Três pontos sobre… … Cafu jogando no Juventude em 1995
Você sabia que Cafu jogou no Juventude um ano depois de ser campeão do mundo pela Seleção Brasileira?
A Parmalat, patrocinadora do Palmeiras e do Juventude na época, usou o clube gaúcho como uma ponte para burlar uma cláusula que o São Paulo incluiu na venda de Cafu ao Zaragoza.
Três pontos sobre… … 13/07/1994 – Brasil 1 x 0 Suécia
(Imagem: Trivela)
● Na primeira fase da Copa do Mundo de 1994, o Brasil foi líder do Grupo B com sete pontos: derrotou a Rússia por 2 a 0 e venceu Camarões por 3 a 0. Já classificado para as oitavas de final, empatou em 1 x 1 com a Suécia. Nas oitavas, enfrentou o anfitrião Estados Unidos justamente no dia da independência americana. Com um homem a menos (Leonardo foi expulso), foi um jogo duríssimo, mas a Seleção venceu com um gol de Bebeto. Nas quartas de final, o melhor jogo da Copa: vitória sobre a Holanda por 3 a 2. Nas semifinais, um reencontro foi marcado com os suecos.
No mesmo Grupo, a Suécia se classificou em segundo lugar com cinco pontos. Empatou com Camarões na estreia por 2 a 2. Depois, venceu a Rússia por 3 a 1. Segurou o Brasil e empatou por 1 a 1. Nas oitavas de final, bateu a surpreendente Arábia Saudita por 3 a 1. Nas quartas de final, fez um jogo proibido para cardíacos, com muito equilíbrio, contra a Romênia, empatando por 1 a 1 no tempo normal, outro 1 a 1 na prorrogação, e vencendo por 5 a 4 nas penalidades máximas.
Chegando às semifinais, a Suécia já havia apagado o fisco do Mundial de 1990, quando caiu na primeira fase perdendo as três partidas (Brasil, Escócia e Costa Rica).
O técnico brasileiro Carlos Alberto Parreira manteve o mesmo time que venceu a Holanda, com Branco na lateral esquerda e pregou respeito ao adversário, alertando que os nórdicos haviam evoluído durante o torneio: “Não vai ser fácil entrar na defesa deles. A Suécia está marcando cada vez melhor, com grupos de quatro jogadores incansáveis”.
Na teoria, o Brasil jogava no sistema 4-4-2, com dois volantes e dois meias. Mas essa partida foi diferente na prática. Mauro Silva começou jogando mais recuado, quase na mesma linha dos zagueiros. Com isso, Jorginho e Branco foram liberados para apoiar. Quando o time tinha a bola, o esquema era 3-5-2, com superioridade numérica no meio de campo.
A Suécia atuava no sistema 4-4-2 clássico. Brolin jogava aberto da direita e atacava mais, enquanto Ingesson ficava aberto pela esquerda e fazia mais o papel da recomposição.
● Brasil e Suécia voltaram a se enfrentar 15 depois do empate na última rodada da primeira fase. Mas, dessa vez, a tensão era muito maior. Eram as duas únicas equipes invictas na Copa.
As duas equipes entraram no estádio Rose Bowl, em Pasadena, com seus uniformes reservas, já que ambas as seleções usavam camisas amarelas no fardamento principal. Pela primeira vez, a Seleção Brasileira jogou toda de azul, com camisa e meia sendo do uniforme reserva e o calção do uniforme principal – uma combinação estranha de tons de azul. A Suécia jogou toda de branco, com pequenos detalhes em azul e amarelo – cores da bandeira do país.
O jogo todo foi de total pressão brasileira, com os suecos se defendendo com sorte e competência.
A primeira chance foi de Branco, em uma de suas típicas cobranças de falta da intermediária. Patrik Andersson derrubou Bebeto. Branco cobrou a falta ao seu estilo, mas a bola perdeu força e Thomas Ravelli fez a defesa em dois tempos.
A Suécia respondeu com Håkan Mild, que levou a bola pelo meio e arriscou de longe. Taffarel defendeu bem. A Suécia, que até então era quem mais finalizava na Copa, deu apenas esse chute ao gol.
Diferentemente das outras partidas, Zinho parecia mais seguro e entrou ligado no jogo, arriscando nos passes em profundidade e se apresentando para as tabelas. Talvez tenha sido a melhor partida do meia com a camisa da Seleção Brasileira. Aos 13′, o camisa 9 fez boa jogada pela esquerda e passou para Romário pelo meio. Ele fez o passe vertical para Bebeto, que tocou para a infiltração do próprio Zinho pela esquerda da área. Mas, na hora de “tirar o 10”, o meia palmeirense não conseguiu virar o pé e chutou para fora.
Tomas Brolin tocou para Martin Dahlin na esquerda. Ele cortou Aldair e cruzou para a área, mas Brolin não conseguiu alcançar. Os dois – Brolin e Dahlin – estavam jogando em más condições físicas, sentindo dores.
(Imagem: Getty Images / Mark Leech / Offside)
O Brasil dominava amplamente a partida. Aos 25′, Branco tocou para o meio e Zinho fez o corta luz para Romário. O genial “Baixinho” se livrou do carrinho de Brolin, passou entre Joachim Björklund e Roger Ljung, driblou Ravelli e finalizou fraco. Patrik Andersson tirou em cima da linha. Mazinho pegou o rebote e, mesmo sem goleiro, chutou para fora de forma bisonha. Um gol que não se pode perder. Não era força, era jeito. Desolado, Mazinho foi se abraçar à trave.
Aos 32′, Dunga fez um lançamento ao seu estilo para Bebeto. Da esquerda, ele tocou de primeira para Romário, que perdeu o tempo e se embaraçou na bola antes de chutar em cima de Ravelli.
O time azul seguia no ataque. Romário arrancou e tentou o passe para Bebeto. A zaga sueca cortou e Zinho chutou firme, mas Ravelli espalmou por cima do gol.
Os suecos não conseguiam atacar. No segundo tempo, o panorama não mudou.
No intervalo, Parreira trocou o inoperante Mazinho pelo aceso Raí, tornando o time mais ofensivo e subindo a média de altura do time. Foram os melhores 45 minutos de Raí com a camisa da Seleção Brasileira. E o camisa 10 foi o autor da primeira finalização da etapa final, quando bateu desequilibrado e Ravelli pegou.
Aos 17′, em um lance fortuito no meio de campo, o capitão sueco Jonas Thern errou o tempo de bola, foi por cima e acertou Dunga. O árbitro colombiano José Torres Cadena mostrou o cartão vermelho para o sueco. Thern não foi tão terno, mas Dunga enfeitou um bocado na queda. Expulsão contestável, mas justa.
(Imagem: Alamy)
Para recompor suas linhas, o técnico sueco trocou o baleado Dahlin pelo volante Stefan Rehn, deixando somente Kennet Andersson no comando de ataque. Se formou um 4-4-1.
Sem ter a quem marcar, Mauro Silva se soltou e passou a se apresentar mais à frente. Raí também se soltou e passou a ser presença constante na área rival, quase como um terceiro atacante.
A imponência brasileira era tão grande que até os zagueiros Aldair e Márcio Santos passaram a frequentar a intermediária ofensiva.
Jorginho tocou para Bebeto. Pelo meio, ele escorou para Romário, que cortou o marcador e chutou da entrada da área. Ravelli espalmou para frente e Zinho não conseguiu pegar o rebote.
Ao ir pegar a bola que havia saído, Thomas Ravelli olhou para a câmera, estatalou os olhos e abriu um sorriso forçado, como um palhaço. Foi uma cena clássica e inesquecível da história das Copas.
Mauro Silva chutou de longe, mas a bola fez a curva contrária e saiu à esquerda de Ravelli.
O Brasil só quebrou a resistência nórdica aos 35′. Bebeto abriu com Jorginho na direita. Ele dominou, levantou a cabeça e cruzou com perfeição. Bem posicionado e livre no meio da área, Romário (1,68 m) apareceu entre os zagueiros Patrik Andersson (1,83 m) e Roland Nilsson (1,79 m), nem precisou subir muito e cabeceou para baixo. A bola tocou no chão e entrou no canto esquerdo de Ravelli, sem chance para o goleiro. O baixinho comemorou ao seu estilo, abrindo os braços.
Nos minutos finais, o Brasil ainda teve chance de aumentar. Raí tocou para Bebeto no meio. Ele teve tempo de ajeitar, girar e bater colocado. A bola triscou no travessão e saiu.
Em um tiro de meta cobrado por Ravelli, Dunga cabeceou para cima, Raí ganhou no alto escorando para Romário, que bateu de esquerda, mas a bola saiu à direita do goleiro sueco.
Fim de jogo! Brasil e Itália se reencontrariam na final mais uma vez, 24 anos depois. Quem vencesse se tornaria o primeiro tetracampeão mundial.
(Imagem: Alambrado)
● O dirigente sueco Lennart Johansson, ex-presidente da UEFA, fez uma reclamação pertinente 14 anos depois. Ele considerava estranha a escalação de um árbitro sul-americano para dirigir o confronto entre Brasil e Suécia. Segundo ele, o fato teria sido armação do então presidente da FIFA, o brasileiro João Havelange. A principal queixa do cartola sueco foi a expulsão de Jonas Thern: “Mereceria, sim, cartão amarelo, jamais vermelho”. O lance foi mesmo determinante para o resultado final. Houve na época quem considerasse que a expulsão foi rigorosa (e foi mesmo). Mas ninguém questiona o fato de o Brasil ter jogado melhor e ter merecido a vitória.
“Não seria exagero dizer que poderíamos ter vencido por goleada. O resultado justo seria 5 x 0. O goleiro deles pegou pra cacete. Se fossem três, quatro ou cinco, seria normal.” ― Ricardo Rocha
Na decisão do 3º lugar, a Sécia goleou uma desmotivada Bulgária por 4 x 0, com gols de Tomas Brolin, Håkan Mild, Henrik Larsson e Kennet Andersson.
Três pontos sobre… … 09/07/1994 – Itália 2 x 1 Espanha
(Imagem: Storie di Calcio)
● Na primeira fase, a Espanha se classificou em segundo lugar do Grupo C. Na primeira rodada, cedeu o empate para a Coreia do Sul por 2 x 2, depois de estar vencendo por 2 x 0 até os 40′ do segundo tempo. No jogo seguinte, empate por 1 x 1 com a então campeã mundial, a Alemanha. Na terceira partida, venceu a Bolívia por 3 x 1. Nas oitavas de final, vitória tranquila sobre a Suíça por 3 x 0.
O técnico espanhol Javier Clemente tinha fama de defensivo e provou isso com sua escalação. Além de não convocar Míchel e Emilio Butragueño, ele deixou no banco os três meio-campistas mais talentosos de seu elenco: Fernando Hierro (era volante na seleção nessa época), Pep Guardiola e Julen Guerrero, preferindo escalar o zagueiro Miguel Ángel Nadal como volante. Na defesa, seguiu com o revezamento e sacou Paco Camarasa para escalar Jorge Otero. Outra mudança importante foi a volta de José Luis Caminero (que cumpriu suspensão contra a Suíça). No ataque titular não havia nenhum atacante de ofício, mas os meias ofensivos Jon Andoni Goikoetxea e Luis Enrique.
(Imagem: Eurosport)
● A Itália sofreu um pouco no Grupo E. Perdeu na estreia por 1 x 0 para a Irlanda, venceu a Noruega por 1 x 0 e empatou com o México em 1 x 1. Esses placares, juntamente com os outros da mesma chave, resultou em uma situação inédita: pela primeira e única vez na história das Copas, um grupo terminou com as quatro seleções rigorosamente empatadas, tanto em pontos ganhos (quatro) como em saldo de gols (zero). O México ficou em primeiro lugar por ter tido o melhor ataque (três gols), a Irlanda ficou em segundo por ter vencido a Itália no confronto direto, a Itália se classificou na repescagem como um dos quatro melhores terceiros lugares e a Noruega ficou de fora por ter marcado menos gols (só um).
Depois do sufoco diante dos nigerianos nas oitavas de final (2 x 1 na prorrogação), o técnico Arrigo Sacchi escalou a Azzurra de forma mais cautelosa. O goleiro Gianluca Pagliuca voltou a ser titular depois de uma suspensão de dois jogos, ganhando a vaga de Luca Marchegiani. Na lateral direita, Roberto Mussi deu lugar ao experiente Mauro Tassotti. Na meia direita, saiu Antonio Conte e entrou Nicola Berti. Mas a alteração mais radical foi a saída do atacante Giuseppe Signori para a entrada do volante Dino Baggio. Com essa mudança, Roberto Baggio – que estava atuando como meia – passou a jogar como atacante. A ausência era o capitão Franco Baresi, que fez uma artroscopia depois do jogo com a Noruega.
A Itália jogava no 4-4-2. Arrigo Sacchi era adepto da marcação por pressão e da redução do campo a três quartos. Fazia isso adiantando sua linha de zagueiros e recuando os dois atacantes, dando pouco espaço entre suas linhas para que o adversário trabalhasse a bola.
A Espanha atuou no sistema 5-3-2, sem nenhum atacante de ofício e muita aproximação dos meias centrais.
● No dia 9 de julho de 1994, Itália e Espanha adentraram o gramado do Foxboro Stadium, na cidade de Foxborough, estado de Massachusetts, sob um calor de 36° C e 55% de umidade relativa do ar.
A Azzurra estava mais cansada depois de precisar da prorrogação para passar pela Nigéria.
A primeira chance foi italiana. Daniele Massaro avançou pela direita e cruzou para a área. Roberto Baggio não finalizou bem e chutou em cima de Albert Ferrer.
Pouco depois, Abelardo acertou uma solada horrível em Roberto Baggio, chegando por cima na dividida. O craque italiano teve que sair para ser atendido, mas logo retornou ao campo.
Pela primeira vez na Copa de 1994, a Itália dominou o início do jogo. Mas o gol só saiu aos 25′. Dino Baggio abriu na esquerda para Roberto Donadoni, que fez boa jogada e devolveu para o camisa 13. Ele teve tempo e espaço para dominar, ajeitar o corpo e encher o pé. Mesmo de longe, a bola fez uma curva e foi no ângulo esquerdo de Andoni Zubizarreta.
Aproveitando o bom momento no jogo, a Azzurra quase ampliou. Após passe de Dino Baggio, Massaro caiu na área em dividida com Abelardo, mas o árbitro húngaro Sándor Puhl não marcou pênalti. Uma jogada duvidosa.
Logo no terceiro minuto da etapa final, um lance polêmico e controverso. Goikoetxea cruzou da direita e Mauro Tassotti acertou uma cotovelada no rosto de Luis Enrique, que caiu em campo. Seria pênalti claro e expulsão do italiano, mas o juiz não viu o lance. Com o rosto ensanguentado, Luis Enrique se revoltou e partiu para cima de Tassotti. O árbitro separou a brica e nada marcou. Sem acreditar, Luis Enrique desabou no chão, impotente, após tamanha covardia. Posteriormente, Tassotti seria suspenso pela FIFA por quatro partidas por causa da agressão. Foi a primeira punição decretada pela entidade baseada em imagens de TV, sem o relato do árbitro na súmula.
(Imagem: Última Divisão)
A Fúria só empatou aos 13′ do segundo tempo. Giuseppe Signori errou o passe no campo de ataque. Jorge Otero interceptou e deixou com José Mari Bakero, que abriu na esquerda para Sergi. Ele avançou e tentou passar para Luis Enrique. Alessandro Costacurta cortou e a bola voltou para Sergi. O lateral cruzou da esquerda, a bola passou por Otero e sobrou para José Luis Caminero. Da entrada da área, ele bateu de esquerda. A bola desviou em Antonio Benarrivo e tirou Gianluca Pagliuca da jogada. Foi o terceiro gol de Caminero no Mundial. Ele foi o melhor jogador de seu país no torneio.
Luis Enrique cortou da esquerda para o meio, mas chutou para fora. A bola foi rasteira e saiu à direita de Pagliuca.
Goikoetxea bateu escanteio da esquerda e Pagliuca dividiu com Caminero dentro da pequena área, impedindo a virada.
Os espanhóis começaram a acreditar na vitória. A cinco minutos do fim, Fernando Hierro fez um lançamento excepcional do círculo central para Julio Salinas. O atacante estava sozinho dentro da área, mas esperou demais para definir a jogada, se afobou com a saída de Pagliuca e bateu fraco, em cima do goleiro. Um dos gols mais perdidos da Copa. No rebote, Caminero (sempre ele) tentou tirar a marcação de Costacurta, mas foi desarmado.
A Espanha insistiu. Hierrro chutou de longe. A bola tinha o endereço do ângulo, mas Pagliuca voou na bola e espalmou por cima.
O placar se resolveu a dois minutos do apito final. Da esquerda de sua defesa, Benarrivo tocou para Donadoni, que fez um passe vertical para Nicola Berti pelo meio. Ele viu a infiltração de Signori no ponto futuro e fez um passe por elevação. Signori chegou antes da marcação e só teu um toquinho para a direita onde estava Roberto Baggio. O craque recebeu livre, driblou Zubizarreta e, mesmo com pouco ângulo, mandou para o gol. Abelardo ainda tentou dar um carrinho para tirar, mas a bola acabou passando entre as suas pernas. Foi um passe perfeito de Signori e o terceiro gol de Baggio na Copa.
A Squadra Azzurra venceu por 2 x 1. Como é tradicional em sua rica história, mais uma vez os italianos estiveram a um passo da eliminação e novamente sobreviveram.
Sem nenhum parentesco entre si, os “Baggio Boys” – Roberto e Dino – levaram a Itália à mais uma semifinal de Copa do Mundo.
Aos 51′, o árbitro húngaro Sándor Puhl apitou o fim da partida.
(Imagem: Storie di Calcio)
● Na sequência, a Itália venceu a surpreendente Bulgária na semifinal por 2 x 1, com dois gols de Roberto Baggio. Na decisão, a Azzurraempatou sem gols com a Seleção Brasileira no tempo normal e na prorrogação. Na decisão por pênaltis, a Itália perdeu por 3 x 2 e seguia seu drama de perder na decisão por penalidades.
Três pontos sobre… … 28/06/1994 – Rússia 6 x 1 Camarões
(Imagem: FIFA)
● Como já contamos aqui, com a desfragmentação da União Soviética poucos anos antes, muitos jogadores permaneceram representando a Rússia. Mas o clima era tenso e seis dos melhores atletas promoveram um boicote e abandonaram a seleção por divergências com o polêmico treinador Pavel Sadyrin.
Também com muitas brigas internas, a seleção de Camarões não eram nem sombra dos Leões Indomáveis de 1990. Era o mesmo time-base, mas quatro anos mais velhos e cansados. O ataque era forte, mas a defesa não inspirava a mínima confiança.
O técnico francês Henri Michel surpreendeu ao convocar o veteraníssimo Roger Milla para disputar a Copa do Mundo de 1994. O atacante esteve presente no Mundial de 1982, quando Camarões fez sua estreia no torneio e terminou invicto. Em 1990, Milla já tinha 38 anos, mas foi o líder de uma seleção que surpreendeu ao chegar nas quartas de final.
Por sua vez, Camarões empatou com a Suécia por 2 a 2 no primeiro jogo e perdeu para a Seleção Brasileira por 3 a 0 no segundo.
O goleiro titular de Camarões nas duas primeiras partidas foi Joseph-Antoine Bell. A população camaronesa elegeu Bell como o principal responsável pela má campanha de seu país no Mundial e sua casa chegou a ser incendiada durante o torneio.
Para o último jogo, Henri Michel resolveu trocar o goleiro. Bell era veterano, com quase 40 anos. Todos esperavam que jogasse o antigo titular, o também veterano Thomas N’Kono, de 38 anos. Mas quem jogou foi o mais novo dos três, Jacques Songo’o, de “apenas” 30 anos.
Pavel Sadyrin também trocou seu goleiro. Tirou Dmitri Kharine, seu capitão, para colocar Stanislav Cherchesov – o atual técnico da seleção russa.
Enquanto a Rússia estava praticamente eliminada, Camarões ainda tinha chances de se classificar, em caso de vitória nessa última rodada.
A Rússia jogou no 3-5-2, com os alas Tetradze e Tsymbalar bastante adiantados.
Camarões atuou no sistema 4-4-2.
● A enxurrada de gols começou aos 15 minutos. A defesa camaronesa travou o avanço de Omari Tetradze e a bola sobrou para Oleg Salenko bater entre as pernas do goleiro Songo’o. 1 a 0.
Camarões teve chance de empatar. François Omam-Biyik fez jogada individual pela esquerda e chutou no travessão.
Aos 41′, Ilya Tsymbalar recebeu nas costas da marcação – que pedia impedimento – avançou e rolou para o lado. Salenko, sozinho e sem goleiro, tocou para o gol vazio. O goleiro até tentou pular em seus pés, mas não teve chances. 2 a 0.
Um minuto antes do fim da etapa inicial, Victor N’Dip derrubou Tsymbalar dentro da área. Salenko bateu pênalti fraquinho no canto esquerdo, deslocando Songo’o, que pulou para o lado oposto. 3 a 0.
Em 1994, assim como em 1990, Roger Milla entrou no intervalo de todas as partidas dos Leões Indomáveis. Ele tinha acabado de entrar quando recebeu passe de David Embé dentro da área. Milla ganhou de Dmitri Khlestov no corpo e, mesmo caindo, finalizou cruzado, sem chances para o goleiro Cherchesov. 3 a 1.
Aos 27′, Tetradze arrancou pela direita, entrou dentro da área e cruzou rasteiro para trás. Salenko chegou batendo no alto, fazendo seu quarto gol na partida. 4 a 1.
Os africanos se arrastavam em campo. Os russos aproveitaram a incrível facilidade para consagrar o atacante Oleg Salenko.
Aos 30′, Salenko escapou da marcação, recebeu o passe perfeito de Khlestov em profundidade e só teve o trabalho de dar um toque por cima do goleiro. 5 a 1.
O último gol veio sete minutos depois. Vladimir Beschastnykh puxou jogada pela esquerda, desde seu campo e lançou Salenko. De cabeça, ainda na intermediária, ele serviu Dmitri Radchenko, que invadiu a área e bateu entre as pernas do goleiro. 6 a 1.
(Imagem: Lance!)
● Só depois foi descoberto o motivo da apatia dos africanos. Boa parte do elenco havia caído na farra durante a madrugada que antecedeu ao jogo. Eles achavam que não tinham mais chances de classificação.
Com a goleada, a Rússia mantinha viva a expectativa de terminar a fase de grupos como um dos melhores terceiros colocados – o que acabou não acontecendo. No fim, as duas seleções morreram abraçadas e ambas foram eliminadas na primeira fase.
Mesmo com a goleada sofrida, os camaroneses tiveram o que comemorar. Roger Milla estabeleceu dois recordes nessa partida. Ele se tornou o mais velho a marcar um gol em Copas do Mundo, marca que se mantém até os dias atuais. Mais que isso, ele também se tornou o mais velho a disputar uma partida de Copa do Mundo, com 42 anos e 39 dias. Esse recorde permaneceu até 2014, quando o goleiro colombiano Faryd Mondragón o quebrou, com 43 anos e 3 dias. Essa marca seria quebrada no Mundial seguinte, em 2018, quando o goleiro egípcio Essam El-Hadary foi titular e até defendeu pênalti diante da Arábia Saudita.
Também nessa partida, Oleg Salenko se tornou o primeiro jogador da história das Copas a marcar cinco gols em um mesmo jogo de Copa do Mundo. Somando esses cinco gols ao tento que ele havia anotado diante da Suécia, Salenko acabou como um dos artilheiros do Mundial, ao lado do búlgaro Hristo Stoichkov.
Nada mal para um jogador de uma seleção que acabou eliminada na primeira fase. Foi o ápice da carreira do medíocre Salenko, que nunca mais faria sucesso. Esse foi o último jogo dele pela seleção russa. Esses seis gols na Copa de 1994 foram os únicos dele pela seleção, em oito jogos. Ele teve que encerrar a carreira poucos anos depois devido à sequência de sérias lesões. Mas, enquanto jogou, Salenko jamais repetiu o que fez naquele verão americano. Nunca mais fez nem dois gols em uma mesma partida.
Três pontos sobre… … 22/06/1994 – Estados Unidos 2 x 1 Colômbia
(Imagem: Action Images)
● Os Estados Unidos não eram muito chegados ao futebol. O desdém é tamanho que eles o chamam de “soccer”, enquanto o “football” deles é outro esporte jogado predominantemente com as mãos e uma bola oval. E lá o “soccer” é historicamente um esporte de minorias, especialmente latino-americanos, negros ou mulheres. Relegado a segundo plano, o “soccer” é o quinto esporte mais popular no país, atrás do futebol americano, beisebol, basquete e hóquei no gelo.
Em pesquisas nas ruas antes do Mundial, o povo americano em geral não fazia ideia que o país sediaria a Copa do Mundo. Especialistas dizem que o futebol não é popular no país porque os norte-americanos detestam jogos em que os pontos demoram a acontecer e costumam ser poucos ao fim de cada partida (quando eles acontecem). Além disso, eles não entendem o conceito de empate. Para eles, alguém sempre tem que vencer.
Mas se tem uma coisa que os ianques são bons é em sediar e organizar grandes eventos. Além de possuir uma fantástica infraestrutura hoteleira, turística e de transportes, haviam muitos estádios de grande porte que poderiam ser facilmente adaptados para receberem o torneio.
Na época, os ianques não possuíam um campeonato organizado ou uma liga de futebol em seu país. Os jogadores eram praticamente amadores em times mais amadores ainda. A Major League Soccer só começou a ser disputada em 1996.
O Mundial de 1994 era a quarta edição disputada pelos EUA. Eles haviam participado em 1930, 1950 e 1990.
O técnico era o experiente sérvio Bora Milutinović, que havia treinado o México em 1986 e a Costa Rica em 1990. Posteriormente, ele completaria cinco Copas, treinando a Nigéria em 1998 e a China em 2002.
● A Colômbia também tinha pouca tradição em Mundiais. Era apenas a terceira vez que La Tri disputava o torneio (após 1962 e 1990). Apesar disso, os colombianos eram cotados como um dos candidatos ao título – inclusive pelo Rei Pelé.
A seleção era formada pela mais talentosa geração de jogadores já surgida no país e estava mais madura depois da Copa de 1990. Os destaque eram o goleiro Óscar Córdoba, os zagueiros Luis Carlos “Coroncoro” Perea e Andrés “El Caballero” Escobar, os meias Carlos “El Pibe” Valderrama e Freddy Rincón, além dos atacantes Faustino Asprilla (do Parma) e Adolfo “El Tren” Valencia (do Bayern de Munique).
O principal desfalque foi René Higuita, o goleiro espetáculo. Ele ficou preso por sete meses em 1993 acusado de participar de um sequestro. Ele acabaria inocentado, mas acabou ficando fora da Copa de 1994.
O técnico Francisco Maturana era um treinador à frente do seu tempo e trouxe uma disciplina tática que os colombianos não estavam acostumados. Ele havia levado o Atlético Nacional a conquistar a Copa Libertadores da América em 1989 – título inédito para o futebol colombiano. Quatro jogadores daquela equipe eram titulares na Copa de 1994: a dupla de zaga Perea e Escobar, o lateral esquerdo Luis Fernando “Chonta” Herrera e o meia Leonel Álvarez.
Nas eliminatórias, a Colômbia foi líder do Grupo A e terminou invicta, com quatro vitórias e dois empates (os dois contra o Paraguai, 0 x 0 em casa e 1 x 1 fora). Bateu o Peru por 1 x 0 em Lima e por 4 x 0 em Barranquilla. Na mesma cidade, venceu a Argentina por 2 x 1.
Mas a cereja do bolo foi mesmo o confronto direto contra a Argentina. Em pleno Monumental de Núñez, a Colômbia pôs os hermanos na roda e goleou por 5 x 0, fora o baile. Foram dois gols de Rincón, dois de Asprilla e um de Valencia. Esse resultado classificou a Colômbia para a Copa e empurrou os argentinos para a repescagem diante da Austrália.
Ao todo, foram 19 jogos de invencibilidade ao longo do ano de 1993.
Mas com certa soberba e muito salto alto, a realidade foi cruel aos cafeteros. Na primeira partida, a Colômbia não conseguiu suportar a dinâmica da Romênia, regida pelo maestro Gheorghe Hagi, e perdeu por 3 a 1.
E a situação ficou extremamente tensa nos dias que antecederam ao duelo com os Estados Unidos.
(Imagem: Getty Images / Globo Esporte)
● O irmão do defensor “Chonta” Herrera havia sido assassinado num acidente de carro suspeito. O time recebeu ameaças de morte na TV do hotel. Havia pressão externa para a escalação de certos jogadores e também ordens para outros não serem escalados.
O volante Gabriel “Barrabás” Gómez era um dos homens de confiança do técnico Francisco Maturana e titular absoluto do time. Ele era irmão do auxiliar técnico Hernán Darío Gómez. Muitos acreditavam que esse parentesco era a razão para a titularidade de “Barrabás” – até o narcotráfico colombiano. Foi por isso que antes da partida o aparelho de faz do hotel Marriott de Fullerton revelou uma ameaça de morte para o volante caso ele entrasse em campo diante dos Estados Unidos. Inicialmente, “Barrabás” pensou em ignorar o aviso, mas desistiu ao refletir que a ameaça também se estendia à sua família.
“Eu não podia colocar outra vida em perigo. Barrabás era um jogador chave, mas eles me venceram. Nós ligamos para casa, havia tiroteios, um caos completo e foi assim que entramos em campo naquele dia.” ― Francisco Maturana em entrevista ao jornal inglês Telegraph
“Ligaram para o hotel onde estávamos e nos fizeram ameaças de morte! Disseram que se Gabriel Gómez não fosse barrado, tanto ele quanto o ‘Profe’ (Francisco Maturana) seriam mortos. Sendo que Gómez era um dos jogadores fundamentais para nossa seleção. Nunca soubemos de onde vieram estas ameaças, quem fez, mas chegamos sob muita tensão na partida contra os Estados Unidos.” ― Luis Carlos Perea
Logicamente, Maturana preferiu não arriscar e escalou Hernán Gaviria no lugar de “Barrabás” Gómez.
Mas os colombianos entraram abalados em campo.
As duas equipes jogavam no sistema tático 4-4-2.
● Assim, às 16h30 daquele dia 22 de junho, 94 mil pessoas lotaram o estádio Rose Bowl, em Pasadena, Califórnia. Os donos da casa enfrentariam uma das seleções favoritas ao título.
Depois de um empate por 1 x 1 com a Suíça na primeira rodada, os Estados Unidos precisavam vencer para ficar mais próximo da classificação. Nunca um anfitrião havia caído na primeira fase e os ianques não queriam ser os primeiros. Eles corriam esse risco em um grupo muito equilibrado.
Empurrados pela empolgada torcida, os norte-americanos jogaram como nunca e partiram para o ataque dispostos a resolver logo o jogo.
Os colombianos estavam nervosos. Sentiam a pressão de terem que vencer de qualquer maneira.
No começo do jogo, Rincón cruzou da direita, Herrera tocou para o meio da área e Mike Sorber se atrapalha e mandou na própria trave. No rebote, o baixinho Antony de Ávila chutou, mas Marcelo Balboa tirou em cima da linha e Fernando Clavijo tirou de lá.
Os americanos começaram a encaixar contragolpes perigoso e criar mais chances claras de gol. Em uma delas, Balboa cabeceou para fora. Em outra, Eric Wynalda acertou a trave.
Aos 35′, Freddy Rincón perdeu uma bola que chegou até Thomas Dooley. Ele cruzou rasteiro da esquerda, Andrés Escobar tentou cortar de carrinho, mas acabou mandando contra as próprias redes, no contrapé do goleiro Óscar Córdoba, que nada pôde fazer. 1 a 0.
Escobar nunca assistiu a um replay sequer do lance.
“Depois da partida, lembro de ele estar muito triste por este gol contra. Lembro de ele me falar que nunca tinha marcado contra na sua vida, e foi acontecer justo em um Mundial.” ― Santiago Escobar, irmão de Andrés
Sem conseguir reagir, a Colômbia viu os EUA ampliar o marcador aos sete minutos do segundo tempo. Tab Ramos deu um passe por elevação e Earnie Stewart tocou na saída do goleiro. 2 a 0.
O placar poderia ser maior. O zagueiro roqueiro Alexi Lalas teve um gol mal anulado por impedimento e quase fez outro de cabeça, que Córdoba salvou.
No lance mais lindo da tarde, Tab Ramos cobrou escanteio da direita e o zagueiro Marcelo Balboa emendou uma bicicleta perfeita. A bola passou a poucos centímetros da trave direita do goleiro. Seria um golaço histórico.
Os cafeteros pareciam sentir o golpe. O time estava muito lento e oferecia pouco perigo. Só conseguiu marcar seu gol no minuto final, mas já era tarde demais. Rincón fez a jogada na área e chutou forte. Meola defendeu no susto, mas deu rebote. Valencia pegou a sobra e finalizou para o gol. 2 a 1.
(Imagem: Romeo Gacad / AFP / Getty Images)
● Pela primeira vez essa geração viu uma vitória dos norte-americanos em um jogo de Copa do Mundo. A última havia sido a “zebra” diante da Inglaterra em 1950.
Com a vitória por 2 x 1, os Estados Unidos festejaram a classificação para a segunda fase pela segunda vez em sua história – a primeira desde 1930.
Na última rodada, os colombianos mantinham uma remota chance de classificação. Para isso, precisaria vencer a Suíça e torcer para que os EUA vencessem a Romênia. Além disso, ainda dependiam dos resultados de outros grupos, na tentativa de ficar entre os quatro melhores terceiros colocados da fase de grupos. Apesar da ínfima possibilidade, Maturana chegou a pedir demissão, mas foi convencido a permanecer no cargo para a última rodada. Sem tanta pressão, a Colômbia venceu por 2 x 0, com gols de Hernán Gaviria (aos 44′) e John Harold Lozano (aos 90′). Mas a vitória foi insuficiente, já que a Romênia acabou vencendo os EUA por 1 x 0. Contrariando todas as previsões otimistas, a Colômbia foi eliminada na primeira fase.
Um dos maiores nomes daquela seleção era Freddy Rincón, que na época jogava no Palmeiras. Na volta a seu país, ele foi questionado pela sua esposa, Adriana, sobre o mau futebol da seleção na Copa. Freddy a agrediu com um chute na perna, o que ocasionou uma fratura na tíbia. Mas, para evitar escândalos, a mulher não levou o caso adiante e perdoou o jogador.
Nas oitavas de final, os EUA enfrentaram de igual para igual a Seleção Brasileira, mas Bebeto aproveitou ótima jogada de Romário e fez o único gol do jogo, eliminando os donos da casa.
Antes disso, em 2010, foi lançado o longa-metragem “The Two Escobars”, um documentário que mostra a relação estreita do narcotráfico (comandado pelo traficante Pablo Escobar) e o futebol (representado pelo jogador Andrés Escobar). Sem nenhum parentesco, apesar de terem o mesmo sobrenome, os dois foram assassinados com sete meses de diferença – Pablo no dia 02/12/1993 e Andrés em 02/07/1994.
(Imagem: AFP)
● A morte de Andrés Escobar, “El Caballero”
O narcotráfico sempre manteve forte relação com o futebol, principalmente nas cidades de Medellín e Cali. O traficante Pablo Escobar era o principal responsável direto pelos bons resultados do esporte no país entre o meio dos anos 1980 e início dos anos 1990, ao financiar a contratação de estrelas com o dinheiro do crime. Andrés Escobar jogava em um dos clubes beneficiados pelo cartel, o Atlético Nacional.
O zagueiro Andrés Escobar vivia o auge de sua carreira. Havia conquistado a Copa Libertadores da América em 1989 e disputava sua segunda Copa do Mundo como titular, aos 27 anos. Segundo algumas fontes, ele estava negociando sua transferência com o Milan para depois do Mundial. Ele seria uma opção a Franco Baresi, que não demoraria a se aposentar.
Pelo seu estilo de jogo, era chamado de “El Caballero”.
“Era um extraordinário defensor que atuava pela esquerda. Muito técnico, tinha bom controle, passes curtos, sabendo jogar para seus laterais com tranquilidade. Sempre foi muito elegante para jogar. Quando davam liberdade, inclusive, ia para a área rival. Marcou 21 gols em sua carreira.” ― Santiago Escobar, irmão de Andrés
Mas o zagueiro foi apontado como um dos principais culpados pela queda prematura da seleção colombiana, principalmente por causa do gol contra diante dos EUA.
Depois da Copa, Andrés Escobar tinha planos de tirar umas férias com sua família na costa dos Estados Unidos. Mas ele preferiu voltar ao seu país, sair de casa e “mostrar a cara para o seu povo”, como ele disse a Maturana.
Na madrugada do dia 02 de julho, o zagueiro estava na saída do estacionamento da discoteca El Indio Bar, em Medellín, quando foi agredido verbalmente por três homens e uma mulher que protestavam por seu gol contra.
Escobar reagiu com um pedido de respeito, mas foi brutalmente assassinado com doze tiros à queima-roupa. O zagueiro morreu 45 minutos depois.
Humberto Muñoz Castro, que assumiu a autoria do crime, era guarda-costas e motorista dos irmãos Pedro e Juan Santiago Gallón Henao. Os dois, que eram traficantes de drogas, também foram suspeitos de estar no local da morte de Andrés Escobar.
Uma das versões da acusação aponta que os Gallón Henao teriam encomendado a morte de Escobar por terem perdido muito dinheiro em apostas no título da Colômbia. Já outra versão, menos romântica, diz que foi apenas uma discussão ocorrida na discoteca.
Muñoz Castro foi condenado a 43 anos de prisão, mas ganhou sua liberdade depois de 11 anos por bom comportamento.
Mas a impunidade dos irmãos Gallón Henao causou mais indignação. Os dois foram condenados inicialmente a 15 anos de prisão por acobertarem o crime, mas foram soltos de imediato mediante pagamento de fiança.
Depois da morte de Escobar, seus companheiros de seleção passaram a andar escoltados por segurança.
“Andrés estava em um lugar errado e na hora errada. Além disto, era um momento perigoso para qualquer jogador da Colômbia naquele momento estar na rua.” ― Luis Carlos Perea
“Tenho as melhores lembranças possíveis dele. Andrés foi um grande jogador e uma excelente pessoa. Nos mantínhamos na concentração, jogando cartas, e era muito divertido. Sempre gostava muito de conversar. Além disto, foi o melhor zagueiro com quem joguei. Para mim foi muito dura a morte dele. Cheguei a pensar até em me aposentar na época. Até hoje, sinto muito a falta dele.” ― Luis Fernando Herrera
“Um momento muito duro. Além da eliminação no Mundial, veio este marco, e justo com um bom amigo como o Escobar.” ― Faustino Asprilla
“Era um companheiro no qual tínhamos muita confiança. Era um cara muito legal, bastante divertido, sem contar tudo o que representava para nós na Colômbia, o “senhor” jogador que era. Um tipo de pessoa que está em extinção.” ― Freddy Rincón
“Se soubéssemos que o gol contra provocaria isso, preferiríamos ter perdido aquele jogo.” ― Thomas Dooley, volante norte-americano
Certamente essa foi uma das mais dolorosas páginas da história das Copas.
Três pontos sobre… … Lothar Matthäus, o “Mr. Copa”
(Imagem: DFB)
Mesmo tendo pendurado as chuteiras há mais de vinte anos, ele ainda detém alguns dos recordes no futebol.
É o jogador que disputou mais partidas em Copas do Mundo (25).
É um dos poucos a disputarem cinco edições do Mundial (juntamente com os mexicanos Antonio Carbajal e Rafa Márquez e o italiano Gianluigi Buffon).
É o alemão que mais disputou partidas pela sua seleção (150 partidas, entre 1980 e 2000).
Foi eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA na primeira edição do prêmio, em 1991.
Também eleito Bola de Ouro pela revista France Football em 1990.
Eleito em 2020 para o Dream Team da Bola de Ouro como um dos melhores meio-campistas defensivo da história.
Foi o capitão e líder da seleção alemã que levantou a taça da Copa de 1990.
Venceu quase todos os títulos possíveis. Só a UEFA Champions League lhe escapou (já nos acréscimos, em 1998/99).
Às vezes ele é subvalorizado pela mídia e pelos torcedores atuais, que pouco o viram jogar. Mas Matthäus era o jogador completo, vanguardeiro, um dos primeiros “box to box”, que liderava a marcação e o sistema defensivo, mas também aparecia no ataque para fazer seus vários gols – especialmente em chutes potentes e certeiros de fora da área.
Era um dos nomes mais impactantes de sua época. Tanto que é notável a quantidade exponencial de “Matheus” com menos de 35 anos. Homenagem mais do que justa.
Hoje esse craque completa 60 anos. Parabéns, capitão.
Mas se na Copa de 1990 eu era muito pequeno e me recordo vagamente dos nomes de Maradona e Matthäus, em 1994 eu já tinha oito anos e começava a entender alguma coisa sobre futebol. Começava a brincar de bola na escola e, pra apaixonar de vez mesmo, tinha uma Copa do Mundo para assistir.
Hoje muitos criticam o nível do futebol apresentado, especificamente da Seleção Brasileira, o que é uma injustiça tremenda.
● Vamos lembrar de algumas seleções marcantes daquela edição do Mundial.
Uma das favoritas era a então campeã Alemanha, na primeira Copa depois da reunificação. Contava com grandes jogadores como os experientes Bodo Illgner, Andreas Brehme, Matthias Sammer, Guido Buchwald, Andreas Möller, o baixinho Thomas Häßler, Rudi Völler, Jürgen Klinsmann e, claro, Lothar Matthäus.
Mas no mesmo grupo da Alemanha, ainda tinha a Espanha, do goleiro Andoni Zubizarreta, Fernando Hierro, Pep Guardiola e Luis Enrique.
Até a fraca Bolívia tinha Julio César Baldivieso, Erwin “Platini” Sánchez e Marco “El Diablo” Etcheverry.
A Colômbia era a favorita para Pelé. Depois de enfiar 5 a 0 na Argentina em pleno Monumental de Núñez nas eliminatórias, o mundo inteiro ficou esperando mais de jogadores como Carlos “El Pibe” Valderrama, Freddy Rincón, Faustino Asprilla, Adolfo Valencia, Iván Valenciano, Antony de Ávila, Víctor Aristizábal. Mas o que vimos foi Andrés Escobar fazer um gol contra e ser tristemente assassinado. Cabe ressaltar que René Higuita – o goleiro espetáculo, desfalcou sua seleção por ter sido acusado de ter participado de um sequestro e acabou ficando preso por seis meses, em 1993. Depois ele seria inocentado pela justiça, mas ficou fora da Copa.
A Rússia veio toda remendada, com um amontoado de jogadores nascidos em outros países da União Soviética. Mas seis de seus melhores atletas não gostavam dos métodos do técnico Pavel Sadyrin e fizeram boicote, ficando fora do Mundial.
A surpresa africana ficou por conta da Nigéria, que disputava sua primeira Copa. Foi lá que ouvimos pela primeira vez os nomes de Rashid Yekini, Sunday Oliseh, Finidi George, Augustine “Jay-Jay” Okocha, Victor Ikpeba, Emmanuel Amunike e Daniel Amokachi. Ficou em primeiro lugar do Grupo D, que tinha a poderosa Argentina.
A Argentina é um capítulo a parte. Se a ridícula seleção de 1990 chegou na final, imagina o que poderiam fazer em 1994?! Diego Maradona continuava tendo a companhia de Sergio Goycochea, Claudio “El Pájaro” Caniggia, José Basualdo, mas agora tinha também Gabriel Batistuta – o “Batigol”, Fernando Redondo – genial, Diego Simeone – que jogava demais, além do jovem Ariel Ortega. Mas tudo ruiu com o doping de Maradona. Sem ele, caiu nas oitavas de final em um jogaço diante da Romênia, do maestro Gheorghe Hagi, Ilie Dumitrescu, Gheorghe Popescu e do goleiro Florin Prunea.
(Imagem: Pinterest)
A Irlanda tinha um time limitado, mas chegou a vencer a Itália na estreia. No mesmo grupo tinha a Noruega e o México, do goleiro baixinho e espalhafatoso Jorge Campos e do veterano Hugo Sánchez.
No Grupo F, Arábia Saudita contou com um golaço de Saeed Al-Owairan para vencer a Bélgica por 1 x 0. Bélgica que tinha o fantástico goleiro Michel Preud’homme – o melhor da Copa, além de Marc Wilmots, Enzo Scifo e Luc Nilis, que seria parceiro de Ronaldo no PSV.
A líder desse grupo foi a Holanda, que já não contava com Ruud Gullit e Marco Van Basten, mas ainda tinha Frank Rijkaard e Ronald Koeman (novo técnico do Barcelona), além de talentos como os irmãos Frank e Ronald de Boer, o arisco ponta Marc Overmars e o genial Dennis Bergkamp.
● A Seleção Brasileira sempre foi cobrada para jogar bonito e criticada quando isso não acontecia. E em 1994, muitos dizem que era um futebol burocrático, que dava sono. Mas devemos confessar que sentimos muita saudade daquele nosso futebol.
Taffarel era criticado, chamado de frangueiro, mas na “hora H” foi fundamental e um dos esteios do time.
Os cruzamentos de Jorginho eram certeiros, assim como as “bombas santas” de Branco.
Aldair e Márcio Santos a dupla de zaga reserva, que o destino fez se tornar titular e incontestável durante o torneio.
Muitos criticam Dunga, mas o capitão marcava bem e era muito bom na saída de bola e nos passes em profundidade, com uma excelente visão de jogo. Basta ver um jogo completo de Dunga na Copa de 1994 para parar de criticar.
(Imagem: Pinterest)
Zinho era o mais criticado. Enceradeira, jogador de passes laterais… mas fundamental para que a seleção não rifasse a bola. Era ele o responsável pelo equilíbrio do time. Só depois, ao vê-lo jogar no Palmeiras, eu fui entender isso. Ele era bom. Sacrificou seu talento para fazer o que o time precisava.
Raí não estava em boa fase e perdeu o lugar no time. Com a visão e conhecimento de futebol que eu tenho hoje, eu teria colocado Paulo Sérgio ou até Müller em seu lugar. Mas o pragmático Parreira colocou Mazinho, que deu conta do recado e foi muito bem.
Título que só veio com a genialidade de Romário. Nem preciso citar a última partida das Eliminatórias. Quem viu o “Baixinho” jogar apenas no fim da carreira, viu um centroavante de área, que ficava parado esperando a bola para tocar para o gol. Mas, no auge de seus 28 anos, Romário era o melhor jogador do mundo. E tratou se mostrar isso naquela Copa. Tinha velocidade, habilidade, faro de gol e não era fominha. Sem ele, muito provavelmente o Brasil não teria conquistado o título.
(Imagem: Globo)
● Era lindo ver a Seleção Brasileira entrando de mãos dadas.
Depois, 3 x 0 sobre Camarões. Gols de Romário, Márcio Santos e Bebeto.
Na terceira partida, com a Seleção já classificada, empate em 1 x 1 contra a ótima Suécia, do goleiro Thomas Ravelli, Patrik Andersson, do cabeludo Larsson, de Dahlin, Ingesson, Thomas Brolin e Kennet Andersson. E foi justamente ele, o gigante Kennet Andersson, quem usou sua habilidade para abrir o placar encobrindo Taffarel. E eu, um menino de oito anos, que nunca tinha visto o Brasil sair atrás do placar em uma Copa, caí no choro. Mas Romário, tratou de empatar a partida e devolver meu sorriso.
Nas oitavas de final, o Brasil enfrentou os Estados Unidos no território americano e em pleno Dia da Independência, 04 de julho. A torcida, que sempre era verde e amarela, mudou de lado e os gritos de “USA” chegaram a me assustar. Leonardo tratou de piorar as coisas ao ser expulso por dar uma cotovelada estúpida em Tab Ramos. Mas Romário, sempre ele, tratou de fazer uma jogada genial e serviu para Bebeto fazer o único gol do jogo, a menos de 20 minutos do fim. Caía os donos da casa e suas figuras folclóricas, como o goleiro Tony Meola e os zagueiros Marcelo Balboa e Alexi Lalas.
Nas quartas de final, 3 x 2 sobre a Holanda. Romário abriu o placar em um sem-pulo e Bebeto ampliou após driblar o goleiro, tocar para a rede e comemorar no ritmo de “embala Mattheus”, junto com Romário e Mazinho. Aron Winter e Dennis Bergkamp empataram em dois raros vacilos defensivos do Brasil. E o gol da vitória veio de um personagem emblemático. Branco teve sua convocação criticada, foi mantido pela equipe médica mesmo estando lesionado e foi fundamental naquela partida. Além de parar Marc Overmars, ele cavou a falta no fim do jogo e bateu com perfeição. Era o gol “cala a boca” para mostrar aos críticos que ainda podia ser importante em sua terceira Copa.
Na semifinal, o Brasil perdeu várias chances de matar o jogo e sofreu para vencer a Suécia por 1 a 0. Cruzamento perfeito de Jorginho e gol de… adivinha de quem? Romário. O “Baixinho” apareceu entre os gigantes suecos e fez o gol da vitória.
(Imagem: FIFA)
● Na final, a Itália de Paolo Maldini, Franco Baresi, Dino Baggio e dele… Roberto Baggio… um dos melhores jogadores que já vi. O craque perfeito, responsável por cinco dos seis gols italianos na fase de mata-mata. Um gênio.
Quem nunca viu essa partida na íntegra, aconselho a ver. Foi um baita jogo, com chances dos dois lados. Duas grandes seleções. Mas que não saíram do zero. Pela primeira vez não houve gol em uma final de Copa. Pela primeira vez, o campeão foi decidido nos pênaltis.
No começo do jogo eu cantei a pedra: o jogo vai pros pênaltis. Eu tinha ficado tão encantado com os pênaltis entre Suécia e Romênia, que eu queria mais. E foi atendido pelos deuses do futebol.
Baresi, que voltava de uma artroscopia feita durante a Copa e marcou Romário por 120 minutos de forma limpa e perfeita, começou chutando para o alto.
Márcio Santos, melhor cobrador brasileiro nos treinos, bateu mal e Pagliuca pegou.
Demetrio Albertini mandou a primeira bola na rede.
Romário, que até então não gostava de bater pênalti, converteu.
Nocaute Jack dava cambalhota, o menino Ronaldo se abraçava aos demais, Zagallo era campeão de novo, os atletas com a faixa homenageando Ayrton Senna, Dunga levantando a taça e xingando meio mundo e Galvão Bueno se abraçando a Pelé e gritando “É Tetra! É Tetra!”
Foi nessa época, nessa Copa, que o vírus do futebol me pegou definitivamente. O resto é história.
(Imagem: IFDB)
*¹Hoje completamos quatro anos do blog. Agradecemos demais a sua companhia nesse tempo e que venham vários anos.
Três pontos sobre… … 10/07/1994 – Bulgária 2 x 1 Alemanha
(Imagem: Getty Images)
● Recém unificada, a Alemanha vinha de três finais de Copa do Mundo consecutivas (1982, 1986 e 1990) e chegou ao Mundial de 1994 com um time ainda melhor do que o campeão quatro anos antes. O técnico era Berti Vogts, que havia sido auxiliar de Franz Beckenbauer entre 1986 e 1990. O time base era praticamente o mesmo, reforçado com atletas que vinham da antiga Alemanha Oriental, como o meio campo Matthias Sammer e o centroavante Ulf Kirsten. Com isso, os alemães eram os maiores favoritos à conquista da Copa, ao lado de Brasil e Argentina.
O bom goleiro Bodo Illgner era garantia de segurança na meta. A defesa tinha Jürgen Kohler, com o craque Lothar Matthäus jogando como líbero. Thomas Helmer e Guido Buchwald se revezavam nas posições de zagueiro e volante. O interminável Thomas Berthold jogava pela direita e Martin Wagner era o ala pela esquerda. O rápido e criativo Thomas Häßler era o armador pela direita e o habilidoso Andreas Möller era o meia pela esquerda – diante dos búlgaros, eles inverteram a posição. O ataque era o mesmo de 1990: o oportunista Jürgen Klinsmann e o matador Rudi Völler. No banco, destaques para o jovem goleiro Oliver Kahn, veterano Andreas Brehme e o artilheiro Karl-Heinz Riedle.
Na estreia, uma frustrante vitória por um magro 1 x 0 sobre a frágil Bolívia começou a levantar suspeitas sobre a capacidade dos alemães. E tudo ficou ainda pior depois do empate em 1 x 1 com a mediana seleção da Espanha. Na terceira partida, a Mannschaft estava vencendo a Coreia do Sul por 3 x 0 e deixou os asiáticos diminuírem para 3 x 2. Nesse jogo, os germânicos suaram frio para manter a vitória, apesar dos 46º C – a maior temperatura já registrada em um jogo de Copa. Aos 30′ do segundo tempo dessa partida, o meia Stefan Effenberg foi substituído e mostrou o “dedo médio” para os torcedores que o cobriam de vaias. No dia seguinte, Vogts expulsou o meia da delegação. Nas oitavas de final, venceu a Bélgica por 3 x 2, com a dupla de ataque sendo decisiva, com dois gols de Völler e um de Klinsmann. O favoritismo era enorme diante dos búlgaros.
(Imagem: Getty Images)
● Na época, a Bulgária ocupava a obscura 31º colocação no ranking da FIFA. Se qualificou em segundo lugar no grupo 6 das eliminatórias europeias, um ponto atrás da Suécia. A classificação veio em uma vitória de virada sobre a França em pleno estádio Parc des Princes. Eric Cantona abriu o placar, mas Emil Kostadinov marcou dois gols, sendo o segundo no último lance da partida. O milagre búlgaro começava em Paris.
Os Demônios da Europa (apelido da seleção búlgara) viajaram aos Estados Unidos com o melhor elenco de sua história. O goleiro era o experiente capitão Borislav Mikhailov. No miolo de zaga, Petar Hubchev era o escudeiro do lendário Trifon Ivanov, o “Lobo Búlgaro”. Na lateral direita, Iliyan Kiryakov ganhou a vaga do ex-titular Emil Kremenliev. Tsanko Tsvetanov era o lateral esquerdo. Zlatko Yankov era o único volante do time. A criatividade ficava por conta dos meias Yordan Letchkov e Krasimir Balakov. O ataque tinha Nasko Sirakov pelo centro, sempre se movimentando para abrir espaços para Emil Kostadinov pela direita e para o genial Hristo Stoichkov pela esquerda. No banco, destaque para os meias Daniel Borimirov e Ivaylo Yordanov. A ausência sentida era do atacante Lyuboslav Penev, que havia marcado três gols nas eliminatórias, mas precisou se afastar do futebol no início de 1994 após descobrir um câncer no testículo (ele retomaria a carreira com sucesso meses depois).
Mesmo com uma boa equipe, os búlgaros chegavam ao Mundial com um retrospecto desolador. Em cinco participações anteriores e 16 partidas disputadas, a Bulgária nunca tinha vencido um único jogo em Copas do Mundo (10 derrotas e 6 empates). Nada dizia que seria diferente em 1994, ao ser goleada logo na estreia pela Nigéria por 3 a 0. Mas a partir do segundo jogo, tudo mudou. Vitórias sobre a Grécia por 4 x 0 e Argentina (já sem Maradona) por 2 x 0 garantiram os balcânicos na segunda colocação do Grupo D. Nas oitavas de final, empatou com o México no tempo normal por 1 x 1 e venceu por 3 x 1 na decisão por pênaltis, quando o goleiro Mikhailov defendeu duas cobranças para dar a vaga nas quartas de final ao seu país, onde enfrentaria a favoritíssima Alemanha.
(Imagem: Twitter @FIFAWorldCup)
● Mas, pelo que ambos vinham jogando, uma vitória búlgara não seria a maior zebra do mundo. A seleção treinada pelo ex-zagueiro Dimitar Penev estava em evolução. E o favoritismo dos alemães era apenas pelo histórico, pelos jogadores mais renomados e pela “Mentalität” – a mentalidade vencedora natural e própria dos alemães, um conceito da pseudociência protonazista da superioridade do estado mental alemão, que foi amplamente utilizado pelos técnicos do futebol do país para conseguirem fazer seu time se sobressair nas maiores vitórias de sua história, especialmente por Sepp Herberger diante da Hungria em 1954 e por Helmut Schön diante da Holanda em 1974.
Mas a Alemanha chegava cheia de problemas para a partida, principalmente no meio de campo. Effenberg já não estava mais no elenco. Mário Basler havia pedido dispensa para cuidar da esposa que vivia complicações na gravidez. Matthias Sammer estava sofrendo com lesões (como quase sempre). Assim, Berti Vogts precisou apostar na recuperação física de Lothar Matthäus e pelo fim do imbróglio contratual de Thomas Häßler com a Roma.
Pelo lado búlgaro, o elenco comemorava uma vitória fora do campo. Depois de uma longa queda de braço, os dirigentes da federação do país aceitaram pagar um prêmio de US$ 15 mil a cada jogador em caso de vitória sobre a Alemanha. “O assunto está resolvido. Domingo, vamos vencer”, assegurava o otimista Hristo Stoichkov.
A Bulgária jogava em um misto de 4-4-2 (quando se defendia) e 4-3-3 (quando atacava).
A Alemanha jogava em seu tradicional 3-5-2, com Matthäus como líbero.
● A partida ocorreu no Giants Stadium, em East Rutherford, mesmo palco em que a Bulgária havia eliminado o México cinco dias antes.
A Bulgária começou a partida de forma mais cautelosa, na defesa. E a Alemanha não conseguiu criar nenhuma chance clara nos primeiros minutos. Era um duelo equilibrado. Mas aos poucos os dois times foram se soltando.
O primeiro lance de perigo foi quando Stoichkov invadiu a área pela direita e rolou para trás, mas Balakov acertou o pé da trave.
Mas os alemães responderam à altura com ataques verticais. Häßler bateu de longe e Mikhailov segurou com tranquilidade.
Häßler jogou muita bola naquele dia. Ele cruzou da direita e Klinsmann finalizou com um peixinho à queima-roupa que Mikhailov defendeu em cima da linha.
Klinsmann ganhou uma dividida e tocou para Völler, que deixou Ivanov sentado após um drible e chutou fraco para fora.
Illgner saiu jogando com Möller, que tocou para Buchwald, que deixou com Matthäus. Da linha central, o camisa 10 fez um lançamento preciso para a grande área. Klinsmann virou batendo bonito, mas a bola foi por cima do gol.
Nos primeiros 45 minutos, os alemães tiveram uma ligeira superioridade, mas o placar se mantinha zerado. Mas tudo mudou na volta do intervalo.
Logo no primeiro lance do segundo tempo, Wagner fez o lançamento de sua intermediária, Buchwald ganhou de cabeça de Ivanov e Klinsmann dominou dentro da área. Esperto, ele esperou o contato de Letchkov e se jogou. O árbitro colombiano José Torres Cadena marcou a penalidade. Lothar Matthäus bateu com categoria. Ele esperou Mikhailov pular para o lado direito e bateu firme à meia altura no canto esquerdo. Alemanha, 1 a 0.
Mas, apenas seis minutos depois, o ala esquerdo Martin Wagner sofreu um choque de cabeça, ficou desacordado e teve que sair para a entrada de Thomas Strunz. Wagner estava muito bem na partida e sua saída desestruturou a defesa alemã e deixou o meio campo mais lento.
Com isso, liderada por Balakov, a Bulgária passou a coordenar as ações no meio e a jogar no campo de ataque.
Mesmo com a pressão búlgara, a Alemanha teve chances de matar a partida antes da metade do segundo tempo.
Häßler deu um belo chute de fora da área e Mikhailov salvou com a ponta dos dedos.
Aos 28′, Thomas Häßler – sempre ele – dominou pela ponta esquerda, cortou para o meio e tocou para Möller. Da entrada da área, o camisa 7 chutou na trave. Na sobra, Völler dominou e bateu para o gol vazio, mas a arbitragem já havia sinalizado o impedimento do centroavante alemão.
(Imagem: Rick Stewart / All Sport)
Assim como nas partidas anteriores, os alemães sofreram muito com o calor do meio-dia e pregaram no segundo tempo. E, como diz aquele velho ditado: “Quem não faz…”
Yankov abriu na direita com Kiryakov, que cruzou. A bola desviou em Thomas Strunz e foi pela linha de fundo. Balakov bateu o córner e Buchwald escorou de cabeça para fora da área. Stoichkov dominou de costas e cavou a falta, após receber o contato de Möller. A bola estava posicionada um pouco à direita da meia lua, em lugar perfeito para a canhota calibrada do camisa 8. Hristo Stoichkov bateu com perfeição e a bola encobriu a barreira. Bodo Illgner nem se mexeu. Era o merecido empate, a quinze minutos do fim.
“Na hora em que ajeitei a bola para bater a falta, me lembrei que era o dia do aniversário da minha filha, Michaela. Ela está fazendo seis anos e, em questão de segundos, pensei que um gol seria uma grande lembrança para ela ter em sua vida. Aí me concentrei e chutei. Não houve nada de especial. A bola simplesmente foi direto para o gol.” ― Hristo Stoichkov
A mãe do astro do Barcelona teve um princípio de infarto ao assistir pela TV o golaço do filho.
A Bulgária se empolgou com o empate e continuou no ataque. E a virada veio três minutos depois.
Möller errou o passe no campo de ataque. Sirakov interceptou e abriu na ponta direita para Kostadinov, mas Matthäus estava na marcação e mandou pela linha de fundo. Balakov novamente bateu o escanteio e Matthäus escorou para a linha lateral. Kiryakov cobrou rápido para Kostadinov, que devolveu. Kiryakov viu a aproximação de Yankov e deixou com o volante, que cortou a marcação de Berthold e cruzou para a área. Yordan Letchkov apareceu como um raio, ganhou no alto do baixinho Häßler e meteu a careca na bola, que encobriu o goleiro Illgner. Lechkov jogava no Hamburgo, da Alemanha, e recebeu ameaças de morte após voltar ao país.
Berti Vogts ainda tentou apelar para a estrela do veterano Andreas Brehme, mas não teve sucesso.
Dimitar Penev foi suicida e tirou seus dois atacantes Stoichkov e Kostadinov para a entrada de Yordanov (meia) e Boncho Genchev (zagueiro). O treinador búlgaro apostou em fechar os espaços, mas estaria sem poder de fogo em uma eventual prorrogação – que não ocorreu.
A Alemanha ainda pressionou, mas a Bulgária resistiu firme e garantiu a inédita classificação para as semifinais.
Nos últimos instantes do jogo, Brehme cruzou da esquerda e Rudi Völler tentou imitar Maradona fazendo um gol de mão, mas não foi tão discreto e acabou recebendo um cartão amarelo muito bem aplicado.
(Imagem: Pinterest)
● A Alemanha estava fora da Copa. O futebol búlgaro já não era mais zebra e tinha que ser respeitado.
A festa na capital Sófia foi enorme, com milhares de pessoas nas ruas para comemorar a maior vitória da história do país no futebol.
“Há um Cristo no céu e um Hristo na terra.” ― Hristo Stoichkov
“É justo a equipe jogar em torno de mim. Sou o melhor do time.” ― Hristo Stoichkov
“No início do jogo contra a Alemanha, o time estava psicologicamente bem, muito calmo e com a mente aberta, porque não tínhamos nada a perder, só a ganhar. E, no final, ganhamos.” ― Krasimir Balakov
Nessa partida, Lothar Matthäus completou 21 partidas em Copas do Mundo, se igualando ao polonês Władysław Żmuda e ao argentino Diego Armando Maradona. Na Copa de 1998, Matthäus chegaria a 25 jogos e é o recordista até hoje. O alemão Miroslav Klose tem 24 partidas e o italiano Paolo Maldini tem 23, logo na sequência.
O goleiro e capitão búlgaro Borislav Mikhailov era conhecido por utilizar uma peruca durante os jogos. Ele havia prometido que se a Bulgária passasse pela Itália na semifinal, jogaria sua peruca para a torcida na comemoração. Mas o sonho búlgaro ruiu diante de um iluminado Roberto Baggio e a Itália venceu por 2 x 1. Na decisão do 3º lugar, a desmotivada Bulgária perdeu para a Suécia por 4 x 0. Mas já tinha superado as expectativas até dos mais otimistas e entrado para a história como uma das seleções mais adoradas dos últimos tempos pelos amantes do futebol.
Três pontos sobre… … 20/06/1994 – Brasil 2 x 0 Rússia
(Imagem: Pinterest)
● Nas três primeiras conquistas do Brasil em Copas do Mundo (1958, 1962 e 1970), o futebol arte se tornou sinônimo da camisa amarelinha. Por isso, poucos botavam fé no futebol pragmático apresentado pelo time do técnico Carlos Alberto Parreira. Mas depois de 24 anos sem o título, o treinador preferiu abdicar de jogar bonito para entrar na história como campeão.
Havia um temor para a Copa de 1994: que o Brasil passasse a mesma vergonha de quatro anos antes. A Seleção teve dificuldades e perdeu uma partida pela primeira vez na história das eliminatórias sul-americanas, para a Bolívia na altitude, por 2 a 0. Os brasileiros acabaram sofrendo mais que o normal e só garantiram a vaga na última rodada, ao vencerem o Uruguai por 2 x 0. Com a lesão de Müller, Parreira teve que engolir o orgulho e convocar de última hora o seu desafeto Romário, que acabou por marcar os dois gols que deram a vaga ao Brasil para o Mundial.
Antes disso, para mostrar a união do grupo, Ricardo Rocha propôs que o time entrasse de mãos dadas em campo a partir do jogo de volta contra a Bolívia, em Recife (vitória por 6 x 0). Esse gesto se tornaria uma das imagens mais marcantes da equipe em todos os jogos do Mundial.
(Imagem: Veja)
● A espinha dorsal ainda era a mesma da Copa anterior. Dez dos convocados para 1994 estiveram presentes em 1990: Taffarel, Jorginho, Ricardo Rocha, Aldair, Branco, Dunga, Mazinho, Müller, Bebeto e Romário. Como novidade, surgia o menino Ronaldo, do Cruzeiro, de apenas 17 anos.
Parreira perdeu um de seus líderes uma semana antes da estreia, no amistoso contra El Salvador: o zagueiro Ricardo Gomes – capitão em 1990 e candidato a ser também em 1994 – sofreu um estiramento na coxa e foi desligado da delegação. Para seu lugar, foi convocado o zagueiro Ronaldão. Antes, no início da preparação, já havia perdido o também zagueiro Mozer, com problemas no fígado.
Durante a semana da estreia, Romário sentiu dores na virilha e não treinou – mas estaria pronto para o jogo. Branco ainda estava se recuperando de dor na lombar e dava lugar a Leonardo na lateral esquerda. Roberto Carlos, do Palmeiras, estava em grande fase e a presença de Branco foi uma das mais contestadas, mas Parreira bancou a presença do experiente jogador do Fluminense.
Sem Ricardo Gomes, Raí foi o capitão no início do Mundial. Ele chegava à competição bastante contestado, mas estava recuperando a confiança aos poucos. Em carta aberta à torcida publicada na véspera da partida, disse que já podia imaginar as jogadas que faria e que tinha certeza que marcaria um gol, talvez de cabeça.
(Imagem: O Curioso do Futebol)
● Havia uma grande expectativa sobre a primeira participação da Rússia em Copas do Mundo após a dissolução da União Soviética. E como essa separação tinha ocorrido recentemente, alguns jogadores remanescentes da URSS escolheram defender a Rússia em 1994. Entre os 22 convocados Yuriy Nikiforov, Vladislav Ternavsky, Viktor Onopko, Ilya Tsymbalar e Sergei Yuran eram nascidos na região pertencente à Ucrânia; Andrey Pyatnitsky era do Uzbequistão; Omari Tetradze era da Geórgia; e Valeri Karpin (tecnicamente o melhor do elenco) era da Estônia.
Liderados por Andriy Kančelskis, seis bons jogadores promoveram um boicote e abandonaram a seleção por divergências com o polêmico treinador Pavel Sadyrin: Ihor Dobrovols’kyi, Igor Shalimov, Igor Kolyvanov, Sergei Kiriakov e Vasiliy Kulkov. Karpin estava entre os dissidentes, mas voltou atrás e permaneceu no grupo.
Para o jogo contra o Brasil, a Rússia não pôde contar com o bom líbero Viktor Onopko, melhor jogador do último Campeonato Russo, que estava suspenso.
O Brasil atuava no 4-4-2, com dois volantes e dois meias. O sistema do técnico Parreira consistia em manter a maior posse de bola possível e dar o bote no momento certo. A figura símbolo desse estilo de jogo era o meia Zinho, apelidado de “enceradeira” por girar com a bola de um lado para outro, sem agressividade.
A Rússia jogou no 3-5-2, com os alas Gorlukovich e Tsymbalar bastante adiantados.
● Mais de 81 mil pessoas encheram o Stanford Stadium, em Palo Alto, em plena segunda feira. A temperatura de 36º centígrados era aliada brasileira, já que Parreira sempre treinava a seleção nos horários dos jogos, para os atletas já irem se habituando.
Trocando passes em sua própria intermediária, o Brasil só conseguiu avançar para o campo adversário aos quatro minutos. E foi se soltando aos poucos.
Na saída de jogo, Mauro Silva recuava e se posicionava entre os zagueiros, permitindo que Jorginho e Leonardo avançassem. Dunga geralmente era o responsável pelos passes de transição, sempre priorizando os laterais. Zinho segurava a bola e dava suporte ao apoio de Leonardo. Raí ficava mais centralizado, enquanto Bebeto flutuava pela direita e pelo centro. Romário ficava mais próximo da área, sempre à espreita.
A primeira chance foi aos nove minutos, quando Dunga cortou de carrinho no meio campo e Bebeto lançou Romário. Em velocidade, o baixinho dominou na direita da grande área, tirou Nikiforov do lance e cruzou para trás, mas não tinha ninguém chegando para finalizar.
No minuto seguinte, Dunga lançou Jorginho na ponta direita. O lateral dominou, passou a bola entre as pernas de Tsymbalar, mas Nikiforov chegou pra dividir fazendo cobertura. Dunga pegou o rebote e cruzou na segunda trave. Bebeto tentou seu tradicional voleio, mas a bola passou por cima do gol.
Márcio Santos avançou pela lateral esquerda e tocou para Dunga no meio. O volante brasileiro se enrolou com a bola e ela sobrou para Radchenko tabelar com Yuran, mas Márcio Santos chegou a tempo de travar o chute. Na sequência, Tsymbalar chutou forte, mas Taffarel defendeu com tranquilidade.
No minuto 14, Raí e Romário tabelavam e a zaga russa tirou. A bola foi em direção a Ricardo Rocha, que foi enganado pelo quique da bola, se desequilibrou e teve que puxar Yuran pela camisa. Seria uma ocasião clara e manifesta de gol, que caberia o cartão vermelho. Mas Ricardo Rocha simulou ter sofrido uma lesão e escapou de ser expulso pelo árbitro Lim Kee Chong, das Ilhas Maurício.
Aos 20, o juiz compensou ao não marcar um empurrão sobre Leonardo dentro da área russa.
(Imagem: Gazeta Press)
Aos 26′, houve uma série de tiros de canto a favor da Seleção Brasileira. No último desses escanteios, Bebeto cobrou da esquerda, a bola passou por Márcio Santos e Romário se antecipou à marcação e tocou de bico, rasteiro, para o fundo das redes.
Pouco depois, Romário sofreu pênalti claro ao ser agarrado por Ternavsky (um carrapato na marcação individual sobre o Baixinho), mas o juiz ignorou.
Ainda antes do intervalo, Bebeto bateu uma falta perigosa, que passou raspando a trave.
No segundo tempo, a Rússia adiantou a marcação, tentou partir para cima e ficou mais aberta. Em compensação, se cansava mais. E o Brasil passou a ter os contragolpes a seu favor.
Aos seis minutos da etapa complementar, Zinho trocou passes com Mauro Silva e Dunga e lançou Romário. O astro do Barcelona recebeu de costas, girou sobre a marcação de Ternavsky, tocou a bola entre as pernas de Nikiforov e, ao entrar na área, foi atingido por um carrinho de Ternavsky. A penalidade dessa vez não foi ignorada.
Com a camisa 10 e a faixa de capitão, Raí era o cobrador oficial e bateu com categoria, no canto esquerdo do goleiro Dmitri Kharine, que pulou no lado contrário. Foi seu único gol na Copa antes de perder a vaga no time titular. Raí fez uma partida apagada, mas foi eleito pela FIFA o melhor em campo.
Esse gol deu a tranquilidade necessária para que a Seleção controlasse as ações. Marcando praticamente em duas linhas de quatro, o escrete canarinho deu a bola aos russos, que não conseguiram criar jogadas.
A Seleção diminuiu o ritmo, mas teve chance de ampliar. Dunga tabelou com Raí e cruzou da linha de fundo. Bebeto finalizou da entrada da área, mas Kharine espalmou por cima.
Depois, começaram os problemas físicos. Jorginho sofreu uma entrada forte de Khlestov e precisou sair no carrinho maca, mas, felizmente, conseguiu voltar a campo.
Ricardo Rocha não teve a mesma sorte. Ele sentiu uma contratura no músculo adutor da coxa esquerda e foi substituído por Aldair, aos 25′. Um dos líderes do elenco, Ricardo não voltaria mais a jogar no Mundial.
A cinco minutos do fim, Dunga levou a pior em uma dividida e Mazinho o substituiu.
(Imagem: Action Images)
● Ao fim da partida, o chato técnico russo Pavel Sadyrin se rendeu a Romário: “imarcável”.
A Rússia foi eliminada na primeira fase. Depois da derrota para o Brasil (2 x 0), perdeu também para a Suécia de Martin Dahlin, por 3 x 1. Na última partida do Grupo B, venceu Camarões por 6 x 1, na maior goleada do Mundial. Essa partida marcou dois recordes: o atacante Oleg Salenko anotou uma “manita”, sendo o único jogador a fazer cinco gols em uma única partida em toda a história das Copas. O gol de honra camaronês foi marcado pelo veterano Roger Milla, que se tornou o jogador mais velho a marcar um gol na história dos Mundiais.
Na sequência da fase de grupos, o Brasil venceu Camarões por 3 x 0. Já classificado para as oitavas de final, empatou em 1 x 1 com a Suécia. Nas oitavas de final, enfrentou o anfitrião Estados Unidos justamente no dia da independência americana. Com um homem a menos (Leonardo foi expulso), foi um jogo duríssimo, mas a Seleção venceu com um gol de Bebeto. Nas quartas de final, o melhor jogo da Copa: vitória sobre a Holanda por 3 a 2. Nas semifinais, novo encontro com os suecos, que agora foram batidos por 1 a 0, com um gol de Romário. Enfim, depois de 24 anos, o Brasil estava em uma final de Copa do Mundo. Na decisão, enfrentou a Itália, suportou bem os 120 minutos no calor infernal e venceu nos pênaltis por 3 a 2, após um empate sem gols no tempo normal e na prorrogação. É tetra! É tetra!
Três pontos sobre… … 16/07/1994 – Suécia 4 x 0 Bulgária
(Imagem: Getty Images)
● Na véspera da final da Copa do Mundo, três dias depois de perder nas semifinais, a Suécia retornou ao estádio Rose Bowl, em Pasadena, para enfrentar a Bulgária pela disputa do terceiro lugar. As duas seleções tinham se classificado para a Copa no mesmo grupo das Eliminatórias europeias, deixando a França de fora.
A Suécia empatou com Camarões na estreia por 2 a 2. Depois, venceu a Rússia por 3 a 1. Segurou o Brasil e empatou por 1 a 1. Nas oitavas de final, bateu a surpreendente Arábia Saudita por 3 a 1. Nas quartas de final, fez um jogo proibido para cardíacos, com muito equilíbrio, contra a Romênia, empatando por 1 a 1 no tempo normal, outro 1 a 1 na prorrogação, e vencendo por 5 a 4 nas penalidades máximas. Nas semifinais, parou no futuro campeão Brasil, caindo com um magro e digno 1 a 0.
A Bulgária estreou perdendo por 3 a 0 para a Nigéria. Depois, goleou a Grécia por 4 a 0 e surpreendeu vencendo a Argentina por 2 a 0. Nas oitavas, precisou dos pênaltis (3 x 1) para passar pelo México após o empate por 1 a 1. Nas quartas, eliminou a então campeã mundial, Alemanha, vencendo de virada por 2 a 1. Nas semi, vendeu caro a derrota por 2 a 1 para Itália de Roberto Baggio.
Apesar da igualdade de condições, suecos e búlgaros apresentavam ânimos diferentes para o confronto. Enquanto os nórdicos passavam a sensação de aceitação por terem perdido para a melhor equipe do torneio (Brasil), o selecionado do leste europeu parecia remoer o erro de arbitragem que resultou em sua desclassificação.
Na semifinal, quando a Itália já vencia a Bulgária por 2 a 1 e Roberto Baggio tinha sido substituído por lesão, Kostadinov pediu pênalti por um toque de mão do zagueiro Alessandro Costacurta na linha lateral da grande área. Porém, o trio de arbitragem mandou o jogo seguir. Foi um pênalti claro, que poderia ter mudado o rumo do jogo e até a história da competição. “Deus é búlgaro, mas o juiz é francês (Joël Quiniou). Estamos entre os quatro melhores do mundo, mas deixamos de jogar a final entre os dois melhores por causa do juiz”, disse Stoichkov, numa alusão à desclassificação da França diante da Bulgária nas Eliminatórias.
A Suécia jogava no 4-4-2 clássico, com muita marcação no meio de campo e velocidade com os atacantes.
A Bulgária jogava em um misto de 4-4-2 (quando se defendia) e 4-3-3 (quando atacava).
● Quem esperava um duelo equilibrado viu uma Bulgária apática e desmotivada.
Nesse cenário de terra devastada, a seleção do leste europeu não ofereceu nenhuma resistência e a Suécia abriu o placar aos oito minutos. Ingesson foi à linha de fundo e cruzou. Mikhailov e a defesa búlgara ficaram no meio do caminho e Tomas Brolin cabeceou para o gol aberto.
A seleção escandinava aproveitou a catarse búlgara e, vendo que os adversários não ofereciam resistência, começou a empilhar gols.
Com meia hora de jogo, Brolin sofreu falta. Ele cobrou rápido e tocou para Mild, que pegou a defesa desprevenida e tocou por cima do goleiro.
Sete minutos depois, Brolin, o melhor em campo, lançou nas costas da defesa. O rastafári Henrik Larsson ganhou de Ivanov na corrida, entrou na área, driblou o goleiro, parou a jogada deixando Ivanov no chão, e tocou para o gol vazio. Larsson teve sangue frio. Um belo gol.
Aos 40′, Schwarz ergueu a bola para a área da intermediária. Antes da marca do pênalti, o gigante Kennet Andersson ganhou no alto de Mikhailov, que saiu mal do gol. Era o quarto da Suécia, que transformava a apatia do oponente em goleada. A Bulgária já estava cansada depois de tantas batalhas.
Cada bola que os suecos lançavam para a área era sinônimo de tormento para o técnico búlgaro Dimitar Penev. Ele se irritou profundamente e queimou logo todas as substituições ainda antes do pontapé inicial do segundo tempo.
Trocou inclusive seu goleiro, tirando o capitão Borislav Mikhailov e colocando em campo o reserva Plamen Nikolov. Era a terceira vez na história das Copas que um goleiro foi substituído sem estar lesionado. A primeira foi Mwamba Kazadi, do Zaire, em 1974. No jogo contra a Iugoslávia, ele saiu aos 22 minutos, quando seu time perdia por 3 a 0. A partida terminou 9 a 0. A segunda vez foi em 1994 mesmo. O sul-coreano Choi In-young pediu pra ir embora no intervalo do confronto diante da Alemanha, quando sua equipe perdia por 3 a 0. No segundo tempo, com Lee Woon-jae no gol, os asiáticos reagiram e diminuíram para 3 a 2.
Um dos substituídos naquela partida, Trifon Ivanov, falou mais sobre isso: “Todo mundo jogou por si próprio na decisão do terceiro lugar da Copa. Eu pedi para o técnico para ser substituído no intervalo, mas ele não queria. Eu nunca vou me esquecer do gol de Larsson. Eu não consegui pará-lo. Então, disse que ou ele me substituía ou eu saía de campo. E finalmente ele me tirou”.
Os suecos, que abriram 4 a 0 em 45 minutos, sabiam que a medalha de bronze dificilmente escaparia, e deixaram passar o segundo tempo. Mas continuou criando chances. Kennet Andersson fez um lançamento de 40 metros, Larsson avançou sozinho (de novo), mas dessa vez Nikolov defendeu com os pés, impedindo um placar ainda mais elástico.
A Bulgária, sem forças, só tinha um objetivo: fazer de Hristo Stoichkov o artilheiro isolado da Copa, já que até então ele tinha os mesmos seis gols do russo Oleg Salenko. Assim, todas as jogadas eram preparadas para ele finalizar. Nenhuma deu resultado efetivo. Na chance mais clara, parou em boa defesa de Ravelli.
Além disso, Balakov ainda perdeu dois gols feitos, na pequena área. Em uma delas, Ravelli não conseguiu segurar um chute de longe e soltou a bola nos pés do camisa 20 que, incrivelmente, conseguiu acertar a trave de dentro da pequena área. Foi a melhor chance búlgara no jogo.
Sem contar que o árbitro Ali Bujsaim, dos Emirados Árabes Unidos, ainda anulou um gol de Emil Kostadinov por impedimento.
Faltando poucos minutos para o fim da partida, o goleiro sueco Thomas Ravelli fazia piruetas em campo. Enquanto sua seleção prendia a bola no campo de ataque, o arqueiro divertia a multidão com acrobacias.
(Imagem: Stephen Dunn / All Sports / Getty Images)
● Na entrevista, o técnico búlgaro Dimitar Penev resmungou: “Este jogo não deveria existir”, se referindo às decisões do terceiro e quarto lugar em uma Copa do Mundo.
Mas a Bulgária já estava no lucro por ter chegado tão longe, que nem parecia incomodada com a goleada sofrida. Estar entre os quatro melhores era muito mais do que poderiam sonhar. Em cinco participações anteriores e 16 partidas disputadas, nunca tinha vencido um único jogo em Copas do Mundo (10 derrotas e 6 empates). Mas restou o consolo de ter realizado sua melhor campanha em um Mundial. Além disso, emplacou Krasimir Balakov e Hristo Stoichkov na seleção do torneio. Pelo lado sueco, Tomas Brolin, o “Boneco Assassino”, também esteve entre os melhores da Copa.
Foi a melhor classificação sueca na história das Copas, depois do vice-campeonato de 1958, quando foram anfitriões. A goleada, além de render o terceiro lugar, deixou os Vikings com o melhor ataque de toda a Copa, com 15 gols marcados em sete jogos (média de 2,14 por partida), mais que os finalistas Brasil (11) e Itália (8).
Mesmo perdendo feio no último jogo, os integrantes da delegação búlgara foram recebidos como heróis na volta à pátria.
Um dos destaques da seleção escandinava, Martin Dahlin anotou quatro gols na Copa, mas não foi escalado na decisão do terceiro lugar. Além dos gols e do talento, o camisa 10 se destacava também por ser o único negro em uma equipe toda composta por loiros branquíssimos. Dan Martin Nathaniel Dahlin é filho de uma sueca e de um venezuelano.
O goleiro búlgaro Mikhailov foi notícia por utilizar uma peruca durante os jogos. Ele tinha prometido que, se a Bulgária superasse a Itália na semifinal, jogaria sua peruca para a torcida na comemoração. Mas a Itália venceu.
Dos 22 jogadores convocados pela Bulgária, apenas seis tinham nomes que não terminavam em “ov”: Kremenliev, Houbchev, Genchev, Iliev, Georgiev e Mikhtarski.