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… 11/06/1958 – Brasil 0 x 0 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 11/06/1958 – Brasil 0 x 0 Inglaterra


(Imagem: DPA / FourFourTwo)

● Em partida válida pela segunda rodada do Grupo 4, mais de quarenta mil pessoas estiveram presentes no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo, para assistir ao primeiro jogo oficial entre Brasil e Inglaterra.

Após a vitória de 3 a 0 sobre a Áustria, o Brasil liderava seu grupo com dois pontos. Na primeira rodada, Inglaterra e União Soviética haviam empatado por 2 a 2.

O futebol inglês ainda vivia o luto causado pelo desastre aéreo ocorrido no aeroporto de Munique no dia 06/02, que causou a morte de 23 dos 38 tripulantes, sendo oito jogadores do Manchester United. Entre os mortos, três atletas que certamente seriam titulares do English Team na Copa da Suécia: Roger Byrne (28 anos), capitão do Man Utd, que havia jogado o Mundial de 1954; Tommy Taylor (26 anos), grande artilheiro dos Red Devils e também veterano da Copa de 1954; e Duncan Edwards (21 anos), um jogador polivalente, adorado pelos ingleses e que – segundo a imprensa europeia – tinha potencial para ser o melhor do mundo. Os três foram perdas muito sentidas para o time formado pelo técnico Walter Winterbottom. Entre os sobreviventes, um garoto de 20 anos, Bobby Charlton, que esteva no elenco em 1958 e que lideraria a seleção campeã do mundo em 1966 (disputaria quatro Copas, entre 1958 e 1970).


(Imagem: Central Press / Hulton Archive / Getty Images)

● Como já contamos detalhadamente nesse outro texto (clique aqui para ler) a pacata cidade de Hindås foi o local escolhido para concentração da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958. A cerca de 300 metros estava hospedada também a delegação da União Soviética.

Na véspera do jogo contra a Inglaterra, o goleiro Gymar dos Santos Neves recebeu a visita do colega Lev Yashin. O arqueiro soviético falava um pouquinho de espanhol e alertou o brasileiro sobre o centroavante inglês Derek Kevan, que costumava entrar dando cotoveladas para quebrar os goleiros rivais. O “Aranha Negra” descobriu isso da pior maneira na partida anterior e sofreu com o jogo sujo do inglês – que também era acostumado a cuspir nos adversários.

Gylmar entrou em campo prevenido. Na partida, saía do gol com o joelho levantado para acertar os oponentes antes de ser acertado. Isso ajudou a manter o ataque inglês longe de sua área. Na época o futebol britânico era pouco criativo e tinha praticamente uma única jogada de ataque: os cruzamentos para a área adversária. Foi um jogo duro, muito sofrido. Kevan jogava sujo, mas era um grande jogador e deu muito trabalho à defesa brasileira.

Antes da partida, Feola recebeu informações sobre o forte sistema defensivo inglês e resolveu reforçar o ataque, com dois atacantes de ofício. Dida sentia dores no pé e não conseguia sequer chutar uma bola. Foi substituído por Vavá. Além disso, Pelé havia sido barrado pelo médico, o Dr. Hilton Gosling, por ainda estar com o joelho em tratamento.

O treinador brasileiro pretendia escalar uma equipe mais ofensiva do que na estreia e queria que Garrincha jogasse no lugar de Joel. Mas, outra vez, foi convencido do contrário pelo observador Ernesto Santos, que alertou que o lateral esquerdo Bill Slater era um jogador muito violento e que poderia atingir Garrincha e tirá-lo do restante da Copa. Segundo Ernesto, Slater era o “jogador mais perverso que já vira atuar”. A jogada desleal do inglês consistia em “pisar com força o calcanhar do adversário na corrida, prender-lhe o pé e embolar-se com ele na queda”. E, enquanto o juiz nem marcava falta, o ponta passava o resto do jogo fazendo número ou saía de campo para não mais voltar.

Joel foi escalado e orientado a buscar mais o jogo no meio ao invés de abrir pela ponta, evitando o confronto direto com Slater. Seguiu o posicionamento à risca na primeira etapa e quase marcou um gol – salvo em cima da linha por Billy Wright. Porém, no segundo tempo, o brasileiro se empolgou, deu uma sequência de dribles no inglês, recebeu uma pancada e saiu de campo com muitas dores.


Influenciado pelo técnico húngaro Béla Guttmann, de quem foi auxiliar no São Paulo FC, Vicente Feola escalou seu time no revolucionário sistema 4-2-4. Com o recuo voluntário de Zagallo, o esquema se transformava em um 4-3-3 sem a bola.


A Inglaterra ainda utilizada o velho sistema W-M, criado por Herbert Chapman em 1925.

● O Brasil deu o pontapé inicial. Mas logo nos primeiros segundos, quem atacou foi a Inglaterra. O ponta esquerda Alan A’Court avançou e tabelou com Johnny Haynes. O capitão Bellini cortou e Dino Sani aliviou o perigo.

No fim do primeiro tempo, Zagallo cruzou para a área e a bola sobrou para Joel, que chutou forte para boa defesa de McDonald. Eddie Clamp pegou a sobra e bateu para cima.

A Inglaterra partiu para o ataque. Johnny Haynes, tabelou com Kevan e chutou bem. Gylmar defendeu em dois tempos. Foi o lance mais perigoso dos ingleses nos 90 minutos.

O English Team soube fechar os espaços para Didi, evitando que a criação de jogadas passasse pelo astro brasileiro. Com isso, o Brasil não conseguiu criar muito e não faz gols.

O goleiro inglês Colin McDonald esteve em uma noite inspirada e fechou o gol. Ele fez várias defesas à queima roupa, especialmente de Mazzola, e viu o Brasil acertar a trave com Vavá.

Já no finzinho, foi Mazzola quem desperdiçou a melhor oportunidade do jogo, ao perder um gol embaixo da trave, finalizando por cima.


(Imagem: Pinterest)

● Essa partida ficou marcada por ter sido a primeira a terminar sem gols em toda a história das Copas, após 116 jogos. Como era uma situação inédita, alguns jogadores ficaram meio perdidos em campo, chegando a pensar que o árbitro alemão Albert Dusch daria uma prorrogação.

O placar soou como um alerta para a comissão técnica denunciou algumas deficiências no ataque brasileiro que não tinham sido percebidas na estreia. O terceiro jogo seria de “vida ou morte” e seria justamente contra os temidos soviéticos.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 0 x 0 INGLATERRA

 

Data: 11/06/1958

Horário: 19h00 locais

Estádio: Nya Ullevi

Público: 40.895

Cidade: Gotemburgo (Suécia)

Árbitro: Albert Dusch (Alemanha Ocidental)

 

BRASIL (4-2-4):

INGLATERRA (WM):

3  Gylmar (G)

1  Colin McDonald (G)

14 De Sordi

2  Don Howe

2  Bellini (C)

5  Billy Wright (C)

15 Orlando

3  Tommy Banks

12 Nilton Santos

4  Eddie Clamp

5  Dino Sani

6  Bill Slater

6  Didi

7  Bryan Douglas

17 Joel

8  Bobby Robson

18 Mazzola

9  Derek Kevan

20 Vavá

10 Johnny Haynes

7  Zagallo

21 Alan A’Court

 

Técnico: Vicente Feola

Técnico: Walter Winterbottom

 

SUPLENTES:

 

 

1  Castilho (G)

12 Eddie Hopkinson (G)

4  Djalma Santos

13 Alan Hodgkinson (G)

16 Mauro

14 Peter Sillett

9  Zózimo

16 Maurice Norman

8  Oreco

15 Ronnie Clayton

19 Zito

18 Peter Broadbent

13 Moacir

22 Maurice Setters

11 Garrincha

20 Bobby Charlton

21 Dida

17 Peter Brabrook

10 Pelé

19 Bobby Smith

22 Pepe

11 Tom Finney

Lances da partida:

… 10/06/1962 – Brasil 3 x 1 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 10/06/1962 – Brasil 3 x 1 Inglaterra


(Imagem: FIFA)

● Em 1958, o Brasil se livrou do “complexo de vira-latas” e se sagrou campeão do mundo. Com Pelé e Garrincha no auge, era o favorito destacado à conquista do bicampeonato.

Na estreia, sofreu mais que o previsto para superar a frágil seleção mexicana (vitória por 2 x 0). No segundo jogo, tensão total: empate sem gols contra a Tchecoslováquia e lesão de Pelé (que o tiraria do restante da competição). Na rodada final, saiu perdendo para a Espanha e contou com a ajuda da arbitragem (que não marcou um pênalti e anulou um gol legal da Fúria) e de um encantado Amarildo para virar o jogo (2 x 1). Com esses resultados, a Seleção se classificou como líder do Grupo 3. Nas quartas de final, enfrentaria o segundo colocado do Grupo 4 – a Inglaterra.

Na primeira fase, o English Team teve uma campanha irregular. No dia 31/05, perdeu na estreia para a Hungria por 2 a 1. Dois dias depois, venceu a Argentina por 3 a 1. Na última rodada, um empate sem gols com a Bulgária permitiu que os ingleses se classificassem no critério de saldo de gols. Empatadas com três pontos, a Inglaterra teve saldo de +1, enquanto a Argentina teve saldo de -1.


(Imagem: CBF)

● No escrete canarinho, uma preocupação era unanimidade: a ausência de Pelé. Ele até treinou com o grupo, mas não tinha condições de jogo. Comissão técnica, crítica especializada e torcida estavam inseguras com as chances de título sem o Rei. Mas outra coisa afligia discretamente a maioria: a má fase técnica de Garrincha.

Nos jogos anteriores, Mané teve um desempenho muito aquém do esperado e foi acusado injustamente de excesso de individualismo. Contra os mexicanos, esteve bem marcado e se omitiu do jogo, recebendo poucas bolas. Contra os tchecos, com Pelé lesionado e Vavá mal na partida, não tinha para quem cruzar. Contra a Espanha, só acertou uma boa jogada, que deu origem ao segundo gol de Amarildo.

Didi também não esteve bem na fase inicial. Mas, contra os ingleses, ele jogaria mais solto. Com sua visão de jogo, fez seus lançamentos, orientou o posicionamento da linha de frente, fechou os espaços no meio para revezar com Zito nas subidas ao ataque. Era uma passagem de bastão. Se Didi foi o líder em campo em 1958, Garrincha seria o astro na reta final em 1962.


O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo


O ultrapassado técnico inglês Walter Winterbottom se rendeu ao “moderno” sistema 4-2-4.

● Antes da partida, o nervosismo de alguns atletas era grande. Até o experiente Zagallo sofreu. Ele não conseguiu urinar no vestiário. Já em campo, depois de executados os hinos nacionais, lhe deu uma vontade incontrolável de fazer xixi. Como não podia sair correndo dali, chamou três jogadores e dois fotógrafos para fazer uma rodinha. Ele se agachou e se aliviou ali mesmo, no centro do gramado.

A Inglaterra, mesmo não jogando bem, sempre é um time a ser respeitado. A partida começou com muito equilíbrio de lado a lado, com os dois selecionados se estudando. Os brasileiros ainda se recordavam do jogo na Copa de 1958, quando o Brasil não conseguiu passar pela defesa inglesa e ficou em um empate sem gols.

Estava sendo um jogo muito bem disputado. Os dois goleiros, Gylmar e Ron Springett, haviam feito defesas importantes.

Mas o maior protagonista da partida, até então, tinha sido um cachorrinho preto que invadiu o campo no meio da partida. Ele driblou alguns jogadores e deu um “olé” em Garrincha. Só foi capturado pelo inglês Jimmy Greaves, que ficou de quatro e foi se aproximando do bichinho no meio campo até agarrá-lo. Pouco depois, outro cão entrou no gramado, mas este não foi pego. Depois de desfilar rapidamente pelo gramado, ele passou por baixo do alambrado e desapareceu por conta própria.

O lance fez esquecer por alguns momentos a tensão da partida. A Inglaterra tinha um bom time, onde já jogavam futuros campeões do mundo como Ray Wilson, Jimmy Greaves, Bobby Moore e Bobby Charlton.


(Imagem: Pinterest)

● Garrincha era um driblador nato, brilhante na técnica, mas irresponsável taticamente. Costumava jogar fixo pela ponta direita e não entrava em diagonal. Mas, contra os ingleses, fugiu de seu padrão: saiu de sua posição, se infiltrou pelo meio e até pela esquerda, desempenhando tarefas que caberiam aos outros. Foi o responsável pelos três gols brasileiros, que decidiram uma partida complicada. Garrincha sabia e podia fazer de tudo. Provou isso naquele dia 10/06.

E foi ele quem abriu o placar para o Brasil. Aos 31 minutos de jogo, Zagallo cobrou escanteio de trivela da esquerda. Garrincha veio livre de trás e subiu mais que Maurice Norman (mais alto que ele) para cabecear forte para o gol. Um raro gol de cabeça de Garrincha.

Sete minutos depois, Johnny Haynes cobrou falta da direita para dentro da área. Jimmy Greaves cabeceou para o gol. A bola encobriu Gylmar, bateu na trave e sobrou limpa para Gerry Hitchens completar para o gol vazio e empatar o jogo.

Aos 8′ do segundo tempo, o Brasil tinha uma falta para bater, em uma posição perfeita para a cobrança de Didi. Mas Garrincha foi mais rápido e chutou com violência. A bola passou pela barreira. O goleiro Ron Springett não conseguiu segurar e espalmou para frente. Vavá só aproveitou e escorou de cabeça para fazer seu primeiro gol na Copa.

No minuto 14′, a Inglaterra tentou a bola longa, mas Mauro aparou de cabeça e deixou com Didi. O “Príncipe Etíope” lançou rasteiro para Amarildo na esquerda. O “Possesso” só ajeitou a bola para Garrincha, que chutou de fora da área. A bola fez uma curva, como se fosse a famosa “folha seca” de Didi, e foi no ângulo. Springett se esticou todo, mas não conseguiu defender. Na comemoração, Mané brincou com Didi: “Viu? Não é só você que sabe chutar assim”.

Segundo algumas fontes, Garrincha poderia ter marcado o “hat-trick” se o goleiro Springett não tivesse defendido um pênalti cobrado por ele, aos 21 minutos da etapa final.

Com dribles desconcertantes e jogadas decisivas, o “Anjo das Pernas Tortas” infernizava seus marcadores e levava ao delírio os 18.715 expectadores do estádio Sousalito, em Viña del Mar.


(Imagem: Candangol)

“Preparamos nossos rapazes durante quatro anos para enfrentar times de futebol. Não esperávamos um jogador como Garrincha.” — Walter Winterbottom, técnico inglês, eliminado por Garrincha.

Após a consagradora exibição do ponta direita brasileiro, um jornal chileno publicou em manchete: “Garrincha, de qual planeta você vem?”

Naquele mesmo dia 10/06, o Chile estava em festa. Sua seleção havia se classificado para as semifinais ao vencer a União Soviética por 2 a 1. A notícia ruim? O adversário seria o Brasil, do “extra-terrestre” Garrincha.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 1 INGLATERRA

 

Data: 10/06/1962

Horário: 14h00 locais

Estádio: Sousalito

Público: 18.715

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Pierre Schwinte (França)

 

BRASIL (4-2-4):

INGLATERRA (4-2-4):

1  Gylmar (G)

1  Ron Springett (G)

2  Djalma Santos

2  Jimmy Armfield

3  Mauro (C)

3  Ray Wilson

5  Zózimo

16 Bobby Moore

6  Nilton Santos

6  Ron Flowers

4  Zito

15 Maurice Norman

8  Didi

10 Johnny Haynes (C)

7  Garrincha

17 Bryan Douglas

19 Vavá

8  Jimmy Greaves

20 Amarildo

9  Gerry Hitchens

21 Zagallo

11 Bobby Charlton

 

Técnico: Aymoré Moreira

Técnico: Walter Winterbottom

 

SUPLENTES:

 

 

22  Castilho (G)

12 Alan Hodgkinson (G)

12 Jair Marinho

22 Gordon Banks (G)

13 Bellini

21 Don Howe

14 Jurandir

14 Stan Anderson

15 Altair

5  Peter Swan

16 Zequinha

20 George Eastham

17 Mengálvio

4  Bobby Robson

18 Jair da Costa

7  John Connelly

9  Coutinho

19 Alan Peacock

10 Pelé

18 Roger Hunt

11 Pepe

13 Derek Kevan

 

GOLS:

31′ Garrincha (BRA)

38′ Gerry Hitchens (ING)

53′ Vavá (BRA)

59′ Garrincha (BRA)


(Imagem: Candangol)

Gols da partida:

… 09/06/1990 – Itália 1 x 0 Áustria

Três pontos sobre…
… 09/06/1990 – Itália 1 x 0 Áustria


(Imagem: Barcalcio)

● Depois de vencer a Copa do Mundo de 1982, a Itália soube capitalizar muito bem esse sucesso. Nos anos seguintes, os clubes do país contrataram os principais talentos do futebol mundial. A Juventus trouxe Michel Platini e Zbigniew Boniek. A Udinese tirou Zico do Flamengo. A Roma já tinha Falcão e trouxe Toninho Cerezo. Júnior foi para o Torino. A Internazionale comprou Karl-Heinz Rummenigge. A Fiorentina fechou com Sócrates. O Verona foi atrás de Hans-Peter Briegel. E até o pequeno Napoli conseguiu sua estrela: Diego Armando Maradona, que não estava bem no Barcelona. Exceções feitas aos espanhóis (pelo futebol forte e capitalizado) e aos soviéticos (que eram impedidos de deixar seu país), em meados da década de 1980, praticamente todos os grandes futebolistas do planeta estavam desfilando em gramados italianos. Com uma constelação dessa imponência no Calcio, até a Rede Globo ousou transmitir o Campeonato Italiano ao vivo na temporada 1984/85.

Com esse sucesso, os políticos italianos demonstraram o interesse de seu país em ser sede da próxima Copa a ser disputada na Europa. A Itália já tinha sido anfitriã no segundo Mundial, em 1934, e a FIFA estava relutante em repetir um país sede. Mas o precedente do México em 1986 abriu as portas para o sucesso italiano.

A FIFA, vendo como iminente queda da “Cortina de Ferro” e a consequente implosão da União Soviética (maior adversária dos italianos no pleito), decidiu pelo país que tinha mais tradição, o melhor campeonato nacional do mundo e melhor infraestrutura turística. E a Itália se tornou novamente sede da Copa – dessa vez sem a influência do fascismo.

Foram reformados nove dos doze estádios que sediaram jogos, incluindo o Olímpico de Roma e o San Siro, em Milão. O Luigi Ferraris, de Gênova, foi demolido e reconstruído. Turim e Bari ganharam estádios novos: Delle Alpi e San Nicola, respectivamente.

A FIFA dirigiu o sorteio do chaveamento, de forma a evitar o desequilíbrio. Cada grupo tinha pelo menos duas equipes de bom nível, sendo que até três times poderiam se classificar para as oitavas de final. Esse direcionamento impediu que houvessem grupos fracos e também os chamados “grupos da morte”.

Os principais favoritos ao título eram a Itália (dona da casa, que contava com uma defesa fortíssima), a Holanda (campeã da Eurocopa de 1988) e o Brasil (campeão da Copa América de 1989 – e que havia derrotado italianos e holandeses em amistosos também em 1989). Em um segundo escalão estavam a Argentina (então campeã mundial), União Soviética (campeã olímpica de 1988), Alemanha Ocidental e Inglaterra.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Na abertura oficial do torneio, a Argentina foi surpreendida por Camarões e perdeu por 1 a 0. No dia seguinte, era a vez da Itália estrar diante de sua torcida contra o bom time da Áustria.

Em 1990, a Áustria disputou três amistosos preparatórios. Em 28/03, venceu a Espanha de virada por 3 a 2, em Málaga, após estar perdendo por 2 a 0. Em 11/04, em Salzburg, goleou a Hungria por 3 a 0. No dia 30/05, em Viena, derrotou a fortíssima Holanda por 3 a 2. Esses resultados elevaram o moral dos austríacos. Para a crítica especializada, o time deixou de ser a “terceira força do Grupo A” e passou a ter “razoáveis chances de chegar entre os oito finalistas”. Mas, para os austríacos, um empate na estreia já seria um ótimo resultado.

A Itália causava desconfiança à sua torcida após o resultado de três partidas amistosas. Em fevereiro, empatou sem gols com a Holanda, em Roterdã. Em março, venceu a Suíça por 1 a 0, em Basel. No dia 30/05, em Perugia, empatou sem gols com a Grécia. Em três jogos, marcou um gol e não sofreu nenhum. E aparentemente era isso que a Squadra Azzurra tinha a oferecer na Copa: uma defesa intransponível e um ataque estéril.


Azeglio Vicini montou a Itália no sistema 4-4-2 com Franco Baresi como líbero.


Josef Hickersberger armou a Áustria no 5-3-2.

● Todavia, com a bola rolando, a Itália surpreendeu a todos e partiu para cima, deixando de lado sua prudência costumeira e criando inúmeras oportunidades. Porém, não foi feliz nas finalizações.

O primeiro tempo poderia ter terminado com o placar dilatado, se Andrea Carnevale (várias vezes), Gianluca Vialli, Carlo Ancelotti (acertou a trave) e Roberto Donadoni não tivessem desperdiçado chances preciosas. Donadoni perdeu o gol mais feito: ele estava dentro da pequena área e chutou por cima, com o gol vazio. Os atacantes sofriam com a ansiedade e nervosismo para definir logo as jogadas. Faltava pontaria.

Vialli perdeu outro gol fácil no início do segundo tempo, na oitava finalização italiana no jogo. Com 23 anos, o talentoso Roberto Baggio permaneceu no banco os 90 minutos.

Daí em diante, a Áustria conseguiu estabelecer um certo equilíbrio na partida, trocando passes e tirando a velocidade das jogadas. Mas, muito bem marcado, o artilheiro Toni Polster pouco conseguia fazer.

E, aos 30 minutos, o técnico Azeglio Vicini trocou o inoperante Carnevale (que errou quatro finalizações) por Salvatore “Totò” Schillaci – um artilheiro implacável atuando pelo Messina na Série B, que havia chegado à Juventus um ano antes e sido autor de 12 gols em 30 jogos na Série A de 1989/90. Aos 25 anos, era seu segundo jogo pela seleção. Era praticamente um desconhecido do grande público. E que se tornou celebridade apenas três minutos após entrar em campo.

Aos 33′, Vialli avançou até a linha de fundo e cruzou da direita. Praticamente em seu primeiro toque na bola, Schillaci (1,75 m) saltou entre os gigantes Ernst Aigner (1,94 m) e Robert Pecl (1,89) para cabecear a bola para o fundo do gol de Lindenberger.

Em um jogo duro, a Itália conseguiu a vitória graças a “Totò” Schillaci, o novo xodó da torcida italiana. Salvatore foi o salvador da Itália.


São João Paulo II: o Papa na Copa (Imagem: FIFA)

● Esse foi o único jogo da história das Copas que contou com a presença de um Papa. Antes da partida, São João Paulo II desfilou de papamóvel pela pista de atletismo do estádio Olímpico de Roma e depois leu um breve discurso na tribuna de honra, enaltecendo a importância dos atletas para que sirvam de modelo aos jovens de todo o mundo, “como líderes, e não como ídolos”.

Curiosamente, em sua juventude em Wadowice (a 50 km de Cracóvia), o polonês Karol Wojtyła brincava de ser goleiro e era elogiado pelo porte físico, coragem e disciplina em campo.

Mas o Papa sabia que naqueles dias o catolicismo ficaria em segundo plano na Itália, perdendo para a principal religião do mundo: o futebol. Tanto sabia, que adiantou o horário da tradicional procissão de Corpus Christi para que os fiéis pudessem assistir o jogo entre Itália e Estados Unidos.

E para tentar atender o maior número possível de fiéis turistas durante Copa, o Vaticano rezava missas em cinco idiomas: italiano, inglês, espanhol, alemão e francês.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Na sequência, a Áustria perdeu para a Tchecoslováquia por 1 a 0 e venceu os Estados Unidos por 2 a 1. Foi eliminada na primeira fase, com apenas dois pontos.

A Itália pegou embalo e, nas partidas seguintes, venceu os EUA por 1 a 0 e a Tchecoslováquia por 2 a 0, terminando a fase de grupos com 100% de aproveitamento. Nas oitavas de final, eliminou o Uruguai (2 x 0). Nas quartas, teve dificuldade para vencer a Irlanda por 1 a 0. Na semi, a Azzurra sofreu seu primeiro gol no torneio e empatou com a Argentina por 1 a 1, mas perdeu nos pênaltis por 4 a 3. Como consolo, conquistou o 3º lugar ao vencer a Inglaterra por 2 a 1.

“Totò” Schillaci se sagrou o artilheiro da Copa com seis gols e foi eleito o melhor jogador do torneio.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 0 ÁUSTRIA

 

Data: 09/06/1990

Horário: 21h00 locais

Estádio: Olímpico

Público: 73.303

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: José Roberto Wright (Brasil)

 

ITÁLIA (4-4-2):

ÁUSTRIA (5-3-2):

1  Walter Zenga (G)

1  Klaus Lindenberger (G)

2  Franco Baresi

2  Ernst Aigner

3  Giuseppe Bergomi (C)

7  Kurt Russ

6  Riccardo Ferri

3  Robert Pecl

7  Paolo Maldini

5  Peter Schöttel

9  Carlo Ancelotti

18 Michael Streiter

11 Fernando De Napoli

8  Peter Artner

13 Giuseppe Giannini

10 Manfred Linzmaier

17 Roberto Donadoni

20 Andreas Herzog

16 Andrea Carnevale

13 Andreas Ogris

21 Gianluca Vialli

9  Toni Polster

 

Técnico: Azeglio Vicini

Técnico: Josef Hickersberger

 

SUPLENTES:

 

 

12 Stefano Tacconi (G)

21 Michael Konsel (G)

22 Gianluca Pagliuca (G)

22 Otto Konrad (G)

5  Ciro Ferrara

4  Anton Pfeffer

8  Pietro Vierchowod

6  Manfred Zsak

4  Luigi De Agostini

12 Michael Baur

14 Giancarlo Marocchi

11 Alfred Hörtnagl

10 Nicola Berti

19 Gerald Glatzmayer

15 Roberto Baggio

16 Andreas Reisinger

18 Roberto Mancini

14 Gerhard Rodax

20 Aldo Serena

15 Christian Keglevits

19 Salvatore Schillaci

17 Heimo Pfeifenberger

 

GOL: 78′ Salvatore Schillaci (ITA)

 

CARTÃO AMARELO: 6′ Andreas Herzog (AUT)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Carlo Ancelotti (ITA) ↓

Luigi De Agostini (ITA) ↑

 

61′ Peter Artner (AUT) ↓

Manfred Zsak (AUT) ↑

 

75′ Andrea Carnevale (ITA) ↓

Salvatore Schillaci (ITA) ↑

 

77′ Manfred Linzmaier (AUT) ↓

Alfred Hörtnagl (AUT) ↑


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

Melhores momentos da partida (em italiano):

Melhores momentos da partida (Rede Manchete):

… 08/06/1990 – Camarões 1 x 0 Argentina

Três pontos sobre…
… 08/06/1990 – Camarões 1 x 0 Argentina


Omam-Biyik deu um salto acrobático para marcar o gol camaronês (Imagem: UOL)

● A seleção argentina tinha vencido duas das três últimas Copas do Mundo, mas claramente não era a mesma de quatro anos antes. Fracassou na Copa América que sediou, em 1987, mesmo ainda tendo o time base de um ano antes. O novo fracasso na Copa América de 1989, organizada e vencida pelo Brasil, levou os argentinos a chegarem com menos cartaz na Itália, no Mundial de 1990. A bem da verdade, cada vez mais eles dependiam de Diego Armando Maradona. Entre o fim da Copa de 1986 e o início do Mundial de 1990, os portenhos jogaram 31 vezes e conseguiram apenas seis vitórias. Mas Diego motivou o time, dizendo: “vão ter que arrancar a Copa de nossas mãos”. Ao final das contas, aos trancos e barrancos, ainda era a Argentina.

No Mundial de 1990, dos 22 selecionados pelo técnico Carlos Bilardo, apenas sete eram remanescentes do título de 1986 e cinco deles entrariam em campo na estreia, contra Camarões: o goleiro Nery Pumpido, o zagueiro Oscar Ruggeri, o volante Sergio Batista, o meia Jorge Burruchaga e o gênio Maradona. Os dois reservas campeões eram os alas Ricardo Giusti e Julio Olarticoechea.

A única esperança argentina era em Maradona. Apenas 15 dias antes, ele havia deixado o sul da Itália em festa ao liderar o Napoli à conquista de seu segundo scudetto em quatro anos (os únicos na história dos partenopei). Sempre protagonista, a simples presença do camisa 10 poderia fazer a diferença para os hermanos. Mas ele não estava fisicamente bem e jogou a Copa toda com fortes dores nos tornozelos.

No mesmo dia 08 de junho, poucas horas antes da partida, o presidente argentino Carlos Menem se reuniu com os jogadores e o técnico Bilardo. Nesse encontro, Menem outorgou a Maradona um passaporte oficial e o nomeou assessor do governo para “assuntos desportivos e difusão da imagem argentina no exterior”. Diego aceitou e ficou emocionado com a nomeação. Mas, em março de 1991, ele foi pego no exame antidoping com cocaína em uma partida com o Napoli e foi suspenso do futebol até 30 de junho de 1992, em caso que gerou enorme repercussão mundial. Em 25/04/1991, Menem assinou um novo decreto que revogava o anterior e retirada a designação diplomática de Maradona.


Maradona não estava bem fisicamente e apanhou o jogo todo (Imagem: ESPN)

● O Grupo B era realmente o mais difícil a Copa. Era formado pela campeã mundial Argentina, a campeã olímpica União Soviética, a Romênia do craque Gheorghe Hagi e Camarões, vencedor da Copa Africana de Nações dois anos antes.

A campanha invicta de Camarões em 1982 ainda estava viva na memória dos amantes do futebol alternativo. Alguns veteranos permaneceram, como o goleiro Thomas N’Kono e o atacante Roger Milla.

Com 38 anos, o “velhinho” Milla havia se retirado da seleção em 1988 e estava à beira da aposentadoria. Mas recebeu um convite do presidente de Camarões, Paul Biya (seu amigo pessoal) e retornou à convocatória dos “Leões Indomáveis” para disputar o Mundial de 1990. Sem o mesmo fôlego dos garotos, Milla normalmente entrava nas partidas no início do segundo tempo. Ainda sim, anotou quatro gols durante a competição e se tornou um dos destaques da Copa.


O técnico soviético Valery Nepomnyashchy escalou seu time em uma espécie de 4-2-3-1. Sem a bola, Victor N’Dip (o mais fraco do grupo) se transformava em líbero. Com a bola, os meias avançavam em velocidade. No ataque, Omam-Biyik recebia a companhia de Roger Milla no segundo tempo de todas as partidas.


Carlos Bilardo mandou sua equipe ao campo no 3-5-2, com forte proteção ao sistema defensivo e liberdade para Burruchaga e Maradona criarem.

● Um desfile de modas abriu a competição antes da partida inaugural, no estádio San Siro, em Milão – capital da moda. No jogo de abertura, a expectativa era de um duelo entre um dos favoritos ao Mundial contra um mero coadjuvante. Assim como na abertura da Copa de 1982, quando também defendia o título, a Argentina foi a campo como favorita. E, assim como em 1982 (1 a 0 para a Bélgica), também perderia a partida.

Em poucos minutos de bola rolando, os camaroneses mostraram que seriam adversários duros de serem batidos. Sua defesa era um misto de um pouco de ingenuidade e muito de violência. Com apenas nove minutos de jogo, o beque Benjamin Massing recebeu o primeiro cartão da Copa por dar um bico por trás no tornozelo já baleado de Maradona. Os “Leões Indomáveis” não eram nada dóceis.

Em compensação, o ataque dos africanos era ágil e liso e a defesa argentina também apelava para as faltas. Assim, enquanto as bordoadas se seguiam de lado a lado, os primeiros 45 minutos de passaram e nenhuma das equipes conseguiu criar chances reais de gol.

No intervalo, o técnico Carlos Bilardo desfez o sistema 3-5-2 argentino, colocando o rápido atacante Claudio Caniggia no lugar do veterano zagueiro Oscar Ruggeri.

E na etapa final, a situação ficou mais favorável aos sul-americanos quando o volante André Kana-Biyik foi expulso aos 16′ por derrubar Caniggia por trás e matar um contra-ataque argentino. Mas, mesmo com dez atletas, Camarões continuou correndo e batendo. E o jogo começava a ganhar cara de 0 x 0.


(Imagem: Globo)

Mas o gol saiu aos 22 minutos do segundo tempo. Após cobrança de falta da esquerda para a área albiceleste, Makanaky disputou com Lorenzo e jogou a bola para cima. Sensini ficou só olhando e não viu a aproximação de Omam-Biyik. O camisa 7 se deslocou do meio para a esquerda e deu um salto acrobático, entortando o corpo no ar e conseguindo cabecear na direção do gol. A bola foi em cima de Pumpido e parecia fácil de ser defendida, mas o goleiro vacilou. A bola passou entre suas mãos e tocou seu joelho antes de entrar lentamente no canto direito.

Um gol estranhíssimo. Um verdadeiro frango. Mas a falha de Pumpido não tira o mérito do salto impressionante de Omam-Biyik. Com 1,84 m de altura, ele alcançou a bola a 2,60 do chão. Curiosamente, o autor do gol jogava no modestíssimo Stade Lavallois, 4º colocado da 2ª Divisão da França na temporada 1989/90. François Omam-Biyik é irmão de André Kana-Biyik, o volante expulso seis minutos antes do gol.

Nos 20 minutos restantes, a Argentina se lançou de vez ao ataque. O atacante Gabriel Calderón entrou no lugar do ala Roberto Sensini. Mas os hermanos não conseguiram acertar um mísero chute na direção do gol do lendário Thomas N’Kono.

Aos 42′, Massing também foi expulso por derrubar Caniggia. O argentino recebeu uma bola ainda em seu campo de defesa e disparou para o ataque. Camarões se postava de forma compacta, com o time quase todo no meio campo. Em uma corrida impressionante, “El Pájaro” Caniggia deixou dois marcadores para trás e já estava na intermediária ofensiva, quando Massing lhe acertou em cheio. A truculência foi tamanha que a chuteira do camaronês voou longe. O árbitro Michel Vautrot expulsou corretamente o infrator, pois – além da violência – Massing era o último defensor. Trocou uma chance de gol pela falta. De forma até engraçada, o atabalhoado juiz francês mostrou o cartão vermelho a Massing antes de mostrar o segundo amarelo.

Com nove jogadores, Camarões precisou resistir por mais três minutos para provocar a primeira grande “zebra” da Copa. A comemoração dos africanos é o reflexo da surpresa e alegria do time. Foi um resultado realmente inesperado.


(Imagem: Globo)

● No fim da partida, Maradona percebeu ter perdido no gramado um anel que havia ganhado de sua esposa Cláudia em seu último aniversário, e que valia cerca de US$ 5 mil. O anel foi encontrado pouco depois.

Após aprontar contra a Argentina, Camarões venceu também a Romênia por 2 a 1 com dois gols de Roger Milla. Já classificado, foi goleado pela já eliminada União Soviética por 4 a 0. Terminou como líder do grupo B com quatro pontos. Em um jogo empolgante e só decidido na prorrogação, venceu a forte Colômbia por 2 a 1 (com uma falha do goleiro colombiano René Higuita e dois gols de Milla). Nas quartas de final, deu muito trabalho para a Inglaterra, vendendo caro a derrota. Só perdeu na prorrogação, com um gol de pênalti de Gary Lineker (o placar foi 3 a 2). Mas ficou na história como (até então) a melhor campanha de uma seleção africana na história dos Mundiais. Foi a primeira equipe de seu continente a chegar às quartas de final. Seria igualada por Senegal em 2002 e por Gana em 2010.

A Argentina somente passou de fase por ter sido uma das melhores terceiras colocadas, com três pontos. No Grupo B, após perder para Camarões, venceu a União Soviética por 2 a 0 e empatou com a Romênia por 1 a 1. Nas oitavas de final, jogou pior, mas venceu o clássico com o Brasil graças a uma jogada mágica de Maradona e uma linda conclusão de Caniggia. Nas quartas, contou com a estrela do goleiro Goycochea, que pegou duas cobranças na vitória por pênaltis por 3 a 2 sobre a Iugoslávia. Nas semifinais, após um empate por 1 x 1 com a anfitriã Itália, Goycochea pegou outras duas cobranças e a Argentina venceu nos pênaltis por 4 a 3. Na decisão, já no fim da partida, um pênalti polêmico resultou na derrota para a Alemanha Ocidental por 1 a 0 e no vice-campeonato.


Caniggia entrou bem e deu outra cara à Argentina. Se tornou titular nas partidas seguintes (Imagem: OCacifoDoRaúl)

FICHA TÉCNICA:

 

CAMARÕES 1 x 0 ARGENTINA

 

Data: 08/06/1990

Horário: 18h00 locais

Estádio: San Siro (Giuseppe Meazza)

Público: 73.780

Cidade: Milão (Itália)

Árbitro: Michel Vautrot (França)

 

CAMARÕES (4-2-3-1):

ARGENTINA (3-5-2):

16 Thomas N’Kono (G)

1  Nery Pumpido (G)

17 Victor N’Dip

19 Oscar Ruggeri

14 Stephen Tataw (C)

20 Juan Simón

6  Emmanuel Kundé

11 Néstor Fabbri

4  Benjamin Massing

4  José Basualdo

5  Bertin Ebwellé

13 Néstor Lorenzo

2  André Kana-Biyik

2  Sergio Batista

8  Émile Mbouh

17 Roberto Sensini

10 Louis-Paul M’Fédé

7  Jorge Burruchaga

20 Cyrille Makanaky

10 Diego Armando Maradona (C)

7  François Omam-Biyik

3  Abel Balbo

 

Técnico: Valery Nepomnyashchy

Técnico: Carlos Bilardo

 

SUPLENTES:

 

 

22 Jacques Songo’o (G)

12 Sergio Goycochea (G)

1  Joseph-Antoine Bell (G)

22 Fabián Cancelarich (G)

3  Jules Onana

5  Edgardo Bauza

12 Alphonse Yombi

15 Pedro Monzón

13 Jean-Claude Pagal

18 José Serrizuela

15 Thomas Libiih

21 Pedro Troglio

21 Emmanuel Maboang

16 Julio Olarticoechea

19 Roger Feutmba

14 Ricardo Giusti

11 Eugène Ekéké

6  Gabriel Calderón

18 Bonaventure Djonkep

9  Gustavo Dezotti

9  Roger Milla

8  Claudio Caniggia

 

GOL: 67′ François Omam-Biyik (CAM)

 

CARTÕES AMARELOS:

9′ Benjamin Massing (CAM)

23′ Victor N’Dip (CAM)

27′ Roberto Sensini (ARG)

54′ Émile Mbouh (CAM)

 

CARTÕES VERMELHOS:

61′ André Kana-Biyik (CAM)

88′ Benjamin Massing (CAM)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Oscar Ruggeri (ARG) ↓

Claudio Caniggia (ARG) ↑

 

66′ Louis-Paul M’Fédé (CAM) ↓

Thomas Libiih (CAM) ↑

 

69′ Roberto Sensini (ARG) ↓

Gabriel Calderón (ARG) ↑

 

81′ Cyrille Makanaky (CAM) ↓

Roger Milla (CAM) ↑

Gol da partida:

Partida completa:

Expulsão de Massing por falta violenta em Caniggia:

Abertura da Copa de 1990 na Rede Globo:

… 07/06/1934 – Alemanha 3 x 2 Áustria

Três pontos sobre…
… 07/06/1934 – Alemanha 3 x 2 Áustria


(Imagem: Yahoo)

● Em sua primeira Copa do Mundo, a inexperiente e (até então) pouco expressiva seleção da Alemanha surpreendeu e conquistou o terceiro lugar. Eliminou a Bélgica com uma vitória por 5 a 2 nas oitavas. Nas quartas, bateu o bom time da Suécia por 2 a 1. Na semifinal, teve desfalques importantes e duas falhas do goleiro Willibald Kreß foram cruciais para que a Tchecoslováquia vencesse por 3 a 1.

O “Wunderteam” (“time maravilha”) austríaco estava desanimado. Após vencer a França nas oitavas (3 x 2) e a Hungria nas quartas (2 x 1), foi bastante prejudicada pela arbitragem na derrota para a anfitriã Itália por 1 a 0 na semifinal.

Na decisão do 3º lugar, os dois países vizinhos se enfrentariam. Com a mesma origem germânica, com culturas semelhantes que praticamente se misturavam, dividem o alemão como o mesmo idioma. E algo mais era comum aos dois, que gerou discórdia desde antes do apito inicial.

Antigamente, era comum que as seleções viajassem para disputar uma Copa do Mundo levando somente o uniforme principal, ignorando a possibilidade de que suas cores poderiam coincidir com as do adversário. E isso aconteceu nessa partida. As duas equipes entraram em campo com seu uniforme tradicional: camisa branca e calção preto. Após muita discussão, os capitães Fritz Szepan e Johann Horvath não chegaram a um acordo sobre quem deveria se trocar. Assim, o jogo começou com as duas seleções vestindo branco. Como não poderia deixar de ser, a confusão foi enorme e a Alemanha abriu o placar. Só após isso, os austríacos acabaram mudando de ideia e pediram permissão para trocar as vestimentas. Um dirigente do Napoli, a equipe local, ofereceu a camisa do clube, que foi prontamente aceita. Com isso, os austríacos ganharam a simpatia da torcida napolitana.


(Imagem: Popper Foto / FIFA)

● O técnico alemão Otto Nerz teve problemas para escalar sua equipe. Entre deserções e lesões durante o torneio, ele tinha apenas dez atletas à disposição para a última partida. Como as regras da FIFA não eram tão rígidas, Nerz convocou de última hora o defensor Reinhold Münzenberg, que estava na Alemanha. Münzenberg havia atuado quatro vezes com a camisa da “Nationalelf”, inclusive nas eliminatórias. Ao receber o chamado, o jogador telefonou para o hotel onde se hospedava a delegação alemã e conversou diretamente com o até então auxiliar técnico Sepp Herberger. Ele explicou que não poderia viajar à Itália por estar de casamento marcado no mesmo dia do jogo. Herberger insistiu e convenceu Münzenberg: “Uma data de casamento pode ser adiada, mas um Mundial, não”. Curiosamente, Münzenberg estaria no elenco de sua seleção também em 1938.

Uma das ausências no escrete alemão foi o meia Rudolf Gramlich. Após a vitória de sua seleção sobre a Suécia por 2 x 1, ele recebeu a notícia de que a fábrica de sapatos na qual trabalhava, em Frankfurt, como curtidor tinha sido confiscada pelas autoridades nazistas. Como o futebol alemão era amador e a fábrica era seu único emprego remunerado, ele abandonou a Copa para tentar ajudar seus patrões judeus a salvar a empresa. Nem sua boa reputação representando seu país no Mundial foi suficiente e ele não conseguiu impedir a prisão e posterior morte de seus patrões. Algum tempo depois, Gramlich se tornou militar do exército nazista.


Otto Nerz era um adepto do sistema W-M, recém criado na Europa. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá enfâse ao trabalho do meio de campo.


A Áustria de Meisl jogava em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos. Sem Sindelar, lesionado, faltou movimentação ao ataque.

● Historicamente, a Áustria levava ampla vantagem. Mas isso não se traduziu em campo em Nápoles, no estádio Giorgio Ascarelli – que viria a ser destruído por bombardeios na Segunda Guerra Mundial.

Matthias Sindelar, conhecido como “Der Papierene” (“Homem de Papel”) pelo seu físico magro, leveza e mobilidade, estava lesionado e não pôde jogar. Em campo, a Áustria demonstrou que dependia muito do estilo de jogo de seu astro para que todo o time funcionasse.

A Alemanha teve sorte ao marcar um gol logo aos 25 segundos de jogo, com Ernst Lehner. Na época, foi o gol mais rápido da história das Copas.

Edmund Conen marcou seu quarto gol no Mundial e fez 2 a 0 aos 27′.

A Áustria diminuiu três minutos depois com o capitão Johann Horvath.

Mas pouco antes do intervalo, Lehner marcou de novo e aumentou a vantagem.

No segundo tempo, a Áustria cresceu em campo. O zagueiro Karl Sesta ainda descontou aos 9′.

Mas foi pouco. A derrota seria o canto de cisne do “Wunderteam”.


(Imagem: Impromptuinc)

● Quatro anos depois, a seleção austríaca ainda tinha jogadores remanescentes do “Wunderteam”. Se classificou com tranquilidade nas eliminatórias, mas não pôde disputar a Copa do Mundo de 1938.

Na véspera do torneio, a Europa estava às portas da Segunda Guerra Mundial, que ocorreu oficialmente entre 1939 e 1945. E o conflito político interferiu diretamente no Mundial organizado pela França.

No dia 11/03/1938, a Alemanha nazista deu um choque no mundo ao anexar a Áustria ao seu território, em um processo chamado “Anschluss” (“anexação”, em alemão). Assim, a Áustria deixou de existir como nação independente. Com isso, o “Wunderteam” teria jogadores “prestando serviços” à seleção alemã – foi o que a federação germânica comunicou à FIFA, sem mais delongas. A invasão piorou as relações diplomáticas no continente. A FIFA tentou ignorar o caso ao máximo. Para tentar contornar a situação, a entidade convidou a Inglaterra a ocupar a vaga austríaca, mas o “English Team” – sabiamente – declinou o convite.

Sem time contra quem jogar, a Suécia (adversária da Áustria) se classificou automaticamente para as quartas de final. Até hoje esse é o único W.O. da história das Copas do Mundo.

Já comandada pelo lendário Sepp Herberger, a seleção alemã contou com nove atletas nascidos na Áustria: o goleiro Rudolf Raftl, o zagueiro Willibald Schmaus, os meias Hans Mock, Stefan Skoumal e Franz Wagner, além dos atacantes Wilhelm Hahnemann, Leopold Neumer, Hans Pesser e Josef Stroh. Desses nove, quatro faziam parte do elenco austríaco na Copa de 1934: Raftl, Schmaus, Wagner e Stroh.

Mas, mesmo com esses “reforços”, a “Nationalelf” foi eliminada na primeira fase. Com cinco deles em campo (Raftl, Schmaus, Hahnemann, Pesser e Mock – o capitão), empatou com a Suíça em 1 a 1. Na partida desempate, novamente eram cinco atletas nascidos na Áustria (Raftl, Skoumal, Hahnemann, Neumer e Stroh). Dessa vez, a Alemanha perdeu de virada por 4 a 2, depois de estar vencendo por 2 a 0.

Matthias Sindelar, melhor jogador de seu país em todos os tempos, se recusou a defender a seleção da Alemanha. Ele faleceu em 23/01/1939, pouco depois de sua esposa. A versão oficial é que ele se matou. A história romântica diz que ele “foi suicidado” pelo regime nazista por ser judeu.

A Áustria teve outros bons times, como o que conquistou o 3º lugar na Copa de 1954, mas nunca mais formou uma seleção de classe mundial como foi o “Wunderteam” da década de 1930 – destruído por Adolf Hitler e cia.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 3 X 2 ÁUSTRIA

 

Data: 07/06/1934

Horário: 18h00 locais

Estádio: Giorgio Ascarelli

Público: 7.000

Cidade: Nápoles (Itália)

Árbitro: Albino Carraro (Itália)

 

ALEMANHA (W-M):

ÁUSTRIA (2-3-5):

Hans Jakob (G)

Peter Platzer (G)

Paul Janes

Franz Cisar

Willy Busch

Karl Sesta

Jakob Bender

Franz Wagner

Reinhold Münzenberg

Josef Smistik

Paul Zielinski

Johann Urbanek

Ernst Lehner

Karl Zischek

Fritz Szepan (C)

Josef Bican

Edmund Conen

Georg Braun

Otto Siffling

Johann Horvath (C)

Matthias Heidemann

Rudolf Viertl

 

Técnico: Otto Nerz

Técnico: Hugo Meisl

 

SUPLENTES:

 

 

Willibald Kreß (G)

Friederich Franzl (G)

Fritz Buchloh (G)

Rudolf Raftl (G)

Sigmund Haringer

Anton Janda

Hans Schwartz

Willibald Schmaus

Rudolf Gramlich

Leopold Hofmann

Ernst Albrecht

Josef Hassmann

Rudolf Noack

Matthias Kaburek

Josef Streb

Josef Stroh

Franz Dienert

Hans Walzhofer

Karl Hohmann

Anton Schall

Stanislaus Kobierski

Matthias Sindelar

 

GOLS:

25” Ernst Lehner (ALE)

27′ Edmund Conen (ALE)

28′ Johann Horvath (AUT)

42′ Ernst Lehner (ALE)

54′ Karl Sesta (AUT)


(Imagem: Impromptuinc)

… 06/06/1986 – Brasil 1 x 0 Argélia

Três pontos sobre…
… 06/06/1986 – Brasil 1 x 0 Argélia


(Imagem: Pinterest)

● Envolta de nostalgia e superstição, a Seleção Brasileira voltava à disputar uma Copa do Mundo no México dezesseis anos depois e esperava reencontrar o espírito vencedor de 1970. Mas, em campo, os espíritos astecas não ajudaram tanto a Seleção de Telê Santana e Cia.

O Brasil estreou no dia 01/06 diante da Espanha. Precisou contar com o travessão e o auxílio da arbitragem para vencer a Fúria pelo placar mínimo. Dois dias depois, pelo mesmo Grupo D, Argélia e Irlanda do Norte empataram por 1 x 1.

A Argélia esteve muito perto de passar de fase em 1982. Venceu poderosa Alemanha Ocidental (2 x 1) e o Chile (3 x 2), mas perdeu para a Áustria (2 x 0). Na última rodada do equilibrado Grupo B, Alemanha Ocidental e Áustria fizeram um “jogo de compadres”, com vitória simples dos alemães – um dos poucos resultados que classificaria as duas seleções europeias e eliminaria os africanos.

Para 1986, as “Raposas do Deserto” mantiveram suas principais peças de quatro anos antes. Destaque para o meia Lakhdar Belloumi e os atacantes Rabah Madjer (ídolo do FC Porto) e Salah Assad.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


O técnico argelino Rabah Saâdane escalou sua seleção no sistema 4-3-3.

● Depois da vitória sobre o adversário mais difícil da chave, todos esperavam que jogo contra a Argélia fosse mais fácil.

Tudo começou mal, quando o lateral direito Édson Abobrão precisou deixar o campo logo aos 11 minutos e o técnico Telê Santana foi deveras infeliz na substituição. Alemão foi deslocado para a lateral e Falcão entrou no meio campo. O time ficou desorganizado.

Sem o ímpeto de Alemão no meio, Elzo teve que correr em dobro. Falcão estava em má forma física – tanto, que encerraria a carreira naquela temporada, com apenas 33 anos.

Mas o Brasil começou assustando. Em uma cobrança de falta ensaiada, Júnior chutou forte. O goleiro Nacerdine Drid espalmou e Careca chutou o rebote para fora.

Depois, Júnior cobrou falta para a área. A zaga rebateu e Edinho rolou para Falcão chutar de esquerda, mas a bola desviou e saiu fraca.

Ainda na etapa inicial, Careca cruzou da direita, Casagrande cabeceou bem e Drid pulou no cantinho. Na sobra, “Casão” dividiu com o goleiro e a bola sobrou para Sócrates chutar para o gol. O árbitro guatemalteco Rómulo Méndez Molina anulou o tento brasileiro, por entender que Casão fez falta em Drid na disputa de bola.

O lance mais perigoso foi uma falta da intermediária cobrada por Júlio César, que fez a bola explodir no travessão.

No início do segundo tempo, o Brasil diminuiu o ritmo e a torcida vaiou. A Argélia perdeu o medo e chegou a assustar. Assad cruzou na pequena área e Belloumi chegou de carrinho, mas Carlos fez uma grande defesa com o pé.

Mas logo a Seleção voltou a pressionar. Branco tabelou com Sócrates pela esquerda, invadiu a área e chutou forte. O goleiro desviou e a bola ainda bateu na trave.

No segundo tempo, o time cresceu com a entrada de Müller no ataque. E foi dele a assistência para o gol.

Aos 22 minutos do segundo tempo, Branco virou o jogo para Alemão na direita, que abriu com Müller na ponta. O atacante são-paulino cruzou para a pequena área. A bola desviou no meio do caminho e ficou entre o zagueiro e o goleiro, que vacilaram. Em uma fração de segundo, Careca se aproveitou da indecisão adversária e apareceu como uma flecha para tocar a bola para dentro do gol.

Careca queria mais. Ele chutou de longe e a bola passou perto do gol, à direita do goleiro.

Sócrates avançou pela direita e bateu forte e Drid espalmou. Na sobra, Careca perdeu a disputa pelo alto e o zagueiro impediu o segundo tento brasileiro.

O camisa 9 teve ainda uma última chance, quando chutou da entrada da área, mas o goleiro pegou.


Careca foi esperto ao aproveitar a bobeira da zaga argelina e chutar para o gol (Imagem: saopaulofc.net)

● É impossível falar dessa partida sem o enfoque em Careca. Mesmo nas piores fases, atacante tinha total confiança do técnico Telê Santana. O que mais unia os dois, é que ambos carregavam o mesmo estigma: não conseguir render na seleção o mesmo que em clubes. Com isso, viviam sempre sob suspeita.

“Ele é centroavante com melhor toque de bola no país.” – Telê afirmava. A torcida e a crítica especializada não acreditavam. Chamavam o camisa 9 de egoísta e preciosista nas conclusões, capaz de perder o gol para requintar o lance.

Na estreia contra os espanhóis, ele não marcou gol, mas foi fundamental no ataque. Mal comparando, foi como Tostão no Mundial de 1970 (também no México): segurava a atenção da marcação para abrir espaços para os companheiros que se infiltravam.

Mas Careca não queria mais ser “boi de piranha”. Estava determinado não só a fazer gols, mas também queria provar ao Brasil que poderia ser o mesmo craque do São Paulo e do Guarani (protagonizou o título do Campeonato Brasileiro de 1978 aos 18 anos).

De amarela, basta a camisa e ele não amarelou. Foi a principal arma brasileira, mostrando talento e oportunismo. Seu gol tirou o Brasil do sufoco contra os africanos e garantiu a vitória da seleção tricampeã do mundo.


Walter Casagrande Júnior não fez uma boa Copa. Na partida seguinte, perderia a titularidade para Müller (Imagem: Pinterest)

● Foi outra atuação nervosa e sem inspiração do Brasil. Mas valeu pela superação de Careca, pela vitória e pela classificação antecipada para a próxima fase.

No jogo seguinte, houve uma ingênua impressão de evolução quando a Seleção Brasileira venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0, incluindo o fabuloso gol de Josimar (substituto de Édson). Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0. Nas quartas, o Brasil enfrentaria a França, de Michel Platini.

Na terceira rodada do Grupo D, a Argélia perdeu para a Espanha por 3 a 0 e terminou no último lugar da chave. As “Raposas do Deserto” terminaram rigorosamente empatadas com a Irlanda do Norte: um ponto e saldo de -4 gols para cada; porém, os irlandeses marcaram dois gols e os argelinos apenas um.

Mais de 25 anos depois, o ex-atacante Djamel Menad revelou que ele e pelo menos cinco companheiros da seleção argelina teriam recebido drogas durante a preparação para o Mundial de 1990. Segundo ele, um médico russo deu medicamentos aos atletas às vésperas e durante o torneio, informando ser apenas “vitaminas”. O ex-jogador afirmou ainda que cinco de seus filhos (todos nascidos após 1986) tem algum problema de saúde. Pouco depois, outros atletas revelaram que o procedimento aconteceu também durante a Copa de 1982.


Paulo Roberto Falcão sofria com problemas físicos e não foi bem (Imagem: Think Marketing)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 ARGÉLIA

 

Data: 06/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 48.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Rómulo Méndez Molina (Guatemala)

 

BRASIL (4-4-2):

ARGÉLIA (4-3-3):

1  Carlos (G)

1  Nacerdine Drid (G)

2  Édson Boaro

5  Abdellah Liegeon

14 Júlio César

20 Fodil Megharia

4  Edinho (C)

2  Mahmoud Guendouz (C)

17 Branco

16 Faouzi Mansouri

19 Elzo

6  Mohamed Kaci-Saïd

15 Alemão

18 Halim Benmabrouk

6  Júnior

10 Lakhdar Belloumi

18  Sócrates

7  Salah Assad

8  Casagrande

9  Djamel Menad

9  Careca

11 Rabah Madjer

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Rabah Saâdane

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

21 Larbi El Hadi (G)

22 Leão (G)

22 Mourad Amara (G)

13 Josimar

4  Noureddine Kourichi

3  Oscar

15 Abdelhamid Sadmi

16 Mauro Galvão

19 Mohamed Chaïb

5  Falcão

3  Fathi Chebal

20 Silas

8  Karim Maroc

21 Valdo

17 Fawzi Benkhalidi

10 Zico

14 Djamel Zidane

11 Edivaldo

13 Rachid Harkouk

7  Müller

12 Tedj Bensaoula

 

GOL: 66′ Careca (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

10′ Édson Boaro (BRA) ↓

Falcão (BRA) ↑

 

59′ Casagrande (BRA) ↓

Müller (BRA) ↑

 

68′ Salah Assad (ALG) ↓

Tedj Bensaoula (ALG) ↑

 

80′ Lakhdar Belloumi (ALG) ↓

Djamel Zidane (ALG) ↑

Melhores momentos da partida:

Partida completa (narração de Galvão Bueno):

… 05/06/2002 – Alemanha 1 x 1 Irlanda

Três pontos sobre…
… 05/06/2002 – Alemanha 1 x 1 Irlanda


(Imagem: Mandatory Credit / INPHO / Andrew Paton)

● A Alemanha viveu certa turbulência na reta final das eliminatórias, quando foi goleada em casa pela Inglaterra por 5 x 1, com direito a um “hat-trick” de Michael Owen. De quebra, perdeu o primeiro lugar no Grupo 9 para o “English Team” no saldo de gols e precisou disputar a repescagem com forte Ucrânia, de Andriy Shevchenko, Sergey Rebrov e outros. Empatou por 1 x 1 em Kiev e venceu bem, por 4 x 1 em Dortmund. A tradicional Alemanha estava na Copa.

Nas eliminatórias, a Irlanda surpreendeu ao bater de frente com os favoritos Portugal e Holanda no Grupo 2. Na primeira rodada, empate com os holandeses em Amsterdã por 2 a 2. Contra os lusos, foram dois empates por 1 a 1. Venceu todas as demais partidas, inclusive contra a Holanda em casa (1 x 0). Terminou com 24 pontos, juntamente com Portugal, mas perdeu a liderança no saldo de gols (26 a 18). A toda-poderosa Holanda, 4º lugar na Copa de 1998, estava eliminada da edição de 2002. E, por ter sido o melhor segundo lugar entre todos os grupos europeus, o Eire disputou a repescagem contra o Irã (terceiro melhor do qualificatório da Ásia). Venceu em Dublin por 2 a 0 e perdeu em Teerã por 1 a 0. A vaga estava garantida.

A Irlanda perdeu seu principal jogador às vésperas do Mundial. O técnico Mick McCarthy expulsou o experiente volante Roy Keane da delegação por este ter feito severas críticas à imprensa sobre as condições de treinamento. O treinador manteve sua postura mesmo após o atleta ter pedido desculpas. “Enquanto eu continuar como técnico da seleção, ele não volta. Se ele retornasse, eu perderia vários jogadores”, afirmou. A Federação Irlandesa tentou de todo jeito substituir Roy Keane por Colin Healy na lista de inscritos, mas não teve autorização da FIFA. Segundo as regras, só se pode alterar a lista definitiva em caso de lesão de um atleta ou por algum motivo de força maior – como a morte de um familiar, por exemplo. A Irlanda ficou com um jogador a menos na delegação.

Ex-zagueiro, o técnico Mick McCarthy havia participado como jogador da Eurocopa de 1988 e da Copa do Mundo de 1990 (era capitão) – primeiras participações do país nas fases finais das competições. Mas o treinador parecia não ter se acostumado à aposentadoria dos campos. Curiosamente, ele se vestia a caráter: blusa, calções, meiões e até chuteiras para comandar seu time à beira do gramado.

Na primeira rodada da chave, a Alemanha massacrou a Arábia Saudita por incríveis 8 x 0, enquanto a Irlanda sofreu para empatar com Camarões por 1 x 1.


O ex-centroavante Rudi Völler escalou a Alemanha no 3-5-2, apostando no talento de Michael Ballack (que jogou com dores, no sacrifício) e no faro de gol de Miroslav Klose.


O ex-zagueiro Mick McCarthy formou a Irlanda no sistema 4-4-2. Sem a bola, Damien Duff recuava para formar o 4-5-1. Com a bola, a aposta era a velocidade de Robbie Keane.

● Na segunda rodada do Grupo E, a partida entre Alemanha e Irlanda praticamente se resumiu no jogo aéreo. E o bombardeio aéreo alemão, que pulverizou a defesa saudita, voltou a funcionar contra a Irlanda.

Michael Ballack recebeu na intermediária, ergueu a cabeça e cruzou de esquerda. Foi um “cruzamento de GPS”, bem no ponto futuro, onde Miroslav Klose (sempre ele!) completou de cabeça, da marca do pênalti. Foi o quarto gol do centroavante no Mundial – o quarto de cabeça (ele viria a se tornar o maior artilheiro da história das Copas doze anos depois). Comemoração clássica do camisa 11, com uma cambalhota no ar.

No lance, o lateral esquerdo Ian Harte falhou na marcação, ao não acompanhar a arrancada de Klose. Harte também havia falhado na estreia contra Camarões.


(Imagem: Martin Rose / Bongarts / Getty Images)

Cinco minutos depois, Damien Duff cruzou da direita, a zaga alemã rebateu e Matt Holland emendou de primeira. A bola passou raspando à trave direita. Foi uma jogada muito parecida com o gol que o camisa 8 marcou contra os camaroneses no jogo anterior.

A Alemanha quase chegou ao segundo gol. Carsten Jancker desviou uma bola perigosa, mas o goleiro Shay Given estava atento.

Apesar do predomínio na etapa inicial, os alemães não conseguiram transformar o domínio em maior vantagem no marcador. Apesar disso, conseguiram fechar bem o meio e limitar a criação de jogadas da equipe irlandesa.

Mas seria diferente no segundo tempo. A Irlanda cresceu sob a liderança técnica de Robbie Keane e teve 58% de posse de bola. Passou a pressionar mais em busca do empate, mas desperdiçava algumas chances claras de gol.

Aos 11′, Steve Finnan cruzou da direita. A bola desviou na defesa germânica e sobrou para Duff, que finalizou. Mas Oliver Kahn fez uma defesa excepcional, à queima-roupa, fechando todos os espaços. Se contra a Arábia Saudita, Kahn tocou na bola apenas para bater tiro de meta, contra os britânicos ele teve muito trabalho. Fez três defesas salvadoras.

Em um contra-ataque, a Alemanha perdeu uma grande chance para definir o placar. Bernd Schneider deixou com Jancker, que encobriu Given, mas a bola foi fraca e para fora. Finnan já estava na cobertura se a bola tivesse tomado o rumo do gol.

Logo depois, Torsten Frings ganhou no corpo de Kevin Kilbane e cruzou bem da direita. Klose subiu sozinho, mas cabeceou por cima.

O empate demorou, mas aconteceu e fez justiça ao placar.

Aos 47 minutos do segundo tempo, Finnan deu um chutão para a frente. O gigante Niall Quinn ganhou no alto de Christoph Metzelder e desviou de cabeça. Robbie Keane invadiu em velocidade entre Thomas Linke e Carsten Ramelow e finalizou forte já de dentro da pequena área. O monstro Oliver Kahn fechou o ângulo e desviou a bola, que ainda bateu na trave antes de entrar.

Um gol chorado. Só assim mesmo para fazer um gol naquele momento nessa parede que era Oliver Kahn. Ele era um goleiro espetacular e teve seu auge na Copa de 2002.


(Imagem: Andy Hooper / Daily Mail)

● O empate impediu a classificação antecipada da Nationalelf e fez os alemães terem um choque de realidade. Nem tudo eram maravilhas, como a goleada sobre os sauditas fizera parecer. As lesões tiraram jogadores importantes do elenco, que sentia falta da criatividade de Mehmet Scholl e Sebastian Deisler, além da segurança da experiente dupla de zaga Christian Wörns e Jens Nowotny. Os críticos da imprensa alemã eram ferozes com o trio defensivo: Thomas Linke era chamado de lento, Christoph Metzelder de inexperiente e Carsten Ramelow de meio-campista medíocre improvisado como líbero. O centroavante Carsten Jancker, autor de “incríveis” zero gols na Bundesliga pelo Bayern de Munique, cumpria apenas uma função tática de atrair a marcação e era estéril na frente do gol adversário. Críticas justas, apesar da acidez.

A Alemanha ainda venceria Camarões (2 x 0), se classificando em primeiro do grupo. Passaria ainda pelo Paraguai (1 x 0, nas oitavas de final) e Estados Unidos (1 x 0, nas quartas). Na semifinal, venceu a co-anfitriã (e surpresa) Coreia do Sul também por 1 a 0 e chegou à final contra o Brasil, quando perdeu por 2 a 0 e adiou o sonho do tetra.

Na rodada final, a Irlanda bateu a Arábia Saudita por 3 a 0 e se classificou em segundo lugar da chave, com cinco pontos. Curiosamente, a Irlanda passou de fase em todas as Copas que disputou (1990, 1994 e 2002). Nas oitavas de final, os celtas venderam muito caro a eliminação para a Espanha, após empate por 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação. Chegou a perder um pênalti durante os 90 minutos. Mas, no fim, perdeu nos pênaltis por 3 a 2 e saiu de cabeça erguida, de forma invicta.


(Imagem: RTE)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 1 x 1 IRLANDA

 

Data: 05/06/2002

Horário: 20h30 locais

Estádio: Kashima Soccer Stadium

Público: 35.854

Cidade: Ibaraki (Japão)

Árbitro: Kim Milton Nielsen (Dinamarca)

 

ALEMANHA (3-5-2):

IRLANDA (4-4-2):

1  Oliver Kahn (G)(C)

1  Shay Given (G)

2  Thomas Linke

2  Steve Finnan

5  Carsten Ramelow

14 Gary Breen

21 Christoph Metzelder

5  Steve Staunton (C)

22 Torsten Frings

3  Ian Harte

19 Bernd Schneider

18 Gary Kelly

8  Dietmar Hamann

12 Mark Kinsella

13 Michael Ballack

8  Matt Holland

6  Christian Ziege

11 Kevin Kilbane

9  Carsten Jancker

9  Damien Duff

11 Miroslav Klose

10 Robbie Keane

 

Técnico: Rudi Völler

Técnico: Mick McCarthy

 

SUPLENTES:

 

 

12 Jens Lehmann (G)

16 Dean Kiely (G)

23 Hans-Jörg Butt (G)

23 Alan Kelly (G)

3  Marko Rehmer

15 Richard Dunne

4  Frank Baumann

4  Kenny Cunningham

15 Sebastian Kehl

20 Andy O’Brien

16 Jens Jeremies

21 Steven Reid

17 Marco Bode

22 Lee Carsley

18 Jörg Böhme

6  Roy Keane (cortado da delegação)

10 Lars Ricken

7  Jason McAteer

14 Gerald Asamoah

19 Clinton Morrison

7  Oliver Neuville

13 David Connolly

20 Oliver Bierhoff

17 Niall Quinn

 

GOLS:

19′ Miroslav Klose (ALE)

90+2′ Robbie Keane (IRL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

73′ Gary Kelly (IRL) ↓

Steven Reid (IRL) ↑

 

73′ Ian Harte (IRL) ↓

Niall Quinn (IRL) ↑

 

75′ Carsten Jancker (ALE) ↓

Oliver Bierhoff (ALE) ↑

 

85′ Miroslav Klose (ALE) ↓

Marco Bode (ALE) ↑

 

87′ Steve Staunton (IRL) ↓

Kenny Cunningham (IRL) ↑

 

89′ Bernd Schneider (ALE) ↓

Jens Jeremies (ALE) ↑


(Imagem: Balls.ie)

Gols da partida:

Compilado de belas imagens do jogo, com uma ótima música de fundo:

… 04/06/1986 – Dinamarca 1 x 0 Escócia

Três pontos sobre…
… 04/06/1986 – Dinamarca 1 x 0 Escócia


(Imagem: David Cannon / All Sport / Getty Images)

● A Dinamarca foi uma das pioneiras na prática do futebol. Conquistou as medalhas de prata nos Jogos Olímpicos de 1908 e 1912, o bronze em 1948 e novamente a prata em 1960. Em uma fase eliminatória altamente favorável (Malta, Albânia e Luxemburgo), alcançou a semifinal da Eurocopa de 1964. Mas o futebol local só começou a crescer de fato após a regulamentação do profissionalismo no país, a partir de 1978. O patrocínio da cervejaria Calsberg possibilitou a contratação do alemão Sepp Piontek como técnico da seleção nacional a partir de 1979.

A cultura do amadorismo levavam os atletas a serem naturalmente indisciplinados. Eram jogadores que gostavam e estar juntos e se divertirem. Era um conjunto de mulherengos, bêbados e fumantes inveterados. Destaque do time, Preben Elkjær Larsen chegava a consumir de 20 a 30 cigarros por dia, muitas vezes escondido do treinador no vestiário.

A primeira medida adotada pelo técnico foi o afastamento do goleiro titular, Birger Jensen. Foi quase um sacrifício simbólico, de forma a deixar claro que a partir de então, os atletas deveriam respeitar regras – e os dinamarqueses não costumavam respeitar nenhuma, por mais que elas nem fossem tão rígidas.


(Imagem: FourFourTwo)

● O principal motivo de sucesso dos dinamarqueses naquela década foi justamente a falta de expectativas. Como era a primeira boa seleção formada no país, não haviam críticos resmungando sobre as “glórias do passado”. Não existia pressão alguma. Havia mais uma certa incredulidade sobre até onde poderiam chegar. E é aí que começa a semelhança com a seleção holandesa da década de 1970.

De certa forma, foi a Dinamarca de 1986 quem chegou mais perto de emular o futebol total da Laranja Mecânica de 1974: linha de impedimento alta, marcação pressão, ocupação de espaço, movimentação constante, criatividade no passe e velocidade com a bola. E a Holanda tinha que ser mesmo a inspiração para o estilo de jogo dinamarquês: Frank Arnesen, Søren Lerby, Jesper Olsen e Jan Mølby jogaram no Ajax entre 1975 e 1982 e, consequentemente, sofreram a influência do “Carrossel” de Johan Cruijff e companhia (i)limitada.

Mas, à medida que amadurecia, a Dinamarca foi assumindo um caráter próprio. E a principal diferença entre os modelos de jogo estava no estilo. Enquanto a Holanda tinha o enfoque na trocação, com passes rápidos e constantes, a Dinamarca era um time que carregava muito bem a bola em velocidade, especialmente com Arnesen, Michael Laudrup, Elkjær e os dois Olsens (Jesper e Morten).

O 3-5-2 da “Dinamáquina” é derivado do “1-3-3-3” do “Futebol Total”. Mas foi a excepcional noção de posicionamento do experiente líbero e capitão Morten Olsen que permitiu o radicalismo tático. Para Piontek, seu time foi o primeiro na Europa a adotar o sistema 3-5-2. “O motivo foi que eu tinha ótimos jogadores de meio de campo. Eram sete ou oito. Mas eu não tinha muitos defensores bons. Naquela época, os adversários jogavam com dois ou apenas um homem no ataque, então por que eu deveria manter quatro atletas na defesa? E, se eles fossem ofensivos, acabariam tendo de correr oitenta metros para a frente e oitenta metros para trás, o que é bem cansativo. Onde se trabalha mais em uma partida de futebol? No meio de campo, que está envolvido no ataque e na defesa. Eu jogava com dois marcadores [Nielsen e Busk] muito fortes, bons pelo ar, e Morten [Olsen] era o terceiro, atrás. Às vezes, ele saía com a bola e, se fosse necessário, alguém do meio de campo recuava. Era um sistema muito bom, e a Alemanha foi campeã mundial usando esse sistema em 1990. Era econômico também. Sempre era possível mudar quem ia para o ataque. Um descansava enquanto o outro descia.”


(Imagem: FourFourTwo)

● Na Eurocopa de 1984, a Dinamarca estreou perdendo para os franceses, donos da casa, por 1 a 0. Em seguida, goleou de forma empolgante a Iugoslávia por 5 a 0 e venceu a Bélgica de virada por 3 a 2. Na semifinal, empatou com a Espanha por 1 a 1 e só perdeu nos pênaltis por 5 a 4.

Poucos acreditavam que o sucesso seria sustentável, especialmente sem Allan Simonsen. Mesmo em seu ocaso, ele era o nome mais famoso, eleito melhor jogador da Europa em 1977 e vencedor de duas Copas da UEFA pelo Borussia Mönchengladbach e de uma Recopa Europeia pelo Barcelona. Simonsen praticamente deixou de jogar em alto nível quando quebrou a perna na primeira partida da Euro 1984.

Mas o time conseguiu ficar ainda melhor. Com apenas 22 anos, o jovem Michael Laudrup já vestia a camisa da Juventus. Mas o principal destaque era Preben Elkjær Larsen, que havia liderado o surpreendente Verona campeão italiano da temporada 1984/85.

Tecnicamente brilhante, a consistência nunca foi o forte da Dinamarca, principalmente pela vulnerabilidade de sua maneira de jogar. Era um risco assumido. Era um time capaz de impor goleadas (5 a 1 na Noruega e 4 a 1 na Irlanda, pelas rodadas finais das eliminatórias para a Copa de 1986) e sofrer outras (6 a 0 para a Holanda e 4 a 0 para a Alemanha Oriental, ambas em amistosos). Na Copa, Piontek não estava disposto a mudar. “No México, devemos atacar, como sempre fizemos”, prometeu e cumpriu.


Sir Alex Ferguson, ao lado do seu auxiliar técnico Walter Smith)

● A Escócia ainda estava de luto pela perda do maior treinador da história do país até então. Jock Stein liderou o Celtic no mítico título da Taça dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League) de 1966/67 e ao vice-campeonato de 1969/70. Foi o primeiro time britânico a conquistar o torneio (antes de qualquer clube inglês). Já havia dirigido a seleção escocesa no Mundial de 1982, quando foi eliminado na primeira fase no critério de saldo de gols após perder para o Brasil (4 x 1), empatar com a União Soviética (2 x 2) e vencer a Nova Zelândia (5 x 2). Foi o mais próximo que a “Tartan Army” chegou de passar de fase em uma Copa do Mundo.

Em 10/09/1985, a seleção escocesa jogou contra o País de Gales na casa do adversário, valendo uma vaga na repescagem para a Copa do ano seguinte. Essa partida foi um verdadeiro “teste para cardíacos”. E o coração de Jock Stein foi reprovado nesse teste. Ele teve um infarto fulminante ainda dentro de campo e caiu morto após a partida, aos 62 anos de idade. Com melhor saldo de gols, o empate em 1 a 1 foi suficiente para a Escócia seguir à repescagem – onde eliminou a Austrália.

Depois da morte de Stein, a Escócia passou a ser treinada pelo então auxiliar técnico Alex Ferguson (que se tornaria um dos maiores gênios do banco que o futebol conheceu). Cinco meses e dois dias depois, Ferguson assumiria o comando do Manchester United, onde reinaria por 26 anos ininterruptos.

Mas aquele elenco escocês carecia de talento. Os principais destaques era o experiente trio de meio-campistas: Graeme Souness (líder e capitão), Gordon Strachan e Steve Nicol, além do atacante Steve Archibald (que atuava no Barcelona). O time sentiu muita falta de sua estrela e maior ídolo, Kenny Dalglish, que havia lesionado o joelho antes do torneio.


Sepp Piontek escalou a Dinamarca no futurista sistema 3-5-2. Søren Busk e Ivan Nielsen eram os dois defensores centrais e Morten Olsen era o líbero. Jens Jørn Bertelsen fazia o balanço defensivo, voltando para jogar entre os zagueiros se necessário. Søren Lerby e Klaus Berggreen eram meias que marcavam e criavam. Os alas Frank Arnesen e Jesper Olsen eram meias de origem e tinham como maior característica a velocidade com a bola. Michael Laudrup e Elkjær era uma dupla de ataque de muita movimentação.


A Escócia atuava no esquema tático 4-4-2 britânico clássico. Na ausência de Kenny Dalglish, Graeme Souness liderava o time.

● O sorteio foi cruel e colocou os vikings realmente à prova. O Grupo C era o “da morte”, com Alemanha Ocidental, Uruguai e Escócia. Os holofotes estavam na força dos alemães e na tradição dos uruguaios. Mas ninguém ousava duvidar do potencial dos vikings.

Sepp Piontek exigia seriedade e concentração dos seus atletas, com preleções táticas de três horas. Já no México, a preparação incluía treinos na altitude com o uso se máscaras de oxigênio, em sessões que chegavam a durar das oito horas da manhã às onze e meia da noite.

Na estreia, frente aos escoceses, a Dinamarca mostrou amplo domínio territorial durante todos os noventa minutos. Porém, faltou tranquilidade e sobrou preciosismo no momento de definir a maioria dos lances.

Michael Laudrup carregou pelo meio, passou por dois marcadores e chutou por cima.

A Escócia respondeu. Após cobrança de escanteio, Richard Gough cabeceou por cima.

Gordon Strachan percebeu a penetração de Gough pelo meio e deixou o lateral na cara do gol. Ele dribla o goleiro Troels Rasmussen, finaliza de esquerda por cima. A Dinamarca deixava brechas defensivas.

Laudrup lançou para Eljkjær na área. O camisa 10 tirou de Leighton, mas perdeu o ângulo na hora do chute, mandando a bola na rede pelo lado de fora.

Charlie Nicholas fez ótima jogada pela esquerda e rolou na meia-lua para Graeme Souness, que chutou rasteiro para fora.

Elkjær recebeu, dominou e finalizou por cima.

Laudrup deixou com Elkjær, que chutou de primeira, à esquerda de Leighton.

E uma partida fácil se tornou tensa.

O solitário gol da vitória dos nórdicos saiu apenas aos doze minutos do segundo tempo. Após uma bela troca de passes simples pelo meio do campo, Frank Arnesen deixou com Elkjær perto da área. Ele driblou um marcador, invadiu a área e finalizou antes da chegada do goleiro Jim Leighton, que saía para fechar o ângulo. A bola tocou na trave antes de tomar o caminho do gol.


(Imagem: Lance!)

● Na sequência, os escoceses perderam para a Alemanha Ocidental (2 a 1) e empataram sem gols com o Uruguai. Foram os últimos colocados do Grupo E, com apenas um ponto. Curiosamente, em oito Copas do Mundo disputadas, a Escócia nunca passou da primeira fase.

Com um jeito ofensivo e alegre de jogar, a Dinamarca se tornou o segundo time favorito de todo o mundo. Era admirada por sua coragem e seu estilo como nenhuma outra seleção desde então. E os nórdicos terminaram a primeira fase como líderes do “grupo da morte”, com 100% de aproveitamento, três vitórias em três jogos. Venceram ainda Uruguai (6 x 1) e Alemanha Ocidental (2 x 0). Anotaram nove gols e sofreram apenas um, de pênalti. Enfrentaria a Espanha nas oitavas de final no dia 18 de junho.


(Imagem: Seen Sport Images)

FICHA TÉCNICA:

 

DINAMARCA 1 x 0 ESCÓCIA

 

Data: 04/06/1986

Horário: 16h00 locais

Estádio: Neza 86

Público: 18.000

Cidade: Nezahualcóyotl (México)

Árbitro: Lajos Németh (Hungria)

 

DINAMARCA (3-5-2):

ESCÓCIA (4-4-2):

1  Troels Rasmussen (G)

1  Jim Leighton (G)

3  Søren Busk

2  Richard Gough

4  Morten Olsen (C)

5  Alex McLeish

5  Ivan Nielsen

6  Willie Miller

15 Frank Arnesen

3  Maurice Malpas

9  Klaus Berggreen

7  Gordon Strachan

12 Jens Jørn Bertelsen

8  Roy Aitken

6  Søren Lerby

4  Graeme Souness (C)

8  Jesper Olsen

13 Steve Nicol

11 Michael Laudrup

19 Charlie Nicholas

10 Preben Elkjær Larsen

20 Paul Sturrock

 

Técnico: Sepp Piontek

Técnico: “Sir” Alex Ferguson

 

SUPLENTES:

 

 

16 Ole Qvist (G)

12 Andy Goram (G)

22 Lars Høgh (G)

22 Alan Rough (G)

2  John Sivebæk

14 David Narey

17 Kent Nielsen

15 Arthur Albiston

7  Jan Mølby

10 Jim Bett

13 Per Frimann

11 Paul McStay

20 Jan Bartram

16 Frank McAvennie

21 Henrik Andersen

21 Davie Cooper

14 Allan Simonsen

9  Eamonn Bannon

18 Flemming Christensen

18 Graeme Sharp

19 John Eriksen

17 Steve Archibald

 

GOL: 57′ Preben Elkjær Larsen (DIN)

 

CARTÃO AMARELO: 84′ Klaus Berggreen (DIN)

 

SUBSTITUIÇÕES:

61′ Paul Sturrock (ESC) ↓

Frank McAvennie (ESC) ↑

 

74′ Gordon Strachan (ESC) ↓

Eamonn Bannon (ESC) ↑

 

74′ Frank Arnesen (DIN) ↓

John Sivebæk (DIN) ↑

 

80′ Jesper Olsen (DIN) ↓

Jan Mølby (DIN) ↑

(Imagem: FourFourTwo)

Melhores momentos da partida (Rede Globo):

Veja o gol da partida desde o início da jogada:

… 03/06/2002 – Brasil 2 x 1 Turquia

Três pontos sobre…
… 03/06/2002 – Brasil 2 x 1 Turquia


O Fenômeno estava de volta (Imagem: O Globo)

Campeã da Copa do Mundo de 1994, a Seleção Brasileira sofreu um duro golpe ao perder de 3 a 0 para a França na final do Mundial de 1998. Mesmo contando com uma geração espetacular e craques do nível de Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos, a preparação para 2002 não foi nada tranquila. Zagallo deu lugar a Vanderlei Luxemburgo e o Brasil venceu e convenceu na Copa América de 1999, mas depois começou a oscilar. Ronaldo se lesionou seriamente e ficou mais de dois anos sem jogar.

Luxa foi demitido depois do fiasco nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. Os maus resultados na Copa das Confederações de 2001 derrubou também Emerson Leão, seu sucessor. Luiz Felipe Scolari começou mal, sendo eliminado na Copa América de 2001 pela fraca seleção de Honduras. No fim do ano, a duras penas, Felipão contou com a tabela favorável e a estrela de Luizão para garantir a classificação para a Copa de 2002.

E no ano da Copa, o treinador precisou reconstruir o time à sua maneira. Deu chances a Anderson Polga, Gilberto Silva, Kléberson e Kaká e montou a famosa “Família Scolari”, com jogadores de sua confiança. Com isso, deixou de fora estrelas como Romário, Djalminha, Alex, Zé Roberto, Juan e outros.

Apesar das críticas e do forte apelo popular, Felipão insistiu em deixar Romário de fora das convocações, depois que o “Baixinho” pediu dispensa da Copa América de 2001, alegando que faria um tratamento no olho, mas atuou pelo Vasco em uma excursão caça-níquéis no México. Romário pediu desculpas e chorou em entrevista coletiva, mas não convenceu o treinador, que preferiu convocar Luizão – fundamental na reta final das Eliminatórias.

Apostando no forte e constante apoio dos laterais Cafu e Roberto Carlos, Scolari os transformou em alas e escalou a Seleção no sistema 3-5-2. O esquema não trazia boas recordações para os brasileiros, que se recordavam do fiasco da Seleção em 1990, comandada por Sebastião Lazaroni. Mas, diferente de doze anos atrás, dessa vez o time ficou mais sólido na defesa e continuou forte no ataque.

No sorteio do chaveamento da Copa, o Brasil caiu no Grupo C, com adversários teoricamente fáceis, como a pouco tradicional Turquia, a estreante China e a fraca Costa Rica.


Seleção turca na Copa do Mundo de 2002 (Imagem: UOL)

● A única participação da Turquia em Copas do Mundo havia sido em 1954, quando caiu em um grupo com Hungria, Alemanha Ocidental e Coreia do Sul. Perdeu na estreia para a Alemanha por 4 a 1 e venceu a Coreia do Sul por 7 a 0. Devido ao regulamento, não enfrentou a Hungria e precisou disputar um jogo-desempate, novamente contra os alemães – perdeu por 7 a 2 e foi eliminada na primeira fase.

Mas o histórico recente era bom, muito graças àquela geração que colocava seu país novamente em um Mundial 48 anos depois. Do elenco de 2002, sete atletas haviam disputado a Eurocopa de 1996 e 14 estavam na Euro 2000. A espinha dorsal da equipe era o Galatasaray campeão da Copa da UEFA na temporada 1999/2000 – onze dos 23 convocados haviam participado daquela que é a maior conquista de um clube turco.

Era um time muito bem treinado pelo ex-goleiro Şenol Güneş. Além do ótimo conjunto, haviam destaques individuais, como o forte centroavante Hakan Şükür (da Inter de Milão), o goleiro Rüştü Reçber (que jogaria no Barcelona depois do Mundial) e o meia Yıldıray Baştürk (vice-campeão da UEFA Champions League na temporada 2001/02, com o Bayer Leverkusen). Ao fim da Copa, três turcos foram nomeados para a seleção do torneio: o goleiro Rüştü, o zagueiro Alpay Özalan e o meia-atacante Hasan Şaş.


Felipão apostou no sistema 3-5-2, para liberar o avanço dos laterais. A seleção ficou mais sólida na defesa e continuou forte no ataque. Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo se revezavam na criação e no ataque.


Şenol Güneş espelhava o esquema brasileiro no 3-5-2. As apostas turcas eram na defesa bem postada, na criatividade de Yıldıray Baştürk, na velocidade de Hasan Şaş e no oportunismo de Hakan Şükür.

● Era um dia incomum. Em plena segunda-feira, dia 03 de junho, o Brasil acordou mais cedo. Era a estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002, na cidade de Ulsan, na Coreia do Sul. Devido ao fuso-horário, a partida ocorreu em um horário bastante incomum para nós: seis horas da manhã. Mas valeu a pena ter acordado mais cedo.

Mas nem tudo começou bem. Na véspera da estreia, o então capitão Émerson deslocou o ombro nos treinos, jogando como goleiro. Um desfalque importante para o sistema idealizado por Scolari.

Todavia, como costuma acontecer, a Seleção entrou em campo com total favoritismo. Mas encontrou um duro adversário e enfrentou muitas dificuldades para vencer. O nervosismo é natural na estreia, mas o Brasil começou jogando muito bem. Nos primeiros 15 minutos, dominou totalmente o adversário, embora não tenha conseguido transformar em gol nenhuma das chances criadas. Destaque para o goleiro Rüştü Reçber, que fechou a baliza. Não estava fácil passar pelo goleiro turco.

Ronaldo pedalou pela esquerda e cruzou para Rivaldo cabecear firme. Rüştü foi pego no contrapé, mas fez uma defesa dificílima.

Logo após, Rivaldo chutou da entrada da área, mas o goleiro turco defendeu em dois tempos.

Depois disso, a Turquia pareceu se livrar do nervosismo da estreia e passou a equilibrar as ações. Edmílson fez pênalti em Hasan Şaş, não marcado pelo árbitro.

Aos 47 minutos do primeiro tempo, a Turquia abriu o placar. Yıldıray Baştürk carregou a bola pela direita e inverteu o jogo. Na esquerda, Hasan Şaş apareceu nas costas de Cafu e chutou forte, de primeira, no alto do gol de Marcos.


Ronaldo se esticou todo para marcar o primeiro gol brasileiro na Copa (Imagem: Getty Images)

● Na segunda etapa, o Brasil foi em busca do empate. Rivaldo entrou na área, driblou Rüştü, mas foi travado na hora do chute.

O empate brasileiro veio aos cinco minutos do segundo tempo. Juninho Paulista abriu para Rivaldo na esquerda. O camisa 10 ergueu a cabeça e cruzou para a pequena área. Ronaldo Fenômeno apareceu voando no espaço livre entre os zagueiros e o goleiro e usou todo seu oportunismo, esticando a perna no ar para finalizar com a ponta do pé. Um malabarismo, uma acrobacia, que só poderia ser feita por quem estivesse 100% fisicamente. Foi o primeiro gol de Ronaldo pela Seleção em mais de mil dias. O Fenômeno estava de volta.

Mesmo que de forma desordenada, o Brasil continuou atacando. Ronaldo passou por dois adversários, mas chutou fraco e Rüştü defendeu.

Aos 17′, Cafu tocou para Juninho, livre dentro da área. Ele chutou e Rüştü impediu o segundo gol canarinho. Após a cobrança de escanteio, Rivaldo foi lançado e marcou de cabeça, mas o árbitro anulou o gol. Uma decisão polêmica.

A Turquia também teve as suas chances. Em cobrança de falta ensaiada, Marcos rebateu e voou para pegar o rebote.

Pareceria mesmo que o Brasil seria frustrado com um empate no jogo de estreia. Mas, aos 41 minutos, a Turquia errou a saída de bola. Luizão (que tinha acabado de entrar no lugar de Ronaldo) ganhou de Alpay Özalan na velocidade e foi derrubado na meia-lua. O brasileiro seguiu se arrastando até cair dentro da área. O árbitro sul-coreano Kim Young-joo expulsou corretamente Alpay, mas marcou erradamente o pênalti. Na cobrança, Rivaldo bateu firme, no canto esquerdo de Rüştü e marcou o gol do alívio e da vitória brasileira.

Já nos acréscimos, quase sempre discreto Rivaldo protagonizou um lance ridículo. Enquanto o brasileiro se preparava para cobrar um escanteio, Hakan Ünsal chutou uma bola na coxa do camisa 10 brasileiro, que encenou uma pancada no rosto. O árbitro deu cartão vermelho para Ünsal, que foi o centésimo atleta expulso em uma Copa. Mas o brasileiro acabou multado pela FIFA em US$ 7,5 mil por atitude anti-desportiva.


Luizão sofreu falta fora da área, mas a arbitragem assinalou pênalti (Imagem: Extra / Globo)

“Ganhar da Turquia na primeira fase foi muito importante, o time deles era bom e saímos pendendo. Acho que nessa partida mostramos força e aonde poderíamos ir. Virar aquela partida foi inesquecível.” — Ronaldo

“A estreia é pior que a final. Ali é que você sabe como está. Se o primeiro jogo for ruim, parece que o caminho fica muito mais longo.” — Marcos

Apesar da boa estreia da Turquia, seria injusto que o Brasil não vencesse a partida, principalmente pelo volume de jogo e pelas chances criadas. Mas a verdade é que as decisões do juiz interferiram demais no resultado a favor da Seleção Brasileira.

Após a partida, os atletas turcos argumentaram que foram prejudicados pela arbitragem. Criticados pela imprensa de seu país, os jogadores decidiram que só concederiam entrevistas à imprensa estrangeira – o que ocorreu até o fim da Copa.

Os turcos perderam a batalha, mas se manteriam até o fim da guerra. Ao decorrer da Copa, mostraram um excelente desempenho. Nas partidas seguintes, a Turquia empatou com a Costa Rica em 1 x 1 e venceu a China por 3 x 0. Nas oitavas, bateu o Japão por 1 x 0. Senegal foi o adversário das quartas, só derrotado na prorrogação (1 x 0) com um gol de ouro de İlhan Mansız. Na semifinal, perdeu novamente para o Brasil (1 x 0). Conquistou o histórico 3º lugar no Mundial ao vencer a Coreia do Sul por 3 x 2. Nessa partida, Hakan Şükür marcou o gol mais rápido da história das Copas, aos 10,8 segundos. A Turquia é a única seleção a ter vencido dois anfitriões em uma mesma edição de Mundial (Japão e Coreia do Sul).

Na sequência, o Brasil goleou a China por 4 a 0 e a Costa Rica por 5 a 2. Nas oitavas de final, sofreu para vencer a Bélgica por 2 a 0. Nas quartas, contou com a genialidade de Ronaldinho Gaúcho para virar o placar contra a Inglaterra e vencer por 2 a 1. Nas semifinais, o reencontro com a Turquia só foi decidido com um bico genial de Ronaldo e vitória por 1 a 0. Na decisão, o Brasil foi mais consistente e venceu a Alemanha por 2 a 0, com dois gols de Ronaldo, artilheiro do certame com oito gols.


Rivaldo foi decisivo para a vitória brasileira (Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 1 TURQUIA

 

Data: 03/06/2002

Horário: 18h00 locais

Estádio: Munsu Cup Stadium

Público: 33.842

Cidade: Ulsan (Coreia do Sul)

Árbitro: Kim Young-joo (Coreia do Sul)

 

BRASIL (3-5-2):

TURQUIA (3-5-2):

1  Marcos (G)

1  Rüştü Reçber (G)

3  Lúcio

5  Alpay Özalan

5  Edmílson

16 Ümit Özat

4  Roque Júnior

3  Bülent Korkmaz

2  Cafu (C)

4  Fatih Akyel

8  Gilberto Silva

8  Tugay Kerimoğlu

19 Juninho Paulista

20 Hakan Ünsal

6  Roberto Carlos

21 Emre Belözoğlu

11 Ronaldinho Gaúcho

10 Yıldıray Baştürk

10 Rivaldo

11 Hasan Şaş

9  Ronaldo

9  Hakan Şükür (C)

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Şenol Güneş

 

SUPLENTES:

 

 

12 Dida (G)

12 Ömer Çatkıç (G)

22 Rogério Ceni (G)

23 Zafer Özgültekin (G)

13 Belletti

2  Emre Aşık

14 Ânderson Polga

22 Ümit Davala

16 Júnior

18 Ergün Penbe

18 Vampeta

14 Tayfur Havutçu

15 Kléberson

13 Muzzy Izzet

7  Ricardinho

7  Okan Buruk

23 Kaká

19 Abdullah Ercan

17 Denílson

15 Nihat Kahveci

20 Edílson

6  Arif Erdem

21 Luizão

17 İlhan Mansız

 

GOLS:

45+2′ Hasan Şaş (TUR)

50′ Ronaldo (BRA)

87′ Rivaldo (BRA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

21′ Fatih Akyel (TUR)

24′ Hakan Ünsal (TUR)

44′ Alpay Özalan (TUR)

73′ Denílson (BRA)

 

CARTÕES VERMELHOS:

86′ Alpay Özalan (TUR)

90+4′ Hakan Ünsal (TUR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

66′ Bülent Korkmaz (TUR) ↓

Ümit Davala (TUR) ↑

 

66′ Yıldıray Baştürk (TUR) ↓

İlhan Mansız (TUR) ↑

 

67′ Ronaldinho Gaúcho (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

72′ Juninho Paulista (BRA) ↓

Vampeta (BRA) ↑

 

73′ Ronaldo (BRA) ↓

Luizão (BRA) ↑

 

88′ Tugay Kerimoğlu (TUR) ↓

Arif Erdem (TUR) ↑

(Imagem: Getty Images)

Reportagem sobre a partida (SporTV):

Melhores momentos da partida:

Partida completa:

… 02/06/1986 – União Soviética 6 x 0 Hungria

Três pontos sobre…
… 02/06/1986 – União Soviética 6 x 0 Hungria


(Imagem: World Cup Archive)

● A Hungria é detentora de feitos históricos no futebol, tendo como maior destaque os vice-campeonatos nas Copas do Mundo de 1938 e 1954. É a maior vencedora da modalidade nos Jogos Olímpicos, com três medalhas de ouro (1952, 1964 e 1968), uma de prata (1972) e uma de bronze (1960). Aplicou as duas maiores goleadas da história das Copas do Mundo: 10 x 1 sobre El Salvador em 1982 e 9 x 0 sobre a Coreia do Sul em 1954.

Mas esse histórico não tem a força que tinha antes e a Hungria não disputa uma Copa do Mundo desde 1986. O Mundial do México, inclusive, foi palco de um dos maiores vexames dos magiares nos gramados. Principalmente a estreia, que foi mesmo para ser esquecida.


(Imagem: Futebol Comunista)

● A Hungria havia sido eliminada na primeira fase em 1978 e 1982. Sofria com o dilema sobre como adaptar seu tradicional estilo refinado de jogo a um futebol cada vez mais físico, com mais estatura e velocidade. E em 1983, György Mezey assumiu o comando técnico da seleção. Os resultados melhoraram de imediato. E, aos poucos, o treinador foi renovando quase toda a equipe.

O grande destaque era o jovem meia Lajos Détári. Preciso nos passes e lançamentos longos, era apelidado de “Platini húngaro”. Era o principal responsável por municiar o veloz ponta direita József Kiprich e o centroavante Márton Esterházy, que se movimentava por todo o setor.

Nas eliminatórias, passou com tranquilidade em um grupo difícil: Holanda (de Gullit, Van Basten, Rijkaard e Ronald Koeman), a eterna rival Áustria e o fraco Chipre. Depois, mostrou sua força também nos jogos amistosos, nas vitórias sobre Alemanha Ocidental (1 x 0 em Hamburgo), País de Gales (3 x 0 em Cardiff) e Brasil (3 x 0 em Budapeste). A Hungria tinha um time encaixado e jogava bonito como não se via desde 1954. Por tudo isso, chegou ao México cotada como surpresa da Copa, com potencial para chegar longe.

A URSS chegava ao México com uma mudança importante no comando técnico. Eduard Malofeyev (que fez história levando o Dinamo Minsk ao título soviético) o deu lugar a Valeriy Lobanovs’kyi. O novo técnico apostou na base do Dínamo de Kiev, time que treinava e havia se sagrado campeão da Recopa Europeia naquela temporada recém finalizada. Dos 22 atletas convocados, 11 pertenciam ao clube ucraniano. Curiosamente, Kiev fica a pouco mais de 100 km de Chernobyl, que havia sofrido um gravíssimo acidente nuclear menos de dois meses antes do início da Copa de 1986. Era um time coeso, mas sem muito brilho individual.


A URSS jogava no 4-5-1, com um líbero atrás da linha de três defensores. Os meias laterais tinham muita habilidade e apoiavam Belanov no ataque.


A Hungria jogava no 4-4-2 clássico, com Lajos Détári carimbando todas as jogadas do time pelo meio.

● Desde o início, os soviéticos atropelaram. Logo no segundo minuto, Aleksandr Zavarov cobrou falta, a defesa se atrapalhou com a bola e Pavel Yakovenko chutou no canto. Placar aberto: 1 a 0 para a URSS.

Dois minutos depois, Sergey Aleynikov tabelou com Igor Belanov, que fez o pivô e devolveu para Aleynikov disparar no ângulo, sem chances para o goleiro.

Aos 24′, Zavarov avançou e sofreu pênalti. O craque Belanov cobrou forte e alto, no meio do gol.

O marcador foi ampliado aos 21 minutos do segundo tempo. Yakovenko avançou pelo meio e lançou Ivan Yaremchuk na área. O meia driblou o goleiro Péter Disztl e tocou para as redes. Não perca a conta: 4 a 0.

Aos 30, Yaremchuk fez o segundo. Ele tabelou com Belanov e chutou prensado com um zagueiro. A bola saiu do alcance do goleiro e tocou na trave antes de entrar.

O placar de 6 a 0 foi fechado aos 35′. Aleynikov avançou sem marcação e Disztl saiu para dividir a jogada. A bola sobrou para Rodionov tocar para dentro.

Durante todo o tempo, a URSS demonstrou uma excepcional organização tática e surpreendente resistência física. Os soviéticos desperdiçaram inúmeras oportunidades claras.

Os húngaros estavam tão perdidos em campo, que só não sofreram mais gols porque Belanov cobrou um pênalti por cima quando o jogo já estava 5 a 0. Foram falhas individuais gritantes, especialmente no setor defensivo. O zagueiro Antal Róth, inclusive, foi substituído antes dos 15 minutos. O time sentiu muito a falta de seu capitão, o experiente meia Tibor Nyilasi, que teve que se submeter a uma cirurgia na coluna, em março e ficou fora do Mundial.

Em noventa minutos, a Hungria despencou de candidata a surpresa para maior decepção da Copa.


(Imagem: Pinterest)

● Essa partida foi fonte de várias piadas prontas, como “clássico comunista”, “goleada atômica” e até os dizeres que os soviéticos estavam “dopados com radiação”.

Essa foi a maior goleada do torneio. E foi bastante dolorosa, pois não foi para um adversário qualquer. Foi justamente para a União Soviética, líder do bloco comunista, conhecido como “Cortina de Ferro”. O regime cairia no país do leste europeu no dia 23 de outubro de 1989. Mas, naquele ano de 1986, completavam-se três décadas da invasão soviética que sufocou o levante político húngaro de 1956, com consequências eternas em âmbitos político, social, econômico e esportivo.

A União Soviética terminou a primeira fase como líder do grupo C, com vitórias sobre a Hungria (goleada por 6 a 0) e Canadá (2 a 0), além de um empate com a fortíssima França (1 a 1). Os soviéticos eram favoritos nas oitavas de final, mas perderam para a Bélgica por 4 x 3 na prorrogação – na qual foram claramente prejudicados pela arbitragem em dois lances cruciais.

Após a derrota para os soviéticos, mesmo jogando de forma displicente, a Hungria venceu o Canadá por 2 x 0 e perdeu para a França por 3 x 0. Com dois pontos, ficou em terceiro lugar no Grupo. Foi eliminada na primeira fase. Perdeu a vaga nas oitavas de final no saldo de gols, bastante prejudicado pela goleada sofrida na estreia.

Esse foi o fiasco húngaro em sua última participação em Copas do Mundo. Com o passar do tempo, o futebol do país foi se enfraquecendo e perdendo a força e o respeito que tinha em todo o mundo. Ficam as histórias, que parecem cada vez mais pertencer a um passado muito distante.


(Imagem: YouTube)

FICHA TÉCNICA:

 

UNIÃO SOVIÉTICA 6 X 0 HUNGRIA

 

Data: 02/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Irapuato (atual Estadio Sergio León Chávez)

Público: 16.500

Cidade: Irapuato (México)

Árbitro: Luigi Agnolin (Itália)

 

UNIÃO SOVIÉTICA (4-5-1):

HUNGRIA (4-4-2):

1  Rinat Dasayev (G)

1  Péter Disztl (G)

2  Vladimir Bessonov

2  Sándor Sallai

10 Oleg Kuznetsov

3  Antal Róth

15 Nikolay Larionov

6  Imre Garaba

5  Anatoliy Dem’yanenko (C)

14 Zoltán Péter

21 Vasiliy Rats

5  József Kardos

20 Sergey Aleynikov

8  Antal Nagy (C)

7  Ivan Yaremchuk

10 Lajos Détári

8  Pavel Yakovenko

19 György Bognár

9  Aleksandr Zavarov

7  József Kiprich

19 Igor Belanov

11 Márton Esterházy

 

Técnico: Valeriy Lobanovs’kyi

Técnico: György Mezey

 

SUPLENTES:

 

 

16 Viktor Chanov (G)

18 József Szendrei (G)

22 Sergey Krakovs’kyi (G)

22 József Andrusch (G)

3  Aleksandr Chivadze

4  József Varga

4  Gennady Morozov

12 József Csuhay

6  Aleksandr Bubnov

13 László Disztl

12 Andriy Bal

9  László Dajka

13 Gennadiy Litovchenko

15 Péter Hannich

17 Vadim Yevtushenko

16 József Nagy

14 Sergey Rodionov

17 Győző Burcsa

18 Oleg Protasov

21 Gyula Hajszán

11 Oleg Blokhin

20 Kálmán Kovács

 

GOLS:

2′ Pavel Yakovenko (URSS)

4′ Sergey Aleynikov (URSS)

24′ Igor Belanov (URSS) (pen)

66′ Ivan Yaremchuk (URSS)

73′ László Dajka (URSS) (gol contra)

80′ Sergey Rodionov (URSS)

 

SUBSTITUIÇÕES:

13′ Antal Róth (HUN) ↓

Győző Burcsa (HUN) ↑

 

62′ Zoltán Péter (HUN) ↓

László Dajka (HUN) ↑

72′ Pavel Yakovenko (URSS) ↓

Vadim Yevtushenko (URSS) ↑

 

69′ Igor Belanov (URSS) ↓

Sergey Rodionov (URSS) ↑

Melhores momentos:

Partida completa: