… 15/06/1958 – Brasil 2 x 0 União Soviética

Três pontos sobre…
… 15/06/1958 – Brasil 2 x 0 União Soviética


(Imagem: FIFA)

● Na estreia, o Brasil havia vencido a Áustria com propriedade por 3 a 0. Depois, no segundo jogo, o empate sem gols e o ponto perdido contra a Inglaterra esfriou os ânimos e deixou os brasileiros apreensivos. Ainda assombrada pelo “complexo de vira-latas”, o fantasma dos jogos decisivos voltava a assombrar a Seleção Brasileira. E a última partida do Grupo 4 reservava um duro duelo com a temida União Soviética.

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A campanha soviética estava semelhante à brasileira: empate com a Inglaterra (2 x 2) e vitória sobre a Áustria (2 x 0). Assim, ambas equipes precisavam da vitória para se classificar de forma direta para as quartas de final. Foi a primeira partida entre os dois países na história.

Os soviéticos haviam conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956 e eram considerados favoritos. Mas tiveram dificuldades para se qualificarem para o Mundial na Suécia. No Grupo 6 das eliminatórias europeias, terminaram empatados em número de pontos com a Polônia e precisaram do jogo desempate, quando derrotaram os poloneses por 2 x 0 em Leipzig, na Alemanha Oriental.

A União Soviética iria disputar a sua primeira Copa sob imensa curiosidade de todo o mundo. Tudo que vinha da URSS tinha uma aura misteriosa e moderna que dava medo ao mundo ocidental, em todos os âmbitos: no esporte, na ciência, nos equipamentos bélicos e em tudo mais. Politicamente, protagonizava a Guerra Fria com os Estados Unidos. Intimidava os adversários com a camisa vermelha com a inscrição CCCP em letras garrafais. A sigla significava União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. No alfabeto cirílico, o C tem o som de S e o P de R. Assim, o original em russo era Союз Советских Социалистических Республик. A transcrição fonética no alfabeto latino era Soyuz Sovetskikh Sotsialisticheskikh Respublik e causava temor apenas a simples tentativa de pronunciar tudo isso. O brasileiro, que faz piada com tudo, dizia que o significado era “Cuidado, Camarada, com o Crioulo Pelé”.

O time soviético começava sua escalação com seu maior nome em todos os tempos. O camisa 1 era Lev Yashin, que estamparia o pôster oficial do Mundial de 2018, na Rússia. Com o uniforme todo preto e camisa de mangas longas, ganhou o apelido de “Aranha Negra” na América do Sul e “Pantera Negra” na Europa. Ele foi o primeiro a usar luvas de couro para proteger as mãos em um jogo de Copa. Até hoje ele é considerado pela maioria dos especialistas o melhor goleiro da história do futebol. Ele ainda disputaria as três Copas seguintes (1962, 1966 e 1970 – esta última já veterano como reserva, mais como uma homenagem).

O time praticava o chamado “futebol científico”, em que os atletas estavam preparados para correr sem parar durante 180 minutos e ainda ficarem inteiros para mais. A lenda dizia que eles faziam quatro horas de ginástica pela manhã em dia de jogo. Dizia-se que a KGB tinha espiões espalhados por todo o mundo filmando os adversários e que seus “cérebros eletrônicos” (computadores) haviam produzido um sistema perfeito para derrotar qualquer equipe. Segundo uma história contada na época, a comissão técnica soviética teria cruzado os dados dos rivais em computadores e, após os cálculos, o país seria campeão do mundo.

Ninguém se preocupou em refazer os cálculos quando chegou a notícia de que o Brasil jogaria sem Dino Sani, Joel e Mazzola – que jogaram bem nas primeiras partidas. Eles dariam lugar a “um tal de Zito”, um aleijado de pernas tortas e um moleque negro de 17 anos.


(Imagem: Estadão)

● Uma das lendas mais românticas da história do futebol, reza que houve uma pequena rebelião dos líderes do elenco – Bellini, Didi e Nílton Santos – exigindo a escalação de Pelé e Garrincha. Mas foi só lenda mesmo. Dois dias antes do jogo, a escalação de Pelé já era uma certeza. Recuperado de contusão, ele entraria no lugar de Mazzola – que já estava vendido ao Milan e não estaria colocando o pé nas divididas (diziam as más línguas).

Ficou decidido que jogaria apenas um centroavante e ele seria Vavá (de estilo mais rompedor), ao invés de Mazzola (mais técnico). Zito (também mais aguerrido) entraria no lugar de Dino Sani (mais clássico), que havia sofrido uma distensão na virilha. Com a marcação de Zito no meio, Didi ficaria mais à vontade para criar e atacar.

Quanto à Garrincha, a ideia de escalá-lo surgiu em uma conversa informal e não em uma rebelião. Foi uma reunião entre o técnico Vicente Feola, os jornalistas Armando Nogueira e Luiz Carlos Barreto e o lateral esquerdo Nílton Santos. Também foram consultados Paulo Machado de Carvalho, Didi e Bellini e todos foram favoráveis. Nos primeiros dois jogos, Joel havia recebido boas notas da imprensa por ser um ponta “moderno” que, assim como Zagallo do lado oposto, recuava para ajudar na marcação. E, com a entrada do marcador Zito no time, Feola teve a oportunidade de reforçar a linha de frente com um ponta que atacasse mais. E havia duas opções: trocar Zagallo por Pepe ou Joel por Garrincha. E como Joel estava sentindo dores no joelho, devido ao pisão de Bill Slater, na partida contra a Inglaterra, o Mané ganharia a vaga de titular. Compadre de Garrincha, Nilton Santos foi o responsável por dar a notícia ao ponta. “Acho que você vai entrar. Mané, se você entrar, capricha”, falou Nilton. “Se eu jogar, pode deixar”, respondeu Garrincha.

Na véspera da partida, o psicólogo João Carvalhaes fez um teste psicotécnico com os jogadores para verificar quais deles estavam em condições psicológicas para enfrentar a URSS. Dos onze que jogariam, apenas Pelé e Nilton Santos foram aprovados. Felizmente esses resultados não seriam levados em consideração pela comissão técnica.


(Imagem: O Globo)

● As delegações de Brasil e URSS estavam concentradas a cem metros uma da outra, em Hindås. A diferença era que o hotel dos russos ficava em uma pequena elevação que permitia ter uma visão privilegiada dos treinamentos do Brasil.

Sabia-se que os soviéticos se submetiam a uma carga de exercícios físicos descomunal. Da concentração brasileira, era possível vê-los correndo por várias horas seguidas em seu campo de treinamento. Os brasileiros, claro, ficavam cansados só de olhar.

Na quinta-feira, três dias antes do jogo, Feola comunicou à imprensa brasileira que a Seleção faria um treino coletivo no dia seguinte às 15h00, no campinho perto do hotel. Foi pedido sigilo, pois a comissão técnica não queria a presença de jornalistas estrangeiros, principalmente soviéticos. Na hora marcada, estavam todos presentes: a imprensa brasileira, a imprensa estrangeira e os espiões russos. E nenhum jogador no gramado. A Seleção havia treinado secretamente de manhã com todas as mudanças e, assim, escondeu bem o jeito que jogaria.

No fim da preleção antes da partida, Feola deu a instrução direta: “E não se esqueça, Didi. A primeira bola é para o Garrincha”. E disse para o Mané: “Tente descadeirá-los de saída”.

Os soviéticos conheciam Garrincha das excursões caça-níquéis afora. Só não sabiam como pará-lo.


O Brasil atuava em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo.


A URSS jogava em um sistema WM adaptado, com um homem na sobra, como um líbero.

● Quando o árbitro francês Maurice Guigue apitou o início da partida, a Seleção Brasileira precisou apenas de 180 segundos para demonstrar o melhor que o futebol já produziu, deixando assombrados os 50.928 expetadores no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo. Mesmo sendo um jogo da primeira fase, esse foi o maior público da Copa.

Decidido a nocautear o adversário rapidamente, o Brasil teve um começo simplesmente arrasador. Garrincha começou o jogo endiabrado, em uma exibição fenomenal. Logo no primeiro lance, aos 40 segundos, ele entortou diversas vezes o zagueiro Boris Kuznetsov, passou como se ele não existisse, entrou na área e chutou forte, mas a bola carimbou a trave esquerda de Yashin e foi para fora.

Garrincha desmontou a defesa soviética em geral, e o pobre Kuznetsov em particular. Era a marca registrada do ponta brasileiro: ele deixava a bola entre ele e o marcador, ameaçava a arrancada jogando o corpo para a direita e voltava à posição inicial. Kuznetsov seguia o movimento do Mané uma, duas, três, todas as vezes, e a bola continuava parada entre os dois. Quando o russo ficava parado e ia direto na bola, Garrincha o driblava.

Enquanto Mané driblava Kuznetsov uma porção de vezes, o técnico Gavriil Kachalin perguntava atônito para o banco de reservas quem era o reserva de Joel, com aquelas pernas tortas. Desesperado, o treinador russo precisou reforçar a marcação no ponta, com Konstantin Krizhevsky. Mas nada pararia Garrincha. Percebendo a cintura dura dos seus adversários, ele era pura fantasia com a bola nos pés, gingando e driblando os desesperados soviéticos. Essa partida foi responsável pela lenda de que pela dificuldade em falar o nome dos russos, Garrincha passou a chamar os marcadores de “João”. E todos se tornaram os “Joãos” de Mané. Garrincha se divertia e divertia a todos dentro e fora do campo.

Quando os soviéticos recolocaram a bola em jogo, logo o escrete canarinho a recuperou. Garrincha fez mais uma de suas jogadas e lançou para Pelé, que arriscou o chute, mas a bola explodiu no travessão. O relógio ainda não tinha dado uma volta no ponteiro e o Brasil já havia carimbado a trave por duas vezes. O gol era questão de tempo.

E ele viria pouco mais de um minuto depois. Didi, realmente mais solto em campo, fez um lançamento de curva preciso pelo chão. Vavá se infiltrou na defesa soviética e, da meia-lua, tocou na saída de Yashin para abrir o placar.

O jornalista francês Gabriel Hanot, do jornal L’Equipe (ex-jogador, técnico e um dos idealizadores da atual UEFA Champions League) classificou aquele início brasileiro como “os três maiores minutos da história do futebol”, tal foi a força e a qualidade com que os jogadores brasileiros atacaram os soviéticos, sobretudo Garrincha.


(Imagem: O Globo)

● Os soviéticos estavam perdidinhos. Na tentativa de dominar o meio de campo, o técnico Gavriil Kachalin havia promovido a estreia de seu melhor jogador de linha, o capitão Igor Netto, que se recuperava de contusão. Ele era muito técnico e criativo, uma espécie de “Didi russo”. E nem havia tocado na bola quando Vavá inaugurou o marcador.

Didi, inteligente como só ele, levou Netto, para uma faixa mais neutra do campo, impedindo que o adversário conseguisse criar perigo. E o Príncipe Etíope ainda conseguia ditar o ritmo do jogo e entregava a bola a Garrincha sempre que podia.

Os soviéticos somente chegaram à área brasileira aos quinze minutos, em um lançamento longo para Anatoli Ilyin, que Gylmar saiu para interceptar.

Mas o baile continuou por todo o primeiro tempo, principalmente com um Mané diabolicamente incontrolável, provocando uma devastação na defesa soviética. Os russos pensavam que era um problema de ajuste de marcação e começaram a discutir entre si. Mas nada adiantou e o jogador do Botafogo continuou a fazer fila. Em certo momento, Garrincha deixou um marcador no chão, parou a bola e estendeu a mão para ajudá-lo a levantar. E seguiu o jogo normalmente, de forma inocente.

A partida teve duas fases: algumas poucas de algum equilíbrio e os muitos momentos de domínio brasileiro. Por isso, o segundo gol até demorou.

No segundo tempo, os soviéticos tiveram um de seus raros ataques. Anatoli Ilyin recuperou a bola e deixou com Igor Netto. Valentin Ivanov e Netto tabelaram pelo meio. Ivanov driblou De Sordi e chutou de esquerda. Gylmar encaixou firme, sem dar rebote.

Pelé foi discreto, deixando seu melhor para o jogo seguinte, contra o País de Gales. Ele perdeu dois gols que certamente faria se estivesse com mais ritmo de jogo e não tão nervoso. Normal, para um adolescente.

Aos 31 minutos do segundo tempo, em uma troca de passes entre Pelé e Vavá na área soviética, a bola sobrou entre Vavá e dois zagueiros. Conhecido como Peito de Aço por sua impetuosidade, Vavá esticou a perna esquerda, mesmo com a bola estando mais para o zagueiro Vladimir Kesarev e chutou para o fundo do gol. Em troca, Vavá ficou com um enorme corte na canela esquerda, causada pelas travas da chuteira de Kesarev – tentou tirar a bola no lance, mas chegou atrasado e atingiu em cheio o brasileiro.

O segundo gol trouxe um alívio tão grande que a comemoração passou do ponto: seis jogadores se empilharam sobre um lesionado Vavá, formando uma pirâmide humana até então desconhecida em campos europeus. O centroavante não aguentou de dor no corte e precisou deixar o campo alguns minutos depois. Com essa contusão, imaginava-se que Vavá estaria fora do restante do Mundial.

Aos 37, o ponta Ilyin acertou um chutaço que obrigou Gylmar a fazer a sua defesa mais difícil na Copa até então. E Gylmar terminou a primeira fase com a meta invicta, bem guarnecida por uma defesa irrepreensível formada por De Sordi, o capitão Bellini, Orlando e Nilton Santos. Do outro lado, Yashin evitou uma goleada histórica. O Brasil atacou 36 vezes, sendo a metade com perigo.


(Imagem: Globo Esporte)

● Nos minutos finais, a plateia viu um pequeno baile. Dos 38 aos 40, a bola rolou de pé em pé, de um lado para o outro e de volta ao ponto inicial, o capitão Bellini, sem que nenhum soviético conseguisse tocá-la. A até então comportada torcida sueca foi ao delírio. Deliciados com a arte dos brasileiros, os suecos riam à vontade com o futebol fantasia de Mané. Bastava ele receber a bola que o estádio se punha de pé. E aplaudiam com entusiasmo todo o time, de Gylmar a Zagallo.

O baile serviu para esfriar o ânimo dos soviéticos. Ateus, os comunistas russos pareciam rezar para que o juiz apitasse para que aquele pesadelo acabasse logo.

Os críticos presentes já não tinham mais adjetivos superlativos para descrever a Seleção Brasileira. Garrincha foi considerado “um assombro”. Os ingleses chamaram o ponta de “mercurial” (de outro mundo). Os jornais brasileiros disseram que Garrincha “arrombou a Cortina de Ferro”.

O decantado futebol científico da URSS se dobrava diante da malemolência do brasileiro: a genialidade de Didi, os dribles de Garrincha, o oportunismo de Vavá e tudo de Pelé.

No fim da partida, Garrincha resumiu tudo: “Eu tava com fome de bola”. No dia seguinte, ele recebeu o bicho direto das mãos do tesoureiro Adolpho Marques: cinquenta dólares. No Brasil, foi eleito o “desportista da semana” e ganhou uma bicicleta Gulliver.


(Imagem: Mais Futebol)

● No dia seguinte, em uma demonstração de esportividade, a delegação soviética visitou a concentração brasileira. Entre elogios e brincadeiras, principalmente com Garrincha, o zagueiro Kesarev se desculpou pelo rasgo na canela de Vavá. A URSS teve que jogar uma partida desempate com a Inglaterra pelo segundo lugar do grupo e venceu por 1 x 0. Nas quartas de final, caiu para a Suécia, dona da casa, por 2 x 0.

A principal ausência na seleção soviética foi a do centroavante Eduard Streltsov, artilheiro do time nas eliminatórias. Ele foi impedido de sair de seu país por estar respondendo a um processo criminal por estupro. Diz a lenda que ele era inocente e seu julgamento teria sido todo armado porque ele bateu de frente com o regime comunista russo. Porém, essa é uma história polêmica que fica pra outro momento. Mas ele fez muita falta à equipe e que, talvez, se estivesse em campo, a URSS poderia ter ido mais longe do que as quartas de final.

O desempenho dos brasileiros contra os soviéticos foi tamanho, que o placar foi considerado injusto, pois o Brasil teria merecido vencer por uma diferença mais expressiva no placar. Mas a vitória foi mais que o suficiente para classificar a Seleção Brasileira como líder do grupo. Cheia de confiança, enfrentaria o País de Gales nas quartas de final quatro dias depois. Esperamos contar essa história no próximo dia 19.

Enfim, Vicente Feola havia encontrado a escalação ideal. Pelé e Garrincha estrearam em Copas do Mundo e começaram a se transformarem em mitos. Com os dois juntos em campo, a Seleção Brasileira nunca foi derrotada. Foram oito anos e quarenta jogos (incluindo não oficiais) e o Brasil nunca perdeu: foram 35 vitórias e cinco empates). O título mundial era possível. Havia esperança e ela estava mais viva do que nunca.


(Imagem: Mais Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 0 UNIÃO SOVIÉTICA

 

Data: 15/06/1958

Horário: 19h00 locais

Estádio: Nya Ullevi

Público: 50.928

Cidade: Gotemburgo (Suécia)

Árbitro: Maurice Guigue (França)

 

BRASIL (4-2-4):

UNIÃO SOVIÉTICA (WM):

3  Gylmar (G)

1  Lev Yashin (G)

14 De Sordi

2  Vladimir Kesarev

2  Bellini (C)

4  Boris
Kuznetsov

15 Orlando

5  Yuriy Voynov

12 Nilton Santos

3  Konstantin Krizhevsky

19 Zito

16 Viktor Tsaryov

6  Didi

17 Aleksandr Ivanov

11 Garrincha

8  Valentin Ivanov

20 Vavá

9  Nikita Simonyan

10 Pelé

6  Igor Netto (C)

7  Zagallo

11 Anatoli Ilyin

 

Técnico: Vicente Feola

Técnico: Gavriil Kachalin

 

SUPLENTES:

 

 

1  Castilho (G)

12 Vladimir Maslachenko (G)

4  Djalma Santos

13 Vladimir Belyayev (G)

16 Mauro

14 Leonīds Ostrovskis

9  Zózimo

22 Vladimir Yerokhin

8  Oreco

15 Anatoli Maslyonkin

5  Dino Sani

19 Gennadi Gusarov

13 Moacir

20 Yuri Falin

17 Joel

7  German Apukhtin

18 Mazzola

18 Valentin Bubukin

21 Dida

10 Sergei Salnikov

22 Pepe

21 Genrikh Fedosov

 

GOLS:

3′ Vavá (BRA)

77′ Vavá (BRA)

Veja imagens raras da partida:

Lance inicial e gols do jogo:

Algumas imagens da partida:

● Sobre “aqueles primeiros três minutos”, no livro “Estrela Solitária: um brasileiro chamado Garrincha”, Ruy Castro reproduz o relato do repórter Ney Bianchi na revista Manchete Esportiva e depois complementa:

“Monsieur Guigue, gendarme nas horas vagas, ordena o começo da partida. Didi centra rápido para a direita: 15 segundos de jogo. Garrincha escora a bola com o peito do pé: 20 segundos. Kuznetzov parte sobre ele. Garrincha faz que vai para a esquerda, não vai, sai pela direita. Kuznetzov cai e fica sendo o primeiro João da Copa do Mundo: 25 segundos. Garrincha dá outro drible em Kuznetzov: 27 segundos. Mais outro: 30 segundos. Outro. Todo o estádio levanta-se. Kuznetzov está sentado, espantado: 32 segundos. Garrincha parte para a linha de fundo. Kuznetzov arremete outra vez, agora ajudado por Voinov e Krijveski: 34 segundos. Garrincha faz assim com a perna. Puxa a bola para cá, para lá e sai de novo pela direita. Os três russos estão esparramados na grama, Voinov com o assento empinado para o céu. O estádio estoura de riso: 38 segundos. Garrincha chuta violentamente, cruzado, sem ângulo. A bola explode no poste esquerdo da baliza de Iashin e sai pela linha de fundo: 40 segundos. A platéia delira. Garrincha volta para o meio do campo, sempre desengonçado. Agora é aplaudido.”

“A torcida fica de pé outra vez. Garrincha avança com a bola. João Kuznetzov cai novamente. Didi pede a bola: 45 segundos. Chuta de curva, com a parte de dentro do pé. A bola faz a volta ao lado de Igor Netto e cai nos pés de Pelé. Pelé dá a Vavá: 48 segundos. Vavá a Didi, a Garrincha, outra vez a Pelé, Pelé chuta, a bola bate no travessão e sobe: 55 segundos. O ritmo do time é alucinante. É a cadência de Garrincha. Iashin tem a camisa empapada de suor, como se já jogasse há várias horas. A avalanche continua. Segundo após segundo, Garrincha dizima os russos. A histeria domina o estádio. E a explosão vem com o gol de Vavá, exatamente aos três minutos.”

Foi assim que o repórter Ney Bianchi reproduziu em Manchete Esportiva aquele começo de jogo, como se tivesse um olho na bola e outro no cronômetro. Mas não estava longe da verdade. Outro jornalista, Gabriel Hannot, diria que aqueles foram os maiores três minutos da história do futebol e, com mais de setenta anos, ele fora testemunha ocular dessa história. A avalanche fora tão impressionante que, assim que se viu vazado, Iashin cumprimentou o primeiro brasileiro que lhe passou por perto – por acaso, Pelé.

E ainda faltavam 87 minutos para o jogo acabar! A continuar daquele jeito, já havia russos contemplando uma temporada na Sibéria. Nunca o orgulho do “científico” futebol soviético fora tão desmoralizado, e pelo mais improvável dos seres: um camponês brasileiro, mestiço, franzino, estrábico e com as pernas absurdamente tortas. A anticiência por excelência, o anti-Sputnik, o anticérebro eletrônico ou qualquer cérebro. Kessarev, Krijveski, Voinov, Tsarev e, mais que os outros, Kuznetzov, todos os zagueiros russos foram driblados por Garrincha em algum momento do jogo: um de cada vez, dois, três ou, em fila, todos ao mesmo tempo. Garrincha deixava um russo sentado e dizia, como se ele pudesse entendê-lo:

“Conheceu, papudo?”

… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria

Três pontos sobre…
… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria


Rob Rensenbrink foi o líder da Holanda em campo (Imagem: Pinterest)

● Em 1978, não havia mais a “Laranja Mecânica”, o “Carrossel Holandês” e o “Futebol Total”, o time treinado por Rinus Michels e capitaneado por Johan Cruijff.

Michels saiu logo depois da Copa de 1974. George Knobel foi o técnico até a Eurocopa de 1976. Jan Zwartkruis treinou a seleção holandesa nas eliminatórias até 1977 e depois se tornaria auxiliar. Para a Copa de 1978, a Oranje apostou no “pulso firme” do austríaco Ernst Happel. Ele havia disputado os Mundiais de 1954 e 1958 como zagueiro pela seleção de seu país. Como técnico, havia sido campeão da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) na temporada 1969/70 – venceria ainda o torneio pelo Hamburgo em 1982/83, sendo um dos únicos treinadores a conquistarem a competição por dois clubes diferentes, ao lado de José Mourinho e Ottmar Hitzfeld.

Mas as mudanças não eram só na beira do gramado. Johan Cruijff não estava mais lá. Ele havia deixado a seleção um ano antes. E são várias as versões pela sua ausência. A primeira era a sua afirmação de que o Mundial de 1974 seria o primeiro e o último que disputaria. Outra corrente diz que foi uma promessa à sua esposa Danny, após o jornal alemão Bild publicar uma reportagem antes da decisão contra a Alemanha Ocidental, na qual vários atletas fizeram uma festa regada a bebidas e prostitutas na beira da piscina do Waldhotel Krautkrämer, na cidade de Hiltrup, concentração holandesa. Outra justificativa para a ausência do gênio é que ele não teria aceitado viajar à Argentina como protesto pelo regime militar ditatorial que comandava o país sede desde 1976. Outra vertente diz que ele esperava receber uma premiação maior do que a federação pagaria. Mas apenas em 2012 ele revelou a razão verdadeira: um sequestro-relâmpago sofrido pela família em setembro de 1977, na própria residência de Barcelona, na qual ele repensou e preferiu manter a sua segurança com Danny e os filhos Jordi, Chantal e Susila.

Mas o time não era só Cruijff e a base ainda era a mesma. Todos os titulares haviam estado no Mundial anterior, com destaque para o novo capitão Ruud Krol, Wim Jansen, Arie Haan, Johan Neeskens, Johnny Rep e Rob Rensenbrink, que seria a maior estrela do time na ausência de Cruijff.

Mas começaram a surgir os problemas. A cerca de duas semanas antes do Mundial, Willem van Hanegem fez um ultimato a Happel: ou lhe garantia seu lugar no onze inicial, ou deixaria o grupo. O treinador não garantiu a titularidade e o meia deixou a delegação holandesa. Hugo Hovenkamp poderia ser o dono da posição, mas se lesionou nos treinos e nem chegou a entrar em campo. Com isso, Arie Haan (que havia sido zagueiro em 1974) foi escalado como volante.

Na estreia, os holandeses venceram o Irã por 3 x 0 de forma ridícula, sem a menor vontade e esforço. Na segunda partida, o empate sem gols com o bom time do Peru foi pior ainda. Mas se superou contra a Escócia: estava perdendo por 3 x 1 a 20 minutos do fim, com enorme pressão dos britânicos que, se marcassem mais um gol, se classificariam e eliminariam os Laranjas da competição. Mas Johnny Rep diminuiu e a derrota por 3 x 2 classificou a Holanda em segundo lugar do Grupo 4, atrás do Peru.

A Áustria voltava a disputar uma Copa do Mundo depois de vinte anos ausente (quando Ernst Happel ainda jogava). Na primeira fase, tinha sido a líder do Grupo 3, deixando o Brasil em segundo lugar pelo número de gols marcados. No primeiro jogo, venceu a Espanha por 2 x 1. Depois, venceu a Suécia por 1 x 0. Já classificada, perdeu para a Seleção Brasileira por 1 x 0. Os maiores destaques individuais eram o goleiro Friedrich Koncilia, o meia Herbert Prohaska (que seria campeão italiano ao lado de Falcão na Roma) e Hans Krankl (que seria artilheiro do Barcelona logo depois).


A Holanda atuou no 4-3-3, com Ruud Krol como líbero, tendo liberdade para avançar e iniciar as jogadas.


O técnico Helmut Senekowitsch escalou a Áustria no sistema 4-4-2.

● O regulamento da Copa de 1978 era o mesmo do Mundial anterior: os oito classificados da primeira fase foram divididos em duas chaves de quatro equipes, com o vencedor de cada chave disputando a final. Após um desempenho pouco convincente na primeira fase, a Holanda tinha obrigação de jogar melhor no quadrangular semifinal se quisesse se classificar para a decisão.

O técnico Ernst Happel deu liberdade para seu auxiliar Jan Zwartkruis fazer mudanças no time e comandar a preleção. Zwartkruis tinha mais liberdade com os atletas e fez duas mudanças importantes no time. Por lesão, saíram Johan Neeskens, Wim Suurbier e Wim Rijsbergen. Entraram os laterais Jan Poortvliet e Piet Wildschut e o zagueiro Ernie Brandts. Wim Jansen foi posicionado no meio, e Arie Haan ganhou liberdade total para avançar, criar e se aproximar do ataque. A outra mudança foi uma arriscada troca de goleiros. Ele tirou o veterano Jan Jongbloed, que era melhor na saída de jogo com os pés, e escalou Piet Schrijvers, que era melhor embaixo das traves.

Logo no começo da partida, Arie Haan bateu falta no cantinho, mas Koncilia pulou bem e espalmou para escanteio.

Aos sete minutos de bola rolando, Haan cobrou uma falta para a área e o zagueiro Brandts apareceu sozinho para cabecear da linha da pequena área no ângulo direito.

Aos 35′, Gerhard Breitenberger fez falta em Wim Jansen dentro da área. Rensenbrink cobrou o pênalti com precisão no ângulo esquerdo, sem chances para o arqueiro austríaco, que ainda acertou o canto mas não conseguiu pegar.

Dois minutos depois, Rensenbrink avançou pela esquerda e viu Rep entrando sozinho pelo meio. Na entrada da grande área, o camisa 16 dominou e tocou por cima do goleiro Koncilia, que havia saído no lance.

O show continuou no segundo tempo. Logo aos oito minutos, Schrijvers conbrou o tiro de meta. Rensenbrink dominou já cortando para a direita e driblando o marcador. Koncilia saiu para tentar fechar o ângulo e Rensenbrink tocou para o meio da pequena área. Rep apareceu livre e completou para o gol vazio.

A Áustria havia criado algumas chances antes, mas só fez o gol de honra a dez minutos do final. Kreuz cruzou da direita e Poortvliet cortou. Krieger pegou o rebote e ergueu a bola na área. A defesa holandesa falhou e Erich Obermayer apareceu para tocar por cima de Schrijvers, com muita classe e precisão. Um belo gol por cobertura do zagueiro, que apareceu como atacante na área laranja.

Pouco depois, em cobrança de falta ensaiada, Bruno Pezzey encheu o pé e Schrijvers buscou a bola no ângulo, fazendo uma ótima defesa.

O placar foi fechado aos 38. Rob Rensenbrink (o melhor em campo) avançou pela esquerda, driblou Obermayer por duas vezes e tocou para o meio. Willy van de Kerkhof finalizou de primeira, da marca do pênalti, no contrapé de Koncilia.


Johnny Rep foi infernal e deu muito trabalho para a marcação austríaca (Imagem: Pinterest)

● Johnny Rep e Rob Rensenbrink tiveram uma tarde inspirada no Estádio Olímpico Chateau Carreras, em Córdoba.

Parecia que a Holanda tinha economizado o futebol na primeira fase apenas para dar espetáculo nessa partida. Mas, a bem da verdade, foi a única em que a Holanda sobrou em campo e relembrou o já distante “Carrossel Holandês”.

Na sequência do Grupo A da segunda fase, a Áustria perdeu para a Itália por 1 x 0. Já eliminada, colocou água no chope da vizinha e arqui-inimiga Alemanha Ocidental, vencendo por 3 x 2 e acabando com qualquer esperança de classificação para a final que os então campeões do mundo ainda tinham.

Na reedição da final anterior, Holanda e Alemanha Ocidental empataram por 2 x 2 em um bom jogo. Na última rodada, os holandeses venceram os italianos por 2 x 1 e se garantiram na decisão. Mesmo dominando o jogo por parte do tempo, a Oranje foi batida novamente pelos donos da casa. Dessa vez, a Argentina venceu por 3 x 1 na prorrogação e se coroou campeã mundial pela primeira vez, deixando a Holanda com um amargo bi-vice.


O centroavante Hans Krankl foi muito bem marcado e pouco fez durante os noventa minutos (Imagem: Twitter @thecentretunnel)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 5 x 1 ÁUSTRIA

 

Data: 14/06/1978

Horário: 13h45 locais

Estádio: Estadio
Olímpico Chateau Carreras (atual Estadio Mario Alberto Kempes)

Público: 25.050

Cidade: Córdoba (Argentina)

Árbitro: John Gordon (Escócia)

 

HOLANDA (1-3-3-3):

ÁUSTRIA (4-4-2):

1  Piet Schrijvers (G)

1  Friedrich Koncilia (G)

7  Piet Wildschut

2  Robert Sara (C)

22 Ernie Brandts

5  Bruno Pezzey

2  Jan Poortvliet

3  Erich Obermayer

5  Ruud Krol (C)

4  Gerhard Breitenberger

9  Arie Haan

7  Josef Hickersberger

6  Wim Jansen

12 Eduard Krieger

11 Willy van de Kerkhof

8  Herbert Prohaska

10 René van de Kerkhof

11 Kurt Jara

16 Johnny Rep

9  Hans Krankl

12 Rob Rensenbrink

10 Wilhelm Kreuz

 

Técnico: Ernst Happel

Técnico: Helmut Senekowitsch

 

SUPLENTES:

 

 

19 Pim Doesburg (G)

21 Erwin Fuchsbichler (G)

8  Jan Jongbloed (G)

22 Hubert Baumgartner (G)

17 Wim Rijsbergen

15 Heribert Weber

4  Adrie van Kraaij

16 Peter Persidis

20 Wim Suurbier

14 Heinrich Strasser

15 Hugo Hovenkamp

20 Ernst Baumeister

3  Dick Schoenaker

6  Roland Hattenberger

13 Johan Neeskens

13 Günther Happich

14 Johan Boskamp

17 Franz Oberacher

18 Dick Nanninga

19 Hans Pirkner

21 Harry Lubse

18 Walter Schachner

 

GOLS:

6′ Ernie Brandts (HOL)

35′ Rob Rensenbrink (HOL) (pen)

36′ Johnny Rep (HOL)

53′ Johnny Rep (HOL)

80′ Erich Obermayer (AUT)

82′ Willy van de Kerkhof (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

60′ René van de Kerkhof (HOL) ↓

Dick Schoenaker (HOL) ↑

 

66′ Ernie Brandts (HOL) ↓

Adrie van Kraay (HOL) ↑

Melhores momentos da partida:

… 13/06/1986 – Dinamarca 2 x 0 Alemanha Ocidental

Três pontos sobre…
… 13/06/1986 – Dinamarca 2 x 0 Alemanha Ocidental


(Imagem: DPA / Corbis / Impromptuinc)

● A imprensa esportiva da época já avisava: a “Dinamite Dinamarca” poderia explodir na Copa do Mundo de 1986. Durante o torneio, acabaria se tornando a “Dinamáquina”: a máquina de toques envolventes, aproximação, jogo rápido e marcação sob pressão, capaz de massacrar até os mais tradicionais adversários.

Historicamente, o país era um grande exportador de “pé de obra” para os maiores centros do futebol europeu. Um dos incentivos para isso era o amadorismo que perdurou no país até 1985. Mas muita coisa mudou com o advento do profissionalismo e a contratação do técnico alemão Sepp Piontek na virada da década. O treinador precisou fazer um trabalho diferente para a época, garimpando jogadores de todos os cantos do continente, o que não era usual para a época. Eles se reuniam 48 horas antes dos jogos e mal tinham tempo para treinar. Mesmo assim, deu certo. O resultado foi imediato, com o 3º lugar na Eurocopa de 1984 e a classificação para o Mundial de 1986 – foi líder do Grupo 6 das eliminatórias europeias, apenas um ponto na frente da União Soviética.

O atacante Preben Elkjær Larsen, fumante inveterado, campeão italiano com o Verona na temporada 1984/85, foi o maior artilheiro das eliminatórias em todos os continentes, com oito gols. Michael Laudrup, já na Juventus, era considerado como uma das maiores revelações da Europa. Outro destaque era a animada, beberrona e pacífica torcida.

Era endeusada pela crítica internacional como uma das maiores forças do futebol europeu de então. Tinha um time muito entrosado. E o 3-5-2 era um sistema tático diferente, que confundia a marcação adversária (como detalhamos nesse outro texto).


Sepp Piontek escalou a Dinamarca no futurista sistema 3-5-2. John Sivebæk e Søren Busk eram os dois defensores centrais e Morten Olsen era o líbero. Jan Mølby fazia o balanço defensivo, voltando para jogar entre os zagueiros se necessário. Søren Lerby e Jesper Olsen eram meias que marcavam e criavam. Os alas Frank Arnesen e Henrik Andersen eram meias de origem e tinham como maior característica a velocidade com a bola. Michael Laudrup e Elkjær era uma dupla de ataque de muita movimentação.


O 3-5-2 já não era mais exclusividade da Dinamarca. Outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. A Alemanha jogava em um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. O lateral esquerdo Matthias Herget fazia o papel de um terceiro zagueiro, a fim de liberar o outro lateral, Berthold, que apoiava um pouquinho mais pela direita, fazendo o contra-peso do meia esquerda Brehme. Matthäus era o “todo-campista” indo de área a área. Eder marcava para Rolff armar as jogadas para os atacantes Klaus Allofs e Rudi Völler.

● As duas seleções entraram em campo já classificadas. Na pior das hipóteses, os alemães se classificariam em terceiro no grupo – mas isso se o Uruguai tirasse uma diferença de seis gols de saldo contra a Escócia (a partida ocorreu simultaneamente a essa e terminou sem gols).

Apesar da postura mais defensiva, os comandados de Franz Beckenbauer começaram mais perigosos e Andreas Brehme mandou uma bola no travessão.

Mas, mesmo sem fazer força alguma, o time do técnico Sepp Piontek conseguiu traduzir sua superioridade em gols.

Aos 43 minutos do primeiro tempo, o líbero Morten Olsen arrancou e foi derrubado dentro da área por Wolfgang Rolff. O árbitro belga Alexis Ponnet assinalou o pênalti. Jesper Olsen cobrou de esquerda com enorme categoria. A bola foi no canto direito, deslocando o goleiro Harald Schumacher, que caiu para o esquerdo.

A partida foi resolvida aos 17′ da etapa complementar. Morten Olsen partiu com a bola dominada e tocou para Michael Laudrup, que lançou Frank Arnesen na direita, que cruzou rasteiro. Schumacher saiu de carrinho e não cortou. John Eriksen só tocou para dentro. Eriksen tinha entrado no intervalo no lugar de Preben Elkjær Larsen, que foi poupado do segundo tempo.

Curiosamente, essa foi a única partida do craque Allan Simonsen na história das Copas. Bola de Ouro da revista France Football como melhor jogador da Europa em 1977, o “pequeno gigante” já estava no fim de carreira, bastante prejudicado por problemas físicos. Ele entrou no lugar de Jesper Olsen na metade do segundo tempo.

Os dinamarqueses ficaram em primeiro lugar do Grupo E e enfrentaria a Espanha, segunda do Grupo D. Os alemães se deram bem por terem ficado em segundo, pois enfrentaram o Marrocos (líder do Grupo F) nas oitavas de final – teoricamente, um adversário mais fácil. O Uruguai foi terceiro da chave e pegou a Argentina (primeira do Grupo A). O resultado foi bom para todos.


Karlheinz Förster e Preben Elkjær Larsen disputam a jogada (Imagem: Team Group / Impromptuinc)

● Na primeira fase, a Alemanha Ocidental se classificou em segundo lugar no Grupo E, com três pontos: empatou com o Uruguai (1 x 1), venceu a Escócia (2 x 1) e perdeu para a Dinamarca (2 x 0). Nas oitavas, penou para passar pelo Marrocos (1 x 0). Nas quartas, passou sufoco, vencendo o México apenas nos pênaltis por 4 a 1, após um empate sem gols. Fez seu melhor jogo na semifinal, vencendo a favorita França por 2 a 0. Na decisão, buscou um improvável empate, mas sofreu o gol derradeiro de Jorge Burruchaga nos minutos finais, após mais uma jogada genial de Maradona. A Argentina venceu por 3 x 2 e conquistou seu segundo título, deixando a Alemanha com seu segundo vice-campeonato consecutivo.

Com um jeito ofensivo e alegre de jogar, a Dinamarca se tornou o segundo time favorito de todo o mundo. Era admirada por sua coragem e seu estilo como nenhuma outra seleção desde então. E os nórdicos terminaram a primeira fase como líderes do “grupo da morte”, com 100% de aproveitamento, três vitórias em três jogos. Venceram Escócia (1 x 0), Uruguai (6 x 1) e Alemanha Ocidental (2 x 0). Anotaram nove gols e sofreram apenas um, de pênalti. Enfrentaria a Espanha nas oitavas de final. E, como diria aquele velho ditado: “o futebol é uma caixinha de surpresas”. Haveria uma bastante amarga para os dinamarqueses. É o que veremos no próximo dia 18.


Rudi Völler tenta passar por Morten Olsen (Imagem: Norbert Schmidt / Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

DINAMARCA 2 x 0 ALEMANHA OCIDENTAL

 

Data: 13/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: La Corregidora

Público: 36.000

Cidade: Querétaro (México)

Árbitro: Alexis Ponnet (Bélgica)

 

DINAMARCA (3-5-2):

ALEMANHA
OCIDENTAL (4-4-2):

22 Lars Høgh (G)

1  Harald Schumacher (G)(C)

2  John Sivebæk

14 Thomas Berthold

3  Søren Busk

4  Karlheinz Förster

4  Morten Olsen (C)

17 Ditmar Jakobs

21 Henrik Andersen

5  Matthias Herget

7  Jan Mølby

6  Norbert Eder

6  Søren Lerby

8  Lothar Matthäus

15 Frank Arnesen

3  Andreas Brehme

8  Jesper Olsen

21 Wolfgang Rolff

11 Michael Laudrup

19 Klaus Allofs

10 Preben Elkjær Larsen

9  Rudi Völler

 

Técnico: Sepp Piontek

Técnico: Franz Beckenbauer

 

SUPLENTES:

 

 

1  Troels Rasmussen (G)

12 Uli Stein (G)

16 Ole Qvist (G)

22 Eike Immel (G)

5  Ivan Nielsen

15 Klaus Augenthaler

17 Kent Nielsen

2  Hans-Peter Briegel

9  Klaus Berggreen

16 Olaf Thon

13 Per Frimann

13 Karl Allgöwer

20 Jan Bartram

10 Felix Magath

12 Jens Jørn Bertelsen

18 Uwe Rahn

14 Allan Simonsen

7  Pierre Littbarski

18 Flemming Christensen

20 Dieter Hoeneß

19 John Eriksen

11 Karl-Heinz Rummenigge

 

GOLS:

43′ Jesper Olsen (DIN) (pen)

62′ John Eriksen (DIN)

 

CARTÕES AMARELOS:

36′ Frank Arnesen (DIN)

48′ Norbert Eder (ALE)

51′ Ditmar Jakobs (ALE)

 

CARTÃO VERMELHO: 88′ Frank Arnesen (DIN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Preben Elkjær Larsen (DIN) ↓

John Eriksen (DIN) ↑

 

INTERVALO Wolfgang Rolff (ALE) ↓

Pierre Littbarski (ALE) ↑

 

71′ Jesper Olsen (DIN) ↓

Allan Simonsen (DIN) ↑

 

71′ Karlheinz Förster (ALE) ↓

Karl-Heinz Rummenigge (ALE) ↑

Gols da partida:

Jogo completo:

… 12/06/1986 – Brasil 3 x 0 Irlanda do Norte

Três pontos sobre…
… 12/06/1986 – Brasil 3 x 0 Irlanda do Norte


(Imagem: Pinterest)

● Era a melhor geração da história da Irlanda do Norte, responsável por classificar os norte-irlandeses para dois Mundiais consecutivos. Tinha feito uma ótima Copa de 1982 para seus padrões, ao ser líder do Grupo E e só ser eliminada na última rodada da segunda fase pela França de Michel Platini. Jogava bem ao estilo típico da escola britânica: defesa fechada e bola aérea no ataque. Dificilmente vencia uma partida, mas também era muito difícil de ser batida.

Desde 1980 como técnico da Norn Iron, Billy Bingham foi ponta direita na Copa de 1958. Curiosamente, ele encerrou sua carreira na seleção no dia 15/04/1964, justamente quando o goleiro Pat Jennings vestia a camisa de seu país pela primeira das 119 vezes.

Pat Jennings completava 41 anos exatamente naquele dia e se tornava o jogador mais velho a disputar uma Copa do Mundo até então. Norman Whiteside já era o jogador mais jovem da história do torneio, ao entrar em campo contra a Iugoslávia em 1982, com 17 anos e 41 dias. Os extremos – e os únicos destaques individuais da equipe.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


A Irlanda do Norte se fechou no 4-5-1.

● O técnico Telê Santana fez algumas alterações importantes para esse confronto. Alemão voltou ao meio campo, após ter sido deslocado para a lateral direita por causa da lesão de Édson Abobrão, no início do jogo contra a Argélia. O desconhecido Josimar entrou na lateral. No ataque, Müller se tornou titular ao lado de Careca, repetindo a dupla que fazia sucesso no São Paulo. Casagrande, mal nos dois primeiros jogos, perdeu a posição.

Nas duas primeiras rodadas, a Irlanda do Norte conquistou um ponto ao empatar com a Argélia e perder para a Espanha. Para seguir com o sonho de passar de fase, precisava pontuar contra o Brasil. Por isso, o treinador Billy Bingham fechou mais o time no sistema 4-5-1, recuando Whiteside de vez.

Porém, ao se fechar, os britânicos ficaram muito presos em seu próprio campo, sem conseguir avançar. Parte do mérito disso foi a imposição técnica da Seleção Brasileira.

Durante todos os 90 minutos, os britânicos criaram apenas três chances: uma cabeçada de Whiteside, um chute do lateral esquerdo Mal Donaghy que desviou no zagueiro Júlio César e um chute do capitão Sammy McIlroy da entrada da área.

Mas o fato é que o Brasil dominou do início ao fim.

A jogada do primeiro gol foi da dupla de ataque do SPFC. Logo aos 15 minutos jogados, Müller, cercado por dois adversários, cruzou da direita. Careca se antecipou à marcação e chutou no canto.

Pat Jennings era o responsável por evitar um massacre no placar, com pelo menos sete ótimas defesas: no primeiro tempo, ele pegou um chute de Müller, outro de Branco, um cara a cara de Júnior; na segunda etapa, defendeu um voleio de Careca, uma finalização rasteira e outra pelo alto de Casagrande em dois lances seguidos, além de outra defesa cara a cara com Branco.

Mas foi mais que impossível segurar o “pombo sem asas” de Josimar. Aos 42 minutos de jogo, Josimar dominou na intermediária, avançou dois passos e chutou de bico. A bola pegou um efeito monstro, encobriu o goleiro e morreu no ângulo. Um gol sensacional.

Era a estreia do jogador do Botafogo com a camisa da Seleção Brasileira. Ele só foi chamado por causa da conturbada saída de Leandro (como já contamos aqui) e só jogou por causa da lesão de Édson.


(Imagem: Pinterest)

Na metade do segundo tempo, Telê promoveu o retorno de Zico, que ainda tratava uma lesão no joelho. O craque voltou bem, quase marcando por duas vezes.

A três minutos do fim, Careca recebeu a bola perto do bico da área e tabelou com Zico, que devolveu de calcanhar. Careca dominou, ficou de frente para o gol e finalizou no canto esquerdo.

O resultado classificou o Brasil com 100% de aproveitamento e eliminou os norte-irlandeses.

Essa foi a última partida da Irlanda do Norte em Copas do Mundo até o momento.

E é também a única vez que as duas seleções se enfrentaram, incluindo jogos não oficiais.


(Imagem: ESPN)

Na partida seguinte, Josimar marcou outro golaço contra a Polônia e garantiu de vez seu nome na história. Em sua homenagem, a revista de futebol mais popular da Noruega se chama “Josimar”. A emissora britânica BBC elegeu o gol de Josimar contra a Irlanda do Norte como o 8º mais bonito da história das Copas.

O Brasil venceu Espanha e Argélia no sufoco, ambas por 1 x 0. Depois, houve uma ingênua impressão de evolução quando venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0. Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0. Nas quartas, o Brasil enfrentaria a França, de Michel Platini, como veremos no próximo dia 21.


(Imagem: Twitter @OldFootball11)font>

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 0 IRLANDA DO NORTE

 

Data: 12/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 51.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Siegfried Kirschen (Alemanha Oriental)

 

BRASIL (4-4-2):

IRLANDA DO NORTE (4-5-1):

1  Carlos (G)

1  Pat Jennings (G)

13 Josimar

2  Jimmy Nicholl

14 Júlio César

5  Alan McDonald

4  Edinho (C)

4  John O’Neill

17 Branco

3  Mal Donaghy

19 Elzo

6  David McCreery

15 Alemão

8  Sammy McIlroy (C)

6  Júnior

10 Norman Whiteside

18  Sócrates

21 David Campbell

7  Müller

11 Ian Stewart

9  Careca

17 Colin Clarke

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Billy Bingham

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

12 Jim Platt (G)

22 Leão (G)

13 Phil Hughes (G)

2  Édson Boaro

18 John McClelland

3  Oscar

15 Nigel Worthington

16 Mauro Galvão

16 Paul Ramsey

5  Falcão

20 Bernard McNally

20 Silas

22 Mark Caughey

21 Valdo

7  Steve Penney

10 Zico

9  Jimmy Quinn

11 Edivaldo

19 Billy Hamilton

8  Casagrande

14 Gerry Armstrong

 

GOLS:

15′ Careca (BRA)

42′ Josimar (BRA)

87′ Careca (BRA)

 

CARTÃO AMARELO: 12′ Mal Donaghy (IRN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

27′ Müller (BRA) ↓

Casagrande (BRA) ↑

 

67′ Norman Whiteside (IRN) ↓

Billy Hamilton (IRN) ↑

 

68′ Sócrates (BRA) ↓

Zico (BRA) ↑

 

71′ David Campbell (IRN) ↓

Gerry Armstrong (IRN) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo (em português):

… 11/06/2002 – Dinamarca 2 x 0 França

Três pontos sobre…
… 11/06/2002 – Dinamarca 2 x 0 França


(Imagem: Pinterest)

● A França era a então campeã mundial e a maior favorita ao título, junto com a Argentina. Estava em uma sequência de títulos, com a Copa do Mundo de 1998, a Eurocopa de 2000 e a Copa das Confederações de 2001. E estavam ainda mais fortes do que quatro anos antes, mais experientes, com opções melhores no meio campo e no ataque.

Se o que faltava para a França em 1998 eram atacantes decisivos, de classe mundial, esse problema não existia mais em 2002. Thierry Henry e David Trezeguet formavam uma dupla de frente letal, que poderia ter a companhia de Sylvain Wiltord – sem contar Nicolas Anelka, que nem foi convocado. A dupla de volantes se completava. Claude Makélélé destruía e Patrick Vieira construía. Robert Pires foi uma ausência bastante sentida, ao ficar fora do Mundial por lesão nos ligamentos do joelho.

Mas o problema maior era a envelhecida defesa. Ainda permaneciam os mesmos nomes que venceram o Brasil na final em 1998: Barthez, Thuram, Lebœuf, Desailly e Lizarazu. Laurent Blanc se aposentou, mas a renovação foi fraca e Frank Lebœuff se tornou titular.

Mas o astro principal ainda era Zinédine Zidane, melhor jogador do mundo no ano anterior. Ele havia sido recém campeão da UEFA Champions League pelo Real Madrid, inclusive fazendo um gol histórico e decisivo na final, em vitória sobre o Bayer Leverkusen por 2 x 1. Pelo seu momento e pelo seu histórico decisivo em Copas, todas as expectativas francesas giravam em torno dele. Porém, como uma peça pregada pelo destino, Zizou se contundiu em um amistoso contra a Coreia do Sul, a quatro dias da estreia na Copa.


(Imagem: Whoateallthepies.tv)

● Os dinamarqueses estavam em sua terceira Copa, sendo a segunda consecutiva. Haviam chegado nas quartas de final em 1998, quando venderam caro a derrota de 3 a 2 para o Brasil. No Grupo 3 das eliminatórias europeias, se classificou invicta em um grupo que contava ainda com a Tchéquia e a Bulgária.

Não tinha mais suas referências históricas, como o goleiro Peter Schmeichel e os irmãos Brian e Michael Laudrup – aposentados. Mesmo assim, tinha a confiança da torcida e da imprensa de seu país. Apesar de não ter grandes estrelas, o time era mais equilibrado do que o de quatro anos antes.

O goleiro Thomas Sørensen substituiu Schmeichel com qualidade. Contava com a bola aérea e com o faro de gol do atacante Ebbe Sand, artilheiro da Bundesliga na temporada 2000/01. Seu parceiro de ataque era o ardiloso Jon Dahl Tomasson. O técnico era Morten Olsen, líbero da grande “Dinamáquina” de 1986. Michael Laudrup era seu auxiliar.


O técnico Morten Olsen armou o time no sistema 4-3-2-1, com um homem a mais no meio para fechar os espaços. O time tinha muita velocidade pelas pontas e jogadas aéreas.


A França jogava em um 4-2-3-1 bem compacto, com liberdade total para os ponteiros e para o maestro Zidane.

● Na partida de abertura do Mundial de 2002, a França foi surpreendida por Senegal – sua ex-colônia – e perdeu por 1 x 0. No jogo seguinte, uma partida sem gols com o Uruguai. Ambas sem Zidane.

Por ser uma situação bastante delicada, Zizou acelerou sua volta, mesmo sentindo dores, para jogar contra os dinamarqueses. Ele entrou em campo e jogou no sacrifício, pois ainda se recuperava de lesão na coxa. Mesmo sentindo dores e estando muito longe de apresentar uma forma física razoável, Zidane ainda seria o melhor da França em campo.

Se Les Bleus vencessem por uma diferença de dois gols, estariam classificados. E exatamente por isso os dois técnicos fizeram mudanças importantes em suas respectivas equipes.

O francês Roger Lemerre mudou sua tradicional defesa, deslocando Lilian Thuram para a zaga e colocando Vincent Candela na lateral direita. Christophe Dugarry ficou com a vaga de Thierry Henry, expulso contra o Uruguai. Zidane entrou na posição de Youri Djorkaeff.

Morten Olsen preferiu rechear seu meio campo para dificultar a criação francesa, com marcação especial em Zidane. Ele tirou seu artilheiro nas eliminatórias, o grandalhão Ebbe Sand, e colocou o jovem volante Christian Poulsen. Niclas Jensen dava juventude e fôlego na lateral esquerda, ao invés do veterano Jan Heintze. Martin Jørgensen era a experiência na ponta, no lugar de Jesper Grønkjær.

O primeiro ataque perigoso foi da França. Wiltord puxou contragolpe rápido e deixou para Trezeguet. Ele invadiu a área pela direita, cortou a marcação do zagueiro (que passou lotado no carrinho) e chutou com a perna boa, a esquerda. Mas Sørensen defendeu bem.

Mas a Dinamarca era mais perigosa com seu jogo vertical e velocidade pelas pontas.

Aos 22 minutos do primeiro tempo, Stig Tøfting cobrou o lateral para a área. A zaga rebateu e Tøfting cruzou na segunda trave. Dennis Rommedahl apareceu sozinho, livre nas costas da marcação para finalizar de primeira, sem qualquer chance para o goleiro Fabien Barthez. Dinamarca 1, França 0.

Logo na sequência, Zidane quase fez um golaço. Ele roubou uma bola na intermediária ofensiva e emendou de primeira. A bola passou muito próxima ao travessão, quase no ângulo.

Depois, Dugarry cruzou da esquerda e Trezeguet cabeceou bem, para o chão, como manda o figurino. Mas Sørensen defendeu de novo.

Os franceses sempre buscavam Zidane, para carimbar as jogadas de ataque. Mas ele estava muito bem marcado, além de estar longe de 100% fisicamente.

Zidane cobrou escanteio e Marcel Desailly cabeceou no travessão.

Aos 22′ da etapa final, Thomas Gravesen fez um belo passe em profundidade para Gronkjaer na ponta esquerda, que cruzou rasteiro de primeira para a área para Tomasson emendar para o gol. Tomasson segurou a camisa de Desailly, mas o árbitro não viu a falta. Com isso, o camisa 9 da Dinamarca apareceu livre na risca da pequena área e bateu de primeira no canto direito do goleiro. Dinamarca 2 a 0.

Mais próximo ao fim da partida, Bixente Lizarazu deixou com Wiltord que avançou e cruzou rasteiro da esquerda para Trezeguet chutar de primeira. A bola explodiu no travessão e não entrou.

Les Bleus criaram algumas chances de gol, mas não acabou fazendo nenhum.

Ficou para a posteridade a imagem de Zidane completamente frustrado e decepcionado com a eliminação.


(Imagem: Trivela)

● Na primeira rodada, a Dinamarca venceu o Uruguai por 2 x 1. Depois, empatou com Senegal por 1 x 1. Confirmou sua classificação em primeiro do grupo ao derrotar a França (2 x 0). Nas oitavas de final, não foi páreo para a Inglaterra e foi eliminada com a derrota por 3 a 0.

A França protagonizou o maior vexame de um campeão na Copa seguinte à da conquista da taça. Foi a pior campanha de um detentor de título mundial em toda a história, além de ser a primeira e única vez que uma seleção então campeã do mundo foi eliminada sem marcar sequer um mísero golzinho na competição.

FICHA TÉCNICA:

 

DINAMARCA 2 x 0 FRANÇA

 

Data: 11/06/2002

Horário: 15h30 locais

Estádio: Incheon Munhak Stadium

Público: 48.100

Cidade: Incheon (Coreia do Sul)

Árbitro: Vítor Melo Pereira (Portugal)

 

DINAMARCA (4-3-2-1):

FRANÇA (4-2-3-1):

1  Thomas Sørensen (G)

16 Fabien Barthez (G)

6  Thomas Helveg

2  Vincent Candela

4  Martin Laursen

15 Lilian Thuram

3  René Henriksen (C)

8  Marcel Desailly (C)

12 Niclas Jensen

3  Bixente Lizarazu

2  Stig Tøfting

4  Patrick Vieira

17 Christian Poulsen

7  Claude Makélélé

7  Thomas Gravesen

11 Sylvain Wiltord

19 Dennis Rommedahl

10 Zinedine Zidane

10 Martin Jørgensen

21 Christophe Dugarry

9  Jon Dahl Tomasson

20 David Trezeguet

 

Técnico: Morten Olsen

Técnico: Roger Lemerre

 

SUPLENTES:

 

 

16 Peter Kjær (G)

23 Grégory Coupet (G)

22 Jesper Christiansen (G)

1  Ulrich Ramé (G)

20 Kasper Bøgelund

19 Willy Sagnol

13 Steven Lustü

18 Frank Lebœuf

5  Jan Heintze

5  Philippe Christanval

23 Brian Steen Nielsen

13 Mikaël Silvestre

15 Jan Michaelsen

14 Alain Boghossian

14 Claus Jensen

17 Emmanuel Petit

8  Jesper Grønkjær

22 Johan Micoud

21 Peter Madsen

6  Youri Djorkaeff

18 Peter Løvenkrands

9  Djibril Cissé

11 Ebbe Sand

12 Thierry Henry

 

GOLS:

22′ Dennis Rommedahl (DIN)

67′ Jon Dahl Tomasson (DIN)

 

CARTÕES AMARELOS:

8′ Christophe Dugarry (FRA)

27′ Christian Poulsen (DIN)

71′ Niclas Jensen (DIN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Martin Jørgensen (DIN) ↓

Jesper Grønkjær (DIN) ↑

 

54′ Christophe Dugarry (FRA) ↓

Djibril Cissé (FRA) ↑

 

71’Patrick Vieira (FRA) ↓

Johan Micoud (FRA) ↑

 

76′ Christian Poulsen (DIN) ↓

Kasper Bøgelund (DIN) ↑

 

79′ Stig Tøfting (DIN) ↓

Brian Steen Nielsen (DIN) ↑

 

83′ Sylvain Wiltord (FRA) ↓

Youri Djorkaeff (FRA) ↑

Melhores momentos da partida:

… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia

Três pontos sobre…
… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia


(Imagem: BBC)

● A Seleção Brasileira vinha de uma sequência inédita de títulos: Copa do Mundo de 1994, Copa América de 1997 (primeira conquista do torneio fora do território nacional) e Copa das Confederações de 1997. Qualquer pessoa que acompanhasse o futebol se encantava com os torpedos de Roberto Carlos, o fôlego interminável de Cafu, a liderança de Dunga, os dribles de Denílson, o poder decisivo de Rivaldo e o encanto da dupla de ataque: Romário e Ronaldo.

Com apenas 21 anos, Ronaldo jogava na Internazionale de Milão e vivia seu auge físico e técnico. Tinha sido eleito o melhor jogador do mundo nos dois anos anteriores. Era chamado na Itália de “Il Fenomeno”.

Por tudo isso, havia uma certeza inquebrantável: era só esperar o dia 12 de julho e ouvir Galvão Bueno gritar pelo penta.

Mas, como sabemos, não seria bem assim.


(Imagem: BBC)

● O maior adversário da Seleção Brasileira no jogo de abertura da Copa do Mundo de 1998 não foi a Escócia: foram os problemas internos. O Château de Grande Romaine, nos arredores de Paris, onde a delegação ficou concentrada, era uma bomba atômica pronta para explodir.

Como na maioria das vezes, a Seleção Brasileira viajou para a Copa do Mundo de 1998 com diversas questões a serem resolvidas. Nos quinze dias que antecederam a partida, treinou pouco e mal. A discórdia foi semeada no plantel e teve problemas médicos com diagnósticos tardios e equivocados. O técnico Zagallo insistiu em variações táticas que não aproveitaram o melhor de seus craques.

Zagallo queria o time com um meio campo em losango, com Dunga mais recuado, César Sampaio ajudando e fechar os espaços e avançando pela direita, e Rivaldo fazendo esse espelho pela esquerda. Sampaio sofria para atacar e Rivaldo para defender. O time até voltou ao 4-4-2 em quadrado, com dois volantes e dos meias armadores. Mas o técnico ainda insistia com o seu famoso “número 1” (veja mais abaixo).


(Imagem: AP)

● Na tentativa de minimizar esses problemas internos, Zico foi contratado para ser o coordenador técnico, uma espécie de elo entre a CBF, a comissão técnica e os jogadores. O Galinho de Quintino usou toda sua experiência e coerência para impor suas ideias e tentar dar o sentido de união necessário para a disputa de um Mundial.

O pior dos obstáculos foi o corte de Romário. A oito dias antes da estreia na Copa, Zico foi o responsável por informar a Romário que ele estava sendo cortado da Seleção. Zico era favorável a manter uma seleção sem jogadores lesionados, com todos inteiros e à disposição. Ele teve o apoio de Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, e ganhou a queda de braço com Zagallo e o Dr. Lídio Toledo. O treinador e o médico queriam manter o Baixinho no grupo. Clinicamente, o craque estaria apto para jogar as fases de mata-mata. Ele garantia que conseguiria suportar as dores na panturrilha e culpou Zico pela sua dispensa. O atacante Romário foi substituído pelo meio campista Emerson.


(Imagem: BBC)

E sem Romário, o caminho da titularidade estava aberto para Edmundo. O Animal estava na grande fase de sua carreira e foi discutivelmente um dos melhores jogadores do mundo no ano anterior, quando “comeu a bola” e levou o Vasco da Gama ao título do Campeonato Brasileiro. Mas Zagallo preferia apostar na experiência de Bebeto, mesmo em uma fase não tão prolífica. Edmundo não suportou a ideia de treinar com o colete dos reservas e, no primeiro coletivo, quase rachou a perna de Júnior Baiano. Após o amistoso com o Athletic Bilbao, bateu boca no vestiário com Ronaldo e com Leonardo. A turma do “deixa-disso” entrou em ação, mas um zagueiro resumiu o pensamento da maioria do elenco: “Não deviam ter trazido esse cara”. A discussão ganhou as páginas dos jornais. Cinco dias antes do jogo, Edmundo deu uma entrevista por telefone na qual afirmou que estava melhor fisicamente e tecnicamente do que Bebeto. Zico entrou na questão e fez o atacante se retratar com todo o grupo.

Além da ausência de Romário, as lesões obrigaram a outras modificações no elenco original. Juninho Paulista nem chegou a estar na lista final por não estar em plena forma física após se recuperar de contusão. André Cruz foi convocado para a vaga de Márcio Santos. O lateral direito Zé Carlos substituiu Flávio Conceição, que seria um coringa como volante e lateral.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Giovanni era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.


A Escócia jogou no 3-4-3. Sem a bola, Dailly fechava como lateral esquerdo e Jackson fazia o quarto homem de meio campo, em um falso 4-4-2.

● Foi no meio desse turbilhão que o Brasil estreou na Copa. Oitenta mil pessoas lotaram o novíssimo Stade de France, em Saint-Denis, e viram os jogadores brasileiros entrarem em campo de mãos dadas, tentando emular 1994. O time de 1998 tinha mais talento que o do tetra, mas não tinha conjunto. O espírito era outro.

A Escócia não tinha nenhum jogador fora de série, como chegou a ter antigamente, com Denis Law e Kenny Dalglish. Mas possuía muita força física e um meio campo até criativo para os padrões do país.

O jogo mal tinha começado e, logo aos cinco minutos, Bebeto cobrou escanteio na primeira trave. César Sampaio se antecipou à marcação do desdentado Craig Burley e cabeceou meio de têmpora, meio de pescoço, meio de ombro… mas mandou a bola para o gol.

As estreias são naturalmente tensas e difíceis, mas o gol deixou o time brasileiro relaxado. Durante a partida, por varias vezes Ronaldo chamou o capitão escocês Colin Hendry para dançar. Mas Hendry era duro demais e ruim de dança.

Mas a técnica refinada dos brasileiros não conseguia disfarçar os problemas táticos. Giovanni era um grande jogador, mas não se adaptou à função do “número 1” de Zagallo. Os laterais Cafu e Roberto Carlos avançavam muito e os volantes Dunga e César Sampaio, já trintões, não tinham o fôlego o suficiente e demoravam na cobertura.

E em uma dessas falhas na cobertura, Sampaio derrubou Kevin Gallacher na área. Aos 38′, John Collins cobrou pênalti de pé esquerdo e mandou no cantinho direito, sem chance alguma de defesa para Taffarel – que até acertou o canto.

O empate não estava nos planos de Zagallo. Vendo a ineficácia de Giovanni, o técnico aceitou rever seus conceitos e fez o que não tinha costume, mudando tudo no intervalo.


(Imagem: Pinterest)

Aqui cabe um parêntese. Quando Zagallo reassumiu a Seleção Brasileira, após a conquista do tetra, anunciou uma “grande revolução tática de sua autoria” (sic), o sistema 4-3-1-2. Esse jogador chamado por ele de “número 1” não era um meia comum, nem um volante ou atacante, nem o ponta de lança das antigas e muito menos o ponta tradicional. Ele seria um “elo de ligação entre meio campo e ataque”, capaz de ajudar na marcação, na transição ofensiva, aparecer em todos os lugares do campo para trocar passes, servir o ataque e atacar. Nas palavras do técnico, esse jogador seria o “elo de ligação entre o meio campo e o ataque”. Foram testados na “posição”: Djalminha, Leonardo, Amoroso, Denílson, Zinho e Rivaldo. Por motivos diferentes, nenhum passou no teste. O que chegou mais próximo foi Juninho Paulista, que não se recuperou de lesão. Giovanni foi o dono da posição nos primeiros 45 minutos do Mundial. Mas o “número 1” era pura teoria e não sobreviveu à prancheta de Zagallo. No segundo tempo, o treinador trocou Giovanni por Leonardo e o sistema 4-3-1-2 pelo tradicional 4-4-2. Nessa formação, o Brasil atacava menos. Mas o “Velho Lobo” tinha certo apreço por Leonardo, que possuía a mesma disciplina tática de Zagallo quando jogador.

Mas não houve chances para a zebra e o gol da vitória veio aos 28 minutos da etapa complementar. Dunga lançou Cafu nas costas da defesa. Ele entrou na pequena área e tentou encobrir Leighton, mas a bola explodiu no peito do goleiro, que fechou bem o ângulo. O zagueiro Tom Boyd vinha na corrida, a bola bateu em seu peito e tomou o caminho do gol. Um gol contra claro. Mas que teve comemoração efusiva de Cafu, com direito a cambalhota.

As estatísticas históricas contam um início de Copa com o pé direito. Mas o que não está escrito um lugar algum é o quanto os fatores externos afetaram o rendimento do time em campo. Um gol contra da Escócia salvou os três pontos.


(Imagem: The Scottish Sun)

● Essa partida marcou a vitória de número 50 da Seleção Brasileira na história das Copas do Mundo.

O Brasil se tornou a primeira seleção a marcar mais de um gol na primeira partida da Copa desde 1966, quando o “jogo de abertura” foi instituído oficialmente.

Na segunda rodada, a Escócia empatou com a Noruega por 1 x 1. Na última rodada, os escoceses se classificariam se vencesse o Marrocos e a Noruega não vencesse o Brasil. Aconteceu tudo ao contrário. Os nórdicos venceram. E os escoceses foram goleados pelos marroquinos por 3 x 0. Com oito participações no currículo (1954, 1958, 1974, 1978, 1982, 1986, 1990 e 1998), a Escócia nunca passou de fase em uma Copa do Mundo.

Na sequência, o Brasil venceu o Marrocos por 3 x 0. Já classificado em primeiro lugar na chave, perdeu para a Noruega – sua asa negra – por 2 x 1, levando dois gols nos últimos sete minutos. Nas oitavas de final, venceu o Chile de Zamorano e Salas por 4 x 1. Nas quartas, suou para passar pela Dinamarca (3 x 2), que tinha goleado a ardilosa Nigéria. Nas semifinais, um jogo histórico contra a Holanda (1 x 1), com vitória nos pênaltis (4 x 3) graças a Taffarel. Na final, perdeu para a França por 3 x 0, com dois gols de Zidane e um de Petit.


(Imagem: By Jeff J. Mitchell / Reuters / IFDB)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 X 1 ESCÓCIA

 

Data: 10/06/1998

Horário: 17h30 locais

Estádio: Stade de France

Público: 80.000

Cidade: Saint-Denis (França)

Árbitro: José María García-Aranda (Espanha)

 

BRASIL (4-3-1-2):

ESCÓCIA (3-4-3):

1  Taffarel (G)

1  Jim Leighton (G)

2  Cafu

4  Colin Calderwood

4  Júnior Baiano

5  Colin Hendry (C)

3  Aldair

3  Tom Boyd

6 Roberto Carlos

14 Paul Lambert

5  César Sampaio

8  Craig Burley

8  Dunga (C)

22 Christian Dailly

7  Giovanni

11 John Collins

10 Rivaldo

10 Darren Jackson

20 Bebeto

7  Kevin Gallacher

9  Ronaldo

9  Gordon Durie

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Craig Brown

 

SUPLENTES:

 

 

12 Carlos Germano (G)

12 Neil Sullivan (G)

22 Dida (G)

21 Jonathan Gould (G)

13 Zé Carlos

2  Jackie McNamara

14 Gonçalves

6  Tosh McKinlay

15 André Cruz

16 David Weir

16 Zé Roberto

18 Matt Elliott

17 Doriva

19 Derek Whyte

11 Emerson

15 Scot Gemmill

18 Leonardo

17 Billy McKinlay

19 Denílson

13 Simon Donnelly

21 Edmundo

20 Scott Booth

 

GOLS:

5′ César Sampaio (BRA)

38′ John Collins (ESC) (pen)

74′ Tom Boyd (BRA) (gol contra)

 

CARTÕES AMARELOS:

25′ Darren Jackson (ESC)

37′ César Sampaio (BRA)

45+2′ Aldair (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Giovanni (BRA) ↓

Leonardo (BRA) ↑

 

72′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

78′ Darren Jackson (ESC) ↓

Billy McKinlay (ESC) ↑

 

84′ Christian Dailly (ESC) ↓

Tosh McKinlay (ESC) ↑

(Imagem: EPA – Daily Mail)

Melhores momentos da partida:

Veja o primeiro tempo e o segundo tempo completos, com transmissão da Rede Globo, nos respectivos links:
1º tempo: https://www.dailymotion.com/video/x5viwgf
2º tempo: https://www.dailymotion.com/video/x5w1jqh


(Imagem: Pinterest)

… 09/06/1990 – Colômbia 2 x 0 Emirados Árabes Unidos

Três pontos sobre…
… 09/06/1990 – Colômbia 2 x 0 Emirados Árabes Unidos


(Imagem: AFP Photo / Thenational.ae)

● A Colômbia voltava a participar de uma Copa do Mundo 28 anos depois. Foi a campeã do Grupo 2 das eliminatórias da Conmebol, deixando para trás o Paraguai e o Equador. E por ter sido o líder que somou menos pontos dentre os sul-americanos, teve que disputar a repescagem intercontinental contra Israel, que havia sido o vencedor na Oceania. Com uma vitória em casa e o empate sem gols fora, enfim, Los Cafeteros se garantiram no Mundial.

O sorteio dos grupos não foi muito favorável. Embora o Grupo D contasse com o “sparring” Emirados Árabes Unidos, tinha também as fortíssimas seleções de Alemanha Ocidental e Iugoslávia. Mas os colombianos viajaram à Itália prontos para roubarem a cena.

Todos os olhares buscavam a cabeleira acaju e despenteada de Carlos “El Pibe” Valderama. Era um “falso lento”, mas rápido com a bola nos pés e inteligente na armação. Era o capitão e cérebro do time.

O título maior de astro do país era dividido com René “El Loco” Higuita. O “goleiro-líbero” sempre roubava os olhares a cada saída espalhafatosa do gol. Pouco importava se fosse bem ou mal sucedido. Seu estilo não era nada ortodoxo e uma novidade para os europeus. Por vezes assumia o papel de zagueiro e até iniciava a armação de seu time, gerando bons contra-ataques. Se especializou também em cobranças de pênalti (cobrando e defendendo), além de ser bom batedor de falta. Terminaria a carreira com 41 gols marcados (37 em cobranças de pênalti e 4 de falta) e até hoje é o 3º maior goleiro artilheiro da história. Se não bastasse tudo isso, era ainda muito bom em sua principal função: como goleiro mesmo. Era um astro em campo, que deixava a torcida de pé.

Não eram apenas as cabeleiras exóticas que atraíam os olhares. Pela primeira vez em sua história, a Colômbia possui mais do que jogadores esforçados. Os sul-americanos praticavam um futebol moderno.

A eficiente equipe foi montada por Francisco Maturana, que começou uma revolução no futebol do país desde 1987, ao trabalhar a marcação sob pressão. Ex-jogador do Atlético Nacional, ele levou o time ao histórico título da Copa Libertadores da América de 1989, ao mesmo tempo em que treinava a seleção de seu país. Focou na renovação do plantel nacional, dando chance a novos talentos como os meias Bernardo Redín e Freddy Rincón, além do zagueiro Andrés Escobar.

Com isso, a Colômbia era a seleção que gerava mais curiosidade antes do início do Mundial. Era uma incógnita. Ninguém sabia o que realmente esperar.

Na única Copa que havia disputado, em 1962, perdeu para o Uruguai (2 x 1) e para a Iugoslávia (5 x 0), além de ter conseguido um heroico empate por 4 x 4 com a União Soviética – com direito ao único gol olímpico da história dos Mundiais – após estar perdendo por 4 x 1.


Valderrama tabela com Gildardo Gómez (Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Situado no Golfo Pérsico, os Emirados Árabes Unidos existem como nação desde 1971. Menos de duas décadas se passaram e a seleção desse país de apenas 83.600 km² (menor que o estado de Pernambuco) foi fazer a sua estreia em Copas do Mundo.

Os árabes ficaram em segundo lugar no hexagonal final das eliminatórias asiáticas. Com uma vitória e quatro empates, ficou com uma das duas vagas do continente – juntamente com a líder Coreia do Sul, que somou dois pontos a mais. Zagallo era o treinador do time. Ele soube reconhecer as deficiências de seu elenco e armou um time bastante defensivo. O “Velho Lobo” foi demitido pelo então príncipe Khalifa bin Zayed al Nahyan (atual emir – líder político do país) após discutir a premiação pela qualificação para o Mundial. O principal problema do futebol do país sempre foi a interferência das autoridades.

O técnico polonês Bernard Blaut durou um mês no emprego. Desesperados, os sheiks foram atrás de Carlos Alberto Parreira, aprendiz de Zagallo. Ele já havia treinado os emiratenses entre 1984 e 1988, formando jogadores que seriam a base desse time. Ele conhecia o potencial de cada jogador e sabia que o time era fraco. Os próprios árabes reconheciam as suas limitações e viajaram para a Itália com um objetivo em mente: não serem humilhados.

A Revista Placar da época dizia que era um “elenco repleto de homônimos barbudos que dificultam a identificação para o torcedor estrangeiro”.


A Colômbia jogava no 4-4-2 com um meio campo muito técnico. Valderrama era livre para criar. Rincón era atacante nessa época; só alguns anos depois ele se tornaria o grande volante que foi.


Parreira escalou os EAU com três zagueiros. Como o time pouco avançava, era um 5-3-2, na prática.

● Diante de quase 31 mil presentes no Stadio Renato Dall’Ara, em Bologna, a Colômbia demorou muito a fazer valer seu claro favoritismo diante da frágil seleção dos Emirados Árabes Unidos.

Durante 50 minutos, só Higuita chamou a atenção ao sair da área para tirar uma bola de cabeça e para driblar um atacante rival.

Os cafeteros só acordaram aos cinco minutos do segundo tempo.

A defesa emiratense errou a linha de impedimento e Álvarez cruzou para Rodín cabecear no contrapé do goleiro.

O placar foi fechado a cinco minutos do fim.

Aos 41′, Estrada fez um lançamento de seu campo. Valderrama dominou pela esquerda, cortou para o meio de chutou de fora da área, no canto esquerdo do goleiro.


Gildardo Gómez disputa a bola com Adnan Al Talyani (Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Como esperado, a seleção dos Emirados Árabes Unidos foi a última colocada da Copa do Mundo de 1990. A menor das derrotas foi para os colombianos (2 x 0). As goleadas vieram para Alemanha Ocidental (5 x 1) e para a Iugoslávia (4 x 1).

A Colômbia, após vencer os árabes, perdeu para a Iugoslávia por 1 x 0 e empatou com a Alemanha Ocidental nos minutos finais, com gol de Freddy Rincón. Se classificou para a próxima fase como um dos melhores terceiros colocados. Enfrentou a também surpreendente seleção de Camarões e perdeu na prorrogação por 2 x 1, com dois gols do velhinho Roger Milla – o segundo em uma falha gritante de René Higuita, que tentou driblar quase no meio campo e perdeu a bola.


Andrés Escobar disputa no alto com o goleiro Muhsin Musabah (Imagem: Michel Lipchetz / AP / SFFS / sfgate.com)

FICHA TÉCNICA:

 

COLÔMBIA 2 x 0 EMIRADOS ÁRABES UNIDOS

 

Data: 09/06/1990

Horário: 17h00 locais

Estádio: Stadio Renato Dall’Ara

Público: 30.791

Cidade: Bologna (Itália)

Árbitro: George Courtney (Inglaterra)

 

COLÔMBIA (4-4-2):

EMIRADOS ÁRABES UNIDOS (5-3-2):

1  René Higuita (G)

17 Muhsin Musabah (G)

4  Luis Fernando Herrera

19 Eissa Meer

15 Luis Carlos Perea

6  Abdulrahman Mohamed

2  Andrés Escobar

20 Yousuf Hussain

3  Gildardo Gómez

2  Khalil Ghanim

14 Leonel Álvarez

15 Ibrahim Meer

8  Gabriel “Barrabás” Gómez

3  Ali Thani Jumaa

11 Bernardo Redín

14 Nasir Khamees

10 Carlos Valderrama (C)

12 Hussain Ghuloum

19 Freddy Rincón

7  Fahad Khamees (C)

16 Arnoldo Iguarán

10 Adnan Al Talyani

 

Técnico: Francisco Maturana

Técnico: Carlos Alberto Parreira

 

SUPLENTES:

 

 

12 Eduardo Niño (G)

1  Abdullah Musa (G)

21 Alexis Mendoza

22 Abdulqadir Hassan (G)

5  León Villa

21 Abdulrahman Al-Haddad

6  José Ricardo Pérez

4  Mubarak Ghanim

13 Carlos Hoyos

16 Mohamed Salim

17 Geovanis Cassiani

5  Abdullah Ali Sultan

18 Wilmer Cabrera

13 Hassan Mohamed

22 Rubén Darío Hernández

8  Khalid Ismaïl

20 Luis Fajardo

18 Fahad Abdulrahman

9  Miguel Guerrero

9  Abdulaziz Mohamed

7  Carlos Estrada

11 Zuhair Bakheet

 

GOLS:

50′ Bernardo Redín (COL)

85′ Carlos Valderrama (COL)

 

CARTÕES AMARELOS:

5′ Eissa Meer (EAU)

55′ Yousuf Hussain (EAU)

70′ Ibrahim Meer (EAU)

 

SUBSTITUIÇÕES:

57′ Fahad Khamees (EAU) ↓

Zuhair Bakheet (EAU) ↑

 

74′ Eissa Meer (EAU) ↓

Abdullah Ali Sultan (EAU) ↑

 

75′ Arnoldo Iguarán (COL) ↓

Carlos Estrada (COL) ↑

Veja os gols da partida – em imagens bastante prejudicadas pelo reflexo do sol, mas que são as únicas disponíveis:

Vídeo com a escalação das duas seleções:

… 08/06/1958 – França 7 x 3 Paraguai

Três pontos sobre…
… 08/06/1958 – França 7 x 3 Paraguai


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Na primeira partida das eliminatórias europeias para a Copa do Mundo de 1958, a França logo tratou de mostrar suas credenciais. Em Paris, goleou sua maior concorrente, a Bélgica, por 6 x 3, com cinco gols do centroavante Thadée Cisowski, polonês naturalizado francês. O empate sem gols no jogo da volta, em Bruxelas, garantiu a liderança do Grupo 2 (que também tinha a Islândia) e a vaga no Mundial. Nessa partida, os destaques foram o goleiro Claude Abbes e o zagueiro Mustapha Zitouni. Porém, Zitouni, que era argelino, abandonou Les Bleus antes da Copa para se juntar à seleção da FLN – Frente de Libertação Nacional –, que era um grupo de guerrilheiros que vinham travando combates contra o domínio francês desde 1954 e lutando pela independência da Argélia – o que só viria a ocorrer em 1962. As ações da FLN ganharam maior força em 1958. Outros três argelinos deixaram a seleção francesa e voltaram para seu país natal: os meias Rachid Mekloufi e Abdelaziz Ben Tifour, além do ponta direita Said Brahimi. O atacante Célestin Oliver, também argelino, permaneceu na seleção francesa.

Se já não bastasse o problema da deserção, ainda houve a lesão de Cisowski, que fraturou a perna jogando pelo Racing de Paris. Para piorar, René Bliard, outro atacante, lesionou o tornozelo em jogo-treino contra um clube sueco, a poucos dias do Mundial. Essas ausências acabaram abrindo brecha para a convocação de Just Fontaine. Ele era outro imigrante, nascido no Marrocos, mas seu país de nascimento já era independente desde 1956 e ele já estava radicado na França há cinco anos. Fontaine era um atacante de enorme poder de finalização, como seria provado durante o Mundial.

Assim, o técnico Albert Batteux não conseguiu formar seu time ideal e teve que remontar sua lista de convocados. O treinador optou pelo entrosamento, ao chamar seis jogadores do Stade de Reims, multicampeão nacional e duas vezes vice-campeão da Copa dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League).

Raymond Kopa não esteve presente nas eliminatórias, mas pôde fortalecer o elenco bleu no Mundial. O meia jogava no Real Madrid desde 1956 e, como a Espanha não se qualificou para a Copa, os dirigentes do Real Madrid concordaram em sua liberação.


(Imagem: Pinterest)

● No Grupo 3 do qualificatório sul-americano, o Uruguai jogava pelo empate, mas o Paraguai surpreendeu. Com a lesão do ponta esquerda Genaro Benítez (único da equipe que jogava no exterior, no Millonarios, da Colômbia), o jovem Florencio Amarilla estreou na seleção albirroja e marcou um “hat trick” na goleada de 5 x 0 sobre a Celeste Olímpica, que garantiu o Paraguai na liderança da chave e, consequentemente, a vaga para a Copa.

O time na Suécia era praticamente o das eliminatórias. Não pôde contar com alguns dos melhores jogadores nascidos em seu território: o já citado Genaro Benítez, o zagueiro Heriberto Herrera (do Atlético de Madrid) e o atacante Eulogio Martínez (do Barcelona). Ambos haviam se naturalizado e vestiram a camisa da seleção espanhola. Certamente esses três elevariam muito o nível técnico da aguerrida equipe guarani, treinada por Aurelio González, ex-atacante do Olimpia e da seleção.


Como praticamente todas as seleções da Copa de 1958, o sistema defensivo francês ainda estava disposto no WM, mas já indicava uma transição para uma formação com quatro defensores. Armand Penverne era o meia defensivo pela direita, mas recuava com frequência quase como se fosse um quarto zagueiro. Kopa era mais armador e Piantoni avançava como um ponta de lança.


O Paraguai jogava duro e cometia muitas faltas. Atuava em tática semelhante, mais parecido ao sistema WM Diagonal criado pelo técnico brasileiro Flávio Costa. Salvador Villalba era o meia defensivo que jogava mais recuado. José Parodi fazia o balanço no meio, enquanto Cayetano Ré (que seria artilheiro no Barcelona na década seguinte) avançava para completar o quarteto de ataque.

● No domingo, dia 08/06/1958, mais de 16 mil pessoas estiveram no estádio Idrottsparken, na cidade de Norrköping, no sudoeste da Suécia. Cercada de expectativas, a França estreou contra o Paraguai. Os expectadores puderam presenciar uma partida incrível, com três viradas e dez gols marcados.

Aos 21 minutos de jogo, o centroavante Jorge Lino Romero foi derrubado dentro da área. Amarilla converteu e abriu o placar.

Quatro minutos depois, Fontaine recebeu de Kopa dentro da área e finalizou da marca do pênalti, empatando a partida.

A primeira virada foi francesa. Aos 30′, novamente Kopa fez o passe e Fontaine finalizou de dentro da área, vencendo o goleiro Ramón Mayeregger e fazendo 2 x 1. Foram dois passes geniais de Kopa e dois gols quase idênticos de Fontaine.

Mas os paraguaios estavam ligados em uma tomada de 220 volts e não se deram por vencidos. Como o time francês era muito ofensivo, oferecia espaços entre as linhas, especialmente na defesa. Amarilla, de novo, empatou no finalzinho do primeiro tempo. Ele recebeu na entrada da área e chutou no angulo esquerdo do goleiro François Remetter.

Mais uma virada ocorreu aos cinco minutos da etapa final, quando Amarilla lançou para Romero finalizar. Paraguai 3, França 2.

Logo na sequência, o jogo mudaria drasticamente. O meia José Parodi levou a pior em um choque de cabeças com Jean-Jacques Marcel e ficou praticamente desacordado. Ele teve que sair de campo e deixou os guaranis com um a menos, já que não haviam substituições na época.

Foi o que precisava para começar o show do avassalador ataque francês. Aos 7, o ponta de lança Roger Piantoni finalizou sem defesa para o goleiro Ramón Mayeregger: 3 a 3.

Maryan Wisnieski fez boa jogada individual e marcou aos 17′, na derradeira e definitiva virada desse memorável jogo: 4 x 3.

O quinto gol saiu aos 21′. Piantoni cruzou para a pequena área. Fontaine ganhou a dividida com o goleiro e marcou seu “hat trick”.

Kopa fez o seu aos 25′, avançando com a bola dominada e chutando sem chances para o goleiro paraguaio.

A seis minutos do apito final, o marcador foi fechado pelo ponta esquerda Jean Vincent, que recebeu de Kopa e arrematou no canto, fechando o jogo em absurdos 7 x 3.


(Imagem: Europe1.fr)

● Quem viu apenas o resultado não imagina o quanto a partida foi difícil. Foi um duelo muito equilibrado, em que a linha ofensiva dos bleus estava imparável e, comandada por Fontaine, fez toda a diferença para a goleada exagerada.

O placar elástico surpreendeu o público e a imprensa, assim como o outro resultado do grupo, o empate por 1 x 1 entre Iugoslávia e Escócia – pois os iugoslavos eram amplamente favoritos.

O Paraguai caiu na primeira fase, mas teve uma despedida honrada, ao vencer a Escócia por 3 x 2 e empatar com a Iugoslávia por 3 x 3.

Por sua vez, a França perdeu para a Iugoslávia por 3 a 2 e venceu a Escócia por 2 a 1, se classificando como líder do Grupo 2, com quatro pontos. Nas quartas de final, goleou a Irlanda do Norte por 4 a 0. Nas semifinais, não foi páreo para o Brasil de Didi e Pelé e perdeu por 5 a 2. Na decisão do 3º lugar, massacrou a Alemanha Ocidental por 6 a 3, com quatro gols de Fontaine, artilheiro do Mundial com 13 gols em 6 partidas. Até hoje ele é o maior goleador em uma única edição de Copa do Mundo.


Fontaine é festejado pelos companheiros de seleção (Imagem: Getty Images / FIFA)

● Quando se fala em seleção francesa de futebol, logo se pensa nos campeões do mundo de 1998 e 2018. O que essas grandes equipes tem em comum? As três cores principais da bandeira estão mais para “black, blanc, beur” (uma alusão aos negros, brancos e árabes) do que azul, branco e vermelho. Os imigrantes sempre foram a principal força do futebol no país, desde seus primórdios. Se em 1998, 13 dos jogadores possuíam alguma ligação ou origem estrangeira, no time de 2018 eram 20 dos 23. A primeira equipe francesa de destaque, que ficou com o 3º lugar na Copa do Mundo de 1958, também tinha “pé de obra” importado. Além dos argelinos que deixaram Les Bleus para atuarem pela FLN e de Thadée Cisowski, nascido na Polônia, o destaque foi o artilheiro do Mundial com 13 gols: o marroquino Just Fontaine. O grande craque era Raymond Kopaszewski, o Kopa, de família polonesa, assim como Maryan Wisnieski. Por sua vez, o ponta direita era amigo de infância de Roger Piantoni, de ascendência italiana, assim como o arqueiro Dominique Colonna e o meia Bernard Chiarelli. O atacante Célestin Oliver nasceu na Argélia. O goleiro Claude Abbes era filho de um agricultor espanhol. Já os familiares de Kazimir Hnatow deixou a região onde fica a atual Ucrânia antes que o atleta nascesse.


Em pé: Kaelbel, Penverne, Jonquet, Marcel, Remetter e Lerond. Sentados: Wisnieski, Fontaine, Kopa, Piantoni e Vincent. (Imagem: Imortais do Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 7 x 3 PARAGUAI

 

Data: 08/06/1958

Horário: 19h00 locais

Estádio: Idrottsparken

Público: 16.518

Cidade: Norrköping (Suécia)

Árbitro: Juan Gardeazábal Garay (Espanha)

 

FRANÇA (WM):

PARAGUAI (WM):

3  François Remetter (G)

1  Ramón Mayeregger (G)

4  Raymond Kaelbel

2  Edelmiro Arévalo

10 Robert Jonquet (C)

3  Juan Vicente Lezcano

5  André Lerond

17 Agustín Miranda

13 Armand Penverne

5  Salvador Villalba

12 Jean-Jacques Marcel

4  Ignacio Achúcarro

22 Maryan Wisnieski

7  Juan Bautista Agüero (C)

20 Roger Piantoni

8  José Parodi

17 Just Fontaine

9  Jorge Lino Romero

18 Raymond Kopa

21 Cayetano

21 Jean Vincent

11 Florencio Amarilla

 

Técnico: Albert Batteux

Técnico: Aurelio González

 

SUPLENTES:

 

 

1  Claude Abbes (G)

12 Samuel Aguilar (G)

2  Dominique Colonna (G)

13 Luis Gini

6  Roger Marche

14 Darío Segovia

7  Robert Mouynet

6  Eligio Echagüe

11 Maurice Lafont

19 Eliseo Insfrán

8  Bernard Chiarelli

15 Luis Santos Silva

9  Kazimir Hnatow

16 Claudio Lezcano

14 Raymond Bellot

18 Benigno Gilberto Penayo

15 Stéphane Bruey

20 José Raúl Aveiro

16 Yvon Douis

10 Óscar Aguilera

19 Célestin Oliver

22 Eligio Antonio Insfrán

 

GOLS:

20′ Florencio Amarilla (PAR)

24′ Just Fontaine (FRA)

30′ Just Fontaine (FRA)

44′ Florencio Amarilla (PAR) (pen)

50′ Jorge Lino Romero (PAR)

52′ Roger Piantoni (FRA)

61′ Maryan Wisnieski (FRA)

67′ Just Fontaine (FRA)

70′ Raymond Kopa (FRA)

83′ Jean Vincent (FRA)

Veja os gols da partida:

 

… 07/06/1962 – México 3 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 07/06/1962 – México 3 x 1 Tchecoslováquia


(Imagem: @tabaspas no Twitter / The18.com)

● A maior surpresa do Mundial de 1962 foi a vitória do México sobre a Tchecoslováquia. Até então, os latino-americanos nunca haviam ganhado uma partida de Copa do Mundo, enquanto os europeus tinham um bom time e já tinham história por terem sido vice-campeões em 1934.

A Tchecoslováquia venceu o Grupo 8 das eliminatórias da UEFA, ao bater a Escócia na prorrogação do jogo desempate, em um grupo que tinha também a Irlanda.

O México precisou passar por mais fases no qualificatório para ficar com a única vaga da CONCACAF na fase final do torneio. Na primeira, passou pelos Estados Unidos. Na segunda, venceu um triangular final com apenas um ponto a mais que a Costa Rica e dois a mais que as Antilhas Holandesas. Enfrentou o Paraguai na repescagem intercontinental e empatou sem gols em Assunção após vencer por 1 x 0 na Cidade do México. Enfim, La Tri estava na Copa.

Na primeira rodada, os astecas perderam para o Brasil por 2 x 0. No segundo jogo, vendeu muito caro a derrota para a Espanha (1 x 0), que só conseguiu marcar no último minuto.

A Tchecoslováquia vinha de uma vitória sobre a Espanha por 1 x 0 e de um empate sem gols com o Brasil – partida na qual o Rei Pelé se lesionou e se despediu do Mundial.

Com a derrota da Espanha para o Brasil no dia anterior, a partida entre México e Tchecoslováquia havia perdido importância, já que os tchecos estavam classificados com três pontos e os mexicanos eliminados, sem somar pontos até então. Apesar disso, foi uma partida histórica. Até então, o México nunca havia vencido uma partida em Copas do Mundo desde sua primeira edição, em 1930. Nos treze jogos anteriores, o retrospecto era um empate (1 x 1 com o País de Gales, em 1958) e doze derrotas. E o jejum foi quebrado 32 anos depois, na 14ª partida.


Ambas equipes atuavam no esquema tático 4-2-4.

● Com sua camisa vermelho bordô, os mexicanos deram a saída. Os tchecoslovacos, de uniforme branco, roubaram a bola no meio de campo e trocaram passes até que Josef Masopust lançou o ponta esquerda Václav Mašek nas costas da defesa. Ele correu mais que Del Muro, invadiu a área e tocou cruzado, no canto esquerdo do goleiro. Eram jogados apenas 15 segundos de partida.

Este foi o gol mais rápido da história das Copas até 2002, quando o Hakan Şükür marcou para a Turquia aos 11 segundos, na partida que decidiu o 3º lugar contra a Coreia do Sul.

Parecia que seria mais um jogo daqueles para os mexicanos – igual a tantos outros –, em que a derrota era certa.

Os europeus continuaram no ataque. Adolf Scherer abriu com Jozef Štibrányi na ponta direita e ele chutou rasteiro para uma importante defesa de Carbajal.

Com muita vontade e garra, o México passou a neutralizar os ataques adversários, colocou a bola no chão e passou a jogar.

O empate veio aos 13 minutos. De cabeça erguida, Alfredo Hernández arrancou pelo meio e passou para Héctor Hernández próximo à meia-lua. Ele se livrou da marcação e tocou para Salvador Reyes, que deixou o zagueiro no chão tocou para Héctor Hernández. O camisa 9 tabelou com Alfredo del Águila na ponta direita e, ao receber de volta, chutou cruzado. Isidoro Díaz apareceu sozinho dentro da pequena área para escorar para o gol vazio.

Mesmo com mais toque de bola e tentando avançar, os europeus não conseguiam impor sua pressão, insistindo nas mesmas jogadas manjadas pelas pontas.

Aos 29′, a Tchecoslováquia errou a saída de bola. Del Águila roubou de Svatopluk Pluskal, tabelou com Alfredo Hernández, entrou na área e chutou de esquerda no canto esquerdo do goleiro Viliam Schrojf.

No segundo tempo, os astecas recuaram para segurar o resultado e os tchecos acordaram. E Carbajal foi se tornando o melhor homem em campo.

A melhor chance dos europeus foi em um chute do perigoso atacante Scherer, que o veterano goleiro defendeu em dois tempos.

Mesmo com dois jogadores mexicanos machucados (não havia substituições na época), os tchecos não conseguiram romper a defesa latina.

Mas o contragolpe mexicano estava fatal naquele dia. Na última volta do ponteiro, o lateral direito Jan Lála colocou a mão na bola dentro da área. Hector Hernández bateu no canto direito, deslocando Schroijff e fechando o placar.


(Imagem: Pinterest)

● O triunfo foi o maior presente de aniversário possível para o goleiro Antonio Carbajal, que completava 33 anos exatamente naquele dia. Carbajal é um dos mais longevos e importantes goleiros da história do futebol mexicano e mundial. Foi eleito pela IFFHS o 15º melhor de sua posição no século XX. Com apenas 19 anos, foi o maior destaque de sua seleção nos Jogos Olímpicos de 1948 e esteve no elenco que disputou a Copa do Mundo de 1966. Foi o primeiro jogador a disputar cinco Mundiais (1950, 1954, 1958, 1962 e 1966). Assim, conseguiu a “proeza” de sofrer gols de jogadores de gerações tão diferentes, como Ademir de Menezes e Pelé. Apesar de ter a “honra” de ser um dos goleiros que mais levaram gols em Mundiais (25 em 11 jogos), certamente a seleção mexicana teria sofrido muito mais se ele não tivesse sido o dono da camisa 1 por tantos anos. Era dotado de bom posicionamento, reflexo apurado e boa saída do gol, além da coragem e liderança que sempre o caracterizou – não a toa foi capitão em três Copas.

Viva México! A Cidade do México viu uma festa que se faz aos campeões, com os festejos indo até a madrugada. Provavelmente foi a maior comemoração que já se viu para um time eliminado na primeira fase da Copa.

Com essa vitória, pela primeira vez os mexicanos não foram lanternas de seu grupo. Graças ao critério do goal average (divisão do número de gols pró pelo número de gols contra), ficaram à frente da poderosa Espanha de Ferenc Puskás e Paco Gento no Grupo III. México e Espanha terminaram com dois pontos ganhos e o mesmo saldo de gols (1 negativo). La Tri marcou 3 e sofreu 4 (goal average de 0,75) e a Fúria fez dois gols e levou 3 (goal average de 0,66).

Para os fãs das teorias conspiratórias, a derrota da Tchecoslováquia foi… digamos… conveniente. Como já estava classificada, pôde escolher o próximo adversário. Entre Hungria e Inglaterra, preferiram perder para os mexicanos para enfrentar os húngaros na próxima fase. Se essa teoria for verdade, a escolha não foi tão inteligente. A Hungria tinha um time melhor e estava jogando mais do que a Inglaterra naquele momento.

E mesmo sofrendo muito, a Tchecoslováquia conseguiu vencer a Hungria por 1 x 0 nas quartas de final. Nas semifinais, passou pelo bom time da Iugoslávia em vitória por 3 x 1. Na decisão, enfrentou o invencível Brasil e perdeu por 3 x 1, gols de Amarildo, Zito e Vavá, com Josef Masopust descontando. Foi a segunda e última vez que o país chegou à final da Copa do Mundo.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

MÉXICO 3 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 07/06/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Sousalito

Público: 10.648

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça)

 

MÉXICO (4-2-4):

TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):

1  Antonio Carbajal (G)(C)

1  Viliam Schrojf (G)

2  Jesús del Muro

2  Jan Lála

5  Raúl Cárdenas

5  Svatopluk Pluskal

3  Guillermo Sepúlveda

3  Ján Popluhár

15 Ignacio Jáuregui

4  Ladislav Novák (C)

8  Salvador Reyes

19 Andrej Kvašňák

6  Pedro Nájera

6  Josef Masopust

7  Alfredo del Águila

7  Jozef Štibrányi

9  Héctor Hernández

8  Adolf Scherer

18 Alfredo Hernández

10 Jozef Adamec

11 Isidoro Díaz

14 Václav Mašek

 

Técnico: Ignacio Trelles

Técnico: Rudolf Vytlačil

 

SUPLENTES:

 

 

12 Jaime Gómez (G)

22 Pavel Kouba (G)

22 Antonio Mota (G)

21 Jozef Bomba

13 Arturo Chaires

12 Jiří Tichý

4  José Villegas

13 František Schmucker

14 Pedro Romero

15 Vladimír Kos

16 Salvador Farfán

16 Titus Buberník

19 Antonio Jasso

17 Tomáš Pospíchal

20 Mario Velarde

18 Josef Kadraba

10 Guillermo Ortiz

9  Pavol Molnár

17 Felipe Ruvalcaba

20 Jaroslav Borovička

21 Alberto Baeza

11 Josef Jelínek

 

GOLS:

15” Václav Mašek (TCH)

12′ Isidoro Díaz (MEX)

29′ Alfredo del Águila (MEX)

90′ Héctor Hernández (MEX) (pen)

Veja a partida completa no vídeo abaixo.
(Seguem os minutos das jogadas completas dos gols:
– 04:10 Mašek 0-1;
– 16:05 Díaz 1-1;
– 32:25 Del Águila 2-1; e
– 1:38:35 Hernández 3-1.)

… 06/06/1978 – Argentina 2 x 1 França

Três pontos sobre…
… 06/06/1978 – Argentina 2 x 1 França


(Imagem: AFP / Folha)

● Após 48 anos, a Copa do Mundo voltou a ser disputada às margens do Rio da Prata. A primeira vez foi no Uruguai. Em 1978 foi a vez da Argentina ser o maior palco do futebol mundial. Os portenhos já tinham pleiteado o direito de sediar o torneio em outras ocasiões, mas só tiveram sucesso em 1966, quando foi escolhida como anfitriã para a competição que seria disputada doze anos depois.

Dois anos antes, uma junta militar foi responsável por dar um golpe de estado e tirar do poder Isabelita Perón, viúva do mítico presidente Juan Domingo Perón. Autodenominada “Processo de Reorganização Nacional”, a junta foi constituída pelos comandantes das três forças armadas: Jorge Rafael Videla (exército), Emilio Massera (marinha) e Orlando Agosti (força aérea). Logo na sequência, o general Videla assumiu a presidência e governou por cinco anos com mão de ferro.

E foi nesse período, em meio a um turbilhão de acontecimentos na política e na sociedade argentina, que o Mundial ocorreu: bem no período mais crítico da ditadura militar. A tortura e os métodos de combate aos opositores geravam controvérsia internacional e houve até boatos de boicote em massa à competição.

Era um país sem confiança e baixa autoestima. E, assim como em outros países sul-americanos, o futebol era tido como um eficiente meio de propaganda do país ao mundo e uma forma de distração para o povo.

Realizar a Copa do Mundo com êxito se tornou fundamental. Foram construídos três estádios (nas cidades de Córdoba, Mendoza e Mar del Plata) e outros três foram reformados (Gigante de Arroyito – em Rosário; Monumental de Núñez e El Fortín de Liniers – em Buenos Aires). Na capital, foi construído em tempo recorde o mais bem equipado centro de imprensa da América do Sul. Ironicamente, os pobres hermanos só podiam assistir ao torneio em preto e branco, enquanto as imagens mais sofisticadas da época eram transmitidas mundo afora.

César Luis Menotti (ex-jogador do Santos de Pelé) se tornou técnico da seleção há quatro anos. Nesse último ciclo, armou um time limitado, mas voluntarioso e competitivo. Tinha a difícil missão de consertar a imagem arranhada da qual os portenhos saíram dos últimos Mundiais, voltando ao tempo em que sua seleção era mais conhecida pela prática do bom futebol do que pelas jogadas ríspidas. Para isso, contava com o ótimo meia-atacante Mario Kempes, o único de seus convocados que jogava no exterior – no Valencia, da Espanha.

Menotti preferiu prescindir do talento de um genial e genioso menino de apenas 17 anos chamado Diego Armando Maradona. Ele havia estreado na albiceleste no início do ano anterior, mas foi um dos três cortados de última hora. O treinador julgou que o mancebo não tinha a experiência necessária para lidar com a enorme pressão que a torcida exercia (veja mais abaixo).


(Imagem: AFP)

● A França voltava a disputar uma Copa do Mundo após doze anos. Tendo como time-base o bom time do Saint-Étienne, tricampeão francês na década de 1970 (Christian Lopez, Dominique Bathenay e Dominique Rocheteau eram titulares de Les Bleus), possuía uma geração inexperiente em nível internacional, mas de enorme talento, com destaques para Michel Platini, Dominique Rocheteau e Didier Six. O calcanhar de aquiles era o sistema defensivo, embora contasse com o bons nomes como Marius Trésor e Maxime Bossis.

Os franceses venceram o Grupo 5 das eliminatórias europeias com cinco pontos. Na última rodada, Les Bleus precisavam vencer os búlgaros em Paris e venceram por 3 x 1. Na ocasião, a Bulgária não conseguiu ser a “asa negra” da França, como havia sido em 1961 e seria ainda mais em 1993 – mas esse é um delicioso assunto para outra hora.

A seleção francesa tentou boicotar a sua ida para a Copa em resposta ao assassinato de freiras francesas pelo regime militar argentino, mas não tiveram êxito no boicote.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.


A França também jogava no 4-3-3, com Platini tendo liberdade para criar e com muita movimentação dos pontas.

● O Grupo 1 era bastante equilibrado, com a dona da casa e favorita Argentina, a sempre poderosa Itália, além da rejuvenescida França e do bom time da Hungria. Na primeira rodada, a Squadra Azzurra venceu Les Bleus por 2 x 1 e os albicelestes bateram os magiares pelo mesmo placar.

Uma segunda vitória praticamente garantia a dona da casa no quadrangular semifinal. Assim, mais de 70 mil expectadores lotaram o mítico estádio Monumental de Núñez. Vestidos de azul e branco, os fanáticos torcedores argentinos jogavam junto com o time, enchendo o campo de muita serpentina e papel picado quando sua seleção entrava em campo.

A primeira chance do jogo foi argentina. René Houseman entrou na área pelo lado esquerdo e deixou com Kempes na entrada da área. O camisa 10 encheu a perna esquerda de primeira, mas a bola foi na trave.

O primeiro tempo estava prestes a terminar sem gols, mas o árbitro suíço Jean Dubach marcou um pênalti a favor dos hermanos. Após uma boa jogada de Kempes, Luque chutou cruzado e Trésor tentou cortar, mas, já caído, a bola desviou em seu braço dentro da área. Toda a Argentina reclamou. O volante Américo Gallego perseguiu o juiz desde o meio de campo até a conversa com o bandeira. Deu a impressão de ter ganhado no grito, mas a penalidade existiu mesmo. O capitão Daniel Passarella cobrou o pênalti com força no canto esquerdo e converteu, fazendo a festa de seus compatriotas. No último minuto do primeiro tempo, a Argentina abriu o placar.

Aos dez minutos da segunda etapa, Luque chutou da intermediária e a bola subiu. O goleiro francês Bertrand-Demanes espalmou por cima, mas, na queda, sofreu o choque da trave no meio das costas. O arqueiro não conseguiu continuar em campo e foi substituído por Dominique Baratelli.

A França lutou e conseguiu a reação aos 15′. Battiston lançou por cima da defesa platina. Bernard Lacombe recebeu na direita e tentou encobrir Fillol, mas a bola foi no travessão. O próprio Lacombe dominou o rebote e deixou para Platini, que vinha de frente, encher a perna esquerda para a baliza desprotegida e empatar o jogo, marcando o seu primeiro gol em Copas.

A França mantinha a pressão e se inspirava no jovem Michel Platini, então camisa 15, que estava prestes a completar 23 anos. Ele estava sempre no centro das melhores jogadas. Com a visão de jogo de um veterano, ele avançou desde sua intermediária defensiva, viu uma brecha na defesa adversária e achou Didier Six livre. O ponta esquerda passou por Tarantini e tocou na saída de Fillol. Caprichosamente, a bola passou rente à trave e foi para fora.

Como diz aquele velho ditado: “quem não faz…” O erro custou caro à França, que deixou passar seu melhor momento no jogo.

Aos 28′, Ardiles tocou para Luque na entrada da área. Ele teve tempo e espaço para dominar sozinho, deixar a bola quicar e chutar para o gol. A bola vadia de Luque desviou no meio do caminho, traiu o goleiro Baratelli e tomou o rumo do gol.

Leopoldo Luque foi o melhor em campo, sendo fundamental nos dois gols. Mesmo com uma luxação no ombro, após uma dividida com o zagueiro francês Christian Lopez, o camisa 14 continuou firme em campo. O que ele não sabia é que seu irmão Oscar tinha falecido após sofrer um acidente naquela manhã. Seus pais só lhe informaram do acontecimento no dia seguinte.

Esse havia sido o melhor jogo da Copa até aquele momento. A Argentina estava classificada. A França, mesmo com um dos melhores times do campeonato, era eliminada após apenas dois jogos.


Luque marca o segundo gol da albiceleste (Imagem: Pinterest)

● Com a vitória da Itália sobre a Hungria por 3 x 1, italianos e argentinos já estavam classificados quando se enfrentaram na terceira rodada. A Itália ganhou de 1 x 0 na Argentina, enquanto a França (jogando com uma equipe mista e o uniforme listrado em verde e branco, do time do Kimberley, da terceira divisão) venceu a Hungria por 3 x 1, e ambas ficaram na primeira fase.

No quadrangular semifinal, a Argentina venceu a Polônia por 2 x 0 e empatou sem gols com o Brasil. Na terceira rodada (como explicamos aqui), precisava vencer o Peru por quatro ou mais gols de diferença para chegar à final. E em uma partida no mínimo estranha, venceu por 6 x 0. Na final, continuou contando com a sorte e venceu a Holanda por 3 x 1 na prorrogação.

Essa foi o último Mundial em que 16 participaram da fase final. A partir de 1982, na Espanha, seriam 24 seleções.

Curiosamente, essa foi a primeira Copa do Mundo em que a Argentina usou o famoso uniforme com o escudo da AFA (Asociación del Fútbol Argentino). Nas edições anteriores, a camisa albiceleste ainda não tinha o escudo.

A numeração dos jogadores da Argentina era feita pela ordem alfabética dos sobrenomes, independentemente da posição. Assim, o volante Norberto Alonso ficou com a camisa 1, enquanto o goleiro titular Ubaldo Fillol jogou com a 5. Coincidências da vida, o maior craque, Mario Kempes, ficou mesmo com a 10 – o que lhe cabia tão bem.

Em 27/02/1977, com apenas 16 anos, Diego Armando Maradona estreou pela seleção argentina principal em um amistoso com a Hungria. Apenas alguns dias depois, em 03/04, estreou na seleção sub-17 no Sul-Americano, onde não teve bons resultados. Foi pré-convocado para a Copa de 1978, mas mesmo com clamor do público e da mídia, o treinador César Luis Menotti decidiu não convocá-lo. O técnico explicaria: “Ele ainda é um garoto e precisa amadurecer. Mas sem dúvida ele pode mais que os outros e ainda vai brilhar muito no futebol”. Diego não guarda mágoas de Menotti e o considera o melhor treinador que já teve. O ex-craque Omar Sívori também o consolou: “Me escute, garoto… você tem a verdade do futebol dentro de si e toda uma vida para mostrá-la”. Mesmo decepcionado, Diego enviaria um telegrama aos jogadores, desejando sorte, e assistiu in loco dois jogos (contra a Itália e a final contra a Holanda).


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 2 x 1 FRANÇA

 

Data: 06/06/1978

Horário: 19h15 locais

Estádio: Monumental Antonio Vespucio Liberti (Monumental de Núñez)

Público: 71.666

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Jean Dubach (Suíça)

 

ARGENTINA (4-3-3):

FRANÇA (4-3-3):

5  Ubaldo Fillol (G)

21 Jean-Paul Bertrand-Demanes (G)

15 Jorge Olguín

2  Patrick Battiston

7  Luis Galván

6  Christian Lopez

19 Daniel Passarella (C)

8  Marius Trésor (C)

20 Alberto Tarantini

3  Maxime Bossis

6  Américo Gallego

9  Dominique Bathenay

2  Osvaldo Ardiles

11 Henri Michel

21 José Daniel Valencia

15 Michel Platini

10 Mario Kempes

18 Dominique Rocheteau

9  René Houseman

17 Bernard Lacombe

14 Leopoldo Luque

19 Didier Six

 

Técnico: César Luis Menotti

Técnico: Michel Hidalgo

 

SUPLENTES:

 

 

3  Héctor Baley (G)

1  Dominique Baratelli (G)

13 Ricardo La Volpe (G)

22 Dominique Dropsy (G)

18 Rubén Pagnanini

4  Gérard Janvion

11 Daniel Killer

5  François Bracci

8  Rubén Galván

7  Patrice Rio

12 Omar Larrosa

10 Jean-Marc Guillou

17 Miguel Oviedo

12 Claude Papi

1  Norberto Alonso

13 Jean Petit

16 Oscar Alberto Ortiz

14 Marc Berdoll

4  Daniel Bertoni

16 Christian Dalger

22 Ricardo Villa

20 Olivier Rouyer

 

GOLS:

45′ Daniel Passarella (ARG) (pen)

60′ Michel Platini (FRA)

73′ Leopoldo Luque (ARG)

 

CARTÃO AMARELO: 88′ Didier Six (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

55′ Jean-Paul Bertrand-Demanes (FRA) ↓

Dominique Baratelli (FRA)

 

64′ José Daniel Valencia (ARG) ↓

Norberto Alonso (ARG) ↑

 

71′ Norberto Alonso (ARG) ↓

Oscar Alberto Ortiz (ARG) ↑

Melhores momentos da partida: