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… 15/07/1966 – Hungria 3 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 15/07/1966 – Hungria 3 x 1 Brasil


(Imagem: Pinterest)

● Como já contamos aqui, a preparação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 1966 foi uma bagunça homérica, com 47 jogadores convocados. Após várias bizarrices, o escrete canarinho acabou se tornou uma mescla mal feita entre alguns craques bicampeões nas duas Copas anteriores, com Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Zito, Garrincha e Pelé, além de jogadores que viriam a encantar o mundo em 1970, como Brito, Gérson, Tostão e Jairzinho. Várias unanimidades ficaram fora da lista final, como Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Roberto Dias, Servílio e outros.

Em termos de qualidade, a Hungria não ficava atrás. No qualificatório europeu, terminou com três vitórias e um empate, deixando para trás a Alemanha Oriental e a Áustria. Com esse mesmo time base, havia conquistado a medalha de bronze nas Olimpíadas de Roma, em 1960. Depois, terminou em 3º lugar na Eurocopa de 1964 e ficou com a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Tóquio, também em 1964. Os maiores destaques eram o defensor Kálmán Mészöly, o ponta direita Ferenc Bene e o atacante Flórián Albert, que seria eleito o Bola de Ouro de 1967.

A Hungria perdeu para Portugal por 2 x 1 na primeira partida.

O Brasil começou bem, vencendo uma frágil Bulgária por 2 a 0, na última partida de Pelé e Garrincha juntos pela Seleção. Eles nunca perderam atuando juntos. Foram 40 partidas, com 36 vitórias e quatro empates. Curiosamente os dois gols contra os búlgaros foram em cobranças de falta diretas, um anotado pelo Rei e outro por Mané.


Ambas as equipes jogavam no sistema tático 4-2-4.

● Pelé havia levado tanta pancada no jogo contra a Bulgária, que não teve condições físicas de enfrentar a Hungria. Ele foi substituído por Tostão. No meio, saiu Denílson e entrou Gérson, com Lima recuado para a marcação.

Mesmo sem o Rei, o Brasil começou no ataque e dei um susto no goleiro húngaro logo no pontapé inicial. Tostão e Alcindo Bugre deram a saída de bola e rolaram para Gérson mais atrás. Ele passou para Tostão, que abriu na esquerda para Paulo Henrique, que deu um passe vertical para Jairzinho. O craque arrancou na diagonal da esquerda para o meio, deixou Benő Káposzta no chão e avançou até parar na marcação de Ferenc Sipos. Gérson pegou a sobra, atrasou para Lima, que abriu na direita para Djalma Santos. Ele avançou e devolveu para Lima na intermediária ofensiva. O coringa do Santos dominou e bateu com veneno de muito longe. A bola ia no ângulo, mas o goleiro József Gelei voou para espalmar para escanteio.

Mas na sequência retrucou. János Farkas chutou de longe e Gylmar voou no canto esquerdo baixo para mandar a bola para a linha de fundo.

O início do jogo estava muito acelerado. Ainda no segundo minuto, Ferenc Bene invadiu a área pelo lado direito, deixou Altair sentado, cortou a marcação de Bellini e bateu de perna esquerda no contrapé de Gylmar. Hungria, 1 a 0.

Mas o Brasil empatou aos 14′. Paulo Henrique fez o lançamento e Gyula Rákosi cortou com a mão. Falta da intermediária. Lima bateu forte e rasteira, a bola desviou em Sándor Mátrai e sobrou para Tostão na marca do pênalti. De primeira, o craque do Cruzeiro mandou no ângulo esquerdo. 1 a 1.

O escrete canarinho quase conseguiu a virada. Tostão cruzou da ponta esquerda, a bola passou pelo goleiro Gelei e bateu em Alcindo – que não conseguiu finalizar direito. A bola estava entrando no gol, mas o capitão Sipos tirou em cima da linha e impediu o gol certo.

Não era mesmo o dia de Alcindo. Ainda aos 20′ do primeiro tempo, ele torceu o tornozelo sozinho e se lesionou, perdendo a mobilidade e ficando estático em campo.

No segundo tempo, Flórián Albert abriu na direita e Bene fez o cruzamento para a área. A bola desviou na marcação e sobrou para Farkas. Dentro da área, ele bateu de primeira. A bola saiu à esquerda, mas assustou muito o goleiro Gylmar.

O Brasil escapou de Farkas uma vez, mas não escaparia da segunda. Aos 19′, Bene cruzou para a marca do pênalti e János Farkas emendou de primeira, sem deixar cair. A bola foi no canto esquerdo, sem chances para o goleiro brasileiro. Hungria, 2 a 1.

O gol animou os magiares e desorientou os brasileiros. A Hungria se aproveitou da situação para ampliar.

Aos 28′, Albert arrancou desde a sua intermediária, passou entre Gérson e Lima e abriu na direita para Bene. No bico da grande área, ele deixou Altair no chão e foi derrubado por Paulo Henrique. Kálmán Mészöly bateu o pênalti forte e rasteiro, no canto direito de Gylmar, que nem pulou. Hungria, 3 a 1.


(Imagem: MTI / LVB)

Aos 33′, Albert avançou a bola desde a intermediária até quase a pequena área. Farkas surgiu de trás, pela esquerda, e bateu de pé esquerdo, colocando a bola no ângulo do Gylmar. A defesa brasileira não reclamou, mas o bandeirinha peruano Arturo Yamasaki apontou o impedimento de Bene, fora do lance.

O Brasil tentou correr atrás do prejuízo. Garrincha cobrou falta da direita e Alcindo bateu de primeira, mas a bola foi em cima do goleiro húngaro, que espalmou para escanteio.

Pouco depois, Paulo Henrique cruzou para a área e Gelei mergulhou para segurar.

Mas a Hungria continuava assustando nos contra-ataques. Bene viu a infiltração de Albert e fez o passe. Ele passou fácil pelo lento Bellini. Gylmar saiu mal do gol. Albert finalizou, mas a bola bateu no pé da trave e foi para fora.

Ao contrário do futebol defensivo visto na Copa até então, Brasil e Hungria jogaram para frente o tempo todo. No total, foram 56 ataques dos dois times.

A desilusão dos brasileiros foi enorme quando o árbitro inglês Ken Dagnall apitou o fim do jogo. O Brasil perdeu a sua primeira partida em uma Copa do Mundo desde 1954, quando havia sido derrotado pela mesma Hungria na famigerada Batalha de Berna. Curiosamente, Djalma Santos participou dessas duas partidas contra os magiares.

Ao todo, foram doze anos e treze jogos de invencibilidade em Copas. Foi o início do fim da ex-imbatível Seleção Brasileira.

Foi também o último dos 58 jogos de Garrincha pela Seleção Brasileira e ele só perdeu um: exatamente esse.


(Imagem: Magyarfutball.hu)

● A derrota não estava nos planos da delegação brasileira. O clima entre os jogadores e comissão técnica já era ruim, mas piorou ainda mais. A falta de união e o despreparo psicológico fizeram a situação ficar insustentável.

Para a última rodada, contra Portugal, o técnico Vicente Feola trocou quase todo o time e trouxe de volta Pelé, que estava em péssimas condições físicas. A marcação portuguesa caçou o Rei em campo e o deixou definitivamente fora de combate. Eusébio liderou a seleção lusitana que venceu o Brasil por 3 x 1. Vergonhosamente, a Seleção Brasileira, bicampeã nos dois Mundiais anteriores, estava eliminada na primeira fase da Copa do Mundo de 1966.

A Hungria encerrou sua participação com o segundo lugar do Grupo 3, após vencer a Bulgária por 3 x 1. Nas quartas de final, a Hungria foi eliminada ao perder para a União Soviética por 2 x 1.


(Imagem: Getty Images / Popperfoto)

FICHA TÉCNICA:

 

HUNGRIA 3 x 1 BRASIL

 

Data: 15/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Goodison Park

Público: 51.387

Cidade: Liverpool (Inglaterra)

Árbitro: Ken Dagnall (Inglaterra)

 

HUNGRIA (4-2-4):

BRASIL (4-2-4):

21 József Gelei (G)

1  Gylmar (G)

2  Benő Káposzta

2  Djalma Santos

3  Sándor Mátrai

4  Bellini (C)

5  Kálmán Mészöly

6  Altair

17 Gusztáv Szepesi

8  Paulo Henrique

13 Imre Mathesz

14 Lima

6  Ferenc Sipos (C)

11 Gérson

11 Gyula Rákosi

16 Garrincha

7  Ferenc Bene

18 Alcindo Bugre

9  Flórián Albert

20 Tostão

10 János Farkas

17 Jairzinho

 

Técnico: Lajos Baróti

Técnico: Vicente Feola

 

SUPLENTES:

 

 

1  Antal Szentmihályi (G)

12 Manga (G)

22 István Géczi (G)

3  Fidélis

4  Kálmán Sóvári

5  Brito

18 Kálmán Ihász

7  Orlando

14 István Nagy

9  Rildo

8  Zoltán Varga

13 Denílson

20 Antal Nagy

15 Zito

12 Máté Fenyvesi

22 Edu

15 Dezső Molnár

19 Silva Batuta

19 Lajos Puskás

10 Pelé

16 Lajos Tichy

21 Paraná

 

GOLS:

2′ Ferenc Bene (HUN)

14′ Tostão (BRA)

64′ János Farkas (HUN)

73′ Kálmán Mészöly (HUN) (pen)

Melhores momentos da partida:

… 12/07/1966 – Brasil 2 x 0 Bulgária

Três pontos sobre…
… 12/07/1966 – Brasil 2 x 0 Bulgária


(Imagem: Pinterest)

● No país do futebol, a desordem imperava. Os cartolas estavam convencidos de que o futebol que o Brasil jogava era imbatível. João Havelange, presidente da CBD, foi também o chefe da delegação brasileira na Inglaterra. Ele depôs o antigo dono da função, o Dr. Paulo Machado de Carvalho, por divergências sobre a escolha do técnico da Seleção. Enquanto o Dr. Paulo queria manter Aymoré Moreira, técnico de 1962, Havelange bateu o pé que deveria ser Vicente Feola, treinador em 1958. E Havelange resolveu sozinho.

Feola era mais influenciável e, sem o escudo do Dr. Paulo, o técnico perdeu a autoridade e sofreu pressão para agradar ao máximo os dirigentes dos times brasileiros, com a política de apadrinhamento dos jogadores. Ao todo, foram 47 convocados de quinze clubes diferentes para os treinos preparatórios. Isso mesmo: mais de quatro times completos! Havia tantos jogadores que o Brasil chegou a realizar dois amistosos no mesmo dia, em 08 de junho (vitórias por 3 x 1 sobre Peru e 2 x 1 sobre a Polônia).

Essa convocação foi tão ridícula, que, em certo momento, um dirigente da CBD ponderou que havia pouca gente do Corinthians. Então outro cartola sugeriu o nome do zagueiro Ditão. Mas na hora de datilografar a lista oficial, era necessário o nome completo do jogador e ninguém sabia. Perguntaram a um jornalista que, sem saber o que estava se passando, forneceu o nome de Ditão do Flamengo, que também era zagueiro e era irmão do corintiano. Sem saber o que fazer e para não piorar mais as coisas, a comissão técnica preferiu manter o Ditão do Flamengo mesmo.

A convocação inicial anunciada pela CBD em 10 de maio tinha 45 jogadores: os goleiros Gylmar (Santos), Manga (Botafogo), Valdir de Moraes (Palmeiras), Ubirajara (Bangu) e Fábio (São Paulo); os laterais Djalma Santos (Palmeiras), Fidélis (Bangu), Carlos Alberto Torres (Santos), Murilo (Flamengo), Paulo Henrique (Flamengo), Rildo (Botafogo) e Edson Cegonha (Corinthians); os zagueiros Bellini (São Paulo), Orlando Peçanha (Santos), Altair (Fluminense), Brito (Vasco), Djalma Dias (Palmeiras), Roberto Dias (São Paulo), Fontana (Vasco), Leônidas (América-RJ) e Ditão (Flamengo); os meio-campistas Denílson (Fluminense), Lima (Santos), Gérson (Botafogo), Zito (Santos), Dino Sani (Corinthians), Dudu (Palmeiras), Fefeu (São Paulo) e Oldair (Vasco); e os atacantes Garrincha (Corinthians), Jairzinho (Botafogo), Alcindo (Grêmio), Silva Batuta (Flamengo), Tostão (Cruzeiro), Pelé (Santos), Edu (Santos), Paraná (São Paulo), Servílio (Palmeiras), Flávio Minuano (Corinthians), Ivair (Portuguesa), Paulo Borges (Bangu), Nado (Náutico), Célio (Vasco), Parada (Botafogo) e Rinaldo (Palmeiras).

Posteriormente, esse número inchou ainda mais com dois outros nomes. Pela primeira vez foram convocados jogadores que atuavam no exterior: o ponta direita Jair da Costa, da Inter de Milão, e o ponta de lança Amarildo, do Milan. Ambos estavam no elenco campeão mundial em 1962.

Os atletas foram divididos em quatro times: branco, azul, verde e grená. Mas não havia nenhuma regra. Eles treinavam juntos, mas nos amistosos eram todos misturados. Devido à pouca transparência da comissão técnica, havia uma alta carga de tensão entre os jogadores nos treinos coletivos, pois mais da metade deles seriam cortados às vésperas do Mundial.

A primeira lista de dispensa saiu dia 16 de junho, com 19 nomes. O corte mais criticado foi o do lateral direito Carlos Alberto Torres. Para sua posição, acabaram viajando o veterano Djalma Santos e Fidélis – jogador muito limitado, mas que jogava no Bangu, time do supervisor Carlos Nascimento.

Já na Europa, os últimos cinco cortes aconteceram onze dias antes da estreia: o goleiro Valdir, o zagueiro Fontana, o volante Dino Sani e os atacantes Amarildo e Servílio – sendo que Servílio vinha se mostrando a melhor opção para fazer dupla com Pelé. Zito viajou mesmo lesionado e praticamente sem chances de entrar em campo. “Carlos Alberto e Djalma Dias colocariam no bolso três ou quatro dos preferidos para a inscrição na FIFA”, disse Dino Sani.


(Imagem: Pinterest)

Mas a ordem era clara: a CBD planejava fazer o maior número possível de tricampeões. Gylmar (prestes a completar 36 anos), Djalma Santos (37), Bellini (36), Orlando (31), Zito (quase 34) e Garrincha (quase 33). Aquela geração de craques estava no ocaso de suas carreiras e era preciso renovar. Não foi feito um planejamento para essa transição. Dos bicampeões, só Pelé era mais jovem, com 25 anos. Em compensação, craques inexperientes faziam o contrapeso aos mais idosos. Tostão tinha 19 anos e Edu, ponta esquerda do Santos, tinha 16 – ele é até hoje o mais jovem a ser convocado pela Seleção Brasileira para uma Copa do Mundo, mas não chegou a entrar em campo na Inglaterra.

Se a preparação para 1958 e 1962 foi pautada pelo sossego de cidades aconchegantes, em 1966 foi completamente ao contrário. A Seleção que seria tricampeã precisava ser exibida e treinou em oito cidades diferentes: Lambari, Caxambu, Três Rios, Teresópolis, Niterói, Amparo, Campinas e Serra Negra. Depois disso, ainda fez amistosos em um tour de duas semanas na Europa.

Outra das principais críticas se devia à preparação física. Rudolf Hermanny era responsável, mas não tinha nenhuma experiência no futebol. Seu foco e conhecimento era o condicionamento de atletas de judô, o que acabou comprometendo a equipe brasileira. Com a metodologia de Hermanny, os jogadores ficavam desgastados mais rapidamente e sem fôlego ainda no primeiro tempo.

Soberba, a imprensa brasileira ignorava os problemas. Até que no dia 07 de julho, o jornal gaúcho Correio do Povo publicou reportagens bastante pessimistas sobre o destino da Seleção na Copa, alertando para a presença de jogadores sem preparo físico ou psicológico para a disputa de um Mundial. “Se os brasileiros encararem a realidade, vão perceber que o tricampeonato só virá por milagre”, disse Ernesto Santos, um dos grandes estudiosos de futebol da história do país e olheiro da Seleção.

Antes da Copa, um jornalista disse a Pelé que os Beatles adoravam futebol e queriam fazer um show exclusivo para os jogadores brasileiros. Pelé foi conversar com Feola e Nascimento, mas o supervisor técnico foi logo negando: “O que, aqueles garotos cabeludos? Olha, vocês, rapazes, estão aqui para jogar futebol, não para ouvir rock n’roll. Não vou permitir”.


Ambas as equipes jogavam no sistema 4-2-4.

● Os onze jogadores que entraram em campo naquele dia, no estádio Goodson Park, nunca haviam jogado juntos. Jairzinho nunca tinha jogado na ponta esquerda e ocupava essa posição, para Garrincha se manter na ponta direita. A faixa de capitão foi devolvida a Bellini. Mas a principal mudança era tática. Nas duas Copas anteriores, a Seleção se acostumou com o recuo voluntário do ponta esquerda Zagallo para auxiliar na marcação. Mas agora, o Brasil jogava com quatro atacantes de ofício, sobrecarregando o trabalho de Denílson, único volante marcador. O coringa Lima era coadjuvante no grande time do Santos, mas não tinha características de ser o cérebro do time, como foi escalado para ser diante da Bulgária.

Garrincha estava em um declínio físico acentuado e era titular apenas pelo nome. Para a comissão técnica brasileira, os adversários seriam levados a acreditar que precisariam de dois ou três para marcá-lo, abrindo espaço para os demais atacantes.

Depois da contusão que o tirou da maior parte da Copa de 1962, Pelé estava disposto a mostrar que ainda era o “Rei do Futebol”.

O técnico da Bulgária era o austríaco-tcheco Rudolf Vytlačil, que havia conduzido a Tchecoslováquia ao vice-campeonato em 1962. Ele sabia que não poderia das espaços para o Brasil. Por isso, ele entrou com um time mais defensivo e agressivo na marcação – no pior sentido da palavra. Desde o primeiro minuto ele deixou claro que seu time faria de tudo para afastar Pelé da área.

Aos 14′, Jairzinho dominou na ponta esquerda e tocou para o Rei, que foi derrubado por Dimitar Yakimov na meia-lua. Essa era a quarta falta dos búlgaros, sendo a terceira em Pelé. Ele mesmo ajeitou a bola e aproveitou uma barreira mal formada, com apenas quatro homens, e bateu a falta com força, rasteiro e no canto direito. O goleiro Georgi Naydenov tocou na bola, mas não conseguiu impedir o gol.

Com esse tento, Pelé se tornou o primeiro jogador a marcar gols em três edições de Copa. Oito dias depois, esse feito seria igualado pelo alemão Uwe Seeler.

Foi o primeiro gol da Copa, já que o jogo de abertura entre Inglaterra e Uruguai havia terminado 0 x 0.

O lance deu a falsa impressão de que o Brasil ganharia com facilidade, mas não foi o que aconteceu. O Brasil até criou algumas oportunidades, mas nenhuma tão clara o suficiente para passar algum susto em Naydenov.

Pelé fez ótima jogada pela ponta esquerda, passou como quis por dois marcadores, mas cruzou em cima do arqueiro búlgaro.

Djalma Santos fez o lançamento para o meio, Lima escorou de cabeça e Alcindo, já dentro da área, dominou errado e não conseguiu finalizar.

Logo depois, uma bela tabela entre Dimitar Yakimov e Ivan Kolev é interrompida por um desarme primordial de Denílson.


(Imagem: Efemérides do Efémello)

Pelé cansou de tanto apanhar e entrou com as travas da chuteira sobre Ivan Vutsov. Era lance para expulsão, mas o árbitro alemão Kurt Tschenscher era mesmo um bananão.

Jairzinho tabelou com Pelé, se infiltrou pelo meio da área e bateu cruzado, mas Naydenov defendeu bem.

Mas, no segundo tempo, Dobromir Zhechev deu uma entrada criminosa em Pelé, que o fez ficar fora da partida seguinte, diante da Hungria.

Lima tocou para Alcindo no meio. O Bugre tabelou com Pelé, que devolveu por cima da defesa. O centroavante recebeu batendo, mas Naydenov fez a defesa.

O goleiro Gylmar não precisou fazer nenhuma defesa durante os noventa minutos.

A única chance búlgara foi uma bola recuada de cabeça por Bellini, que escapou das mãos do goleiro brasileiro. Mas o perigoso Georgi Asparuhov não teve paciência para encontrar o melhor ângulo para o chute e finalizou para fora.

Mesmo marcado por três jogadores, Pelé fez boa jogada próximo à meia-lua e a bola sobrou para Alcindo chutar para fora.

O segundo gol do Brasil também saiu de uma bola parada, mostrando que o time não estava tão bem.

Garrincha foi derrubado por trás perto da área, naquela que foi a 17ª falta cometida pelos búlgaros até então. Ele mesmo bateu de trivela e acertou uma bomba, com curva, no ângulo esquerdo do goleiro búlgaro. Seria seu último gol com a camisa canarinho.

Garrincha ainda tinha seus pequenos lances de brilho, mas claramente já não era nem sombra do jogador de quatro anos antes, no Chile. Seus problemáticos joelhos já não permitiam a tradicional arrancada rumo à linha de fundo. Ele acabou por fazer pouco, além do gol.

Próximo ao fim da partida, Pelé recebeu lançamento na intermediária, ele avançou em velocidade, se livrou da marcação e bateu firme, mas Naydenov fez uma defesa sensacional.


(Imagem: Efemérides do Efémello)

● Ninguém poderia prever, mas essa foi a última vez em que Pelé e Garrincha jogariam juntos pela Seleção Brasileira. Coincidentemente, a primeira vez em que eles atuaram junto também foi diante da Bulgária, com vitória por 3 x 0 no estádio Pacaembu, no dia 18/05/1958, em amistoso preparatório para a Copa do Mundo de 1958.

Em 40 partidas, a Seleção Brasileira nunca perdeu com Pelé e Garrincha jogando juntos. Foram 40 jogos, com 36 vitórias e quatro empates. Juntos, eles marcaram 55 gols: 44 de Pelé e 11 de Garrincha. E, mesmo sem Pelé, Garrincha só perderia aquele que seria seu último jogo oficial pela Seleção: a partida seguinte, a derrota por 3 x 1 para a Hungria. Foram 60 jogos de Mané pelo escrete canarinho, com 52 vitórias, sete empates e só essa derrota.

O Brasil se preocupou mais com seu passado do que com a competição que estava por vir. Convocou vários ex-campeões, mas, ao invés de estarem respeitando a história desses craques, os expunham a condições que seus físicos já não mais suportavam. Faltou a humildade e o planejamento que sobrou nas duas Copas anteriores.

As partidas seguintes eram as mais difíceis do grupo e iriam mostrar as deficiências do time de Vicente Ítalo Feola. Foram duas derrotas por 3 x 1, para Hungria e Portugal, respectivamente.

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 0 BULGÁRIA

 

Data: 12/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Goodison Park

Público: 47.308

Cidade: Liverpool (Inglaterra)

Árbitro: Kurt Tschenscher (Alemanha Ocidental)

 

BRASIL (4-2-4):

BULGÁRIA (4-2-4):

1  Gylmar (G)

1  Georgi Naydenov (G)

2  Djalma Santos

2  Aleksandar Shalamanov

4  Bellini (C)

5  Dimitar Penev

6  Altair

3  Ivan Vutsov

8  Paulo Henrique

4  Boris Gaganelov

13 Denílson

6 Dobromir Zhechev

14 Lima

8  Stoyan Kitov

16  Garrincha

7  Dinko Dermendzhiev

18 Alcindo Bugre

9  Georgi Asparuhov

10 Pelé

13 Dimitar Yakimov

17 Jairzinho

11 Ivan Kolev

 

Técnico: Vicente Feola

Técnico: Rudolf Vytlačil

 

SUPLENTES:

 

 

12 Manga (G)

21 Simeon Simeonov (G)

3  Fidélis

22 Ivan Deyanov (G)

5  Brito

18 Evgeni Yanchovski

7  Orlando

19 Vidin Apostolov

9  Rildo

20 Ivan Davidov

15 Zito

12 Vasil Metodiev

11 Gérson

15 Dimitar Largov

22 Edu

17 Stefan Abadzhiev

19 Silva Batuta

10  Petar Zhekov

20 Tostão

14 Nikola Kotkov

21 Paraná

16 Aleksandar Kostov

 

GOLS:

15′ Pelé (BRA)

63′ Garrincha (BRA)

 

ADVERTÊNCIAS:

Dobromir Zhechev (BUL)

Ivan Kolev (BUL)

Denílson (BRA)

Gols e alguns lances da partida:

Lances da partida e comentários do ex-jogador Lima:

… 50 anos do Tri

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… 50 anos do Tri


(Imagem: CBF)

Considerada a melhor Copa do Mundo em todos os tempos, só poderia ter sido vencida pela melhor Seleção de todos os tempos. E foi!

E exatamente hoje essa conquista completa meio século.

Um esquadrão formado por cinco “camisas 10” (Jairzinho, Gérson, Tostão, Pelé e Rivellino), um ótimo volante (Clodoaldo), um dos melhores laterais direitos da história (Carlos Alberto), uma dupla de zaga que se completava com raça e técnica (Brito e Piazza), um goleiro e um lateral esquerdo que cumpriram bem suas funções (Félix e Everaldo).

Relembre em nossas matérias como foi a conquista definitiva da Taça Jules Rimet, passo a passo.

… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia (1ª rodada do Grupo 4)
… 07/06/1970 – Brasil 1 x 0 Inglaterra (2ª rodada do Grupo 4)
… 10/06/1970 – Brasil 3 x 2 Romênia (3ª rodada do Grupo 4)
… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru (Quartas de final)
… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai (Semifinal)
… 21/06/1970 – Brasil 4 x 1 Itália (Final)

Veja nossas matérias sobre outras partidas e alguns personagens importantes da Copa de 1970:

… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental (Semifinal)
… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra (Quartas de final)
… 02/06/1970 – Peru 3 x 2 Bulgária (1ª rodada do Grupo 4)
… 06/06/1970 – Romênia 2 x 1 Tchecoslováquia (2ª rodada do Grupo 3)

… Rei Pelé: primeiro e único! (Coletânea de matérias sobre Pelé)
… Carlos Alberto Torres: o eterno Capitão
… Roberto Rivellino, a Patada Atômica
… Dadá Maravilha: goleador, filósofo e campeão
… Tospericargerja: uma homenagem sem igual
… Gigi Riva: o “Estouro do Trovão”

… Ladislao Mazurkiewicz: muito mais do que um drible de Pelé
… Gerd Müller: o maior bombardeiro alemão (Artilheiro da Copa)
… Uwe Seeler: o professor dos centroavantes alemães
… Ladislav Petráš

… 19/06/1958 – Brasil 1 x 0 País de Gales

Três pontos sobre…
… 19/06/1958 – Brasil 1 x 0 País de Gales


(Imagem: CBF / Baú do Futebol)

● Na fase de grupos, a Seleção Brasileira bateu a Áustria por 3 a 0 e empatou sem gols com a Inglaterra (no primeiro 0 x 0 da história das Copas, depois de 116 jogos). Na partida derradeira, o Brasil enfrentou o futebol científico da União Soviética, na estreia de Zito, Garrincha e Pelé. Após começar o jogo com tudo e venceu por 2 a 0, com dois gols de Vavá. Seu adversário nas quartas de final era a seleção do País de Gales.

Gales é um principado e não uma nação autônoma. Fica na ilha da Grã-Bretanha e faz parte do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Não participa dos Jogos Olímpicos como país independente, mas possui seleção própria no futebol (e em alguns poucos outros esportes) pela sua importância histórica. Foi um dos responsáveis por solidificar o futebol no século XIX e até hoje faz parte do IFAB – International Football Association Board, instituição responsável pelos regras do futebol.

Os britânicos estavam longe de serem uma potência no futebol. Conseguiram a classificação para a única Copa de sua história porque a Indonésia, o Egito e o Sudão (todos de maioria muçulmana) se negaram a jogar conta Israel e foram desclassificados. Assim, para que os israelenses não se qualificassem para o Mundial sem jogar as eliminatórias, foi feito um sorteio para definir qual país europeu disputaria a repescagem da zona asiática, dentre os segundos colocados em cada chave. Os galeses tiveram essa sorte, depois de terem ficado em segundo lugar no Grupo 4 das eliminatórias europeias, atrás da Tchecoslováquia e à frente da Alemanha Oriental. Foram duas vitórias fáceis e sonolentas sobre Israel, ambas por 2 x 0 – primeiro em Tel Aviv e depois em Cardiff.

Pela primeira e única vez, as quatro seleções britânicas disputaram uma Copa do Mundo: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Apenas galeses e norte-irlandeses se classificaram para a segunda fase.


(Imagem: Ultrajano)

● Os dois times jogaram desfalcados de seus centroavantes. O Brasil estava sem Vavá, que sofreu um profundo corte na canela na jogada do segundo gol contra a União Soviética. Mazzola ganhou nova chance no time titular.

Na primeira fase, os britânicos empataram as três partidas: 1 x 1 com a Hungria, 1 x 1 com o México e 0 x 0 com a Suécia. No jogo desempate, bateu a Hungria por 2 x 1.

Esse era o terceiro jogo de Gales em cinco dias. Havia jogado no domingo (contra os suecos), na terça (contra os húngaros) e agora jogava na quinta contra o Brasil. O escrete canarinho teve todos esses dias para descansar e chegava mais inteiro.

Gales não tinha sua estrela, seu melhor jogador, o grandalhão John Charles, que se machucou no estafante jogo-extra contra a Hungria. Relatos afirmam que ele foi derrubado pelos húngaros por mais de vinte vezes. Além dele, vários jogadores galeses jogaram reclamando de dores musculares.


O Brasil atuava em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo. Mazzolla era mais técnico que Vavá (mais brigador).


O País de gales jogava no sistema WM.

● O Brasil era amplamente favorito. O País de Gales era um equipe modesta, mas bem consciente de suas limitações e que sabia usar suas armas. O técnico Jimmy Murphy armou seu time de forma bem fechada, com marcação individual – especialmente em Garrincha, Pelé e Didi. Sem John Charles, os galeses não tinham tanto poder na bola aérea e, portanto, não tinha mais sua única estratégia de ataque. O negócio foi fechar o time todo na defesa e deixar apenas Colin Webster na frente – o substituto de Charles.

Com isso, a partida teve apenas um roteiro durante os noventa minutos: um duro duelo entre o ataque brasileiro e a defesa galesa. A bem da verdade, os britânicos se defendiam em bloco e se seguraram muito bem, dificultando muito o trabalho da linha de frente do escrete canarinho.

Bem marcados, os craques pouco podiam fazer. E, quando conseguiam chegar na área, paravam no goleiro Jack Kelsey, do Arsenal. Ele era o grande destaque individual da partida, responsável por grandes defesas e por fazer muita cera. Os beques Stuart Williams, Mel Charles e Mel Hopkins faziam marcação agressiva e chegaram a salvar lances em cima da linha de gol. Contaram com a sorte em um lance que Mazzola cabeceou e a bola bateu na trave, na linha de gol e não entrou.

Em compensação, Gylmar não tinha feito nenhuma defesa e havia recebido apenas duas bolas recuadas pelos zagueiros.

O primeiro tempo terminou 0 a 0. No intervalo, Vicente Feola fez uma preleção de acordar o time, que voltou mais vivo do vestiário.

Garrincha entrou na área, driblou um adversário cortando para a direita e bateu forte. Mesmo a queima-roupa, Kelsey espalmou para cima.

Em uma rara ocasião, o ponta direita Terry Medwin cortou Nilton Santos e chutou, mas Gylmar encaixou sem dificuldades.


(Imagem: AFP / FIFA)

O empate sem gols castigava a atuação brasileira e os 25.923 expectadores presentes no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo.

Mas a retranca foi furada aos 28 minutos do segundo tempo, quando já começavam os sinais de nervosismo.

Da direita, Mazzola levantou a bola de bicicleta para a linha da grande área. Didi veio na corrida e escorou de cabeça. Pelé dominou dentro da área e, de costas para o gol, tocou com o pé direito para tirar Mel Charles da jogada, deixou a bola quicar e finalizou de pé direito antes da chegada de Williams na cobertura. A rapidez de raciocínio e da finalização de Pelé pegou de surpresa o goleiro Kelsey, que nem foi na bola.

Um golaço. Pelé não poderia entrar para a história com um gol qualquer. Foi o primeiro de seus doze gols em Copas do Mundo. Era o início do reinado de um menino negro de apenas 17 anos de idade.

Depois do gol, Pelé foi buscar a bola dentro do gol galês com a intenção de gastar algum tempo. Segundo ele, o jogo estava “muito difícil naquele momento”. Mas Garrincha, Didi e Zagallo não quiseram saber de mais nada e pularam em cima dele para comemorar, se amontoando dentro do gol mesmo. A cena propiciou uma das mais belas fotos do Mundial de 1958.

Os galeses perderam o ânimo totalmente, até porque sabiam que não tinham poder de fogo para empatar a partida. Assim, surgiram outras chances para a Seleção Brasileira ampliar. Aos 36′, Mazzola fez um lindo gol de bicicleta, estranhamento anulado pelo árbitro austríaco Fritz Seipelt por jogo perigoso, apesar de nenhum galês estar por perto.

O Brasil estava classificado para a semifinal da Copa do Mundo.


(Imagem: O Globo)

● O goleiro Gylmar continuava invicto, sem sofrer gols na competição.

Didi foi considerado o melhor em campo, mas todos os olhares e aplausos eram para Pelé. Ele é até hoje o jogador mais jovem a marcar gol em Copas, com 17 anos e 239 dias.

No fim do ano 2000, esse gol de Pelé foi eleito por um júri da revista Placar como o gol mais importante do futebol brasileiro no século XX.

O presidente da República, Juscelino Kubitschek, convidou o Sr. Amaro, pai de Garrincha, para ouvirem o jogo juntos pelo rádio no palácio do Catete. Quando saiu o gol de Pelé, o desbocado Amaro queria soltar um palavrão, mas se conteve na frente de pessoas tão importantes e desconhecidas. Mas JK foi mais espontâneo e disse o palavrão por ele.

No fim da partida, a seleção rumaria a Estocolmo para as semifinais. Mas, antes de partir, soube cativar o povo de Gotemburgo: Bellini comandou uma volta olímpica com os jogadores carregando a bandeira sueca.

No estádio Råsunda, o Brasil ainda venceria a França na semifinal por 5 x 2. Na decisão, venceria a Suécia, dona da casa, pelo mesmo placar de 5 x 2 e se consagraria o legítimo campeão da Copa do Mundo de 1958.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 PAÍS DE GALES

 

Data: 19/06/1958

Horário: 19h00 locais

Estádio: Nya Ullevi

Público: 25.923

Cidade: Gotemburgo (Suécia)

Árbitro: Fritz Seipelt (Áustria)

 

BRASIL (4-2-4):

PAÍS DE GALES (WM):

3  Gylmar (G)

1  Jack Kelsey (G)

4  Djalma Santos

2  Stuart Williams

2  Bellini (C)

5  Mel Charles

15 Orlando

3  Mel Hopkins

12 Nilton Santos

4  Derrick Sullivan

19 Zito

6  Dave Bowen

6  Didi

7  Terry Medwin

11 Garrincha

8  Ron Hewitt

18 Mazzola

19 Colin Webster

10 Pelé

10 Ivor Allchurch

7  Zagallo

11 Cliff Jones

 

Técnico: Vicente Feola

Técnico: Jimmy Murphy

 

SUPLENTES:

 

 

1  Castilho (G)

12 Ken Jones (G)

14 De Sordi

13 Graham Vearncombe (G)

16 Mauro

14 Trevor Edwards

9  Zózimo

20 John Elsworthy

8  Oreco

15 Colin Baker

5  Dino Sani

16 Vic Crowe

13 Moacir

21 Len Allchurch

17 Joel

17 Ken Leek

20 Vavá

18 Roy Vernon

21 Dida

22 George Baker

22 Pepe

9  John Charles

 

GOL: 73′ Pelé (BRA)

Chute de Garrincha e gol de Pelé:

Gol de Pelé e gol (mal) anulado de Mazzola, de bicicleta:

… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai

Três pontos sobre…
… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai


(Imagem: Pinterest)

● As históricas semifinais reuniam quatro dos cinco campeões mundiais de então. Apenas a Inglaterra parou nas quartas de final. Brasil, Uruguai e Itália tinham dois títulos cada, enquanto a Alemanha Ocidental tinha um. O destino definitivo da Taça Jules Rimet nunca esteve tão perto.

Ninguém no Brasil ficou feliz com a ideia de enfrentar o Uruguai nas semifinais. Era impossível evitar a carga dramática do fato ocorrido vinte anos antes. Bem lá no fundo, havia o medo de um novo Maracanazzo. Os uruguaios faziam o possível para criar um clima de tensão esbanjavam confiança. Uma manchete de um jornal do país estampava: “Uruguay 3050 – 70″, fazendo referência aos títulos mundiais conquistados em 1930 e 1950 e já considerando uma eventual conquista em 1970.

Conforme a tabela do Mundial, a partida entre os vizinhos sul-americanos estava prevista para ocorrer no estádio Azteca, na Cidade do México – onde o Uruguai havia enfrentado a União Soviética três dias antes. Porém, a organização do torneio inverteu as sedes das semifinais, passando esse jogo para o estádio Jalisco, em Guadalajara. O duelo entre Itália e Alemanha, que seria disputado em Guadalajara, foi transferido para o estádio Azteca. Essa troca favoreceu muito o Brasil, que havia jogado no Jalisco as quatro partidas anteriores, já estava adaptado, nem precisou viajar e tinha grande apoio do público local. O Uruguai foi prejudicado e reclamou bastante, pois havia disputado uma duríssima e cansativa prorrogação contra os soviéticos e ainda teve que viajar quase 600 km.


O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.
A Seleção Brasileira contava com um time muito mais vistoso e competente no ataque. Até então, havia marcado doze gols em quatro partidas, enquanto a Celeste tinha anotado apenas três tentos na mesma quantidade de jogos.


O Uruguai jogava no sistema 4-3-3. Sentiu muita falta do seu capitão Pedro Rocha, lesionado logo na primeira partida, na vitória por 2 x 0 sobre Israel.
Uma ausência entre os 22 convocados foi o lateral direito Pablo Forlán. Em abril de 1970, o São Paulo FC ofereceu US$ 80 mil ao Peñarol pelo passe do jogador, mas condicionou que ele se apresentasse imediatamente. Forlán receberia US$ 30 mil na negociação e concordou com a negociação, mesmo ficando fora do Mundial.

● Foi só o juiz apitar o início da partida que os uruguaios passaram a fechar a frente de sua área e deixar somente Luis Cubilla na frente. E foi justamente ele quem abriu o placar aos 19 minutos de jogo.

A defesa brasileira parecia sentir o nervosismo do jogo e Clodoaldo errou um passe fácil. Julio Morales recuperou a bola e lançou na área. Cubilla apareceu na direita, nas costas de Piazza, dominou e adiantou demais. Na hora de finalizar, errou o chute cruzado e a bola foi mascada, pegando um efeito esquisito. Félix errou o golpe de vista e saiu catando cavaco ao ver a bola pingando dentro do gol.

Nervosa, a Seleção passou a errar mais passes, facilitando o trabalho defensivo do rival. Deu seu primeiro chute a gol só aos 27 minutos. No jogo todo, finalizou apenas 14 vezes.

Pelé levou perigo em uma cobrança de falta, mas o grande goleiro Ladislao Mazurkiewicz (melhor de sua posição na Copa de 1970) encaixou firme sem dar rebote.

Gérson não estava no melhor de suas condições físicas. E, genial como ele só, percebeu que estava sofrendo marcação individual de Cortés e inverteu de posição com Clodoaldo. Ele ficaria mais na defensiva e teria espaço para seus lançamentos, liberando o camisa 5 do Brasil para avançar e aparecer como homem surpresa. O Canhota de Ouro contaria mais tarde: “Eu estava sofrendo marcação individual do número 20 deles, que não saía de perto de mim. Então, combinei com o Clodoaldo: ‘você avança e eu fico’. Deu certo!”

O Brasil não queria ir para o intervalo em desvantagem no marcador e empatou o duelo aos 45′, em uma jogada bem construída desde seu início. Piazza começou o jogo com Rivellino, que tocou para Everaldo passar para Clodoaldo já na intermediária ofensiva. Ele abriu com Tostão na esquerda, que devolveu com precisão para o volante invadir a área entre os zagueiros e chutar de bico antes da chegada de Montero Castillo. Esse foi o único gol em 39 jogos oficiais de Corró com a camisa da Seleção.


(Imagem: Pinterest)

No segundo tempo, o Brasil voltou mais confiante, tocando melhor a bola, mas ainda telegrafava as jogadas de ataque. O Uruguai não dava espaço algum, catimbava e tentava ganhar tempo em todos os lances.

Aos 16′, Pelé driblou toda a defesa uruguaia, entrou na área e sofreu pênalti de Ancheta. Tostão correu para a marca da cal, mas o juiz marcou falta fora da área. No lance, o volante Julio César Montero Castillo (pai do ex-zagueiro Paolo Montero, que disputou a Copa de 2002), pisou em Pelé já com o jogo parado.

Os uruguaios bateram o jogo todo, principalmente Dagoberto Fontes. Em um lance na ponta esquerda, Pelé levou um pisão por trás de Fontes e desferiu uma forte cotovelada, que acertou em cheio o rosto do uruguaio. O árbitro espanhol José María Ortiz de Mendíbil não viu o lance maldoso de Pelé e marcou falta a favor do Brasil – o que, de fato, foi mesmo. Felizmente não haviam tantas câmeras na época para flagrar o lance em tempo real e levar o Rei a julgamento na FIFA. Se houvesse, ele poderia ter sido punido e ter ficado fora da final da Copa. Para o bem do futebol, nada aconteceu e ele estaria desfilando em campo quatro dias depois.

Um lance lindo do Rei aconteceu aos 21 minutos. Mazurkiewicz bateu um tiro de meta errado e, da intermediária, o camisa 10 do Brasil emendou de primeira para o gol. Mazurka teve que se entortar todo para segurar a bola.

O pobre Uruguai pensou que poderia vencer a partida e o técnico Juan Hohberg tirou o meia Ildo Maneiro para colocar o atacante Víctor Espárrago – que havia feito o gol da vitória nas quartas de final, contra a União Soviética.


(Imagem: FIFA)

A mudança tática fez a Celeste ficar mais vulnerável no meio e permitiu mais espaços para a Seleção Canarinho tocar a bola.

E o resultado veio apenas dois minutos depois. Jairzinho interceptou um passe errado de Fontes na intermediária defensiva, arrancou e passou para Pelé, que deixou com Tostão. Do meio do campo, ele lançou Jair. O Furacão ganhou na corrida de Roberto Matosas e tocou na saída de Mazurkiewicz, fazendo 2 a 1. Ao contrário do Maracanazzo, dessa vez a virada foi brasileira. Esse foi o sexto gol de Jairzinho na Copa.

O time uruguaio, que tinha recursos técnicos, começou a atacar. A chance mais perigosa foi uma cabeçada à queima-roupa de Cubilla, que Félix defendeu bem e se redimiu do lance do gol.

Apesar da superioridade técnica e no placar, os brasileiros continuavam tensos. Só conseguiram relaxar mesmo na última volta do ponteiro. O capitão Carlos Alberto chutou para cima para aliviar a defesa e ganhar tempo. Pressionado por Pelé, Ubiña escorou de cabeça para o meio onde só tinha Tostão. Ele abriu na esquerda para Pelé, que avançou até a área, esperou e rolou na medida para Rivellino, que chegou soltando a sua “Patada Atômica” da entrada da área. A bola foi morrer no canto esquerdo de Mazurka. Estava tudo concluído. Quase.

O árbitro ainda queria jogo. Já nos acréscimos, teve tempo para Pelé protagonizar o “quase gol” mais lindo de todos os tempos. Do meio do campo, Tostão fez um belo lançamento rasteiro para o Rei nas costas da defesa. Sem tocar na bola, Pelé deu um drible de corpo no goleiro uruguaio que havia saído da área para fechar o ângulo ou tentar fazer a falta. O Rei deixou que ela fosse para um lado e correu para o outro, como um drible da vaca sem tocar na bola. Mesmo desequilibrado, Pelé ainda conseguiu finalizar chutando cruzado, mas a bola, caprichosamente, raspou a trave direita e foi para fora.

O Brasil sofreu muito mais que o placar final indica. Mas o Maracanazzo estava vingado e pago com juros: 3 a 1. O fantasma estava definitivamente exorcizado. E, mais importante, conquistou a vaga para a decisão contra o vencedor de Itália e Alemanha Ocidental.


(Imagem: Lance!)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 X 1 URUGUAI

 

Data: 17/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 51.261

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: José María Ortiz de Mendíbil (Espanha)

 

BRASIL (4-3-3):

URUGUAI (4-3-3):

1  Félix (G)

1  Ladislao Mazurkiewicz (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

4  Luis Ubiña (C)

2  Brito

2  Atilio Ancheta

3  Wilson Piazza

3  Roberto Matosas

16 Everaldo

6  Juan Mujica

5  Clodoaldo

5  Julio César Montero Castillo

8  Gérson

20 Julio César Cortés

7  Jairzinho

10 Ildo Maneiro

9  Tostão

7  Luis Cubilla

10 Pelé

15 Dagoberto Fontes

11 Rivellino

11 Julio Morales

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Juan Hohberg

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Héctor Santos (G)

22 Leão (G)

22 Walter Corbo (G)

21 Zé Maria

14 Francisco Cámera

15 Fontana

13 Rodolfo Sandoval

14 Baldocchi

16 Omar Caetano

17 Joel Camargo

17 Rúben Bareño

6  Marco Antônio

8  Pedro Rocha

18 Paulo Cézar Caju

21 Julio Losada

13 Roberto

9  Víctor Espárrago

20 Dadá Maravilha

18 Alberto Gómez

19 Edu

19 Oscar Zubía

 

GOLS:

19′ Luis Cubilla (URU)

44′ Clodoaldo (BRA)

76′ Jairzinho (BRA)

89′ Rivellino (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

5′ Juan Mujica (URU)

18′ Dagoberto Fontes (URU)

33′ Carlos Alberto Torres (BRA)

37′ Ildo Maneiro (URU)

 

SUBSTITUIÇÃO:

73′ Ildo Maneiro (URU) ↓

Víctor Espárrago (URU) ↑

(Imagem: CBF)

Melhores momentos da partida:

… 15/06/1958 – Brasil 2 x 0 União Soviética

Três pontos sobre…
… 15/06/1958 – Brasil 2 x 0 União Soviética


(Imagem: FIFA)

● Na estreia, o Brasil havia vencido a Áustria com propriedade por 3 a 0. Depois, no segundo jogo, o empate sem gols e o ponto perdido contra a Inglaterra esfriou os ânimos e deixou os brasileiros apreensivos. Ainda assombrada pelo “complexo de vira-latas”, o fantasma dos jogos decisivos voltava a assombrar a Seleção Brasileira. E a última partida do Grupo 4 reservava um duro duelo com a temida União Soviética.

Veja mais:
… Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958
… 24/06/1958 – Brasil 5 x 2 França
… 29/06/1958 – Suécia 2 x 5 Brasil

A campanha soviética estava semelhante à brasileira: empate com a Inglaterra (2 x 2) e vitória sobre a Áustria (2 x 0). Assim, ambas equipes precisavam da vitória para se classificar de forma direta para as quartas de final. Foi a primeira partida entre os dois países na história.

Os soviéticos haviam conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956 e eram considerados favoritos. Mas tiveram dificuldades para se qualificarem para o Mundial na Suécia. No Grupo 6 das eliminatórias europeias, terminaram empatados em número de pontos com a Polônia e precisaram do jogo desempate, quando derrotaram os poloneses por 2 x 0 em Leipzig, na Alemanha Oriental.

A União Soviética iria disputar a sua primeira Copa sob imensa curiosidade de todo o mundo. Tudo que vinha da URSS tinha uma aura misteriosa e moderna que dava medo ao mundo ocidental, em todos os âmbitos: no esporte, na ciência, nos equipamentos bélicos e em tudo mais. Politicamente, protagonizava a Guerra Fria com os Estados Unidos. Intimidava os adversários com a camisa vermelha com a inscrição CCCP em letras garrafais. A sigla significava União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. No alfabeto cirílico, o C tem o som de S e o P de R. Assim, o original em russo era Союз Советских Социалистических Республик. A transcrição fonética no alfabeto latino era Soyuz Sovetskikh Sotsialisticheskikh Respublik e causava temor apenas a simples tentativa de pronunciar tudo isso. O brasileiro, que faz piada com tudo, dizia que o significado era “Cuidado, Camarada, com o Crioulo Pelé”.

O time soviético começava sua escalação com seu maior nome em todos os tempos. O camisa 1 era Lev Yashin, que estamparia o pôster oficial do Mundial de 2018, na Rússia. Com o uniforme todo preto e camisa de mangas longas, ganhou o apelido de “Aranha Negra” na América do Sul e “Pantera Negra” na Europa. Ele foi o primeiro a usar luvas de couro para proteger as mãos em um jogo de Copa. Até hoje ele é considerado pela maioria dos especialistas o melhor goleiro da história do futebol. Ele ainda disputaria as três Copas seguintes (1962, 1966 e 1970 – esta última já veterano como reserva, mais como uma homenagem).

O time praticava o chamado “futebol científico”, em que os atletas estavam preparados para correr sem parar durante 180 minutos e ainda ficarem inteiros para mais. A lenda dizia que eles faziam quatro horas de ginástica pela manhã em dia de jogo. Dizia-se que a KGB tinha espiões espalhados por todo o mundo filmando os adversários e que seus “cérebros eletrônicos” (computadores) haviam produzido um sistema perfeito para derrotar qualquer equipe. Segundo uma história contada na época, a comissão técnica soviética teria cruzado os dados dos rivais em computadores e, após os cálculos, o país seria campeão do mundo.

Ninguém se preocupou em refazer os cálculos quando chegou a notícia de que o Brasil jogaria sem Dino Sani, Joel e Mazzola – que jogaram bem nas primeiras partidas. Eles dariam lugar a “um tal de Zito”, um aleijado de pernas tortas e um moleque negro de 17 anos.


(Imagem: Estadão)

● Uma das lendas mais românticas da história do futebol, reza que houve uma pequena rebelião dos líderes do elenco – Bellini, Didi e Nílton Santos – exigindo a escalação de Pelé e Garrincha. Mas foi só lenda mesmo. Dois dias antes do jogo, a escalação de Pelé já era uma certeza. Recuperado de contusão, ele entraria no lugar de Mazzola – que já estava vendido ao Milan e não estaria colocando o pé nas divididas (diziam as más línguas).

Ficou decidido que jogaria apenas um centroavante e ele seria Vavá (de estilo mais rompedor), ao invés de Mazzola (mais técnico). Zito (também mais aguerrido) entraria no lugar de Dino Sani (mais clássico), que havia sofrido uma distensão na virilha. Com a marcação de Zito no meio, Didi ficaria mais à vontade para criar e atacar.

Quanto à Garrincha, a ideia de escalá-lo surgiu em uma conversa informal e não em uma rebelião. Foi uma reunião entre o técnico Vicente Feola, os jornalistas Armando Nogueira e Luiz Carlos Barreto e o lateral esquerdo Nílton Santos. Também foram consultados Paulo Machado de Carvalho, Didi e Bellini e todos foram favoráveis. Nos primeiros dois jogos, Joel havia recebido boas notas da imprensa por ser um ponta “moderno” que, assim como Zagallo do lado oposto, recuava para ajudar na marcação. E, com a entrada do marcador Zito no time, Feola teve a oportunidade de reforçar a linha de frente com um ponta que atacasse mais. E havia duas opções: trocar Zagallo por Pepe ou Joel por Garrincha. E como Joel estava sentindo dores no joelho, devido ao pisão de Bill Slater, na partida contra a Inglaterra, o Mané ganharia a vaga de titular. Compadre de Garrincha, Nilton Santos foi o responsável por dar a notícia ao ponta. “Acho que você vai entrar. Mané, se você entrar, capricha”, falou Nilton. “Se eu jogar, pode deixar”, respondeu Garrincha.

Na véspera da partida, o psicólogo João Carvalhaes fez um teste psicotécnico com os jogadores para verificar quais deles estavam em condições psicológicas para enfrentar a URSS. Dos onze que jogariam, apenas Pelé e Nilton Santos foram aprovados. Felizmente esses resultados não seriam levados em consideração pela comissão técnica.


(Imagem: O Globo)

● As delegações de Brasil e URSS estavam concentradas a cem metros uma da outra, em Hindås. A diferença era que o hotel dos russos ficava em uma pequena elevação que permitia ter uma visão privilegiada dos treinamentos do Brasil.

Sabia-se que os soviéticos se submetiam a uma carga de exercícios físicos descomunal. Da concentração brasileira, era possível vê-los correndo por várias horas seguidas em seu campo de treinamento. Os brasileiros, claro, ficavam cansados só de olhar.

Na quinta-feira, três dias antes do jogo, Feola comunicou à imprensa brasileira que a Seleção faria um treino coletivo no dia seguinte às 15h00, no campinho perto do hotel. Foi pedido sigilo, pois a comissão técnica não queria a presença de jornalistas estrangeiros, principalmente soviéticos. Na hora marcada, estavam todos presentes: a imprensa brasileira, a imprensa estrangeira e os espiões russos. E nenhum jogador no gramado. A Seleção havia treinado secretamente de manhã com todas as mudanças e, assim, escondeu bem o jeito que jogaria.

No fim da preleção antes da partida, Feola deu a instrução direta: “E não se esqueça, Didi. A primeira bola é para o Garrincha”. E disse para o Mané: “Tente descadeirá-los de saída”.

Os soviéticos conheciam Garrincha das excursões caça-níquéis afora. Só não sabiam como pará-lo.


O Brasil atuava em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo.


A URSS jogava em um sistema WM adaptado, com um homem na sobra, como um líbero.

● Quando o árbitro francês Maurice Guigue apitou o início da partida, a Seleção Brasileira precisou apenas de 180 segundos para demonstrar o melhor que o futebol já produziu, deixando assombrados os 50.928 expetadores no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo. Mesmo sendo um jogo da primeira fase, esse foi o maior público da Copa.

Decidido a nocautear o adversário rapidamente, o Brasil teve um começo simplesmente arrasador. Garrincha começou o jogo endiabrado, em uma exibição fenomenal. Logo no primeiro lance, aos 40 segundos, ele entortou diversas vezes o zagueiro Boris Kuznetsov, passou como se ele não existisse, entrou na área e chutou forte, mas a bola carimbou a trave esquerda de Yashin e foi para fora.

Garrincha desmontou a defesa soviética em geral, e o pobre Kuznetsov em particular. Era a marca registrada do ponta brasileiro: ele deixava a bola entre ele e o marcador, ameaçava a arrancada jogando o corpo para a direita e voltava à posição inicial. Kuznetsov seguia o movimento do Mané uma, duas, três, todas as vezes, e a bola continuava parada entre os dois. Quando o russo ficava parado e ia direto na bola, Garrincha o driblava.

Enquanto Mané driblava Kuznetsov uma porção de vezes, o técnico Gavriil Kachalin perguntava atônito para o banco de reservas quem era o reserva de Joel, com aquelas pernas tortas. Desesperado, o treinador russo precisou reforçar a marcação no ponta, com Konstantin Krizhevsky. Mas nada pararia Garrincha. Percebendo a cintura dura dos seus adversários, ele era pura fantasia com a bola nos pés, gingando e driblando os desesperados soviéticos. Essa partida foi responsável pela lenda de que pela dificuldade em falar o nome dos russos, Garrincha passou a chamar os marcadores de “João”. E todos se tornaram os “Joãos” de Mané. Garrincha se divertia e divertia a todos dentro e fora do campo.

Quando os soviéticos recolocaram a bola em jogo, logo o escrete canarinho a recuperou. Garrincha fez mais uma de suas jogadas e lançou para Pelé, que arriscou o chute, mas a bola explodiu no travessão. O relógio ainda não tinha dado uma volta no ponteiro e o Brasil já havia carimbado a trave por duas vezes. O gol era questão de tempo.

E ele viria pouco mais de um minuto depois. Didi, realmente mais solto em campo, fez um lançamento de curva preciso pelo chão. Vavá se infiltrou na defesa soviética e, da meia-lua, tocou na saída de Yashin para abrir o placar.

O jornalista francês Gabriel Hanot, do jornal L’Equipe (ex-jogador, técnico e um dos idealizadores da atual UEFA Champions League) classificou aquele início brasileiro como “os três maiores minutos da história do futebol”, tal foi a força e a qualidade com que os jogadores brasileiros atacaram os soviéticos, sobretudo Garrincha.


(Imagem: O Globo)

● Os soviéticos estavam perdidinhos. Na tentativa de dominar o meio de campo, o técnico Gavriil Kachalin havia promovido a estreia de seu melhor jogador de linha, o capitão Igor Netto, que se recuperava de contusão. Ele era muito técnico e criativo, uma espécie de “Didi russo”. E nem havia tocado na bola quando Vavá inaugurou o marcador.

Didi, inteligente como só ele, levou Netto, para uma faixa mais neutra do campo, impedindo que o adversário conseguisse criar perigo. E o Príncipe Etíope ainda conseguia ditar o ritmo do jogo e entregava a bola a Garrincha sempre que podia.

Os soviéticos somente chegaram à área brasileira aos quinze minutos, em um lançamento longo para Anatoli Ilyin, que Gylmar saiu para interceptar.

Mas o baile continuou por todo o primeiro tempo, principalmente com um Mané diabolicamente incontrolável, provocando uma devastação na defesa soviética. Os russos pensavam que era um problema de ajuste de marcação e começaram a discutir entre si. Mas nada adiantou e o jogador do Botafogo continuou a fazer fila. Em certo momento, Garrincha deixou um marcador no chão, parou a bola e estendeu a mão para ajudá-lo a levantar. E seguiu o jogo normalmente, de forma inocente.

A partida teve duas fases: algumas poucas de algum equilíbrio e os muitos momentos de domínio brasileiro. Por isso, o segundo gol até demorou.

No segundo tempo, os soviéticos tiveram um de seus raros ataques. Anatoli Ilyin recuperou a bola e deixou com Igor Netto. Valentin Ivanov e Netto tabelaram pelo meio. Ivanov driblou De Sordi e chutou de esquerda. Gylmar encaixou firme, sem dar rebote.

Pelé foi discreto, deixando seu melhor para o jogo seguinte, contra o País de Gales. Ele perdeu dois gols que certamente faria se estivesse com mais ritmo de jogo e não tão nervoso. Normal, para um adolescente.

Aos 31 minutos do segundo tempo, em uma troca de passes entre Pelé e Vavá na área soviética, a bola sobrou entre Vavá e dois zagueiros. Conhecido como Peito de Aço por sua impetuosidade, Vavá esticou a perna esquerda, mesmo com a bola estando mais para o zagueiro Vladimir Kesarev e chutou para o fundo do gol. Em troca, Vavá ficou com um enorme corte na canela esquerda, causada pelas travas da chuteira de Kesarev – tentou tirar a bola no lance, mas chegou atrasado e atingiu em cheio o brasileiro.

O segundo gol trouxe um alívio tão grande que a comemoração passou do ponto: seis jogadores se empilharam sobre um lesionado Vavá, formando uma pirâmide humana até então desconhecida em campos europeus. O centroavante não aguentou de dor no corte e precisou deixar o campo alguns minutos depois. Com essa contusão, imaginava-se que Vavá estaria fora do restante do Mundial.

Aos 37, o ponta Ilyin acertou um chutaço que obrigou Gylmar a fazer a sua defesa mais difícil na Copa até então. E Gylmar terminou a primeira fase com a meta invicta, bem guarnecida por uma defesa irrepreensível formada por De Sordi, o capitão Bellini, Orlando e Nilton Santos. Do outro lado, Yashin evitou uma goleada histórica. O Brasil atacou 36 vezes, sendo a metade com perigo.


(Imagem: Globo Esporte)

● Nos minutos finais, a plateia viu um pequeno baile. Dos 38 aos 40, a bola rolou de pé em pé, de um lado para o outro e de volta ao ponto inicial, o capitão Bellini, sem que nenhum soviético conseguisse tocá-la. A até então comportada torcida sueca foi ao delírio. Deliciados com a arte dos brasileiros, os suecos riam à vontade com o futebol fantasia de Mané. Bastava ele receber a bola que o estádio se punha de pé. E aplaudiam com entusiasmo todo o time, de Gylmar a Zagallo.

O baile serviu para esfriar o ânimo dos soviéticos. Ateus, os comunistas russos pareciam rezar para que o juiz apitasse para que aquele pesadelo acabasse logo.

Os críticos presentes já não tinham mais adjetivos superlativos para descrever a Seleção Brasileira. Garrincha foi considerado “um assombro”. Os ingleses chamaram o ponta de “mercurial” (de outro mundo). Os jornais brasileiros disseram que Garrincha “arrombou a Cortina de Ferro”.

O decantado futebol científico da URSS se dobrava diante da malemolência do brasileiro: a genialidade de Didi, os dribles de Garrincha, o oportunismo de Vavá e tudo de Pelé.

No fim da partida, Garrincha resumiu tudo: “Eu tava com fome de bola”. No dia seguinte, ele recebeu o bicho direto das mãos do tesoureiro Adolpho Marques: cinquenta dólares. No Brasil, foi eleito o “desportista da semana” e ganhou uma bicicleta Gulliver.


(Imagem: Mais Futebol)

● No dia seguinte, em uma demonstração de esportividade, a delegação soviética visitou a concentração brasileira. Entre elogios e brincadeiras, principalmente com Garrincha, o zagueiro Kesarev se desculpou pelo rasgo na canela de Vavá. A URSS teve que jogar uma partida desempate com a Inglaterra pelo segundo lugar do grupo e venceu por 1 x 0. Nas quartas de final, caiu para a Suécia, dona da casa, por 2 x 0.

A principal ausência na seleção soviética foi a do centroavante Eduard Streltsov, artilheiro do time nas eliminatórias. Ele foi impedido de sair de seu país por estar respondendo a um processo criminal por estupro. Diz a lenda que ele era inocente e seu julgamento teria sido todo armado porque ele bateu de frente com o regime comunista russo. Porém, essa é uma história polêmica que fica pra outro momento. Mas ele fez muita falta à equipe e que, talvez, se estivesse em campo, a URSS poderia ter ido mais longe do que as quartas de final.

O desempenho dos brasileiros contra os soviéticos foi tamanho, que o placar foi considerado injusto, pois o Brasil teria merecido vencer por uma diferença mais expressiva no placar. Mas a vitória foi mais que o suficiente para classificar a Seleção Brasileira como líder do grupo. Cheia de confiança, enfrentaria o País de Gales nas quartas de final quatro dias depois. Esperamos contar essa história no próximo dia 19.

Enfim, Vicente Feola havia encontrado a escalação ideal. Pelé e Garrincha estrearam em Copas do Mundo e começaram a se transformarem em mitos. Com os dois juntos em campo, a Seleção Brasileira nunca foi derrotada. Foram oito anos e quarenta jogos (incluindo não oficiais) e o Brasil nunca perdeu: foram 35 vitórias e cinco empates). O título mundial era possível. Havia esperança e ela estava mais viva do que nunca.


(Imagem: Mais Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 0 UNIÃO SOVIÉTICA

 

Data: 15/06/1958

Horário: 19h00 locais

Estádio: Nya Ullevi

Público: 50.928

Cidade: Gotemburgo (Suécia)

Árbitro: Maurice Guigue (França)

 

BRASIL (4-2-4):

UNIÃO SOVIÉTICA (WM):

3  Gylmar (G)

1  Lev Yashin (G)

14 De Sordi

2  Vladimir Kesarev

2  Bellini (C)

4  Boris
Kuznetsov

15 Orlando

5  Yuriy Voynov

12 Nilton Santos

3  Konstantin Krizhevsky

19 Zito

16 Viktor Tsaryov

6  Didi

17 Aleksandr Ivanov

11 Garrincha

8  Valentin Ivanov

20 Vavá

9  Nikita Simonyan

10 Pelé

6  Igor Netto (C)

7  Zagallo

11 Anatoli Ilyin

 

Técnico: Vicente Feola

Técnico: Gavriil Kachalin

 

SUPLENTES:

 

 

1  Castilho (G)

12 Vladimir Maslachenko (G)

4  Djalma Santos

13 Vladimir Belyayev (G)

16 Mauro

14 Leonīds Ostrovskis

9  Zózimo

22 Vladimir Yerokhin

8  Oreco

15 Anatoli Maslyonkin

5  Dino Sani

19 Gennadi Gusarov

13 Moacir

20 Yuri Falin

17 Joel

7  German Apukhtin

18 Mazzola

18 Valentin Bubukin

21 Dida

10 Sergei Salnikov

22 Pepe

21 Genrikh Fedosov

 

GOLS:

3′ Vavá (BRA)

77′ Vavá (BRA)

Veja imagens raras da partida:

Lance inicial e gols do jogo:

Algumas imagens da partida:

● Sobre “aqueles primeiros três minutos”, no livro “Estrela Solitária: um brasileiro chamado Garrincha”, Ruy Castro reproduz o relato do repórter Ney Bianchi na revista Manchete Esportiva e depois complementa:

“Monsieur Guigue, gendarme nas horas vagas, ordena o começo da partida. Didi centra rápido para a direita: 15 segundos de jogo. Garrincha escora a bola com o peito do pé: 20 segundos. Kuznetzov parte sobre ele. Garrincha faz que vai para a esquerda, não vai, sai pela direita. Kuznetzov cai e fica sendo o primeiro João da Copa do Mundo: 25 segundos. Garrincha dá outro drible em Kuznetzov: 27 segundos. Mais outro: 30 segundos. Outro. Todo o estádio levanta-se. Kuznetzov está sentado, espantado: 32 segundos. Garrincha parte para a linha de fundo. Kuznetzov arremete outra vez, agora ajudado por Voinov e Krijveski: 34 segundos. Garrincha faz assim com a perna. Puxa a bola para cá, para lá e sai de novo pela direita. Os três russos estão esparramados na grama, Voinov com o assento empinado para o céu. O estádio estoura de riso: 38 segundos. Garrincha chuta violentamente, cruzado, sem ângulo. A bola explode no poste esquerdo da baliza de Iashin e sai pela linha de fundo: 40 segundos. A platéia delira. Garrincha volta para o meio do campo, sempre desengonçado. Agora é aplaudido.”

“A torcida fica de pé outra vez. Garrincha avança com a bola. João Kuznetzov cai novamente. Didi pede a bola: 45 segundos. Chuta de curva, com a parte de dentro do pé. A bola faz a volta ao lado de Igor Netto e cai nos pés de Pelé. Pelé dá a Vavá: 48 segundos. Vavá a Didi, a Garrincha, outra vez a Pelé, Pelé chuta, a bola bate no travessão e sobe: 55 segundos. O ritmo do time é alucinante. É a cadência de Garrincha. Iashin tem a camisa empapada de suor, como se já jogasse há várias horas. A avalanche continua. Segundo após segundo, Garrincha dizima os russos. A histeria domina o estádio. E a explosão vem com o gol de Vavá, exatamente aos três minutos.”

Foi assim que o repórter Ney Bianchi reproduziu em Manchete Esportiva aquele começo de jogo, como se tivesse um olho na bola e outro no cronômetro. Mas não estava longe da verdade. Outro jornalista, Gabriel Hannot, diria que aqueles foram os maiores três minutos da história do futebol e, com mais de setenta anos, ele fora testemunha ocular dessa história. A avalanche fora tão impressionante que, assim que se viu vazado, Iashin cumprimentou o primeiro brasileiro que lhe passou por perto – por acaso, Pelé.

E ainda faltavam 87 minutos para o jogo acabar! A continuar daquele jeito, já havia russos contemplando uma temporada na Sibéria. Nunca o orgulho do “científico” futebol soviético fora tão desmoralizado, e pelo mais improvável dos seres: um camponês brasileiro, mestiço, franzino, estrábico e com as pernas absurdamente tortas. A anticiência por excelência, o anti-Sputnik, o anticérebro eletrônico ou qualquer cérebro. Kessarev, Krijveski, Voinov, Tsarev e, mais que os outros, Kuznetzov, todos os zagueiros russos foram driblados por Garrincha em algum momento do jogo: um de cada vez, dois, três ou, em fila, todos ao mesmo tempo. Garrincha deixava um russo sentado e dizia, como se ele pudesse entendê-lo:

“Conheceu, papudo?”

… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru

Três pontos sobre…
… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru


(Imagem: Futebol nas 4 linhas)

● Na primeira Copa do Mundo transmitida ao vivo, com imagens ainda em preto e branco, o Brasil parou para assistir a mais um show do escrete canarinho. Com o primeiro lugar do Grupo 3, a delegação brasileira permaneceu em Guadalajara para o confronto das quartas de final diante do Peru.

Os peruanos tinham a simpatia da torcida mexicana por causa da tragédia que atingiu o país andino no mesmo dia da abertura da Copa, em 31 de maio. Um terremoto matou mais de 60 mil pessoas e a delegação estava muito abalada. O governo decidiu que o time deveria continuar na competição.

Pouco cotados antes do início do torneio, os peruanos eram franco-atiradores. Com a melhor geração de sua história, vizinhos sul-americanos tinham bons jogadores, como Teófilo Cubillas, Héctor Chumpitaz, Ramón Mifflin e Alberto Gallardo. Mas a grande atração era mesmo o técnico Didi. O brasileiro Waldir Pereira havia sido bicampeão mundial como jogador em 1958 e 1962 (assim como seu colega Zagallo, treinador do Brasil), sendo eleito o craque da Copa na primeira conquista.

Na primeira fase, os peruanos conseguiram duas boas vitórias, vencendo a Bulgária de virada por 3 a 2 e batendo o Marrocos por 3 a 0. Depois, perderam para a Alemanha Ocidental por 3 a 1. A inédita classificação para as quartas de final tornou Didi uma celebridade no Peru.


O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.


Didi escalou o Peru no 4-3-3. Com a bola, Teófilo Cubillas avançava e o sistema se tornava um 4-2-4.

● No estádio Jalisco, eram 54.233 as testemunhas de mais uma mostra de futebol arte. O meia Gérson voltou ao time após dois jogos se recuperando de lesão. Na lateral esquerda, o garoto Marco Antônio (19 anos) foi escolhido como titular por apoiar melhor que Everaldo.

Em toda a partida, o Brasil não correu mais que o necessário, mudando o ritmo da partida como lhe convinha.

No comecinho, Gérson fez um lançamento ao seu estilo. Pelé dominou no peito antes de entrar na área, driblou a marcação com o joelho e chutou na trave. O mesmo Pelé apanhou o rebote e tocou para trás de calcanhar, mas Tostão chegou chutando para fora.

Aos 11 minutos de jogo, Carlos Alberto cobrou lateral para Pelé na direita. O Rei cruzou para a área de pé esquerdo. O lateral Eloy Campos errou o domínio e deixou a bola nos pés de Tostão, que ajeitou para a meia-lua. Rivellino, em uma de suas “patadas atômicas” mandou de três dedos. A bola fez uma curva e morreu no canto esquerdo do arqueiro peruano. 1 a 0.

Quatro minutos depois, escanteio para o Brasil. Após cobrança curta, Tostão e Rivellino tabelam perto da linha de fundo. De um ângulo improvável, Tostão chuta direto para o gol. O quique da bola enganou o péssimo goleiro Luis Rubiños, que tentou encaixar e deixou a bola entrar. 2 a 0.

Pouco depois, em falta na intermediária, Pelé encheu o pé esquerdo e a bola foi no ângulo. Mas o árbitro belga Vital Loraux anulou o gol, pois tinha determinado tiro livre indireto (em dois lances).

Tostão abriu com Rivellino na esquerda. Ele usou sua habilidade, enganou o marcador e deixou com Pelé na entrada da área. O Rei tentou o gol por cobertura, mas a bola foi por cima.


(Imagem: Futebol nas 4 linhas)

O Brasil diminuiu o ritmo, trocando passes e procurando esfriar o jogo. Do outro lado, o Peru atacava a todo vapor. Tinha uma grande equipe e se aproveitou do primeiro descuido fatal da defesa brasileira – e é bom lembrar que a retaguarda canarinho tinha mesmo os seus problemas.

Aos 27′, o capitão Héctor Chumpitaz lançou Alberto Gallardo (ex-Palmeiras, nos anos 1960) na ponta esquerda. Ele cortou Carlos Alberto e chutou sem ângulo. Inseguro, o goleiro Félix praticamente fez um gol contra ao tentar pegar o chute cruzado do peruano e desviou para dentro. Um gol com certa semelhança ao de Tostão, pelos chutes com pouco ângulo e falhas dos goleiros.

No finzinho da etapa inicial, Jairzinho escapou pela ponta direita e tocou para Pelé no meio. O camisa 10 bateu de esquerda e Rubiños defendeu sem conseguir segurar. A bola escapou e foi na trave.

O primeiro tempo terminou em 2 a 1. Os onze comandados por Zagallo se entendiam às mil maravilhas e voltaram a campo dispostos a resolverem logo o jogo.

Aos 7′, Pelé deixou com Jairzinho, que devolveu para o Rei no costado da zaga. Ele tocou para o meio da área, a bola desviou na defesa, tirou o goleiro do lance e sobrou livre para Tostão completar para o gol vazio. Esses gols contra o Peru foram os únicos de Tostão no Mundial do México.

Mesmo com vantagem, o Brasil continuou atacando. E, com muita categoria, o Peru respondia com ferocidade nos contragolpes. Aos 24′, após uma bela jogada coletiva, Cubillas ficou com a sobra e chutou de primeira. A bola foi no meio do gol e passou por baixo de Félix. 3 a 2.

No meio do segundo tempo, Gérson foi poupado e deu lugar a Paulo Cézar. O “Canhota de Ouro” jogou 67 minutos, fez 57 passes e errou apenas um.

Com duas alterações, Didi lançou sua equipe à frente.

Antes que o Peru começasse a gostar do jogo de vez, a reação do Brasil foi quase imediata. Aos 31 minutos, Jairzinho deixou com Rivellino e arrancou. Riva devolveu com perfeição para o “Furacão da Copa”. Ele entrou na área, driblou o goleiro, foi à linha de fundo e tocou para o gol vazio antes da chegada do beque peruano. Jairzinho marcou pela quinta vez na Copa. Logo depois, esgotado, ele deu lugar a Roberto.

Com a vitória garantida, o escrete canarinho trocou muitos passes e deixou o tempo correr. Embora o placar tenha sido 4 a 2, o Brasil foi senhor do jogo o tempo todo e não sofreu em momento algum.


(Imagem: Peru.com)

● Finalmente Tostão marcou seus primeiros gols na Copa. Ele vinha merecendo. Antes do Mundial, muitos diziam que Tostão não poderia jogar ao lado de Pelé. E a crítica sempre pesa para o lado mais fraco. Nesse caso, para Tostão. Ele, que foi o artilheiro das Eliminatórias com dez gols. Ele, que fez um esforço comovente para provar que poderia voltar a jogar em alto nível após o descolamento da retina. O próprio Zagallo só não barrou Tostão porque a opinião pública o queria no time. E nos jogos anteriores, jogando como “falso 9” (quarenta anos antes de Lionel Messi), o cruzeirense abria espaços para Pelé, Jair e Rivellino, com intensa movimentação e passes geniais. Mais que ninguém, ele merecia marcar esses dois gols contra o Peru.

O Brasil estava classificado para enfrentar o arquirrival Uruguai nas semifinais. A lembrança do “Maracanazzo” de 1950 ainda pairava na lembrança dos brasileiros.

Quem ganhasse, enfrentaria o vencedor do clássico entre Itália x Alemanha Ocidental.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 2 PERU

 

Data: 14/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 54.233

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Vital Loraux (Bélgica)

 

BRASIL (4-3-3):

PERU (4-2-4):

1  Félix (G)

1  Luis Rubiños (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

2  Eloy Campos

2  Brito

14 José Fernández

3  Wilson Piazza

4  Héctor Chumpitaz (C)

6  Marco Antônio

5  Nicolás Fuentes

5  Clodoaldo

6  Ramón Mifflin

8  Gérson

7  Roberto Challe

7  Jairzinho

8  Julio Baylón

9  Tostão

9  Perico León

10 Pelé

10 Teófilo Cubillas

11 Rivellino

11 Alberto Gallardo

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Didi

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Rubén Correa (G)

22 Leão (G)

21 Jesus Goyzueta (G)

21 Zé Maria

3  Orlando de la Torre

14 Baldocchi

16 Félix Salinas

15 Fontana

13 Pedro González

17 Joel Camargo

15 Javier González

16 Everaldo

17 Luis Cruzado

18 Paulo Cézar Caju

18 José del Castillo

13 Roberto

19 Eladio Reyes

20 Dadá Maravilha

20 Hugo Sotil

19 Edu

22 Oswaldo Ramírez

 

GOLS:

11′ Rivellino (BRA)

15′ Tostão (BRA)

28′ Alberto Gallardo (PER)

52′ Tostão (BRA)

70′ Teófilo Cubillas (PER)

75′ Jairzinho (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

54′ Julio Baylón (PER) ↓

Hugo Sotil (PER) ↑

 

61′ Pedro Pablo León (PER) ↓

Eladio Reyes (PER) ↑

 

67′ Gérson (BRA) ↓

Paulo Cézar Caju (BRA) ↑

 

80′ Jairzinho (BRA) ↓

Roberto (BRA) ↑


(Imagem: Peru.com)

Melhores momentos da partida:

… 04/04/1959 – Argentina 1 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 04/04/1959 – Argentina 1 x 1 Brasil


Argentina campeã da Copa América 1959 (Imagem: Goal)

● Na edição anterior do Campeonato Sul-Americano, a Argentina conquistou o título, embalada por jovens atletas, conhecidos como “Los Carasucias de Lima”. Agora, dois anos depois, o escrete albiceleste tinha que se refazer mais uma vez. Já não tinha mais Guillermo Stábile como técnico depois do fiasco de ter sido eliminado Copa do Mundo de 1958 (com direito a sofrer a maior goleada de sua história, um 6 x 1 para a Tchecoslováquia). Vários craques agora vestiam a camisa da seleção italiana, como Omar Sívori, Humberto Maschio e Antonio Valentín Angelillo. Assim, o país anfitrião da 26ª Copa América foi representado por jogadores com menos fama até então, como Jorge Griffa, Juan José Pizzuti, Héctor Sosa e Raúl Belén.

O grande favorito ao título era a Seleção Brasileira, que havia conquistado a Copa do Mundo na Suécia menos de um ano antes e viajou com força máxima. Dirigida por Vicente Feola, a base era a mesma: Gylmar, Castilho, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Mauro, Nílton Santos, Zito, Dino Sani, Zagallo, Didi, Garrincha e Pelé. Como novidades, dentre outros, apareciam nomes como os vascaínos Coronel (lateral esquerdo) e Almir Pernambuquinho (ponta de lança), o botafoguense Paulo Valentim (atacante) e o palmeirense Chinesinho (ponta esquerda).


Linha de frente de Seleção Brasileira: Garrincha, Pelé, Paulo Valentim, Didi e Zagallo. Na final, Chinesinho ocupou a ponta esquerda no lugar de Zagallo. (Imagem: Youtube)

● Mas o escrete canarinho começou mal, ao empatar com o Peru por 2 a 2. Depois, as quatro vitórias consecutivas voltaram a dar esperanças para o Brasil (3 a 0 sobre o Chile, 4 a 2 na Bolívia, 3 a 1 no Uruguai e 4 a 1 no Paraguai). Precisava vencer a Argentina em pleno Munumental de Núñez abarrotado por 85 mil hinchas.

Os donos da casa estavam com 100% de aproveitamento. Haviam vencido o Chile (6 x 1), a Bolívia (2 x 0), o Peru (3 x 1), o Paraguai (3 x 1) e o Uruguai (4 x 1). No torneio de pontos corridos, bastaria um empate com o Brasil para conquistar seu 12º título. E ele veio.


A comissão técnica formada por José Barreiro, José Della Torre e Victorio Spinetto escalou a Argentina no tradicional sistema WM.


O esquema tático implementado pelo treinador Vicente Feola foi o 4-2-4.

A Argentina abriu o placar com o meia direita Juan José Pizzuti aos 40 minutos de jogo.

Aos 13′ da etapa final, Pelé marcou e empatou a partida.

O garoto Pelé, já campeão do mundo e consagrado Rei, ainda tinha 18 anos. Foi o artilheiro da Copa América na única edição que disputou, anotando oito gols em seis jogos.

Foi pouco.

O empate por 1 x 1 e o título foi um consolo para os hermanos, ainda ressentidos pelo vexame de 1958.


Pelé marcou contra a Argentina, mas o Brasil não conseguiu vencer (Imagem: AFA)

● Ainda em 1959, a cidade equatoriana de Guayaquil inaugurou um novo estádio e solicitou a permissão da CONMEBOL para organizar um novo Campeonato Sul-Americano. A entidade concordou e, pela primeira e única vez em toda a história, houve duas edições da Copa América no mesmo ano. O torneio ganhou o status de “Campeonato Sul-Americano Extraordinário” e ocorreu de 05 a 25 de dezembro. O Uruguai se sagrou campeão, com a Argentina como vice e o Brasil com o 3º lugar. O detalhe é que a Seleção Brasileira foi representada pela Seleção Pernambucana, vice-campeã do antigo Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais no mesmo ano de 1959.


Festa argentina pelo título conquistado em casa (Imagem: Impedimento)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 1 x 1 BRASIL

 

Data: 04/04/1959

Estádio: Monumental de Núñez

Público: 85.000

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Carlos Robles (Chile)

 

ARGENTINA (WM):

BRASIL (4-2-4):

Osvaldo Negri (G)

1  Gylmar (G)

Jorge Griffa

2  Djalma Santos

Juan Carlos Murúa

3  Bellini (C)

Juan Francisco Lombardo

6  Orlando

Eliseo Mouriño

4  Coronel

Vladislao Cap

5  Dino Sani

Ángel Nardiello

8  Didi

Juan José Pizzuti

7  Garrincha

Héctor Sosa

9  Paulo Valentim

Eugenio Callá

10 Pelé

Raúl Belén

11 Chinesinho

 

Técnicos: José Barreiro / José Della Torre / Victorio Spinetto

Técnico: Vicente Feola

 

SUPLENTES:

 

 

Juan Bertoldi (G)

Castilho (G)

Luis Cardoso

Mauro

Julio Nuín

Chico Formiga

Carlos Griguol

Paulinho de Almeida

Carmelo Simeone

Nílton Santos

José Varacka

Zito

Oreste Corbatta

Décio Esteves

Roberto Brookes

Dorval

Osvaldo Güenzatti

Almir Pernambuquinho

Pedro Manfredini

Henrique

Juan José Rodríguez

Zagallo

 

 

 

GOLS:

40′ Juan José Pizzuti (ARG)

58′ Pelé (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

Juan Francisco Lombardo (ARG) ↓

Carmelo Simeone (ARG) ↑

 

Jorge Griffa (ARG) ↓

Luis Cardoso (ARG) ↑

 

Eugenio Callá (ARG) ↓

Juan José Rodríguez (ARG) ↑

 

Paulo Valentim (BRA) ↓

Almir Pernambuquinho (BRA) ↑

… 19/07/1966 – Portugal 3 x 1 Brasil

Três pontos sobre…
… 19/07/1966 – Portugal 3 x 1 Brasil


(Imagem: Fernando Amaral FC)

● Era o encontro mais aguardado da primeira fase. Na cidade de Liverpool, no estádio Goodison Park, do Everton, 58.479 pessoas iriam assistir ao encontro de duas das melhores equipes da década. O Brasil do Rei Pelé enfrentaria Portugal, do “príncipe” Eusébio, o “Pantera Negra”.

No Brasil, o otimismo era intenso e inveterado, contaminando torcida, imprensa e jogadores. Ninguém seguraria a Seleção, com Pelé e Garrincha ainda mais experientes que nas duas Copas anteriores. A revista Realidade chegou a publicar uma reportagem de capa prevendo como o Brasil conquistaria o tri.

A preparação brasileira foi uma enorme festa. O técnico Vicente Feola montou um grupo deveras inchado, com 47 jogadores, que se exibiu em cinco cidades brasileiras antes de embarcar para a Inglaterra. Além disso, a preparação física feita por Rudolf Hermanny, especialista em judô, se mostraria um enorme fiasco.

Dessa forma, o Brasil se tornou uma mescla mal feita entre alguns craques bicampeões nas duas Copas anteriores, com Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Zito, Garrincha e Pelé, além de jogadores que viriam a encantar o mundo em 1970, como Brito, Gérson, Tostão e Jairzinho. Várias unanimidades ficaram fora da lista final, como Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Roberto Dias, Servílio e outros.

Em compensação, Portugal chegou voando ao Mundial, tendo como base a equipe do Benfica, bicampeã da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) no início da década. Treinada pelo brasileiro Otto Glória, Portugal tinha uma ótima equipe a partir do meio campo. Todos os jogadores da linha de frente vestiam a gloriosa camisa encarnada: José Augusto, Coluna, Eusébio, Torres e Simões. O “calcanhar de Aquiles” era o fraco sistema defensivo, que compensava com virilidade e violência.

Estreante em Copas do Mundo, “Os Magriços” começaram a competição com tudo, ao vencer a forte Hungria por 3 a 1. Na segunda rodada, inapelavelmente bateu a Bulgária por (baratos) 3 a 0. Assim, estava praticamente assegurado na fase seguinte, faltando apenas a confirmação matemática.

O Brasil começou bem, vencendo uma frágil Bulgária por 2 a 0, na última partida de Pelé e Garrincha juntos pela Seleção. Eles nunca perderam atuando juntos. Foram 40 partidas, com 36 vitórias e quatro empates. Curiosamente os dois gols contra os búlgaros foram em cobranças de falta diretas, um anotado pelo Rei e outro por Mané.

A Seleção estava invicta em Copas do Mundo havia 13 partidas, desde a derrota para a Hungria em 1954. Mas todas as fragilidades ficaram claras com a quebra de invencibilidade na segunda rodada, uma derrota por 3 a 1 para a mesma Hungria. (Curiosamente, Djalma Santos participou dessas duas partidas.) Com uma equipe lenta, especialmente no sistema defensivo, a Seleção foi presa fácil para a ótima geração húngara, que tinha Flórián Albert e Ferenc Bene como destaques. Pelé não jogou, lesionado. Essa foi a despedida de Garrincha com o escrete canarinho e sua única derrota em um total de 60 partidas.

Assim, para conseguir a vaga na próxima fase sem depender do resultado do jogo entre Hungria e Bulgária, o Brasil precisaria bater os portugueses por três gols de diferença, por causa do critério de desempate “goal average” (número de gols marcados divididos entre o número de gols sofridos).


Portugal atuava no 4-2-4. Liderado por Eusébio, o ataque tinha muita força e mobilidade. O capitão Coluna era mesmo a coluna vertebral do time, aparecendo em todos os espaços.


Vicente Feola escalou o Brasil no sistema 4-2-4.

● Pela necessidade de mudança de postura e de resultados, o técnico Vicente Feola simplesmente “surtou” e promoveu nada menos que nove mudanças em relação à partida anterior. Só Jairzinho e Lima foram mantidos como titulares. O capitão Bellini foi barrado, com a justificativa de que não tinha mais o mesmo vigor. Mas, como veremos, nem Brito e tampouco Orlando seriam capazes de parar Eusébio no auge da forma. Ele estava voando. Ele despontou para o futebol ainda garoto, jogando em Moçambique (seu país natal) e foi indicado ao Benfica pelo brasileiro Bauer, vice-campeão do mundo em 1950.

A reformulada e desentrosada defesa brasileira errou bastante, permitindo várias chances para o adversário. Rildo chegou a tocar a bola com o braço dentro da própria área, mas o árbitro inglês não marcou a penalidade máxima. O grande goleiro Manga falhou feio duas vezes, permitindo dois gols lusos.

A boa notícia era o retorno de Pelé, que não estava no melhor de sua forma física depois de ser alvo da violência dos búlgaros e ficar fora contra os húngaros. Desde o início, a defesa lusa fazia de tudo para pará-lo, de qualquer forma – especialmente com faltas repetidamente violentas, cometidas principalmente pelos zagueiros Morais e Vicente. O árbitro George McCabe ignorava as sucessivas agressões ao Rei.

Mas a Seleção não deixou por menos. Após uma cobrança de falta de Pelé, o goleiro José Pereira faz uma defesa segura e o atacante brasileiro Silva Batuta entrou feio, empurrando o goleiro português para dentro do gol. O tempo fechou e os patrícios reclamaram muito com a arbitragem.

Melhor em campo desde o início, Portugal inaugurou o marcador aos 15 minutos de partida. Eusébio escapou pela ponta esquerda e cruzou para a área. Manga, nervoso, espalmou feio para cima e o baixinho Simões cabeceou para o gol.

Aos 27, Coluna cobrou falta, o gigante Torres (1,91 m) ganha da zaga pelo alto e escora para Eusébio. Mesmo marcado por Orlando, o “Pantera” consegue cabecear para o gol. A bola vai em cima de Manga, que não consegue fazer a defesa. Era o segundo gol luso.

Dois minutos depois, Pelé recebeu duas entradas criminosas no mesmo lance. A segunda foi do zagueiro Morais, que tirou o Rei da partida. Ele voltou para o jogo no segundo tempo, mas apenas mancava em campo, fazendo número na ponta esquerda enquanto conseguiu, já que não eram permitidas substituições à época. Com um jogador a menos e Eusébio jogando o fino da bola, ninguém acreditava mais em um resultado diferente. Muito menos os brasileiros.

O Brasil só descontaria aos 25 minutos do segundo tempo, em um de seus raros ataques. Rildo invade a área e chuta cruzado e rasteiro, no canto esquerdo do goleiro José Pereira. Naquela altura, o Brasil precisaria de mais quatro gols, pois a Hungria estava vencendo a Bulgária por 3 a 1 (placar que se manteria até o fim).

No final da partida, Eusébio cobrou uma falta com um chute fortíssimo e Manga foi no ângulo desviar para escanteio. Depois, o mesmo Eusébio foi até a linha de fundo e chutou sem ângulo, para outra bela e difícil defesa de Manga.

No escanteio oriundo dessa jogada, a cinco minutos do fim, a esquadra lusa jogou a última pá de cal sobre o Brasil. Coluna cobrou escanteio, Torres ganhou de Brito pelo alto e escorou de cabeça para Eusébio chegar como uma flecha e emendar de primeira, do bico da pequena área. E o placar de 3 a 1 se manteve até o apito final.

Portugal venceu e convenceu contra o Brasil. A impressão que se tinha era da “troca de reis”: o fim de Pelé e o início do reinado de Eusébio.

Após a partida, todos os portugueses queriam cumprimentar e consolar Pelé. Mas não tiveram pena nenhuma do camisa 10 durante os 90 minutos.


(Imagem: PA Photos / Otherimages / Época / Globo)

● Com essa derrota, o super Brasil, bicampeão em 1958 e 1962, estava vergonhosamente eliminado ainda na fase de grupos. O que parecia um grupo fácil, se enfrentado com seriedade, se tornou um dos maiores vexames da Seleção em Copas do Mundo. Era a terceira (e, por enquanto, última) vez que o Brasil caía na primeira fase de um Mundial. Foi assim também em 1930 e 1934.

Assim, terminava de forma incontestável a esperança do tricampeonato, que seria adiado por mais quatro anos.

Foi o fim da carreira do treinador Vicente Feola. Ele não conseguiu montar um time-base nem mesmo durante a disputa da Copa. Dos 22 convocados, 20 foram utilizados nas três partidas, sendo que ainda não eram permitidas substituições na época.

Desgostoso com o excesso de violência e com o fiasco brasileiro no Mundial, Pelé disse que nunca mais disputaria uma Copa do Mundo. Por sorte do universo do futebol, ele mudou logo de ideia.

Portugal terminou o Grupo 3 com 100% de aproveitamento. Nas quartas de final, teria uma partida teoricamente fácil contra a surpreendente Coreia do Norte.


(Imagem: Footy Fair)

FICHA TÉCNICA:

 

PORTUGAL 3 x 1 BRASIL

 

Data: 19/07/1966

Horário: 19h30 locais

Estádio: Goodison Park

Público: 58.479

Cidade: Liverpool (Inglaterra)

Árbitro: George McCabe (Inglaterra)

 

PORTUGAL (4-2-4):

BRASIL (4-2-4):

3  José Pereira (G)

12 Manga (G)

17 João Morais

3  Fidélis

20 Alexandre Baptista

5  Brito

4  Vicente

7  Orlando (C)

9  Hilário

9  Rildo

16 Jaime Graça

13 Denílson

10 Mário Coluna (C)

14 Lima

12 José Augusto

17 Jairzinho

13 Eusébio

19 Silva Batuta

18 José Torres

10 Pelé

11 António Simões

21 Paraná

 

Técnico: Otto Glória

Técnico: Vicente Feola

 

SUPLENTES:

 

 

1  Américo (G)

1  Gylmar (G)

2  Joaquim Carvalho (G)

2  Djalma Santos

22 Alberto Festa

4  Bellini

21 José Carlos

6  Altair

5  Germano

8  Paulo Henrique

14 Fernando Cruz

15 Zito

19 Custódio Pinto

11 Gérson

6  Fernando Peres

16 Garrincha

7  Ernesto Figueiredo

18 Alcindo Bugre

8  João Lourenço

20 Tostão

15 Manuel Duarte

22 Edu

 

GOLS:

15′ António Simões (POR)

27′ Eusébio (POR)

70′ Rildo (BRA)

85′ Eusébio (POR)

 “Os Magriços”
Era o apelido da seleção de Portugal que terminou a Copa do Mundo de 1966 em 3º lugar.
O apelido é baseado em Álvaro Gonçalves Coutinho, que era apelidado de “O Magriço”.
Álvaro era um cavaleiro português do século XIV que, juntamente com outros onze colegas, viajou para a Inglaterra para participar de um torneio para defender a honra de doze damas inglesas ofendidas por doze nobres, também ingleses.
Como essas damas não conseguiam encontrar cavaleiros na Inglaterra dispostos a lutar por suas respectivas honras, doze cavaleiros lusitanos partiram para essa luta, já que o povo português era conhecido em toda a Europa por serem defensores a honra.
A história é famosa e contada por Luís de Camões no canto VI de seu livro “Os Lusíadas”, mas é de veracidade duvidosa.

Ótima reportagem do “Canal 100” sobre a partida:

Melhores momentos da partida: