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… 07/06/1934 – Alemanha 3 x 2 Áustria

Três pontos sobre…
… 07/06/1934 – Alemanha 3 x 2 Áustria


(Imagem: Yahoo)

● Em sua primeira Copa do Mundo, a inexperiente e (até então) pouco expressiva seleção da Alemanha surpreendeu e conquistou o terceiro lugar. Eliminou a Bélgica com uma vitória por 5 a 2 nas oitavas. Nas quartas, bateu o bom time da Suécia por 2 a 1. Na semifinal, teve desfalques importantes e duas falhas do goleiro Willibald Kreß foram cruciais para que a Tchecoslováquia vencesse por 3 a 1.

O “Wunderteam” (“time maravilha”) austríaco estava desanimado. Após vencer a França nas oitavas (3 x 2) e a Hungria nas quartas (2 x 1), foi bastante prejudicada pela arbitragem na derrota para a anfitriã Itália por 1 a 0 na semifinal.

Na decisão do 3º lugar, os dois países vizinhos se enfrentariam. Com a mesma origem germânica, com culturas semelhantes que praticamente se misturavam, dividem o alemão como o mesmo idioma. E algo mais era comum aos dois, que gerou discórdia desde antes do apito inicial.

Antigamente, era comum que as seleções viajassem para disputar uma Copa do Mundo levando somente o uniforme principal, ignorando a possibilidade de que suas cores poderiam coincidir com as do adversário. E isso aconteceu nessa partida. As duas equipes entraram em campo com seu uniforme tradicional: camisa branca e calção preto. Após muita discussão, os capitães Fritz Szepan e Johann Horvath não chegaram a um acordo sobre quem deveria se trocar. Assim, o jogo começou com as duas seleções vestindo branco. Como não poderia deixar de ser, a confusão foi enorme e a Alemanha abriu o placar. Só após isso, os austríacos acabaram mudando de ideia e pediram permissão para trocar as vestimentas. Um dirigente do Napoli, a equipe local, ofereceu a camisa do clube, que foi prontamente aceita. Com isso, os austríacos ganharam a simpatia da torcida napolitana.


(Imagem: Popper Foto / FIFA)

● O técnico alemão Otto Nerz teve problemas para escalar sua equipe. Entre deserções e lesões durante o torneio, ele tinha apenas dez atletas à disposição para a última partida. Como as regras da FIFA não eram tão rígidas, Nerz convocou de última hora o defensor Reinhold Münzenberg, que estava na Alemanha. Münzenberg havia atuado quatro vezes com a camisa da “Nationalelf”, inclusive nas eliminatórias. Ao receber o chamado, o jogador telefonou para o hotel onde se hospedava a delegação alemã e conversou diretamente com o até então auxiliar técnico Sepp Herberger. Ele explicou que não poderia viajar à Itália por estar de casamento marcado no mesmo dia do jogo. Herberger insistiu e convenceu Münzenberg: “Uma data de casamento pode ser adiada, mas um Mundial, não”. Curiosamente, Münzenberg estaria no elenco de sua seleção também em 1938.

Uma das ausências no escrete alemão foi o meia Rudolf Gramlich. Após a vitória de sua seleção sobre a Suécia por 2 x 1, ele recebeu a notícia de que a fábrica de sapatos na qual trabalhava, em Frankfurt, como curtidor tinha sido confiscada pelas autoridades nazistas. Como o futebol alemão era amador e a fábrica era seu único emprego remunerado, ele abandonou a Copa para tentar ajudar seus patrões judeus a salvar a empresa. Nem sua boa reputação representando seu país no Mundial foi suficiente e ele não conseguiu impedir a prisão e posterior morte de seus patrões. Algum tempo depois, Gramlich se tornou militar do exército nazista.


Otto Nerz era um adepto do sistema W-M, recém criado na Europa. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá enfâse ao trabalho do meio de campo.


A Áustria de Meisl jogava em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos. Sem Sindelar, lesionado, faltou movimentação ao ataque.

● Historicamente, a Áustria levava ampla vantagem. Mas isso não se traduziu em campo em Nápoles, no estádio Giorgio Ascarelli – que viria a ser destruído por bombardeios na Segunda Guerra Mundial.

Matthias Sindelar, conhecido como “Der Papierene” (“Homem de Papel”) pelo seu físico magro, leveza e mobilidade, estava lesionado e não pôde jogar. Em campo, a Áustria demonstrou que dependia muito do estilo de jogo de seu astro para que todo o time funcionasse.

A Alemanha teve sorte ao marcar um gol logo aos 25 segundos de jogo, com Ernst Lehner. Na época, foi o gol mais rápido da história das Copas.

Edmund Conen marcou seu quarto gol no Mundial e fez 2 a 0 aos 27′.

A Áustria diminuiu três minutos depois com o capitão Johann Horvath.

Mas pouco antes do intervalo, Lehner marcou de novo e aumentou a vantagem.

No segundo tempo, a Áustria cresceu em campo. O zagueiro Karl Sesta ainda descontou aos 9′.

Mas foi pouco. A derrota seria o canto de cisne do “Wunderteam”.


(Imagem: Impromptuinc)

● Quatro anos depois, a seleção austríaca ainda tinha jogadores remanescentes do “Wunderteam”. Se classificou com tranquilidade nas eliminatórias, mas não pôde disputar a Copa do Mundo de 1938.

Na véspera do torneio, a Europa estava às portas da Segunda Guerra Mundial, que ocorreu oficialmente entre 1939 e 1945. E o conflito político interferiu diretamente no Mundial organizado pela França.

No dia 11/03/1938, a Alemanha nazista deu um choque no mundo ao anexar a Áustria ao seu território, em um processo chamado “Anschluss” (“anexação”, em alemão). Assim, a Áustria deixou de existir como nação independente. Com isso, o “Wunderteam” teria jogadores “prestando serviços” à seleção alemã – foi o que a federação germânica comunicou à FIFA, sem mais delongas. A invasão piorou as relações diplomáticas no continente. A FIFA tentou ignorar o caso ao máximo. Para tentar contornar a situação, a entidade convidou a Inglaterra a ocupar a vaga austríaca, mas o “English Team” – sabiamente – declinou o convite.

Sem time contra quem jogar, a Suécia (adversária da Áustria) se classificou automaticamente para as quartas de final. Até hoje esse é o único W.O. da história das Copas do Mundo.

Já comandada pelo lendário Sepp Herberger, a seleção alemã contou com nove atletas nascidos na Áustria: o goleiro Rudolf Raftl, o zagueiro Willibald Schmaus, os meias Hans Mock, Stefan Skoumal e Franz Wagner, além dos atacantes Wilhelm Hahnemann, Leopold Neumer, Hans Pesser e Josef Stroh. Desses nove, quatro faziam parte do elenco austríaco na Copa de 1934: Raftl, Schmaus, Wagner e Stroh.

Mas, mesmo com esses “reforços”, a “Nationalelf” foi eliminada na primeira fase. Com cinco deles em campo (Raftl, Schmaus, Hahnemann, Pesser e Mock – o capitão), empatou com a Suíça em 1 a 1. Na partida desempate, novamente eram cinco atletas nascidos na Áustria (Raftl, Skoumal, Hahnemann, Neumer e Stroh). Dessa vez, a Alemanha perdeu de virada por 4 a 2, depois de estar vencendo por 2 a 0.

Matthias Sindelar, melhor jogador de seu país em todos os tempos, se recusou a defender a seleção da Alemanha. Ele faleceu em 23/01/1939, pouco depois de sua esposa. A versão oficial é que ele se matou. A história romântica diz que ele “foi suicidado” pelo regime nazista por ser judeu.

A Áustria teve outros bons times, como o que conquistou o 3º lugar na Copa de 1954, mas nunca mais formou uma seleção de classe mundial como foi o “Wunderteam” da década de 1930 – destruído por Adolf Hitler e cia.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 3 X 2 ÁUSTRIA

 

Data: 07/06/1934

Horário: 18h00 locais

Estádio: Giorgio Ascarelli

Público: 7.000

Cidade: Nápoles (Itália)

Árbitro: Albino Carraro (Itália)

 

ALEMANHA (W-M):

ÁUSTRIA (2-3-5):

Hans Jakob (G)

Peter Platzer (G)

Paul Janes

Franz Cisar

Willy Busch

Karl Sesta

Jakob Bender

Franz Wagner

Reinhold Münzenberg

Josef Smistik

Paul Zielinski

Johann Urbanek

Ernst Lehner

Karl Zischek

Fritz Szepan (C)

Josef Bican

Edmund Conen

Georg Braun

Otto Siffling

Johann Horvath (C)

Matthias Heidemann

Rudolf Viertl

 

Técnico: Otto Nerz

Técnico: Hugo Meisl

 

SUPLENTES:

 

 

Willibald Kreß (G)

Friederich Franzl (G)

Fritz Buchloh (G)

Rudolf Raftl (G)

Sigmund Haringer

Anton Janda

Hans Schwartz

Willibald Schmaus

Rudolf Gramlich

Leopold Hofmann

Ernst Albrecht

Josef Hassmann

Rudolf Noack

Matthias Kaburek

Josef Streb

Josef Stroh

Franz Dienert

Hans Walzhofer

Karl Hohmann

Anton Schall

Stanislaus Kobierski

Matthias Sindelar

 

GOLS:

25” Ernst Lehner (ALE)

27′ Edmund Conen (ALE)

28′ Johann Horvath (AUT)

42′ Ernst Lehner (ALE)

54′ Karl Sesta (AUT)


(Imagem: Impromptuinc)

… 27/05/1934 – Áustria 3 x 2 França

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Áustria 3 x 2 França


(Imagem: Pinterest)

Como já contamos aqui, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias.

A Áustria terminou em segundo lugar do Grupo 4, embora tenha jogado apenas uma partida e goleado a Bulgária por 6 x 1.

Da mesma forma, a França também foi 2º, mas no Grupo 8. No único jogo, venceu Luxemburgo por 6 a 1.


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Desde aquela época, a França já era tão “plural” e miscigenada como é atualmente. Dois atletas nasceram em cidades que à época pertenciam à Alemanha (Fritz Keller, em Estrasburgo, e Émile Veinante, em Metz). Outros dois nasceram na Argélia, então colônia francesa (Joseph Alcazar e Joseph Gonzales). Além disso, o atacante Roger Courtois nasceu na Suíça.

“Les Bleus” contavam também com veteranos da Copa de 1930. Dos 22 convocados, seis disputaram o primeiro Mundial, com destaque para o goleiro Alex Thépot e o zagueiro Étienne Mattler. Mas a esperança de gols estava depositada mesmo em Jean Nicolas, centroavante do FC Rouen, de apenas 20 anos.


Hugo Meisl, com a pasta na mão (Imagem: Imortais do Futebol)

● O técnico austríaco Hugo Meisl foi um dos que solidificaram o sistema tático 2-3-5 na Europa Central. Seus times eram conhecidos pela movimentação constante de seus jogadores do meio para a frente, sempre com rápidas trocas de passes. Essa característica ficou ainda mais incisiva quando Meisl trocou um centroavante estático por Matthias Sindelar, que flutuava entre as linhas e armava os ataques do time.

Até o início do Mundial de 1934, a Áustria havia vencido ou empatado 28 dos 31 jogos que disputou nos três anos anteriores. Havia vencido adversários fortes, como Suécia, Suíça, Itália, Hungria, Alemanha e outras. Não era simplesmente resultado. O time dava show. Tanto, que ganhou o apelido de “Der Wunderteam” (“time maravilha”). Possuía uma verdadeira legião de craques como o já citado Sindelar (maior gênio do futebol do país), Josef Bican (um dos maiores artilheiros da história), e o centromédio e capitão Josef Smistik.

Com tudo isso, e por possuir o melhor retrospecto entre todas as seleções, era impossível que a Áustria não fosse apontada como a maior favorita ao título da segunda Copa do Mundo.


No 2-3-5 de Meisl, os meio-campistas tinham liberdade para armar, embora suas maiores preocupações fossem as defensivas. Sindelar flutuava pelas linhas adversárias em busca de espaço.


O técnico inglês Sid Kimpton também escalava a seleção da França no 2-3-5 ou sistema pirâmide.

● Era o jogo mais esperado da primeira fase e correspondeu às expectativas.

Jean Nicolas abriu o placar para a França aos 18 minutos de jogo.

Os franceses conseguiam fazer uma boa marcação sobre Sindelar. Mas, em uma única brecha que teve, o craque austríaco empatou a partida aos 44′.

O empate no tempo regulamentar levou o jogo para o tempo extra. Essa foi a primeira prorrogação da história das Copas. Eram necessários mais trinta minutos para ser definido o vencedor.

Mais inteira e melhor fisicamente, a Áustria se sobressaiu e marcou dois gols. Anton Schall anotou o seu aos 3′ do 1º e Josef Bican aos 4′ do 2º tempo.

A quatro minutos do fim, Georges Verriest cobrou pênalti e descontou. Mas era tarde para mudar o resultado.

A França estava eliminada logo nas oitavas de final. A Áustria estava classificada para as quartas de final, para enfrentar sua maior rival, a Hungria, que havia vencido o Egito por 4 x 2.


(Imagem: Popper Foto / FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

ÁUSTRIA 3 x 2 FRANÇA

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Benito Mussolini

Público: 16.000

Cidade: Turim (Itália)

Árbitro: Johannes van Moorsel (Holanda)

 

ÁUSTRIA (2-3-5):

FRANÇA (2-3-5):

Peter Platzer (G)

Alex Thépot (G)(C)

Franz Cisar

Jacques Mairesse

Karl Sesta

Étienne Mattler

Franz Wagner

Edmond Delfour

Josef Smistik (C)

Georges Verriest

Johann Urbanek

Noël Liétaer

Karl Zischek

Fritz Keller

Josef Bican

Joseph Alcazar

Matthias Sindelar

Jean Nicolas

Anton Schall

Roger Rio

Rudolf Viertl

Alfred Aston

 

Técnico: Hugo Meisl

Técnico: George “Sid” Kimpton

 

SUPLENTES:

 

 

Friederich Franzl (G)

Robert Défossé (G)

Rudolf Raftl (G)

René Llense (G)

Anton Janda

Joseph Gonzales

Willibald Schmaus

Jules Vandooren

Leopold Hofmann

Georges Beaucourt

Josef Hassmann

Célestin Delmer

Matthias Kaburek

Louis Gabrillargues

Josef Stroh

Roger Courtois

Hans Walzhofer

Lucien Laurent

Johann Horvath

Pierre Korb

Georg Braun

Émile Veinante

 

GOLS:

18′ Jean Nicolas (FRA)

44′ Matthias Sindelar (AUT)

93′ Anton Schall (AUT)

109′ Josef Bican (AUT)

116′ Georges Verriest (FRA) (pen)

Veja alguns lances da partida: