isso por um simples jogo de futebol. Aos poucos os torcedores foram deixando o estádio e contando o resultado do jogo a quem encontrasse. A boa notícia foi se espalhando pelos bondes, em frente às redações dos jornais, em toda a cidade. Em alguns dias, as filmagens do duelo estavam nas salas de projeção das principais cidades brasileiras. Todos queriam ver seu país vencedor.
A bola do jogo, com a assinatura de todos os jogadores, foi guardada numa redoma de vidro da antiga sede da CBD, como um troféu. A chuteira de Friedenreich, ainda suja de lama, ficou em exposição pública na vitrine de uma loja de luxo na rua do Ouvidor, no centro do Rio de Janeiro.
Para comemorar a conquista, o então jovem instrumentista Pixinguinha (apaixonado por futebol) e seu parceiro, o flautista Benedito Lacerda, compuseram a melodia do chorinho “1 a 0”. Só em 1993, Nelson Angelo escreveu uma letra para essa música, sobre futebol, mas sem nenhuma referência ao jogo que a inspirou.
Marcos Carneiro de Mendonça foi também o primeiro goleiro da Seleção Brasileira. É o mais jovem a defender o gol do Brasil, aos 19 anos. Pelo escrete nacional, foram dez jogos e 15 gols sofridos (uma bela média para a época). Lenda do Fluminense, o arqueiro era conhecido como “Fita Roxa”. Ele usava um uniforme estiloso, todo branco e com a referida fita roxa como um cinto, para prender o calção. Era considerado galã e arrancava suspiros do público feminino. Ao encerrar a carreira, foi historiador e presidente do Fluminense. Era pai de Bárbara Heliodora Carneiro de Mendonça, professora, ensaísta, tradutora e crítica de teatro brasileira, uma especialista e grande conhecedora da obra de William Shakespeare.
Filho de um comerciante alemão e de uma lavadeira negra brasileira, Arthur Friedenreich foi a primeira grande estrela do futebol brasileiro em tempos de amadorismo. Autor do gol do título, ele foi humilde ao comentá-lo: “O gol foi do Neco, que fez uma jogada belíssima. Eu apenas tive o trabalho de chutá-la. Nada mais.” Ao fim da partida, o centroavante recebeu um pergaminho das mãos do capitão uruguaio com os dizeres: “Nós, os componentes da seleção uruguaia, concedemos ao senhor Arthur Friedenreich, o título de El Tigre por ser o mais perfeito centroavante do campeonato Sul-Americano”. Friedenreich mereceu e chorou de emoção.
Mas Fried quase ficou fora da grande decisão. Na noite anterior, ele recebeu uma homenagem em uma casa no Catete chamada “Flor do Abacate”. Ele pulou o muro do alojamento e foi para o evento mesmo com a proibição pela comissão técnica. Houve uma crise no vestiário, mas não a ponto de barrar o astro da partida.
Nada mais genuíno do que um mulato marcar o gol decisivo do primeiro título da história de nosso país. Fried não era branco e nem era negro: era o encontro das duas raças que simboliza a junção de culturas do país até os dias de hoje. Ele foi o responsável pela primeira grande alegria do futebol brasileiro.
E o Brasil se rendeu definitivamente às emoções do futebol, passando a ter seu próprio estilo de praticar o esporte: pouca disposição tática e física, mas com muito “molejo, picardia e a dança da capoeira” (disse certa vez Gilberto Freyre). O Brasil foi se tornando o país do futebol. As derrotas nos moldaram como “vira-latas” e as vitórias nos “assoberbam” até hoje. Para o brasileiro, o futebol não é caso de vida ou morte: é muito mais do que isso (como dizia Bill Shankly). O futebol passou a ser o termômetro da autoestima do povo. O futebol brasileiro passou a ser um patrimônio do povo.
(Imagem: CBF)
● FICHA TÉCNICA: |
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BRASIL 1 x 0 URUGUAI |
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Data: 29/05/1919 Horário: 14h00 locais Estádio: Laranjeiras Público: 28.000 Cidade: Rio de Janeiro (Brasil) Árbitro: Juan Pedro Barbera (Argentina) |
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BRASIL (2-3-5): |
URUGUAI (2-3-5): |
Marcos Carneiro de Mendonça (G) |
Cayetano Saporiti (G) |
Píndaro de Carvalho |
Manuel Varela |
Bianco Spartaco |
Alfredo Foglino |
Sérgio Pires |
Rogelio Naguil |
Amílcar Barbuy |
Alfredo Zibechi |
Fortes |
José Vanzzino |
Millon |
José Pérez |
Neco |
Héctor Scarone |
Arthur Friedenreich |
Ángel Romano |
Heitor Domingues |
Isabelino Gradín |
Arnaldo da Silveira (C) |
Rodolfo Marán |
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Técnico: Ground Committeé (comissão técnica formada por: Arnaldo da Silveira [capitão], Amílcar Barbuy, Mário Pollo, Affonso de Castro e Ferreira Vianna Netto). Em alguns registros, consta simplesmente: Haroldo Domingues |
Técnico: Severino |
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SUPLENTES: |
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Dyonísio (G) |
Roberto Chery (G) |
Primo Zanotta (G) |
José Benincasa |
Palamone |
Juan Delgado |
Laís |
Ricardo Medina |
Picagli |
Omar Pérez |
Martins |
Pascual Somma |
Galo |
Carlos Scarone |
Luiz Menezes |
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Carregal |
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Arlindo |
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Haroldo |
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GOL: 123′ Arthur Friedenreich (BRA) |
Vídeo sobre a partida:
Veja mais fotos:
(Imagem: CBF)
(Imagem: CBF)
(Imagem: CBF)
(Imagem: CBF)
(Imagem: CBF)
(Imagem: CBF)
Algumas matérias de jornais sobre o triunfo brasileiro:
O Imparcial (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)
O Imparcial (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)
O Paiz (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)
O Paiz (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)
Jornal do Brazil (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)
Gazeta de Notícias (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)
A Razão (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)
Correio da Manhã (Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx)
Três pontos sobre…
… 06/07/2018 – Uruguai 0 x 2 França
(Imagem: FIFA.com)
● O Uruguai é uma seleção bastante conhecida internacionalmente. É sabido que possui uma defesa extremamente segura, um meio campo marcador e pouco criativo e uma dupla de ataque entrosada e de nível mundial. No duelo de hoje faltou Edinson Cavani, simplesmente o melhor jogador do time nessa Copa do Mundo. Ele se lesionou na partida anterior, quando fez os dois gols contra Portugal, nas oitavas de final. Sem Cavani, faltou qualidade na criação e profundidade no ataque uruguaio. Se já não bastassem os problemas ofensivos, o goleiro Muslera não passava a menor confiança e ainda falhou feio no segundo gol francês.
A França estava desfalcada do meia Blaise Matuidi, suspenso pelo segundo cartão amarelo. Corentin Tolisso foi escalado no meio por Didier Deschamps. Mas o infernal trio de ataque estava completo: o craque Antoine Griezmann, o lépido Kylian Mbappé e Olivier Giroud, o homem de área.
O Uruguai jogou no tradicional 4-4-2. Cristhian Stuani não conseguiu suprir a ausência de Edinson Cavani.
Didier Deschamps escalou a França no 4-3-3. Sem a bola, Mbappé e Griezmann recuavam e o sistema se transformava no 4-2-3-1.
● Quem começou assustando foi o Uruguai. Aos cinco minutos, Stuani invadiu a área pela ponta direita e chutou cruzado, mas a bola foi para fora.
Aos 13′, Torreira cobrou escanteio bem aberto, Giménez cabeceou e Lloris saiu para socar a bola antes que um uruguaio a desviasse para o gol.
Um minuto depois, Pavard cruzou da direita na segunda trave, Giroud escorou para o meio, mas Mbappé cabeceou fraco e por cima do travessão.
Aos 35′, Vecino aproveitou um bate-rebate na área, dominou no peito e virou chutando, mas Lloris fez a defesa facilmente.
A França abriu o placar aos 40 minutos do primeiro tempo. Griezmann cobrou falta da intermediária pelo lado direito para a marca do pênalti. Varane se antecipou à marcação de Stuani e desviou de cabeça, no cantinho direito de Muslera. Mais um gol de bola parada anotado nessa Copa do Mundo.
Aos 44′, Torreira cobrou falta da meia direita e Cáceres cabeceou firme. Seria um gol certo. Mas Lloris fez uma das maiores defesas da história das Copas. O goleiro voou no cantinho direito e salvou os franceses. No rebote, Godín chegou chutando por cima, mas Lloris ainda foi para a dividida com ele.
No início do segundo tempo, Muslera começou a dar mostras de que entregaria o segundo gol francês.
No primeiro minuto, Godín recuou a bola, o goleiro ficou esperando ela no pé e Griezmann tentou roubá-la, mas ela se perdeu pela linha de fundo.
Mas o gol francês em falha de Muslera sairia de qualquer jeito. Aos 16′, Pogba roubou uma bola no meio campo, avançou e passou para Tolisso, que deixou com Griezmann pela esquerda. O francês arriscou um chute despretensioso e o goleiro aceitou. Um frango!
É inegável a importância de Muslera nessa geração que fez ressurgir o futebol uruguaio, mas ele falhou em um momento crucial da partida e da competição.
Com 2 a 0 no placar, Mbappé deu um toque de letra no meio do campo e Cebolla Rodríguez deixou o braço, dando um leve toque no peito do adversário. Luisito Suárez e Godín ficaram loucos, acusando o francês de simulação para ganhar tempo. O capitão uruguaio tentou levantar o garoto à força e aí começou a troca de empurrões e insultos de ambos os lados. O árbitro controlou bem e distribuiu cartão amarelo aos dois envolvidos no lance. Ao ser substituído, a torcida russa vaiou Mbappé e o comparou a Neymar.
Aos 27′, Tolisso chutou colocado e a bola passou por cima, chegando a assustar os uruguaios.
Depois, o jogo esfriou. A França não forçou para marcar o terceiro e o Uruguai não mostrava ter qualidade para marcar seu gol.
(Imagem: FIFA.com)
● O Uruguai demonstrou a mesma raça de sempre, mas falhou na marcação no primeiro gol. E teve a falha individual do goleiro Muslera no segundo. Além disso, a ausência de Edinson Cavani foi muito sentida no ataque charrua, que errou mais passes que o habitual e não conseguiu ser incisivo. Mesmo lutando, passou quase todo o segundo tempo sem dar um mísero chute a gol. Luis Suárez esteve muito apagado durante quase toda a Copa. Provou que o bom da dupla (ou pelo menos o mais dinâmico) é o Cavani.
A técnica do ataque francês se sobressaiu diante da forte marcação da defesa uruguaia. Les Bleus são os maiores favoritos ao título. Pelo menos é a seleção que está demonstrando mais qualidades para isso. Agora, enfrenta a Bélgica em uma semifinal que tende a ser espetacular.
(Imagem: FIFA.com)
● FICHA TÉCNICA: |
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URUGUAI 0 x 2 FRANÇA |
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Data: 06/07/2018 Horário: 17h00 locais Estádio: Nizhny Novgorod Stadium Público: 43.319 Cidade: Nizhny Novgorod (Rússia) Árbitro: Néstor Pitana (Argentina) |
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URUGUAI (4-4-2): |
FRANÇA (4-3-3): |
1 Fernando Muslera (G) |
1 Hugo Lloris (G)(C) |
22 Martín Cáceres |
2 Benjamin Pavard |
2 José Giménez |
4 Raphaël Varane |
3 Diego Godín (C) |
5 Samuel Umtiti |
17 Diego Laxalt |
21 Lucas Hernández |
14 Lucas Torreira |
13 N’Golo Kanté |
15 Matías Vecino |
6 Paul Pogba |
8 Nahitan Nández |
12 Corentin Tolisso |
6 Rodrigo Bentancur |
10 Kylian Mbappé |
11 Cristhian Stuani |
7 Antoine Griezmann |
9 Luis Suárez |
9 Olivier Giroud |
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Técnico: Óscar Tabárez |
Técnico: Didier Deschamps |
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SUPLENTES: |
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23 Martín Silva (G) |
16 Steve Mandanda (G) |
12 Martín Campaña (G) |
23 Alphonse Areola (G) |
19 Sebastián Coates |
19 Djibril Sidibé |
16 Maxi Pereira |
3 Presnel Kimpembe |
4 Guillermo Varela |
17 Adil Rami |
5 Carlos Sánchez |
22 Benjamin Mendy |
7 Cristian Rodríguez |
15 Steven Nzonzi |
10 Giorgian De Arrascaeta |
14 Blaise Matuidi (suspenso) |
20 Jonathan Urretaviscaya |
8 Thomas Lemar |
13 Gastón Silva |
18 Nabil Fekir |
18 Maxi Gómez |
20 Florian Thauvin |
21 Edinson Cavani (lesionado) |
11 Ousmane Dembélé |
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GOLS: |
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40′ Raphaël Varane (FRA) |
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61′ Antoine Griezmann (FRA) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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33′ Lucas Hernández (FRA) |
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38′ Rodrigo Bentancur (URU) |
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69′ Cristian Rodríguez (URU) |
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69′ Kylian Mbappé (FRA) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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59′ Cristhian Stuani (URU) ↓ |
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Maxi Gómez (URU) ↑ |
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59′ Rodrigo Bentancur (URU) ↓ |
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Cristian Rodríguez (URU) ↑ |
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73′ Nahitan Nández (URU) ↓ |
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Jonathan Urretaviscaya (URU) ↑ |
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80′ Corentin Tolisso (FRA) ↓ |
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Steven Nzonzi (FRA) ↑ |
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88′ Kylian Mbappé (FRA) ↓ |
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Ousmane Dembélé (FRA) ↑ |
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90+3′ Antoine Griezmann (FRA) ↓ |
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Nabil Fekir (FRA) ↑ |
Melhores momentos da partida: