Três pontos sobre…
… 04/07/1998 – Holanda 2 x 1 Argentina
(Imagem: UOL)
● O técnico Daniel Passarella sonhava em repetir o feito de Zagallo e Franz Beckenbauer, que conquistaram a Copa do Mundo como jogador e treinador. Ele havia sido o capitão da seleção campeã em 1978 e também compunha o elenco de 1986. Mas Passarella era muito cabeça dura. Ele baixou um estranho decreto para a equipe: quem tivesse o cabelo comprido não seria convocado para a Copa. Segundo ele, um jogador com cabelo curto passa a mão na cabeça seis vezes por jogo, enquanto um cabeludo faz a mesma coisa de 60 a 90 vezes. A maioria se dobrou à vontade de Passarella, como Ariel Ortega e Gabriel Batistuta. Mas os craques Fernando Redondo e Claudio Caniggia se rebelaram, permaneceram cabeludos e viram o Mundial pela TV. Caniggia se lesionou pouco antes da Copa, mas o genial Redondo ficou de fora por opção do treinador.
Passarella gostava de armar seu time com três zagueiros. A frente do goleiro Carlos Roa, ficavam Roberto Sensini mais pela direita, José Chamot mais pela esquerda e Roberto Ayala na sobra. Javier Zanetti fazia a ala direita. Torto, o capitão Diego Simeone fazia a ala esquerda, caindo pelo meio em muitas vezes. Essa função limitava Simeone a uma faixa do campo, mas o liberava para aparecer mais no ataque, o que fazia muito bem. Matías Almeyda era o responsável pela proteção no meio de campo. A criatividade estava a cargo de Juan Sebastián Verón. Ariel Ortega era o meia-atacante que pendia para a direita. Claudio López era o atacante de lado que caía para a esquerda. Todos jogando em função de um dos atacantes mais prolíficos da década: Gabriel Batistuta. No banco, Marcelo Gallardo era da mesma posição de Ortega e Hernán Crespo fazia a função de Batistuta. Não a toa, nenhum técnico seleção albiceleste colocou Crespo e Batistuta para jogarem juntos.
Na primeira fase, pelo Grupo H, a Argentina suou para vencer o Japão por 1 x 0, na estreia dos nipônicos em Copas do Mundo. Depois, goleou a Jamaica por 5 x 0 e assegurou a liderança ao vencer a Croácia por 1 x 0. Nas oitavas de final, fez o “Clássico das Malvinas” com a Inglaterra e venceu nos pênaltis por 4 x 3, após empate por 2 x 2 com a bola rolando.
(Imagem: Michael Steele / Empics / Getty Images)
● A Holanda era a cabeça de chave no Grupo E. Na primeira fase, empatou por 0 x 0 com a vizinha Bélgica, goleou a Coreia do Sul por 5 x 0 e empatou por 2 x 0 com o bom time do México. Nas oitavas de final, venceu por 2 x 1 com um gol de Edgar Davids no apagar das luzes.
A Oranje não tinha mais a geração de Ronald Koeman, Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco van Basten, mas havia craques em todas as posições do campo. E o clima interno era bom – bem diferente da Eurocopa de 1996, quando surgiram sérios problemas racistas, que culminaram na dispensa de Davids da delegação.
Treinada por Guus Hiddink, a Holanda era uma equipe muito ofensiva. O goleiro era o excepcional Edwin van der Sar. Os laterais Michael Reiziger e Arthur Numan marcavam e apoiavam com eficiência. Jaap Stam era forte na marcação e tinha bom tempo de bola. O capitão Frank de Boer tinha mais técnica, ótimo posicionamento e era um líder em campo. Wim Jonk era um volante que batia muito bem na bola e sabia jogar. Edgar Davids era seu parceiro no meio e sempre se apresentava à frente – talvez tenha sido o melhor jogador do Mundial de 1998. Ronald de Boer era o meia pela direita, ótimo nos passes e perfeito cruzamentos. Phillip Cocu era o meia pela esquerda, também muito técnico e de boa chegada ao ataque. No ataque, Dennis Bergkamp era a própria excelência, com lances geniais e gols incríveis. Patrick Kluivert era pura explosão em todos os sentidos. No banco, ótimos nomes como o meia Clarence Seedorf e os pontas Marc Overmars e Boudewijn Zenden.
Explosão essa que fez Kluivert ficar suspenso de três partidas, após ter sido expulso na estreia por agredir Lorenzo Staelens no empate sem gols com a Bélgica.
A Holanda jogava no 4-4-2, com muita aproximação dos homens de meio campo.
A Argentina jogava no 3-5-2, com liberdade para Verón armar o jogo e aproximação de Ortega ao ataque.
● A partida foi um espetáculo assistido por 55 mil expectadores no estádio Vélodrome, em Marselha. Os noventa minutos foram tensos e de ótimos momentos do início ao fim.
Logo no início, a Holanda já adiantou a marcação, pressionando e roubando bolas no campo adversário e começando os contragolpes mais a frente do normal. Logo aos seis minutos, Wim Jonk chutou uma bola na trave.
Aos 12 minutos de jogo, Ronald de Boer fez uma boa jogada na direita e lançou na entrada. Genial, Bergkamp escorou de cabeça para o meio da área. Kluivert apareceu entre os zagueiros e tocou a saída do goleiro Roa. Foi o primeiro gol de Kluivert no Mundial.
Cinco minutos depois, a Holanda errou na linha de impedimento, Verón lançou nas costas da defesa e Claudio López apareceu livre. Os holandeses ficaram parados pedindo um impedimento inexistente (Reiziger deu condições). Enquanto isso, Piojo López escapou e ficou cara a cara com Van der Sar e teve tranquilidade para tocar entre as pernas do goleiro. (Nunca vi um goleiro tomar tanto gol entre as pernas como Van der Sar. Provavelmente é por causa do tamanho delas…) Na comemoração de seu primeiro gol na Copa, López exibiu uma camiseta com a mensagem de feliz aniversário para seu pai.
As duas equipes tiveram boas chances para tirar a igualdade do placar. Ortega e Batistuta foram parados pela trave. A cabeçada de Kluivert parou em uma ótima defesa de Roa.
A partida se equilibrou. A Holanda tentava tabelas e jogadas individuais. A Argentina recuava a apostava nos contragolpes.
Davids deu uma arrancada ao seu estilo desde o meio campo, entrou na área e quase fez um golaço. Pouco tempo depois, seu chute de longe parou na defesa de Roa.
(Imagem: Pinterest)
Aos 31′ do segundo tempo, Davids fez falta em Verón e, com o jogo já parado, Numan deixou a sola em Simeone, que saiu rolando e valorizando a jogada. O árbitro Arturo Brizio Carter corretamente aplicou o segundo cartão amarelo e expulsou o lateral esquerdo holandês.
Os argentinos se lançaram à frente e começaram a ter mais espaço.
Dez minutos depois, Ortega tentou cavar um pênalti e atrasou a passada, deixando a perna para ser tocada por Stam. O juiz mexicano não caiu na dele e lhe deu amarelo. Van der Sar foi reclamar da cena com o argentino e levou uma cabeçada do descontrolado e imaturo camisa 10, que foi expulso pelo árbitro pela agressão.
A igualdade numérica fez a Holanda ressurgir e o golaço decisivo saiu no último minuto do tempo regulamentar.
Do lado esquerdo de sua intermediária defensiva, o lançamento de Frank de Boer foi preciso e percorreu 40 metros em dois segundos. Quase na pequena área, Dennis Bergkamp dominou com a ponta da chuteira, deu um toque entre as pernas de Ayala e finalizou com o lado externo do pé, no ângulo do goleiro Roa.
(Imagem: AFP / Getty Images / Daily Mail)
● Um dos gols mais lindos da história das Copas e um dos mais lindos e marcantes que eu já vi. Não precisam me narrar esse gol. Ele sempre está fresco na memória.
Uma das maiores curiosidades sobre o genial Dennis Bergkamp é o medo de voar de avião. Enquanto a delegação da Holanda voava de cidade em cidade nos jogos da Copa, ele seguia de carro com um membro da comissão técnica.
A Holanda eliminava a Argentina e se vingava pela derrota na final da Copa de 1978.
Das quatro seleções semifinalistas, três nunca haviam ganhado a Copa do Mundo (França, Croácia e Holanda – apenas o Brasil já tinha conquistado o título).
Com a vitória sobre a Argentina, a Holanda se garantia novamente entre os quatro primeiros após vinte anos. Na semifinal, enfrentaria o Brasil. Contaremos essa história no dia 07/07.
(Imagem: AP / Daily Mail)
● FICHA TÉCNICA: |
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HOLANDA 2 X 1 ARGENTINA |
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Data: 04/07/1998 Horário: 16h30 locais Estádio: Stade Vélodrome (atual Orange Vélodrome) Público: 55.000 Cidade: Marselha (França) Árbitro: Arturo Brizio Carter (México) |
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HOLANDA (4-4-2): |
ARGENTINA (3-5-2): |
1 Edwin van der Sar (G) |
1 Carlos Roa (G) |
2 Michael Reiziger |
6 Roberto Sensini |
3 Jaap Stam |
2 Roberto Ayala |
4 Frank de Boer (C) |
3 José Chamot |
5 Arthur Numan |
22 Javier Zanetti |
6 Wim Jonk |
5 Matías Almeyda |
16 Edgar Davids |
8 Diego Simeone (C) |
7 Ronald de Boer |
11 Juan Sebastián Verón |
11 Phillip Cocu |
10 Ariel Ortega |
8 Dennis Bergkamp |
7 Claudio López |
9 Patrick Kluivert |
9 Gabriel Batistuta |
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Técnico: Guus Hiddink |
Técnico: Daniel Passarella |
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18 Ed de Goey (G) |
12 Germán Burgos (G) |
22 Ruud Hesp (G) |
17 Pablo Cavallero (G) |
13 André Ooijer |
14 Nelson Vivas |
15 Winston Bogarde |
13 Pablo Paz |
19 Giovanni van Bronckhorst |
4 Mauricio Pineda |
20 Aron Winter |
15 Leonardo Astrada |
16 Sergio Berti |
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12 Boudewijn Zenden |
20 Marcelo Gallardo |
14 Marc Overmars |
21 Marcelo Delgado |
17 Pierre van Hooijdonk |
18 Abel Balbo |
21 Jimmy Floyd Hasselbaink |
19 Hernán Crespo |
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GOLS: |
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12′ Patrick Kluivert (HOL) |
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17′ Claudio López (ARG) |
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90′ Dennis Bergkamp (HOL) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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10′ Jaap Stam (HOL) |
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17′ Arthur Numan (HOL) |
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22′ José Chamot (ARG) |
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60′ Roberto Sensini (ARG) |
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86′ Ariel Ortega (ARG) |
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CARTÕES VERMELHOS: |
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76′ Arthur Numan (HOL) |
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87′ Ariel Ortega (ARG) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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64′ Ronald de Boer (HOL) ↓ |
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Marc Overmars (HOL) ↑ |
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68′ Matías Almeyda (ARG) ↓ |
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Mauricio Pineda (ARG) ↑ |
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89′ José Chamot (ARG) ↓ |
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Abel Balbo (ARG) ↑ |
(Imagem: Veja)
Gol decisivo de Bergkamp, narrado em holandês por Jack van Gelder – uma das narrações mais enlouquecidas de todos os tempos:
Gols da partida (em português), narrados pelo inesquecível Luciano do Valle:
Gols da partida (em inglês, do canal FIFATV):