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… 21/06/1970 – Brasil 4 x 1 Itália

Três pontos sobre…
… 21/06/1970 – Brasil 4 x 1 Itália


(Imagem: Paste Magazine)

Tostão, o centroavante, acompanha o avanço pela direita do volante italiano De Sisti desde a intermediária adversária até o campo brasileiro, onde toma a bola com a ajuda do lateral esquerdo Everaldo. Tostão entrega a bola a Piazza, na frente da grande área brasileira, dando início a uma rápida e contínua troca de passes entre Clodoaldo, Pelé e Gérson, até encontrar novamente Clodoaldo. Cercado, o volante brasileiro dribla quatro italianos e passa para Rivellino, na altura da linha do meio campo, pelo lado esquerdo. O camisa 11 faz lançamento longo ao ponta direita Jairzinho, que está aberto pelo lado esquerdo (trazendo consigo a marcação de Facchetti). O Furacão traz a bola pelo meio e toca para Pelé, próximo à meia lua. O Rei, caprichosamente e sem olhar, apelas rola suavemente no espaço vazio para Carlos Alberto Torres. A bola sobe ligeiramente e o Capita enche o pé, com um chute cruzado forte e de primeira, e a bola vai morrer no fundo do gol de Albertosi.

É o quarto gol brasileiro, o gol definitivo. Nesse instante, a “Rede Unidas de Televisão e Rádio” já colocavam a música “Pra frente Brasil” (“Noventa milhões em ação / pra frente Brasil / salve a Seleção…”) como música de fundo, deixando ainda mais marcante aquele momento.


(Imagem: Pinterest)

● Naquele domingo, estava em jogo não apenas o título mundial, mas também a posse definitiva da Taça Jules Rimet, já que tanto o Brasil quanto a Itália eram bicampeões da Copa do Mundo e o regulamento da Fifa dizia que quem vencesse por três vezes ficaria de vez com a Taça. Com um regulamento “sem noção”, caso Brasil e Itália empatassem no tempo normal e na prorrogação, o campeão seria decidido em sorteio. Felizmente isso não aconteceu.

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… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

A Itália estava invicta desde a conquista da Eurocopa em 1968. Por ter vencido a poderosa Alemanha Ocidental na semifinal (em um épico 4 x 3 na prorrogação), a confiança italiana era enorme, a ponto de o meia atacante Sandro Mazzola declarar antes da partida: “Podem preparar o champanhe”. Mas os jornalistas, técnicos e jogadores afirmavam que Inglaterra e Alemanha mereciam a vaga na final mais do que os italianos. Os críticos alegavam que a Itália chegou à decisão baseada em um estilo muito defensivo. A Squadra Azzurra estreou no torneio vencendo a Suécia por 1 a 0; depois, empatou sem gols com Uruguai e Israel. Nas quartas de final, despacharam os anfitriões mexicanos por 4 a 1. Na semifinal, protagonizou o “Jogo do Século“, vencendo a Alemanha, como já falamos.

O Brasil também tinha seus problemas, que foram se dissipando conforme avançava na competição. Pelé, no auge de sua forma física e técnica, liderou uma Seleção que chegou ao México com problemas de autoestima. Gérson era acusado pela torcida de não ter espírito competitivo. Tostão voltava de uma seríssima cirurgia no olho esquerdo, realizada em outubro do ano anterior nos Estados Unidos (ele teve deslocamento de retina causada por uma bola chutada pelo zagueiro Ditão, do Corinthians). O próprio técnico Zagallo era questionado por ter improvisado o volante Piazza na defesa e por escalar a equipe sem centroavante e ponta esquerda de ofício. Todos esses problemas foram relegados quando a Seleção chegou à decisão.

Os italianos eram bons, mas o Brasil era muito mais time. A torcida mexicana era praticamente toda para o Brasil.


O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.


A Itália atuava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços, tornando um 3-4-3.

● No início, a Itália assustou com um chute da intermediária, que Félix espalmou por cima. Logo depois, Carlos Alberto chutou cruzado para boa defesa de Albertosi.

Mas aos 18 minutos de partida, Tostão cobra lateral, Rivellino ergue a bola de primeira para a área e Pelé (1,72 m) subiu um palmo a mais que seu marcador, Tarcisio Burgnich (1,75 m) e testou forte para o chão, no canto esquerdo de Albertosi, inaugurando o marcador. Parecia que o Rei tinha parado no ar naquele momento. Foi o 100º gol brasileiro em Copas.

A partir do gol, a Seleção se soltou, mesmo com o lateral esquerdo Giacinto Facchetti grudado em marcação individual no ponta brasileiro Jairzinho, que era a principal opção de jogadas em velocidade. O Brasil continuou dominando o jogo, mas Itália não se abateu e seguiu com o mesmo padrão, apostando nos erros do adversário.

E uma única falha defensiva brasileira quase pôs tudo a perder. Ainda na etapa inicial, aos 37, Clodoaldo errou um passe de calcanhar para Everaldo na frente da área. Boninsegna interceptou, driblou Brito e Félix (que já tinha saído do gol todo estabanado e sem necessidade), e toca para o gol vazio, empatando a partida.

Aos 45 minutos, Pelé matou uma bola no peito e tocou no canto de Albertosi, mas o árbitro anulou o gol, alegando ter apitado o final do primeiro tempo antes da finalização do camisa 10.

No segundo tempo, o Brasil voltou com tudo, mostrando um futebol exuberante. Logo no início, Carlos Alberto vai à linha de fundo e rola para trás. Pelé, já sem goleiro, dá um carrinho e manda a bola para fora, de dentro da pequena área. Pouco depois, em uma falta em dois lances dentro da área, Gérson acertou a barreira. Do outro lado, Domenghini chutou uma bola na rede pelo lado de fora e a defesa brasileira sofria com a insegurança de Félix nas saídas do gol, em bolas aéreas.

Aos 21 minutos, o lance decisivo. Jairzinho tenta a jogada pelo meio e é desarmado por Facchetti, sua sombra. Gérson dominou, passou por um marcador e disparou de fora da área, no canto esquerdo. Foi seu único gol em Copas, mas fundamental para a caminhada rumo ao título.

O gol desnorteou os italianos, que quatro dias antes tiveram que passar por uma duríssima prorrogação na semifinal contra os alemães. O sol do meio dia também não ajudava. O gás acabou. O Brasil aproveitou o bom momento e passou a dominar as ações.

Três minutos depois, Pelé sofreu uma falta no meio campo, que rendeu dois minutos de discussão e empurra-empurra entre os jogadores. Gérson bateu a falta lançando para a área. Pelé (que já tinha saído de fininho da confusão) ajeitou de cabeça e Jarzinho tentou o domínio. Ele errou, mas seu desvio foi suficiente para tirar a marcação da jogada e empurrar a bola ao gol. Era o sétimo gol de Jair em seis jogos. Ele se tornou o primeiro e único jogador a marcar em todos os seis jogos de uma Copa e ver seu time campeão.

Uma Copa do Mundo recheada de grandes craques e ótimas seleções só poderia terminar com uma obra prima. A consagração definitiva de uma equipe singular veio aos 42 minutos do segundo tempo, no lance descrito no primeiro parágrafo, que contou com a participação de nove jogadores e terminou com uma pancada de Carlos Alberto no gol. Méritos do “espião” Aymoré Moreira, que assistiu a semifinal e orientou Zagallo para a marcação individual exercida pela Azzurra. Se Facchetti estava grudado em Jairzinho no meio, nenhum italiano estava na posição, abrindo espaços para as frequentes subidas ao ataque de Carlos Alberto, culminando com o quarto gol. Placar final: Brasil 4, Itália 1. Brasil, tricampeão do mundo!


Jairzinho, o “Furacão da Copa”, comemora seu gol (Imagem: Pinterest)

Ao fim da partida, a torcida invadiu o gramado e passou a festejar com os atletas. Não só isso: o povo queria um souvenir dos campeões. Levaram camisas, calções, meias e até chuteiras. Tostão ficou apenas de cueca. Rivellino desmaiou em campo e os fãs não desgrudaram dele nem durante o atendimento. Pelé foi carregado usando um sombrero. Até o zagueiro italiano Roberto Rosato, do Milan, correu alucinadamente atrás de uma lembrança. Ficou com a camisa 10 de Pelé.

Coube ao capitão Carlos Alberto Torres, o Capita, repetir o gesto de Bellini (em 1958) e Mauro (em 1962) de erguer a Taça Jules Rimet, que, com essa vitória e o terceiro título mundial, ficou de forma definitiva e eterna no Brasil (até ser roubada e derretida, mas essa é outra história).

Com esse título, Pelé se tornou o primeiro e (até hoje) único jogador tricampeão mundial.

Zagallo foi o primeiro a se sagrar campeão como jogador e treinador. Seria igualado pelo alemão Franz Beckenbauer, com títulos em 1974 (jogador) e 1990 (técnico).

Bom de “chute”, o Presidente da República, o general Emilio Garrastazu Médici deu um palpite certeiro: disse duas horas antes da final que o Brasil venceria a Itália por 4 a 1.

Curiosamente, os placares do primeiro e do último jogo da Seleção Brasileira foi o mesmo: 4 x 1 sobre Tchecoslováquia e Itália.

Com um desempenho irrepreensível, o Brasil venceu todas as suas seis partidas: Tchecoslováquia (4 x 1), Inglaterra (1 x 0), Romênia (3 x 2), Peru (4 x 2), Uruguai (3 x 1) e Itália (4 x 1). Sofreu sete gols e marcou 19. Desses 19, 14 gols foram marcados em contra-ataques. Era uma equipe evoluída, muito além do seu tempo. Tinha um estilo de século XXI em pleno século XX.

Era uma equipe com “cinco camisas 10“, pois toda a linha de frente chegou a usar essa camisa em seus respectivos clubes: Jairzinho no Botafogo, Gérson no São Paulo, Tostão no Cruzeiro, Pelé no Santos e Rivellino no Corinthians. Na seleção, a primazia coube ao Rei Pelé, claro. Mas na época da Copa, Tostão não era mais o 10 do Cruzeiro; ele usava a camisa 8, enquanto o 10 era (também genial) Dirceu Lopes.


(Imagem: Sportsnet)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 X 1 ITÁLIA

 

Data: 21/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 107.412

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Rudi Glöckner (Alemanha Oriental)

 

BRASIL (4-3-3):

ITÁLIA (4-3-3):

1  Félix (G)

1  Enrico Albertosi (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

2  Tarcisio Burgnich

2  Brito

5  Pierluigi Cera

3  Wilson Piazza

8  Roberto Rosato

16 Everaldo

3  Giacinto Facchetti (C)

5  Clodoaldo

10 Mario Bertini

8  Gérson

16 Giancarlo De Sisti

7  Jairzinho

15 Sandro Mazzola

9  Tostão

13 Angelo Domenghini

10 Pelé

20 Roberto Boninsegna

11 Rivellino

11 Luigi Riva

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Ferruccio Valcareggi

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Dino Zoff (G)

22 Leão (G)

17 Lido Vieri (G)

21 Zé Maria

4  Fabrizio Poletti

15 Fontana

6  Ugo Ferrante

14 Baldocchi

7  Comunardo Niccolai

17 Joel Camargo

9  Giorgio Puia

6  Marco Antônio

21 Giuseppe Furino

18 Paulo Cézar Caju

14 Gianni Rivera

13 Roberto

18 Antonio Juliano

20 Dadá Maravilha

22 Pierino Prati

19 Edu

19 Sergio Gori

 

GOLS:

18′ Pelé (BRA)

37′ Roberto Boninsegna (ITA)

66′ Gérson (BRA)

71′ Jairzinho (BRA)

86′ Carlos Alberto Torres (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

Rivellino (BRA)

Tarcisio Burgnich (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

75′ Mario Bertini (ITA) ↓

Antonio Juliano (ITA) ↑

 

84′ Roberto Boninsegna (ITA) ↓

Gianni Rivera (ITA) ↑

 Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 18/06/1978 – Argentina 0 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 18/06/1978 – Argentina 0 x 0 Brasil

“A Batalha de Rosario”


Oscar encara Luque (Imagem localizada no Google)

● Em 1978 a Argentina vivia sob uma ditadura militar, comandada pelo general Jorge Rafael Videla. Assim como em outros países sul-americanos, o futebol era tido como um eficiente meio de propaganda do país ao mundo e uma forma de distração para o povo.

Na segunda partida da segunda fase, Brasil e Argentina se enfrentaram no acanhado estádio Gigante de Arroyito, em busca de uma única vaga na final. A Argentina foi beneficiada pela logística e o Brasil foi prejudicado, pois para disputar as suas sete partidas, o Brasil percorreu 4.659 quilômetros, enquanto a Argentina deslocou-se por apenas 618 quilômetros, entre Buenos Aires e Rosario.

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… 06/06/1978 – Argentina 2 x 1 França

Desde que a delegação brasileira viajou de Mendoza para Rosario, o clima não foi fácil. Na madrugada do jogo, a polícia permitiu que os torcedores locais buzinassem à vontade em frente ao Hotel Libertador, onde os brasileiros estavam hospedados. Ao chegar ao estádio, novo momento de pressão: a torcida argentina formou uma espécie de “corredor polonês” para receber os adversários com pedradas.

O Brasil estava invicto há oito anos contra a Argentina. Rivellino, remanescente da equipe campeã em 1970, continuava machucado. O técnico brasileiro era Cláudio Coutinho, preparador físico em 1970 e supervisor da comissão técnica em 1974. Ele não convocou o meia Falcão, eleito o melhor jogador do Brasileirão de 1978, que teria criticado certas atitudes suas.

A seleção da Argentina festejava o retorno do centroavante Leopoldo Luque, que ficou fora de dois jogos – um deles por causa de uma contusão no braço e outro devido à morte de um irmão em um acidente, no qual seu caminhão bateu e pegou fogo. Com a volta de Luque, Kempes jogou mais recuado.

Curiosamente, a numeração dos jogadores da Argentina foi feita pela ordem alfabética dos sobrenomes, independentemente da posição. Assim, o volante Alonso ficou com a camisa 1, enquanto o goleiro titular Fillol ficou com a de número 5.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.


O Brasil foi escalado em um 4-3-3 defensivo, que se tornava um 4-4-2 com a boa recomposição de Dirceu.

● Na partida que terminou em 0 a 0, a violência ganhou de goleada. Foi um festival sem fim de pontapés, cotoveladas e até cusparadas.

O técnico Coutinho estava ciente da pressão que sua equipe enfrentaria e escalou um time mais forte fisicamente. Chicão e Batista lutavam por todas as bolas. Chicão colou em Kempes e Batista marcou Ardiles, mais rápido. Jorge Mendonça recuava para marcar, mas também dava tranquilidade na armação das jogadas. Dirceu, com um físico privilegiado, fechava pelo meio e avançava pela ponta. Na frente, Gil e Roberto Dinamite ficaram isolados.

Com Toninho Cerezo sentindo dores, o técnico Cláudio Coutinho optou pela valentia e disciplina tática de Chicão, volante do São Paulo. Ele foi escolhido justamente por seu estilo vigoroso de disputar cada lance. Ele foi encarregado de marcar o craque portenho, Mario Kempes. Cumpriu sua função e eclipsou Kempes da partida, mesmo sendo provocado o tempo todo. Provavelmente foi a melhor partida de Chicão em toda sua carreira.

Com dez segundos, Luque acertou um chute sem bola em Batista, já demonstrando o tom bélico que seriam os 90 minutos. Foram seis faltas nos três minutos iniciais. Nos primeiros 12 minutos, 14 faltas. No total, foram 51 infrações, o recorde em uma partida desse Mundial. Intimidado, o árbitro húngaro Károly Palotai fazia vista grossa para as agressões dos argentinos. Assim, nada restava aos brasileiros, a não ser pagar com a mesma moeda.

Por diversas vezes o time argentino certou o árbitro. E tudo foi aceito com naturalidade, exceto pelo capitão Leão, que foi contido por seus colegas ao entrar em atrito com Luque. Leão ficava instigando sua defesa para que acertasse Luque no braço machucado.

Ainda no primeiro tempo, o grandalhão Luque tirou Oscar da jogada com uma cotovelada e cruzou para Galván errar a conclusão. Apesar das entradas duras de Oscar e de Chicão, Luque continuava batendo sem bola e a cada falta que recebia, ele simulava ter sido agredido.

Aos 16 minutos, Gil ganhou na corrida de dois defensores e chutou cruzado, mas Fillol defendeu. Mas a chance mais clara de gol foi desperdiçada. Roberto Dinamite recebeu lançamento, entrou na área e finalizou, mas Fillol defendeu com as pernas. A Argentina teve uma única chance, perdida por Ortiz após cruzamento de Bertoni.

Ainda no primeiro tempo, o técnico Cláudio Coutinho trocou o lesionado Rodrigues Neto por Edinho, na tentativa de fechar melhor os espaços do ponta direita Bertoni. Mas ocorreu o contrário. O zagueiro improvisado na lateral perdeu todos os lances, o que exigia a sempre excelente cobertura de Amaral. Bertoni cuspia tanto que parecia um chafariz.

No fim da primeira etapa, Ardiles torceu o tornozelo e saiu carregado com a ajuda de Toninho, em um raro momento de fair play. No intervalo, foi substituído por Ricardo Villa, que entrou só para bater (e bateu muito).

A partida era tensa, com a marcação prevalecendo. Poucas chances foram criadas. Oscar foi impecável no jogo aéreo, o forte da Argentina (além de valente em todas as disputas). Na direita, Toninho conseguiu conter as firulas de Ortiz e até conseguiu avançar com frequência.

A medida que o jogo foi se aproximando do fim, as pancadas foram diminuindo e o Brasil pôde mostrar seu melhor futebol. Os argentinos estiveram nervosos o tempo todo. Os minutos se passaram sem que a Argentina conseguisse impor seu ritmo. A barulhenta torcida por vezes se calava, vendo a dificuldade de seu time em sair da própria defesa.

Apesar da batalha, no fim, surpreendentemente, os jogadores adversários trocaram camisas e se abraçaram.


Chicão domina a bola no meio de campo, em cena comum na partida (Imagem localizada no Google)

● O resultado de 0 a 0 foi bom para a Argentina, pois o Brasil jogou melhor. Com a igualdade no placar, as duas seleções tinham chances na última rodada, disputada três dias depois.

Na primeira fase, a Seleção Brasileira empatou com a Suécia por 1 a 1 e com a Espanha por 0 a 0; venceu a Áustria por mísero 1 a 0. Já na segunda fase (também disputada em grupos com quatro equipes), venceu o Peru por 3 a 0, empatou sem gols com os anfitriões argentinos e venceu a Polônia por 3 a 1. Na decisão do 3º lugar, o Brasil venceu a Itália por 2 a 1 e foi a única equipe que terminou a Copa invicta. Segundo o técnico Cláudio Coutinho, o Brasil foi o verdadeiro “campeão moral” da Copa.

Por sua vez, a Argentina estreou batendo a Hungria (2 a 1) e a França (2 a 1), além de perder para a Itália por 1 a 0. Na fase seguinte, venceu a Polônia (2 a 0) e empatou com o Brasil (0 a 0). Na última rodada, enquanto os brasileiros venceram os poloneses jogando às 16h45, o jogo dos argentinos contra o Peru começou apenas 17h15. Ou seja, a Argentina sabia que necessitava vencer o adversário por quatro ou mais gols de diferença para chegar à final. Antes da partida, o general Videla e o diplomata dos EUA Henry Kissinger foram ao vestiário peruano ter uma conversa “misteriosa” com os jogadores. Há várias “teorias da conspiração, envolvendo inclusive o Cartel de Cali. Com uma complacência nunca antes vista por parte dos peruanos (inclusive do goleiro Ramón Quiroga, argentino naturalizado), a Argentina goleou por 6 a 0, chegando à final contra a Holanda (que veremos no próximo dia 25/06).


Chicão estapeia Kempes. O craque argentino foi anulado pelo volante brasileiro (Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 0 x 0 BRASIL

 

Data: 18/06/1978

Horário: 19h15 locais

Estádio: Gigante de Arroyito

Público: 37.326

Cidade: Rosario (Argentina)

Árbitro: Károly Palotai (Hungria)

 

ARGENTINA (4-3-3):

BRASIL (4-3-3):

5  Ubaldo Fillol (G)

1  Leão (G)(C)

15 Jorge Olguín

2  Toninho Baiano

7  Luis Galván

3  Oscar

19 Daniel Passarella (C)

4  Amaral

20 Alberto Tarantini

16 Rodrigues Neto

2  Osvaldo Ardiles

21 Chicão

6  Américo Gallego

17 Batista

10 Mario Kempes

19 Jorge Mendonça

4  Daniel Bertoni

18 Gil

14 Leopoldo Luque

20 Roberto Dinamite

16 Oscar Alberto Ortiz

11 Dirceu

 

Técnico: César Luis Menotti

Técnico: Cláudio Coutinho

 

SUPLENTES:

 

 

3  Héctor Baley (G)

12 Carlos (G)

13 Ricardo La Volpe (G)

22 Waldir Peres (G)

18 Rubén Pagnanini

13 Nelinho

11 Daniel Killer

14 Abel Braga

8  Rubén Galván

15 Polozzi

12 Omar Larrosa

6  Edinho

17 Miguel Oviedo

5  Toninho Cerezo

21 José Daniel Valencia

10 Rivellino

1  Norberto Alonso

8  Zico

22 Ricardo Villa

7  Sérgio

9  René Houseman

9  Reinaldo

 

CARTÕES AMARELOS:

Ricardo Villa (ARG)

Chicão (BRA)

Edinho (BRA)

Zico (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

34′ Rodrigues Neto (BRA) ↓

Edinho (BRA)

 

INTERVALO Osvaldo Ardiles (ARG) ↓

Ricardo Villa (ARG)

 

60′ Oscar Alberto Ortiz (ARG) ↓

Norberto Alonso (ARG) ↓

 

67′ Jorge Mendonça (BRA) ↓

Zico (BRA)

Melhores (e piores) momentos da partida:

Jogo completo:

… 16/06/1938 – Itália 2 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 16/06/1938 – Itália 2 x 1 Brasil


Piola passa pela defesa brasileira (Imagem: Pinterest)

● Nenhuma partida é fácil em uma Copa do Mundo. Em 1938, após a vitória na estreia sobre a Polônia por 6 a 5 na prorrogação, o Brasil enfrentou a Tchecoslováquia (vice-campeã da Copa anterior). Após um empate em 1 a 1, foi necessário o jogo desempate, vencido pelos brasileiros por 2 a 1. Nessa segunda partida, o técnico Ademar Pimenta escalou a equipe com nove alterações em relação à anterior. As exceções era o goleiro Walter e o centroavante Leônidas da Silva, que só foi escalado porque Niginho, seu reserva imediato, estava com a documentação irregular junto à FIFA.

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Por ironia do destino, Leônidas (já combalido pelos pontapés do primeiro embate contra os tchecos) se exauriu no jogo seguinte e não pôde jogar a semifinal contra a Itália. Por muito tempo Ademar Pimenta foi acusado de ter poupado Leônidas contra a Itália para resguardá-lo para a final, o que não é verdade, pois ele era imprescindível para todos os jogos.

Sem Leônidas e sem Tim (melhor da segunda partida contra os tchecos), o Brasil perdeu seu encanto e se tornou um time comum. Romeu, que era meia, foi improvisado como centroavante. A linha de frente do Brasil foi formada por Lopes, Luisinho, Romeu, Perácio e Patesko. Esse ataque nunca havia atuado junto.

Campeões em 1934, os italianos renovaram e fortaleceram toda a seleção, especialmente no ataque, com a entrada de Silvio Piola na equipe. Ele foi o melhor jogador da Copa de 1938, na qual anotou cinco gols.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.

O Brasil também atuava no “sistema clássico”, o 2-3-5. Com Romeu improvisado como centroavante, ninguém atuou fixo na área. Por mais que o ataque tenha tido mais mobilidade, pois outro lado, faltou presença física na área adversária.

● O jogo começa com as duas seleções pressionando as defesas contrárias. O Brasil esteve bem no primeiro tempo, com tabelas rápidas e dribles imprevisíveis no ataque, mas sem criar chances claras de gols. Em uma etapa equilibrada, as duas defesas se sobressaiam aos ataques. Mas a situação foi bem diferente no segundo tempo.

Logo aos seis minutos, na primeira vez que conseguiu escapar da marcação, o atacante Piola se antecipou a Domingos da Guia e tocou na esquerda para Gino Colaussi, livre para chutar forte e rasteiro, à esquerda do goleiro Walter e fazer 1 a 0.

A Seleção Brasileira correu atrás do empate, mas aos 15 minutos houve o lance capital da partida. Do meio campo, o árbitro suíço Hans Wüthrich flagrou uma agressão de Domingos sobre Piola dentro da área e assinalou pênalti. O zagueiro brasileiro aproveitou que a bola estava longe da área e, fora do lance, deu um chute no joelho do atacante, revidando as inúmeras provocações feitas pelo italiano. Domingos jura que a partida estava paralisada, mas a verdade é que, naquele momento, a defesa brasileira havia rebatido uma bola para o meio campo e o jogo estava em andamento.

“O jogo estava parado. Piola vinha na corrida e me atingiu com um pontapé, que eu revidei. Admitiria que o juiz fosse rigoroso comigo. Mas não podia prejudicar o time com o jogo parado.” — Domingos da Guia, em sua versão sobre o pênalti.

Domingos da Guia, considerado por muitos como o melhor e mais técnico zagueiro brasileiro da história, cometeu três pênaltis em quatro partidas na Copa de 1938. Neste sobre Piola, Domingos foi irresponsável.

Mesmo com protestos brasileiros, a penalidade foi ratificada. Na hora de bater o pênalti, o italiano Giuseppe Meazza resolveu amarrar melhor o calção, mas acabou rompendo o cordão. Assim, com a mão na cintura para segurar o calção, ele converteu o pênalti, no ângulo direito. Ao comemorar o gol, Meazza levantou os dois braços e deixou o calção cair, em uma cena hilária. Depois do gol, ele finalmente trocou a vestimenta para terminar a partida.

Depois do segundo gol, a Itália se retraiu. No fim da partida, Romeu fez uma bela jogada individual e tocou no canto de Olivieri, para diminuir o marcador. Mas insuficiente para levar o Brasil à sua primeira decisão de Copa.

A Itália chegava em sua segunda final consecutiva, como favorita.


A defesa brasileira rechaça um cruzamento italiano (Imagem: FIFA)

● Horas após o jogo, a Rádio Tupi soltou o furo de reportagem de que a partida seria anulada e disputada novamente, por causa do erro da arbitragem na marcação do pênalti. Mas não era verdade. O médico brasileiro Castello Branco realmente fez uma reclamação formal, mas a verdade é que a FIFA nunca considerou a possibilidade da anulação.

O Brasil estava tão confiante na vitória sobre a Itália, que já havia comprado as passagens aéreas de Marselha para Paris, onde seria a final da Copa. Depois da derrota, por pura raiva, os brasileiros se recusaram a ceder as passagens aos italianos, obrigando-os a fazer essa viagem de trem.

A qualidade técnica dos jogadores brasileiros era bastante apreciada pela torcida e pelos jornais franceses, mas não repercutia bem no resto do mundo. A pecha de “artistas da bola” não era vista como uma coisa boa, pois não resultava em títulos. Assim, o Brasil foi aplaudido pelo bom futebol que demonstrou, mas era criticado por ser frágil tática e psicologicamente. Com excessivas trocas de passes curtos e laterais, o ataque brasileiro era muito lento, permitindo o melhor posicionamento das equipes adversárias. Era um estilo bonito, mas não dava resultados em campo.

A imprensa brasileira também via os defeitos da Seleção. Segundo o jornal Sport Ilustrado, a Itália mereceu vencer, pois tinha jogado melhor e que o Brasil tinha tido “um ataque inoperante e sem energia e uma linha média parada e pouco combatida, salvando-se apenas a defesa”.

Brasil e Itália certamente foram as duas melhores equipes da competição. Pena que se encontraram na semifinal e não na decisão.

A polícia brasileira teve que intervir em algumas capitais, detendo várias pessoas raivosas e frustradas pela derrota para a Itália.

Com Leônidas da Silva de volta, o Brasil fez história na decisão do 3º lugar. Após sair perdendo por 2 a 0, a Seleção virou o placar para 4 a 2 e fez a sua melhor campanha em Copas até então. Essa foi a maior virada do Brasil em uma Copa até hoje.

Leônidas da Silva foi o artilheiro do certame com sete gols, sendo o único brasileiro a marcar gols em todas as partidas que disputou em Copas (fez um gol também em 1934).

Aproveitando-se da popularidade de Leônidas, a Lacta lançou a barra de chocolate “Diamante Negro”, em referência ao apelido que o craque tinha recebido dos uruguaios em 1932.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Martim Silveira e Giuseppe Meazza (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 1 BRASIL

 

Data: 16/06/1938

Horário: 18h00 locais

Estádio: Vélodrome

Público: 33.000

Cidade: Marselha (França)

Árbitro: Hans Wüthrich (Suíça)

 

ITÁLIA (2-3-5):

BRASIL (2-3-5):

Aldo Olivieri (G)

Walter (G)

Alfredo Foni

Domingos da Guia

Pietro Rava

Machado

Pietro Serantoni

Zezé Procópio

Michele Andreolo

Martim Silveira (C)

Ugo Locatelli

Afonsinho

Amedeo Biavati

Lopes

Giuseppe Meazza (C)

Luisinho Mesquita de Oliveira

Silvio Piola

Romeu Pellicciari

Giovanni Ferrari

Perácio

Gino Colaussi

Patesko

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Ademar Pimenta

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Batatais (G)

Carlo Ceresoli (G)

Jaú

Eraldo Monzeglio

Nariz

Bruno Chizzo

Britto

Aldo Donati

Brandão

Renato Olmi

Argemiro

Mario Genta

Roberto

Mario Perazzolo

Niginho

Sergio Bertoni

Leônidas da Silva

Pietro Ferraris

Tim

Pietro Pasinati

Hércules

 

GOLS:

51′ Gino Colaussi (ITA)

60′ Giuseppe Meazza (ITA) (pen)

87′ Romeu Pellicciari (BRA) 

Lances da partida:

… 12/06/2014 – Brasil 3 x 1 Croácia

Três pontos sobre…
… 12/06/2014 – Brasil 3 x 1 Croácia


Jogadores comemoram o terceiro gol brasileiro (Imagem: Jefferson Bernardes)

● Era um momento gigantesco: a primeira partida do Brasil em uma Copa do Mundo em seu território desde o “Maracanazzo“, exatos 63 anos, 10 meses e 26 dias depois. A Seleção começada credenciada como favorita ao hexacampeonato também por ter vencido sem contestações a Copa das Confederações no ano anterior, com direito a 3 a 0 sobre a Espanha na final.

As duas equipes já tinham se enfrentado em uma estreia de Copa, com vitória brasileira em 2006 por 1 a 0, gol de Kaká.

Veja mais:
… 08/07/2014 – Brasil 1 x 7 Alemanha
… 12/07/2014 – Brasil 0 x 3 Holanda

O hino nacional cantado “à capela” por todo estádio tem seus efeitos. Se por um lado emociona, inflama e motiva aos jogadores, por outro lado assusta. Os mais emotivos chegaram a chorar, como Júlio César, Thiago Silva e David Luiz.


O Brasil atuou no sistema 4-2-3-1, mas um pouco diferente do usual. Talvez para surpreender o adversário, os três jogadores de meio atrás de Fred foram escalados fora de sua posição habitual (com Hulk pela direita, Oscar pelo meio e Neymar pela esquerda). Nesta partida, Hulk foi deslocado para a esquerda e apareceu pouco. Oscar jogou aberto pela direita e Neymar circulou pelo meio.


A Croácia também foi escalada no 4-2-3-1, com um meio campo muito técnico e boa recomposição defensiva de toda a equipe.

● O jogo começou com os brasileiros nervosos, perdidos e mal posicionados em campo, principalmente os laterais Daniel Alves e Marcelo. Os primeiros 20 minutos da Copa foram da Croácia, que criou chances desde o início.

Aos 6 minutos, Perišić cruzou da direita e Ivica Olić, sozinho, cabeceia rente à trave do goleiro Júlio César.

A Croácia começou dominando e abriu o placar aos 11 minutos de partida. Olić recebeu lançamento nas costas de Daniel Alves, avançou livre pela esquerda e cruzou rasteiro. Nikica Jelavić erra o chute e a bola bate no pé de Marcelo, que vinha na corrida e acaba desviando para o gol. Foi o primeiro gol contra da história da Seleção Brasileira em Copas do Mundo. Também foi a primeira vez que o primeiro gol de uma edição de Copa foi um gol contra.

O gol permitiu à Croácia jogar mais recuada, dificultando a tentativa de pressão brasileira.

Mas logo o Brasil criaria a primeira chance. Oscar cruzou da direita e a bola passa direto por Fred e Neymar. Pouco depois, Paulinho aparece como homem surpresa e chuta no meio do gol, para a defesa do goleiro croata.

Na sequência, Neymar recebe na direita, invade a área e cruza para trás. A zaga enxadrezada rebateu e Oscar chutou forte de perna esquerda, para uma boa defesa de Pletikosa.

O empate veio aos 29 minutos. Oscar ganha de três marcadores e toca para Neymar, que chuta de fora da área, fraco e torto. Mesmo sem ter pegado bem na bola, ela desvia levemente na zaga e engana o goleiro Pletikosa, morrendo fraca, no cantinho esquerdo dele.

O jogo foi se arrastando de forma difícil para o Brasil até os 26 minutos do segundo tempo, quando Fred recebe na área e desaba sem ser tocado. Só o árbitro japonês Yuichi Nishimura enxergou esse pênalti. Neymar bate mal, à meia altura, no canto direito do goleiro, que chegou a tocar na bola, mas não impediu a virada brasileira.

Pouco depois, Oscar cruza na cabeça de David Luiz, que finaliza por cima.

A Croácia teve um gol anulado logo em seguida, após a arbitragem marcar uma falta duvidosa em cima do goleiro Júlio César.

Já nos acréscimos, Ramires roubou a bola no meio de campo, Oscar avançou sozinho em contra-ataque e chutou da meia-lua, de pé trocado, coroando sua grande atuação nesta partida. Foi o melhor jogo de Oscar pela Seleção Brasileira.


Oscar se livra de três marcadores, no lance do gol de empate (Imagem: UOL)

● Foi uma estreia pouco convincente do Brasil, mas essa tensão era esperada. No fim, valeu pela vitória.

Por mais que Oscar tenha feito uma partida gigante, Neymar foi imprescindível, assumindo a responsabilidade que carregava, como a grande esperança do Brasil na Copa. Ele decidiu com dois gols, que acalmaram um pouco a Seleção e deu tranquilidade para trabalhar mais as jogadas.

A Croácia foi bem em seu setor defensivo. A linha de meio (Modrić, Rakitić e Kovačić) é muito combativa e criativa. Os três homens mais avançados também jogaram bem, inclusive na marcação da saída de bola brasileira. Mas é nítida a falta que fez seu melhor jogador, Mario Mandžukić, que não jogou a estreia por cumprir suspensão por ter sido expulso na última partida das eliminatórias.

Nas demais partidas que disputou, a Croácia goleou Camarões por 4 a 0 e perdeu para o México por 3 a 1, terminando em 3º lugar do grupo A, sem se classificar à próxima fase.


Fred vai ao chão, no lance que originou o pênalti da virada (AP Photo/Thanassis Stavrakis)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 1 CROÁCIA

 

Data: 12/06/2014

Horário: 17h00 locais

Estádio: Arena Corinthians

Público: 62.103

Cidade: São Paulo (Brasil)

Árbitro: Yuichi Nishimura (Japão)

 

BRASIL (4-2-3-1):

CROÁCIA (4-2-3-1):

12 Júlio César (G)

1  Stipe Pletikosa (G)

2 Daniel Alves

11 Darijo Srna (C)

3 Thiago Silva (C)

5  Vedran Ćorluka

4  David Luiz

6  Dejan Lovren

6 Marcelo

2  Šime Vrsaljko

17 Luiz Gustavo

10 Luka Modrić

8  Paulinho

7  Ivan Rakitić

7  Hulk

4  Ivan Perišić

11 Oscar

20 Mateo Kovačić

10 Neymar Jr

18 Ivica Olić

9  Fred

9  Nikica Jelavić

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Niko Kovač

 

SUPLENTES:

 

 

1  Jefferson (G)

23 Danijel Subašić (G)

22 Victor (G)

12 Oliver Zelenika (G)

23 Maicon

3  Danijel Pranjić

15 Henrique

13 Gordon Schildenfeld

13 Dante

21 Domagoj Vida

14 Maxwell

8  Ognjen Vukojević

5  Fernandinho

14 Marcelo Brozović

18 Hernanes

15 Milan Badelj

16 Ramires

19 Sammir

19 Willian

22 Eduardo da Silva

20 Bernard

16 Ante Rebić

21 Jô

17 Mario Mandžukić

 

GOLS:

11′ Marcelo (CRO) (gol contra)

29′ Neymar (BRA)

71′ Neymar (BRA) (pen)

90’+ 1′ Oscar (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

25′ Neymar (BRA)

64′ Vedran Ćorluka (CRO)

73′ Dejan Lovren (CRO)

90′ Luiz Gustavo (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

60′ Mateo Kovačić (CRO) ↓

Marcelo Brozović (CRO) ↑

 

62′ Paulinho (BRA) ↓

Hernanes (BRA) ↑

 

68′ Hulk (BRA) ↓

Bernard (BRA) ↑

 

78′ Nikica Jelavić (CRO) ↓

Ante Rebić (CRO) ↑

 

88′ Neymar (BRA) ↓

Ramires (BRA) ↑

Melhores momentos da partida:

… 07/06/1970 – Brasil 1 x 0 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 07/06/1970 – Brasil 1 x 0 Inglaterra


(Imagem: UOL Esporte)

● A Inglaterra era apontada como favorita por 15 dos 18 técnicos entrevistados pela revista Placar antes da Copa. O English Team chegou ao México com o favoritismo de quem havia vencido a última Copa, em 1966. Trazia a fama de um futebol duro, com uma defesa fechadíssima, muito difícil de ser batida. Tinha uma estratégia bem definida: abusava da inteligência e da técnica de Bobby Charlton; se não desse resultado ou se ele cansasse, apelava para o tradicional “chuveirinho”. Assim, com esse futebol competitivo, venceu a Romênia na estreia por 1 a 0.

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… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra

Para tornar a missão ainda mais difícil para o Brasil, o meia Gérson se lesionou contra a Tchecoslováquia e desfalcou o Brasil. Rivellino foi recuado para o meio e Paulo Cézar Caju entrou na ponta.


Na ausência de Gérson, o Brasil atuou no 4-2-4, com Paulo Cézar voltando um pouco mais para fechar o lado esquerdo.


A Inglaterra jogava em um pioneiro 4-4-2, que lhe valeu o título no Mundial de 1966.

● No primeiro tempo houve muito equilíbrio e poucas chances de gol. Os brasileiros, muito cuidadosos na defesa, permitiram que os ingleses tivessem domínio territorial. Eles marcavam, corriam, criavam, mas… não chutavam a gol.

Já os brasileiros tocavam a bola de pé em pé, sem se desgastar, enquanto os ingleses corriam atrás dela e perdiam o fôlego, o que lhes seria fatal no segundo tempo.

Aos 11 minutos de jogo, ocorreu aquela que é considerada a maior defesa de todas as Copas, uma obra prima completa. O único jogador em campo capaz de um corte em altíssima velocidade pela direita e fazer o cruzamento antes da bola sair era o Furacão Jairzinho. A única pessoa do mundo que poderia cabecear a bola daquele jeito, impulsionando-a com ainda mais força, de cima para baixo, era Pelé. Direcionou o tiro certeiro no chão. Na certa seria gol! Mas não!!! O único goleiro do universo que poderia parar Pelé naquele momento era Gordon Banks. Ele saltou no canto direito e deu um tapa por baixo da bola, colocando-a sobre o travessão. Foi um lance maravilhoso, em todo o contexto.

Aos 15, o ponta direita Francis Lee fez uma falta violenta e desleal em Everaldo.

Pouco depois, o próprio Lee quase marcou de cabeça, mas Félix defendeu bem. Na sequência, o inglês chutou a cabeça do goleiro brasileiro, tentando fazer o gol em uma bola perdida.

Diz a lenda que Carlos Alberto chamou Pelé e disse: “Pega esse cara!” Pelé, precavido, respondeu: “Não dá, eu sou muito visado e o juiz vai me expulsar”. Carlos Alberto resolveu ele mesmo o problema: na primeira bola que Lee pegou, o Capita deixou sua posição, foi até a intermediária e deu um tranco pesado no inglês, que a partir daí sumiu em campo.

(Imagem: FIFA)

● No intervalo, os brasileiros demoraram para voltar, deixando os ingleses “torrando” por cinco minutos em um calor de quase 40º C de Guadalajara.

Na segunda etapa, o talento individual brasileiro fez a diferença, principalmente dos homens de meio de campo, que passaram a apoiar mais o ataque. E aos 15 minutos do segundo tempo, prevaleceu o talento sobre o atleta.

Tostão recebe de Carlos Alberto, tenta o chute e acerta um zagueiro. Ele fica com a sobra, tabela com Paulo Cézar, entra na área, dribla um adversário, é combatido por mais dois, mas gira em torno de si mesmo, livra-se dos três (com direito a bola entre as pernas do capitão Bobby Moore) e, de costas para o gol, dá de curva, de pé direito, para Pelé. Sem olhar para o lado e com um leve e magistral toque, o Rei tira outros dois adversários e deixa Jairzinho cara a cara com Banks. Jair chuta com violência, balança as redes e sacode milhões de brasileiros, definindo a dramática vitória de sua equipe.

Após o gol, faltou uma cabeça pensante e genial como a de Gérson para cadenciar mais o jogo, segurando um pouco a correria dos ingleses. Mas em âmbito geral, Paulo Cézar esteve muito bem em campo e fez um dos melhores (senão o melhor) jogo de sua vida.

Na sequência, o técnico Alf Ramsey abdicou de vez da categoria individual, substituindo Lee e Bobby Charlton (já extenuado, mas o melhor em campo no primeiro tempo). Com a entrada de dois atacantes, os ingleses abdicaram do jogo inteligente e passaram e centrar bolas na área. Mas a defesa brasileira se manteve segura.

Os minutos finais são de apreensão. Aos 38, Félix falha numa saída, mas Bell chuta para fora.

Aos 40, Clodoaldo vira o jogo para a esquerda, mas Banks defende o chute de Roberto.

Aos 42, Félix sai bem do gol, mas não alivia o perigo. Astle não consegue cabecear e Brito afasta de vez. Foi o melhor jogo de Félix na Copa. Brito é outro que merece elogios pela segurança nessa partida.

Veja o gol da partida desde sua origem:

● Esse confronto bem que poderia ser a grande final da Copa, mas os “deuses do futebol” quiseram que protagonizassem esse duelo na segunda rodada da fase de grupos.

Diante de 66.843 expectadores, o clássico entre os dois últimos campeões foi a partida mais tensa, equilibrada e sofria dentre todas disputadas pela Seleção Brasileira em 1970. Foi o único jogo em que o Brasil fez apenas um gol e foi também o único gol que a Inglaterra sofreu na primeira fase (venceu Romênia e Tchecoslováquia, ambas por 1 x 0).

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 INGLATERRA

 

Data: 07/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 66.843

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Abraham Klein (Israel)

 

BRASIL (4-3-3):

INGLATERRA (4-4-2):

1  Félix (G)

1  Gordon Banks (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

14 Tommy Wright

2  Brito

5  Brian Labone

3  Wilson Piazza

6  Bobby Moore (C)

16 Everaldo

3  Terry Cooper

5  Clodoaldo

4  Alan Mullery

11 Rivellino

9  Bobby Charlton

7  Jairzinho

8  Alan Ball

9  Tostão

10 Geoff Hurst

10 Pelé

7  Francis Lee

18 Paulo Cézar Caju

11 Martin Peters

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Alf Ramsey

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Peter Bonetti (G)

22 Leão (G)

13 Alex Stepney (G)

21 Zé Maria

2  Keith Newton

15 Fontana

17 Jack Charlton

14 Baldocchi

18 Norman Hunter

17 Joel Camargo

16 Emlyn Hughes

6  Marco Antônio

15 Nobby Stiles

8  Gérson

19 Colin Bell

13 Roberto

20 Peter Osgood

20 Dadá Maravilha

21 Allan Clarke

19 Edu

22 Jeff Astle

 

GOL: 59′ Jairzinho (BRA)

 

CARTÃO AMARELO: Francis Lee (ING)

 

SUBSTITUIÇÕES:

63′ Bobby Charlton (ING) ↓

Colin Bell (ING) ↑

 

63′ Francis Lee (ING) ↓

Jeff Astle (ING) ↑

 

68′ Tostão (BRA) ↓

Roberto (BRA) ↑

… 06/06/1962 – Brasil 2 x 1 Espanha

Três pontos sobre…
… 06/06/1962 – Brasil 2 x 1 Espanha


Paco Gento e Mauro se cumprimentam antes da partida (Imagem: Pinterest)

● Havia uma dúvida muito grande para o confronto entre Brasil e Espanha: quem seria o substituto de Pelé? O Rei se lesionou aos 27 minutos do primeiro tempo da partida anterior, o empate sem gols contra a Tchecoslováquia três dias antes. Com uma distensão no músculo adutor da coxa esquerda, ele estava definitivamente fora do Mundial.

Várias hipóteses foram aventadas: a entrada de Coutinho, passando Vavá mais para a esquerda; a formação de um quadrado no meio-campo, com Zito, Didi, Mengálvio e Zagallo, ficando Garrincha e Vavá no ataque; ou simplesmente a escalação do reserva imediato de Pelé, o botafoguense Amarildo.

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Sabiamente, o técnico Aymoré Moreira optou pela solução mais natural: a entrada de Amarildo, apelidado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues de “O Possesso”.

A Espanha contava com uma legião estrangeira naturalizada: José Emilio Santamaría, zagueiro uruguaio; Eulogio Martínez, atacante paraguaio; Alfredo Di Stéfano, atacante argentino, que chegou à Copa lesionado e não disputou nenhuma partida; e Ferenc Puskás, atacante húngaro, com experiência anterior na Copa de 1954 pela vice-campeã Hungria. Mas desses, apenas Puskás jogou (e muito bem) contra o Brasil.


O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo


A Espanha jogava em um misto de WM e 4-2-4

● Foi um jogo muito difícil. O Brasil entrou em campo nervoso e com Zagallo recuado além da conta. A Espanha sufocou e saiu na frente aos 35 minutos do primeiro tempo. Adelardo tabela com Puskás e chuta rasteiro antes da chegada de Zito, da meia-lua, no canto direito de Gylmar.

Apesar da boa movimentação de Amarildo, a Seleção sentia falta de Pelé (e quem não sentiria?!). Mas além da disposição e bom futebol de Amarildo, Garrincha também brilhava, infernizando os espanhóis pela ponta direita.

No segundo tempo, as coisas poderiam ter se complicado de vez para o Brasil. O espanhol Enrique Collar driblou Nilton Santos e foi derrubado pelo lateral brasileiro, dentro da área. Experiente e “malandro”, Nilton deu dois passos para frente, indicando ao árbitro chileno Sergio Bustamante que a infração teria ocorrido fora da área. O juiz foi na dele e marcou falta ao invés de pênalti. Entretanto, na cobrança dessa mesma falta, Puskás cruzou, Zózimo errou o tempo de bola e Joaquin Peiró marcou um golaço de bicicleta. Novamente o árbitro beneficiou o Brasil e anulou o gol, alegando não se sabe o quê – não houve impedimento e nem jogo perigoso, pois Peiró estava a um metro e meio de Zózimo.

Reanimado, o Brasil começou a dominar a partida e foi para cima. Aos 27 minutos do segundo tempo, Zito passa para Zagallo, que cruza da esquerda, rasteiro, e Amarildo emenda de primeira, com violência, marcando o gol de empate.

O Brasil virou aos 41 minutos, quando Garrincha fez das suas jogadas individuais pela direita, passou por dois marcadores e cruzou da linha de fundo, na cabeça de Amarildo, que cabeceou bem, sem chances para o goleiro Araquistáin.


Seleção Brasileira campeã da Copa do Mundo de 1962, no Chile (Imagem: UOL Esporte)
Em pé: Djalma Santos, Zito, Gylmar, Zózimo, Nilton Santos e Mauro.
Agachados: Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo.

● Com duas vitórias e um empate, o Brasil estava classificado para as quartas de final em primeiro lugar do grupo 3. Tão importante quanto a classificação, foi o acerto na escalação de Amarildo.

Antes da partida, o técnico da Espanha, o franco-argentino Helenio Herrera, disse que o Brasil ficava muito fraco sem Pelé e chegou a perguntar quem era Amarildo. E “O Possesso” deu seu cartão de visitas a Herrera, anotando os dois gols.

Após a vitória, Pelé se emocionou e entrou de roupa e tudo debaixo do chuveiro para abraçar Amarildo, seu substituto e herói brasileiro na partida. Amarildo teve um “dia de Pelé”.

Se a Espanha vencesse, seria líder do grupo, com 4 pontos e o Brasil poderia ser eliminado (dependendo do resultado entre México x Tchecoslováquia). Como a Espanha perdeu e o México venceu, a Espanha acabou eliminada e em último lugar no grupo, o que impediu que Don Alfredo Di Stefano entrasse em campo em uma Copa do Mundo. A lenda do Real Madrid estava machucado e só poderia disputar a fase seguinte.

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 1 ESPANHA

 

Data: 06/06/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Sousalito

Público: 18.715

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Sergio Bustamante (Chile)

 

BRASIL (4-2-4):

ESPANHA (WM):

1  Gylmar (G)

1  José Araquistáin (G)

2  Djalma Santos

17 Rodri

3  Mauro (C)

7  Luis María Echeberría

5  Zózimo

10 Sígfrid Gràcia

6  Nilton Santos

22 Martí Vergés

4  Zito

13 Pachín

8  Didi

4 Enrique Collar (C)

7  Garrincha

12 Joaquín Peiró

19 Vavá

14 Ferenc Puskás

20 Amarildo

18 Adelardo

21 Zagallo

9 Francisco Gento

 

Técnico: Aymoré Moreira

Técnico: Helenio Herrera

 

SUPLENTES:

 

 

22  Castilho (G)

3  Carmelo (G)

12 Jair Marinho

2  Salvador Sadurní (G)

13 Bellini

8  Jesús Garay

14 Jurandir

11 Feliciano Rivilla

15 Altair

19 José Emilio Santamaría

16 Zequinha

16 Severino Reija

17 Mengálvio

20 Joan Segarra

18 Jair da Costa

5  Luis del Sol

9  Coutinho

15 Eulogio Martínez

10 Pelé

21 Luis Suárez

11 Pepe

6  Alfredo Di Stéfano

 

GOLS:

35′ Adelardo (ESP)

72′ Amarildo (BRA)

86′ Amarildo (BRA) 

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

● Posteriormente, o Brasil venceria a Inglaterra nas quartas de final (3 x 1), o anfitrião Chile nas semifinais (4 x 2) e a Tchecoslováquia na final (3 x 1), se sagrando bicampeão do mundo.

A média de idade do Brasil de 1962, com 30 anos e seis meses é a mais alta de uma seleção campeã mundial. A Itália de 2006 vem em segundo, com 29 anos e dois meses.

A Seleção Brasileira de 1962 foi o campeão que utilizou menos jogadores em uma Copa do Mundo. Foram apenas doze. A única substituição foi justamente Amarildo no lugar de Pelé.

“Em 1962, com a contusão de Pelé, descobriu-se um outro Garrincha. De repente, parou de brincar, ficou sério, compenetrado de que a conquista da Copa dependia dele. Quase sozinho, ganhou a Copa. Fez o que nunca tinha feito. Gols de cabeça, pé esquerdo, folha-seca. E driblou como um endiabrado, endoidando os adversários.” ― Sandro Moreyra, jornalista, botafoguense e amigo do Mané.

… 05/06/1938 – Brasil 6 x 5 Polônia

Três pontos sobre…
… 05/06/1938 – Brasil 6 x 5 Polônia

Seleção Brasileira perfilada (Imagem: FIFA)

● Após os conflitos internos e consequentes frustrações de 1930 (por causa do bairrismo de cariocas e paulistas) e 1934 (por incompatibilidades entre amadores e profissionais), finalmente a Seleção Brasileira pode contar com o que tinha de melhor e ainda teve tempo para se preparar.

Satisfeita com o trabalho do técnico Ademar Pimenta (que treinava o pequeno Madureira-RJ) no Sul-Americano de 1937, a CBD o manteve como técnico para a Copa do ano seguinte. Apesar de bem intencionado, não era muito firme nas decisões e era constante vítima das pressões dos dirigentes dos clubes para escalar esse ou aquele jogador. Mas ele não se atualizava. Criticado publicamente até pelo ponta esquerda Patesko, Ademar não conhecia, por exemplo, o sistema de jogo WM (formação implementada em 1925 pelo inglês Herbert Chapman no Arsenal), trazida para o Brasil pelo húngaro Dori Kürschner, quando veio treinar o Flamengo. O WM consistia em uma linha de três defensores, dois meio campistas recuados e dois mais avançados, além de três atacantes de ofício. O sistema já foi utilizado por algumas seleções naquela Copa e seria bastante utilizado no futuro pelas seleções europeias. O WM propiciava maior ocupação dos espaços do campo. Pimenta, porém, ainda usava o sistema clássico, a “pirâmide”, o 2-3-5.

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Em março de 1938, Pimenta relacionou 34 atletas para os treinamentos iniciais, na cidade mineira de Caxambu. Durante a preparação, ele montou dois times diferentes: o azul (mais leve) e o branco (mais pesado). E para se esquivar das pressões, nunca revelou qual dos dois seria titular. Ao ser questionado qual dos dois times seria titular, ele respondia: “Ou um ou o outro, ou uma mescla dos dois”. Apenas dois craques eram unanimidades: Leônidas da Silva e Domingos da Guia (ambos do Flamengo).

Dentre os cortados antes do embarque, destaque para o centromédio Fausto, do Flamengo (estrela brasileira da Copa de 1930 – que faleceu no ano seguinte, aos 34 anos, vítima de tuberculose); Waldemar de Brito, atacante do Flamengo; Carvalho Leite, atacante do Botafogo (com apenas 26 anos, mas com experiência de ter estado nas duas Copas anteriores); Santa Maria, zagueiro do Fluminense; Oswaldo, goleiro do São Christovam (atual São Cristóvão, clube que revelaria Ronaldo Fenômeno).

Agora profissionais, os atletas tiveram um desentendimento inicial com a CBD sobre os valores que receberiam (diárias, ajuda de custo, salário e “bicho” por vitória e/ou empate), mas logo tudo foi resolvido.

O zagueiro uberabense Nariz, que jogava no Botafogo-RJ, também foi o médico auxiliar do Dr. José Maria Castelo Branco. Nariz, o Dr. Álvaro Lopes Cançado, havia concluído o curso de medicina em 1936, na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Ele e o ponta Luisinho haviam pedido permissão à comissão técnica da Seleção Brasileira para levar suas esposas à França. O treinador aceitou o pedido, o que foi motivo de ciúmes dos demais atletas, que não gostavam do privilégio dos dois jogadores, chamados de “Acadêmicos” (um era médico e o outro advogado).

Apesar de tudo, a Seleção de 1938, ao contrário das anteriores, contava com duas coisas: seus melhores jogadores e a confiança do torcedor. Pela primeira vez acreditava-se, de verdade, que o Brasil poderia voltar da França campeão do mundo.

A travessia do Atlântico foi feita a bordo do navio inglês Arlanza, que custou 150 contos de réis à CBD. Os 18 dias de viagem para a França foram um problema para a seleção. Apesar dos exercícios físicos no convés, os jogadores engordavam. Romeu, o que tinha mais tendência a engordar, saiu do Brasil com 70 kg e chegou na França com 79. A seleção desembarcou em Marselha em 15 de maio, vinte dias antes da estreia na Copa. Teve tempo para se preparar devidamente, como nunca antes tivera.

A Polônia estava em sua primeira Copa do Mundo e os atletas se reuniram apenas uma semana antes do Mundial, devido aos jogos da Liga de futebol local, e chegaram à França a dois dias da estreia, após uma viagem de 36 horas de trem.

O Brasil atuava no sistema clássico, o 2-3-5, com muita fragilidade no sistema defensivo.

A Polônia também atuava no 2-3-5, como era comum na época, mas mais obediente taticamente do que o Brasil.

● No dia do jogo, o jornal “O Globo” anunciava: “Nada deterá o ímpeto do scratch branco!” Claro que se referia ao Brasil, mas… os poloneses também jogavam com camisas brancas. Por força de um sorteio, o Brasil teve que entrar em campo com um estranho uniforme: meias pretas, calção azul-bandeira e camisa num tom azul mais pálido. Foi a única vez que a Seleção Brasileira entrou em campo sem um distintivo no peito.

Aproveitando o campo pesado, consequência da forte chuva que caíra no dia anterior, os poloneses começaram atacando. O Brasil também partiu para o ataque, mostrando o que tinha de melhor: o individualismo, compensando a deficiência tática. O resultado foi um jogo cheio de gols.

Antes de Leônidas abrir o placar, aos 18 minutos, Perácio já havia acertado um de seus famosos petardos no travessão. Mas aos 23 minutos, o desprotegido Domingos foi obrigado a agarrar Wodarz dentro da área. Pênalti convertido por Scherfke, no canto direito do goleiro.

No minuto seguinte, Romeu ampliou. Aos 44, Perácio anotou o primeiro gol de cabeça da história do Brasil em Copas.

No segundo tempo, o gramado, que já era ruim, ficou em estado lastimável com a chuva. Isso privilegiou o estilo de jogo mais pesado dos poloneses, que empataram com dois gols de Ernest “Ezi” Wilimowski. Após parar a chuva, Perácio marcou outro aos 26 e Wilimowski empatou de novo, no penúltimo minuto, forçando a prorrogação. Aí brilhou Leônidas da Silva.

No quinto gol brasileiro, aos três minutos, Leônidas marcou – diz a lenda – sem a chuteira do pé direito, que havia se rompido na costura. O juiz Eklind não teria percebido a irregularidade porque, àquela altura, os jogadores já estavam com os pés e as pernas cheios de barro. Na semana seguinte, um texto na revista parisiense Foot-ball afirmava que o juiz Eklind, ao perceber que Leônidas tirara do pé a chuteira rasgada e dava a impressão de pretender continuar jogando sem ela, havia procedido corretamente ao pedir que o atacante deixasse o campo e calçasse uma nova. Mas não fazia menção ao célebre “gol descalço”. Já o jornal paulista Folha da Manhã foi mais preciso, ao informar que Leônidas descalçara a chuteira “logo após o quinto gol brasileiro”. Essa história nunca foi totalmente confirmada e ficou a lenda do gol descalço.

O persistente Wilimowski ainda marcou o quinto para a Polônia a dois minutos do fim da prorrogação, se tornando até hoje o jogador que mais fez gols sobre a Seleção Brasileira em um único jogo (quatro gols).

Leônidas da Silva disputa bola com a defesa polonesa (Imagem: Daily Mail)

● A Polônia jogou muito bem, mas o Brasil foi melhor e venceu pela primeira vez em uma estreia de Copa. Os dirigentes da CBD anunciaram ainda no vestiário que o bicho seria pago em dobro.

A Copa de 1938 (assim como a de 1934) foi no formato eliminatório, começando direto nas oitavas de final. Ou seja, com a derrota, a Polônia foi eliminada logo na primeira partida, terminando em 11º lugar entre as 15 seleções.

O estilo criativo do futebol brasileiro encantou a crítica, mas não era levado à sério devido a fragilidade de seu sistema defensivo. Segundo a imprensa francesa, os brasileiros jogavam um futebol “mais intuitivo do que inteligente”.

A vitória sobre a Polônia foi o primeiro jogo de Copa do Mundo transmitido por rádio para o Brasil. O narrador pioneiro (ou speaker, como se dizia na época) foi Gagliano Neto, da rede Byington, formada pelas rádios “Clube do Brasil” e “Cruzeiro do Sul”. Gagliano, narrava de forma extremamente patriótica, denegrindo os adversários do Brasil. Foi necessário um telegrama do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, pedindo para ele ser menos parcial. Foi uma aventura. Durante a Copa, Gagliano chegou a narrar em pé, à beira do gramado, no meio da torcida, e até no telhado de uma casa vizinha.

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 6 x 5 POLÔNIA

 

Data: 05/06/1938

Horário: 17h30 locais

Estádio: Meinau

Público: 13.452

Cidade: Estrasburgo (França)

Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)

 

BRASIL (2-3-5):

POLÔNIA (2-3-5):

Batatais (G)

Edward Madejski (G)

Domingos da Guia

Władysław Szczepaniak (C)

Machado

Antoni Gałecki

Zezé Procópio

Wilhelm Góra

Martim Silveira (C)

Erwin Nyc

Afonsinho

Ewald Dytko

Lopes

Ryszard Piec

Romeu Pellicciari

Leonard Piątek

Leônidas da Silva

Fryderyk Scherfke

Perácio

Ernest “EziWilimowski

Hércules

Gerard Wodarz

 

Técnico: Ademar Pimenta

Técnico: Józef Kałuża

 

SUPLENTES:

 

 

Walter (G)

Walter Brom (G)

Jaú

Edmund Giemsa

Nariz

Edmund Twórz

Britto

Kazimierz Lis

Brandão

Wilhelm Piec

Argemiro

Jan Wasiewicz

Roberto

Stanisław Baran

Luisinho Mesquita de Oliveira

Ewald Cebula

Niginho

Bolesław Habowski

Tim

Józef Korbas

Patesko

Antoni Łyko

 

GOLS:

18′ Leônidas da Silva (BRA)

23′ Fryderyk Scherfke (POL) (pen)

25′ Romeu Pellicciari (BRA)

44′ Perácio (BRA)

53′ Ernest Wilimowski (POL)

59′ Ernest Wilimowski (POL)

71′ Perácio (BRA)

89′ Ernest Wilimowski (POL)

93′ Leônidas da Silva (BRA)

104′ Leônidas da Silva (BRA)

118′ Ernest Wilimowski (POL)

Melhores momentos da partida, com todas as limitações de 80 anos atrás:

… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia


(Imagem: Multi Ciência)

● Como quase sempre, o Brasil chegou ao México sob grande desconfiança geral, trocando de treinador a três meses da competição – saiu o jornalista João Saldanha e entrou o inexperiente Zagallo. Com isso, várias “feras” ficaram de fora da convocação, como, por exemplo, Djalma Dias, Zé Carlos e Dirceu Lopes. O ponta-direita Rogério, do Botafogo, titular absoluto de Zagallo, teve que ser cortado por lesão (mas continuou na delegação com o cargo de “olheiro”, observando e analisando jogos dos adversários).

O comando da CBD entendeu que parte do fracasso de 1966 foi por falta de uma preparação física adequada. Por isso, dessa vez, os atletas sofreram bastante nas mãos do preparador físico Admildo Chirol e de seus auxiliares, Cláudio Coutinho e Carlos Alberto Parreira, que colocaram em prática um plano elaborado em conjunto com a Escola de Educação Física do Exército. Foi feito também um cuidadoso programa de treinamento para enfrentar a altitude mexicana. A equipe se concentrou inicialmente em Guanajuato (2.050 metros acima do nível do mar). O Brasil foi o primeiro time a chegar ao México, quase um mês antes do início do torneio. “Fomos os primeiros a chegar e seremos os últimos a ir embora”, dizia Zagallo. Com toda essa preparação, era visível o crescimento do Brasil no segundo tempo de cada jogo.

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… 06/06/1970 – Romênia 2 x 1 Tchecoslováquia

A expressão “grupo de morte” surgiu nessa Copa, para se referir ao grupo formado por Brasil (bicampeão em 1958 e 1962), Inglaterra (campeã em 1966), Tchecoslováquia (vice em 1962) e Romênia (com uma seleção muito técnica).

A Copa de 70 foi a primeira com transmissão ao vivo pela televisão, ainda em preto e branco. Nesse jogo (estreia brasileira no Mundial), às 19h00 do dia 3 de junho de 1970, foi registrado o recorde de audiência de um evento esportivo no Brasil. Todos os canais transmitiam a mesma imagem do jogo entre Brasil e Tchecoslováquia. Seria o equivalente hoje a 100 pontos no Ibope.

Duas revoluções nesse Mundial: além da estreia dos cartões amarelos e vermelhos, foi também a primeira Copa em que foram permitidas até duas substituições durante a partida.

 O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.

Tchecoslováquia jogava entre o 4-3-3 e o 4-2-4.

● Foi um jogo bonito, sem violência, com demonstração de habilidade dos dois lados, dribles, chances criadas (o time tcheco perdeu várias oportunidades) e gols.

Pelé era tido como um mito “velho e acabado” pelos mexicanos. E deu razão a eles quando perdeu um gol feito no começo do jogo: em cruzamento de Rivellino, o Rei chutou para fora, sozinho e sem goleiro. A situação ficaria pior logo depois. Aos 11 minutos de jogo, Brito bateu um impedimento para Clodoaldo, que estava de costas e perdeu a bola. Ladislav Petráš dominou, avançou em velocidade entre Carlos Alberto e Brito, tocando na saída do goleiro Félix. Petráš ajoelhou-se e fez o sinal-da-cruz para agradecer o gol aos céus. Foi um ato político contra o governo comunista (e ateu) de seu país, mas foi também um dos gestos mais lindos da Copa – que depois seria copiado por Jairzinho.

O empate chegou aos 24 minutos. Pelé foi derrubado por Migas na meia-lua. A barreira foi formada por sete tchecos e Jairzinho. Rivelino chutou no rumo de Jairzinho, que saiu da frente e a bola passou no espaço vazio, justo onde ele estaria. Com esse gol, Rivellino ganhou o apelido de “Patada Atômica” da imprensa mexicana.

Aos 15 minutos do segundo tempo, Gérson, o “Canhotinha de Ouro”, faz um lançamento de 40 metros para Pelé, que amacia a bola no peito, escolhe o canto e chuta para o fundo do gol. A Tchecoslováquia partiu com tudo para cima e ofereceu todo o espaço para o Brasil contra-atacar.

Três minutos depois, de novo Gérson de 40 metros, lança Jairzinho, o “Furacão da Copa”, que, sozinho, dá um chapéu no goleiro Viktor, deixa a bola bater no peito e estufa as redes. Foi o gol mais bonito dessa Copa.

Aos 25, Gérson teve uma forte distensão e teve que ser substituído por Paulo Cézar Caju. Sem saber se adiantava o time ou se protegia de tomar mais gols, os tchecos ficaram perdidos em campo.

No fim da partida, aos 38 minutos, configurou-se a goleada. Jairzinho domina na intermediária, dribla Hagara e Horváth, de novo Hagara e chuta cruzado, no canto.

 Jair encobre Viktor, no terceiro gol brasileiro (Imagem: El Universal)

● Apesar do placar elástico, o lance mais marcante da partida foi um “quase gol”. Aos 42 minutos da etapa inicial, percebendo o goleiro adversário adiantado, Pelé arriscou um chute de seu próprio campo, a bola encobriu o goleiro e acabou raspando o travessão, naquele que foi um lance surpreendente, demonstrando toda a genialidade do Rei. Além do mais, não foi contra qualquer goleiro. Ivo Viktor foi o 3º colocado na premiação da Bola de Ouro da Revista France Football em 1976 (a terceira melhor posição de um goleiro no prêmio – Lev Yashin foi o 1º em 1963 e Buffon o 2º em 2006). A transmissão da TV mostrou o desespero de Viktor tentando voltar, enquanto a bola passava a 40 centímetros da trave, em um lance até então inédito em Copas.

A Seleção Brasileira fazia sua estreia de forma arrasadora, dando mostras iniciais da altíssima qualidade de seu futebol naquela Copa.

Mesmo com uma equipe forte, a Tchecoslováquia caiu na fase de grupos, perdendo também os outros dois jogos (2 a 1 para a Romênia e 1 a 0 para a Inglaterra).

 Trio de ataque comemora um dos gols (Imagem: Alchetron)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 03/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 52.897

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Ramón Barreto (Uruguai)

 

BRASIL (4-3-3):

TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):

1  Félix (G)

1  Ivo Viktor (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

2  Karol Dobiaš

2  Brito

3  Václav Migas

3  Wilson Piazza

5  Alexander Horváth (C)

16 Everaldo

4  Vladimír Hagara

5  Clodoaldo

16 Ivan Hrdlička

8  Gérson

9  Ladislav Kuna

7  Jairzinho

18 František Veselý

9  Tostão

8  Ladislav Petráš

10 Pelé

10 Jozef Adamec

11 Rivellino

11 Karol Jokl

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Jozef Marko

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

13 Anton Flešár (G)

22 Leão (G)

22 Alexander Vencel (G)

21 Zé Maria

12 Ján Pivarník

15 Fontana

14 Vladimír Hrivnák

14 Baldocchi

15 Ján Zlocha

17 Joel Camargo

7  Bohumil Veselý

6  Marco Antônio

17 Jaroslav Pollák

18 Paulo Cézar Caju

6  Andrej Kvašňák

13 Roberto

19 Josef Jurkanin

20 Dadá Maravilha

20 Milan Albrecht

19 Edu

21 Ján Čapkovič

 

GOLS:

11′ Ladislav Petráš (TCH)

24′ Rivellino (BRA)

59′ Pelé (BRA)

61′ Jairzinho (BRA)

83′ Jairzinho (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

Tostão (BRA)

Gérson (BRA)

Alexander Horváth (TCH)

 

SUBSTITUIÇÕES:

46′ Ivan Hrdlička (TCH) ↓

Andrej Kvašňák (TCH) ↑

 

62′ Gérson (BRA) ↓

Paulo Cézar Caju (BRA) ↑

 

75′ František Veselý (TCH) ↓

Bohumil Veselý (TCH) ↑

Melhores momentos da partida:

… 30/05/1962 – Brasil 2 x 0 México

Três pontos sobre…
… 30/05/1962 – Brasil 2 x 0 México

Cumprimentos iniciais dos capitães e arbitragem (Imagem: FIFA)

● A Seleção Brasileira era a então campeã do mundo e, por isso, não precisou disputar as eliminatórias, já tendo vaga assegurada na Copa.

A superstição era tão grande que o presidente da CBD, João Havelange, resolveu repetir tudo que havia funcionado quatro anos antes, inclusive o fato de ele próprio não viajar com a equipe. Escolheu novamente como chefe da delegação o “Marechal da Vitória”, Paulo Machado de Carvalho (fundador da Rede Record de Televisão). O próprio Doutor Paulo partilhava dessas ideias e usou o mesmo terno marrom que lhe serviu de amuleto na Suécia. Convidou o mesmo comandante Guilherme Bungner para pilotar a mesma aeronave DC-8 da Panair. Superstição levada ao extremo, tanto que Bungner deixou o cavanhaque crescer para ficar com a mesma cara de 1958.

A imprensa não ficou de fora: depois da vitória contra o México na estreia, a CBD obrigou todos os jornalistas a trabalharem sempre com a roupa daquele primeiro jogo; quem mudasse qualquer peça, era impedido de entrar na tribuna da imprensa.

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Na comissão técnica, duas alterações: a extinção do cargo de psicólogo, já que o Brasil tinha superado o “complexo de vira-lata”. Outra (e mais importante) foi o técnico. Vicente Feola estava enfermo, com problemas cardíacos crônicos, e recebeu um cargo apenas simbólico de supervisor. O treinador escolhido foi Aymoré Moreira, primeiro ex-jogador da Seleção Brasileira a dirigir o país em uma Copa (Aymoré foi goleiro e jogou três partidas pela Seleção na década de 1930).

Foram mantidos 14 jogadores campeões de 1958. A equipe titular tinha a mesma base, com alterações apenas na defesa: Djalma Santos, Mauro e Zózimo entraram no lugar de De Sordi, Bellini e Orlando. Mauro, inclusive, se tornou o capitão, sucedendo Bellini. Se alguns jogadores estavam mais velhos, não menos verdade, se tornaram mais experientes. Novos valores estavam despontando e outros se firmando no cenário mundial, caso específico do Rei Pelé, que estava em seu auge.

 O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo

 O México atuava como quase todos, em um 4-2-4, com seus meias recuando bastante para marcar

● A estreia era aguardada com imensa expectativa. O povo brasileiro esperava uma goleada sobre os mexicanos, como as estreias de 1950 e 1954. Mas não contavam com uma atuação inspiradíssima do goleiro Carbajal, em sua quarta Copa do Mundo (disputaria cinco: 1950, 1954, 1958, 1962 e 1966). Ele fechou a meta no primeiro tempo e o placar zerado foi comemorado por sua equipe no intervalo. Foi uma decepção para os expectadores.

O poderoso ataque com Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo só conseguiu funcionar no segundo tempo, graças a duas jogadas do Rei Pelé. Aos 11 minutos, ele cruza da direita a meia altura e Zagallo mergulha e cabeceia rente ao chão, abrindo o placar. Esperava-se que os mexicanos se lançassem ao ataque em busca do empate, mas eles preferiram continuar jogando na defesa. Assim, somente aos 28 minutos saiu o segundo gol. Pelé domina na direita, passa por dois marcadores com um só toque, ganha dividida contra outro adversário, dribla Cárdenas ao entrar na área e chuta de pé esquerdo, no canto direito do goleiro.

Garrincha dribla, sob olhar atento de Pelé (Imagem: Remezcla)

● Curiosamente, o treino do Brasil antes da primeira partida na Copa teve mais público do que a própria estreia. Como a entrada para os treinamentos era gratuita, cerca de 11 mil pessoas foram ao estádio. Já na vitória por 2 a 0 sobre o México, 10.484 torcedores assistiram ao jogo.

Esse seria o único gol de Pelé na Copa de 1962, pois se lesionou no jogo seguinte, um empate sem gols com a Tchecoslováquia, e sem condições físicas, não voltou a atuar na competição.

Apesar do placar sem sobressaltos, o desempenho gerou dúvidas quanto à possibilidade do bicampeonato.

O Brasil acompanhou esta partida, assim como todas as outras, pelas ondas do rádio. As imagens de televisão só seriam exibidas dois ou três dias depois, em videoteipe, gravados graças aos esforços da Televisa, maior TV do México.

Por fim, o México seria eliminado ainda na fase de grupos, mas com resultados honrosos: derrota para a Espanha por 1 x 0 e vitória contra a futura vice-campeã Tchecoslováquia por 3 x 1. Foi a primeira vitória do México em Copas do Mundo, em 13 jogos (12 derrotas e um empate).

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 0 MÉXICO

 

Data: 30/05/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Sousalito

Público: 10.484

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça)

 

BRASIL (4-2-4):

MÉXICO (4-2-4):

1  Gylmar (G)

1 Antonio Carbajal (G)(C)

2  Djalma Santos

2  Jesús del Muro

3  Mauro (C)

5  Raúl Cárdenas

5  Zózimo

3 Guillermo Sepúlveda

6  Nilton Santos

4  José Villegas

4  Zito

6  Pedro Nájera

8  Didi

8 Salvador Reyes

7  Garrincha

7 Alfredo del Águila

19 Vavá

9  Héctor Hernández

10 Pelé

19 Antonio Jasso

21 Zagallo

11 Isidoro Díaz

 

Técnico: Aymoré Moreira

Técnico: Ignacio Trelles

 

SUPLENTES:

 

 

22  Castilho (G)

12 Jaime Gómez (G)

12 Jair Marinho

22 Antonio Mota (G)

13 Bellini

13 Arturo Chaires

14 Jurandir

15 Ignacio Jáuregui

15 Altair

14 Pedro Romero

16 Zequinha

16 Salvador Farfán

17 Mengálvio

18 Alfredo Hernández

18 Jair da Costa

20 Mario Velarde

9  Coutinho

10 Guillermo Ortiz

20 Amarildo

17 Felipe Ruvalcaba

11 Pepe

21 Alberto Baeza

 

GOLS:

56′ Zagallo (BRA)

73′ Pelé (BRA)

 Reportagem sobre o jogo Brasil x México:

Jogo completo:

… 27/05/1934 – Espanha 3 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Espanha 3 x 1 Brasil


Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: UOL)

● Como veremos no próximo dia 14/07, os cartolas brasileiros não aprenderam a lição. Se em 1930 a discórdia era entre cariocas e paulistas, para a Copa de 1934 a briga foi entre amadores e profissionais. O profissionalismo no futebol nacional foi regulamentado em 1933 e a CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF) era adepta ao amadorismo (atrasada desde sempre…).

Com apenas 17 atletas, o fato é que a Seleção Brasileira foi montada com um “catado” de nove jogadores do Botafogo (único time forte que ainda era filiado a uma liga amadora), reforçado por um ou outro jogador profissional, como Luisinho, Patesko e o jovem Leônidas da Silva. Se o técnico oficial era Luiz Vinhais, quem fez a “convocação”, escalou e mandou em tudo era mesmo o cartola botafoguense Carlito Rocha.

Foram doze dias de viagem no navio Conte de Biancamano, onde os jogadores treinavam no convés do jeito que dava. Ao desembarcar na Itália, os brasileiros não sabiam que enfrentariam uma das melhores seleções do mundo na época. Os espanhóis tinham uma das defesas mais entrosadas da história, com Zamora, Ciriaco e Quincoces, todos do Real Madrid há mais de três anos.

Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Com os jogadores fora de forma e sem inspiração, o Brasil começou mal. Logo nos primeiros minutos, era claro que a Espanha estava melhor no jogo, enquanto os brasileiros dependiam do talento individual de Leônidas e Waldemar de Brito. Porém, a Fúria abriu 3 a 0 antes da primeira meia hora de jogo, com dois gols de Iraragorri e um de Langara, mas acabou sendo beneficiada por um grave erro de arbitragem: Quincoces evitou um gol com o braço em cima da linha quando o Brasil perdia por 1 a 0. Poderia ser o gol de empate, mas a arbitragem não viu.

No segundo tempo, a Espanha tentou segurar e o Brasil foi para cima, diminuindo o prejuízo com Leônidas, aos 11 minutos. Aos 15, Luisinho marcou o segundo, mas o árbitro anulou por impedimento, gerando grande reclamação dos sul-americanos. Dois minutos depois, Waldemar de Brito trombou com Ciriaco na área e o árbitro assinalou pênalti. O próprio Waldemar bateu e Zamora defendeu no canto esquerdo, enterrando de vez as esperanças brasileiras.

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● Ricardo Zamora estava com 33 anos e já era um mito em seu país. Por lá, ele é considerado o maior goleiro do mundo em todos os tempos. Tanto, que o troféu do goleiro menos vazado do Campeonato Espanhol leva seu nome. Reza a lenda que ele tinha um olhar hipnótico, que desconcentrava os batedores de pênaltis. Dizem também que em 1930, o Real Madrid o contratou junto ao Espanyol por uma quantia suficiente para comprar cinco times inteiros.

Ricardo Zamora (Imagem: Alchetron)

Waldemar de Brito ficou marcado como o primeiro jogador a perder um pênalti pela Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo. Ele entraria na história também alguns anos depois, quando era técnico do Bauru Atlético Clube (o Baquinho) em 1954 e descobriu um garoto de 14 anos. Dois anos depois, resolveu levá-lo para o Santos. O garoto era simplesmente Pelé.

Apesar do preço elevado dos ingressos, o público da partida foi considerado excelente. Além disso, as colinas e os telhados das casas nas imediações do Estádio Comunale Marassi também estavam repletos de pessoas.

A Copa de 1934 (assim como a de 1938) foi no formato eliminatório, começando direto nas oitavas de final. Ou seja, com a derrota, o Brasil foi eliminado logo na primeira partida, terminando em 14º lugar entre 16 seleções.

A Espanha foi eliminada na fase seguinte para a anfitriã (e futura campeã) Itália em uma batalha sangrenta de 210 minutos (um jogo com prorrogação e um jogo desempate), com um gol decisivo do mítico Giuseppe Meazza.

FICHA TÉCNICA:

 

ESPANHA 3 X 1 BRASIL

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Comunale Marassi (atual Luigi Ferraris)

Público: 21.000

Cidade: Gênova (Itália)

Árbitro: Alfred Birlem (Alemanha)

 

ESPANHA (2-3-5):

BRASIL (2-3-5):

Ricardo Zamora (G)(C)

Roberto Gomes Pedrosa (G)

Ciriaco Errasti

Sylvio Hoffmann

Jacinto Quincoces

Luís Luz

Leonardo Cilaurren

Tinoco

José Muguerza

Martim
Silveira (C)

Martín Marculeta

Canalli

Ramón de Lafuente

Luisinho Mesquita de Oliveira

José “Chato” Iraragorri

Waldemar de Brito

Isidro Lángara

Leônidas da Silva

Simón Lecue

Armandinho

Guillermo Gorostiza

Patesko

 

Técnico: Amadeo García Salazar

Técnico: Luiz Augusto Vinhais

 

SUPLENTES:

 

 

Juan José Nogués (G)

Germano (G)

Ramón Zabalo

Octacílio

Hilario

Ariel

Pedro Solé

Waldyr

Luis Regueiro

Áttila

Luis Martín

Carvalho Leite

Fede

 

Chacho

 

Campanal

 

Crisanto Bosch

 

Martí Ventolrà

 

 

GOLS:

18′ José Iraragorri (ESP) (pen)

25′ José Iraragorri (ESP)

29′ Isidro Lángara (ESP)

54′ Leônidas da Silva (BRA)

Reportagem da TV Cultura sobre a participação brasileira na Copa de 1934: