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… 21/06/1986 – Brasil 1 x 1 França

Três pontos sobre…
… 21/06/1986 – Brasil 1 x 1 França


(Imagem: Trivela)

● Das quatro partidas das quartas de final, essa era a mais aguardada. Havia Argentina vs. Inglaterra, envolvidas recentemente em uma guerra. Mas, em âmbito esportivo, Brasil e França tinham uma qualidade técnica conjunta muito maior. Para muitos, era o encontro entre os dois melhores times da Copa de 1982. Mas agora, estavam envelhecidos quatro anos e com os elencos parcialmente renovados.

O futebol francês vivia o melhor momento até então, causando uma euforia sem precedentes. Tinha um estilo de jogo moderno para a época e havia amadurecido com as derrotas de 1978 e 1982. Michel Platini, Dominique Rocheteau e Maxime Bossis eram os remanescentes das duas Copas anteriores.

O técnico era Henri Michel, titular do meio campo francês em 1978. Ele foi o comandante do time que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1984 – curiosamente, sobre o Brasil na final. Fiel seguidor de seu antecessor Michel Hidalgo, ele pouco modificou o sistema tático usado nas Copas anteriores.

Tinha um time muito forte, semifinalista da Copa de 1982 e campeã da Eurocopa de 1984. O maestro Michel Platini vivia o auge da forma. Craque de bola, ele era ao mesmo tempo um armador e um finalizador. Era o arco e a flecha. Foi eleito o Bola de Ouro nos três anos anteriores (1983, 1984 e 1985) pela revista France Football, como melhor jogador da Europa.

Na estreia, a França venceu o Canadá por 1 x 0. Depois, empatou com a União Soviética por 1 x 1 e bateu a Hungria por 3 x 0. Se classificou em 2º lugar no Grupo C, atrás da URSS no saldo de gols (+4, contra +8 dos soviéticos). Nas oitavas de final, venceu a Itália, então campeã do mundo, derrubando uma invencibilidade de sessenta anos dos italianos diante dos franceses.

O Brasil tinha um bom time. Mas o futebol que encantou o mundo em 1982, apareceu apenas em lampejos quatro anos depois. Era o fim de uma geração talentosa, mas já próxima de seu fim. Sócrates começava seu declínio, enquanto Zico estava há um ano sem jogar e Falcão era reserva e já estava nos últimos dias de sua carreira. Na primeira fase, venceu Espanha e Argélia no sufoco, ambas por 1 x 0. Depois, houve uma ingênua impressão de evolução quando venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0. Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


A França também jogava no 4-4-2. O destaque era seu quarteto de meio campo, com muita qualidade técnica: Fernández, Tigana, Giresse e Platini.

● O Brasil já começou perdendo no sorteio para escolher campo ou bola e começou atacando para a esquerda das cabines de televisão – ao contrário das quatro partidas anteriores no estádio Jalisco, em Guadalajara, quando começava atacando para a direita. Mas a superstição não entrava em campo.

O primeiro tempo foi de altíssimo nível. A França atacou primeiro. Luis Fernández cruzou e a zaga brasileira rebateu. Platini recolheu, tabelou com Alain Giresse e chutou. A bola foi desviada e sobrou para Manuel Amoros encher o pé de esquerda. Passou bem perto da meta de Carlos.

O Brasil logo reagiu. Müller tocou para Careca no meio e ele deixou Sócrates em condição de finalizar. Cara a cara com o goleiro Bats, o Doutor chutou forte de esquerda, mas o arqueiro francês fechou bem o ângulo. Sócrates apanhou o rebote e lançou Branco na área, mas Jöel Bats dividiu e segurou firme.

Aos 17′, o goleiro Bats chutou a bola para a frente, Josimar recuperou a bola e deixou com Sócrates, que tocou para Elzo. O volante abriu na direita com Josimar. Vários jogadores participam da jogada, com dez trocas de passes precisas, abrindo espaço na defesa francesa, até culminar em uma envolvente tabela entre Müller e Júnior, que passou na medida para Careca sozinho na meia-lua. Ele bateu de primeira e colocou a bola no ângulo esquerdo de Bats.

Era o quinto gol de Careca no Mundial. Ele chegava com tudo para brigar pela artilharia com o inglês Gary Lineker.


(Imagem: Hipólito Pereira / O Globo)

O placar fazia justiça ao futebol apresentado pelo Brasil, que continuou no ataque. Houve um certo domínio e a impressão que venceria com facilidade. Aos 32 minutos, Sócrates lançou para Careca na ponta esquerda. Ele passou por Bossis e, da linha de fundo, cruzou para Müller. O chute do atacante sãopaulino explodiu na trave de Bats. Müller tinha vinte anos e havia sido a revelação do Campeonato Paulista de 1985. Tomou a vaga de Casagrande no time titular a partir da terceira partida, a vitória sobre a Irlanda do Norte por 3 x 0.

A França escapou do nocaute e acabou levando o Brasil para as cordas. Aos poucos, Les Bleus começaram a se arriscar mais no ataque. Não era uma equipe de intensidade física, mas trocava passes com muita inteligência.

Aos 40′, Manuel Amoros avançou e tocou para o meio. Alain Giresse abriu na ponta direita com Dominique Rocheteau, que cruzou rasteiro para a área. A bola desviou em Edinho e passou entre Carlos e Yannick Stopyra, sobrando mansinha para Platini, que só teve o trabalho de completar para o gol vazio, antes da chegada de Josimar. Platini completava 31 anos naquele dia. Foi o primeiro e seria o único gol sofrido por Carlos na Copa.

O equilíbrio e o nível técnico do jogo aumentaram ainda mais no segundo tempo, quando as duas equipes tiveram boas oportunidades para desempatar.

Aos 19′, Tigana tabelou com Rocheteau, invadiu a área e tentou encobrir Carlos, mas o goleiro brasileiro impediu o gol.

Na sequência desse lance houve o contragolpe brasileiro. E Sócrates avançou e entregou para Júnior, que encheu o pé da entrada da área, mas Bats fez a defesa espalmando para frente do jeito que deu.

O calor e a agilidade do jogo começam a cansar os franceses.

Aos 25′, Josimar fez um cruzamento perfeito e Careca cabeceou forte no travessão. Pela segunda fez, a França era salva pela trave.

Com o jogo cada vez mais acelerado, Telê Santana decide usar a carta que tinha na manga e coloca Zico em campo aos 26′. Depois de um ano se recuperando de uma lesão no joelho, o craque do Flamengo voltou a vestir a camisa da Seleção Brasileira. Dois minutos depois de entrar, ele fez um lançamento preciso e precioso para Branco invadir a grande área e ser derrubado por Bats.

Pênalti para o Brasil. Zico não esperava bater. O cobrador oficial era Sócrates, que, na euforia, deixou a incumbência para o Galinho, que ainda estava frio e totalmente sem ritmo de jogo. Aos 33 anos, Zico sabia que aquela seria a sua última chance de conquistar uma Copa e ele não queria desperdiçá-la. E pegou a bola sem tanta confiança. Mas, ao contrário de dezenas de pênaltis que converteu em sua bela carreira, dessa vez ele bateu mal, à meia altura e entre o meio do gol e a trave esquerda: o local mais propício para defesa do goleiro e foi o que aconteceu. Bats saltou e defendeu. Um erro incomum na carreira do Galinho. Certamente foi o pênalti mais dolorido que Zico perdeu na vida. Platini consolou o colega da camisa 10 brasileira.


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

Mas Zico ainda teve outra oportunidade de ouro para matar o jogo aos 43′. Josimar fez mais um cruzamento perfeito da direita e Zico, livre, cabeceou nas mãos de Bats.

O goleiro Bats vivia seu dia de glória. Quatro anos antes, ele lutou e venceu um câncer nos testículos. A poesia foi o refúgio no qual ele encontrou forças para suportar e tratar a doença.

No último minuto, mais uma chance para o Brasil, mas o chute de Josimar passou por cima.

A decisão foi mesmo para a prorrogação. Seriam necessários mais trinta minutos debaixo de um sol escaldante.


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

● E o jogo recomeçou com a França no ataque. Aos 7, Rocheteau arrancou em disparada desde o círculo central, passou por três brasileiros e foi travado por Júlio César. Stopyra pegou a sobra, mas também chutou em cima da defesa. Uma bela jogada de Rocheteau, em sua terceira Copa do Mundo.

O ritmo foi ficando mais lento, favorecendo a troca de passes dos Bleus. Platini passou a aparecer mais no jogo e de seus pés saíam as melhores jogadas francesas.

Aos 11′ do segundo tempo da prorrogação, ele fez um lançamento genial para Bruno Bellone arrancar sozinho e em posição legal. Mas, no desespero, Carlos saiu da área e segurou o atacante francês, que ainda tentou seguir na bola, mas se desequilibrou. Júlio César apareceu e afastou o perigo. O juiz deveria ter expulsado Carlos, mas sequer marcou a falta (que ocorreu fora da área), indicando que havia concedido uma duvidosa lei da vantagem – que acabou não ocorrendo, claro.

Um minuto depois, Careca cruzou rasteiro da ponta direita e a bola passou por Sócrates, dentro da pequena área e com o gol vazio à sua frente. O Doutor perdeu um gol feito. Foi a última oportunidade de um jogo repleto delas.

Mas o destino de Brasil e França seria decido nos tiros livres da marca do pênalti.


(Image: Hipólito Pereira / O Globo)

● O Brasil ganhou o sorteio e começou batendo. Completamente esgotado, Sócrates bateu de forma quase displicente, tomando pouca distância e ensaiando uma paradinha. Mas Bats não se moveu e Sócrates cobrou mal, à meia altura no canto direito, facilitando o trabalho do goleiro francês.

Os cobradores seguintes foram impecáveis. Stopyra bateu alto, no meio do gol e converteu para a França. Alemão bateu no canto esquerdo e fez para o Brasil. Amoros também chutou no canto esquerdo e anotou para a França. Zico se redimiu e marcou o seu: contrariando seu estilo clássico, chutou com raiva, forte, quase no meio do gol – 2 a 2 no placar.

Bruno Bellone contou com a sorte. Sua cobrança bateu no pé da trave esquerda, voltou nas costas do goleiro Carlos foi para o gol. Se Carlos tivesse ficado parado, a França teria desperdiçado a cobrança. Mas o goleiro brasileiro acertou o canto. E a bola, ao voltar da trave, bateu em seu ombro e tomou o rumo do gol.

Os brasileiros discutiram a validade do gol, achando que não valia. Mas foi válido. A FIFA explicaria depois: o cobrador tem direito a um único toque na bola e a cobrança termina quando a bola entra ou não no gol, sendo ou não tocada pelo goleiro – a trave era neutra.

Branco encheu o pé esquerdo e estufou as redes, batendo do meio para direita de Bats.

Platini beijou a bola. Em sua carreira, ele já havia convertido muitos penais em situações decisivas. Mas dessa vez ele errou, mandando a bola por cima. Tudo igual de novo.

O ótimo zagueiro Júlio César (eleito para a Seleção do Mundial, junto com o lateral Josimar) tinha a chance de colocar o Brasil à frente. Ele disparou um canhão, com toda força contida em seu pé direito, mas a bola explodiu na trave.

Luis Fernandéz teve a maior responsabilidade de sua carreira. E ele converteu com enorme categoria, no cantinho direito de Carlos, decretando a eliminação brasileira.

O Brasil, que sofreu apenas um gol em cinco partidas, terminava a Copa invicto e eliminado. Pela segunda vez consecutiva, a França estava nas semifinais.


(Imagem: Trivela)

● Certamente essa foi a melhor partida da Copa de 1986, cumprindo as expectativas. As duas equipes mostraram um futebol refinado, técnico e leal – tanto, que o árbitro não precisou apresentar nenhum cartão nos 120 minutos de bola rolando. “Os dois mereciam ganhar”, afirmou o jornal ABC de Madri.

Assim como em 1978, a Seleção foi eliminada mesmo terminando a competição invicta. No cômputo geral, ficou na 5ª posição.

Carlos ficou com fama de azarado pelo pênalti, mas foi o goleiro menos vazado da competição.

Essa foi a única partida que a Seleção não venceu em Copas disputadas no México. Somando 1970 e 1986, foram 11 jogos, com 10 vitórias e um empate com sabor de derrota.

“Escolhi o Júlio César porque era o melhor nos treinos. E Careca bate mal.” ― Telê Santana, explicando a opção pelo zagueiro nas cobranças de pênaltis.

“Em 1982, eu acertei, mas a França perdeu. Hoje, eu errei, mas nos classificamos. Prefiro assim.” ― Michel Platini.

“Se a Copa do Mundo tivesse sido disputada anualmente entre 1982 e 1986, a França ganharia duas ou três vezes.” ― Michel Platini

Após passar pelo Brasil nas quartas de final, a França perdeu para a Alemanha Ocidental por 2 x 0 nas semifinais. Na decisão do 3º lugar, venceu a Bélgica por 4 x 2.


(Imagem: Pedro Martinelli / Veja)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 1 FRANÇA

 

Data: 21/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 65.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Ioan Igna (Romênia)

 

BRASIL (4-4-2):

FRANÇA (4-4-2):

1  Carlos (G)

1  Joël Bats (G)

13 Josimar

2  Manuel Amoros

14 Júlio César

4  Patrick Battiston

4  Edinho (C)

6  Maxime Bossis

17 Branco

8  Thierry Tusseau

19 Elzo

9  Luis Fernández

15 Alemão

14 Jean Tigana

6  Júnior

12 Alain Giresse

18  Sócrates

10 Michel Platini (C)

7  Müller

18 Dominique Rocheteau

9  Careca

19 Yannick Stopyra

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Henri Michel

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

22 Albert Rust (G)

22 Leão (G)

21 Philippe Bergeroo (G)

2  Édson Boaro

5  Michel Bibard

3  Oscar

7  Yvon Le Roux

16 Mauro Galvão

3  William Ayache

5  Falcão

15 Philippe Vercruysse

20 Silas

13 Bernard Genghini

21 Valdo

11 Jean-Marc Ferreri

10 Zico

16 Bruno Bellone

11 Edivaldo

20 Daniel Xuereb

8  Casagrande

17 Jean-Pierre Papin

 

GOLS:

17′ Careca (BRA)

40′ Michel Platini (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

71′ Müller (BRA) ↓

Zico (BRA) ↑

 

84′ Alain Giresse (FRA) ↓

Jean-Marc Ferreri (FRA) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO Júnior (BRA) ↓

Silas (BRA) ↑

 

99′ Dominique Rocheteau (FRA) ↓

Bruno Bellone (FRA) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

BRASIL 3

FRANÇA 4

Sócrates (perdeu, à direita, defendido por Joël Bats)

Yannick Stopyra (gol, no alto, no meio do gol)

Alemão (gol, no canto esquerdo)

Manuel Amoros (gol, no canto esquerdo)

Zico (gol, forte, no meio do gol)

Bruno Bellone (gol, na trave esquerda, voltou nas costas do goleiro Carlos e foi para o gol)

Branco (gol, forte, no meio do gol, um pouco à direita de Bats)

Michel Platini (perdeu, por cima do ângulo esquerdo)

Júlio César (perdeu, na trave direita)

Luis Fernández (gol, no canto direito)


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 20/06/1994 – Brasil 2 x 0 Rússia

Três pontos sobre…
… 20/06/1994 – Brasil 2 x 0 Rússia


(Imagem: Pinterest)

● Nas três primeiras conquistas do Brasil em Copas do Mundo (1958, 1962 e 1970), o futebol arte se tornou sinônimo da camisa amarelinha. Por isso, poucos botavam fé no futebol pragmático apresentado pelo time do técnico Carlos Alberto Parreira. Mas depois de 24 anos sem o título, o treinador preferiu abdicar de jogar bonito para entrar na história como campeão.

Havia um temor para a Copa de 1994: que o Brasil passasse a mesma vergonha de quatro anos antes. A Seleção teve dificuldades e perdeu uma partida pela primeira vez na história das eliminatórias sul-americanas, para a Bolívia na altitude, por 2 a 0. Os brasileiros acabaram sofrendo mais que o normal e só garantiram a vaga na última rodada, ao vencerem o Uruguai por 2 x 0. Com a lesão de Müller, Parreira teve que engolir o orgulho e convocar de última hora o seu desafeto Romário, que acabou por marcar os dois gols que deram a vaga ao Brasil para o Mundial.

Antes disso, para mostrar a união do grupo, Ricardo Rocha propôs que o time entrasse de mãos dadas em campo a partir do jogo de volta contra a Bolívia, em Recife (vitória por 6 x 0). Esse gesto se tornaria uma das imagens mais marcantes da equipe em todos os jogos do Mundial.


(Imagem: Veja)

● A espinha dorsal ainda era a mesma da Copa anterior. Dez dos convocados para 1994 estiveram presentes em 1990: Taffarel, Jorginho, Ricardo Rocha, Aldair, Branco, Dunga, Mazinho, Müller, Bebeto e Romário. Como novidade, surgia o menino Ronaldo, do Cruzeiro, de apenas 17 anos.

Parreira perdeu um de seus líderes uma semana antes da estreia, no amistoso contra El Salvador: o zagueiro Ricardo Gomes – capitão em 1990 e candidato a ser também em 1994 – sofreu um estiramento na coxa e foi desligado da delegação. Para seu lugar, foi convocado o zagueiro Ronaldão. Antes, no início da preparação, já havia perdido o também zagueiro Mozer, com problemas no fígado.

Durante a semana da estreia, Romário sentiu dores na virilha e não treinou – mas estaria pronto para o jogo. Branco ainda estava se recuperando de dor na lombar e dava lugar a Leonardo na lateral esquerda. Roberto Carlos, do Palmeiras, estava em grande fase e a presença de Branco foi uma das mais contestadas, mas Parreira bancou a presença do experiente jogador do Fluminense.

Sem Ricardo Gomes, Raí foi o capitão no início do Mundial. Ele chegava à competição bastante contestado, mas estava recuperando a confiança aos poucos. Em carta aberta à torcida publicada na véspera da partida, disse que já podia imaginar as jogadas que faria e que tinha certeza que marcaria um gol, talvez de cabeça.


(Imagem: O Curioso do Futebol)

● Havia uma grande expectativa sobre a primeira participação da Rússia em Copas do Mundo após a dissolução da União Soviética. E como essa separação tinha ocorrido recentemente, alguns jogadores remanescentes da URSS escolheram defender a Rússia em 1994. Entre os 22 convocados Yuriy Nikiforov, Vladislav Ternavsky, Viktor Onopko, Ilya Tsymbalar e Sergei Yuran eram nascidos na região pertencente à Ucrânia; Andrey Pyatnitsky era do Uzbequistão; Omari Tetradze era da Geórgia; e Valeri Karpin (tecnicamente o melhor do elenco) era da Estônia.

Liderados por Andriy Kančelskis, seis bons jogadores promoveram um boicote e abandonaram a seleção por divergências com o polêmico treinador Pavel Sadyrin: Ihor Dobrovols’kyi, Igor Shalimov, Igor Kolyvanov, Sergei Kiriakov e Vasiliy Kulkov. Karpin estava entre os dissidentes, mas voltou atrás e permaneceu no grupo.

Para o jogo contra o Brasil, a Rússia não pôde contar com o bom líbero Viktor Onopko, melhor jogador do último Campeonato Russo, que estava suspenso.


O Brasil atuava no 4-4-2, com dois volantes e dois meias. O sistema do técnico Parreira consistia em manter a maior posse de bola possível e dar o bote no momento certo. A figura símbolo desse estilo de jogo era o meia Zinho, apelidado de “enceradeira” por girar com a bola de um lado para outro, sem agressividade.


A Rússia jogou no 3-5-2, com os alas Gorlukovich e Tsymbalar bastante adiantados.

● Mais de 81 mil pessoas encheram o Stanford Stadium, em Palo Alto, em plena segunda feira. A temperatura de 36º centígrados era aliada brasileira, já que Parreira sempre treinava a seleção nos horários dos jogos, para os atletas já irem se habituando.

Trocando passes em sua própria intermediária, o Brasil só conseguiu avançar para o campo adversário aos quatro minutos. E foi se soltando aos poucos.

Na saída de jogo, Mauro Silva recuava e se posicionava entre os zagueiros, permitindo que Jorginho e Leonardo avançassem. Dunga geralmente era o responsável pelos passes de transição, sempre priorizando os laterais. Zinho segurava a bola e dava suporte ao apoio de Leonardo. Raí ficava mais centralizado, enquanto Bebeto flutuava pela direita e pelo centro. Romário ficava mais próximo da área, sempre à espreita.

A primeira chance foi aos nove minutos, quando Dunga cortou de carrinho no meio campo e Bebeto lançou Romário. Em velocidade, o baixinho dominou na direita da grande área, tirou Nikiforov do lance e cruzou para trás, mas não tinha ninguém chegando para finalizar.

No minuto seguinte, Dunga lançou Jorginho na ponta direita. O lateral dominou, passou a bola entre as pernas de Tsymbalar, mas Nikiforov chegou pra dividir fazendo cobertura. Dunga pegou o rebote e cruzou na segunda trave. Bebeto tentou seu tradicional voleio, mas a bola passou por cima do gol.

Márcio Santos avançou pela lateral esquerda e tocou para Dunga no meio. O volante brasileiro se enrolou com a bola e ela sobrou para Radchenko tabelar com Yuran, mas Márcio Santos chegou a tempo de travar o chute. Na sequência, Tsymbalar chutou forte, mas Taffarel defendeu com tranquilidade.

No minuto 14, Raí e Romário tabelavam e a zaga russa tirou. A bola foi em direção a Ricardo Rocha, que foi enganado pelo quique da bola, se desequilibrou e teve que puxar Yuran pela camisa. Seria uma ocasião clara e manifesta de gol, que caberia o cartão vermelho. Mas Ricardo Rocha simulou ter sofrido uma lesão e escapou de ser expulso pelo árbitro Lim Kee Chong, das Ilhas Maurício.

Aos 20, o juiz compensou ao não marcar um empurrão sobre Leonardo dentro da área russa.


(Imagem: Gazeta Press)

Aos 26′, houve uma série de tiros de canto a favor da Seleção Brasileira. No último desses escanteios, Bebeto cobrou da esquerda, a bola passou por Márcio Santos e Romário se antecipou à marcação e tocou de bico, rasteiro, para o fundo das redes.

Pouco depois, Romário sofreu pênalti claro ao ser agarrado por Ternavsky (um carrapato na marcação individual sobre o Baixinho), mas o juiz ignorou.

Ainda antes do intervalo, Bebeto bateu uma falta perigosa, que passou raspando a trave.

No segundo tempo, a Rússia adiantou a marcação, tentou partir para cima e ficou mais aberta. Em compensação, se cansava mais. E o Brasil passou a ter os contragolpes a seu favor.

Aos seis minutos da etapa complementar, Zinho trocou passes com Mauro Silva e Dunga e lançou Romário. O astro do Barcelona recebeu de costas, girou sobre a marcação de Ternavsky, tocou a bola entre as pernas de Nikiforov e, ao entrar na área, foi atingido por um carrinho de Ternavsky. A penalidade dessa vez não foi ignorada.

Com a camisa 10 e a faixa de capitão, Raí era o cobrador oficial e bateu com categoria, no canto esquerdo do goleiro Dmitri Kharine, que pulou no lado contrário. Foi seu único gol na Copa antes de perder a vaga no time titular. Raí fez uma partida apagada, mas foi eleito pela FIFA o melhor em campo.

Esse gol deu a tranquilidade necessária para que a Seleção controlasse as ações. Marcando praticamente em duas linhas de quatro, o escrete canarinho deu a bola aos russos, que não conseguiram criar jogadas.

A Seleção diminuiu o ritmo, mas teve chance de ampliar. Dunga tabelou com Raí e cruzou da linha de fundo. Bebeto finalizou da entrada da área, mas Kharine espalmou por cima.

Depois, começaram os problemas físicos. Jorginho sofreu uma entrada forte de Khlestov e precisou sair no carrinho maca, mas, felizmente, conseguiu voltar a campo.

Ricardo Rocha não teve a mesma sorte. Ele sentiu uma contratura no músculo adutor da coxa esquerda e foi substituído por Aldair, aos 25′. Um dos líderes do elenco, Ricardo não voltaria mais a jogar no Mundial.

A cinco minutos do fim, Dunga levou a pior em uma dividida e Mazinho o substituiu.


(Imagem: Action Images)

● Ao fim da partida, o chato técnico russo Pavel Sadyrin se rendeu a Romário: “imarcável”.

A Rússia foi eliminada na primeira fase. Depois da derrota para o Brasil (2 x 0), perdeu também para a Suécia de Martin Dahlin, por 3 x 1. Na última partida do Grupo B, venceu Camarões por 6 x 1, na maior goleada do Mundial. Essa partida marcou dois recordes: o atacante Oleg Salenko anotou uma “manita”, sendo o único jogador a fazer cinco gols em uma única partida em toda a história das Copas. O gol de honra camaronês foi marcado pelo veterano Roger Milla, que se tornou o jogador mais velho a marcar um gol na história dos Mundiais.

Na sequência da fase de grupos, o Brasil venceu Camarões por 3 x 0. Já classificado para as oitavas de final, empatou em 1 x 1 com a Suécia. Nas oitavas de final, enfrentou o anfitrião Estados Unidos justamente no dia da independência americana. Com um homem a menos (Leonardo foi expulso), foi um jogo duríssimo, mas a Seleção venceu com um gol de Bebeto. Nas quartas de final, o melhor jogo da Copa: vitória sobre a Holanda por 3 a 2. Nas semifinais, novo encontro com os suecos, que agora foram batidos por 1 a 0, com um gol de Romário. Enfim, depois de 24 anos, o Brasil estava em uma final de Copa do Mundo. Na decisão, enfrentou a Itália, suportou bem os 120 minutos no calor infernal e venceu nos pênaltis por 3 a 2, após um empate sem gols no tempo normal e na prorrogação. É tetra! É tetra!


(Imagem: CBF)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 0 RÚSSIA

 

Data: 20/06/1994

Horário: 13h00 locais

Estádio: Stanford Stadium

Público: 81.061

Cidade: Stanford (Estados Unidos)

Árbitro: Lim Kee Chong (Ilhas Maurício)

 

BRASIL (4-4-2):

RÚSSIA (3-5-2):

1  Taffarel (G)

16 Dmitri Kharine (G)(C)

2  Jorginho

5  Yuriy Nikiforov

3  Ricardo Rocha

21 Dmitri Khlestov

15 Márcio Santos

6  Vladislav Ternavsky

16 Leonardo

3  Sergei Gorlukovich

5  Mauro Silva

2  Dmitri Kuznetsov

8  Dunga

7  Andrey Pyatnitsky

10 Raí (C)

10 Valeri Karpin

9  Zinho

17 Ilya Tsymbalar

7  Bebeto

15 Dmitri Radchenko

11 Romário

22 Sergei Yuran

 

Técnico: Carlos Alberto Parreira

Técnico: Pavel Sadyrin

 

SUPLENTES:

 

 

12 Zetti (G)

1  Stanislav Cherchesov (G)

22 Gilmar Rinaldi (G)

12 Omari Tetradze

14 Cafu

18 Viktor Onopko

13 Aldair

4  Dmitri Galiamin

4  Ronaldão

8  Dmitri Popov

6  Branco

14 Igor Korneev

17 Mazinho

19 Aleksandr Mostovoi

18 Paulo Sérgio

20 Igor Lediakhov

19 Müller

13 Aleksandr Borodyuk

21 Viola

11 Vladimir Beschastnykh

20 Ronaldo

9  Oleg Salenko

 

GOLS:

26′ Romário (BRA)

52′ Raí (BRA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

61′ Yuriy Nikiforov (RUS)

65′ Dmitri Khlestov (RUS)

78′ Dmitri Kuznetsov (RUS)

 

SUBSTITUIÇÕES:

55′ Sergei Yuran (RUS) ↓

Oleg Salenko (RUS) ↑

 

75′ Ricardo Rocha (BRA) ↓

Aldair (BRA) ↑

 

77′ Dmitri Radchenko (RUS) ↓

Aleksandr Borodyuk (RUS) ↑

 

85′ Dunga (BRA) ↓

Mazinho (BRA) ↑

Melhores momentos da partida:

… 19/06/1958 – Brasil 1 x 0 País de Gales

Três pontos sobre…
… 19/06/1958 – Brasil 1 x 0 País de Gales


(Imagem: CBF / Baú do Futebol)

● Na fase de grupos, a Seleção Brasileira bateu a Áustria por 3 a 0 e empatou sem gols com a Inglaterra (no primeiro 0 x 0 da história das Copas, depois de 116 jogos). Na partida derradeira, o Brasil enfrentou o futebol científico da União Soviética, na estreia de Zito, Garrincha e Pelé. Após começar o jogo com tudo e venceu por 2 a 0, com dois gols de Vavá. Seu adversário nas quartas de final era a seleção do País de Gales.

Gales é um principado e não uma nação autônoma. Fica na ilha da Grã-Bretanha e faz parte do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Não participa dos Jogos Olímpicos como país independente, mas possui seleção própria no futebol (e em alguns poucos outros esportes) pela sua importância histórica. Foi um dos responsáveis por solidificar o futebol no século XIX e até hoje faz parte do IFAB – International Football Association Board, instituição responsável pelos regras do futebol.

Os britânicos estavam longe de serem uma potência no futebol. Conseguiram a classificação para a única Copa de sua história porque a Indonésia, o Egito e o Sudão (todos de maioria muçulmana) se negaram a jogar conta Israel e foram desclassificados. Assim, para que os israelenses não se qualificassem para o Mundial sem jogar as eliminatórias, foi feito um sorteio para definir qual país europeu disputaria a repescagem da zona asiática, dentre os segundos colocados em cada chave. Os galeses tiveram essa sorte, depois de terem ficado em segundo lugar no Grupo 4 das eliminatórias europeias, atrás da Tchecoslováquia e à frente da Alemanha Oriental. Foram duas vitórias fáceis e sonolentas sobre Israel, ambas por 2 x 0 – primeiro em Tel Aviv e depois em Cardiff.

Pela primeira e única vez, as quatro seleções britânicas disputaram uma Copa do Mundo: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Apenas galeses e norte-irlandeses se classificaram para a segunda fase.


(Imagem: Ultrajano)

● Os dois times jogaram desfalcados de seus centroavantes. O Brasil estava sem Vavá, que sofreu um profundo corte na canela na jogada do segundo gol contra a União Soviética. Mazzola ganhou nova chance no time titular.

Na primeira fase, os britânicos empataram as três partidas: 1 x 1 com a Hungria, 1 x 1 com o México e 0 x 0 com a Suécia. No jogo desempate, bateu a Hungria por 2 x 1.

Esse era o terceiro jogo de Gales em cinco dias. Havia jogado no domingo (contra os suecos), na terça (contra os húngaros) e agora jogava na quinta contra o Brasil. O escrete canarinho teve todos esses dias para descansar e chegava mais inteiro.

Gales não tinha sua estrela, seu melhor jogador, o grandalhão John Charles, que se machucou no estafante jogo-extra contra a Hungria. Relatos afirmam que ele foi derrubado pelos húngaros por mais de vinte vezes. Além dele, vários jogadores galeses jogaram reclamando de dores musculares.


O Brasil atuava em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo. Mazzolla era mais técnico que Vavá (mais brigador).


O País de gales jogava no sistema WM.

● O Brasil era amplamente favorito. O País de Gales era um equipe modesta, mas bem consciente de suas limitações e que sabia usar suas armas. O técnico Jimmy Murphy armou seu time de forma bem fechada, com marcação individual – especialmente em Garrincha, Pelé e Didi. Sem John Charles, os galeses não tinham tanto poder na bola aérea e, portanto, não tinha mais sua única estratégia de ataque. O negócio foi fechar o time todo na defesa e deixar apenas Colin Webster na frente – o substituto de Charles.

Com isso, a partida teve apenas um roteiro durante os noventa minutos: um duro duelo entre o ataque brasileiro e a defesa galesa. A bem da verdade, os britânicos se defendiam em bloco e se seguraram muito bem, dificultando muito o trabalho da linha de frente do escrete canarinho.

Bem marcados, os craques pouco podiam fazer. E, quando conseguiam chegar na área, paravam no goleiro Jack Kelsey, do Arsenal. Ele era o grande destaque individual da partida, responsável por grandes defesas e por fazer muita cera. Os beques Stuart Williams, Mel Charles e Mel Hopkins faziam marcação agressiva e chegaram a salvar lances em cima da linha de gol. Contaram com a sorte em um lance que Mazzola cabeceou e a bola bateu na trave, na linha de gol e não entrou.

Em compensação, Gylmar não tinha feito nenhuma defesa e havia recebido apenas duas bolas recuadas pelos zagueiros.

O primeiro tempo terminou 0 a 0. No intervalo, Vicente Feola fez uma preleção de acordar o time, que voltou mais vivo do vestiário.

Garrincha entrou na área, driblou um adversário cortando para a direita e bateu forte. Mesmo a queima-roupa, Kelsey espalmou para cima.

Em uma rara ocasião, o ponta direita Terry Medwin cortou Nilton Santos e chutou, mas Gylmar encaixou sem dificuldades.


(Imagem: AFP / FIFA)

O empate sem gols castigava a atuação brasileira e os 25.923 expectadores presentes no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo.

Mas a retranca foi furada aos 28 minutos do segundo tempo, quando já começavam os sinais de nervosismo.

Da direita, Mazzola levantou a bola de bicicleta para a linha da grande área. Didi veio na corrida e escorou de cabeça. Pelé dominou dentro da área e, de costas para o gol, tocou com o pé direito para tirar Mel Charles da jogada, deixou a bola quicar e finalizou de pé direito antes da chegada de Williams na cobertura. A rapidez de raciocínio e da finalização de Pelé pegou de surpresa o goleiro Kelsey, que nem foi na bola.

Um golaço. Pelé não poderia entrar para a história com um gol qualquer. Foi o primeiro de seus doze gols em Copas do Mundo. Era o início do reinado de um menino negro de apenas 17 anos de idade.

Depois do gol, Pelé foi buscar a bola dentro do gol galês com a intenção de gastar algum tempo. Segundo ele, o jogo estava “muito difícil naquele momento”. Mas Garrincha, Didi e Zagallo não quiseram saber de mais nada e pularam em cima dele para comemorar, se amontoando dentro do gol mesmo. A cena propiciou uma das mais belas fotos do Mundial de 1958.

Os galeses perderam o ânimo totalmente, até porque sabiam que não tinham poder de fogo para empatar a partida. Assim, surgiram outras chances para a Seleção Brasileira ampliar. Aos 36′, Mazzola fez um lindo gol de bicicleta, estranhamento anulado pelo árbitro austríaco Fritz Seipelt por jogo perigoso, apesar de nenhum galês estar por perto.

O Brasil estava classificado para a semifinal da Copa do Mundo.


(Imagem: O Globo)

● O goleiro Gylmar continuava invicto, sem sofrer gols na competição.

Didi foi considerado o melhor em campo, mas todos os olhares e aplausos eram para Pelé. Ele é até hoje o jogador mais jovem a marcar gol em Copas, com 17 anos e 239 dias.

No fim do ano 2000, esse gol de Pelé foi eleito por um júri da revista Placar como o gol mais importante do futebol brasileiro no século XX.

O presidente da República, Juscelino Kubitschek, convidou o Sr. Amaro, pai de Garrincha, para ouvirem o jogo juntos pelo rádio no palácio do Catete. Quando saiu o gol de Pelé, o desbocado Amaro queria soltar um palavrão, mas se conteve na frente de pessoas tão importantes e desconhecidas. Mas JK foi mais espontâneo e disse o palavrão por ele.

No fim da partida, a seleção rumaria a Estocolmo para as semifinais. Mas, antes de partir, soube cativar o povo de Gotemburgo: Bellini comandou uma volta olímpica com os jogadores carregando a bandeira sueca.

No estádio Råsunda, o Brasil ainda venceria a França na semifinal por 5 x 2. Na decisão, venceria a Suécia, dona da casa, pelo mesmo placar de 5 x 2 e se consagraria o legítimo campeão da Copa do Mundo de 1958.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 PAÍS DE GALES

 

Data: 19/06/1958

Horário: 19h00 locais

Estádio: Nya Ullevi

Público: 25.923

Cidade: Gotemburgo (Suécia)

Árbitro: Fritz Seipelt (Áustria)

 

BRASIL (4-2-4):

PAÍS DE GALES (WM):

3  Gylmar (G)

1  Jack Kelsey (G)

4  Djalma Santos

2  Stuart Williams

2  Bellini (C)

5  Mel Charles

15 Orlando

3  Mel Hopkins

12 Nilton Santos

4  Derrick Sullivan

19 Zito

6  Dave Bowen

6  Didi

7  Terry Medwin

11 Garrincha

8  Ron Hewitt

18 Mazzola

19 Colin Webster

10 Pelé

10 Ivor Allchurch

7  Zagallo

11 Cliff Jones

 

Técnico: Vicente Feola

Técnico: Jimmy Murphy

 

SUPLENTES:

 

 

1  Castilho (G)

12 Ken Jones (G)

14 De Sordi

13 Graham Vearncombe (G)

16 Mauro

14 Trevor Edwards

9  Zózimo

20 John Elsworthy

8  Oreco

15 Colin Baker

5  Dino Sani

16 Vic Crowe

13 Moacir

21 Len Allchurch

17 Joel

17 Ken Leek

20 Vavá

18 Roy Vernon

21 Dida

22 George Baker

22 Pepe

9  John Charles

 

GOL: 73′ Pelé (BRA)

Chute de Garrincha e gol de Pelé:

Gol de Pelé e gol (mal) anulado de Mazzola, de bicicleta:

… 18/06/1986 – Espanha 5 x 1 Dinamarca

Três pontos sobre…
… 18/06/1986 – Espanha 5 x 1 Dinamarca


(Imagem: FourFourTwo)

● A “Dinamáquina” era a favorita de todos os expectadores e uma das grandes favoritas ao título. E sua força de confirmava, a cada vitória no “grupo da morte”: 1 x 0 sobre a Escócia treinada pelo ainda jovem Alex Ferguson, 6 x 1 sobre o Uruguai de Enzo Francescoli e 2 x 0 na Alemanha Ocidental, vice-campeã da Copa anterior. Foi a dona da melhor campanha da primeira fase.

A Espanha chegou no Mundial invicta desde abril de 1985. Perdeu para o Brasil por 1 x 0 na estreia. Na segunda partida, venceu a Irlanda do Norte por 2 x 1. Bateu a Argélia por 3 x 0 na terceira rodada. Se classificou em segundo lugar do Grupo D.

Essas duas seleções haviam se enfrentado dois anos antes, na semifinal da Eurocopa de 1984. Na época, a Dinamarca já encantava. Mas a Espanha venceu nos pênaltis (5 x 4) após empate por 1 x 1. Mas agora havia um diferencial que não deixaria a partida ficar empatada: “El Buitre”.

Jogando em casa, a Espanha não fez uma boa Copa em 1982. Mas, quatro anos depois, renovou grande parte do elenco, chegando no México com um time mais jovem e forte. O técnico Miguel Muñoz, multicampeão com o Real Madrid nas décadas de 1960 e 1970, renovou grande parte do elenco que não fez uma boa Copa em 1982, mesmo jogando em casa. Mas com um time mais jovem e forte, foi vice-campeã da Eurocopa de 1984 e chegou bem mais cotada para o Mundial de 1986. No gol, começava a se firmar o jovem Andoni Zubizarreta. Os laterais Tomás e José Antonio Camacho não costumavam apioar, mas eram firmes na marcação. No miolo da zaga, Ricardo Gallego substituiu Antonio Maceda – lesionado e fora da competição. Seu parceiro era o violento Andoni Goikoetxea, o “Açougueiro de Bilbao”, famoso por quebrar Diego Maradona e Bernd Schuster. No meio, Victor era o marcador e Ramón Calderé o organizador. Julio Alberto fechada o lado esquerdo da segunda linha e o meia direita Míchel era o criador, além de chutar bem de longa distância. A dupla de ataque era formada pelo basco Julio Salinas, caindo mais pelo lado direito, e por Emilio Butragueño – “El Buitre” (“O Abutre”).

Butragueño tinha apenas 22 anos, mas já era adorado pela torcida do Real Madrid, liderando a famosa “Quinta del Buitre”, uma geração de jogadores formados na base merengue (Butragueño, Manolo Sanchís, Míchel, Martín Vázquez e Miguel Pardeza) que conquistou vários títulos na metade dos anos 1980. Ele se tornaria mundialmente conhecido a partir daquele 18 de junho de 1986.


Miguel Muñoz escalou a Espanha em uma formação 4-4-2, quase com duas linhas de quatro. No ataque, contava com o faro de gol de Julio Salinas e Butragueño. Na defesa, destaque para o jovem goleiro Zubizarreta e para o capitão Camacho.


Sepp Piontek escalou a Dinamarca no futurista sistema 3-5-2. Søren Busk e Ivan Nielsen eram os dois defensores centrais e Morten Olsen era o líbero. Jens Jørn Bertelsen fazia o balanço defensivo, voltando para jogar entre os zagueiros se necessário. Søren Lerby e Klaus Berggreen eram meias que marcavam e criavam. Os alas Henrik Andersen e Jesper Olsen eram meias de origem e tinham como maior característica a velocidade com a bola. Michael Laudrup e Elkjær era uma dupla de ataque de muita movimentação.
O bom ala Frank Arnesen foi uma ausência muito sentida contra a Espanha. Ele havia sido expulso na partida anterior, a vitória sobre a Alemanha Ocidental por 2 x 0, em um desentendimento com Lothar Matthäus.

● Logicamente, a Dinamarca entrou em campo como favorita. A Espanha começou a partida conseguindo impedir a criação das jogadas dinamarquesas. Com uma forte marcação individual, pressionava e não dava tempo para que os nórdicos carregassem a bola ou criassem espaços. Mas logo a pressão se afrouxaria e as trocas de passes da “Dinamáquina” começaram a aparecer.

Aos 33 minutos, Gallego derrubou Søren Lerby na grande área. Jesper Olsen cobrou de esquerda com categoria. A bola foi no canto direito, deslocando Zubizarreta, que caiu para o esquerdo.

A Dinamarca teve domínio absoluto do jogo nos minutos seguintes e a goleada parecia ser apenas questão de tempo. Mas esse domínio durou apenas dez minutos.

Pouco antes do intervalo, Lars Høgh bateu o tiro de meta curto para Jesper Olsen, que driblou Julio Salinas e fez um passe sem olhar para o meio da grande área, na tentativa de recuar para seu goleiro. Butragueño chegou antes e empatou o jogo. O empate foi um presente do céu para a Fúria.

Os dinamarqueses voltaram nervosos para o segundo tempo e não conseguiram criar. E a Espanha sabia jogar e foi construindo o placar.


(Imagem: Mais Futebol)

O “abutre” foi mortal ao demonstrar bom senso de posicionamento. Aos 11′, após cobrança de escanteio, o capitão Camacho desviou de cabeça e Butragueño testou para o fundo do gol.

Aos 23, Bertelsen fez pênalti em Butragueño. Goikoetxea bateu forte, com raiva, no canto esquerdo de Høgh.

No minuto 35′, Míchel abriu na direita para Eloy cruzar na medida para Butragueño finalizar no contrapé do goleiro.

Os dinamarqueses se entregaram e, a dois minutos do fim, Morten Olsen cometeu pênalti em Butragueño. O atacante merengue não havia feito nenhum gol até então. Depois de ter anotado a tripleta, já estava de olho na artilharia da Copa. E cobrou a penalidade no canto direito, deslocando o goleiro. “El Buitre” completou o “poker” (quatro gols em uma só partida), destruindo completamente os prognósticos favoráveis aos dinamarqueses.

Era o fim do sonho dos nórdicos. Butragueño havia emperrado as engrenagens da “Dinamáquina”.


(Imagem: Mais Futebol)

● Desnorteados, os nórdicos tentaram arranjar explicações para a goleada sofrida: “Butragueño só apareceu quando demos espaço a ele”, disse o meia Frank Arnesen. “El Buitre” foi tímido: “Nunca pensei em ser estrela. Aqui no México, há muitos jogadores melhores do que eu”.

A revista Placar da época já adiantava sobre o que poderia acontecer aos dinamarqueses: “Muito badalada, está cotada como uma das favoritas, mas pode decepcionar”.

Com certeza o problema dos nórdicos não foi falta de experiência, já que os atletas atuavam em grandes clubes europeus (apenas o goleiro Høgh jogava no país). Não foi a juventude, já que a média de idade era de 28 anos (a dos espanhóis era 26). Talvez o clima quente mexicano tenha prejudicado a velocidade e intensa troca de posições dos “vikings”. Talvez o que tenha impedido a Dinamarca de ir mais longe seja o sentimento de “missão cumprida” ao fazer mais do que já tinha feito em quase cem anos de futebol no país. Talvez tenha faltado ambição e tenha sobrado autoconfiança. Foi apenas o dia de “El Buitre”.

O pênalti convertido por Butragueño foi o 100º assinalado na história das Copas. Desses, 82 haviam sido aproveitados e 18 desperdiçados.

Ninguém marcava quatro gols em uma partida de Copa do Mundo desde Eusébio, na virada inesquecível de Portugal sobre a Coreia do Norte por 5 x 3, nas quartas de final em 1966. Curiosamente, Butragueño havia completado três anos um dia antes desse jogo.

Antes de Butragueño e Eusébio, apenas outros quatro jogadores marcaram quatro gols em um único jogo, em toda a história das Copas: o polonês Ernest Wilimowski (contra o Brasil, em 1938), o brasileiro Ademir de Menezes (contra a Suécia, em 1950), o húngaro Sándor Kocsis (contra a Alemanha Ocidental em 1954) e o francês Just Fontaine (contra a Alemanha Ocidental em 1958). Depois deles, apenas Oleg Salenko alcançou a marca, com cinco gols marcados sobre Camarões em 1994.

Após vencer os dinamarqueses, os espanhóis comemoraram em seu hotel até a madrugada. Certamente isso foi ainda mais doloroso para os dinamarqueses, que estavam hospedados bem no mesmo hotel. Mas o mundo dá voltas e a Espanha foi eliminada pela Bélgica nos pênaltis (5 x 4) após empate por 1 x 1 no tempo normal. Curiosamente, ambas as delegações também estavam no mesmo hotel e agora foi a vez dos espanhóis ouvirem até tarde a festa dos belgas.


(Imagem: Planet World Cup)

FICHA TÉCNICA:

 

ESPANHA 5 x 1 DINAMARCA

 

Data: 18/06/1986

Horário: 16h00 locais

Estádio: La Corregidora

Público: 38.500

Cidade: Querétaro (México)

Árbitro: Jan Keizer (Holanda)

 

ESPANHA (4-4-2):

DINAMARCA (3-5-2):

1  Andoni Zubizarreta (G)

22 Lars Høgh (G)

2  Tomás

3  Søren Busk

14 Ricardo Gallego

4  Morten Olsen (C)

8  Andoni Goikoetxea

5  Ivan Nielsen

3  José Antonio Camacho (C)

21 Henrik Andersen

5  Víctor Muñoz

9  Klaus Berggreen

18 Ramón María Calderé

12 Jens Jørn Bertelsen

21 Míchel

6  Søren Lerby

11 Julio Alberto

8  Jesper Olsen

19 Julio Salinas

11 Michael Laudrup

9  Emilio Butragueño

10 Preben Elkjær Larsen

 

Técnico: Miguel Muñoz

Técnico: Sepp Piontek

 

SUPLENTES:

 

 

13 Javier Urruticoechea (G)

1  Troels Rasmussen (G)

22 Juan Carlos Ablanedo (G)

16 Ole Qvist (G)

15 Chendo

2  John Sivebæk

6  Rafael Gordillo

17 Kent Nielsen

7  Juan Antonio Señor

7  Jan Mølby

4  Antonio Maceda

13 Per Frimann

17 Francisco

20 Jan Bartram

12 Quique Setién

15 Frank Arnesen

10 Francisco José Carrasco

14 Allan Simonsen

16 Hipólito Rincón

18 Flemming Christensen

20 Eloy

19 John Eriksen

 

GOLS:

33′ Jesper Olsen (DIN) (pen)

43′ Emilio Butragueño (ESP)

56′ Emilio Butragueño (ESP)

68′ Andoni Goikoetxea (ESP) (pen)

80′ Emilio Butragueño (ESP)

88′ Emilio Butragueño (ESP) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

26′ Henrik Andersen (DIN)

27′ Andoni Goikoetxea (ESP)

32′ José Antonio Camacho (ESP)

60′ Míchel (ESP)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Julio Salinas (ESP) ↓

Eloy (ESP) ↑

 

60′ Henrik Andersen (DIN) ↓

John Eriksen (DIN) ↑

 

71′ Jesper Olsen (DIN) ↓

Jan Mølby (DIN) ↑

 

83′ Míchel (ESP) ↓

Francisco (ESP) ↑

Gols da partida:

… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai

Três pontos sobre…
… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai


(Imagem: Pinterest)

● As históricas semifinais reuniam quatro dos cinco campeões mundiais de então. Apenas a Inglaterra parou nas quartas de final. Brasil, Uruguai e Itália tinham dois títulos cada, enquanto a Alemanha Ocidental tinha um. O destino definitivo da Taça Jules Rimet nunca esteve tão perto.

Ninguém no Brasil ficou feliz com a ideia de enfrentar o Uruguai nas semifinais. Era impossível evitar a carga dramática do fato ocorrido vinte anos antes. Bem lá no fundo, havia o medo de um novo Maracanazzo. Os uruguaios faziam o possível para criar um clima de tensão esbanjavam confiança. Uma manchete de um jornal do país estampava: “Uruguay 3050 – 70″, fazendo referência aos títulos mundiais conquistados em 1930 e 1950 e já considerando uma eventual conquista em 1970.

Conforme a tabela do Mundial, a partida entre os vizinhos sul-americanos estava prevista para ocorrer no estádio Azteca, na Cidade do México – onde o Uruguai havia enfrentado a União Soviética três dias antes. Porém, a organização do torneio inverteu as sedes das semifinais, passando esse jogo para o estádio Jalisco, em Guadalajara. O duelo entre Itália e Alemanha, que seria disputado em Guadalajara, foi transferido para o estádio Azteca. Essa troca favoreceu muito o Brasil, que havia jogado no Jalisco as quatro partidas anteriores, já estava adaptado, nem precisou viajar e tinha grande apoio do público local. O Uruguai foi prejudicado e reclamou bastante, pois havia disputado uma duríssima e cansativa prorrogação contra os soviéticos e ainda teve que viajar quase 600 km.


O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.
A Seleção Brasileira contava com um time muito mais vistoso e competente no ataque. Até então, havia marcado doze gols em quatro partidas, enquanto a Celeste tinha anotado apenas três tentos na mesma quantidade de jogos.


O Uruguai jogava no sistema 4-3-3. Sentiu muita falta do seu capitão Pedro Rocha, lesionado logo na primeira partida, na vitória por 2 x 0 sobre Israel.
Uma ausência entre os 22 convocados foi o lateral direito Pablo Forlán. Em abril de 1970, o São Paulo FC ofereceu US$ 80 mil ao Peñarol pelo passe do jogador, mas condicionou que ele se apresentasse imediatamente. Forlán receberia US$ 30 mil na negociação e concordou com a negociação, mesmo ficando fora do Mundial.

● Foi só o juiz apitar o início da partida que os uruguaios passaram a fechar a frente de sua área e deixar somente Luis Cubilla na frente. E foi justamente ele quem abriu o placar aos 19 minutos de jogo.

A defesa brasileira parecia sentir o nervosismo do jogo e Clodoaldo errou um passe fácil. Julio Morales recuperou a bola e lançou na área. Cubilla apareceu na direita, nas costas de Piazza, dominou e adiantou demais. Na hora de finalizar, errou o chute cruzado e a bola foi mascada, pegando um efeito esquisito. Félix errou o golpe de vista e saiu catando cavaco ao ver a bola pingando dentro do gol.

Nervosa, a Seleção passou a errar mais passes, facilitando o trabalho defensivo do rival. Deu seu primeiro chute a gol só aos 27 minutos. No jogo todo, finalizou apenas 14 vezes.

Pelé levou perigo em uma cobrança de falta, mas o grande goleiro Ladislao Mazurkiewicz (melhor de sua posição na Copa de 1970) encaixou firme sem dar rebote.

Gérson não estava no melhor de suas condições físicas. E, genial como ele só, percebeu que estava sofrendo marcação individual de Cortés e inverteu de posição com Clodoaldo. Ele ficaria mais na defensiva e teria espaço para seus lançamentos, liberando o camisa 5 do Brasil para avançar e aparecer como homem surpresa. O Canhota de Ouro contaria mais tarde: “Eu estava sofrendo marcação individual do número 20 deles, que não saía de perto de mim. Então, combinei com o Clodoaldo: ‘você avança e eu fico’. Deu certo!”

O Brasil não queria ir para o intervalo em desvantagem no marcador e empatou o duelo aos 45′, em uma jogada bem construída desde seu início. Piazza começou o jogo com Rivellino, que tocou para Everaldo passar para Clodoaldo já na intermediária ofensiva. Ele abriu com Tostão na esquerda, que devolveu com precisão para o volante invadir a área entre os zagueiros e chutar de bico antes da chegada de Montero Castillo. Esse foi o único gol em 39 jogos oficiais de Corró com a camisa da Seleção.


(Imagem: Pinterest)

No segundo tempo, o Brasil voltou mais confiante, tocando melhor a bola, mas ainda telegrafava as jogadas de ataque. O Uruguai não dava espaço algum, catimbava e tentava ganhar tempo em todos os lances.

Aos 16′, Pelé driblou toda a defesa uruguaia, entrou na área e sofreu pênalti de Ancheta. Tostão correu para a marca da cal, mas o juiz marcou falta fora da área. No lance, o volante Julio César Montero Castillo (pai do ex-zagueiro Paolo Montero, que disputou a Copa de 2002), pisou em Pelé já com o jogo parado.

Os uruguaios bateram o jogo todo, principalmente Dagoberto Fontes. Em um lance na ponta esquerda, Pelé levou um pisão por trás de Fontes e desferiu uma forte cotovelada, que acertou em cheio o rosto do uruguaio. O árbitro espanhol José María Ortiz de Mendíbil não viu o lance maldoso de Pelé e marcou falta a favor do Brasil – o que, de fato, foi mesmo. Felizmente não haviam tantas câmeras na época para flagrar o lance em tempo real e levar o Rei a julgamento na FIFA. Se houvesse, ele poderia ter sido punido e ter ficado fora da final da Copa. Para o bem do futebol, nada aconteceu e ele estaria desfilando em campo quatro dias depois.

Um lance lindo do Rei aconteceu aos 21 minutos. Mazurkiewicz bateu um tiro de meta errado e, da intermediária, o camisa 10 do Brasil emendou de primeira para o gol. Mazurka teve que se entortar todo para segurar a bola.

O pobre Uruguai pensou que poderia vencer a partida e o técnico Juan Hohberg tirou o meia Ildo Maneiro para colocar o atacante Víctor Espárrago – que havia feito o gol da vitória nas quartas de final, contra a União Soviética.


(Imagem: FIFA)

A mudança tática fez a Celeste ficar mais vulnerável no meio e permitiu mais espaços para a Seleção Canarinho tocar a bola.

E o resultado veio apenas dois minutos depois. Jairzinho interceptou um passe errado de Fontes na intermediária defensiva, arrancou e passou para Pelé, que deixou com Tostão. Do meio do campo, ele lançou Jair. O Furacão ganhou na corrida de Roberto Matosas e tocou na saída de Mazurkiewicz, fazendo 2 a 1. Ao contrário do Maracanazzo, dessa vez a virada foi brasileira. Esse foi o sexto gol de Jairzinho na Copa.

O time uruguaio, que tinha recursos técnicos, começou a atacar. A chance mais perigosa foi uma cabeçada à queima-roupa de Cubilla, que Félix defendeu bem e se redimiu do lance do gol.

Apesar da superioridade técnica e no placar, os brasileiros continuavam tensos. Só conseguiram relaxar mesmo na última volta do ponteiro. O capitão Carlos Alberto chutou para cima para aliviar a defesa e ganhar tempo. Pressionado por Pelé, Ubiña escorou de cabeça para o meio onde só tinha Tostão. Ele abriu na esquerda para Pelé, que avançou até a área, esperou e rolou na medida para Rivellino, que chegou soltando a sua “Patada Atômica” da entrada da área. A bola foi morrer no canto esquerdo de Mazurka. Estava tudo concluído. Quase.

O árbitro ainda queria jogo. Já nos acréscimos, teve tempo para Pelé protagonizar o “quase gol” mais lindo de todos os tempos. Do meio do campo, Tostão fez um belo lançamento rasteiro para o Rei nas costas da defesa. Sem tocar na bola, Pelé deu um drible de corpo no goleiro uruguaio que havia saído da área para fechar o ângulo ou tentar fazer a falta. O Rei deixou que ela fosse para um lado e correu para o outro, como um drible da vaca sem tocar na bola. Mesmo desequilibrado, Pelé ainda conseguiu finalizar chutando cruzado, mas a bola, caprichosamente, raspou a trave direita e foi para fora.

O Brasil sofreu muito mais que o placar final indica. Mas o Maracanazzo estava vingado e pago com juros: 3 a 1. O fantasma estava definitivamente exorcizado. E, mais importante, conquistou a vaga para a decisão contra o vencedor de Itália e Alemanha Ocidental.


(Imagem: Lance!)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 X 1 URUGUAI

 

Data: 17/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 51.261

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: José María Ortiz de Mendíbil (Espanha)

 

BRASIL (4-3-3):

URUGUAI (4-3-3):

1  Félix (G)

1  Ladislao Mazurkiewicz (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

4  Luis Ubiña (C)

2  Brito

2  Atilio Ancheta

3  Wilson Piazza

3  Roberto Matosas

16 Everaldo

6  Juan Mujica

5  Clodoaldo

5  Julio César Montero Castillo

8  Gérson

20 Julio César Cortés

7  Jairzinho

10 Ildo Maneiro

9  Tostão

7  Luis Cubilla

10 Pelé

15 Dagoberto Fontes

11 Rivellino

11 Julio Morales

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Juan Hohberg

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Héctor Santos (G)

22 Leão (G)

22 Walter Corbo (G)

21 Zé Maria

14 Francisco Cámera

15 Fontana

13 Rodolfo Sandoval

14 Baldocchi

16 Omar Caetano

17 Joel Camargo

17 Rúben Bareño

6  Marco Antônio

8  Pedro Rocha

18 Paulo Cézar Caju

21 Julio Losada

13 Roberto

9  Víctor Espárrago

20 Dadá Maravilha

18 Alberto Gómez

19 Edu

19 Oscar Zubía

 

GOLS:

19′ Luis Cubilla (URU)

44′ Clodoaldo (BRA)

76′ Jairzinho (BRA)

89′ Rivellino (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

5′ Juan Mujica (URU)

18′ Dagoberto Fontes (URU)

33′ Carlos Alberto Torres (BRA)

37′ Ildo Maneiro (URU)

 

SUBSTITUIÇÃO:

73′ Ildo Maneiro (URU) ↓

Víctor Espárrago (URU) ↑

(Imagem: CBF)

Melhores momentos da partida:

… 16/06/2014 – Alemanha 4 x 0 Portugal

Três pontos sobre…
… 16/06/2014 – Alemanha 4 x 0 Portugal


(Imagem: UOL)

Treinada por Joachim Löw desde 2006, a Alemanha de 2014 estava mais forte e experiente do que o jovem time que tinha conquistado o 3º colocado no Mundial da África do Sul. Agora, no Brasil, jogavam tão afinados quanto uma orquestra, justamente no país do samba.

Nenhuma seleção havia evoluído tanto e revelado outros tantos jogadores de alto nível nos últimos quatro anos quanto a Die Mannschaft. Praticava um futebol ofensivo para os padrões alemães. Tanto, que o time se expunha em alguns momentos e acabava sofrendo mais gols que o normal.

Por isso, Löw ajustou sua defesa escalando inicialmente Jérôme Boateng na direita, Per Mertesacker e Mats Hummels no miolo da zaga e Benedikt Höwedes fechando na esquerda. Manuel Neuer já se consolidava como um dos maiores goleiros da história. O meio campo era altamente técnico, com três entre Phillip Lahm (inventado como meia por Pep Guardiola no Bayern de Munique), Sami Khedira, Bastian Schweinsteiger e Toni Kroos. Não tinha um atacante de ofício. Na linha de frente, Mesut Özil se movimentava da direita para dentro, Mario Götze fazia o papel inverso, da esquerda para o meio e Thomas Müller era o “falso 9”.

Sami Khedira, ponto de equilíbrio do time, estava recuperado da lesão sofrida na final da UEFA Champions League, atuando pelo Real Madrid. A grande ausência era o sempre lesionado Marco Reus.


(Imagem: Folha)

● Portugal sonhava em fazer uma boa competição. Seu alicerce e inspiração era Cristiano Ronaldo, melhor jogador no mundo do ano anterior. Mas o elenco formado pelo técnico Paulo Bento (que depois teria uma rápida passagem pelo Cruzeiro), tinha bons coadjuvantes.

No sistema 4-2-3-1 montado por Paulo Bento, Rui Patrício era um goleiro que não comprometia, assim como os laterais João Pereira e Fábio Coentrão. Na zaga, dois xerifes: Bruno Alves e Pepe (que vinha de uma ótima temporada no Real Madrid). No meio, Miguel Veloso cuidava mais da proteção para Raul Meireles fazer a saída de bola. Os passes preciosos eram a maior qualidade de João Moutinho. Nani fazia a ponta direita e Hugo Almeida era o centroavante. Derivando da esquerda para o meio, bem ao seu estilo, CR7.

Na repescagem para a Copa, precisou duelar com a Suécia. Zlatan Ibrahimović marcou dois gols, mas CR7 anotou os quatro no placar agregado de 4 x 2 que classificou a seleção das Quinas – inclusive um hat trick na casa do rival.

Com Cristiano Ronaldo em campo, os portugueses sonharam. Mas rapidamente se viram em um pesadelo.


A Alemanha jogou no 4-3-3, com mobilidade total do meio para a frente e sem atacantes fixos.


Portugal jogou no sistema 4-2-3-1.

● Alemanha e Portugal fizeram a abertura do Grupo G, na Arena Fonte Nova, em Salvador, Bahia.

Portugal começou atacando mais nos primeiros dez minutos, mas logo a Nationalelf equilibrou as ações e passou a dominar o jogo.

A primeira das decisões controversas do árbitro sérvio Milorad Mažić ocorreu aos doze minutos do primeiro tempo, quando ele assinalou falta de João Pereira em Mario Götze dentro da área. Os portugueses ficaram muito agitados e questionaram com ímpeto a marcação da penalidade, principalmente Pepe. Mas foi mesmo um pênalti, no mínimo, contestável. O jornalista Mark Ogden, do Daily Telegraph, classificou a marcação como “outro exemplo de arbitragem questionável nesta Copa do Mundo, pois o contato parecia leve, certamente não o suficiente para forçar Götze, que aproveitou o desafio ao máximo”.

Thomas Müller abriu o placar, batendo forte e rasteiro no canto esquerdo do goleiro Rui Patrício.

Pouco depois, Nani chutou de direita da entrada da área e a bola passou assustando Neuer.

Aos 28′, Hugo Almeida se lesionou e deu lugar a Ederzito (que seria o herói do título da Eurocopa dois anos depois, mas que nessa partida não fez nada).

Quatro minutos depois, Aos 32′, Toni Kroos cobrou escanteio na cabeça de Mats Hummels, que ganhou de Pepe no alto e testou firme para marcar o segundo gol alemão.

Os lusos estavam mesmo com os nervos à flor da pele. Aos 37′, Pepe dribou Müller na entrada de sua própria área e ia perdendo o lance até que colocou o braço para impedir o avanço do alemão. Müller simulou ter sido agredido no rosto e caiu. O juiz mandou seguir. Mas Pepe foi tirar satisfação com o adversário sentado e acabou encostando sua cabeça na dele. Müller levantou e os dois continuaram a discussão. E o árbitro sérvio acabou expulsando o zagueiro português. Certamente mais pela fama do que pelo ato. Para o ex-árbitro americano Brian Hall, Müller fez teatro e exagerou bastante para “obter vantagem injusta” e “enganar o árbitro”.


(Imagem: Folha)

Nos acréscimos do primeiro tempo, Toni Kroos cruzou rasteiro para a área lusa. Bruno Alves não conseguiu tirar e Müller ganhou a dividida, pegou a sobra de frente para o gol e finalizou de esquerda para marcar o terceiro.

No intervalo, Paulo Bento recompôs a defesa com Ricardo Costa no lugar de Miguel Veloso. Aos 20′, Fábio Coentrão saiu machucado e entrou André Almeida.

Aos 30′, Mažić não concedeu um pênalti a Portugal causou ainda mais irritação nos portugueses.

Aos 33 minutos da etapa final, André Schürrle cruzou rasteiro da direita, Rui Patrício espalmou errado para o meio e Müller, sempre muito bem posicionado, completou seu hat trick.

O placar foi construído com uma enorme e natural facilidade, parecendo que os alemães estavam se poupando diante do calor e jogando no “piloto automático”.

Raul Meireles e João Moutinho não conseguiram fazer as transições ofensivas e foram os piores em campo.

Dizem que Cristiano Ronaldo jogou o Mundial no sacrifício, após uma temporada extensa e desgastante pelo Real Madrid. Ele também atuou muito abaixo de seu nível normal.


(Imagem: Veja)

Esse foi o 100º jogo da Alemanha na história das Copas, a primeira seleção a alcançar esse feito.

O hat trick de Thomas Müller foi o sétimo de um jogador alemão na competição, o maior número entre todos os países.

Essa foi a pior derrota de Portugal na história dos Mundiais.

“Não estou dizendo que a culpa foi apenas do árbitro. Também cometemos erros, mas as circunstâncias do que aconteceu no primeiro semestre fizeram o resto do jogo. O jogo é difícil para nós. A expulsão foi forçada ao jogador. Não sei se foi por causa da reputação de Pepe. Depende do tipo de reputação que você acha que Pepe tem.” ― Paulo Bento

Na sequência, Portugal empatou com os Estados Unidos em 2 x 2 e venceu Gana por 2 x 1. Na classificação, ficou com os mesmos quatro pontos dos EUA, mas tiveram um saldo de -3, enquanto os norte-americanos tiveram saldo zero. Portugal, de Cristiano Ronaldo, estava eliminada na primeira fase

Com entrosamento, toque de bola e ataques rápidos, a Nationalelf dava mostras de que vinha forte em busca do quarto título. Nos jogos seguintes, empatou com Gana (2 x 2) e venceu os EUA (1 x 0). Nas oitavas de final, precisou da prorrogação para eliminar a ardilosa Argélia (2 x 1). Nas quartas, venceu a França por 1 x 0 em um duelo muito equilibrado. Na semifinal, não houve equilíbrio algum ao massacrar a Seleção Brasileira, dona da casa, nos famosos 7 a 1. Na decisão, Mario Götze fez o gol do título após nova prorrogação, dessa vez contra a Argentina de Lionel Messi. A Alemanha se sagrava tetracampeã do mundo.


(Imagem: FIFA / Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 4 x 0 PORTUGAL

 

Data: 16/06/2014

Horário: 13h00 locais

Estádio: Arena Fonte Nova

Público: 51.081

Cidade: Salvador (Brasil)

Árbitro: Milorad Mažić (Sérvia)

 

ALEMANHA (4-3-3):

PORTUGAL (4-2-3-1):

1  Manuel Neuer (G)

12 Rui Patrício (G)

20 Jérôme Boateng

21 João Pereira

17 Per Mertesacker

3  Pepe

5  Mats Hummels

2  Bruno Alves

4  Benedikt Höwedes

5  Fábio Coentrão

16 Phillip Lahm (C)

4  Miguel Veloso

6  Sami Khedira

8  João Moutinho

18 Toni Kroos

16 Raul Meireles

8  Mesut Özil

17 Nani

19 Mario Götze

7  Cristiano Ronaldo (C)

13 Thomas Müller

9  Hugo Almeida

 

Técnico: Joachim Löw

Técnico: Paulo Bento

 

SUPLENTES:

 

 

22 Roman Weidenfeller (G)

1  Eduardo (G)

12 Ron-Robert Zieler (G)

22 Beto (G)

3  Matthias Ginter

13 Ricardo Costa

21 Shkodran Mustafi

14 Luís Neto

15 Erik Durm

19 André Almeida

2  Kevin Großkreutz

6  William Carvalho

23 Christoph Kramer

20 Rúben Amorim

7  Bastian Schweinsteiger

15 Rafa Silva

14 Julian Draxler

18 Silvestre Varela

9  André Schürrle

10 Vieirinha

10 Łukas Podolski

11 Eder

11 Miroslav Klose

23 Hélder Postiga

 

GOLS:

12′ Thomas Müller (ALE) (pen)

32′ Mats Hummels (ALE)

45+1′ Thomas Müller (ALE)

78′ Thomas Müller (ALE)

 

CARTÃO AMARELO: 11′ João Pereira (POR)

 

CARTÃO VERMELHO: 37′ Pepe (POR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

28′ Hugo Almeida (POR) ↓

Eder (POR) ↑

 

INTERVALO Miguel Veloso (POR) ↓

Ricardo Costa (POR) ↑

 

63′ Mesut Özil (ALE) ↓

André Schürrle (ALE) ↑

 

65′ Fábio Coentrão (POR) ↓

André Almeida (POR) ↑

 

73′ Mats Hummels (ALE) ↓

Shkodran Mustafi (ALE) ↑

 

82′ Thomas Müller (ALE) ↓

Łukas Podolski (ALE) ↑

Melhores momentos da partida:

… 15/06/1958 – Brasil 2 x 0 União Soviética

Três pontos sobre…
… 15/06/1958 – Brasil 2 x 0 União Soviética


(Imagem: FIFA)

● Na estreia, o Brasil havia vencido a Áustria com propriedade por 3 a 0. Depois, no segundo jogo, o empate sem gols e o ponto perdido contra a Inglaterra esfriou os ânimos e deixou os brasileiros apreensivos. Ainda assombrada pelo “complexo de vira-latas”, o fantasma dos jogos decisivos voltava a assombrar a Seleção Brasileira. E a última partida do Grupo 4 reservava um duro duelo com a temida União Soviética.

Veja mais:
… Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958
… 24/06/1958 – Brasil 5 x 2 França
… 29/06/1958 – Suécia 2 x 5 Brasil

A campanha soviética estava semelhante à brasileira: empate com a Inglaterra (2 x 2) e vitória sobre a Áustria (2 x 0). Assim, ambas equipes precisavam da vitória para se classificar de forma direta para as quartas de final. Foi a primeira partida entre os dois países na história.

Os soviéticos haviam conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956 e eram considerados favoritos. Mas tiveram dificuldades para se qualificarem para o Mundial na Suécia. No Grupo 6 das eliminatórias europeias, terminaram empatados em número de pontos com a Polônia e precisaram do jogo desempate, quando derrotaram os poloneses por 2 x 0 em Leipzig, na Alemanha Oriental.

A União Soviética iria disputar a sua primeira Copa sob imensa curiosidade de todo o mundo. Tudo que vinha da URSS tinha uma aura misteriosa e moderna que dava medo ao mundo ocidental, em todos os âmbitos: no esporte, na ciência, nos equipamentos bélicos e em tudo mais. Politicamente, protagonizava a Guerra Fria com os Estados Unidos. Intimidava os adversários com a camisa vermelha com a inscrição CCCP em letras garrafais. A sigla significava União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. No alfabeto cirílico, o C tem o som de S e o P de R. Assim, o original em russo era Союз Советских Социалистических Республик. A transcrição fonética no alfabeto latino era Soyuz Sovetskikh Sotsialisticheskikh Respublik e causava temor apenas a simples tentativa de pronunciar tudo isso. O brasileiro, que faz piada com tudo, dizia que o significado era “Cuidado, Camarada, com o Crioulo Pelé”.

O time soviético começava sua escalação com seu maior nome em todos os tempos. O camisa 1 era Lev Yashin, que estamparia o pôster oficial do Mundial de 2018, na Rússia. Com o uniforme todo preto e camisa de mangas longas, ganhou o apelido de “Aranha Negra” na América do Sul e “Pantera Negra” na Europa. Ele foi o primeiro a usar luvas de couro para proteger as mãos em um jogo de Copa. Até hoje ele é considerado pela maioria dos especialistas o melhor goleiro da história do futebol. Ele ainda disputaria as três Copas seguintes (1962, 1966 e 1970 – esta última já veterano como reserva, mais como uma homenagem).

O time praticava o chamado “futebol científico”, em que os atletas estavam preparados para correr sem parar durante 180 minutos e ainda ficarem inteiros para mais. A lenda dizia que eles faziam quatro horas de ginástica pela manhã em dia de jogo. Dizia-se que a KGB tinha espiões espalhados por todo o mundo filmando os adversários e que seus “cérebros eletrônicos” (computadores) haviam produzido um sistema perfeito para derrotar qualquer equipe. Segundo uma história contada na época, a comissão técnica soviética teria cruzado os dados dos rivais em computadores e, após os cálculos, o país seria campeão do mundo.

Ninguém se preocupou em refazer os cálculos quando chegou a notícia de que o Brasil jogaria sem Dino Sani, Joel e Mazzola – que jogaram bem nas primeiras partidas. Eles dariam lugar a “um tal de Zito”, um aleijado de pernas tortas e um moleque negro de 17 anos.


(Imagem: Estadão)

● Uma das lendas mais românticas da história do futebol, reza que houve uma pequena rebelião dos líderes do elenco – Bellini, Didi e Nílton Santos – exigindo a escalação de Pelé e Garrincha. Mas foi só lenda mesmo. Dois dias antes do jogo, a escalação de Pelé já era uma certeza. Recuperado de contusão, ele entraria no lugar de Mazzola – que já estava vendido ao Milan e não estaria colocando o pé nas divididas (diziam as más línguas).

Ficou decidido que jogaria apenas um centroavante e ele seria Vavá (de estilo mais rompedor), ao invés de Mazzola (mais técnico). Zito (também mais aguerrido) entraria no lugar de Dino Sani (mais clássico), que havia sofrido uma distensão na virilha. Com a marcação de Zito no meio, Didi ficaria mais à vontade para criar e atacar.

Quanto à Garrincha, a ideia de escalá-lo surgiu em uma conversa informal e não em uma rebelião. Foi uma reunião entre o técnico Vicente Feola, os jornalistas Armando Nogueira e Luiz Carlos Barreto e o lateral esquerdo Nílton Santos. Também foram consultados Paulo Machado de Carvalho, Didi e Bellini e todos foram favoráveis. Nos primeiros dois jogos, Joel havia recebido boas notas da imprensa por ser um ponta “moderno” que, assim como Zagallo do lado oposto, recuava para ajudar na marcação. E, com a entrada do marcador Zito no time, Feola teve a oportunidade de reforçar a linha de frente com um ponta que atacasse mais. E havia duas opções: trocar Zagallo por Pepe ou Joel por Garrincha. E como Joel estava sentindo dores no joelho, devido ao pisão de Bill Slater, na partida contra a Inglaterra, o Mané ganharia a vaga de titular. Compadre de Garrincha, Nilton Santos foi o responsável por dar a notícia ao ponta. “Acho que você vai entrar. Mané, se você entrar, capricha”, falou Nilton. “Se eu jogar, pode deixar”, respondeu Garrincha.

Na véspera da partida, o psicólogo João Carvalhaes fez um teste psicotécnico com os jogadores para verificar quais deles estavam em condições psicológicas para enfrentar a URSS. Dos onze que jogariam, apenas Pelé e Nilton Santos foram aprovados. Felizmente esses resultados não seriam levados em consideração pela comissão técnica.


(Imagem: O Globo)

● As delegações de Brasil e URSS estavam concentradas a cem metros uma da outra, em Hindås. A diferença era que o hotel dos russos ficava em uma pequena elevação que permitia ter uma visão privilegiada dos treinamentos do Brasil.

Sabia-se que os soviéticos se submetiam a uma carga de exercícios físicos descomunal. Da concentração brasileira, era possível vê-los correndo por várias horas seguidas em seu campo de treinamento. Os brasileiros, claro, ficavam cansados só de olhar.

Na quinta-feira, três dias antes do jogo, Feola comunicou à imprensa brasileira que a Seleção faria um treino coletivo no dia seguinte às 15h00, no campinho perto do hotel. Foi pedido sigilo, pois a comissão técnica não queria a presença de jornalistas estrangeiros, principalmente soviéticos. Na hora marcada, estavam todos presentes: a imprensa brasileira, a imprensa estrangeira e os espiões russos. E nenhum jogador no gramado. A Seleção havia treinado secretamente de manhã com todas as mudanças e, assim, escondeu bem o jeito que jogaria.

No fim da preleção antes da partida, Feola deu a instrução direta: “E não se esqueça, Didi. A primeira bola é para o Garrincha”. E disse para o Mané: “Tente descadeirá-los de saída”.

Os soviéticos conheciam Garrincha das excursões caça-níquéis afora. Só não sabiam como pará-lo.


O Brasil atuava em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo.


A URSS jogava em um sistema WM adaptado, com um homem na sobra, como um líbero.

● Quando o árbitro francês Maurice Guigue apitou o início da partida, a Seleção Brasileira precisou apenas de 180 segundos para demonstrar o melhor que o futebol já produziu, deixando assombrados os 50.928 expetadores no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo. Mesmo sendo um jogo da primeira fase, esse foi o maior público da Copa.

Decidido a nocautear o adversário rapidamente, o Brasil teve um começo simplesmente arrasador. Garrincha começou o jogo endiabrado, em uma exibição fenomenal. Logo no primeiro lance, aos 40 segundos, ele entortou diversas vezes o zagueiro Boris Kuznetsov, passou como se ele não existisse, entrou na área e chutou forte, mas a bola carimbou a trave esquerda de Yashin e foi para fora.

Garrincha desmontou a defesa soviética em geral, e o pobre Kuznetsov em particular. Era a marca registrada do ponta brasileiro: ele deixava a bola entre ele e o marcador, ameaçava a arrancada jogando o corpo para a direita e voltava à posição inicial. Kuznetsov seguia o movimento do Mané uma, duas, três, todas as vezes, e a bola continuava parada entre os dois. Quando o russo ficava parado e ia direto na bola, Garrincha o driblava.

Enquanto Mané driblava Kuznetsov uma porção de vezes, o técnico Gavriil Kachalin perguntava atônito para o banco de reservas quem era o reserva de Joel, com aquelas pernas tortas. Desesperado, o treinador russo precisou reforçar a marcação no ponta, com Konstantin Krizhevsky. Mas nada pararia Garrincha. Percebendo a cintura dura dos seus adversários, ele era pura fantasia com a bola nos pés, gingando e driblando os desesperados soviéticos. Essa partida foi responsável pela lenda de que pela dificuldade em falar o nome dos russos, Garrincha passou a chamar os marcadores de “João”. E todos se tornaram os “Joãos” de Mané. Garrincha se divertia e divertia a todos dentro e fora do campo.

Quando os soviéticos recolocaram a bola em jogo, logo o escrete canarinho a recuperou. Garrincha fez mais uma de suas jogadas e lançou para Pelé, que arriscou o chute, mas a bola explodiu no travessão. O relógio ainda não tinha dado uma volta no ponteiro e o Brasil já havia carimbado a trave por duas vezes. O gol era questão de tempo.

E ele viria pouco mais de um minuto depois. Didi, realmente mais solto em campo, fez um lançamento de curva preciso pelo chão. Vavá se infiltrou na defesa soviética e, da meia-lua, tocou na saída de Yashin para abrir o placar.

O jornalista francês Gabriel Hanot, do jornal L’Equipe (ex-jogador, técnico e um dos idealizadores da atual UEFA Champions League) classificou aquele início brasileiro como “os três maiores minutos da história do futebol”, tal foi a força e a qualidade com que os jogadores brasileiros atacaram os soviéticos, sobretudo Garrincha.


(Imagem: O Globo)

● Os soviéticos estavam perdidinhos. Na tentativa de dominar o meio de campo, o técnico Gavriil Kachalin havia promovido a estreia de seu melhor jogador de linha, o capitão Igor Netto, que se recuperava de contusão. Ele era muito técnico e criativo, uma espécie de “Didi russo”. E nem havia tocado na bola quando Vavá inaugurou o marcador.

Didi, inteligente como só ele, levou Netto, para uma faixa mais neutra do campo, impedindo que o adversário conseguisse criar perigo. E o Príncipe Etíope ainda conseguia ditar o ritmo do jogo e entregava a bola a Garrincha sempre que podia.

Os soviéticos somente chegaram à área brasileira aos quinze minutos, em um lançamento longo para Anatoli Ilyin, que Gylmar saiu para interceptar.

Mas o baile continuou por todo o primeiro tempo, principalmente com um Mané diabolicamente incontrolável, provocando uma devastação na defesa soviética. Os russos pensavam que era um problema de ajuste de marcação e começaram a discutir entre si. Mas nada adiantou e o jogador do Botafogo continuou a fazer fila. Em certo momento, Garrincha deixou um marcador no chão, parou a bola e estendeu a mão para ajudá-lo a levantar. E seguiu o jogo normalmente, de forma inocente.

A partida teve duas fases: algumas poucas de algum equilíbrio e os muitos momentos de domínio brasileiro. Por isso, o segundo gol até demorou.

No segundo tempo, os soviéticos tiveram um de seus raros ataques. Anatoli Ilyin recuperou a bola e deixou com Igor Netto. Valentin Ivanov e Netto tabelaram pelo meio. Ivanov driblou De Sordi e chutou de esquerda. Gylmar encaixou firme, sem dar rebote.

Pelé foi discreto, deixando seu melhor para o jogo seguinte, contra o País de Gales. Ele perdeu dois gols que certamente faria se estivesse com mais ritmo de jogo e não tão nervoso. Normal, para um adolescente.

Aos 31 minutos do segundo tempo, em uma troca de passes entre Pelé e Vavá na área soviética, a bola sobrou entre Vavá e dois zagueiros. Conhecido como Peito de Aço por sua impetuosidade, Vavá esticou a perna esquerda, mesmo com a bola estando mais para o zagueiro Vladimir Kesarev e chutou para o fundo do gol. Em troca, Vavá ficou com um enorme corte na canela esquerda, causada pelas travas da chuteira de Kesarev – tentou tirar a bola no lance, mas chegou atrasado e atingiu em cheio o brasileiro.

O segundo gol trouxe um alívio tão grande que a comemoração passou do ponto: seis jogadores se empilharam sobre um lesionado Vavá, formando uma pirâmide humana até então desconhecida em campos europeus. O centroavante não aguentou de dor no corte e precisou deixar o campo alguns minutos depois. Com essa contusão, imaginava-se que Vavá estaria fora do restante do Mundial.

Aos 37, o ponta Ilyin acertou um chutaço que obrigou Gylmar a fazer a sua defesa mais difícil na Copa até então. E Gylmar terminou a primeira fase com a meta invicta, bem guarnecida por uma defesa irrepreensível formada por De Sordi, o capitão Bellini, Orlando e Nilton Santos. Do outro lado, Yashin evitou uma goleada histórica. O Brasil atacou 36 vezes, sendo a metade com perigo.


(Imagem: Globo Esporte)

● Nos minutos finais, a plateia viu um pequeno baile. Dos 38 aos 40, a bola rolou de pé em pé, de um lado para o outro e de volta ao ponto inicial, o capitão Bellini, sem que nenhum soviético conseguisse tocá-la. A até então comportada torcida sueca foi ao delírio. Deliciados com a arte dos brasileiros, os suecos riam à vontade com o futebol fantasia de Mané. Bastava ele receber a bola que o estádio se punha de pé. E aplaudiam com entusiasmo todo o time, de Gylmar a Zagallo.

O baile serviu para esfriar o ânimo dos soviéticos. Ateus, os comunistas russos pareciam rezar para que o juiz apitasse para que aquele pesadelo acabasse logo.

Os críticos presentes já não tinham mais adjetivos superlativos para descrever a Seleção Brasileira. Garrincha foi considerado “um assombro”. Os ingleses chamaram o ponta de “mercurial” (de outro mundo). Os jornais brasileiros disseram que Garrincha “arrombou a Cortina de Ferro”.

O decantado futebol científico da URSS se dobrava diante da malemolência do brasileiro: a genialidade de Didi, os dribles de Garrincha, o oportunismo de Vavá e tudo de Pelé.

No fim da partida, Garrincha resumiu tudo: “Eu tava com fome de bola”. No dia seguinte, ele recebeu o bicho direto das mãos do tesoureiro Adolpho Marques: cinquenta dólares. No Brasil, foi eleito o “desportista da semana” e ganhou uma bicicleta Gulliver.


(Imagem: Mais Futebol)

● No dia seguinte, em uma demonstração de esportividade, a delegação soviética visitou a concentração brasileira. Entre elogios e brincadeiras, principalmente com Garrincha, o zagueiro Kesarev se desculpou pelo rasgo na canela de Vavá. A URSS teve que jogar uma partida desempate com a Inglaterra pelo segundo lugar do grupo e venceu por 1 x 0. Nas quartas de final, caiu para a Suécia, dona da casa, por 2 x 0.

A principal ausência na seleção soviética foi a do centroavante Eduard Streltsov, artilheiro do time nas eliminatórias. Ele foi impedido de sair de seu país por estar respondendo a um processo criminal por estupro. Diz a lenda que ele era inocente e seu julgamento teria sido todo armado porque ele bateu de frente com o regime comunista russo. Porém, essa é uma história polêmica que fica pra outro momento. Mas ele fez muita falta à equipe e que, talvez, se estivesse em campo, a URSS poderia ter ido mais longe do que as quartas de final.

O desempenho dos brasileiros contra os soviéticos foi tamanho, que o placar foi considerado injusto, pois o Brasil teria merecido vencer por uma diferença mais expressiva no placar. Mas a vitória foi mais que o suficiente para classificar a Seleção Brasileira como líder do grupo. Cheia de confiança, enfrentaria o País de Gales nas quartas de final quatro dias depois. Esperamos contar essa história no próximo dia 19.

Enfim, Vicente Feola havia encontrado a escalação ideal. Pelé e Garrincha estrearam em Copas do Mundo e começaram a se transformarem em mitos. Com os dois juntos em campo, a Seleção Brasileira nunca foi derrotada. Foram oito anos e quarenta jogos (incluindo não oficiais) e o Brasil nunca perdeu: foram 35 vitórias e cinco empates). O título mundial era possível. Havia esperança e ela estava mais viva do que nunca.


(Imagem: Mais Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 0 UNIÃO SOVIÉTICA

 

Data: 15/06/1958

Horário: 19h00 locais

Estádio: Nya Ullevi

Público: 50.928

Cidade: Gotemburgo (Suécia)

Árbitro: Maurice Guigue (França)

 

BRASIL (4-2-4):

UNIÃO SOVIÉTICA (WM):

3  Gylmar (G)

1  Lev Yashin (G)

14 De Sordi

2  Vladimir Kesarev

2  Bellini (C)

4  Boris
Kuznetsov

15 Orlando

5  Yuriy Voynov

12 Nilton Santos

3  Konstantin Krizhevsky

19 Zito

16 Viktor Tsaryov

6  Didi

17 Aleksandr Ivanov

11 Garrincha

8  Valentin Ivanov

20 Vavá

9  Nikita Simonyan

10 Pelé

6  Igor Netto (C)

7  Zagallo

11 Anatoli Ilyin

 

Técnico: Vicente Feola

Técnico: Gavriil Kachalin

 

SUPLENTES:

 

 

1  Castilho (G)

12 Vladimir Maslachenko (G)

4  Djalma Santos

13 Vladimir Belyayev (G)

16 Mauro

14 Leonīds Ostrovskis

9  Zózimo

22 Vladimir Yerokhin

8  Oreco

15 Anatoli Maslyonkin

5  Dino Sani

19 Gennadi Gusarov

13 Moacir

20 Yuri Falin

17 Joel

7  German Apukhtin

18 Mazzola

18 Valentin Bubukin

21 Dida

10 Sergei Salnikov

22 Pepe

21 Genrikh Fedosov

 

GOLS:

3′ Vavá (BRA)

77′ Vavá (BRA)

Veja imagens raras da partida:

Lance inicial e gols do jogo:

Algumas imagens da partida:

● Sobre “aqueles primeiros três minutos”, no livro “Estrela Solitária: um brasileiro chamado Garrincha”, Ruy Castro reproduz o relato do repórter Ney Bianchi na revista Manchete Esportiva e depois complementa:

“Monsieur Guigue, gendarme nas horas vagas, ordena o começo da partida. Didi centra rápido para a direita: 15 segundos de jogo. Garrincha escora a bola com o peito do pé: 20 segundos. Kuznetzov parte sobre ele. Garrincha faz que vai para a esquerda, não vai, sai pela direita. Kuznetzov cai e fica sendo o primeiro João da Copa do Mundo: 25 segundos. Garrincha dá outro drible em Kuznetzov: 27 segundos. Mais outro: 30 segundos. Outro. Todo o estádio levanta-se. Kuznetzov está sentado, espantado: 32 segundos. Garrincha parte para a linha de fundo. Kuznetzov arremete outra vez, agora ajudado por Voinov e Krijveski: 34 segundos. Garrincha faz assim com a perna. Puxa a bola para cá, para lá e sai de novo pela direita. Os três russos estão esparramados na grama, Voinov com o assento empinado para o céu. O estádio estoura de riso: 38 segundos. Garrincha chuta violentamente, cruzado, sem ângulo. A bola explode no poste esquerdo da baliza de Iashin e sai pela linha de fundo: 40 segundos. A platéia delira. Garrincha volta para o meio do campo, sempre desengonçado. Agora é aplaudido.”

“A torcida fica de pé outra vez. Garrincha avança com a bola. João Kuznetzov cai novamente. Didi pede a bola: 45 segundos. Chuta de curva, com a parte de dentro do pé. A bola faz a volta ao lado de Igor Netto e cai nos pés de Pelé. Pelé dá a Vavá: 48 segundos. Vavá a Didi, a Garrincha, outra vez a Pelé, Pelé chuta, a bola bate no travessão e sobe: 55 segundos. O ritmo do time é alucinante. É a cadência de Garrincha. Iashin tem a camisa empapada de suor, como se já jogasse há várias horas. A avalanche continua. Segundo após segundo, Garrincha dizima os russos. A histeria domina o estádio. E a explosão vem com o gol de Vavá, exatamente aos três minutos.”

Foi assim que o repórter Ney Bianchi reproduziu em Manchete Esportiva aquele começo de jogo, como se tivesse um olho na bola e outro no cronômetro. Mas não estava longe da verdade. Outro jornalista, Gabriel Hannot, diria que aqueles foram os maiores três minutos da história do futebol e, com mais de setenta anos, ele fora testemunha ocular dessa história. A avalanche fora tão impressionante que, assim que se viu vazado, Iashin cumprimentou o primeiro brasileiro que lhe passou por perto – por acaso, Pelé.

E ainda faltavam 87 minutos para o jogo acabar! A continuar daquele jeito, já havia russos contemplando uma temporada na Sibéria. Nunca o orgulho do “científico” futebol soviético fora tão desmoralizado, e pelo mais improvável dos seres: um camponês brasileiro, mestiço, franzino, estrábico e com as pernas absurdamente tortas. A anticiência por excelência, o anti-Sputnik, o anticérebro eletrônico ou qualquer cérebro. Kessarev, Krijveski, Voinov, Tsarev e, mais que os outros, Kuznetzov, todos os zagueiros russos foram driblados por Garrincha em algum momento do jogo: um de cada vez, dois, três ou, em fila, todos ao mesmo tempo. Garrincha deixava um russo sentado e dizia, como se ele pudesse entendê-lo:

“Conheceu, papudo?”

… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria

Três pontos sobre…
… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria


Rob Rensenbrink foi o líder da Holanda em campo (Imagem: Pinterest)

● Em 1978, não havia mais a “Laranja Mecânica”, o “Carrossel Holandês” e o “Futebol Total”, o time treinado por Rinus Michels e capitaneado por Johan Cruijff.

Michels saiu logo depois da Copa de 1974. George Knobel foi o técnico até a Eurocopa de 1976. Jan Zwartkruis treinou a seleção holandesa nas eliminatórias até 1977 e depois se tornaria auxiliar. Para a Copa de 1978, a Oranje apostou no “pulso firme” do austríaco Ernst Happel. Ele havia disputado os Mundiais de 1954 e 1958 como zagueiro pela seleção de seu país. Como técnico, havia sido campeão da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) na temporada 1969/70 – venceria ainda o torneio pelo Hamburgo em 1982/83, sendo um dos únicos treinadores a conquistarem a competição por dois clubes diferentes, ao lado de José Mourinho e Ottmar Hitzfeld.

Mas as mudanças não eram só na beira do gramado. Johan Cruijff não estava mais lá. Ele havia deixado a seleção um ano antes. E são várias as versões pela sua ausência. A primeira era a sua afirmação de que o Mundial de 1974 seria o primeiro e o último que disputaria. Outra corrente diz que foi uma promessa à sua esposa Danny, após o jornal alemão Bild publicar uma reportagem antes da decisão contra a Alemanha Ocidental, na qual vários atletas fizeram uma festa regada a bebidas e prostitutas na beira da piscina do Waldhotel Krautkrämer, na cidade de Hiltrup, concentração holandesa. Outra justificativa para a ausência do gênio é que ele não teria aceitado viajar à Argentina como protesto pelo regime militar ditatorial que comandava o país sede desde 1976. Outra vertente diz que ele esperava receber uma premiação maior do que a federação pagaria. Mas apenas em 2012 ele revelou a razão verdadeira: um sequestro-relâmpago sofrido pela família em setembro de 1977, na própria residência de Barcelona, na qual ele repensou e preferiu manter a sua segurança com Danny e os filhos Jordi, Chantal e Susila.

Mas o time não era só Cruijff e a base ainda era a mesma. Todos os titulares haviam estado no Mundial anterior, com destaque para o novo capitão Ruud Krol, Wim Jansen, Arie Haan, Johan Neeskens, Johnny Rep e Rob Rensenbrink, que seria a maior estrela do time na ausência de Cruijff.

Mas começaram a surgir os problemas. A cerca de duas semanas antes do Mundial, Willem van Hanegem fez um ultimato a Happel: ou lhe garantia seu lugar no onze inicial, ou deixaria o grupo. O treinador não garantiu a titularidade e o meia deixou a delegação holandesa. Hugo Hovenkamp poderia ser o dono da posição, mas se lesionou nos treinos e nem chegou a entrar em campo. Com isso, Arie Haan (que havia sido zagueiro em 1974) foi escalado como volante.

Na estreia, os holandeses venceram o Irã por 3 x 0 de forma ridícula, sem a menor vontade e esforço. Na segunda partida, o empate sem gols com o bom time do Peru foi pior ainda. Mas se superou contra a Escócia: estava perdendo por 3 x 1 a 20 minutos do fim, com enorme pressão dos britânicos que, se marcassem mais um gol, se classificariam e eliminariam os Laranjas da competição. Mas Johnny Rep diminuiu e a derrota por 3 x 2 classificou a Holanda em segundo lugar do Grupo 4, atrás do Peru.

A Áustria voltava a disputar uma Copa do Mundo depois de vinte anos ausente (quando Ernst Happel ainda jogava). Na primeira fase, tinha sido a líder do Grupo 3, deixando o Brasil em segundo lugar pelo número de gols marcados. No primeiro jogo, venceu a Espanha por 2 x 1. Depois, venceu a Suécia por 1 x 0. Já classificada, perdeu para a Seleção Brasileira por 1 x 0. Os maiores destaques individuais eram o goleiro Friedrich Koncilia, o meia Herbert Prohaska (que seria campeão italiano ao lado de Falcão na Roma) e Hans Krankl (que seria artilheiro do Barcelona logo depois).


A Holanda atuou no 4-3-3, com Ruud Krol como líbero, tendo liberdade para avançar e iniciar as jogadas.


O técnico Helmut Senekowitsch escalou a Áustria no sistema 4-4-2.

● O regulamento da Copa de 1978 era o mesmo do Mundial anterior: os oito classificados da primeira fase foram divididos em duas chaves de quatro equipes, com o vencedor de cada chave disputando a final. Após um desempenho pouco convincente na primeira fase, a Holanda tinha obrigação de jogar melhor no quadrangular semifinal se quisesse se classificar para a decisão.

O técnico Ernst Happel deu liberdade para seu auxiliar Jan Zwartkruis fazer mudanças no time e comandar a preleção. Zwartkruis tinha mais liberdade com os atletas e fez duas mudanças importantes no time. Por lesão, saíram Johan Neeskens, Wim Suurbier e Wim Rijsbergen. Entraram os laterais Jan Poortvliet e Piet Wildschut e o zagueiro Ernie Brandts. Wim Jansen foi posicionado no meio, e Arie Haan ganhou liberdade total para avançar, criar e se aproximar do ataque. A outra mudança foi uma arriscada troca de goleiros. Ele tirou o veterano Jan Jongbloed, que era melhor na saída de jogo com os pés, e escalou Piet Schrijvers, que era melhor embaixo das traves.

Logo no começo da partida, Arie Haan bateu falta no cantinho, mas Koncilia pulou bem e espalmou para escanteio.

Aos sete minutos de bola rolando, Haan cobrou uma falta para a área e o zagueiro Brandts apareceu sozinho para cabecear da linha da pequena área no ângulo direito.

Aos 35′, Gerhard Breitenberger fez falta em Wim Jansen dentro da área. Rensenbrink cobrou o pênalti com precisão no ângulo esquerdo, sem chances para o arqueiro austríaco, que ainda acertou o canto mas não conseguiu pegar.

Dois minutos depois, Rensenbrink avançou pela esquerda e viu Rep entrando sozinho pelo meio. Na entrada da grande área, o camisa 16 dominou e tocou por cima do goleiro Koncilia, que havia saído no lance.

O show continuou no segundo tempo. Logo aos oito minutos, Schrijvers conbrou o tiro de meta. Rensenbrink dominou já cortando para a direita e driblando o marcador. Koncilia saiu para tentar fechar o ângulo e Rensenbrink tocou para o meio da pequena área. Rep apareceu livre e completou para o gol vazio.

A Áustria havia criado algumas chances antes, mas só fez o gol de honra a dez minutos do final. Kreuz cruzou da direita e Poortvliet cortou. Krieger pegou o rebote e ergueu a bola na área. A defesa holandesa falhou e Erich Obermayer apareceu para tocar por cima de Schrijvers, com muita classe e precisão. Um belo gol por cobertura do zagueiro, que apareceu como atacante na área laranja.

Pouco depois, em cobrança de falta ensaiada, Bruno Pezzey encheu o pé e Schrijvers buscou a bola no ângulo, fazendo uma ótima defesa.

O placar foi fechado aos 38. Rob Rensenbrink (o melhor em campo) avançou pela esquerda, driblou Obermayer por duas vezes e tocou para o meio. Willy van de Kerkhof finalizou de primeira, da marca do pênalti, no contrapé de Koncilia.


Johnny Rep foi infernal e deu muito trabalho para a marcação austríaca (Imagem: Pinterest)

● Johnny Rep e Rob Rensenbrink tiveram uma tarde inspirada no Estádio Olímpico Chateau Carreras, em Córdoba.

Parecia que a Holanda tinha economizado o futebol na primeira fase apenas para dar espetáculo nessa partida. Mas, a bem da verdade, foi a única em que a Holanda sobrou em campo e relembrou o já distante “Carrossel Holandês”.

Na sequência do Grupo A da segunda fase, a Áustria perdeu para a Itália por 1 x 0. Já eliminada, colocou água no chope da vizinha e arqui-inimiga Alemanha Ocidental, vencendo por 3 x 2 e acabando com qualquer esperança de classificação para a final que os então campeões do mundo ainda tinham.

Na reedição da final anterior, Holanda e Alemanha Ocidental empataram por 2 x 2 em um bom jogo. Na última rodada, os holandeses venceram os italianos por 2 x 1 e se garantiram na decisão. Mesmo dominando o jogo por parte do tempo, a Oranje foi batida novamente pelos donos da casa. Dessa vez, a Argentina venceu por 3 x 1 na prorrogação e se coroou campeã mundial pela primeira vez, deixando a Holanda com um amargo bi-vice.


O centroavante Hans Krankl foi muito bem marcado e pouco fez durante os noventa minutos (Imagem: Twitter @thecentretunnel)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 5 x 1 ÁUSTRIA

 

Data: 14/06/1978

Horário: 13h45 locais

Estádio: Estadio
Olímpico Chateau Carreras (atual Estadio Mario Alberto Kempes)

Público: 25.050

Cidade: Córdoba (Argentina)

Árbitro: John Gordon (Escócia)

 

HOLANDA (1-3-3-3):

ÁUSTRIA (4-4-2):

1  Piet Schrijvers (G)

1  Friedrich Koncilia (G)

7  Piet Wildschut

2  Robert Sara (C)

22 Ernie Brandts

5  Bruno Pezzey

2  Jan Poortvliet

3  Erich Obermayer

5  Ruud Krol (C)

4  Gerhard Breitenberger

9  Arie Haan

7  Josef Hickersberger

6  Wim Jansen

12 Eduard Krieger

11 Willy van de Kerkhof

8  Herbert Prohaska

10 René van de Kerkhof

11 Kurt Jara

16 Johnny Rep

9  Hans Krankl

12 Rob Rensenbrink

10 Wilhelm Kreuz

 

Técnico: Ernst Happel

Técnico: Helmut Senekowitsch

 

SUPLENTES:

 

 

19 Pim Doesburg (G)

21 Erwin Fuchsbichler (G)

8  Jan Jongbloed (G)

22 Hubert Baumgartner (G)

17 Wim Rijsbergen

15 Heribert Weber

4  Adrie van Kraaij

16 Peter Persidis

20 Wim Suurbier

14 Heinrich Strasser

15 Hugo Hovenkamp

20 Ernst Baumeister

3  Dick Schoenaker

6  Roland Hattenberger

13 Johan Neeskens

13 Günther Happich

14 Johan Boskamp

17 Franz Oberacher

18 Dick Nanninga

19 Hans Pirkner

21 Harry Lubse

18 Walter Schachner

 

GOLS:

6′ Ernie Brandts (HOL)

35′ Rob Rensenbrink (HOL) (pen)

36′ Johnny Rep (HOL)

53′ Johnny Rep (HOL)

80′ Erich Obermayer (AUT)

82′ Willy van de Kerkhof (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

60′ René van de Kerkhof (HOL) ↓

Dick Schoenaker (HOL) ↑

 

66′ Ernie Brandts (HOL) ↓

Adrie van Kraay (HOL) ↑

Melhores momentos da partida:

… 13/06/1986 – Dinamarca 2 x 0 Alemanha Ocidental

Três pontos sobre…
… 13/06/1986 – Dinamarca 2 x 0 Alemanha Ocidental


(Imagem: DPA / Corbis / Impromptuinc)

● A imprensa esportiva da época já avisava: a “Dinamite Dinamarca” poderia explodir na Copa do Mundo de 1986. Durante o torneio, acabaria se tornando a “Dinamáquina”: a máquina de toques envolventes, aproximação, jogo rápido e marcação sob pressão, capaz de massacrar até os mais tradicionais adversários.

Historicamente, o país era um grande exportador de “pé de obra” para os maiores centros do futebol europeu. Um dos incentivos para isso era o amadorismo que perdurou no país até 1985. Mas muita coisa mudou com o advento do profissionalismo e a contratação do técnico alemão Sepp Piontek na virada da década. O treinador precisou fazer um trabalho diferente para a época, garimpando jogadores de todos os cantos do continente, o que não era usual para a época. Eles se reuniam 48 horas antes dos jogos e mal tinham tempo para treinar. Mesmo assim, deu certo. O resultado foi imediato, com o 3º lugar na Eurocopa de 1984 e a classificação para o Mundial de 1986 – foi líder do Grupo 6 das eliminatórias europeias, apenas um ponto na frente da União Soviética.

O atacante Preben Elkjær Larsen, fumante inveterado, campeão italiano com o Verona na temporada 1984/85, foi o maior artilheiro das eliminatórias em todos os continentes, com oito gols. Michael Laudrup, já na Juventus, era considerado como uma das maiores revelações da Europa. Outro destaque era a animada, beberrona e pacífica torcida.

Era endeusada pela crítica internacional como uma das maiores forças do futebol europeu de então. Tinha um time muito entrosado. E o 3-5-2 era um sistema tático diferente, que confundia a marcação adversária (como detalhamos nesse outro texto).


Sepp Piontek escalou a Dinamarca no futurista sistema 3-5-2. John Sivebæk e Søren Busk eram os dois defensores centrais e Morten Olsen era o líbero. Jan Mølby fazia o balanço defensivo, voltando para jogar entre os zagueiros se necessário. Søren Lerby e Jesper Olsen eram meias que marcavam e criavam. Os alas Frank Arnesen e Henrik Andersen eram meias de origem e tinham como maior característica a velocidade com a bola. Michael Laudrup e Elkjær era uma dupla de ataque de muita movimentação.


O 3-5-2 já não era mais exclusividade da Dinamarca. Outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. A Alemanha jogava em um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. O lateral esquerdo Matthias Herget fazia o papel de um terceiro zagueiro, a fim de liberar o outro lateral, Berthold, que apoiava um pouquinho mais pela direita, fazendo o contra-peso do meia esquerda Brehme. Matthäus era o “todo-campista” indo de área a área. Eder marcava para Rolff armar as jogadas para os atacantes Klaus Allofs e Rudi Völler.

● As duas seleções entraram em campo já classificadas. Na pior das hipóteses, os alemães se classificariam em terceiro no grupo – mas isso se o Uruguai tirasse uma diferença de seis gols de saldo contra a Escócia (a partida ocorreu simultaneamente a essa e terminou sem gols).

Apesar da postura mais defensiva, os comandados de Franz Beckenbauer começaram mais perigosos e Andreas Brehme mandou uma bola no travessão.

Mas, mesmo sem fazer força alguma, o time do técnico Sepp Piontek conseguiu traduzir sua superioridade em gols.

Aos 43 minutos do primeiro tempo, o líbero Morten Olsen arrancou e foi derrubado dentro da área por Wolfgang Rolff. O árbitro belga Alexis Ponnet assinalou o pênalti. Jesper Olsen cobrou de esquerda com enorme categoria. A bola foi no canto direito, deslocando o goleiro Harald Schumacher, que caiu para o esquerdo.

A partida foi resolvida aos 17′ da etapa complementar. Morten Olsen partiu com a bola dominada e tocou para Michael Laudrup, que lançou Frank Arnesen na direita, que cruzou rasteiro. Schumacher saiu de carrinho e não cortou. John Eriksen só tocou para dentro. Eriksen tinha entrado no intervalo no lugar de Preben Elkjær Larsen, que foi poupado do segundo tempo.

Curiosamente, essa foi a única partida do craque Allan Simonsen na história das Copas. Bola de Ouro da revista France Football como melhor jogador da Europa em 1977, o “pequeno gigante” já estava no fim de carreira, bastante prejudicado por problemas físicos. Ele entrou no lugar de Jesper Olsen na metade do segundo tempo.

Os dinamarqueses ficaram em primeiro lugar do Grupo E e enfrentaria a Espanha, segunda do Grupo D. Os alemães se deram bem por terem ficado em segundo, pois enfrentaram o Marrocos (líder do Grupo F) nas oitavas de final – teoricamente, um adversário mais fácil. O Uruguai foi terceiro da chave e pegou a Argentina (primeira do Grupo A). O resultado foi bom para todos.


Karlheinz Förster e Preben Elkjær Larsen disputam a jogada (Imagem: Team Group / Impromptuinc)

● Na primeira fase, a Alemanha Ocidental se classificou em segundo lugar no Grupo E, com três pontos: empatou com o Uruguai (1 x 1), venceu a Escócia (2 x 1) e perdeu para a Dinamarca (2 x 0). Nas oitavas, penou para passar pelo Marrocos (1 x 0). Nas quartas, passou sufoco, vencendo o México apenas nos pênaltis por 4 a 1, após um empate sem gols. Fez seu melhor jogo na semifinal, vencendo a favorita França por 2 a 0. Na decisão, buscou um improvável empate, mas sofreu o gol derradeiro de Jorge Burruchaga nos minutos finais, após mais uma jogada genial de Maradona. A Argentina venceu por 3 x 2 e conquistou seu segundo título, deixando a Alemanha com seu segundo vice-campeonato consecutivo.

Com um jeito ofensivo e alegre de jogar, a Dinamarca se tornou o segundo time favorito de todo o mundo. Era admirada por sua coragem e seu estilo como nenhuma outra seleção desde então. E os nórdicos terminaram a primeira fase como líderes do “grupo da morte”, com 100% de aproveitamento, três vitórias em três jogos. Venceram Escócia (1 x 0), Uruguai (6 x 1) e Alemanha Ocidental (2 x 0). Anotaram nove gols e sofreram apenas um, de pênalti. Enfrentaria a Espanha nas oitavas de final. E, como diria aquele velho ditado: “o futebol é uma caixinha de surpresas”. Haveria uma bastante amarga para os dinamarqueses. É o que veremos no próximo dia 18.


Rudi Völler tenta passar por Morten Olsen (Imagem: Norbert Schmidt / Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

DINAMARCA 2 x 0 ALEMANHA OCIDENTAL

 

Data: 13/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: La Corregidora

Público: 36.000

Cidade: Querétaro (México)

Árbitro: Alexis Ponnet (Bélgica)

 

DINAMARCA (3-5-2):

ALEMANHA
OCIDENTAL (4-4-2):

22 Lars Høgh (G)

1  Harald Schumacher (G)(C)

2  John Sivebæk

14 Thomas Berthold

3  Søren Busk

4  Karlheinz Förster

4  Morten Olsen (C)

17 Ditmar Jakobs

21 Henrik Andersen

5  Matthias Herget

7  Jan Mølby

6  Norbert Eder

6  Søren Lerby

8  Lothar Matthäus

15 Frank Arnesen

3  Andreas Brehme

8  Jesper Olsen

21 Wolfgang Rolff

11 Michael Laudrup

19 Klaus Allofs

10 Preben Elkjær Larsen

9  Rudi Völler

 

Técnico: Sepp Piontek

Técnico: Franz Beckenbauer

 

SUPLENTES:

 

 

1  Troels Rasmussen (G)

12 Uli Stein (G)

16 Ole Qvist (G)

22 Eike Immel (G)

5  Ivan Nielsen

15 Klaus Augenthaler

17 Kent Nielsen

2  Hans-Peter Briegel

9  Klaus Berggreen

16 Olaf Thon

13 Per Frimann

13 Karl Allgöwer

20 Jan Bartram

10 Felix Magath

12 Jens Jørn Bertelsen

18 Uwe Rahn

14 Allan Simonsen

7  Pierre Littbarski

18 Flemming Christensen

20 Dieter Hoeneß

19 John Eriksen

11 Karl-Heinz Rummenigge

 

GOLS:

43′ Jesper Olsen (DIN) (pen)

62′ John Eriksen (DIN)

 

CARTÕES AMARELOS:

36′ Frank Arnesen (DIN)

48′ Norbert Eder (ALE)

51′ Ditmar Jakobs (ALE)

 

CARTÃO VERMELHO: 88′ Frank Arnesen (DIN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Preben Elkjær Larsen (DIN) ↓

John Eriksen (DIN) ↑

 

INTERVALO Wolfgang Rolff (ALE) ↓

Pierre Littbarski (ALE) ↑

 

71′ Jesper Olsen (DIN) ↓

Allan Simonsen (DIN) ↑

 

71′ Karlheinz Förster (ALE) ↓

Karl-Heinz Rummenigge (ALE) ↑

Gols da partida:

Jogo completo:

… 12/06/1986 – Brasil 3 x 0 Irlanda do Norte

Três pontos sobre…
… 12/06/1986 – Brasil 3 x 0 Irlanda do Norte


(Imagem: Pinterest)

● Era a melhor geração da história da Irlanda do Norte, responsável por classificar os norte-irlandeses para dois Mundiais consecutivos. Tinha feito uma ótima Copa de 1982 para seus padrões, ao ser líder do Grupo E e só ser eliminada na última rodada da segunda fase pela França de Michel Platini. Jogava bem ao estilo típico da escola britânica: defesa fechada e bola aérea no ataque. Dificilmente vencia uma partida, mas também era muito difícil de ser batida.

Desde 1980 como técnico da Norn Iron, Billy Bingham foi ponta direita na Copa de 1958. Curiosamente, ele encerrou sua carreira na seleção no dia 15/04/1964, justamente quando o goleiro Pat Jennings vestia a camisa de seu país pela primeira das 119 vezes.

Pat Jennings completava 41 anos exatamente naquele dia e se tornava o jogador mais velho a disputar uma Copa do Mundo até então. Norman Whiteside já era o jogador mais jovem da história do torneio, ao entrar em campo contra a Iugoslávia em 1982, com 17 anos e 41 dias. Os extremos – e os únicos destaques individuais da equipe.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


A Irlanda do Norte se fechou no 4-5-1.

● O técnico Telê Santana fez algumas alterações importantes para esse confronto. Alemão voltou ao meio campo, após ter sido deslocado para a lateral direita por causa da lesão de Édson Abobrão, no início do jogo contra a Argélia. O desconhecido Josimar entrou na lateral. No ataque, Müller se tornou titular ao lado de Careca, repetindo a dupla que fazia sucesso no São Paulo. Casagrande, mal nos dois primeiros jogos, perdeu a posição.

Nas duas primeiras rodadas, a Irlanda do Norte conquistou um ponto ao empatar com a Argélia e perder para a Espanha. Para seguir com o sonho de passar de fase, precisava pontuar contra o Brasil. Por isso, o treinador Billy Bingham fechou mais o time no sistema 4-5-1, recuando Whiteside de vez.

Porém, ao se fechar, os britânicos ficaram muito presos em seu próprio campo, sem conseguir avançar. Parte do mérito disso foi a imposição técnica da Seleção Brasileira.

Durante todos os 90 minutos, os britânicos criaram apenas três chances: uma cabeçada de Whiteside, um chute do lateral esquerdo Mal Donaghy que desviou no zagueiro Júlio César e um chute do capitão Sammy McIlroy da entrada da área.

Mas o fato é que o Brasil dominou do início ao fim.

A jogada do primeiro gol foi da dupla de ataque do SPFC. Logo aos 15 minutos jogados, Müller, cercado por dois adversários, cruzou da direita. Careca se antecipou à marcação e chutou no canto.

Pat Jennings era o responsável por evitar um massacre no placar, com pelo menos sete ótimas defesas: no primeiro tempo, ele pegou um chute de Müller, outro de Branco, um cara a cara de Júnior; na segunda etapa, defendeu um voleio de Careca, uma finalização rasteira e outra pelo alto de Casagrande em dois lances seguidos, além de outra defesa cara a cara com Branco.

Mas foi mais que impossível segurar o “pombo sem asas” de Josimar. Aos 42 minutos de jogo, Josimar dominou na intermediária, avançou dois passos e chutou de bico. A bola pegou um efeito monstro, encobriu o goleiro e morreu no ângulo. Um gol sensacional.

Era a estreia do jogador do Botafogo com a camisa da Seleção Brasileira. Ele só foi chamado por causa da conturbada saída de Leandro (como já contamos aqui) e só jogou por causa da lesão de Édson.


(Imagem: Pinterest)

Na metade do segundo tempo, Telê promoveu o retorno de Zico, que ainda tratava uma lesão no joelho. O craque voltou bem, quase marcando por duas vezes.

A três minutos do fim, Careca recebeu a bola perto do bico da área e tabelou com Zico, que devolveu de calcanhar. Careca dominou, ficou de frente para o gol e finalizou no canto esquerdo.

O resultado classificou o Brasil com 100% de aproveitamento e eliminou os norte-irlandeses.

Essa foi a última partida da Irlanda do Norte em Copas do Mundo até o momento.

E é também a única vez que as duas seleções se enfrentaram, incluindo jogos não oficiais.


(Imagem: ESPN)

Na partida seguinte, Josimar marcou outro golaço contra a Polônia e garantiu de vez seu nome na história. Em sua homenagem, a revista de futebol mais popular da Noruega se chama “Josimar”. A emissora britânica BBC elegeu o gol de Josimar contra a Irlanda do Norte como o 8º mais bonito da história das Copas.

O Brasil venceu Espanha e Argélia no sufoco, ambas por 1 x 0. Depois, houve uma ingênua impressão de evolução quando venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0. Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0. Nas quartas, o Brasil enfrentaria a França, de Michel Platini, como veremos no próximo dia 21.


(Imagem: Twitter @OldFootball11)font>

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 0 IRLANDA DO NORTE

 

Data: 12/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 51.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Siegfried Kirschen (Alemanha Oriental)

 

BRASIL (4-4-2):

IRLANDA DO NORTE (4-5-1):

1  Carlos (G)

1  Pat Jennings (G)

13 Josimar

2  Jimmy Nicholl

14 Júlio César

5  Alan McDonald

4  Edinho (C)

4  John O’Neill

17 Branco

3  Mal Donaghy

19 Elzo

6  David McCreery

15 Alemão

8  Sammy McIlroy (C)

6  Júnior

10 Norman Whiteside

18  Sócrates

21 David Campbell

7  Müller

11 Ian Stewart

9  Careca

17 Colin Clarke

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Billy Bingham

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

12 Jim Platt (G)

22 Leão (G)

13 Phil Hughes (G)

2  Édson Boaro

18 John McClelland

3  Oscar

15 Nigel Worthington

16 Mauro Galvão

16 Paul Ramsey

5  Falcão

20 Bernard McNally

20 Silas

22 Mark Caughey

21 Valdo

7  Steve Penney

10 Zico

9  Jimmy Quinn

11 Edivaldo

19 Billy Hamilton

8  Casagrande

14 Gerry Armstrong

 

GOLS:

15′ Careca (BRA)

42′ Josimar (BRA)

87′ Careca (BRA)

 

CARTÃO AMARELO: 12′ Mal Donaghy (IRN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

27′ Müller (BRA) ↓

Casagrande (BRA) ↑

 

67′ Norman Whiteside (IRN) ↓

Billy Hamilton (IRN) ↑

 

68′ Sócrates (BRA) ↓

Zico (BRA) ↑

 

71′ David Campbell (IRN) ↓

Gerry Armstrong (IRN) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo (em português):