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… 09/07/1994 – Brasil 3 x 2 Holanda

Três pontos sobre…
… 09/07/1994 – Brasil 3 x 2 Holanda

Deu Branco: o “gol cala-boca”


(Imagem: FIFA.com)

● Programar uma partida para as duas e meia da tarde no calor infernal de Dallas foi realmente um desrespeito da FIFA aos atletas. Por isso, nos dias que antecederam à partida, só se falavam em dois assuntos na concentração da Seleção Brasileira: o calor e o substituto de Leonardo, fora da Copa do Mundo por ter sido suspenso pela FIFA por quatro partidas por conta de uma cotovelada em Tab Ramos, na dura vitória por 1 x 0 nas oitavas de final sobre os Estados Unidos, donos da casa.

Com um elenco versátil, a comissão técnica tinha várias possibilidades para a lateral esquerda. Uma delas era trazer Mazinho do meio e devolver Raí ao time titular. Outra seria deslocar Cafu para a esquerda. Uma opção mais defensiva seria improvisar o zagueiro Ronaldão. Mas o técnico Parreira fez o mais sensato e óbvio: escalou Branco, especialista da posição. O camisa 6 estava completamente recuperado de uma lesão crônica nas costas, mas ainda sentia falta de ritmo de jogo. Mas quando o preparador físico Moraci Sant’anna atestou sua condição para atuar os 90 minutos, era claro que seria titular. Além disso, Branco ainda teria uma das missões mais inglórias da Copa: marcar o veloz ponta direita holandês Marc Overmars, um dos destaques da competição até então. Mas o capitão Dunga já sabia por antecipação o antídoto contra o ponteiro holandês: “Não vamos deixar que ele seja lançado em velocidade e o Branco tem a experiência para correr atrás dele usando os atalhos.”

A boa notícia que chegava à concentração brasileira em Los Gatos era o nascimento de Mattheus, terceiro filho de Bebeto. Sua mulher, Denise, deu à luz o bebê às 14h20 do dia 07 de julho na Clínica São Vicente no Rio de Janeiro. O nome do rebento, escolhido pelo pai, era uma clara homenagem ao craque alemão Lothar Matthäus. Hoje com 24 anos, Mattheus de Andrade Gama de Oliveira é meia atacante e disputou a última temporada pelo Vitória de Guimarães, emprestado pelo Sporting, depois de ter sido revelado pelo Flamengo.

A Holanda nem de longe lembrava seus melhores momentos. Jogadores com espírito vencedor, como Ronald Koeman, Jan Wouters e Frank Rijkaard já haviam passado pela suas melhores fases. Marco van Basten e Ruud Gullit não estavam no elenco. Van Basten, pela recorrente lesão nos tornozelos. Gullit, por desavenças com o técnico Dick Advocaat.

Mesmo assim, os holandeses terminaram no primeiro lugar do Grupo F da primeira fase. Estreou vencendo com dificuldades a Arábia Saudita por 2 a 1. Depois, perdeu o clássico para a rival Bélgica por 1 a 0. Na terceira rodada, nova vitória por 2 a 1, desta vez sobre Marrocos. Nas oitavas de final, passou pela forte defesa da Irlanda venceu por 2 a 0.

O Brasil foi líder do Grupo B com sete pontos: derrotou a Rússia por 2 a 0, engoliu Camarões por 3 a 0 e empatou com a Suécia por 1 a 1. Nas oitavas de final, uma vitória duríssima (1 x 0) contra os anfitriões Estados Unidos, justamente no dia 04 de julho, data da independência do país. Mas agora brasileiros e holandeses se enfrentariam nas quartas de final.


O Brasil atuava no 4-4-2. O sistema do técnico Parreira consistia em manter a maior posse de bola possível e dar o bote no momento certo. A figura símbolo desse estilo de jogo era o meia Zinho, apelidado de “Enceradeira” por girar com a bola de um lado para outro, sem agressividade.


Pela Orange, o técnico Dick Advocaat optou por retornar ao 4-3-3, com: Ed de Goey; Aron Winter, Stan Valcks, Ronald Koeman e Rob Witschge; Jan Wouters, Frank Rijkaard e Wim Jonk; Marc Overmars, Dennis Bergkamp e Peter Van Vossen.

● Como já era marca registrada, o Brasil entrou em campo de mãos dadas no estádio Cotton Bowl, em Dallas. Naquele momento, a temperatura era surpreendentemente amena para os padrões do verão no Texas. Os brasileiros eram maioria dos 63.500 expectadores.

Curiosamente, tanto a Seleção Canarinho quanto a Laranja Mecânica atuaram com seus respectivos uniformes reservas por determinação da FIFA. A entidade observava o fato de que mais da metade dos televisores do planeta ainda tinham imagem em preto e branco. Assim, para dar maior contraste, o Brasil vestiu camisa azul com golas e punhos brancos, calção branco e meiões azuis. A Holanda usou camisa branca, calção laranja e meias brancas.

E a bola rolou. Foi só isso que ela fez naquele insosso primeiro tempo. Seria um jogo de paciência e os dois lados sabiam disso.

A Holanda começou o jogo com o ataque marcando a saída de bola brasileira. Apesar da pressão, o escrete brasileiro conseguia encontrar espaços e seu futebol começou a fluir como ainda não tinha sido visto no torneio.

Branco e Koeman eram artilharia pesada no que dizia respeito a cobranças de falta. Antes dos dez minutos de partida, Branco assustou De Goeij com um tiro que passou perto do ângulo e Koeman mandou um torpedo que nocauteou Jorginho na barreira.

Mas além de levar perigo nas bolas paradas, Ronald Koeman era muito mais que um zagueiro. Era o verdadeiro líbero, cumprindo muito bem a função de armar sua equipe vindo de trás, acionando diretamente o trio de ataque com seus lançamentos. Quando ele avançava e saía para o jogo, Wouters era o responsável por recuar para compor a defesa com Valckx. Na prática, em diversos momentos a Holanda se esquematizava em um 3-4-3, sistema que não funcionou bem na primeira fase.

Enquanto isso, Branco conseguir marcar bem o impetuoso Overmars, contando com a cobertura impecável de Márcio Santos e Mauro Silva. O volante do Deportivo La Coruña se multiplicava em campo, cobrindo os dois lados da defesa e ratificando sua qualidade como o maior ladrão de bolas da Seleção. Com Mauro Silva, Dunga e Mazinho, o meio campo brasileiro marcava muito. Por outro lado, Zinho novamente era burocrático.

A marcação holandesa era toda encaixada: Wouters em Bebeto, Valckx em Romário e Koeman na sobra. Winter cercava Zinho e Witschge vigiava Mazinho; Rijkaard e Jonk colavam em Dunga e Mauro Silva. Até os pontas Overmars e Van Vossen acompanhavam as subidas dos laterais Branco e Jorginho. Com isso, eventuais avanços de Mauro Silva ou de um dos zagueiros brasileiros sempre pegavam a defesa holandesa desprevenida.

O zagueiro Stan Valckx foi o melhor amigo que Romário fez no período em que jogou no PSV, a ponto de o holandês vir visitar o Rio de Janeiro a convite do Baixinho. Agora no Barcelona, Romário dividia o vestiário com Ronald Koeman. Mas o brasileiro não tinha papas na língua e deixava claro seus pensamentos: “Dentro de campo não tenho amigos”.

Mas em um primeiro tempo em que a Holanda teve 52% de posse de bola, as melhores chances foram brasileiras. Na melhor delas, Romário, Zinho e Aldair tabelaram na entrada da área rival, mas o zagueiro chutou muito mal à esquerda do gol de De Goeij. Se alguém tivesse que estar vencendo, seriam os sul-americanos.


(Imagem: Getty Images)

● O segundo tempo seria alucinante e dramático. Começou com o Brasil sendo mais incisivo no ataque, buscando abrir o placar. Zinho acordou nos primeiros minutos, participou de uma jogada de contra-ataque e quase fez o gol.

Logo em seguida, aos oito minutos, Frank Rijkaard começou o contragolpe holandês e fez o passe longo. Aldair se antecipou e interceptou. Com a bola dominada, o camisa 13 fez um lançamento perfeito para Bebeto em velocidade na ponta esquerda. Ele dominou e cruzou para o meio da área, onde onde Romário chegava em disparada. O cruzamento foi um pouco mais alto do que o ideal, mas o Baixinho era o mestre das finalizações. De sem pulo, com os dois pés no alto, como se fosse um bailarino, ele finalizou de primeira e inaugurou o marcador. Era o quarto gol de Romário na Copa.

A vantagem fez a Seleção Brasileira recuar naturalmente, para tentar explorar os avanços do aversário, que atacava e abusava da tática do impedimento, com sua defesa muito alta.

Lesionado, Van Vossen deu lugar a Bryan Roy. Mas nada inibia Jorginho, que criava boas oportunidades. Em uma delas, ele tabelou com Mazinho e deu um passe vertical pela direita para Bebeto. Dentro da área, o camisa 7 chuta cruzado e a bola chega a tocar de leve na trave.

Mas aos 18 minutos, o goleiro De Goeij repôs a bola em jogo com um chutão, Branco escorou de cabeça e devolveu a bola para a intermediária ofensiva. Percebendo que estava em impedimento, Romário abandonou a jogada e passou a andar calmamente rumo ao seu próprio campo, no claro objetivo de mostrar que não participava do lance. O assistente Yousif Abdulla Al Ghattan, do Bahrein, percebeu o impedimento passivo do camisa 11 e não levantou a bandeira. A defesa holandesa se distraiu e Bebeto veio de trás, em posição legal, acelerando em direção à bola. O zagueiro Valckx se atira tentando parar o brasileiro a qualquer custo, mas Bebeto saiu livre, driblou De Goeij e tocou para o fundo do gol.

Os holandeses choram o gol impedido até hoje e afirmam que Romário participou da jogada, prendendo a atenção da defesa.

Na comemoração, Bebeto correu à linha lateral, posicionou os braços como quem carrega uma criança e passou a embalá-los para os lados. Romário e Mazinho o acompanharam na coreografia. Bebeto, assim, homenageava o filho recém-nascodo Mattheus. Estava criada a comemoração “nana-neném”, até hoje copiada mundo afora.

A Seleção Brasileira, enfim, começou a jogar um futebol rápido e envolvente e, pela primeira vez nessa Copa, empolgou sua torcida. Bebeto e Romário, a “Dupla BR”, colocava o Brasil em boa vantagem.

A torcida holandesa, também em bom número no Cotton Bowl, já estava desanimando, mas a resposta tardou apenas um minuto. O Brasil já comemorava, mas ninguém contava com a genialidade e esperteza de Dennis Bergkamp. Witschge cobrou o lateral e Aldair deixou Bargkamp entrar na área com a bola. O craque holandês ganhou a dividida com Márcio Santos e, na pequena área, deu um toque de bico sutil, tirando o alcance de Taffarel. Uma enorme falta de atenção do sistema defensivo brasileiro.

A Holanda se animou depois do primeiro gol. Faltava muito tempo ainda para se jogar. Para dar mais criatividade ao seu meio campo, o técnico Dick Advocaat tirou o apagado Rijkaard e colocou Ronald de Boer como centroavante, recuando Bergkamp. Essa mudança acuou o Brasil e a Holanda passou a mandar mais ainda no jogo.

Winter chutou rasteiro, mas Taffarel espalmou para o lado. A pressão holandesa era terrível.

Na cobrança de escanteio, Overmars levantou para a área e o próprio Winter se antecipou à defesa, desviando de cabeça para o gol. Estava tudo igual no placar. A Holanda retomava o sonho de ser semifinalista pela primeira vez desde 1978, quando foi vice-campeã. Mesmo sentindo falta de Gullit e Van Basten, aquele time tinha suas qualidades.

“Foram duas falhas incríveis da defesa. Todo mundo falhou, inclusive o Taffarel. Tomamos um gol que começou um lateral, uma coisa inacreditável para a categoria e a consistência daquele time. Aí conseguimos marcar o terceiro naquela falta cobrada pelo Branco, recuperamos o domínio do jogo e fomos em frente.” — Carlos Alberto Parreira

“Aquela seleção só tomou três gols. E dois naquele jogo. Ali, por algums minutos, ficou a sensação de que todo esse esforço, todo o sacrifício daquele grupo seria em vão.” — Mauro Silva

O empate fez a Seleção voltar a jogar.

O jogo fica dramático e Branco se agiganta. A dez minutos do fim, ele partiu para o campo de ataque acossado por Overmars e lhe deu um safanão no rosto, mas o juiz mandou o jogo seguir. O lateral brasileiro avançou pelo meio e foi “ensanduichado” por Jonk e Winter e, depois de caído, foi chutado sem bola por Koeman. Houve um princípio de confusão, com os holandeses reclamando do tapa recebido por Overmars e os brasileiros se queixando da agressão de Koeman.

Branco ajeitou a bola com carinho e cobrou com muito efeito. A curva colocada foi incrível, saindo da barreira. Atento, Romário se contorceu para desviar da bola, que passou raspando em suas costas. Provavelmente a presença de Romário interferiu na visão de De Goeij, mas é fato que o goleiro holandês poderia ter chegado melhor à bola. Ela chegou a tocar no pé da trave antes de entrar. Os holandeses até hoje lamentam a falha do goleiro De Goeij no chute de Branco.

Branco, às lágrimas, correu em direção ao banco de reservas e apontou para o Dr. Lídio Toledo, médico responsável por bancar sua permanência entre os convocados, e o massagista Nocaute Jack, que o acompanhou durante toda sua recuperação.

Com certeza aquele foi o gol mais importante da carreira de Branco, que o fez protagonista da melhor partida da Copa do Mundo.

Logo na saída, Raí entrou no lugar de Mazinho, dando fôlego novo ao meio campo.

Mais perto do fim, Parreira trocou o exausto Branco por Cafu.

Até o fim, o Brasil catimbou muito e deixou o tempo correr. Mauro Silva valorizou bastante uma falta recebida de Bergkamp e chegou a ficar quase três minutos no campo até sair para receber atendimento. Branco, antes de deixar o campo, quis cumprimentar todos jogadores que via pela frente.

O árbitro costarriquenho Rodrigo Badilla foi firme e deu cinco minutos de acréscimo.

A Seleção Brasileira suportou a pressão holandesa até os 50 minutos e depois comemorou a classificação às semifinais.


(Imagem: Pinterest)

● Pela primeira vez desde 1978, o Brasil estava entre os quatro melhores de uma Copa do Mundo de futebol.

Zagallo deu seu depoimento mais marcante naquele Mundial: “Só faltam dois! Só faltam dois! Só faltam dois jogos! E nós vamos ser tetra!”

Ainda no gramado, o herói Branco foi à forra: “Mas e aí? Cadê o tal ponta da Holanda? Fiz o gol cala-boca! Foi o mais importante da minha carreira e serviu para calar a boca de quem achava que eu estava acabado. Mostrei a todos que vale a pena acreditar, mesmo nos momentos mais difíceis”.

O sempre crítico Romário dessa vez estava confiante: “Quem não gosta de espetáculo? Acredito que começamos a mostrar nesta grande vitória sobre a Holanda o futebol-arte. Enfim, mostramos um futebol digno de campeão do mundo”.

A comemoração “nana-neném”, feita por Bebeto (ao marcar um gol contra Camarões em homenagem a Lucas – filho de Leonardo, que nasceu dia 21/06 – e depois contra a Holanda, em homenagem ao próprio filho) ficou famosa, mas não foi uma invenção sua. Em 1971, Rivellino fez a mesma comemoração no jogo Corinthians 1 x 1 Santos, pela ocasião do nascimento de sua filha Roberta.

Na semifinal, novamente a Suécia fez uma partida imensa, mas a Seleção Brasileira venceu por 1 a 0, com um gol de cabeça do baixinho Romário. Enfim, depois de 24 anos, o Brasil estava em uma final de Copa do Mundo. Na decisão, enfrentaria justamente a Itália, assim como em 1970.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 2 HOLANDA

 

Data: 09/07/1994

Horário: 14h30 locais

Estádio: Cotton Bowl

Público: 63.500

Cidade: Dallas (Estados Unidos)

Árbitro: Rodrigo Badilla (Costa Rica)

 

BRASIL (4-4-2):

HOLANDA (4-3-3):

1  Taffarel (G)

1  Ed de Goeij (G)

2  Jorginho

20 Aron Winter

13 Aldair

18 Stan Valckx

15 Márcio Santos

4  Ronald Koeman (C)

6  Branco

5  Rob Witschge

5  Mauro Silva

6  Jan Wouters

8  Dunga (C)

3  Frank Rijkaard

17 Mazinho

8  Wim Jonk

9  Zinho

7  Marc Overmars

7  Bebeto

10 Dennis Bergkamp

11 Romário

19 Peter van Vossen

 

Técnico: Carlos Alberto Parreira

Técnico: Dick Advocaat

 

SUPLENTES:

 

 

12 Zetti (G)

13 Edwin van der Sar (G)

22 Gilmar Rinaldi (G)

22 Theo Snelders (G)

14 Cafu

15 Danny Blind

3  Ricardo Rocha

14 Ulrich van Gobbel

4  Ronaldão

21 John de Wolf

16 Leonardo

16 Arthur Numan

10 Raí

2  Frank de Boer

18 Paulo Sérgio

9  Ronald de Boer

19 Müller

17 Gaston Taument

21 Viola

11 Bryan Roy

20 Ronaldo

12 John Bosman

 

GOLS:

53′ Romário (BRA)

63′ Bebeto (BRA)

64′ Dennis Bergkamp (HOL)

76′ Aron Winter (HOL)

81′ Branco (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

40′ Aron Winter (HOL)

74′ Dunga (BRA)

89′ Jan Wouters (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

54′ Peter van Vossen (HOL) ↓

Bryan Roy (HOL) ↑

 

65′ Frank Rijkaard (HOL) ↓

Ronald de Boer (HOL) ↑

 

81′ Mazinho (BRA) ↓

Raí (BRA) ↑

 

90′ Branco (BRA) ↓

Cafu (BRA) ↑

Gols da partida:

Reportagem da TV Globo sobre o jogo:

… 05/07/1994 – Itália 2 x 1 Nigéria

Três pontos sobre…
… 05/07/1994 – Itália 2 x 1 Nigéria


(Imagem: Pinterest)

● O confronto das oitavas de final entre Nigéria e Itália colocava frente a frente dois estilos completamente diferentes de jogo: a ousadia dos africanos contra a disciplina dos europeus.

Na primeira fase, a Nigéria foi líder do Grupo D, goleando a Bulgária (3 x 0), perdendo para a Argentina (2 x 1) e vencendo a Grécia (2 x 0). Surpreendentemente, logo em sua primeira Copa do Mundo, a Nigéria tinha ficado em primeiro lugar em seu grupo e enfrentaria a poderosa Itália nas oitavas de final.

A Itália estreou perdendo para a Irlanda por 1 x 0. Depois, bateu a Noruega por 1 a 0 e empatou com o México por 1 a 1. Pela primeira e única vez na história das Copas, um grupo terminava com as quatro seleções rigorosamente empatadas, tanto em pontos ganhos (quatro) como em saldo de gols (zero). O México ficou em primeiro lugar por ter tido o melhor ataque (três gols), a Irlanda ficou em segundo lugar por ter vencido a Itália no confronto direto, a Itália se classificou na repescagem, em terceiro lugar, e a Noruega ficou de fora por ter marcado menos gols (só um).

A Nigéria tinha conquistado seu segundo título da Copa Africana de Nações havia menos de três meses e se apresentava como possível surpresa do Mundial. Contava com verdadeiros diamantes brutos, como Jay-Jay Okocha, Sunday Oliseh, Finidi George, Emmanuel Amunike e Daniel Amokachi, além do experiente centroavante Rashidi Yekini. O clima era tão favorável que o presidente da federação, Samson Omeruah, resolveu falar demais: “Os italianos são famosos no mundo todo pela máfia, não por jogar futebol”. Ele deve ser ter se esquecido dos três títulos mundiais (até então) e do peso da camisa da Squadra Azzurra.

Alheio a polêmicas, o técnico Clemens Westerhof foi mais realista, afirmando que as chances de sua equipe eram de 50%. O treinador trouxe a visão holandesa do futebol: velocidade, exuberância e técnica, que foram somadas à força física e habilidade naturais dos africanos. A maioria dos jogadores nigerianos já atuavam em clubes da Europa e combinavam os estilos europeu e africano.

O grande treinador italiano Arrigo Sacchi deixou sua idolatria no Milan para liderar a Azzurra. Para essa partida, ele promovia ajustes no seu time com as entradas de Roberto Mussi na lateral direita e Danielle Massaro no comando de ataque. Substituto natural de Franco Baresi tanto na função de líbero, quanto no uso da tarja de capitão, Paolo Maldini migrou da lateral esquerda para o centro da defesa.

Mas independente de qualquer coisa, a esperança dos italianos continuava sendo Roberto Baggio, então detentor do posto de melhor jogador do planeta.

Antes do pontapé inicial, a concentração nigeriana recebeu a visita especial do astro da NBA, Hakeem Olajuwon, nascido em Lagos (capital da Nigéria) e apaixonado por futebol.


Arrigo Sacchi escalou sua equipe no 4-4-2. Com a bola, Baggio avançava formando um 4-3-3.


A Nigéria atuava no 4-4-2, mas com o apoio de todos no meio campo. Quando atacava, formava um 4-2-4 com Finidi e Amunike bem abertos.

● Diante de 54.367 pessoas, no Foxboro Stadium, em Massachusetts, os nigerianos dominaram a partida.

Valendo-se de suas habilidades e, sobretudo, de uma condição física superior, as Super Águias inauguraram o marcador aos 25 minutos do primeiro tempo. Após a cobrança um escanteio, Paolo Maldini cortou mal e Emmanuel Amunike tocou na saída do goleiro Luca Marchegiani para abrir o placar.

Os nigerianos controlaram a posse de bola durante toda a partida, sem sofrer com o ataque italiano.

Aos 20′ da segunda etapa, Sacchi busca dar mais energia ao time, trocando Giuseppe Signori por Gianfranco Zola. Mas apenas dez minutos depois, Zola foi expulso por uma entrada mais forte em um adversário.

Agora as Super Águias venciam por 1 a 0 e tinham um jogador a mais em campo nos quinze minutos finais. Mas, sem ambição, ao invés de matar logo o jogo, davam toques de efeito, esperando o jogo terminar.

O tempo vai se esgotando para os italianos, que não conseguem criar nenhuma chance clara de gol.

Com um toque de bola envolvente, parecia que a classificação africana estava mais do que assegurada.

Porém, por pura inexperiência, eles permitiram a igualdade aos 43 minutos do segundo tempo. Roberto Mussi ganhou a dividida com a defesa adversária a rolou para o meia-atacante Roberto Baggio chutar colocado, de forma consciente, entre um zagueiro adversário, Massaro e a trave direita. Um lindo gol. Uma enorme falha defensiva, que permitiu o gol para os italianos a dois minutos do fim.

Aos 10 minutos da prorrogação, os africanos voltaram a incorrer no mesmo erro. Antonio Benarrivo avança e cai na área em disputa de bola com um zagueiro. Um pênalti infantil. Roberto Baggio, sempre ele, cobrou firme no canto direito de Peter Rufai, “O Príncipe”. A bola tocou na trave antes de entrar.

Com a virada, os italianos travaram o jogo até o apito final.


(Imagem: Getty Images / Globo Esporte)

“O avião já estava partindo para casa, mas eu parei seu motor”, disse um sorridente Baggio.

No dia seguinte, os jornais da Velha Bota esqueceram toda a desconfiança em torno do jogador da Juventus e festejaram seu craque.

No mata-mata, a Itália venceria todos seus jogos por 2 a 1: a Nigéria, nas oitavas; a Espanha, nas quartas; e a Bulgária, nas semifinais. Na final, após o empate sem gols com o Brasil, perdeu nos pênaltis por 3 a 2.

A falta de experiência e malícia minou as esperanças alviverdes de repetirem o feito dos rivais camaroneses na Copa do Mundo de 1990, quando os Leões Indomáveis alcançaram uma vaga nas quartas de final.

Era o fim da Copa para a Nigéria, mas o início de grandes celebrações por parte da torcida no país, que recebeu seus jogadores com muita festa na volta para casa.

E as Super Águias corresponderam logo, ao conquistar a inédita medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, ao derrotar o Brasil na semifinal e a Argentina na final.

Na Copa de 1998, novamente os nigerianos fizeram uma boa competição, mas voltaram a cair nas oitavas de final.


(Imagem: A Tribuna)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 1 NIGÉRIA

 

Data: 05/07/1994

Horário: 13h00 locais

Estádio: Foxboro Stadium

Público: 54.367

Cidade: Foxborough (Estados Unidos)

Árbitro: Arturo Brizio Carter (México)

 

ITÁLIA (4-4-2):

NIGÉRIA (4-4-2):

12 Luca Marchegiani (G)

1  Peter Rufai (G)(C)

8  Roberto Mussi

2  Augustine Eguavoen

4  Alessandro Costacurta

5  Uche Okechukwu

5  Paolo Maldini (C)

6  Chidi Nwanu

3  Antonio Benarrivo

19 Michael Emenalo

14 Nicola Berti

15 Sunday Oliseh

11 Demetrio Albertini

10 Jay-Jay Okocha

16 Roberto Donadoni

7  Finidi George

10 Roberto Baggio

11 Emmanuel Amunike

20 Giuseppe Signori

14 Daniel Amokachi

19 Daniele Massaro

9  Rashidi Yekini

 

Técnico: Arrigo Sacchi

Técnico: Clemens Westerhof

 

SUPLENTES:

 

 

1  Gianluca Pagliuca (G)

16 Alloysius Agu (G)

22 Luca Bucci (G)

22 Wilfred Agbonavbare (G)

2  Luigi Apolloni

4  Stephen Keshi

6  Franco Baresi

13 Emeka Ezeugo

7  Lorenzo Minotti

20 Uche Okafor

9  Mauro Tassotti

3  Benedict Iroha

15 Antonio Conte

21 Mutiu Adepoju

17 Alberigo Evani

8  Thompson Oliha

13 Dino Baggio

18 Efan Ekoku

21 Gianfranco Zola

12 Samson Siasia

18 Pierluigi Casiraghi

17 Victor Ikpeba

 

GOLS:

25′ Emmanuel Amunike (NIG)

88′ Roberto Baggio (ITA)

102′ Roberto Baggio (ITA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

2′ Michael Emenalo (NIG)

6′ Daniele Massaro (ITA)

29′ Alessandro Costacurta (ITA)

41′ Mutiu Adepoju (NIG)

53′ Sunday Oliseh (NIG)

58′ Chidi Nwanu (NIG)

60′ Giuseppe Signori (ITA)

62′ Dino Baggio (ITA)

80′ Paolo Maldini (ITA)

 

CARTÃO VERMELHO: 75′ Gianfranco Zola (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

35′ Daniel Amokachi (NIG) ↓

Mutiu Adepoju (NIG) ↑

 

INTERVALO Nicola Berti (ITA) ↓

Dino Baggio (ITA) ↑

 

57′ Emmanuel Amunike (NIG) ↓

Thompson Oliha (NIG) ↑

 

65′ Giuseppe Signori (ITA) ↓

Gianfranco Zola (ITA) ↑

Gols e lances chave da partida:

… Trifon Ivanov: “O Lobo Búlgaro”, venerado por toda uma geração

Três pontos sobre…
… Trifon Ivanov: “O Lobo Búlgaro”, venerado por toda uma geração


(Imagem: Gazeta Esportiva)

● Ele metia medo nos adversários. Não só pelo seu estilo de marcação deveras viril, mas também pela sua fisionomia digamos… feia: olhos grandes e esbugalhados, barba rente a um rosto triangular com faces fundas e mullets desgrenhados.

Era um zagueiro rude, de futebol limitado, mas que marcou época. Diversas pessoas quem nunca o viram jogar o veneram como um ícone cult. Na Copa do Mundo de 1994, Trifon foi um personagem fundamental na porta de entrada do futebol para vários novos aficionados. No inesquecível álbum de figurinhas da Copa, a de Ivanov era das mais queridas e concorridas no jogo de bafo. Pouco importava que ele não fosse o craque de um time com o capitão Borislav Mikhailov, Yordan Letchkov, Krasimir Balakov, Emil Kostadinov e Hristo Stoichkov.

Lembrado pela sua aparência peculiar, foi um do mais icônicos jogadores de seu tempo. Era um beque regular, marcador duro, mas um profissional exemplar, sem apelar para a deslealdade. Raçudo, demonstrava uma dedicação total e sem fim e era uma liderança inconteste na equipe. Ganhou a admiração de todos os telespectadores que acompanharam a bela trajetória da seleção búlgara. Tinha um chute potente e arriscava frequentemente de fora da área, inclusive sendo opção nas cobranças de faltas diretas.


(Imagem: http://bnr.bg)

● Trifon Marinov Ivanov (Трифон Маринов Иванов, em búlgaro) nasceu em 27/07/1965, na cidade de Veliko Tărnovo, no norte da Bulgária. Deu seus primeiros passos no futebol em uma equipe da região onde nasceu, aos 18 anos, o Etar Veliko Tărnovo. Aos 23 anos, foi atuar no gigante de seu país, o CSKA Sofia, onde ficou por dois anos nessa primeira passagem, conquistando vários títulos, dentre eles o bicampeonato búlgaro.

Entre 1990 e 1993, atuou no Real Betis, da Espanha, mas voltando aos clubes anteriores por curtos empréstimos: Etar Veliko Tărnovo (em 1991) e CSKA Sofia (1992). Nessa época, foi sondado pelo Barcelona para ocupar o lugar de Ronald Koeman, que estava lesionado, mas o presidente do Betis impediu, afirmando que o clube precisava dele.

Em 1993, foi jogar no Neuchâtel Xamax, da Suíça. Voltou ao CSKA em um novo e ligeiro empréstimo em 1995.

Ainda em 1995, foi atuar no Rapid Wien, onde ficou por dois anos e venceu a Bundesliga Austríaca de 1995/96 e chegou na decisão da Recopa Europeia, perdendo a final para o PSG de Raí.

Jogou a temporada 1997/98 no rival Austria Wien, com um último empréstimo relâmpago ao CSKA.

Já em fim de carreira, continuou na Áustria, mas nas divisões inferiores, vestindo a camisa do inexpressivo Floridsdorfer AC até 2001, quando pendurou as chuteiras aos 36 anos.


(Imagem: blogartedabola.com.br)

● Mas seus grandes momentos foram mesmo com a camisa da seleção de seu país. Era fundamental para uma equipe com vocação ofensiva. Ele servia de “limpa trilhos”. Disputou 77 partidas pela seleção e marcou seis gols.

Aqui cabe um “parêntese”. Em cinco participações anteriores e 16 partidas disputadas, a Bulgária nunca tinha vencido um único jogo em Copas do Mundo (10 derrotas e 6 empates). Nada dizia que seria diferente em 1994, ao ser goleada logo na estreia pela Nigéria por 3 a 0. Mas a partir do segundo jogo, sob a batuta do maestro Stoichkov e o suor de Ivanov e seus companheiros, o time foi engrenando e chegou nas semifinais, dando trabalho para a Itália de Roberto Baggio, vendendo caro a derrota por 2 x 1. Na decisão do 3° lugar, a Bulgária se descaracterizou e foi goleada por 4 x 0 pela Suécia. O Lobo Búlgaro falou sobre esse jogo em outubro de 2013, em uma entrevista à revista So Foot:

“Todo mundo jogou por si próprio na decisão do terceiro lugar da Copa. Eu pedi para o técnico para ser substituído no intervalo, mas ele não quis. Eu nunca vou me esquecer do quarto gol, de Larsson. Eu não consegui pará-lo. Então, disse que ou ele me substituía ou eu saía de campo. E finalmente ele me tirou”.

A queda de nível de uma equipe limitada nos anos seguintes acentuou ainda mais a importância do talento de Stoichkov e a raça e liderança de Ivanov (capitão de sua seleção entre 1996 e 1998). A Bulgária não passou de fase na Eurocopa de 1996 e na Copa de 1998. Aliás, depois dessa prolífica geração, os búlgaros nunca mais se classificaram para uma Copa do Mundo e disputaram apenas uma Euro (2004, caindo na primeira fase).

Disciplinado, o próprio zagueiro disse que foi expulso apenas duas vezes na carreira, sendo uma quando atuava na Áustria. Um adversário o chamou de “búlgaro sujo” e Ivanov o acertou com uma cotovelada, pegando seis jogos de gancho. A segunda vez foi em um amistoso contra a seleção da Itália, em Sófia. Gianluca Vialli cuspiu em sua cara e Trifon o levou ao chão.

Nunca se importou com as regras extra-campo, a ponto de ter sido visto bebendo e fumando minutos antes de um jogo na Copa de 1994.

Certa vez, quando ainda era jogador, Ivanov comprou e teve por pouco tempo um tanque de guerra do exército. Ele o conduziu no campo por duas vezes, apenas para testá-lo, mas um jornal sensacionalista local publicou que Ivanov andava com tanques. A partir daí ele começou com o hábito de não conceder entrevistas.

Após se retirar dos gramados, Ivanov preferiu viver recluso na sua cidade natal com sua família e continuou evitando a imprensa. A partir daí, enfrentou adversários mais ferozes, como a depressão, o alcoolismo e a obesidade. Em agosto de 2015, foi internado por problemas cardíacos. Mas em 13/02/2016 esse mesmo coração não resistiu a um ataque fulminante e faleceu aos 50 anos.

A admiração dos brasileiros pelo Lobo Búlgaro (seu apelido mais marcante) é tamanha que em 2013 foi criada a Copa Trifon Ivanov, um campeonato de várzea para “esforçados” de São Paulo. Ao descobrir o torneio, os jornalistas búlgaros estavam completamente confusos: “A Copa Trifon Ivanov será realizada neste sábado. Até agora, nada de anormal. Só que… o torneio será realizado no Brasil!”, escreveram perplexos na época da primeira edição, tentando explicar a idolatria pelo zagueiro por ele ter se tornado um ícone cult entre os fãs do futebol da década de 90.

Na verdade, Trifon representou muito mais do que um jogador de futebol. Ele deixou um ensinamento puro, simples e admirável: a dedicação e o esforço incondicionais nunca são demais. Se eles não superam o talento nato, pelo menos eleva o ser humano, tanto em nível pessoal, quanto profissional.

E a lembrança de Ivanov a partir de uma figurinha é muito mais do que aquele jogador, aquela seleção ou aquela Copa. É símbolo de uma era, de uma época boa das nossas vidas.


(Imagem: Panini)

Feitos e premiações de Trifon Ivanov:

Pela seleção da Bulgária:
– 4° lugar na Copa do Mundo de 1994.

Pelo CSKA Sofia
– Campeão do Campeonato Búlgaro em 1988/89, 1989/90 e 1991/92.
– Campeão da Copa da Bulgária em 1988/89.
– Campeão da Supercopa da Bulgária em 1989.

Pelo Rapid Vienna:
– Campeão do Campeonato Austríaco (Bundesliga) em 1995/96.
– Campeão da Copa da Áustria em 1994/95.
– Vice-campeão da Recopa Europeia em 1995/96.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito melhor jogador da Bulgária em 1996.
– Capitão da seleção da Bulgária entre 1996 e 1998.


(Imagem: Goal)

… Roberto Baggio: muito mais do que um pênalti perdido, “um fantástico 9 e meio”

Três pontos sobre…
… Roberto Baggio: muito mais do que um pênalti perdido, “um fantástico 9 e meio”


(Imagem localizada no Google)

● Incrível como um único fato pode mudar a história e a forma como ela se propaga. Um dos recordistas mundiais em aproveitamento de cobranças de pênalti ¹* perdeu o pênalti decisivo de sua seleção em plena final de Copa do Mundo.

Baggio ficou marcado como um “amarelão”, que arregou em plena final. Justo Ele!

Me lembro como se fosse hoje. Eu era uma criança de oito anos, assistindo a minha primeira Copa do Mundo (Copa essa que me fez apaixonar pelo futebol e acabou moldando toda minha vida). Essa Copa foi prolífica em craques, como Diego Armando Maradona, Gabriel Batistuta, Romário, Lothar Matthäus, Gheorghe Hagi, Hristo Stoichkov, Carlos Valderrama, Dennis Bergkamp e outros. Mas Ele se destacava.

Roberto Baggio chegou para a Copa como o melhor jogador do mundo eleito pela FIFA e Bola de Ouro no ano de 1993. Em gramados americanos, “comeu” a bola. Estava no seu auge técnico.

Começou o torneio não muito bem, assim como toda sua seleção. Mas valeu a pena esperar as oitavas de final. A dois minutos do fim, a Nigéria vencia a Itália por 1 a 0, mas Roberto empatou e, na prorrogação, virou o jogo. Nas quartas de final, também aos 43 minutos do segundo tempo, anotou o tento decisivo para eliminar a Espanha. Nas semifinais, foi o dono do jogo, com dois gols entre os 21 e 25 minutos de jogo, que deram a vitória sobre a forte Bulgária por 2 a 1, mas saiu de campo lesionado aos 26 minutos do segundo tempo.

● Assim, o que poucos sabem é que ele foi jogar a final no sacrifício, sempre precisando tirar o pé e não conseguindo dar seus dribles e suas arrancadas características.

Na final, o Brasil jogou melhor, mas eram dois times muito equilibrados e mereceram estar na decisão.

A cada vez que Ele pegava na bola e o Galvão Bueno falava o nome Dele, eu tremia. “Roberto Baggio” era o que a Azzurra podia ter de melhor e ele me dava medo. Já tínhamos visto ele fazer de tudo nessa Copa. Já no fim da prorrogação, em uma tabela com Massaro, Baggio teve sua única chance clara de gol, mas chutou em cima de Taffarel.

Após 120 minutos sem gols, tivemos a primeira decisão por pênaltis na história das Copas. Na primeira cobrança, outro gênio da bola atormentado por uma contusão chutou nos céus: o capitão Franco Baresi. No primeiro jogo da Itália, Baresi lesionou seriamente o joelho e teve que passar por artroscopia. Estava fora da Copa? Não! Se recuperou em tempo recorde para disputar a final, se destacando em marcação duríssima sobre Romário. Pena que justo Baresi tenha errado a cobrança inaugural.

Márcio Santos também errou. Depois, todos marcaram: Demetrio Albertini, Romário, Alberigo Evani e Branco. Daniele Massaro parou nas mãos de Taffarel. Dunga marcou.

Caberia a Roberto Baggio, marcar e deixar a Itália ainda viva na final. Se ele marcasse, o Brasil teria ainda outra chance de ser campeão, com a cobrança de Bebeto.

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… 17/07/1994 – Brasil 0 x 0 Itália

● Em 21 anos de carreira, Baggio bateu 159 pênaltis, convertendo 141 e falhando em apenas 18, ou seja, tem aproveitamento de quase 89% ¹*. Todos tinham certeza de que “Il Codino Divino” (seu apelido, algo como “O Rabo de Cavalo Divino”) converteria o pênalti. Até eu, no alto dos meus oito anos de experiência de vida tinha certeza de que o gol sairia. Mas um somatório de coisas o fizeram errar: a lesão na partida anterior, os 120 minutos jogando no sacrifício no sol de Pasadena, a pressão de ser um pênalti decisivo e, talvez, até a autoconfiança excessiva. Qualquer um poderia perder, menos Ele. É uma das maiores injustiças da história da bola.

Perdeu o pênalti e o Brasil foi campeão. Mas isso não é nada perto de sua brilhante carreira. venceu pouquíssimos títulos como jogador, mas será sempre lembrado pela incrível habilidade, pelas jogadas de efeito e pelos muitos gols marcados, sendo ídolo por onde passou e um mito no futebol mundial. Certamente se não fossem as lesões, Baggio seria ainda maior do que é. Era brilhante tanto como meia (camisa 10), quanto como atacante (camisa 9), que certa vez o craque francês Michel Platini disse que “Baggio é um fantástico ‘9 e meio’.

Era um fantasista e rebelde ao mesmo tempo. Se tornou inimigo público de técnicos vencedores como Arrigo Sacchi, Fabio Capello e Marcelo Lippi, pois enquanto esses eram obcecados pela disciplina tática e marcação sob pressão por todo o campo, Baggio queria apenas jogar. Dizia que o talento se sobrepõe a qualquer obediência tática.

Talento nunca o faltou.

¹* Estatísticas segundo o site “http://www.robertobaggio.org/english/statistics.html

… Roberto Baggio: 50 anos de um gênio

Três pontos sobre…
… Roberto Baggio: 50 anos de um gênio


(Imagem localizada no Google)

● Nascido em Caldogno, na região de Vicenza, no norte da Itália, era um dos oito filhos de Matilde e Fiorindo Baggio. Todos os dias, quando Roberto saía da escola, ia jogar bola. Seus amigos sempre lhe avisavam quando avistavam o Sr. Fiorindo, e o “bambino” saía correndo e se escondia no meio do mato ou em cima das árvores. Desde sempre ele preferiu pedir perdão do que permissão. Se enveredou de vez pelo futebol logo aos 13 anos, no clube de mesmo nome da sua cidade natal. Na temporada 1982/83, estreou como profissional com apenas 15 anos, jogando pelo Vicenza na Serie C1 italiana, onde já se destacava.

Após três temporadas, aportou na Fiorentina, para jogar a Serie A, bem no auge histórico da competição na “Velha Bota”. Chegou como uma pedra preciosa bruta, pronta para ser lapidada, e alcançou a equipe principal na temporada 1987/88. Diversas graves lesões o atrapalharam em seu início, incluindo uma cirurgia delicada no joelho esquerdo, em que foram necessários mais de 200 pontos para costurar a região. Ele era católico desde sempre, mas nesse período difícil de sua vida, conheceu, ficou encantado e se converteu ao budismo. Sua mãe chegou a dizer, em vão, que preferia que ele parasse de jogar do que se tornasse budista. Roberto virou ídolo da “Viola”, onde esteve por cinco temporadas. Chegou à final da Copa da UEFA de 1990, mas foi derrotado pela forte Juventus.

Após perder essa final, Baggio foi vendido para a própria Juventus, mesmo contra a sua vontade, pelo valor recorde na época US$ 13,6 milhões. Mas seu carinho pela Fiorentina era tão grande que no primeiro jogo pela Juve contra a Viola, ainda em 1990, se recusou a bater um pênalti e explicou: “Meu coração sempre será violeta”, beijando em lágrimas um cachecol jogado por um torcedor da Fiorentina.

Mas sua genialidade logo o fez se virar lenda também em Turim. Depois de dois anos bons, mas sem resultados significativos, Baggio se tornou capitão da “Vecchia Signora” na temporada 1992/93. Foi uma temporada estupenda, em que conquistou a Copa da UEFA, além de ter sido eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA e a Bola de Ouro do ano de 1993.

Após a fatídica final da Copa de 1994, Baggio continuou brilhando, sendo destaque na conquista da dobradinha em 1994/95, com o título da Coppa Italia e o Scudetto. Perdeu a final da Copa da UEFA para um ótimo time do Parma, mas nada que desfizesse a temporada perfeita.

Por intervenção do poderoso Silvio Berlusconi, o Milan contratou o craque para a temporada seguinte. Ele perdeu a chance de conquistar a UEFA Champions League pela Juve (que venceu justamente no ano da sua saída), mas ganhou o Campeonato Italiano pelo Milan, chegando ao feito raro de ser bicampeão nacional por duas equipes diferentes (dois grandes rivais). No ano seguinte, por implicância do técnico Arrigo Sacchi, passou a ser reserva e logo saiu do time.

Foi brilhar no pequeno Bologna em 1997/98, marcando incríveis 22 gols na temporada, o que lhe valeu a convocação para a Copa de 1998 e a transferência para a Internazionale. Novamente em Milão, Baggio completou a “tríade”, atuando pelos três gigantes italianos (outro feito raro), mas não teve grande destaque, sendo constantemente atrapalhado por contusões, além de atritos com o técnico Marcelo Lippi.

Na temporada 2000/2001, ele se transferiu para seu último clube, o pequeno Brescia. Novamente ele brilhou, fazendo sua equipe terminar na sétima posição do Calcio. No Brescia, Baggio chegou a 300 gols na carreira (é o terceiro italiano a atingir essa marca, após Silvio Piola, com 364, e Giuseppe Meazza, com 338 – ambos mais de 50 anos antes). Em 2004, seu último ano, marcou o 200º gol na Serie A, ajudando seu time a escapar do rebaixamento. Sua despedida foi no estádio San Siro, contra o Milan, sendo aplaudido de pé por 80 mil torcedores quando foi substituído a dois minutos do fim. É considerado o maior ídolo da história do Brescia, que aposentou a camisa 10 em sua homenagem. Encerrou a carreira com 205 gols em 452 jogos pelo Campeonato Italiano.

● Foi convocado para a seleção italiana pela primeira vez em 1988, em sua primeira grande temporada pela Fiorentina.

Começou no banco de reservas na sua primeira Copa do Mundo, em casa, em 1990. Marcou o gol mais lindo do torneio, ao driblar meio time da Tchecoslováquia, na vitória por 2 a 0. Mesmo com Baggio começando a encantar o mundo, o favoritismo italiano parou nos pênaltis, nas mãos do goleiro argentino Sergio Goycoechea. A Itália terminaria em terceiro, vencendo a Inglaterra por 2 a 1, com um gol do craque.

Não conseguiu ajudar seu país a se classificar para a Eurocopa de 1992, caindo para a União Soviética.

Chegou como melhor jogador do mundo na Copa de 1994 e era o líder técnico de uma Itália talentosa, com ícones como Gianluca Pagliuca, Paolo Maldini, Franco Baresi, Dino Baggio, Roberto Donadoni, dentre outros. Após uma primeira fase bastante criticada (uma vitória, um empate e uma derrota, se classificando como terceira colocada no grupo), a Azzurra e o próprio “RB10” começou a desencantar, ao despachar a Nigéria por 2 a 1 na prorrogação, com dois gols dele. Já nas quartas de final, ele fez o gol decisivo de um 2 x 1 em cima da Espanha. Nas semifinais, logo no primeiro tempo Baggio destruiu os sonhos da Bulgária com dois gols, venceu por 2 a 1, se classificando para a final. O problema foi que ele sentiu uma contusão, sendo substituído aos 26 minutos do segundo tempo.

Na decisão, Baggio jogou no sacrifício (falaremos amanhã sobre isso). Após um 0 x 0 persistente nos 90 minutos e na prorrogação, nos pênaltis a Itália perdeu para o Brasil por 3 a 2, com Roberto isolando a bola na cobrança decisiva.

Não foi convocado para a Euro 1996 e chegou como reserva na Copa de 1998. Perdeu a camisa 10 para o novo xodó, Alessandro Del Piero, mas permaneceu importante para sua seleção. Fez dois gols na competição, se tornando o primeiro e único jogador italiano a marcar gols em três edições de Copa do Mundo diferentes. Nas quartas de final, a Itália foi eliminada para a anfitriã França nos pênaltis (mas dessa vez Roberto converteu). Foi a terceira Copa do craque e em todas viu seu país ser eliminado nos pênaltis.

Não foi convocado para a Eurocopa de 2000. Na época da convocação para a Copa de 2002, seu nome era especulado, mas uma lesão o impediu de sequer ter seu nome lembrado na lista. Nova especulação houve nas convocações para a Euro e até para os Jogos Olímpicos de 2004, mas não foi lembrado. Se despediu da Azzurra em um amistoso contra a Espanha em abril de 2004.

Feitos e premiações de Roberto Baggio:

Pela seleção da Itália:
– Vice-campeão da Copa do Mundo de 1994.
– 3º lugar na Copa do Mundo de 1990.

Pela Juventus:
– Campeão da Copa da UEFA em 1992/93.
– Vice-campeão da Copa da UEFA em 1994/95.
– Campeão do Campeonato Italiano Serie A em 1994/95.
– Campeão da Coppa Italia em 1994/95.

Pelo Milan:
– Campeão do Campeonato Italiano Serie A em 1995/96.
– Vice-campeão da Supercopa Italiana em 1996.

Pela Fiorentina:
– Vice-campeão da Copa da UEFA em 1989/90.

Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro da Recopa Europeia em 1990/91 (9 gols).
– Bola de Ouro da revista France Football como melhor jogador do ano de 1993 (foi também o 2º mais votado em 1994 e o 8º em 1990).
– Melhor jogador do mundo pela FIFA no ano de 1993 (foi também o 3º mais votado em 1994 e o 5º em 1995).
– Onze d’Or como melhor jogador do mundo pela revista francesa Onze Mondial no ano de 1993 (foi também o 3º mais votado em 1994 e o 2º em 1995).
– Melhor jogador do mundo pela revista inglesa World Soccer no ano de 1993.
– Melhor jogador do mundo pela revista espanhola Don Balón no ano de 1994.
– Eleito para a seleção da Copa do Mundo de 1994.
– Bola de Prata (2º melhor jogador) da Copa do Mundo de 1994.
– Eleito pela FIFA para o Dream Team das Copas do Mundo em 2002.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Eleito o 24º melhor jogador no Jubileu de Ouro da UEFA em 2004.
– Eleito o 16º melhor jogador do mundo no Século XX pela revista inglesa World Soccer em 1999.
– Eleito o 24º melhor jogador do mundo no Século XX pela revista Placar em 2005.
– Eleito o 27º melhor entre os 50 melhores jogadores do mundo no Século XX pela revista italiana Guerin Sportivo em 1999.
– Eleito o 53º melhor jogador europeu do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 9º melhor jogador italiano do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 4º melhor jogador no Super Onze d’Or em 1995.
– Eleito para a Seleção Italiana do Século XX (Azzuri Team of The Century) em 2000.
– Eleito jogador italiano do Século XX em 2000.
– Eleito para o Top-100 dos jogadores de todos os tempos pela Associação dos Estatísticos do Futebol em 2007.
– Prêmio Planète Foot’s dos 50 melhores jogadores do mundo em 1996.
– Nomeado para o Hall da Fama do futebol italiano na categoria jogador nacional em 2011.
– Nomeado para o Hall da Fama do esporte italiano na categoria de lenda em 2015.
– Prêmio Golden Foot em 2003.
– Trofeo Bravo como melhor jogador europeu sub-23 de 1990.
– Prêmio Guerin d’oro como melhor jogador da Serie A de 2001.
– Prêmio Guerin d’oro como melhor jogador da Serie C1 de 1985.
– Prêmio Guerin d’oro eleito pelos torcedores como melhor jogador do Milan em 1996.
– Prêmio Guerin d’oro eleito pelos torcedores como melhor jogador do Brescia em 2001.
– Prêmio Giuseppe Prisco em 2004.
– Prêmio Nacional de Carreira Exemplar Gaetano Scirea em 2001.
– Oscar do Calcio como jogador mais amado pelos torcedores em 2002.
– Prêmio Oscar do Calcio em 2001.
– Eleito para o FIFA XI em 2000 e 2002.
– Nomeado para o Hall da Fama do Milan.
– Eleito para a Fiorentina de todos os tempos.
– Nomeado para Top-50 da Juventus.
– Prêmio Gentleman di Platino em 2015.
– Ordem do Mérito da República Italiana por iniciativa do Presidente da República em 30/09/1991.
– Prêmio pela Paz Mundial em 12/11/2010.
– Embaixador da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) desde 2002.

(Imagem: Calciopédia)

… Daniel Amokachi: lenda do Winning Eleven

Três pontos sobre…
… Daniel Amokachi: lenda do Winning Eleven


(Imagens localizadas no Google)

● No antigo Winning Eleven 3 Final ou no Winning Eleven 4, era muito comum seu amigo escolher o Brasil para jogar. No game, tinham muitos bons times e bons jogadores, mas a melhor forma de você se igualar a esse seu amigo e (até vencê-lo) era você escolher a Nigéria. Taribo West era um zagueiro medíocre na realidade, mas era muito bom no game e ficou marcado para sempre por aquelas xuxinhas verdes no cabelo e sua cara feia. Victor Ikpeba e Jay-Jay Okocha eram rápidos e tinham bons atributos (tanto no jogo quanto na realidade). Mas você poderia apelar facilmente colocando Nwankwo Kanu e seus 1,97 m como centroavante, para receber cruzamentos das pontas. E é nessas posições fundamentais no antigo Winning Eleven (atual Pro Evolution Soccer ou PES), que está a chave do time nigeriano: os jogadores nº 13 e 14. O baixinho camisa 13, Tijjani Babangida, assim como Kanu, ficava no banco, mas era só colocar Okocha e Ikpeba como meias e Babangida na ponta direita.

● Na época em que o atributo mais importante dos jogos de futebol do antigo PlayStation One era a velocidade, o camisa nº 14 da Nigéria era uma verdadeira lenda. Daniel Amokachi ainda é considerado um dos mais rápidos e com maior aceleração da história dos games, além de cabecear bem. Era fenomenal. Era só lançar de “triângulo” e segurar o “R1” que a velocidade sobrenatural de Amokachi e a boa finalização resolvia o resto. Pouco importava que poucos de nós tivessem o visto atuar na realidade, pois a idolatria por esse mito era maior. Era por ele que escolhíamos a Nigéria para jogar.

● Saindo do mundo virtual, Amokachi foi um jogador mediano. O atacante começou em seu país e foi para o Club Brugge, da Bélgica, onde atuou entre 1990 e 1994. Após uma boa Copa do Mundo, se transferiu para o inglês Everton, onde não teve muito destaque. Foi uma das estrelas da Nigéria que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Depois, foi jogar no Beşiktaş, da Turquia, ficando até 1999. Esteve em apenas um jogo da Copa de 1998, se machucando. Aos 27 anos, não suportou a sequência de lesões e resolveu encerrar sua carreira. Voltou em 2002 pelo Colorado Rapids (EUA), mas não conseguiu jogar. Tentou novamente em 2005 pelo Nasarawa United, da Nigéria, também sem sucesso. Nada disso importa. Seu amigo sempre tremerá o controle ao ouvir o nome de Amokachi sendo falado pelo narrador japonês do antigo Winning Eleven.

… Maradona: lenda na seleção Argentina

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… Maradona: lenda na seleção Argentina


(Imagem: Pinterest)

● Em 27/02/1977, com apenas 16 anos, Maradona estreou pela seleção argentina principal em um amistoso com a Hungria. Apenas alguns dias depois, em 03/04, estreou na seleção sub-17 no Sul-Americano, onde não teve bons resultados. Foi pré-convocado para a Copa de 1978, mas mesmo com clamor do público e da mídia, o técnico César Luis Menotti decidiu não convocá-lo para a Copa na própria Argentina. O técnico explicaria: “Ele ainda é um garoto e precisa amadurecer. Mas sem dúvida ele pode mais que os outros e ainda vai brilhar muito no futebol”. Diego não guarda mágoas de Menotti e o considera o melhor treinador que já teve. O ex-craque Omar Sívori também o consolou: “Me escute, garoto… você tem a verdade do futebol dentro de si e toda uma vida para mostrá-la”. Mesmo decepcionado, Diego enviaria um telegrama aos jogadores, desejando sorte, e assistiu in loco dois jogos (contra a Itália e a final contra a Holanda).

“Poderia ter jogado no mundial de 1978. Estava afinado como nunca. Chorei muito, senti como uma injustiça. (…) Quando se deu a notícia [de que seria cortado] vieram alguns a me consolar: Luque, um grande tipo, o Tolo Gallego… e ninguém mais. Nesse momento eram demasiado grandes para gastar uma palavra com um garoto. (…) O pior foi quando voltei a minha casa. Parecia um velório. Chorava minha velha, meu velho, meus irmãos… esse dia, o mais triste da minha carreira, jurei que iria ter revanche. Foi a maior desilusão da minha vida, me marcou para sempre.”

No ano seguinte, foi o protagonista de sua seleção no título Mundial Sub-20 de 1979, marcando 6 gols e sento escolhido o melhor jogador do torneio. Disputou sua primeira Copa em 1982, mas a então campeã Argentina caiu na segunda fase, com derrotas para Itália (1 x 2, caçado impiedosamente por Claudio Gentile – que de gentil só tinha o nome) e Brasil (1 x 3, onde foi expulso por dar uma solada nos testículos do volante Batista, pensando ser em Falcão).

● Na Copa de 1986, o técnico Bilardo era questionado por dar a faixa de capitão a Diego, já que ele ainda não tinha provado seu valor no futebol nem em clubes e nem na seleção. Maradona “mandava” tanto na seleção, que o ídolo argentino Daniel Passarella não jogou um segundo sequer nessa Copa (era desafeto de Diego). Nas quartas de final, mostrou a todos a sua verdadeira grandeza. Argentina e Inglaterra tinham se enfrentado recentemente na Guerra das Malvinas, com derrota platina. No sexto minuto do segundo tempo, “El Diez” tocou para um companheiro, que perdeu a bola, mas o zagueiro inglês Steve Hodge chutou a bola para cima e ela foi em direção ao goleiro Peter Shilton. Maradona foi correndo de encontro ao goleiro (20 cm mais alto), cerrou o punho e socou a bola, encobrindo Shilton. Mesmo com protestos ingleses, o gol foi validado. Maradona mais tarde diria que “se houve mão na bola, foi a mão de Deus”. Com os adversários ainda revoltados com esse gol, a Argentina trocava passes no campo defensivo quando “El Pibe” pegou a bola. Ele estava de costas para o gol inglês e era marcado por três adversários (Steve Hodge, Peter Reid e Peter Beardsley). Assim que Beardsley se aproximou, Diego girou em sentido contrário, saindo de seu campo e avançando na intermediária adversária. Reid o perseguiu sem sucesso, enquanto Terry Butcher e Terry Fenwick foram facilmente deixados para trás. Diego seguiu (com a impressão que driblava todos os milhões de britânicos e vencia a Guerra das Malvinas), entrou na área, driblou o goleiro Shilton e mandou para as redes, sem chances para o carrinho desesperado de Butcher. Esse é chamado de “gol do século” e possivelmente é o gol mais lindo da história das Copas. Gary Lineker descontou, mas a Argentina venceu por 2 x 1. Na final contra a Alemanha Ocidental, liderou seu país ao segundo título mundial. Logicamente, foi escolhido como Bola de Ouro da Copa.

Na Copa de 1990, Diego já tinha seu talento mundialmente reconhecido, pois já tinha dado títulos inéditos para o Napoli e tinha carregado sua seleção na Copa anterior. Após uma primeira fase desastrosa, a Argentina enfrentou o rival Brasil nas oitavas de final. A equipe brasileira fez seu melhor jogo, mas desperdiçou inúmeras oportunidades. Maradona apenas caminhava na partida, devido às inúmeras pancadas recebidas em jogos anteriores. Mas nunca pode se descuidar com um gênio. Aos 35 minutos do segundo tempo, ele acelerou uma jogada, driblou quatro brasileiros e deixou Caniggia livre, para passar por Taffarel e fazer o gol. Venceria a Iugoslávia nos pênaltis. Na semifinal, enfrentaria os anfitriões italianos, mas jogaria em sua casa, Nápoles. Diego convocou os napolitanos a torcer por ele e não por seu país e a torcida ficou dividida. A Argentina venceu a Itália nos pênaltis, novamente com um show de defesas do goleiro Sergio Goycoechea. Na final, novamente contra a Alemanha Ocidental, em Roma, Diego foi vaiado do início ao fim do jogo. A Argentina já era mais fraca que a Copa anterior e esteve desfalcada de quatro titulares nessa final. Ainda perderia um jogador expulso no início do segundo tempo. A cinco minutos do fim, a Alemanha marca em um pênalti duvidoso e é campeã. Diego se recusa a apertar a mão do presidente da FIFA, João Havelange, e a torcida romana faz festa ao ver Maradona chorando.
Em 1994, surpreendeu ao mundo com a rápida recuperação de sua forma física. Fez um golaço na estreia contra a Grécia e demonstrou um fôlego incansável na segunda partida, contra a Nigéria, mas depois foi pego no exame antidoping e provado que utilizou efedrina para emagrecer. Mesmo aposentado, houve certa pressão para que o agora técnico Daniel Passarella o convocasse para a Copa do Mundo de 1998.

● Em outubro de 2008, após a demissão de Alfio Basile, Diego Armando Maradona foi nomeado técnico da seleção argentina. No período, teve desentendimentos com vários atletas, mas em especial com Juan Román Riquelme. Em 2009 sofreu uma acachapante e histórica derrota para a Bolvívia, na altitude de La Paz, por 6 a 1. Também perdeu para o Brasil em casa, por 3 x 1. Em menos de 20 jogos, ele utilizou 80 jogadores diferentes. Em 14/10/2009, se classificou para a Copa do Mundo de 2010 no sufoco, apenas na última rodada, em uma vitória por 1 a 0 contra o rival Uruguai, em pleno Estádio Centenário. A entrevista após o jogo foi mais uma polêmica para a sua biografia com a declaração: “Com o perdão das damas aqui presentes, que vocês (jornalistas) ’chupem’, continuem ’chupando’”. Pela atitude, foi punido pela FIFA com dois meses de suspensão e uma multa de 25 mil francos suíços. Não convocou para a Copa, dentre outros craques, Javier Zanetti e Esteban Cambiasso, que tinham acabado de conquistar a tríplice coroa na Itália. Na Copa, após uma primeira fase tranquila, venceu bem o México e foi eliminado nas quartas de final para a Alemanha, em uma goleada acachapante por 0 x 4. Felizmente, o resultado poupou a todos de ver o ex-jogador cumprir a promessa de correr pelado caso seu time vencesse a Copa. Foi demitido do cargo depois de 24 partidas, com 18 vitórias e 6 derrotas.