Três pontos sobre…
… 21/06/1970 – Brasil 4 x 1 Itália
(Imagem: Paste Magazine)
● Tostão, o centroavante, acompanha o avanço pela direita do volante italiano De Sisti desde a intermediária adversária até o campo brasileiro, onde toma a bola com a ajuda do lateral esquerdo Everaldo. Tostão entrega a bola a Piazza, na frente da grande área brasileira, dando início a uma rápida e contínua troca de passes entre Clodoaldo, Pelé e Gérson, até encontrar novamente Clodoaldo. Cercado, o volante brasileiro dribla quatro italianos e passa para Rivellino, na altura da linha do meio campo, pelo lado esquerdo. O camisa 11 faz lançamento longo ao ponta direita Jairzinho, que está aberto pelo lado esquerdo (trazendo consigo a marcação de Facchetti). O Furacão traz a bola pelo meio e toca para Pelé, próximo à meia lua. O Rei, caprichosamente e sem olhar, apelas rola suavemente no espaço vazio para Carlos Alberto Torres. A bola sobe ligeiramente e o Capita enche o pé, com um chute cruzado forte e de primeira, e a bola vai morrer no fundo do gol de Albertosi.
É o quarto gol brasileiro, o gol definitivo. Nesse instante, a “Rede Unidas de Televisão e Rádio” já colocavam a música “Pra frente Brasil” (“Noventa milhões em ação / pra frente Brasil / salve a Seleção…”) como música de fundo, deixando ainda mais marcante aquele momento.
(Imagem: Pinterest)
● Naquele domingo, estava em jogo não apenas o título mundial, mas também a posse definitiva da Taça Jules Rimet, já que tanto o Brasil quanto a Itália eram bicampeões da Copa do Mundo e o regulamento da Fifa dizia que quem vencesse por três vezes ficaria de vez com a Taça. Com um regulamento “sem noção”, caso Brasil e Itália empatassem no tempo normal e na prorrogação, o campeão seria decidido em sorteio. Felizmente isso não aconteceu.
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… 10/06/1970 – Brasil 3 x 2 Romênia
… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru
… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai
… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental
A Itália estava invicta desde a conquista da Eurocopa em 1968. Por ter vencido a poderosa Alemanha Ocidental na semifinal (em um épico 4 x 3 na prorrogação), a confiança italiana era enorme, a ponto de o meia atacante Sandro Mazzola declarar antes da partida: “Podem preparar o champanhe”. Mas os jornalistas, técnicos e jogadores afirmavam que Inglaterra e Alemanha mereciam a vaga na final mais do que os italianos. Os críticos alegavam que a Itália chegou à decisão baseada em um estilo muito defensivo. A Squadra Azzurra estreou no torneio vencendo a Suécia por 1 a 0; depois, empatou sem gols com Uruguai e Israel. Nas quartas de final, despacharam os anfitriões mexicanos por 4 a 1. Na semifinal, protagonizou o “Jogo do Século“, vencendo a Alemanha, como já falamos.
O Brasil também tinha seus problemas, que foram se dissipando conforme avançava na competição. Pelé, no auge de sua forma física e técnica, liderou uma Seleção que chegou ao México com problemas de autoestima. Gérson era acusado pela torcida de não ter espírito competitivo. Tostão voltava de uma seríssima cirurgia no olho esquerdo, realizada em outubro do ano anterior nos Estados Unidos (ele teve deslocamento de retina causada por uma bola chutada pelo zagueiro Ditão, do Corinthians). O próprio técnico Zagallo era questionado por ter improvisado o volante Piazza na defesa e por escalar a equipe sem centroavante e ponta esquerda de ofício. Todos esses problemas foram relegados quando a Seleção chegou à decisão.
Os italianos eram bons, mas o Brasil era muito mais time. A torcida mexicana era praticamente toda para o Brasil.
O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.
A Itália atuava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços, tornando um 3-4-3.
● No início, a Itália assustou com um chute da intermediária, que Félix espalmou por cima. Logo depois, Carlos Alberto chutou cruzado para boa defesa de Albertosi.
Mas aos 18 minutos de partida, Tostão cobra lateral, Rivellino ergue a bola de primeira para a área e Pelé (1,72 m) subiu um palmo a mais que seu marcador, Tarcisio Burgnich (1,75 m) e testou forte para o chão, no canto esquerdo de Albertosi, inaugurando o marcador. Parecia que o Rei tinha parado no ar naquele momento. Foi o 100º gol brasileiro em Copas.
A partir do gol, a Seleção se soltou, mesmo com o lateral esquerdo Giacinto Facchetti grudado em marcação individual no ponta brasileiro Jairzinho, que era a principal opção de jogadas em velocidade. O Brasil continuou dominando o jogo, mas Itália não se abateu e seguiu com o mesmo padrão, apostando nos erros do adversário.
E uma única falha defensiva brasileira quase pôs tudo a perder. Ainda na etapa inicial, aos 37, Clodoaldo errou um passe de calcanhar para Everaldo na frente da área. Boninsegna interceptou, driblou Brito e Félix (que já tinha saído do gol todo estabanado e sem necessidade), e toca para o gol vazio, empatando a partida.
Aos 45 minutos, Pelé matou uma bola no peito e tocou no canto de Albertosi, mas o árbitro anulou o gol, alegando ter apitado o final do primeiro tempo antes da finalização do camisa 10.
No segundo tempo, o Brasil voltou com tudo, mostrando um futebol exuberante. Logo no início, Carlos Alberto vai à linha de fundo e rola para trás. Pelé, já sem goleiro, dá um carrinho e manda a bola para fora, de dentro da pequena área. Pouco depois, em uma falta em dois lances dentro da área, Gérson acertou a barreira. Do outro lado, Domenghini chutou uma bola na rede pelo lado de fora e a defesa brasileira sofria com a insegurança de Félix nas saídas do gol, em bolas aéreas.
Aos 21 minutos, o lance decisivo. Jairzinho tenta a jogada pelo meio e é desarmado por Facchetti, sua sombra. Gérson dominou, passou por um marcador e disparou de fora da área, no canto esquerdo. Foi seu único gol em Copas, mas fundamental para a caminhada rumo ao título.
O gol desnorteou os italianos, que quatro dias antes tiveram que passar por uma duríssima prorrogação na semifinal contra os alemães. O sol do meio dia também não ajudava. O gás acabou. O Brasil aproveitou o bom momento e passou a dominar as ações.
Três minutos depois, Pelé sofreu uma falta no meio campo, que rendeu dois minutos de discussão e empurra-empurra entre os jogadores. Gérson bateu a falta lançando para a área. Pelé (que já tinha saído de fininho da confusão) ajeitou de cabeça e Jarzinho tentou o domínio. Ele errou, mas seu desvio foi suficiente para tirar a marcação da jogada e empurrar a bola ao gol. Era o sétimo gol de Jair em seis jogos. Ele se tornou o primeiro e único jogador a marcar em todos os seis jogos de uma Copa e ver seu time campeão.
Uma Copa do Mundo recheada de grandes craques e ótimas seleções só poderia terminar com uma obra prima. A consagração definitiva de uma equipe singular veio aos 42 minutos do segundo tempo, no lance descrito no primeiro parágrafo, que contou com a participação de nove jogadores e terminou com uma pancada de Carlos Alberto no gol. Méritos do “espião” Aymoré Moreira, que assistiu a semifinal e orientou Zagallo para a marcação individual exercida pela Azzurra. Se Facchetti estava grudado em Jairzinho no meio, nenhum italiano estava na posição, abrindo espaços para as frequentes subidas ao ataque de Carlos Alberto, culminando com o quarto gol. Placar final: Brasil 4, Itália 1. Brasil, tricampeão do mundo!
Jairzinho, o “Furacão da Copa”, comemora seu gol (Imagem: Pinterest)
Ao fim da partida, a torcida invadiu o gramado e passou a festejar com os atletas. Não só isso: o povo queria um souvenir dos campeões. Levaram camisas, calções, meias e até chuteiras. Tostão ficou apenas de cueca. Rivellino desmaiou em campo e os fãs não desgrudaram dele nem durante o atendimento. Pelé foi carregado usando um sombrero. Até o zagueiro italiano Roberto Rosato, do Milan, correu alucinadamente atrás de uma lembrança. Ficou com a camisa 10 de Pelé.
Coube ao capitão Carlos Alberto Torres, o Capita, repetir o gesto de Bellini (em 1958) e Mauro (em 1962) de erguer a Taça Jules Rimet, que, com essa vitória e o terceiro título mundial, ficou de forma definitiva e eterna no Brasil (até ser roubada e derretida, mas essa é outra história).
Com esse título, Pelé se tornou o primeiro e (até hoje) único jogador tricampeão mundial.
Zagallo foi o primeiro a se sagrar campeão como jogador e treinador. Seria igualado pelo alemão Franz Beckenbauer, com títulos em 1974 (jogador) e 1990 (técnico).
Bom de “chute”, o Presidente da República, o general Emilio Garrastazu Médici deu um palpite certeiro: disse duas horas antes da final que o Brasil venceria a Itália por 4 a 1.
Curiosamente, os placares do primeiro e do último jogo da Seleção Brasileira foi o mesmo: 4 x 1 sobre Tchecoslováquia e Itália.
Com um desempenho irrepreensível, o Brasil venceu todas as suas seis partidas: Tchecoslováquia (4 x 1), Inglaterra (1 x 0), Romênia (3 x 2), Peru (4 x 2), Uruguai (3 x 1) e Itália (4 x 1). Sofreu sete gols e marcou 19. Desses 19, 14 gols foram marcados em contra-ataques. Era uma equipe evoluída, muito além do seu tempo. Tinha um estilo de século XXI em pleno século XX.
Era uma equipe com “cinco camisas 10“, pois toda a linha de frente chegou a usar essa camisa em seus respectivos clubes: Jairzinho no Botafogo, Gérson no São Paulo, Tostão no Cruzeiro, Pelé no Santos e Rivellino no Corinthians. Na seleção, a primazia coube ao Rei Pelé, claro. Mas na época da Copa, Tostão não era mais o 10 do Cruzeiro; ele usava a camisa 8, enquanto o 10 era (também genial) Dirceu Lopes.
(Imagem: Sportsnet)
● FICHA TÉCNICA: |
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BRASIL 4 X 1 ITÁLIA |
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Data: 21/06/1970 Horário: 12h00 locais Estádio: Azteca Público: 107.412 Cidade: Cidade do México (México) Árbitro: Rudi Glöckner (Alemanha Oriental) |
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BRASIL (4-3-3): |
ITÁLIA (4-3-3): |
1 Félix (G) |
1 Enrico Albertosi (G) |
4 Carlos Alberto Torres (C) |
2 Tarcisio Burgnich |
2 Brito |
5 Pierluigi Cera |
3 Wilson Piazza |
8 Roberto Rosato |
16 Everaldo |
3 Giacinto Facchetti (C) |
5 Clodoaldo |
10 Mario Bertini |
8 Gérson |
16 Giancarlo De Sisti |
7 Jairzinho |
15 Sandro Mazzola |
9 Tostão |
13 Angelo Domenghini |
10 Pelé |
20 Roberto Boninsegna |
11 Rivellino |
11 Luigi Riva |
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Técnico: Zagallo |
Técnico: Ferruccio Valcareggi |
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SUPLENTES: |
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12 Ado (G) |
12 Dino Zoff (G) |
22 Leão (G) |
17 Lido Vieri (G) |
21 Zé Maria |
4 Fabrizio Poletti |
15 Fontana |
6 Ugo Ferrante |
14 Baldocchi |
7 Comunardo Niccolai |
17 Joel Camargo |
9 Giorgio Puia |
6 Marco Antônio |
21 Giuseppe Furino |
18 Paulo Cézar Caju |
14 Gianni Rivera |
13 Roberto |
18 Antonio Juliano |
22 Pierino Prati |
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19 Edu |
19 Sergio Gori |
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GOLS: |
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18′ Pelé (BRA) |
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37′ Roberto Boninsegna (ITA) |
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66′ Gérson (BRA) |
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71′ Jairzinho (BRA) |
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86′ Carlos Alberto Torres (BRA) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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Rivellino (BRA) |
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Tarcisio Burgnich (ITA) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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75′ Mario Bertini (ITA) ↓ |
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Antonio Juliano (ITA) ↑ |
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84′ Roberto Boninsegna (ITA) ↓ |
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Gianni Rivera (ITA) ↑ |
Melhores momentos da partida:
Jogo completo: