Três pontos sobre… … Cafu jogando no Juventude em 1995
Você sabia que Cafu jogou no Juventude um ano depois de ser campeão do mundo pela Seleção Brasileira?
A Parmalat, patrocinadora do Palmeiras e do Juventude na época, usou o clube gaúcho como uma ponte para burlar uma cláusula que o São Paulo incluiu na venda de Cafu ao Zaragoza.
Na primeira fase, Croácia venceu a Jamaica por 3 x 1 e o Japão por 1 x 0. Já classificada, perdeu para a Argentina por 1 x 0, se classificando em segundo lugar do Grupo H. Nas oitavas, eliminou a Romênia com uma vitória por 1 x 0. Nas quartas, goleou a Alemanha por 3 x 0, demonstrando seu poderio ofensivo. Na semifinal, perdeu de virada para a França por 2 x 1.
Antes da semifinal contra a França, alguns jogadores croatas foram levados pela vaidade e mexeram no cabelo. Os alas Mario Stanić e Robert Jarni descoloriram o cabelo. O capitão Zvonimir Boban desenhou o número 10 em vermelho na parte de trás do cabelo. Tudo isso ajudou a desconcentrar o time.
O técnico Miroslav Blažević, que fora gereral da reserva do Exército Croata durante a guerra separatista nos anos 1990, afastou o craque Prosinečki dos jogos contra alemães e franceses. O artilheiro Šuker e o capitão Boban entraram em conflito com o treinador – o que pode ter atrapalhado internamente o bom time axadrezado. Prosinečki voltou a ser titular contra os holandeses.
A Croácia jogou no sistema 3-6-1, povoando o meio de campo.
A Holanda atuou no 4-4-2.
● Os croatas demonstravam o mesmo empenho das semifinais e saíram na frente logo aos 13 minutos. Robert Jarni avançou da esquerda para o meio e rolou para Robert Prosinečki no lado direito da grande área. Mesmo cercado por três adversários, ele dominou, girou e bateu cruzado. A bola passou entre as pernas de Arthur Numan e entrou à direita do goleiro Edwin van der Sar.
Mesmo desinteressada, a Holanda empatou apenas oito minutos depois em uma das raras investidas ofensivas. Boudewijn Zenden avançou desde seu campo, se livrou de Jarni e, ao “estilo Arjen Robben”, entrou em diagonal da direita para o meio e disparou da meia lua. A bola pegou efeito, fez uma cruva incrível e enganou o goleiro Dražen Ladić, que chegou a tocar na bola antes dela entrar. Uma falha do veterano goleiro croata.
Mas a Croácia passou à frente aos 35′. Aljoša Asanović conduziu a bola e deixou atrás para Zvonimir Boban. Da entrada da área, o camisa 10 rolou de primeira para Davor Šuker chutar rasteiro e cruzado, no cantinho esquerdo do goleiro.
No segundo tempo, bastou que a Croácia segurasse a vantagem e comemorar a terceira colocação – uma posição melhor que a Iugoslávia, com nove Copas no currículo.
(Imagem: Michel Lipchitz / AP Photo)
● “Vocês fizeram mais pelo país do que os diplomatas.” ― Franjo Tuđman, primeiro presidente da Croácia independente e presidente do país na ocasião, disse ao receber a delegação.
Robert Prosinečki entrou para a história como o primeiro jogador a marcar gols por duas seleções diferentes. Ele havia marcado em 1990 pela Iugoslávia na vitória por 4 x 1 sobre os Emirados Árabes Unidos. Em 1998, marcou pela Croácia na vitória por 3 x 1 sobre a Jamaica e voltou a marcar na decisão do 3º lugar, na vitória diante da Holanda por 2 x 1.
Com o gol anotado nessa partida, Davor Šuker chegou a seis gols marcados no torneio e se tornou artilheiro isolado da Copa do Mundo de 1998. Mas ele foi muito mais do que isso: Šuker seria eleito o segundo melhor jogador do Mundial (atrás de Ronaldo), o segundo melhor do mundo no prêmio Bola de Ouro da revista France Football (atrás de Zinedine Zidane) e o terceiro melhor do mundo pela FIFA (atrás de Zidane e Ronaldo).
Três pontos sobre… … 08/07/1998 – França 2 x 1 Croácia
(Imagem: World Today News)
● Mesmo contando com bons jogadores como Jean-Pierre Papin, Éric Cantona e David Ginola, a França não conseguiu se qualificar para os Mundiais de 1990 e 1994. Mas esse problema foi resolvido para 1998: Les Bleus eram os donos da casa.
Na primeira fase, pelo Grupo C, os franceses venceram África do Sul por 3 x 0, Arábia Saudita por 4 x 0 e Dinamarca por 2 x 1. Nas oitavas de final, contaram com o gol de ouro do zagueiro Laurent Blanc para vencer o Paraguai (1 x 0). Nas quartas, venceram a Itália por 4 x 3 na decisão por pênaltis depois de um empate sem gols.
Depois da dissolução da antiga Iugoslávia, essa era a primeira Copa do Mundo da Croácia como nação independente. E acabou surpreendendo o mundo do futebol, não apenas por ter uma seleção fortíssima, mas também pelo uniforme bem diferente do convencional: um xadrez de branco e vermelho.
Na primeira fase, a seleção vatreni venceu a Jamaica por 3 x 1 e o Japão por 1 x 0. Já classificada, perdeu para a Argentina por 1 x 0, se classificando em segundo lugar do Grupo H. Nas oitavas, eliminou a Romênia com uma vitória por 1 x 0. Nas quartas, goleou a Alemanha por 3 x 0, demonstrando seu poderio ofensivo.
A França estava aliviada pela vitória da Croácia sobre a Alemanha. Em 1982 e 1986, Les Bleus enfrentaram Die Mannschaft justamente nas semifinais e perderam ambas, mesmo jogando melhor, com um futebol vistoso e ofensivo.
Antes da partida, vários sentimentos distintos. O experiente zagueiro francês Marcel Desailly queria libertar seu país das amarras dos fracassos antigos: “Não aguento mais ouvir falar das glórias e das derrotas das gerações passadas. Precisamos fazer a nossa história. Queremos ir ainda mais longe que Michel Platini, Alain Giresse e Jean Tigana”.
O técnico croata Miroslav Blažević queria estragar a festa dos anfitriões e viu um ponto fraco onde não existia, na tentativa de desestabilizar o adversário: “Não acredito que a França tenha essa defesa toda que dizem”.
Do outro lado, o treinado francês Aimé Jacquet pregava o respeito: “Os croatas podem não ter a força e a camisa dos alemães. Mas têm alguns jogadores que podem definir um jogo”.
A França jogou no sistema 4-5-1, fechando os espaços no meio e com Zidane e Djorkaeff se aproximando do ataque.
A Croácia atuou no esquema 3-5-2, com o constante avanço dos alas e aproximação dos meias.
● Era enorme a expectativa por um grande jogo. A torcida da francesa era um espetáculo no Stade de France, em Saint-Denis.
A França começou no ataque. Youri Djorkaeff avançou pela direita e cruzou para a área. Stéphane Guivarc’h tocou de calcanhar e Zinedine Zidane chutou, mas o goleiro Dražen Ladić segurou sem dar rebote.
Laurent Blanc fez um lançamento longo da direita para a área. Guivarc’h escorou de cabeça para trás e Zidane bateu de primeira. A bola passou perto da trave esquerda do goleiro croata.
Os franceses perderam oportunidades que não podem ser desperdiçadas. O nervosismo era latente nos donos da casa, que não fizeram um bom primeiro tempo e viram a Croácia assustar com um chute de Aljoša Asanović dentro da área.
E foram os croatas quem abriram o placar no primeiro minuto da etapa final.
Davor Šuker recebeu na direita e foi entrando em diagonal pelo meio. Ele deixou com Asanović, que ganhou da marcação e devolveu por elevação para a infiltração de Šuker, no ponto futuro. Dentro da área, o centroavante dominou e bateu rápido por baixo de Fabien Barthez. Os franceses pediram impedimento no lance, mas Thuram errou a linha e deu condições ao camisa 9 da Croácia. Os franceses ficavam em desvantagem no placar pela primeira vez no Mundial. Mas durou pouco.
(Imagem: The42)
Mas Lilian Thuram se redimiu um minuto depois. Ele avançou pela direita e tentou tocar mais a frente para Thierry Henry. Robert Jarni cortou e, próximo à sua área, Zvonimir Boban deu um giro e demorou a decidir o que fazer. Thuram veio por trás e lhe tomou a bola. Djorkaeff recebeu e devolveu para Thuram, já dentro da área. Sem cacoete para finalização, o zagueiro-lateral bateu na bola meio sem jeito, já caindo, mas a bola foi para o gol.
Thuram parecer ter tomado gosto pelo ataque. Zidane virou o jogo na direita para o camisa 15. Ele avançou e tocou para Henry, que foi travado pela marcação. A bola sobrou para Jarni, que demorou demais para se desfazer da bola. Thuram tomou dele e bateu de esquerda de fora da área. A bola quicou e foi morrer no canto esquerdo do goleiro Ladić.
Mas quatro minutos depois, a França ficou com um homem a menos. Henry tocou para Zidane no meio e Zizou abriu na esquerda para o apoio de Bixente Lizarazu. O lateral basco avançou até sofrer falta de Mario Stanić. Zidane cobrou a falta para a área e, na busca por espaço, Blanc empurrou o rosto de Slaven Bilić. O árbitro entendeu como agressão e expulsou o zagueiro francês.
(Imagem: Sportskeeda)
Com um jogador a mais, a Croácia partiu para o ataque em busca do empate.
Jarni cruzou da esquerda. Na segunda trave, Šuker dominou no peito tirando a marcação de Lizarazu e bateu forte de direita. Desailly chegou travando e impediu o que seria o gol de empate.
Zvonimir Soldo cruzou da direita. Silvio Marić fez o corta luz e Goran Vlaović chutou de longe. A bola desviou no meio do caminho e foi descaindo. Ela tinha o rumo do ângulo direito, mas Barthez voou e mandou para escanteio.
Robert Prosinečki cobrou escanteio à meia altura. Igor Štimac desviou de cabeça para trás, mas a bola não chegou a Šuker. Desailly chutou para o alto e afastou o perigo.
Enquanto isso, a torcida francesa cantava o hino nacional, “La Marseillaise”, em plenos pulmões. E explodiu em êxtase após o apito final.
(Imagem: Sportsnet)
● Nascido no dia 01/01/1972 em Guadalupe – um departamento ultramarino da França no Caribe – Ruddy LilianThuram-Ulien jogou 142 partidas pela seleção francesa, de 1994 a 2008, e marcou apenas dois gols. Justamente os dois que levaram a França para sua primeira final de Copa.
Após três derrotas em semifinais de Copas do Mundo (1958, 1982 e 1986), finalmente a França chegou à final.
“Eu não acredito. Estamos na final!” ― Emmanuel Petit
“Não faço gols nem nos treinamentos. Numa semifinal de Copa, marquei dois. Não sei o que dizer.” ― Lilian Thuram
“Agora, vamos enfrentar os mestres do futebol.” ― Aimé Jacquet
Três pontos sobre… … 30/06/1998 – Argentina 2 x 2 Inglaterra
● O técnico argentino Daniel Passarella gostava de armar seu time com três zagueiros. A frente do goleiro Carlos Roa, ficavam Nelson Vivas mais pela direita, José Chamot mais pela esquerda e Roberto Ayala na sobra. Javier Zanetti fazia a ala direita. Torto, o capitão Diego Simeone fazia a ala esquerda, caindo pelo meio em muitas vezes. Essa função limitava Simeone a uma faixa do campo, mas o liberava para aparecer mais no ataque, o que fazia muito bem. Matías Almeyda era o responsável pela proteção no meio de campo. A criatividade estava a cargo de Juan Sebastián Verón. Ariel Ortega era o meia-atacante que pendia para a direita. Claudio López era o atacante de lado que caía para a esquerda. Todos jogando em função de um dos atacantes mais prolíficos da década: Gabriel Batistuta. No banco, Marcelo Gallardo era da mesma posição de Ortega e Hernán Crespo fazia a função de Batistuta. Não a toa, nenhum técnico seleção albiceleste colocou Crespo e Batistuta para jogarem juntos.
A Argentina terminou a primeira fase como líder go Grupo H com 100% de aproveitamento. Na estreia, venceu o Japão por 1 x 0. No segundo jogo, massacrou a inexperiente Jamaica por 5 x 0. Na terceira rodada, bateu a Croácia por 1 x 0.
No caminho da Argentina, um adversário conhecido, de grandes duelos no campo e fora dele: a Inglaterra.
● O English Team terminou em segundo lugar no Grupo G. Estreou vencendo Tunísia por 2 x 0. Na sequência, perdeu para a Romênia por 2 x 1 e venceu a Colômbia por 2 x 0, com um gol de David Beckham contando falta.
A Inglaterra contava com um bom time, que havia sido semifinalista da Eurocopa de 1996. No gol, o experiente e seguro David Seaman. Na defesa, um trio duro de passar: Gary Neville, Tony Adams e Sol Campbell. Darren Anderton na ala direita e Graeme Le Saux na esquerda. No meio, Paul Ince, Paul Scholes e David Beckham. No ataque, a juventude é impetuosidade de Michael Owen se completava com a experiência e faro de gol de Alan Shearer. No banco, bons nomes como o jovem zagueiro Rio Ferdinand, o meia Steve McManaman e o atacante Teddy Sheringham.
Com apenas 18 anos, Michael Owen, o “Wonderkid” (“Garoto Maravilha”) foi convocado por causa da sequência de lesões e má formação física do genial Paul Gascoigne. Gazza já estava iniciando seu declínio sem fim, sofrendo com o alcoolismo. Segundo as más línguas, foi um curandeira quem recomendou ao técnico Glenn Hoddle para que cortasse o meia do Mundial.
Com a injeção de energia e juventude, o time inglês ficou mais equilibrado e menos previsível.
As duas seleções jogavam em sistemas táticos espelhados – ambas no 3-5-2.
● O que se viu no estádio Geoffroy-Guichard, em Saint-Étienne, foi mais um jogo épico entre argentinos e ingleses.
A Argentina abriu o marcador logo aos cinco minutos. Do lado direito da intermediária defensiva, Roberto Ayala fez o passe na vertical para Gabriel Batistuta. Ele dominou e abriu com Ariel Ortega na direita. O camisa 10 fez o lançamento para a área e Batistuta só conseguiu desviar a bola de leve. Simeone aparece como homem surpresa e, mesmo com a marcação de Southgate, o goleiro Seaman saiu e atropelou o capitão argentino. Pênalti claro. Batistuta bateu com força no canto direito. Seaman chegou a tocar na bola, mas ela entrou. Foi o quinto gol de Batistuta em quatro jogos.
Quatro minutos depois, a Inglaterra pagou na mesma moeda. Le Saux passou para Scholes no meio e ele deu um toque de cabeça para Owen. O Wonderkid invadiu a área e foi levemente tocado por Ayala. Shearer bateu o pênalti no ângulo direito do goleiro Carlos Roa, colocando fim à invencibilidade do gol argentino na Copa.
A virada veio aos 16′. Da meia direita, Beckham fez um lançamento para Owen no meio. Ele dominou de chaleira, ganhou de José Chamot na velocidade e no corpo, driblou Ayala e bateu cruzado, por cima de Roa. Um golaço histórico, que ajudou a consolidar de vez o talento de Michael Owen. Não era mais promessa: era uma bela realidade. Sua imagem era transmitida para todo o planeta e seu talento reconhecido com entusiasmo pela imprensa. Surgia um novo astro – que, infelizmente, não brilharia tanto como aquele prenúncio devido às sucessivas e sérias lesões.
Incentivada pela torcida, a Inglaterra pressionou em busca do terceiro gol. Teve chances para liquidar a partida, mas não aproveitou.
Beckham cobrou falta da direita. A defesa argentina afastou. Paul Ince chutou de longe e a bola saiu, mas assustou bastante o goleiro Roa.
Le Saux avançou pela esquerda, passou por Zanetti e cruzou da linha de fundo, mas Ayala cortou para escanteio.
Seaman bateu falta de sua área mandando a bola para a frente. Ela viajou o campo todo e Shearer escorou de cabeça para o meio da área. Sozinho, quase na pequena área, Scholes não teve tranquilidade e bateu cruzado de esquerda, mas mandou a bola para fora. Foi um verdadeiro gol perdido. Faria muita falta.
A Argentina conseguiu sustentar a pressão e alcançou o empate nos acréscimos do primeiro tempo. Verón tocou para Claudio López próximo à meia lua. Ele recebeu de costas e sofreu falta de Campbell. Na cobrança, uma bela jogada ensaiada. Batistuta fez que chutaria forte, mas deixou para Verón. Ele só rolou para dentro da área para Javier Zanetti, que passou rápido atrás da barreira inglesa e ficou livre. Ele dominou de direita e ajeitou o corpo para bater de esquerda, no alto, sem chances para Seaman. Uma jogada ensaiada que funcionou à beira da perfeição.
Mas o jogo lindo e bem jogado até então se transformou em uma guerra de um momento para outro.
No começo do segundo tempo houve o lance mais polêmico da partida. Simeone chegou firme em uma disputa com Beckham. O astro inglês perdeu a paciência e revidou dando um “coice” de leve no argentino. O árbitro dinamarquês Kim Milton Nielsen mostrou o cartão amarelo a Simeone (pela falta) e o cartão vermelho a Beckham (pela tentativa de agressão).
Um prato cheio para os críticos implacáveis do Spice Boy. O técnico Glenn Hoddle teve que organizar seu time com dez jogadores.
E a Argentina começou a pressionar. Verón abriu na ponta direita para Claudio López, que foi até a linha de fundo e cruzou para trás. A bola chegaria limpa para Nelson Vivas só completar para o gol, mas Shearer estava ajudando a defesa e afastou o perigo.
Depois, o jogo ficou truncado, com muitas faltas no meio de campo. Nenhuma das equipes teve força e criatividade para superar a defesa adversária e marcar o gol que lhe daria a vitória.
No fim da partida, Anderton bateu escanteio fechado e Campbell cabeceou para o gol. Todos já comemoravam até ver que o árbitro havia anulado por falta cometida por Shearer no goleiro Roa. Uma decisão muito discutível da arbitragem.
Depois, Verón abriu na esquerda para Gallardo. Neville cortou e a bola sobrou para Ortega, que deu ótimo passe para Crespo. Mas o camisa 19 chutou em cima da marcação.
As duas equipes sobreviveram à agonia da prorrogação com morte súbita. Mas, para a Inglaterra e seu histórico de cair nas penalidades, viria outro momento agônico.
Sergio Berti bateu a primeira penalidade para os argentinos. O chute foi no cantinho esquerdo. 1 a 0.
Alan Shearer repetiu a cobrança do tempo normal, mandando no ângulo. 1 a 1.
Hernán Crespo bateu fraco, à meia altura, no canto esquerdo. David Seaman pulou certo e fez a defesa sem dificuldades. Permanecia 1 a 1.
Paul Ince bateu mal, do mesmo jeito e no mesmo lugar. Carlos Roa pegou. Ainda estava 1 a 1.
Juan Sebastián Verón, “La Brujita”, bateu da mesma forma que Shearer e mandou no alto, no canto direito do goleiro inglês. 2 a 1.
Paul Merson tentou imitar. A bola foi mais baixa e mais no meio. Roa chegou a tocar, mas a bola entrou. 2 a 2.
Cheio de confiança, Marcelo Gallardo bateu no canto direito. Seaman novamente acertou o canto, mas não conseguiu pegar. 3 a 2.
Michael Owen, no alto de seus 18 anos, mostrou toda a sua confiança. Bateu no ângulo direito. Roa pulou no canto esquerdo pelo chão. 3 a 3.
Roberto Ayala não fugiu da responsabilidade. Ele bateu rasteiro, no canto esquerdo. Incrivel: Seaman acertou o canto em todas as batidas, mas só conseguiu defender uma das penalidades. 4 a 3.
O inglês David Batty tinha que marcar para forçar a segunda série de cobranças, as chamadas “alternadas”. Ele bateu â meia altura no canto direito, quase no meio do gol. Foi uma defesa fácil para Carlos Roa. Placar final: 4 a 3 para a Argentina.
● Após a disputa nas penalidades, David Batty confessou que nunca havia batido um pênalti sequer como profissional, porém, estava se sentindo confiante e com muita vontade de cobrar e, por isso, pediu ao técnico. Apesar do erro, Batty disse que faria isso novamente, se a oportunidade aparecesse e ele se sentisse bem.
Se em 1990 Sergio Coycochea havia sido o herói nos pênaltis, essa era a vez de Carlos Roa, o novo tapa penales. A Argentina voltava às quartas de final.
Foi a terceira eliminação seguida da Inglaterra na decisão por pênaltis em grandes torneios – Copa do Mundo de 1990, Eurocopa de 1996 e Copa do Mundo de 1998.
Na Copa do Mundo seguinte, em 2002, Inglaterra e Argentina estavam no mesmo grupo na primeira fase. Os ingleses venceram por 1 x 0, com um gol de pênalti marcado por David Beckham. Era a vingança pessoal do jogador inglês contra a Diego Simeone e a Argentina. O resultado praticamente classificou os ingleses e deixou os albicelestes em más condições. De fato, os hermanos seriam eliminados ainda na fase de grupos. Um vexame.
Uma curiosidade sobre Alan Shearer. Conhecido pelo seu faro de gol e seu poder goleador, o atacante inglês era muito supersticioso. Ele acreditava que seu talismã era… sua sogra! Ela assistiu das arquibancadas à sua estreia na seleção inglesa – um amistoso contra a França em fevereiro de 1992 –, e ele marcou um gol na partida. Nos quatro jogos seguintes, ela não compareceu e ele não marcou. No jogo seguinte, ela voltou a assistir e ele voltou a marcar – contra a Turquia, em novembro de 1992, pelas eliminatórias da Copa de 1994. Desde então, a sogra se tornou um amuleto e Shearer passou a levá-la para todos os jogos do English Team.
Treinada por Guus Hiddink, a Holanda era uma equipe muito ofensiva. O goleiro era o excepcional Edwin van der Sar. Os laterais Michael Reiziger e Arthur Numan marcavam e apoiavam com eficiência. Jaap Stam era forte na marcação e tinha bom tempo de bola. O capitão Frank de Boer tinha mais técnica, ótimo posicionamento e era um líder em campo. Clarence Seedorf e Edgar Davids eram completos: marcavam, armavam e se apresentavam à frente. Ronald de Boer era o meia pela direita, ótimo nos passes e perfeito cruzamentos. Phillip Cocu era o meia pela esquerda, também muito técnico e de boa chegada ao ataque. Marc Overmars era habilidade, técnica, velocidade e inteligência. No ataque, Dennis Bergkamp era a própria excelência, com lances geniais e gols incríveis. No banco, ótimos nomes como o volante Wim Jonk e o ponta Boudewijn Zenden. A ausência era o centroavante Patrick Kluivert, que cumpria sua terceira e última partida de suspensão, após ter sido expulso na estreia por agredir Lorenzo Staelens no empate sem gols com a Bélgica.
A Holanda foi a cabeça de chave do Grupo E. Na primeira fase, empatou por 0 x 0 com a vizinha Bélgica, goleou a Coreia do Sul por 5 x 0 e empatou por 2 x 2 com o bom time do México.
(Imagem: Getty Images / Ben Radford / Allsport)
● A Iugoslávia estava longe das competições internacionais desde 1992, quando foi excluída da Eurocopa por causa dos conflitos étnicos e da guerra civil que culminou com o desmembramento do país. Da República Socialista Federativa da Iugoslávia, surgiram os países: República Federal da Iugoslávia (essa que disputou o Mundial – que era formada pelas repúblicas da Sérvia e Montenegro, além das províncias autônomas Voivodina e Kosovo), Croácia, Eslovênia, Bósnia e Herzegovina e Macedônia do Norte.
Esse desmembramento enfraqueceu a seleção iugoslava. A maioria dos melhores jogadores do antigo país agora pertencia à Croácia – tanto que o país foi 3º colocado na Copa de 1998 em sua primeira participação.
Em 1998 a seleção “Plavi” (“azuis”, em sérvio) contou apenas com atletas nascidos na Sérvia e em Montenegro.
Os destaques eram os zagueiros Siniša Mihajlović (Sampdoria) e Miroslav Đukić (Deportivo La Coruña – não jogou por estar lesionado), os meias Vladimir Jugović (Lazio), Dejan Stanković (Estrela Vermelha – depois jogaria na Lazio e faria história na Internazionale), Ljubinko Drulović (Porto), Dejan Savićević (Milan), o capitão Dragan Stojković (Nagoya Grampus Eight, do Japão) e os atacantes Savo Milošević (Aston Villa), Darko Kovačević (Real Sociedad) e Predrag Mijatović (Real Madrid – fez o gol do título da UEFA Champions League da temporada 1997/98 na final sobre a Juventus).
Na primeira fase, a Iugoslávia estreou vencendo o Irã por 1 x 0, com um gol de falta de Siniša Mihajlović. Na segunda partida, abriu 2 x 0 com gols de Predrag Mijatović e Dragan Stojković, mas permitiu o empate da Alemanha por 2 x 2. No terceiro jogo, um gol de cabeça do zagueiro Slobodan Komljenović logo no início garantiu a vitória por 1 x 0. Assim, a Iugoslávia se classificou com o segundo lugar do Grupo F, com o mesmo número de pontos dos alemães, mas com um saldo de gols menor (+4 para a Nationalelf e +2 para os Plavi).
A Holanda jogava no 4-4-2, com muita aproximação dos homens de meio campo.
A Iugoslávia jogou no sistema 4-5-1, com liberdade para o capitão Dragan Stojković criar.
● O duelo entre Holanda e Iugoslávia, válido pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 1998, foi muito equilibrado.
A Holanda era tida como favorita para o duelo e dominou o jogo durante o primeiro tempo.
O placar foi aberto aos 38 minutos. Desde seu campo de defesa, o capitão Frank de Boer fez um de seus lançamentos espetaculares. Dennis Bergkamp ganhou no corpo de Zoran Mirković, dominou e finalizou. A bola passou por baixo do goleiro Ivica Kralj, que quase pegou, mas ela acabou indo rumo ao gol. Esse foi o segundo gol do genial Bergkamp na Copa.
O empate iugoslavo foi aos três minutos da segunda etapa. O capitão Dragan Stojković cobrou falta pelo lado esquerdo, quase na linha lateral da grande área. A bola foi na segunda trave e Slobodan Komljenović subiu bem, ganhou no alto de Phillip Cocu e cabeceou para o gol. Foi também o segundo gol de Komljenović no Mundial.
E a Iugoslávia poderia ter virado o jogo três minutos depois. Vladimir Jugović sofreu pênalti de Jaap Stam. Predrag Mijatović, maior artilheiro das eliminatórias de 1998 com 14 gols em 12 jogos, foi para a cobrança. Ele bateu firme no meio do gol. A bola subiu demais e explodiu no travessão. Peđa Mijatović diria posteriormente que aquele foi o pior momento de sua carreira.
Esse foi o único pênalti desperdiçado dos 17 marcados na Copa de 1998. Esse erro interrompeu uma série de 39 cobranças bem sucedidas. Antes de Mijatović, o último a perder uma penalidade durante o tempo regulamentar havia sido o italiano Gianluca Vialli, contra os Estados Unidos em 1990. Depois foram convertidos mais dez na Copa de 1990, 15 na Copa de 1994 e 14 na Copa de 1994 até o erro do iugoslavo.
Sem confiança, os holandeses tiveram que se arriscar mais no ataque. E foram recompensados.
No segundo minuto dos acréscimos da partida, Edgar Davids pegou rebote próximo à grande área. Ele teve tempo para dominar, ajeitar o corpo e soltar a bola. Com muita gente na frente, a bola ainda desviou no meio do caminho e dificultou para o goleiro Kralj, que ainda tocou na bola antes dela morrer no cantinho esquerdo.
Pouco antes, Davids havia sentido cãibras e pediu para ser substituído. Mas o técnico Guus Hiddink manteve o camisa 16 em campo e foi recompensado.
(Imagem: Getty Images / Stu Forster / Allsport)
● Oficialmente essa foi a última partida da Iugoslávia em uma Copa do Mundo – uma das mais tradicionais seleções europeias na história dos Mundiais, que sempre praticou um futebol com técnica apurada. Tanto, que recebeu o apelido de “Brasileiros do Leste Europeu”. O maior estádio do país, em Belgrado, é chamado de “Marakana”. Ao todo, foram nove Copas disputadas, sendo a melhor campanha o 4º lugar em 1962. Foram 37 partidas com 16 vitórias, oito empates e 13 derrotas, 60 gols marcados e 46 sofridos.
A Iugoslávia deixou de existiu como um país em 2003, quando se tornou “Sérvia e Montenegro” – países de se separariam de vez em 2006. A Sérvia é considerada pela FIFA como a herdeira legítima da Iugoslávia no futebol.
O meia Dejan Stanković disputou três Copas do Mundo, por três países diferentes. Ele representou a Iugoslávia em 1998, a Sérvia e Montenegro em 2006 e a Sérvia em 2010.
Discutivelmente, Edgar Davids foi o melhor e mais consistente jogador da Copa de 1998. Além do ótimo futebol, ele se notabilizou também por jogar com um óculos moderno. Porém, na única Copa em que atuou, ele jogou sem óculos. Vale ressaltar que as regras da FIFA não proíbem o uso de óculos, mas o jogador que deles se utilizar deve ter consciência que joga sob sua responsabilidade e risco.
A comemoração dessa vitória levou a imprensa holandesa a especular sobre novos problemas entre brancos e negros no elenco da Oranje. Logo após o apito final no Stade de Toulouse, todos os jogadores se abraçaram no meio do campo. Por trás, Winston Bogarde e Cocu abraçaram Van der Sar. O goleiro se incomodou e deu um soco no zagueiro, que devolveu olhando feio. Em sua biografia, lançada em 2011, Van der Sar explicou o que houve: “Na comemoração, veio um braço direto em minha garganta. Eu não conseguia respirar e dei um soco no braço. Parecia o braço de Bogarde e eu realmente fui para cima dele. Só notei depois que era o braço de Pierre van Hooijdonk. Aí, na zona mista, os jornalistas começaram a dar ênfase nisso. Virou assunto. Quando um repórter começou com a história de problemas étnicos, eu fiquei furioso: ‘Que problemas de raça? Não tem nada disso atualmente!” E de fato não tinha mesmo. Foi uma das seleções holandesas mais unidas de todos os tempos. Provavelmente, a mais talentosa e equilibrada.
Nas quartas de final, a Holanda contou com um gol fenomenal de Dennis Bergkamp no último lance da partida para eliminar a ótima seleção argentina pelo placar de 2 x 1. Com essa vitória, a Oranje se garantia novamente entre os quatro primeiros após vinte anos. Na semifinal, enfrentou o Brasil. Jogou melhor. Saiu atrás no placar, mas buscou o empate no fim da partida. Na decisão dos pênaltis, Taffarel defendeu as cobranças de Ronald de Boer e Phillip Cocu, colocando o Brasil na decisão. Na decisão do 3º lugar, a Holanda jogou sem motivação nenhuma e perdeu para a Croácia de Davor Šuker por 2 x 1.
Três pontos sobre… … 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile
(Imagem: Lance!)
● O Chile voltava a disputar sua primeira Copa do Mundo desde 1982. Em 1986, parou nas eliminatórias ao perder nas últimas partidas para o Paraguai. Em 1990, foi punido pela FIFA por um episódio no qual o goleiro são-paulino Roberto Rojas cortou seu próprio rosto e fingiu ter sido atingido por um sinalizador no jogo contra o Brasil. Por isso, a FIFA suspendeu o Chile também das eliminatórias de 1994. Em 1998, a vaga veio com muito sufoco, apenas no critério de saldo de gols, após um empate em número de pontos com o arqui-inimigo Peru.
O time chegou ao Mundial com confiança, após vencer a Inglaterra em Wembley por 2 x 0. O elenco era mediano, mas a dupla de ataque era muito boa e entrosada: o experiente Iván “Bam-Bam” Zamorano e o jovem Marcelo Salas, “El Matador”. Salas estava em uma fase esplendorosa e tinha acabado de ser vendido pelo River Plate (Argentina) à Lazio (Itália) por US$ 20 milhões.
O Chile se classificou em segundo lugar do Grupo B, empatando os três jogos da primeira fase: Itália (2 x 2), Áustria (1 x 1) e Camarões (1 x 1).
Para as oitavas de final, contra o Brasil, os chilenos tinham três desfalques importantes, todos por suspensão por terem recebido o segundo cartão amarelo na competição: os alas Francisco Rojas e Moisés Villarroel, além do meia Nelson Parraguez. Em seus respectivos lugares entraram Fernando Cornejo, Mauricio Aros e Miguel Ramírez. O técnico Nelson Acosta optou por manter no time titular o armador José Luis Sierra, mais técnico e lento, ao invés de Fabián Estay, mais dinâmico. Sierra havia passado pelo São Paulo F.C. em 1995, sem sucesso.
(Imagem: AFP / Globo Esporte)
● Pelo Grupo A, o Brasil venceu a Escócia por 2 x 1 no jogo de abertura do Mundial. Na sequência, venceu o Marrocos por 3 x 0. Já classificado em primeiro lugar na chave, perdeu para a Noruega – sua asa negra – por 2 x 1, levando dois gols nos últimos sete minutos.
Após essa derrota para a Noruega, os jogadores brasileiros trocaram farpas publicamente. O clima só foi amenizado em uma reunião comandada pelo zagueiro Aldair, no dia 25. Um dos pontos consensuais era que o capitão Dunga tinha que voltar a gritar em campo. Outro era que os jogadores deveriam evitar bate-bocas via imprensa.
Mesmo com os problemas internos, a Seleção Brasileira continuava entrando em campo de mãos dadas, tentando reviver o espírito vencedor de 1994.
O Brasil contava com o retorno do zagueiro Aldair, poupado contra a Noruega, e do volante César Sampaio, que cumpriu suspensão no jogo anterior.
O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.
O uruguaio Nelson Acosta armava seu time no 3-5-2. Sierra era quem criava as jogadas para a dupla Salas e Zamorano.
● Brasil e Chile fizeram uma festa sul-americana para 45.500 espectadores no estádio Parc de Princes, em Paris. O melhor jogador da América de 1997 (Marcelo Salas) enfrentava o melhor jogador do mundo do mesmo ano (Ronaldo).
O mundo inteiro esperava uma Seleção Brasileira sem imaginação, como foi diante da Noruega. Mas quem entrou em campo foi o Brasil show, o Brasil “sambá” – como era chamado na França.
A Seleção de Mário Jorge Lobo Zagallo começou com ímpeto total. Logo no início, Júnior Baiano deu uma chegada mais forte em Salas na tentativa de intimidar o atacante chileno.
Aos 11 minutos, em uma falta pela esquerda, perto da linha lateral, Dunga ergueu a bola para a área. A defesa chilena ficou parada, César Sampaio apareceu livre e cabeceou para o gol. 1 a 0.
Aos 26′, Roberto Carlos cobrou falta de muito longe. A bola foi rasteira e desviou na barreira. Bebeto tocou para o meio e César Sampaio bateu de primeira, da linha da grande área. A bola foi no cantinho direito, no contrapé do goleiro Nelson Tapia – que futuramente jogaria no Santos, em 2004. 2 a 0. Foi o segundo gol de Sampaio na partida (algo inédito até então em sua carreira) e o terceiro na Copa. Ele havia feito também o primeiro gol da Copa na vitória diante da Escócia.
Nos acréscimos do primeiro tempo, Ronaldo arrancou em direção ao gol e sofreu pênalti do goleiro Tapia. O próprio Ronaldo cobrou a penalidade à meia altura, no canto esquerdo. O goleiro tocou na bola, mas ela acabou entrando. 3 a 0.
O Chile voltou melhor com as duas alterações feitas no intervalo. Saíram Sierra e Ramírez, entraram Estay e Marcelo Vega.
O Brasil só melhorou quando Zagallo trocou o apagado Bebeto pelo aceso Denílson, aos 20′ da etapa final.
Uma bela troca de passes entre Roberto Carlos, Dunga, Leonardo e César Sampaio deu o tom da habilidade dos brasileiros.
Aos 25′, Salas buscou a bola em seu campo de defesa, tabelou com Vega, que alçou a bola para a área, nas costas de Júnior Baiano. Aldair ficou parado e Zamorano cabeceou em cima de Taffarel, que saiu bem para abafar. Mas Salas pegou o rebote e, sem goleiro, cabeceou para o gol. 3 a 1. Foi o quarto gol de “El Matador” no Mundial.
Dois minutos depois, Denílson fez boa jogada pelo meio, tabelou com Rivaldo, chamou a marcação e tocou para Ronaldo avançar sozinho pela direita. O Fenômeno entrou na área e chutou cruzado e rasteiro para marcar. 4 a 1. Em seu auge, Ronaldo estava impossível.
Outro belo lance foi de Leonardo. Ele avançou pela direita, deixou Vega no chão e passou entre Aros e Estay, deixando ambos no chão também. Leonardo tinha classe, categoria e habilidade, mesmo sendo escalado torto pela direita.
Enfim, o Brasil fez uma apresentação convincente. Aquela Seleção de 1998 era realmente um enigma indecifrável. Era impossível prever se seria a Seleção avassaladora dos 45 minutos iniciais contra do Chile ou dos 30 minutos de prorrogação diante a Holanda ou se seria a infrutífera e insípida dos jogos contra Escócia e Noruega.
Rivaldo, Denílson e Leonardo desfilaram habilidade e talento no Parc de Princes. Ronaldo foi efetivo. Dunga voltou a berrar e terminou o jogo com a meia empapada de sangue, demonstrando a garra que tinha. Roberto Carlos despertou de sua profunda hibernação, ensaiou algumas jogadas de efeito e apoiou bastante o ataque, repetindo as atuações que o levaram a ser eleito o segundo melhor jogador do mundo em 1997. Mas, em uma equipe cheia de estrelas, quem mais brilhou foi o operário César Sampaio. Merecidamente, o volante foi eleito o melhor em campo.
(Imagem: Twitter @CuriosidadesBRL)
● Com a derrota para o Brasil, o Chile se despediu do Mundial sem nenhuma vitória. Foram três empates na primeira fase e essa derrota nas oitavas de final. La Roja seguia sem vencer em Copas desde a decisão do 3º lugar de 1962. Só conseguiria uma vitória na primeira rodada da Copa de 2010, sobre Honduras (1 x 0).
Mesmo com a queda precoce, Marcelo Salas foi um dos destaques do torneio, marcando quatro gols.
Nas quartas de final, o Brasil suou para vencer por 3 x 2 o ótimo time da Dinamarca, do goleiro Peter Schmeichel e dos irmãos Laudrup. A Dinamáquina havia goleado e eliminado a ardilosa Nigéria nas oitavas. Nas semifinais, um jogo histórico contra a Holanda (1 x 1), com vitória nos pênaltis (4 x 3) graças a Taffarel. Na final, perdeu para a França por 3 x 0, com dois gols de Zinedine Zidane e um de Emmanuel Petit.
Três pontos sobre… … 20/06/1998 – Bélgica 2 x 2 México
(Imagem: W Deportes)
● Historicamente, a seleção mexicana é participante contumaz das Copas do Mundo. Mas em certa época não foi bem assim. Em 1970 foi anfitrião, mas em 1974 deixou a vaga escapar para o Haiti. Foi ao Mundial de 1978, mas foi último colocado na classificação geral. Em 1982, ficou de fora caindo para Honduras e El Salvador. Em 1986, foi novamente o dono da casa. Em 1990, estava banido pela FIFA por dois anos por causa do “Escândalo dos Cachirules” (quando a seleção sub-20 jogou com vários jogadores com idade acima do permitido). Assim, de 1966 a 1994, a única vez que o México se classificou para uma Copa dentro de campo, havia sido em 1978. Mas a partir de 1994, os aztecas recuperaram o protagonismo em seu continente.
Nas eliminatórias de 1998, sofreram um pouco no Grupo 3 da terceira fase, após ficar em segundo lugar em uma chave com a líder Jamaica e apenas dois pontos à frente de Honduras. Mas no hexagonal final, conquistou a liderança com quatro vitórias e dois empates.
A defesa belga não tinha a consistência de outrora. Se antes podia contar com goleiros da estirpe de Jean-Marie Pfaff e Michel Preud’homme, Filip De Wilde não mantinha o mesmo nível – embora também não fosse ruim. A aposta era no ataque, com o maranhense naturalizado Luís Oliveira, o “Oliverrá”. Outro destaque era Luc Nilis, que havia sido grande parceiro de Ronaldo nos tempos de PSV. No banco, os irmãos Mbo e Émile Mpenza eram boas alternativas para o segundo tempo.
Na primeira rodada do Mundial, o México venceu a Coreia do Sul de virada por 3 x 1, com gols Ricardo Peláez e Luis Hernández (2).
(Imagem: Dusan Vranic / AP Photo)
● A seleção da Bélgica também é uma daquelas figurinhas carimbadas que costumam bater ponto nas Copas. Depois das ausências nas edições de 1974 e 1978, os Diables Rouges emendaram uma nova sequência a partir de 1982 – com destaque para 1986, no México, quando chegou às semifinais e terminou em quarto lugar. Em 1998 ainda haviam dois remanescentes da boa campanha de 1986: os meio-campistas Franky Van der Elst e Enzo Scifo.
No Grupo 7 das eliminatórias da UEFA, a Bélgica terminou em segundo lugar em seu grupo, apenas um ponto atrás da vizinha Holanda. Mas perdeu as duas partidas para os arquirrivais (0 x 3 em Bruxelas e 1 x 3 em Roterdã). E os belgas precisaram disputar o playoff dos segundos colocados em suas chaves. Após empate por 1 x 1 com a Irlanda em Dublin, venceu o jogo de volta por 2 x 1 no estádio Rei Balduíno. Ou seja: a Bélgica conseguiu sua vaga pela vantagem mínima e jogando o básico.
Campeão da Copa Ouro da CONCACAF em fevereiro, o técnico Manuel Lapuente tinha um forma curiosa de estimular seu elenco. Ele gostava de exibir filmes “que proporcionassem serenidade e gerassem confiança”. Em um desses filmes, os os jogadores tiveram de assistir ao voo de uma águia. Na convocação, ele deixou de fora os veteranos Benjamín Galindo e Carlos Hermosillo, que estavam em ótima fase jogando juntos pelo Cruz Azul.
Na partida de estreia da Copa, a Bélgica novamente enfrentou a Holanda. Dessa vez, o sistema defensivo montado pelo técnico Georges Leekens se sobressaiu e o jogo terminou sem gols.
A Bélgica jogou no sistema 4-4-2.
O México atuou no esquema 3-4-3.
● Se contra a rival Holanda a Bélgica não mostrou muita disposição para atacar, isso definitivamente mudou contra o México. O veterano Scifo voltava ao time titular, no lugar de Philippe Clement. Na defesa, Gordan Vidović ganhou a posição de Mike Verstraeten. Lesionado, o lateral direito Bertrand Crasson deu lugar a Éric Deflandre.
O técnico Manuel Lapuente mudou o sistema tático. O tradicional 4-4-2 deu lugar ao ofensivo e dinâmico 3-4-3. Saíram os meias Raúl Lara e Braulio Luna e entraram o zagueiro Joel Sánchez e o atacante Francisco Palencia.
Com a inteligência e experiência de Scifo no meio de campo, a Bélgica começou melhor.
Aos 17′, Danny Boffin precisou sair para a entrada de Gert Verheyen.
Aos 28′, Pavel Pardo foi expulso por jogada violenta.
O placar foi aberto apenas aos 42′. Oliveira cobrou escanteio da esquerda. A bola passou por todo mundo e chegou à segunda trave. Sem marcação, Marc Wilmots deixou a bola bater em sua barriga e ir para o gol. Ela ainda passou entre as pernas do goleiro Jorge Campos.
O próprio Wilmots ampliou a vantagem belga aos três minutos do segundo tempo. Ele avançou em velocidade, cortou a marcação de Davino, entrou na grande área, ganhou de Suárez na dividida e, mesmo caindo, teve tranquilidade para finalizar no canto esquerdo do goleiro. Um belo gol.
(Imagem: Pinterest)
Parecia que seria uma vitória tranquila os belgas, mas o México já tinha reagido diante da Coreia do Sul. E isso aconteceu novamente.
Com um homem a mais e dois gols de frente no placar, a Bélgica tinha o jogo na mão até os 10′ – momento em que Verheyen cometeu pênalti em Ramón Ramírez e foi expulso.
O capitão García Aspe diminuiu o placar cobrando a penalidade. Sem tomar distância, ele bateu firme de perna esquerda. A bola foi no canto esquerdo do goleiro Filip De Wilde, que até acertou o canto, mas não conseguiu pegar. A bola foi na “bochecha” da rede.
O gol deu fôlego para os aztecas, que empataram sete minutos depois. Ramón Ramírez recebeu lançamento pela esquerda, dominou e cruzou na segunda trave. Cuauhtémoc Blanco se esticou todo, de forma acrobática, e tocou com o pé esquerdo para mandar para a rede.
A Bélgica sentiu o gol de empate e pouco fez no restante da partida.
O México, esgotado por ter corrido tanto em busca do empate, também não tinha forças para algo a mais.
(Imagem: fmfstateofmind.com)
● No fim, pode se considerar que o México ganhou um ponto e que a Bélgica perdeu dois. Mas, mesmo com sabor amargo, o empate não foi um resultado totalmente ruim para os Diables Rouges. Bastava que eles vencessem a frágil Coreia do Sul por um bom placar na última rodada.
Por sua vez, pensando em classificação, o México precisava de um empate diante da Holanda ou então torcer para que a a Bélgica não vencesse a Coreia do Sul. E aconteceu tudo isso junto.
Na última rodada, a Bélgica saiu na frente, mas cedeu o empate aos sul-coreanos. Enquanto os mexicanos foram buscar o empate diante dos holandeses após estar perdendo por 2 x 0 novamente.
Embora tenha terminado a Copa invicta, a Bélgica caiu na primeira fase, com três empates em três partidas, com três gols marcados e três sofridos.
O México seguiu sua sina de cair nas oitavas de final (até 2018 são sete quedas consecutivas nessa fase). Dessa vez, perdeu de virada para a Alemanha por 2 x 1. Luis Hernández abriu o placar, marcando seu quarto gol na Copa. Mas a dupla alemã funcionou e fez dois gols, com Jürgen Klinsmann e Oliver Bierhoff – cada um marcando uma vez. Desde então, a o bordão clássico segue cada vez mais vivo: “O México jogou como nunca e perdeu como sempre”.
(Imagem: Acervo das Camisas)
Dentre vários uniformes lindos e inesquecíveis da Copa de 1998, com um festival de cores e excesso de detalhes, provavelmente o mais marcante seja o do México. Em um design deveras ousado, os mexicanos foram em busca de suas raízes e estamparam a imagem da “Pedra do Sol Asteca” em marca d’água nas suas duas camisas. O uniforme principal tinha camisa verde, calções brancos e meias vermelhas, justificando o apelido de El Tricolor. O fardamento reserva era todo branco. Cada qual mais lindo que o outro.
Naquela época, eu era um menino de doze anos e aquela seleção mexicana ficou em minha memória por vários motivos. Tanto pelo uniforme, quanto por jogar um futebol ofensivo no sistema 3-4-3, mas também pelos seus jogadores. Jorge Campos era um goleiro baixinho e espalhafatoso; Claudio Suárez era um zagueiro seguro que parecia um índio; Alberto García Aspe desfilava em campo com sua perna esquerda; Francisco Palencia era um atacante clássico que tinha um cabelo enorme com rabo de cavalo; Cuauhtémoc Blanco era muito habilidoso e inventou um drible chamado “cuauhtemiña” ou “canguru”, que ele segurava a bola com as duas pernas e pulava com ela sobre a marcação; e Luis Hernández, um centroavante clássico, de muito bom posicionamento e finalização, além do cabelo loiro sobre os ombros, muito característico e carismático. Era impossível não gostar desse time.
Três pontos sobre… … Roberto Carlos, “la zurda sinistra”
(Imagem: Acredite ou não)
Roberto Carlos da Silva Rocha nasceu em Garça, cidade do interior paulista, em 10 de abril de 1973.
Roberto Carlos nunca se limitou a marcar, mesmo sendo um lateral esquerdo – responsável por compor o sistema defensivo.
Com o advento do sistema 4-4-2 em meados da década de 1980, os antigos pontas praticamente tiveram seu fim decretado. Com isso, os laterais passaram a ser fundamentais no apoio, criação de jogadas, aproximação, cruzamentos.
Por mais que escola brasileira sempre tenha sido vanguardeira nesse sentido (com Nílton Santos, Carlos Alberto Torres e outros), ela se estabeleceu e fez sucesso na Seleção e no futebol europeu com o surgimento de laterais como Branco, Jorginho, Cafu e do próprio Roberto Carlos.
(Imagem: Band)
Aos 16 anos, Roberto já era titular do União São João. Disputou sua primeira partida pela Seleção Brasileira principal em 1992, aos 18 anos, ainda jogando pelo clube de Araras/SP.
(Imagem: Terceiro Tempo)
No mesmo ano teve um curto período de empréstimo ao Atlético Mineiro, que perdeu todas suas cinco partidas em uma excursão na Europa. RC não conseguiu mostrar todo seu potencial e acabou voltando ao União São João.
(Imagem: Grupo Opinião)
Mas em 1993 foi uma das primeiras estrelas das inúmeras contratações da Parmalat para o Palmeiras. E se tornou lenda no Parque Antártica. Em pouco mais de dois anos, foi bicampeão paulista (1993 e 1994), bicampeão brasileiro (1993 e 1994), além de campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1993.
(Imagem: Calciopédia)
Despertou o interesse da Inter de Milão, onde passou a jogar como ala pela esquerda, meia e até ponta. Disputou apenas uma temporada com a camisa interista, a de 1995/96. Foram sete gols em 34 jogos – insuficientes para convencer o então presidente Massimo Moratti, que o trocou com o Real Madrid pelo já veterano atacante chileno Iván “Bam-Bam” Zamorano.
(Imagem: Getty Images)
Em Madrid, foram onze anos vestindo a camisa merengue e se tornou lenda. Logo em sua primeira temporada, marcou cinco gols e conquistou La Liga. No fim do ano de 1997, foi eleito o segundo melhor jogador do mundo pela FIFA, atrás apenas do fenômeno Ronaldo.
Nesse mesmo ano, marcou o gol de falta contra a França, que a bola fez uma curva que fez os físicos estudarem essa batida na bola.
Em 21/02/1998, marcou sobre o Tenerife um dos gols mais impressionantes da história, chamado de “gol impossível”. No início do segundo tempo, em uma bola esticada rumo à linha de fundo, Roberto disparou, alcançou e mandou um canhão para dentro da área. Inicialmente parecia ser um cruzamento, já que não havia nenhum ângulo para o chute direto. Mas a bola fez uma curva memorável e entrou no ângulo oposto. O gol mais espírita de todos os “gols espíritas”.
O sucesso permaneceu e o lado esquerdo do Madrid permanecia sendo responsável pela grande maioria dos gols do time – que continuou enfileirando títulos: UEFA Champions League (1997/98, 1999/00 e 2001/02), Copa Intercontinental (1998 e 2002), Campeonato Espanhol (1996/97, 2000/01, 2002/03 e 2006/07), Supercopa da Europa (2002) e Supercopa da Espanha (1997, 2001 e 2003).
(Imagem: Fenerbahçe)
Saiu do clube pela porta da frente e foi campeão da Supercopa da Turquia de 2007 pelo Fenerbahçe. Depois, até teve um bom ano pelo Corinthians em 2010, mas fez parte do time que passou a vergonha história caindo na pré-Libertadores para o Tolima em 2011. Logo depois, foi atuar no futebol russo, pelo Anzhi Makhachkala. Anunciou sua aposentadoria dos gramados em 2012 e se tornou auxiliar técnico do time russo. Na sequência, foi técnico dos turcos Sivasspor (2013/14) e Akhisar Belediyespor (2015). Ainda em 2015, foi desbravar o incipiente futebol da Índia, onde foi jogador-treinador do Delhi Dynamos FC em 2015/16 e encerrou definitivamente a carreira.
(Imagem: eotimedopovo.com.br)
Pela Seleção Brasileira, foram 126 jogos e onze gols. Disputou três Copas do Mundo: 1998, 2002 e 2006. Foi vice-campeão e muito criticado em 1998. Se tornou campeão e fundamental no time de 2002. Foi considerado o principal vilão em 2006 (contamos melhor toda a história aqui). Conquistou também os títulos da Copa América de 1997 e 1999, a Copa das Confederações de 1997, a Copa Umbro de 1995 e foi medalhe de bronze nos Jogos Olímpicos de 1996.
É considerado um dos melhores laterais esquerdos de todos os tempos – discutivelmente, para muitos ele é o maior. Recentemente foi nomeado para o segundo time do “Dream Team” histórico da Bola de Ouro da revista France Football.
Roberto Carlos é uma lenda. É história, títulos, gols, explosão, raiva, tudo ao mesmo tempo.
Três pontos sobre… … Lothar Matthäus, o “Mr. Copa”
(Imagem: DFB)
Mesmo tendo pendurado as chuteiras há mais de vinte anos, ele ainda detém alguns dos recordes no futebol.
É o jogador que disputou mais partidas em Copas do Mundo (25).
É um dos poucos a disputarem cinco edições do Mundial (juntamente com os mexicanos Antonio Carbajal e Rafa Márquez e o italiano Gianluigi Buffon).
É o alemão que mais disputou partidas pela sua seleção (150 partidas, entre 1980 e 2000).
Foi eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA na primeira edição do prêmio, em 1991.
Também eleito Bola de Ouro pela revista France Football em 1990.
Eleito em 2020 para o Dream Team da Bola de Ouro como um dos melhores meio-campistas defensivo da história.
Foi o capitão e líder da seleção alemã que levantou a taça da Copa de 1990.
Venceu quase todos os títulos possíveis. Só a UEFA Champions League lhe escapou (já nos acréscimos, em 1998/99).
Às vezes ele é subvalorizado pela mídia e pelos torcedores atuais, que pouco o viram jogar. Mas Matthäus era o jogador completo, vanguardeiro, um dos primeiros “box to box”, que liderava a marcação e o sistema defensivo, mas também aparecia no ataque para fazer seus vários gols – especialmente em chutes potentes e certeiros de fora da área.
Era um dos nomes mais impactantes de sua época. Tanto que é notável a quantidade exponencial de “Matheus” com menos de 35 anos. Homenagem mais do que justa.
Hoje esse craque completa 60 anos. Parabéns, capitão.