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… 31/05/1986 – Itália 1 x 1 Bulgária

Três pontos sobre…
… 31/05/1986 – Itália 1 x 1 Bulgária


Nasko Sirakov empatou para a Bulgária a cinco minutos do fim (Imagem: Pinterest)

● No dia 11/04/1974, a Colômbia foi escolhida como país sede da 13ª edição da Copa do Mundo de futebol. Porém, já em 1982, os cafeteros renunciaram alegando “insuperáveis dificuldades” econômicas e sociais. Um dos argumentos foi o aumento de 16 para 24 seleções, o que exigiria pelo menos dez estádios – que o país não possuía prontos e nem tinha condições de construir.

Com isso, se candidataram inicialmente: Brasil, Estados Unidos, México, Canadá, Peru, Inglaterra, Alemanha Ocidental e Holanda-Bélgica (em conjunto). Devido ao sistema de rodízio entre os continentes, os europeus foram rapidamente descartados, pois essa era a vez das Américas. Logo o Brasil desistiu (um veto do General Figueiredo, então presidente da República, devido ao momento econômico conturbado que o país passava). Depois foi a vez de norte-americanos, canadenses e peruanos. Por fim, em julho de 1983, a FIFA decidiu de forma polêmica a favor dos mexicanos. Com isso, o México se tornou o primeiro país a receber duas edições do torneio, sendo a segunda apenas 16 anos depois da primeira.

Porém, nos dias 19 e 20 de setembro de 1985, menos de um ano antes do início do Mundial, dois terremotos atingiram o México. O primeiro foi mais violento. Às 07h30 do dia 19, em menos de dois minutos, um forte tremor devastou a Cidade do México (maior cidade do mundo na época). Milhares de pessoas perderam a vida. As fontes oficiais citam 9.500 mortos, outras afirmam que chegaram a 35 mil; além de 30 mil feridos e mais de 100 mil desabrigados. Foram 412 prédios totalmente destruídos e 3.124 parcialmente danificados. Mas o estádio Azteca e os principais hotéis da cidade ficaram incólumes e a Copa pôde ser realizada sem nenhum problema. Em oito meses, o batalhador povo mexicano se reergueu e, com muito entusiasmo, o país novamente foi palco da maior festa do futebol mundial.

O Brasil era o principal candidato ao título, pela tradição e por manter os craques que encantaram o mundo em 1982. Mas qualquer aposta séria sempre incluíam Itália, Alemanha Ocidental e Inglaterra. A Argentina vinha mais fraca que antes, mas Diego Armando Maradona estava melhor que nunca. A França venceu a Eurocopa, os Jogos Olímpicos e contava com Michel Platini em pleno esplendor. O Uruguai voltava ao torneio após duas ausências e tinha Enzo Francescoli. Até a Hungria possuía um jogador diferenciado, como Lajos Détári. A Bélgica tinha um bom time, com o goleiro Jean-Marie Pfaff e o capitão Jan Ceulemans. A União Soviética tinha o paredão Rinat Dasayev no gol e Igor Belanov (que viria a ser eleito Bola de Ouro no fim do ano) no ataque. A Fúria espanhola era liderada por Emilio Butragueño, “El Buitre”. O México tinha a força da torcida e Hugo Sánchez no ataque. O Paraguai tinha Romerito, ídolo do Fluminense campeão brasileiro de 1984. A Argélia mantinha Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi como seus destaques. A Irlanda do Norte contava com o veterano arqueiro Pat Jennings e com o jovem Norman Whiteside. A Escócia tinha um time experiente em nível europeu e era treinada por Sir Alex Ferguson. A Polônia ainda contava com Zbigniew Boniek e Wladyslaw Zmuda. Portugal sonhava em reviver os bons momentos de vinte anos antes. Marrocos tentava ser a primeira seleção africana a passar de fase em Mundiais. E a Dinamarca desfilava a novidade do 3-5-2, além de figuras importantes como o líbero Morten Olsen e a dupla de ataque Michael Laudrup e Preben Elkjær Larsen. Apenas Coreia do Sul, Iraque e Canadá eram cartas fora do baralho.


Salvatore Bagni luta pela bola com Bozhidar Iskrenov (Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● A tradicional Squadra Azzurra chegava no México para disputar com o Brasil a honra de ser o primeiro tetracampeão do mundo. A camisa italiana sempre teve força própria. O azul da Casa di Savoia é uma das mais tradicionais e pesadas do mundo.

Desde que levantou a taça em 1982, os italianos sonhavam e trabalhavam para conquistar a Copa seguinte, assim como foi em 1934 e 1938. A Federazione Italiana Giuoco Calcio definiu Puebla como local da concentração dois anos antes. E, assim como o Brasil de 1958/1962, a superstição era grande e os dirigentes da Federação exigiram a mesma tripulação da Alitalia que havia levado a delegação à Espanha quatro anos antes.

Acompanhado de seu fiel cachimbo, o técnico Enzo Bearzot completava dez anos no cargo. Ele era uma verdadeira raposa, um ás das estratégias e adepto da marcação mista: individual no maior destaque adversário e por zona nas demais partes do campo. Ao desembarcar no México, ele foi político ao afirmar que a Copa de 1986 seria vencida por sul-americanos. Claramente não estava sendo sincero, mas apenas tirando o peso de sua equipe e jogando a responsabilidade para os adversários.

No gol, na posição que foi do mítico Dino Zoff, estava Giovanni Galli, prestes a trocar a Fiorentina pelo Milan. O velho líbero Gaetano Scirea agora era o capitão do time, dando segurança para os avanços do ala esquerdo Cabrini. O meio campo não contava mais com Giancarlo Antognoni; Marco Tardelli e Carlo Ancelotti eram reservas. Com isso, faltava criatividade e as transições entre defesa e ataque eram rápidas, com a bola passando pouco pelo meio campo. O ataque contava com diversas opções de estilo: Aldo Serena, Giuseppe Galderisi, Alessandro Altobelli, Gianluca Vialli, o talismã Paolo Rossi e Bruno Conti. (Curiosamente, Conti praticava beisebol em sua juventude; se destacou tanto, que quase foi jogar profissionalmente nos Estados Unidos.)


Os “Demônios da Europa” (apelido da seleção búlgara) no Mundial de 1986 (Imagem: Pinterest)

● Nas eliminatórias, a Bulgária surpreendeu ao terminar em primeiro lugar, empatada com a França e perdendo apenas no saldo de gols. O principal responsável pela evolução nos últimos tempos foi o técnico Ivan Voutsov, ex-meio campista da seleção na Copa de 1970. Ele fez o time praticar um futebol simples, solidário e objetivo – bem diferente do velho sistema baseado no vigor físico das equipes da Europa Oriental. Estava mais “ocidentalizada”. A força foi dando lugar a um estilo moderno, de mais mobilidade, com defesa sólida, meio campo atuante e ataque com muita velocidade.

Apesar da falta de tradição, vários jogadores tinham um nível técnico acima da média, como o goleiro Borislav Mikhailov, o líbero e capitão Georgi Dimitrov, o meia-atacante Nasko Sirakov e o armador Plamen Getov – melhor jogador do time, habilidoso e com um chute potente. Mikhailov e Sirakov haviam sido punidos por sua federação por terem participado de uma luta campal na final da Copa da Bulgária no ano anterior, mas acabaram absolvidos devido à importância de ambos e um pedido especial do técnico. Um jovem chamado Hristo Stoichkov não obteve o mesmo perdão e não foi convocado para a Copa. Oito anos depois, os três viriam a ser destaques da equipe búlgara no Mundial dos Estados Unidos.

A Bulgária carregava a sina de ter disputado quatro Copas do Mundo (1962, 1966, 1970 e 1974), sem nunca ter vencido uma partida. Sempre fazia boas campanhas nas eliminatórias, mas sucumbia nos Mundiais. Lutava pela honra de representar seu país. Qualquer coisa diferente de três derrotas, já seria um avanço.


A Itália jogava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços. Atacava no 3-4-3 e defendia no 4-5-1. Na prática, com o “afunilamento” de Bruno Conti, era 4-4-2.


A Bulgária atuava no 4-4-2 clássico, com os meias laterais se apresentando bastante no meio e no ataque.

● Via de regra, a partida de abertura do mundial costuma ser dura, nervosa e nenhuma das equipes conseguem se soltar e praticar um bom futebol.

E foi bem isso que ocorreu no dia 31 de maio no estádio Azteca. Mais de 96 mil expectadores foram assistir a toda poderosa Itália, campeã do mundo, massacrar os pobres búlgaros. Não viram. Na teoria, a prática foi outra. A Squadra Azzurra já não era mais o mesmo time consistente e sagaz de quatro anos antes, quando bateu os favoritos Brasil e Argentina para se embalar rumo ao tricampeonato. Paolo Rossi estava em má forma e era reserva de Altobelli.

O péssimo retrospecto não jogava a favor dos búlgaros, que sonhavam em surpreender desde a festa de abertura.

E o marcador só foi inaugurado no fim do primeiro tempo. Aos 43′, Di Gennaro cobrou falta da intermediária esquerda, a defesa búlgara ficou parada e Altobelli escorou para as redes.

Estava tudo preparado para ser uma festa, com vitória fácil dos italianos, mas eles se deram ao luxo de perder alguns gols na etapa final. E, como diria o ditado: quem não faz…

No fim da partida, quando tudo indicava uma vitória sofrível da Azzurra, ficou ainda pior. Aos 40 minutos do segundo tempo, Zdravkov ergueu a bola na área italiana. Sirakov apareceu entre dois marcadores e cabeceou de forma esquisita, mas o suficiente para colocar a bola no canto do goleiro Galli.

Essa partida foi uma luta permanente pelo domínio no meio campo, na qual o 4-4-2 em voga praticamente eliminou a figura do ponta. Bruno Conti, ponta de origem, afunilava muito o jogo e não teve uma tarde boa.

No fim, o empate foi o placar mais justo pelo que apresentaram ambas as equipes.

Mesmo sendo um jogo deveras tenso e amarrado, pelo menos essa partida teve dois gols – o que não ocorria numa partida de abertura desde 1962.


Alessandro Altobelli, agora titular no ataque na função de Paolo Rossi, foi oportunista e inaugurou o marcador (Imagem: Pinterest)

● Na segunda rodada, a Itália repetiu o placar e empatou por 1 x 1 com a futura campeã Argentina, de Maradona. Na última partida, bateu a Coreia do Sul por 3 x 2 e se classificou como vice-líder do Grupo A. Nas oitavas de final, perdeu para a França de Platini, Giresse e Tigana por 2 x 0 (caindo uma invencibilidade de sessenta anos dos italianos diante dos franceses).

Por sua vez, a Bulgária também repetiu o empate em 1 a 1 contra a Coreia do Sul e perdeu para a Argentina por 2 a 0. Mesmo sem nenhuma vitória, os búlgaros conquistaram dois pontos e se classificaram para a segunda fase pela primeira vez em sua história. Nas oitavas, caiu para o México, dono da casa, por 2 a 0.


Altobelli foi um dos melhores em campo. Nessa foto, em disputa de bola com o bom lateral Radoslav Zdravkov (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 1 BULGÁRIA

 

Data: 31/05/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 96.000

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Erik Fredriksson (Suécia)

 

ITÁLIA (4-4-2):

BULGÁRIA (4-4-2):

1  Giovanni Galli (G)

1  Borislav Mikhailov (G)

2  Giuseppe Bergomi

12 Radoslav Zdravkov

6  Gaetano Scirea (C)

5  Georgi Dimitrov (C)

8  Pietro Vierchowod

3  Nikolay Arabov

3  Antonio Cabrini

13 Aleksandar Markov

10  Salvatore Bagni

8  Ayan Sadakov

13  Fernando De Napoli

10 Zhivko Gospodinov

14 Antonio Di Gennaro

2 Nasko Sirakov

16  Bruno Conti

11 Plamen Getov

18 Alessandro Altobelli

7  Bozhidar Iskrenov

19 Giuseppe Galderisi

9  Stoycho Mladenov

 

Técnico: Enzo Bearzot

Técnico: Ivan Vutsov

 

SUPLENTES:

 

 

12 Franco Tancredi (G)

22 Iliya Valov (G)

22 Walter Zenga (G)

21 Iliya Dyakov

4  Fulvio Collovati

4 Petar Petrov

5  Sebastiano Nela

14 Plamen Markov

7  Roberto Tricella

15 Georgi Yordanov

11 Giuseppe Baresi

17 Hristo Kolev

15 Marco Tardelli

6  Andrey Zhelyazkov

9  Carlo Ancelotti

16 Vasil Dragolov

21 Aldo Serena

18 Boycho Velichkov

17 Gianluca Vialli

19 Atanas Pashev

20 Paolo Rossi

20 Kostadin Kostadinov

 

GOLS:

44′ Alessandro Altobelli (ITA)

85′ Nasko Sirakov (BUL)

 

CARTÕES AMARELOS:

48′ Giuseppe Bergomi (ITA)

51′ Aleksandar Markov (BUL)

64′ Antonio Cabrini (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

65′ Bruno Conti (ITA) ↓

Gianluca Vialli (ITA) ↑

 

65′ Bozhidar Iskrenov (BUL) ↓

Kostadin Kostadinov (BUL) ↑

 

74′ Zhivko Gospodinov (BUL) ↓

Andrey Zhelyazkov (BUL) ↑

Alguns lances do jogo, em reportagem da TV Globo:

… 09/06/1990 – Itália 1 x 0 Áustria

Três pontos sobre…
… 09/06/1990 – Itália 1 x 0 Áustria


(Imagem: Barcalcio)

● Depois de vencer a Copa do Mundo de 1982, a Itália soube capitalizar muito bem esse sucesso. Nos anos seguintes, os clubes do país contrataram os principais talentos do futebol mundial. A Juventus trouxe Michel Platini e Zbigniew Boniek. A Udinese tirou Zico do Flamengo. A Roma já tinha Falcão e trouxe Toninho Cerezo. Júnior foi para o Torino. A Internazionale comprou Karl-Heinz Rummenigge. A Fiorentina fechou com Sócrates. O Verona foi atrás de Hans-Peter Briegel. E até o pequeno Napoli conseguiu sua estrela: Diego Armando Maradona, que não estava bem no Barcelona. Exceções feitas aos espanhóis (pelo futebol forte e capitalizado) e aos soviéticos (que eram impedidos de deixar seu país), em meados da década de 1980, praticamente todos os grandes futebolistas do planeta estavam desfilando em gramados italianos. Com uma constelação dessa imponência no Calcio, até a Rede Globo ousou transmitir o Campeonato Italiano ao vivo na temporada 1984/85.

Com esse sucesso, os políticos italianos demonstraram o interesse de seu país em ser sede da próxima Copa a ser disputada na Europa. A Itália já tinha sido anfitriã no segundo Mundial, em 1934, e a FIFA estava relutante em repetir um país sede. Mas o precedente do México em 1986 abriu as portas para o sucesso italiano.

A FIFA, vendo como iminente queda da “Cortina de Ferro” e a consequente implosão da União Soviética (maior adversária dos italianos no pleito), decidiu pelo país que tinha mais tradição, o melhor campeonato nacional do mundo e melhor infraestrutura turística. E a Itália se tornou novamente sede da Copa – dessa vez sem a influência do fascismo.

Foram reformados nove dos doze estádios que sediaram jogos, incluindo o Olímpico de Roma e o San Siro, em Milão. O Luigi Ferraris, de Gênova, foi demolido e reconstruído. Turim e Bari ganharam estádios novos: Delle Alpi e San Nicola, respectivamente.

A FIFA dirigiu o sorteio do chaveamento, de forma a evitar o desequilíbrio. Cada grupo tinha pelo menos duas equipes de bom nível, sendo que até três times poderiam se classificar para as oitavas de final. Esse direcionamento impediu que houvessem grupos fracos e também os chamados “grupos da morte”.

Os principais favoritos ao título eram a Itália (dona da casa, que contava com uma defesa fortíssima), a Holanda (campeã da Eurocopa de 1988) e o Brasil (campeão da Copa América de 1989 – e que havia derrotado italianos e holandeses em amistosos também em 1989). Em um segundo escalão estavam a Argentina (então campeã mundial), União Soviética (campeã olímpica de 1988), Alemanha Ocidental e Inglaterra.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Na abertura oficial do torneio, a Argentina foi surpreendida por Camarões e perdeu por 1 a 0. No dia seguinte, era a vez da Itália estrar diante de sua torcida contra o bom time da Áustria.

Em 1990, a Áustria disputou três amistosos preparatórios. Em 28/03, venceu a Espanha de virada por 3 a 2, em Málaga, após estar perdendo por 2 a 0. Em 11/04, em Salzburg, goleou a Hungria por 3 a 0. No dia 30/05, em Viena, derrotou a fortíssima Holanda por 3 a 2. Esses resultados elevaram o moral dos austríacos. Para a crítica especializada, o time deixou de ser a “terceira força do Grupo A” e passou a ter “razoáveis chances de chegar entre os oito finalistas”. Mas, para os austríacos, um empate na estreia já seria um ótimo resultado.

A Itália causava desconfiança à sua torcida após o resultado de três partidas amistosas. Em fevereiro, empatou sem gols com a Holanda, em Roterdã. Em março, venceu a Suíça por 1 a 0, em Basel. No dia 30/05, em Perugia, empatou sem gols com a Grécia. Em três jogos, marcou um gol e não sofreu nenhum. E aparentemente era isso que a Squadra Azzurra tinha a oferecer na Copa: uma defesa intransponível e um ataque estéril.


Azeglio Vicini montou a Itália no sistema 4-4-2 com Franco Baresi como líbero.


Josef Hickersberger armou a Áustria no 5-3-2.

● Todavia, com a bola rolando, a Itália surpreendeu a todos e partiu para cima, deixando de lado sua prudência costumeira e criando inúmeras oportunidades. Porém, não foi feliz nas finalizações.

O primeiro tempo poderia ter terminado com o placar dilatado, se Andrea Carnevale (várias vezes), Gianluca Vialli, Carlo Ancelotti (acertou a trave) e Roberto Donadoni não tivessem desperdiçado chances preciosas. Donadoni perdeu o gol mais feito: ele estava dentro da pequena área e chutou por cima, com o gol vazio. Os atacantes sofriam com a ansiedade e nervosismo para definir logo as jogadas. Faltava pontaria.

Vialli perdeu outro gol fácil no início do segundo tempo, na oitava finalização italiana no jogo. Com 23 anos, o talentoso Roberto Baggio permaneceu no banco os 90 minutos.

Daí em diante, a Áustria conseguiu estabelecer um certo equilíbrio na partida, trocando passes e tirando a velocidade das jogadas. Mas, muito bem marcado, o artilheiro Toni Polster pouco conseguia fazer.

E, aos 30 minutos, o técnico Azeglio Vicini trocou o inoperante Carnevale (que errou quatro finalizações) por Salvatore “Totò” Schillaci – um artilheiro implacável atuando pelo Messina na Série B, que havia chegado à Juventus um ano antes e sido autor de 12 gols em 30 jogos na Série A de 1989/90. Aos 25 anos, era seu segundo jogo pela seleção. Era praticamente um desconhecido do grande público. E que se tornou celebridade apenas três minutos após entrar em campo.

Aos 33′, Vialli avançou até a linha de fundo e cruzou da direita. Praticamente em seu primeiro toque na bola, Schillaci (1,75 m) saltou entre os gigantes Ernst Aigner (1,94 m) e Robert Pecl (1,89) para cabecear a bola para o fundo do gol de Lindenberger.

Em um jogo duro, a Itália conseguiu a vitória graças a “Totò” Schillaci, o novo xodó da torcida italiana. Salvatore foi o salvador da Itália.


São João Paulo II: o Papa na Copa (Imagem: FIFA)

● Esse foi o único jogo da história das Copas que contou com a presença de um Papa. Antes da partida, São João Paulo II desfilou de papamóvel pela pista de atletismo do estádio Olímpico de Roma e depois leu um breve discurso na tribuna de honra, enaltecendo a importância dos atletas para que sirvam de modelo aos jovens de todo o mundo, “como líderes, e não como ídolos”.

Curiosamente, em sua juventude em Wadowice (a 50 km de Cracóvia), o polonês Karol Wojtyła brincava de ser goleiro e era elogiado pelo porte físico, coragem e disciplina em campo.

Mas o Papa sabia que naqueles dias o catolicismo ficaria em segundo plano na Itália, perdendo para a principal religião do mundo: o futebol. Tanto sabia, que adiantou o horário da tradicional procissão de Corpus Christi para que os fiéis pudessem assistir o jogo entre Itália e Estados Unidos.

E para tentar atender o maior número possível de fiéis turistas durante Copa, o Vaticano rezava missas em cinco idiomas: italiano, inglês, espanhol, alemão e francês.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Na sequência, a Áustria perdeu para a Tchecoslováquia por 1 a 0 e venceu os Estados Unidos por 2 a 1. Foi eliminada na primeira fase, com apenas dois pontos.

A Itália pegou embalo e, nas partidas seguintes, venceu os EUA por 1 a 0 e a Tchecoslováquia por 2 a 0, terminando a fase de grupos com 100% de aproveitamento. Nas oitavas de final, eliminou o Uruguai (2 x 0). Nas quartas, teve dificuldade para vencer a Irlanda por 1 a 0. Na semi, a Azzurra sofreu seu primeiro gol no torneio e empatou com a Argentina por 1 a 1, mas perdeu nos pênaltis por 4 a 3. Como consolo, conquistou o 3º lugar ao vencer a Inglaterra por 2 a 1.

“Totò” Schillaci se sagrou o artilheiro da Copa com seis gols e foi eleito o melhor jogador do torneio.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 0 ÁUSTRIA

 

Data: 09/06/1990

Horário: 21h00 locais

Estádio: Olímpico

Público: 73.303

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: José Roberto Wright (Brasil)

 

ITÁLIA (4-4-2):

ÁUSTRIA (5-3-2):

1  Walter Zenga (G)

1  Klaus Lindenberger (G)

2  Franco Baresi

2  Ernst Aigner

3  Giuseppe Bergomi (C)

7  Kurt Russ

6  Riccardo Ferri

3  Robert Pecl

7  Paolo Maldini

5  Peter Schöttel

9  Carlo Ancelotti

18 Michael Streiter

11 Fernando De Napoli

8  Peter Artner

13 Giuseppe Giannini

10 Manfred Linzmaier

17 Roberto Donadoni

20 Andreas Herzog

16 Andrea Carnevale

13 Andreas Ogris

21 Gianluca Vialli

9  Toni Polster

 

Técnico: Azeglio Vicini

Técnico: Josef Hickersberger

 

SUPLENTES:

 

 

12 Stefano Tacconi (G)

21 Michael Konsel (G)

22 Gianluca Pagliuca (G)

22 Otto Konrad (G)

5  Ciro Ferrara

4  Anton Pfeffer

8  Pietro Vierchowod

6  Manfred Zsak

4  Luigi De Agostini

12 Michael Baur

14 Giancarlo Marocchi

11 Alfred Hörtnagl

10 Nicola Berti

19 Gerald Glatzmayer

15 Roberto Baggio

16 Andreas Reisinger

18 Roberto Mancini

14 Gerhard Rodax

20 Aldo Serena

15 Christian Keglevits

19 Salvatore Schillaci

17 Heimo Pfeifenberger

 

GOL: 78′ Salvatore Schillaci (ITA)

 

CARTÃO AMARELO: 6′ Andreas Herzog (AUT)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Carlo Ancelotti (ITA) ↓

Luigi De Agostini (ITA) ↑

 

61′ Peter Artner (AUT) ↓

Manfred Zsak (AUT) ↑

 

75′ Andrea Carnevale (ITA) ↓

Salvatore Schillaci (ITA) ↑

 

77′ Manfred Linzmaier (AUT) ↓

Alfred Hörtnagl (AUT) ↑


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

Melhores momentos da partida (em italiano):

Melhores momentos da partida (Rede Manchete):

… 05/07/1994 – Itália 2 x 1 Nigéria

Três pontos sobre…
… 05/07/1994 – Itália 2 x 1 Nigéria


(Imagem: Pinterest)

● O confronto das oitavas de final entre Nigéria e Itália colocava frente a frente dois estilos completamente diferentes de jogo: a ousadia dos africanos contra a disciplina dos europeus.

Na primeira fase, a Nigéria foi líder do Grupo D, goleando a Bulgária (3 x 0), perdendo para a Argentina (2 x 1) e vencendo a Grécia (2 x 0). Surpreendentemente, logo em sua primeira Copa do Mundo, a Nigéria tinha ficado em primeiro lugar em seu grupo e enfrentaria a poderosa Itália nas oitavas de final.

A Itália estreou perdendo para a Irlanda por 1 x 0. Depois, bateu a Noruega por 1 a 0 e empatou com o México por 1 a 1. Pela primeira e única vez na história das Copas, um grupo terminava com as quatro seleções rigorosamente empatadas, tanto em pontos ganhos (quatro) como em saldo de gols (zero). O México ficou em primeiro lugar por ter tido o melhor ataque (três gols), a Irlanda ficou em segundo lugar por ter vencido a Itália no confronto direto, a Itália se classificou na repescagem, em terceiro lugar, e a Noruega ficou de fora por ter marcado menos gols (só um).

A Nigéria tinha conquistado seu segundo título da Copa Africana de Nações havia menos de três meses e se apresentava como possível surpresa do Mundial. Contava com verdadeiros diamantes brutos, como Jay-Jay Okocha, Sunday Oliseh, Finidi George, Emmanuel Amunike e Daniel Amokachi, além do experiente centroavante Rashidi Yekini. O clima era tão favorável que o presidente da federação, Samson Omeruah, resolveu falar demais: “Os italianos são famosos no mundo todo pela máfia, não por jogar futebol”. Ele deve ser ter se esquecido dos três títulos mundiais (até então) e do peso da camisa da Squadra Azzurra.

Alheio a polêmicas, o técnico Clemens Westerhof foi mais realista, afirmando que as chances de sua equipe eram de 50%. O treinador trouxe a visão holandesa do futebol: velocidade, exuberância e técnica, que foram somadas à força física e habilidade naturais dos africanos. A maioria dos jogadores nigerianos já atuavam em clubes da Europa e combinavam os estilos europeu e africano.

O grande treinador italiano Arrigo Sacchi deixou sua idolatria no Milan para liderar a Azzurra. Para essa partida, ele promovia ajustes no seu time com as entradas de Roberto Mussi na lateral direita e Danielle Massaro no comando de ataque. Substituto natural de Franco Baresi tanto na função de líbero, quanto no uso da tarja de capitão, Paolo Maldini migrou da lateral esquerda para o centro da defesa.

Mas independente de qualquer coisa, a esperança dos italianos continuava sendo Roberto Baggio, então detentor do posto de melhor jogador do planeta.

Antes do pontapé inicial, a concentração nigeriana recebeu a visita especial do astro da NBA, Hakeem Olajuwon, nascido em Lagos (capital da Nigéria) e apaixonado por futebol.


Arrigo Sacchi escalou sua equipe no 4-4-2. Com a bola, Baggio avançava formando um 4-3-3.


A Nigéria atuava no 4-4-2, mas com o apoio de todos no meio campo. Quando atacava, formava um 4-2-4 com Finidi e Amunike bem abertos.

● Diante de 54.367 pessoas, no Foxboro Stadium, em Massachusetts, os nigerianos dominaram a partida.

Valendo-se de suas habilidades e, sobretudo, de uma condição física superior, as Super Águias inauguraram o marcador aos 25 minutos do primeiro tempo. Após a cobrança um escanteio, Paolo Maldini cortou mal e Emmanuel Amunike tocou na saída do goleiro Luca Marchegiani para abrir o placar.

Os nigerianos controlaram a posse de bola durante toda a partida, sem sofrer com o ataque italiano.

Aos 20′ da segunda etapa, Sacchi busca dar mais energia ao time, trocando Giuseppe Signori por Gianfranco Zola. Mas apenas dez minutos depois, Zola foi expulso por uma entrada mais forte em um adversário.

Agora as Super Águias venciam por 1 a 0 e tinham um jogador a mais em campo nos quinze minutos finais. Mas, sem ambição, ao invés de matar logo o jogo, davam toques de efeito, esperando o jogo terminar.

O tempo vai se esgotando para os italianos, que não conseguem criar nenhuma chance clara de gol.

Com um toque de bola envolvente, parecia que a classificação africana estava mais do que assegurada.

Porém, por pura inexperiência, eles permitiram a igualdade aos 43 minutos do segundo tempo. Roberto Mussi ganhou a dividida com a defesa adversária a rolou para o meia-atacante Roberto Baggio chutar colocado, de forma consciente, entre um zagueiro adversário, Massaro e a trave direita. Um lindo gol. Uma enorme falha defensiva, que permitiu o gol para os italianos a dois minutos do fim.

Aos 10 minutos da prorrogação, os africanos voltaram a incorrer no mesmo erro. Antonio Benarrivo avança e cai na área em disputa de bola com um zagueiro. Um pênalti infantil. Roberto Baggio, sempre ele, cobrou firme no canto direito de Peter Rufai, “O Príncipe”. A bola tocou na trave antes de entrar.

Com a virada, os italianos travaram o jogo até o apito final.


(Imagem: Getty Images / Globo Esporte)

“O avião já estava partindo para casa, mas eu parei seu motor”, disse um sorridente Baggio.

No dia seguinte, os jornais da Velha Bota esqueceram toda a desconfiança em torno do jogador da Juventus e festejaram seu craque.

No mata-mata, a Itália venceria todos seus jogos por 2 a 1: a Nigéria, nas oitavas; a Espanha, nas quartas; e a Bulgária, nas semifinais. Na final, após o empate sem gols com o Brasil, perdeu nos pênaltis por 3 a 2.

A falta de experiência e malícia minou as esperanças alviverdes de repetirem o feito dos rivais camaroneses na Copa do Mundo de 1990, quando os Leões Indomáveis alcançaram uma vaga nas quartas de final.

Era o fim da Copa para a Nigéria, mas o início de grandes celebrações por parte da torcida no país, que recebeu seus jogadores com muita festa na volta para casa.

E as Super Águias corresponderam logo, ao conquistar a inédita medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, ao derrotar o Brasil na semifinal e a Argentina na final.

Na Copa de 1998, novamente os nigerianos fizeram uma boa competição, mas voltaram a cair nas oitavas de final.


(Imagem: A Tribuna)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 1 NIGÉRIA

 

Data: 05/07/1994

Horário: 13h00 locais

Estádio: Foxboro Stadium

Público: 54.367

Cidade: Foxborough (Estados Unidos)

Árbitro: Arturo Brizio Carter (México)

 

ITÁLIA (4-4-2):

NIGÉRIA (4-4-2):

12 Luca Marchegiani (G)

1  Peter Rufai (G)(C)

8  Roberto Mussi

2  Augustine Eguavoen

4  Alessandro Costacurta

5  Uche Okechukwu

5  Paolo Maldini (C)

6  Chidi Nwanu

3  Antonio Benarrivo

19 Michael Emenalo

14 Nicola Berti

15 Sunday Oliseh

11 Demetrio Albertini

10 Jay-Jay Okocha

16 Roberto Donadoni

7  Finidi George

10 Roberto Baggio

11 Emmanuel Amunike

20 Giuseppe Signori

14 Daniel Amokachi

19 Daniele Massaro

9  Rashidi Yekini

 

Técnico: Arrigo Sacchi

Técnico: Clemens Westerhof

 

SUPLENTES:

 

 

1  Gianluca Pagliuca (G)

16 Alloysius Agu (G)

22 Luca Bucci (G)

22 Wilfred Agbonavbare (G)

2  Luigi Apolloni

4  Stephen Keshi

6  Franco Baresi

13 Emeka Ezeugo

7  Lorenzo Minotti

20 Uche Okafor

9  Mauro Tassotti

3  Benedict Iroha

15 Antonio Conte

21 Mutiu Adepoju

17 Alberigo Evani

8  Thompson Oliha

13 Dino Baggio

18 Efan Ekoku

21 Gianfranco Zola

12 Samson Siasia

18 Pierluigi Casiraghi

17 Victor Ikpeba

 

GOLS:

25′ Emmanuel Amunike (NIG)

88′ Roberto Baggio (ITA)

102′ Roberto Baggio (ITA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

2′ Michael Emenalo (NIG)

6′ Daniele Massaro (ITA)

29′ Alessandro Costacurta (ITA)

41′ Mutiu Adepoju (NIG)

53′ Sunday Oliseh (NIG)

58′ Chidi Nwanu (NIG)

60′ Giuseppe Signori (ITA)

62′ Dino Baggio (ITA)

80′ Paolo Maldini (ITA)

 

CARTÃO VERMELHO: 75′ Gianfranco Zola (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

35′ Daniel Amokachi (NIG) ↓

Mutiu Adepoju (NIG) ↑

 

INTERVALO Nicola Berti (ITA) ↓

Dino Baggio (ITA) ↑

 

57′ Emmanuel Amunike (NIG) ↓

Thompson Oliha (NIG) ↑

 

65′ Giuseppe Signori (ITA) ↓

Gianfranco Zola (ITA) ↑

Gols e lances chave da partida:

… 04/07/2006 – Alemanha 0 x 2 Itália

Três pontos sobre…
… 04/07/2006 – Alemanha 0 x 2 Itália


(Imagem: FIFA.com)

● A Alemanha estava em festa. Sua desacreditada seleção estava a dois jogos de conquistar o título mundial em casa, feito que já havia alcançado em 1974.

A primeira semifinal ocorreria no Signal Iduna Park (antigo Westfalenstadion), em Dortmund, e seria um dos maiores clássicos do mundo. Alemanha e Itália já nos brindaram com diversas partidas memoráveis e essa seria mais uma delas.

O retrospecto italiano contra os alemães é ótimo, principalmente em fases decisivas. A Azzurra já tinha vencido nas semifinais em 1970 (4 x 3) e na final de 1982 (3 x 1), além de dois empates sem gols (em 1962 e 1978).

Na estreia de 2006, a Alemanha bateu a Costa Rica por 4 a 2. Na segunda partida, o gol da vitória (1 x 0) sobre a rival Polônia foi arrancado aos 46 minutos do segundo tempo. No terceiro jogo, completou os 100% de aproveitamento ao atropelar o Equador por 3 a 0. Nas oitavas de final, ganhou tranquilamente da Suécia por 2 a 0. Nas quartas, uma verdadeira batalha no clássico contra a Argentina: após empate por 1 a 1, venceu nos pênaltis por 4 a 2, com uma grande confusão no final. Na briga generalizada, o argentino Julio Cruz acertou um tapa no alemão Torsten Frings, que revidou com um soco. A FIFA suspendeu Frings por uma partida e o meia seria o grande desfalque da Alemanha na semifinal.

A Squadra Azzurra se classificou como líder na fase de grupos com sete pontos, vencendo Gana por 2 a 1, empatando com os Estados Unidos em 1 a 1 e vencendo a República Tcheca por 2 a 0. Nas oitavas de final, precisou de um pênalti duvidoso aos 50 minutos do segundo tempo para eliminar a Austrália. Nas quartas de final, passou sem sustos pela Ucrânia, com um convincente 3 a 0 – uma bela noite, na qual a torcida italiana lavava a alma, cantando “Un estate italiana”, tema da Copa de 1990. Se a Alemanha conquistou a Copa sediada na Itália, agora a Squadra Azzurra poderia se vingar se vencesse o Mundial em solo germânico.


(Imagem: Football Unites)

● As cores da bandeira alemã predominavam no estádio. A torcida local, que era claramente a maioria esmagadora dos 65.000 expectadores, acreditava plenamente que seu país estaria na decisão no próximo domingo, em Berlim.

Paulo Vinícius Coelho disse em seu livro “Os 55 maiores jogos das Copas do Mundo (2010)” que a empolgação dos torcedores italianos também era tamanha, que em determinado momentos eles gritavam a plenos pulmões: “Tutti a Berlino / Andiamo tutti a Berlino”, cantando no ritmo do sucesso cubano “Guantanamera”.

Era um confronto de dois técnicos completamente diferentes. Marcello Lippi, jogador mediano, treinador experiente e extremamente tático. Jürgen Klinsmann, um craque de bola, em seu primeiro trabalho como técnico. O ex-atacante alemão era um dos heróis de 1990, quando conquistaram a Copa pela última vez até então.

Klinsmann precisaria contar com uma noite inspirada de sua dupla de ataque, os poloneses naturalizados Lukas Podolski e Miroslav Klose.

A Itália não tinha mais que cinco mil torcedores no estádio, mas a seleção de Marcello Lippi era experiente e não se deixava intimidar. A única alteração em relação às quartas de final era o retorno de Marco Materazzi, que voltava de suspensão. Francesco Totti começou como titular, deixando Alessandro Del Piero no banco.


A Alemanha atuou no 4-4-2. As jogadas fluíam bem no meio de campo, com a qualidade de Schneider, Borowski e Ballack, apoiados pelas constantes subidas de Lahm ao ataque.


A Itália era composta no 4-4-1-1, se defendendo com duas linhas de quatro. Os dois meias laterais, Camoranesi e Perrotta apoiavam muito ao ataque. Totti jogava livre para criar.

● Foi um jogo morno, com poucas chances de gol para os dois lados. No primeiro tempo, os italianos tiveram mais chances e criaram a primeira oportunidade. Simone Perrotta adiantou demais a bola, Jens Lehmann saiu para a dividida e ficou com ela.

Depois, Totti cobrou falta com força e Lehmann agarrou firme.

Os alemães viram que a partida não seria tão fácil, mas se acalmaram e começaram a jogar melhor. Eles reclamaram em vão de um pênalti, quando a bola tocou no braço de Pirlo dentro da área.

Mas era muito difícil passar pela defesa da Squadra Azzurra, liderada pelo capitão Fabio Cannavaro. Se a bola passasse pela zaga, tinha uma muralha chamada Buffon para impedir o gol.

Em uma mostra disso, Klose passou pela defesa, mas adiantou demais e Buffon apareceu para tirar o perigo da área.

Os alemães perderam a melhor oportunidade. Em bela troca de passes no ataque, a bola sobra para Bernd Schneider, que chuta forte. Buffon desvia com a pontinha da luva e a bola vai por cima.

A Itália ameaçava com os passes precisos de Pirlo, criador da maioria das jogadas perigosas. Mas quase todas acabavam nas mãos do goleiro Lehmann.

No segundo tempo, os donos da casa pediram outro pênalti, de Cannavaro em Podolski, que o árbitro assinalou fora da área.

Fabio Grosso avança, mas para em Lehmann. Era um jogo para consagrar dois grandes goleiros.

Faltando 16 minutos para o final, a Itália remaneja o time em busca do gol. Alberto Gilardino substitui Luca Toni.

Perto do final, Totti faz o passe por cobertura para Perrotta, mas Lehmann sai de soco para tirar o perigo.

E os primeiros 90 minutos terminaram sem gols.


(Imagem: Martin Rose / Bongarts / Getty Images / Sportsnet)

● A partida ganhou emoção mesmo na prorrogação, tal qual aconteceu 36 anos antes, na semifinal da Copa do Mundo de 1970 (Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental) – mas nem tanto dessa vez…

A Itália foi mais para cima ainda, com o atacante Iaquinta no lugar do meio campista Camoranesi.

Os lances de perigo foram mais frequentes a partir dos 3 minutos, quando Totti cobrou uma falta e assustou o goleiro Lehmann.

A Itália persiste no ataque. Gattuso fica sozinho no balanço defensivo, dando mais liberdade para Pirlo.

A Alemanha nunca havia perdido uma decisão por pênaltis na história das Copas, enquanto a Itália não tinha um bom retrospecto (tinha sido eliminada dessa forma em 1990, 1994 e 1998). Por isso, a Azzurra partia para decidir logo com a bola rolando.

A ousadia italiana rendeu duas bolas na trave em menos de um minuto.

Gilardino ganha disputa com Metzelder na direita, invade a área, chega na linha de fundo, passa por Ballack com um corte para o meio e, já dentro da pequena área, chuta fraco de esquerda e a bola bate na trave. Um lindo lance, que poderia ter decidido o jogo. Um pecado essa bola não ter entrado.

Zambrotta ameaça novamente com um chute no travessão. A Alemanha passava por maus bocados.


Na prorrogação, Marcello Lippi nem parecia italiano! Prendeu um pouco mais os laterais e deixou Gattuso como um cão de guarda, para liberar Pirlo. Totti continuava livre para criar. No ataque, Iaquinta abria pela direita e Del Piero na esquerda, deixando Gilardino flutuando pelo centro.

Marcello Lippi sente que é o momento de dar o golpe fatal. Ele opta por colocar outro atacante. A Itália não jogava com quatro no ataque desde o início da década de 1960. Alessandro Del Piero entrou para dar o último gás. Um dos jogadores mais talentosos e consagrados da Itália, Del Piero tinha se tornado recentemente o maior artilheiro de todos os tempos da Juventus, em sua 12ª temporada no time.

Mas essa vocação ofensiva mostrou a fragilidade defensiva dos italianos, permitindo o contra-ataque aos alemães.

Klinsmann troca o inoperante Klose por Oliver Neuville (outro naturalizado, nascido na Suíça).

Podolski chuta forte e Buffon espalma por cima.

Kehl chutou e a bola passou muito perto do gol de Buffon.

Os alemães, já sem pernas, foram se segurando. A Itália tinha mais posse de bola, com 57%. E seguia pressionando aos 29 minutos da prorrogação.

Quando (quase) todos davam o jogo por encerrado, esperando a disputa de pênaltis, a partida se resolveu.

Del Piero bate o escanteio e Friedrich desvia para a meia lua. Pirlo domina e vai puxando com calma para a direita. Com um passe açucarado, ele acha Fabio Grosso livre no meio dos zagueiros. O lateral esquerdo não “honrou” o sobrenome e bateu com estilo, com muita curva, e a bola morreu no canto direito de Lehmann.

A comemoração de Grosso lembra a de Marco Tardelli no gol da final do Mundial de 1982, contra a mesma Alemanha.

A Itália estava quase na final.

E os alemães partem para o tudo ou nada, se lançando à frente. Mas seriam castigados por isso.

No último lance do jogo, veio o tiro de misericórdia. Podolski erra um passe na intermediária. Cannavaro rouba a bola e deixa com Totti. Ele dá um ótimo passe para Gilardino, que faz muito bem o papel de pivô, segura a bola e toca na passagem de Del Piero na esquerda. O craque juventino, com uma tranquilidade monstra na finalização, deu um toque por cobertura e mandou a bola no ângulo, coroando uma jogada toda extraordinária. Depois de um contra-ataque fulminante de 80 metros, Del Piero coloca seu nome no panteão dos heróis das Copas do Mundo.

Um duro golpe para os alemães, que tentavam conquistar seu segundo título como anfitriões, 32 anos depois.

No fim, um doloroso silêncio na “Muralha Amarela” do Westfalenstadion, que naquela noite era toda branca. Agora, era luto.


(Imagem: Claudio Villa / Grazia Neri Agency / Goal.com)

● Como consolação, o alemão Lukas Podolski ganhou o prêmio de melhor jogador jovem da Copa.

Curiosamente, o atacante Alberto Gilardino, que foi fundamental nessa vitória na semifinal, completou 24 anos no dia seguinte a essa partida. Ele nasceu em 05/07/1982, poucos minutos depois que a Itália eliminou o Brasil na Copa do Mundo daquele ano.

Na decisão do 3º lugar, a Alemanha venceu Portugal por 3 a 1 e saiu de cabeça erguida.

A Itália estava na final contra a França, liderada por Zinédine Yazid Zidane.


(Imagem: Getty Images / Sportsnet)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 0 x 2 ITÁLIA

 

Data: 04/07/2006

Horário: 21h00 locais

Estádio: Signal Iduna Park (antigo Westfalenstadion)

Público: 65.000

Cidade: Dortmund (Alemanha)

Árbitro: Benito Archundia (México)

 

ALEMANHA (4-4-2):

ITÁLIA (4-4-1-1):

1  Jens Lehmann (G)

1  Gianluigi Buffon (G)

3  Arne Friedrich

19 Gianluca Zambrotta

17 Per Mertesacker

5  Fabio Cannavaro (C)

21 Christoph Metzelder

23 Marco Materazzi

16 Philipp Lahm

3  Fabio Grosso

19 Bernd Schneider

8  Gennaro Gattuso

5  Sebastian Kehl

21 Andrea Pirlo

13 Michael Ballack (C)

20 Simone Perrotta

18 Tim Borowski

16 Mauro Camoranesi

20 Lukas Podolski

10 Francesco Totti

11 Miroslav Klose

9  Luca Toni

 

Técnico: Jürgen Klinsmann

Técnico: Marcello Lippi

 

SUPLENTES:

 

 

12 Oliver Kahn (G)

12 Angelo Peruzzi (G)

23 Timo Hildebrand (G)

14 Marco Amelia (G)

4  Robert Huth

2  Cristian Zaccardo

6  Jens Nowotny

6  Andrea Barzagli

2  Marcell Jansen

13 Alessandro Nesta

8  Torsten Frings

22 Massimo Oddo

15 Thomas Hitzlsperger

4  Daniele De Rossi

7  Bastian Schweinsteiger

17 Simone Barone

22 David Odonkor

7  Alessandro Del Piero

14 Gerald Asamoah

15 Vincenzo Iaquinta

10 Oliver Neuville

11 Alberto Gilardino

9  Mike Hanke

18 Filippo Inzaghi

 

GOLS:

119′ Fabio Grosso (ITA)

120+1′ Alessandro Del Piero (ITA)

 

CARTÕES AMARELOS:

40′ Tim Borowski (ALE)

56′ Christoph Metzelder (ALE)

90′ Mauro Camoranesi (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

73′ Tim Borowski (ALE) ↓

Bastian Schweinsteiger (ALE) ↑

 

74′ Luca Toni (ITA) ↓

Alberto Gilardino (ITA) ↑

 

83′ Bernd Schneider (ALE) ↓

David Odonkor (ALE) ↑

 

COMEÇO DA PRORROGAÇÃO Mauro Camoranesi (ITA) ↓

Vincenzo Iaquinta (ITA) ↑

 

104′ Simone Perrotta (ITA) ↓

Alessandro Del Piero (ITA) ↑

 

111′ Miroslav Klose (ALE) ↓

Oliver Neuville (ALE) ↑

Reportagem da Rede Globo com os gols da partida:

Gols narrados pelo italiano Fabio Caressa:

… 11/06/1998 – Itália 2 x 2 Chile

Três pontos sobre…
… 11/06/1998 – Itália 2 x 2 Chile


Marcelo Salas ganha no alto de Fabio Cannavaro e vira o jogo para o Chile (Imagem: Pinterest)

● Na Copa do Mundo de 1998, uma das maiores ameaças às potências consagradas era o Chile. Subestimado pela mídia estrangeira, o país se vangloriava de sua dupla de ataque: Iván “Bam-Bam” Zamorano e Marcelo Salas, “El Matador”. Salas estava em uma fase esplendorosa e tinha acabado de ser vendido pelo River Plate (Argentina) à Lazio (Itália) por US$ 20 milhões.

O Chile voltava a disputar um Mundial depois de 16 anos. Em 1986, parou nas eliminatórias ao perder nas últimas partidas para o Paraguai. Em 1990, foi punido pela FIFA por um episódio no qual o goleiro sãopaulino Roberto Rojas cortou seu próprio rosto e fingiu ter sido atingido por um sinalizador no jogo contra o Brasil. Por isso, a FIFA suspendeu o Chile também das eliminatórias de 1994. Em 1998, a vaga veio com muito sufoco, apenas no critério de saldo de gols, após um empate em número de pontos com o arqui-inimigo Peru.

A Itália vinha do vice-campeonato na Copa do Mundo de 1994, quando perdeu nos pênaltis para o Brasil por 3 x 2, após o empate por 0 x 0 no tempo normal e na prorrogação.

Para sua estreia em 1998, o técnico italiano Cesare Maldini (pai de Paolo Maldini) não contava com Alessandro Del Piero, craque da Juventus, lesionado. Roberto Baggio, veterano de duas Copas, foi convocado de última hora para levar seu talento e sua criatividade à Squadra Azzurra. O camisa 18 seria titular e o grande nome dessa partida inaugural.


Cesare Maldini escalou sua Itáliano sistema 4-4-2, com duas linhas de 4. Roberto Baggio tinha liberdade para desfilar seu talento no ataque.


Nelson Acosta armou seu time no 3-5-2. Fabián Estay era quem criava as jogadas para a dupla Salas e Zamorano.

● Quase 32 mil pessoas foram ao Parc Lescure para ver o confronto entre Itália e Chile, que se enfrentavam na abertura do Grupo B, em Bordeaux.

A Itália abriu o placar aos 10 minutos de jogo. Paolo Maldini, de seu próprio campo, lança a bola para a intermediária chilena. Com um só toque, Roberto Baggio deixa Christian Vieri livre, na cara do gol. O atacante da Lazio bate de primeira, rasteiro, no canto direito do goleiro Nelson Tapia. Foi uma finalização perfeita, assim como a assistência de Baggio.

A Squadra Azzurra passava sufoco diante do Chile. Os atacantes Salas (1,73 m) e Zamorano (1,78 m), mesmo mais baixos que a zaga italiana, ganhavam quase todas as bolas pelo alto. E foi dessa forma que o Chile viraria o marcador.

No último minuto do primeiro tempo, Fabián Estay cobra escanteio e Zamorano tenta de cabeça. A bola bate em Reyes e sobra para Salas, que balança as redes.

Logo no início da etapa final, aos 4′, Fuentes ergue a bola na área. Salas ganha no alto de Cannavaro e cabeceia no canto direito de Pagliuca.

Mas a seleção chilena acabou castigada pela falta de experiência e cedeu o empate.

A cinco minutos do fim, Roberto Baggio rouba a bola pela direita, perto da linha da grande área, e a chuta de forma proposital na mão de Francisco Rojas, que estava dentro da área. O árbitro nigerino Lucien Bouchardeau marcou pênalti.

O próprio Baggio partiu para a cobrança. Ele resolveu encarar de frente suas amargas lembranças que o assombravam desde o erro no pênalti decisivo na final da Copa do Mundo de 1994. Ele ignora as provocações dos chilenos e converte com serenidade budista, exorcizando seus demônios. Ele bateu forte, no canto direito. Tapia foi na bola, mas ela entrou.

O empate por 2 x 2 premiou os esforços das duas equipes e, principalmente, a torcida, que viu um grande espetáculo.


Roberto Baggio não estava mais em seu auge, seu talento ainda era imprescindível para a Azzurra (Imagem: Popperfoto / Getty Images)

● O Chile não vencia uma partida em Copas do Mundo desde 1962, quando sediou o torneio e terminou em 3º lugar. E esse tabu não seria quebrado em 1998, quando empatou os três jogos da primeira fase: Itália (2 x 2), Áustria (1 x 1) e Camarões (1 x 1). Nas oitavas de final, perdeu para o Brasil por 4 a 1, com dois gols de Ronaldo e dois de César Sampaio, com Salas descontando para o Chile.

Mesmo com a queda precoce, Marcelo Salas foi um dos destaques do torneio, marcando quatro gols.

A Itália, após empatar com o Chile (2 x 2), venceu Camarões (3 x 0) e Áustria (2 x 1). Nas oitavas, passou pela Noruega com uma vitória por 1 a 0. Nas quartas, amargou a terceira eliminação seguida nos pênaltis ao perder para a França por 4 a 3, depois de um empate sem gols no tempo regulamentar e na prorrogação. A Azzurra já havia sido eliminada dessa forma em 1990, na semifinal contra a Argentina, e em 1994, na decisão contra o Brasil.


A dupla “Sa-Za” era mesmo infernal para as defesas adversárias (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 2 CHILE

 

Data: 11/06/1998

Horário: 17h30 locais

Estádio: Parc Lescure (atual Stade Chaban-Delmas)

Público: 31.800

Cidade: Bordeaux (França)

Árbitro: Lucien Bouchardeau (Níger)

 

ITÁLIA (4-4-2):

CHILE (3-5-2):

12 Gianluca Pagliuca (G)

1  Nelson Tapia (G)

5  Alessandro Costacurta

6  Pedro Reyes

6  Alessandro Nesta

3  Ronald Fuentes

4  Fabio Cannavaro

5  Javier Margas

3  Paolo Maldini (C)

15 Moisés Villarroel

15 Angelo Di Livio

4  Francisco Rojas

9  Demetrio Albertini

8  Clarence Acuña

11 Dino Baggio

7  Nelson Parraguez

16 Roberto Di Matteo

20 Fabián Estay

18 Roberto Baggio

11 Marcelo Salas

21 Christian Vieri

9  Iván Zamorano (C)

 

Técnico: Cesare Maldini

Técnico: Nelson Acosta

 

SUPLENTES:

 

 

1  Francesco Toldo (G)

12 Marcelo Ramírez (G)

22 Gianluigi Buffon (G)

22 Carlos Tejas (G)

2  Giuseppe Bergomi

2  Cristián Castañeda

8  Moreno Torricelli

8 Luis Musrri

7  Gianluca Pessotto

16 Mauricio Aros

13 Sandro Cois

14 Miguel Ramírez

14 Luigi Di Biagio

19 Fernando Cornejo

17 Francesco Moriero

17 Marcelo Veja

10 Alessandro Del Piero

10 José Luis Sierra

20 Enrico Chiesa

21 Rodrigo Barrera

19 Filippo Inzaghi

13 Manuel Neira

 

GOLS:

11′ Christian Vieri (ITA)

45+3′ Marcelo Salas (CHI)

48′ Marcelo Salas (CHI)

84′ Roberto Baggio (ITA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

8′ Angelo Di Livio (ITA)

31′ Fabio Cannavaro (ITA)

45′ Nelson Parraguez (CHI)

53′ Clarence Acuña (CHI)

66′ Francisco Rojas (CHI)

 

SUBSTITUIÇÕES:

57′ Roberto Di Matteo (ITA) ↓

Luigi Di Biagio (ITA) ↑

 

61′ Angelo Di Livio (ITA) ↓

Enrico Chiesa (ITA) ↑

 

63′ Javier Margas (CHI) ↓

Miguel Ramírez (CHI) ↑

 

71′ Christian Vieri (ITA) ↓

Filippo Inzaghi (ITA) ↑

 

81′ Fabián Estay (CHI) ↓

José Luis Sierra (CHI) ↑

 

82′ Clarence Acuña (CHI) ↓

Fernando Cornejo (CHI) ↑

Gols da partida (em inglês):

Gols da partida (Rede Globo):

… 31/05/1934 – Itália 1 x 1 Espanha

Três pontos sobre…
… 31/05/1934 – Itália 1 x 1 Espanha

“A Batalha de Florença”


(Imagem: Soccer Nostalgia)

● No jogo inaugural da segunda Copa do Mundo de futebol, a Itália havia massacrado os Estados Unidos com impiedosos 7 x 1. Enquanto isso, a Espanha venceu o Brasil com tranquilidade, por 3 x 1. Quis o sorteio feito quatro meses antes que as duas favoritas se encontrassem já nas quartas de final.

Era a partida mais aguardada do campeonato até então. Talvez uma final antecipada. Mas o cenário não era dos mais favoráveis aos espanhóis, já que os italianos jogavam diante de sua torcida e sob o olhar atento do ditador Benito Mussolini, “Il Duce”. Eram mais de 35 mil expectadores ansiosos para ver a vitória do regime fascista sobre qualquer que fosse o adversário. Mas o que assistiram foi mais uma guerra do que um jogo de futebol.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécia de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


Nos anos 1930, praticamente todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● Segundo Paulo Vinícius Coelho, autor do livro “Os 55 maiores jogos das Copas do Mundo” (2010), “em vez de súmula, o clássico Itália e Espanha poderia ter um boletim de ocorrência, com os nomes das vítimas”.

Em um duelo muito equilibrado, os espanhóis foram superiores técnica e psicologicamente, não dando ouvidos às arquibancadas do estádio Giovanni Berta, que entoavam o slogan fascista “Vitória ou morte”.

A Fúria abriu o placar aos 30 minutos de jogo, com o atacante Luis Regueiro.

Amedrontado, o árbitro belga Louis Baert não teve coragem de expulsar nenhum italiano – apesar muitos merecerem. Especialmente o ótimo centromédio Luisito Monti, que não se furtou a utilizar os mais baixos artifícios e abriu sua “caixa de ferramentas”.

Além disso, o gol italiano foi irregular: o atacante Angelo Schiavio tirou o goleiro espanhol Zamora do lance com uma cotovelada, enquanto a bola ficava livre para Giovanni Ferrari marcar o tento que igualou o placar, a um minuto do intervalo. O juiz fez vista grossa. Esse foi o primeiro e indiscutível grande roubo na história das Copas. Mas a Itália de Mussolini tinha que vencer a qualquer preço.

Na etapa final, a Itália distribuiu pancadas e a Espanha se segurou na defesa, graças ao machucado Zamora e à dupla de zaga Ciriaco e Quincoces (todos do Real Madrid).


Seleção italiana na primeira partida contra a Espanha na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: La Nazionale Italiana, 1978 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Combi, Monti, Guaita, Schiavio, Allemandi, Ferrari e Castellazzi;
Agachados: Pizziolo, Monzeglio, Meazza e Orsi.


Seleção espanhola na primeira partida contra a Itália na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: Todo Sobre La Selección Española, 2006 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Iraragorri, Ramón “Moncho” Encinas (assistente técnico), Quincoces, Zamora, Cilaurren, Fede, Lafuente e Regueiro;
Agachados: Ciriaco, Gorostiza e Muguerza.

● Já veterano, o lendário capitão Ricardo “El Divino” Zamora era considerado o melhor goleiro do mundo na época. Ainda hoje ele dá nome à premiação do goleiro menos vazado em cada edição do Campeonato Espanhol. A história conta que ele defendeu cinco bolas praticamente dentro do gol, impedindo a vitória italiana contra os bravos espanhóis.

O placar de 1 x 1 permaneceu no tempo normal. Na prorrogação, o máximo que as equipes conseguiram foi uma bola na trave para cada lado, obrigando a disputa de um jogo extra.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 X 1 ESPANHA

 

Data: 31/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Giovanni Berta

Público: 35.000

Cidade: Florença (Itália)

Árbitro: Louis Baert (Bélgica)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ESPANHA (2-3-5):

Giampiero Combi (G)(C)

Ricardo Zamora (G)(C)

Eraldo Monzeglio

Ciriaco Errasti

Luigi Allemandi

Jacinto Quincoces

Mario Pizziolo

Leonardo Cilaurren

Luis Monti

José Muguerza

Armando Castellazzi

Fede

Enrique Guaita

Ramón de Lafuente

Giuseppe Meazza

José “Chato” Iraragorri

Angelo Schiavio

Isidro Lángara

Giovanni Ferrari

Luis Regueiro

Raimundo Orsi

Guillermo Gorostiza

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Amadeo García Salazar

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Juan José Nogués (G)

Giuseppe Cavanna (G)

Ramón Zabalo

Umberto Caligaris

Hilario

Virginio Rosetta

Pedro Solé

Luigi Bertolini

Luis Martín

Attilio Ferraris IV

Martín Marculeta

Mario Varglien I

Chacho

Pietro Arcari

Campanal

Felice Borel II

Crisanto Bosch

Anfilogino Guarisi

Martí Ventolrà

Attilio Demaría

Simón Lecue

 

GOLS:

30′ Luis Regueiro (ESP)

44′ Giovanni Ferrari (ITA)


… 01/06/1934 – Itália 1 x 0 Espanha (Partida de Desempate)


(Imagem: Guerin Sportivo I Mondiali del 1934 / Soccer Nostalgia)

● A partida de desempate, marcada para apenas 24 horas depois, no mesmo estádio, começou com o resultado decidido. Era mera formalidade.

Desgastados pela partida anterior, os dois times estavam bem modificados. A Itália vinha com quatro alterações. A Espanha teve sete atletas “feridos”, já que em guerras não há lesionados (como disse Edgardo Martolio no livro “Glória Roubada”): Ciriaco, Fede, Lafuente, Iraragorri, Gorostiza, Lángara e Zamora, o mais machucado deles, com duas costelas fraturadas após uma didivida na qual o juiz belga nem falta marcou.

Agora havia um outro árbitro em campo, mas Mussolini continuava mandando no apito. Se não fosse capaz de vencer na bola, a “Azzurra” teria toda a ajuda “externa” possível.


A Itália teve quatro alterações em relação ao jogo anterior, mas permaneciam com as peças chave para seu estilo de jogo, especialmente o meia-atacante Giuseppe Meazza e os pontas Enrique Guaita e “Mumo” Orsi.


A seleção espanhola foi obrigada a fazer sete alterações em relação aos atletas que atuaram um dia antes. O sistema tático permaneceu o mesmo, o 2-3-5.

● Quem definiu o resultado foi o juiz suíço René Mercet. Ele deixou a pancadaria rolar solta. Ainda na primeira etapa, o ponta espanhol Crisanto Bosch foi violentamente atingido por Luisito Monti. Como as substituições não eram permitidas na época, ele permaneceu em campo apenas para fazer número.

O substituto de Zamora, Juan José Nogués, que jogava no Barcelona, era um goleiro valoroso, mas não imbatível como o titular. Ele não comprometeu, já que o gol de Giuseppe Meazza, marcado aos 11 minutos do primeiro tempo, foi indefensável. Enquanto Meazza marcava o gol, o argentino Demaría segurava Nogués, impedindo que ele pudesse ir na bola. Era uma artimanha muito utilizada pelos italianos, que não era coibida pela arbitragem.

O árbitro suíço, além de validar o gol irregular do italiano, ainda anulou dois tentos legítimos dos espanhóis no segundo tempo: um de Campanal, após marcar impedimento de Regueiro, que não estava no lance, e outro do próprio Regueiro, depois de ter voltado atrás em uma vantagem e apitado falta para a Espanha depois que a bola já estava nas redes. Dessa vez o roubo foi tão evidente que a FIFA e a federação suíça expulsaram o juiz de seus quadros. Mas nada modificaria a vitória italiana.

Apesar da derrota, os espanhóis foram recebidos como heróis em seu país. A população considerou que seus atletas foram bravos e valentes, enquanto os italianos venceram graças a um jogo sujo. Houve, inclusive, quem contribuísse para que os jogadores recebessem uma medalha de ouro e uma premiação em dinheiro como reconhecimento pelo bela competição que fizeram.


Seleção italiana na partida desempate contra a Espanha na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: La Nazionale Italiana, 1978 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Vittorio Pozzo (técnico), Combi, Ferraris IV, Allemandi, Monti, Guaita e Carlo Carcano (assistente técnico);
Agachados: Bertolini, Orsi, Monzeglio, Meazza, Borel II e Demaría.


Seleção espanhola na partida desempate contra a Itália na Copa do Mundo de 1934 (Imagem: Todo Sobre La Selección Española, 2006 / Soccer Nostalgia)
Em pé: Campanal, Vantoira, Nogués, Bosch, Zabalo, Muguerza, Chacho, Lecue, Cilaurren;
Agachados: Regueiro e Quincoces.

● Em 1934, a Itália se tornou a única seleção que disputou três jogos de Copa do Mundo em apenas quatro dias. Em 31/05/1934, empatou com a Espanha por 1 x 1. No dia seguinte, venceu o jogo desempate por 1 x 0. No dia 03/06, venceu a Áustria por 1 x 0 na semifinal – quando a arbitragem voltou a favorecer o time local.

Na decisão, outra vitória bastante controversa contra a Tchecoslováquia, de virada, por 2 x 1.

Benito Mussolini levou sua Itália fascista ao título da segunda Copa do Mundo. Festa para os “tifosi” (torcedores) e para “Il Duce”.

Todos temiam ao “Duce”. Após o título, o técnico Vittorio Pozzo fez uma declaração cheia de apologias ao regime fascista, ao comentar sobre os adversários:

“A partida mais difícil de todas foi contra a Espanha. Precisamos passar por 210 minutos de jogo para vencer. Nenhum outro time nos exigiu tanto. Com tal valor se comportaram os espanhóis naquelas duas partidas em Florença, que foram necessários homens de têmpera especial para batê-los, homens fortes e confiantes como só o fascismo pode criar.”


(Imagem: Guerin Sportivo I Mondiali del 1934 / Soccer Nostalgia)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 X 0 ESPANHA

 

Data: 01/06/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Giovanni Berta

Público: 43.000

Cidade: Florença (Itália)

Árbitro: René Mercet (Suíça)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ESPANHA (2-3-5):

Giampiero Combi (G)(C)

Juan José Nogués (G)

Eraldo Monzeglio

Ramón Zabalo

Luigi Allemandi

Jacinto Quincoces (C)

Attilio Ferraris IV

Leonardo Cilaurren

Luis Monti

José Muguerza

Luigi Bertolini

Simón Lecue

Enrique Guaita

Martí Ventolrà

Giuseppe Meazza

Luis Regueiro

Felice Borel II

Campanal

Attilio Demaría

Chacho

Raimundo Orsi

Crisanto Bosch

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Amadeo García Salazar

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Ricardo Zamora (G)

Giuseppe Cavanna (G)

Ciriaco Errasti

Umberto Caligaris

Hilario

Virginio Rosetta

Pedro Solé

Armando Castellazzi

Luis Martín

Mario Pizziolo

Martín Marculeta

Mario Varglien I

Fede

Pietro Arcari

Isidro Lángara

Angelo Schiavio

Guillermo Gorostiza

Anfilogino Guarisi

Ramón de Lafuente

Giovanni Ferrari

José “Chato” Iraragorri

 

GOL: 11′ Giuseppe Meazza (ITA)

Resumo rápido da partida:

Algumas imagens da partida:

… 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos


Raimundo “Mummo” Orsi marca o segundo gol italiano, aos 20 minutos do primeiro tempo. (Imagem localizada no Google)

Como já contamos, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias. E pela primeira e única vez na história, o país sede teve que disputar as eliminatórias para confirmar presença em seu próprio Mundial. Seria imaginável o país organizador não participar da competição. Mas a Itália nem passou sustos, ao golear a Grécia por 4 x 0 no estádio San Siro, em Milão.

A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, “Il Duce” queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi”. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota disputaram o Mundial em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro). Nascido em São Paulo e revelado pela Portuguesa, Amphilóquio Guarisi Marques, Filó, teve destaque no Corinthians e na Lazio e se tornaria o primeiro brasileiro campeão do mundo, mesmo atuando apenas no jogo de estreia.

Todos os esforços eram válidos para reforçar a “Squadra Azzurra”. Em 1928, o zagueiro Luigi Allemandi, da Juventus, foi banido do futebol por ter, supostamente, aceitado suborno para facilitar em um clássico entre Juve e Torino. Depois, a pedido do técnico italiano Vittorio Pozzo, o jogador foi perdoado pela Federação e Allemandi participou de todos os jogos da Itália na Copa de 1934.

Mussolini obrigou Giorgio Vaccaro, presidente da FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio, a federação italiana de futebol) a fazer a maior propaganda política em via pública como nenhuma outra competição esportiva jamais teve. Um mês antes do evento, todas as cidades do país, não só as sedes das partidas, amanheceram cobertas de cartazes anunciando o torneio. Os cartazes mostravam jovens atletas fazendo a clássica saudação fascista, com o braço reto para cima e um pouco para frente.


Giuseppe Meazza chuta, mas o goleiro americano Julius Hjulian faz a defesa. (Imagem localizada no Google)

● Nos jogos da Itália, era Mussolini quem dava a ordem de início da partida, após obrigar a todos, inclusive os árbitros, a fazerem a saudação fascista dentro de campo. Foi a primeira Copa politizada e bizarra que o mundo viu. Quase todos os expectadores eram filiados ao partido fascista. Eles pouco motivavam os craques. Passavam a partida inteira exaltando a Itália e “Il Duce”.

Diferentemente do Mundial anterior, essa edição não teve fase de grupos. A competição seria disputada em formato de mata-mata desde o princípio, começando pelas oitavas de final. Na prática, oito seleções viajariam à Itália para disputar somente uma partida. Apenas Espanha e Suíça reclamaram, em vão, contra essa fórmula.

Vittorio Pozzo era nascido em Turim. Embora fosse mais ligado ao Torino, ele escalou cinco jogadores da Juventus no time titular da seleção italiana: Giampiero Combi, Luis Monti, Luigi Bertolini, Giovanni Ferrari e Raimundo Orsi, o que garantiu maior entrosamento à equipe. Outro grande feito do treinador foi montar uma equipe reserva quase tão qualificada quanto a titular.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécia de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


Nos anos 1930, praticamente todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● A partida inaugural ocorreu diante de 25 mil presentes no estádio Nazionale PNF (Partido Nacional Fascista), em Roma. A Itália enfrentou os Estados Unidos, que só decidiram participar em cima da hora, como já contamos aqui. Estimulados pela presença de Mussolini, a equipe da casa dominou a partida, mostrou a força de seu futebol e aplicou a maior goleada da Copa.

Foi uma enchurrada de gols. Angelo Schiavio abriu o placar aos 18 minutos do primeiro tempo. O argentino Raimundo “Mumo” Orsi ampliou dois minutos depois. Schiavio fez outro aos 29′.

Aos 12 minutos da segunda etapa, os EUA diminuíram com Aldo Donelli. Mas aos 18′, a porteira se abriu definitivamente, com o quarto gol, marcado por Giovanni Ferrari. No minuto seguinte, Schiavio completa seu “hat trick”, que fica marcado por ter sido o 100º da história das Copas. “Mumo” Orsi anota seu segundo tento aos 69′ e o prodígio Giuseppe Meazza faz o sétimo e último gol no derradeiro minuto de jogo.

Final: 7 a 1 para a Itália.

Os fascistas procuraram valorizar o resultado, afirmando que os EUA não eram um time qualquer, já que tinha sido o terceiro colocado da Copa anterior. Porém, o fato é que os norte-americanos agora estavam com um time completamente diferente de quatro anos antes.

“A Itália era provavelmente a melhor seleção do mundo naquela época. Monti! Eu ainda posso vê-lo! Ele estava em cima de mim. Porque eu fiz quatro gols contra o México, Monti não me deixaria em paz. Ele era durão e um grande marcador.” ― Aldo Donelli, no livro “U.S. Soccer vs The World”, de Tony Cirino


Delegação norte-americana entra em campo para protocolo oficial. (Imagem: FIFA.com)

Os Estados Unidos haviam vencido o rival México em uma “pré-Copa” no dia 24/05, já em Roma, por 4 a 2. Foram eliminados logo na primeira partida do Mundial, com essa goleada sofrida para os italianos.

Enquanto a Itália despachava os EUA, os outros dois representantes do Novo Mundo também foram eliminados. O time amador da Argentina caiu para a Suécia por 3 x 2 e o mal organizado Brasil perdeu para a Espanha por 3 x 1. Com isso, todas as oito seleções das quartas de final eram da Europa – supremacia que nunca mais voltaria a acontecer.

A Itália se classificou para as quartas de final e enfrentaria a fortíssima Espanha, que tinha batido o Brasil por 3 x 1.


Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães George Moorhouse e Virginio Rosetta. Essa foi a última partida de Rosetta como capitão da seleção italiana. A partir dos jogos seguintes, o técnico Vittorio Pozzo o substituiria por Eraldo Monzeglio na defesa, dando a faixa de capitão ao goleiro Giampiero Combi. (Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 7 x 1 ESTADOS UNIDOS

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Nazionale PNF

Público: 25.000

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: René Mercet (Suíça)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ESTADOS UNIDOS (2-3-5):

Giampiero Combi (G)

Julius Hjulian (G)

Virginio Rosetta (C)

Ed Czerkiewicz

Luigi Allemandi

George Moorhouse (C)

Mario Pizziolo

Peter Pietras

Luis Monti

Billy Gonsalves

Luigi Bertolini

Tom Florie

Anfilogino Guarisi

Francis Ryan

Giuseppe Meazza

Werner Nilsen

Angelo Schiavio

Aldo Donelli

Giovanni Ferrari

Walter Dick

Raimundo Orsi

Bill McLean

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: David Gould

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Al Harker

Giuseppe Cavanna (G)

Joe Martinelli

Umberto Caligaris

Herman Rapp

Eraldo Monzeglio

Bill Lehman

Armando Castellazzi

Tom Amrhein

Attilio Ferraris IV

Jimmy Gallagher

Mario Varglien I

Bill Fiedler

Pietro Arcari

Tom Lynch

Felice Borel II

 

Enrique Guaita

 

Attilio Demaría

 

 

GOLS:

18′ Angelo Schiavio (ITA)

20′ Raimundo Orsi (ITA)

29′ Angelo Schiavio (ITA)

57′ Aldo Donelli (EUA)

63′ Giovanni Ferrari (ITA)

64′ Angelo Schiavio (ITA)

69′ Raimundo Orsi (ITA)

90′ Giuseppe Meazza (ITA)

Algumas imagens da partida:

… 21/06/1970 – Brasil 4 x 1 Itália

Três pontos sobre…
… 21/06/1970 – Brasil 4 x 1 Itália


(Imagem: Paste Magazine)

Tostão, o centroavante, acompanha o avanço pela direita do volante italiano De Sisti desde a intermediária adversária até o campo brasileiro, onde toma a bola com a ajuda do lateral esquerdo Everaldo. Tostão entrega a bola a Piazza, na frente da grande área brasileira, dando início a uma rápida e contínua troca de passes entre Clodoaldo, Pelé e Gérson, até encontrar novamente Clodoaldo. Cercado, o volante brasileiro dribla quatro italianos e passa para Rivellino, na altura da linha do meio campo, pelo lado esquerdo. O camisa 11 faz lançamento longo ao ponta direita Jairzinho, que está aberto pelo lado esquerdo (trazendo consigo a marcação de Facchetti). O Furacão traz a bola pelo meio e toca para Pelé, próximo à meia lua. O Rei, caprichosamente e sem olhar, apelas rola suavemente no espaço vazio para Carlos Alberto Torres. A bola sobe ligeiramente e o Capita enche o pé, com um chute cruzado forte e de primeira, e a bola vai morrer no fundo do gol de Albertosi.

É o quarto gol brasileiro, o gol definitivo. Nesse instante, a “Rede Unidas de Televisão e Rádio” já colocavam a música “Pra frente Brasil” (“Noventa milhões em ação / pra frente Brasil / salve a Seleção…”) como música de fundo, deixando ainda mais marcante aquele momento.


(Imagem: Pinterest)

● Naquele domingo, estava em jogo não apenas o título mundial, mas também a posse definitiva da Taça Jules Rimet, já que tanto o Brasil quanto a Itália eram bicampeões da Copa do Mundo e o regulamento da Fifa dizia que quem vencesse por três vezes ficaria de vez com a Taça. Com um regulamento “sem noção”, caso Brasil e Itália empatassem no tempo normal e na prorrogação, o campeão seria decidido em sorteio. Felizmente isso não aconteceu.

Veja mais:
… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia
… 07/06/1970 – Brasil 1 x 0 Inglaterra
… 10/06/1970 – Brasil 3 x 2 Romênia
… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru
… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai
… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

A Itália estava invicta desde a conquista da Eurocopa em 1968. Por ter vencido a poderosa Alemanha Ocidental na semifinal (em um épico 4 x 3 na prorrogação), a confiança italiana era enorme, a ponto de o meia atacante Sandro Mazzola declarar antes da partida: “Podem preparar o champanhe”. Mas os jornalistas, técnicos e jogadores afirmavam que Inglaterra e Alemanha mereciam a vaga na final mais do que os italianos. Os críticos alegavam que a Itália chegou à decisão baseada em um estilo muito defensivo. A Squadra Azzurra estreou no torneio vencendo a Suécia por 1 a 0; depois, empatou sem gols com Uruguai e Israel. Nas quartas de final, despacharam os anfitriões mexicanos por 4 a 1. Na semifinal, protagonizou o “Jogo do Século“, vencendo a Alemanha, como já falamos.

O Brasil também tinha seus problemas, que foram se dissipando conforme avançava na competição. Pelé, no auge de sua forma física e técnica, liderou uma Seleção que chegou ao México com problemas de autoestima. Gérson era acusado pela torcida de não ter espírito competitivo. Tostão voltava de uma seríssima cirurgia no olho esquerdo, realizada em outubro do ano anterior nos Estados Unidos (ele teve deslocamento de retina causada por uma bola chutada pelo zagueiro Ditão, do Corinthians). O próprio técnico Zagallo era questionado por ter improvisado o volante Piazza na defesa e por escalar a equipe sem centroavante e ponta esquerda de ofício. Todos esses problemas foram relegados quando a Seleção chegou à decisão.

Os italianos eram bons, mas o Brasil era muito mais time. A torcida mexicana era praticamente toda para o Brasil.


O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.


A Itália atuava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços, tornando um 3-4-3.

● No início, a Itália assustou com um chute da intermediária, que Félix espalmou por cima. Logo depois, Carlos Alberto chutou cruzado para boa defesa de Albertosi.

Mas aos 18 minutos de partida, Tostão cobra lateral, Rivellino ergue a bola de primeira para a área e Pelé (1,72 m) subiu um palmo a mais que seu marcador, Tarcisio Burgnich (1,75 m) e testou forte para o chão, no canto esquerdo de Albertosi, inaugurando o marcador. Parecia que o Rei tinha parado no ar naquele momento. Foi o 100º gol brasileiro em Copas.

A partir do gol, a Seleção se soltou, mesmo com o lateral esquerdo Giacinto Facchetti grudado em marcação individual no ponta brasileiro Jairzinho, que era a principal opção de jogadas em velocidade. O Brasil continuou dominando o jogo, mas Itália não se abateu e seguiu com o mesmo padrão, apostando nos erros do adversário.

E uma única falha defensiva brasileira quase pôs tudo a perder. Ainda na etapa inicial, aos 37, Clodoaldo errou um passe de calcanhar para Everaldo na frente da área. Boninsegna interceptou, driblou Brito e Félix (que já tinha saído do gol todo estabanado e sem necessidade), e toca para o gol vazio, empatando a partida.

Aos 45 minutos, Pelé matou uma bola no peito e tocou no canto de Albertosi, mas o árbitro anulou o gol, alegando ter apitado o final do primeiro tempo antes da finalização do camisa 10.

No segundo tempo, o Brasil voltou com tudo, mostrando um futebol exuberante. Logo no início, Carlos Alberto vai à linha de fundo e rola para trás. Pelé, já sem goleiro, dá um carrinho e manda a bola para fora, de dentro da pequena área. Pouco depois, em uma falta em dois lances dentro da área, Gérson acertou a barreira. Do outro lado, Domenghini chutou uma bola na rede pelo lado de fora e a defesa brasileira sofria com a insegurança de Félix nas saídas do gol, em bolas aéreas.

Aos 21 minutos, o lance decisivo. Jairzinho tenta a jogada pelo meio e é desarmado por Facchetti, sua sombra. Gérson dominou, passou por um marcador e disparou de fora da área, no canto esquerdo. Foi seu único gol em Copas, mas fundamental para a caminhada rumo ao título.

O gol desnorteou os italianos, que quatro dias antes tiveram que passar por uma duríssima prorrogação na semifinal contra os alemães. O sol do meio dia também não ajudava. O gás acabou. O Brasil aproveitou o bom momento e passou a dominar as ações.

Três minutos depois, Pelé sofreu uma falta no meio campo, que rendeu dois minutos de discussão e empurra-empurra entre os jogadores. Gérson bateu a falta lançando para a área. Pelé (que já tinha saído de fininho da confusão) ajeitou de cabeça e Jarzinho tentou o domínio. Ele errou, mas seu desvio foi suficiente para tirar a marcação da jogada e empurrar a bola ao gol. Era o sétimo gol de Jair em seis jogos. Ele se tornou o primeiro e único jogador a marcar em todos os seis jogos de uma Copa e ver seu time campeão.

Uma Copa do Mundo recheada de grandes craques e ótimas seleções só poderia terminar com uma obra prima. A consagração definitiva de uma equipe singular veio aos 42 minutos do segundo tempo, no lance descrito no primeiro parágrafo, que contou com a participação de nove jogadores e terminou com uma pancada de Carlos Alberto no gol. Méritos do “espião” Aymoré Moreira, que assistiu a semifinal e orientou Zagallo para a marcação individual exercida pela Azzurra. Se Facchetti estava grudado em Jairzinho no meio, nenhum italiano estava na posição, abrindo espaços para as frequentes subidas ao ataque de Carlos Alberto, culminando com o quarto gol. Placar final: Brasil 4, Itália 1. Brasil, tricampeão do mundo!


Jairzinho, o “Furacão da Copa”, comemora seu gol (Imagem: Pinterest)

Ao fim da partida, a torcida invadiu o gramado e passou a festejar com os atletas. Não só isso: o povo queria um souvenir dos campeões. Levaram camisas, calções, meias e até chuteiras. Tostão ficou apenas de cueca. Rivellino desmaiou em campo e os fãs não desgrudaram dele nem durante o atendimento. Pelé foi carregado usando um sombrero. Até o zagueiro italiano Roberto Rosato, do Milan, correu alucinadamente atrás de uma lembrança. Ficou com a camisa 10 de Pelé.

Coube ao capitão Carlos Alberto Torres, o Capita, repetir o gesto de Bellini (em 1958) e Mauro (em 1962) de erguer a Taça Jules Rimet, que, com essa vitória e o terceiro título mundial, ficou de forma definitiva e eterna no Brasil (até ser roubada e derretida, mas essa é outra história).

Com esse título, Pelé se tornou o primeiro e (até hoje) único jogador tricampeão mundial.

Zagallo foi o primeiro a se sagrar campeão como jogador e treinador. Seria igualado pelo alemão Franz Beckenbauer, com títulos em 1974 (jogador) e 1990 (técnico).

Bom de “chute”, o Presidente da República, o general Emilio Garrastazu Médici deu um palpite certeiro: disse duas horas antes da final que o Brasil venceria a Itália por 4 a 1.

Curiosamente, os placares do primeiro e do último jogo da Seleção Brasileira foi o mesmo: 4 x 1 sobre Tchecoslováquia e Itália.

Com um desempenho irrepreensível, o Brasil venceu todas as suas seis partidas: Tchecoslováquia (4 x 1), Inglaterra (1 x 0), Romênia (3 x 2), Peru (4 x 2), Uruguai (3 x 1) e Itália (4 x 1). Sofreu sete gols e marcou 19. Desses 19, 14 gols foram marcados em contra-ataques. Era uma equipe evoluída, muito além do seu tempo. Tinha um estilo de século XXI em pleno século XX.

Era uma equipe com “cinco camisas 10“, pois toda a linha de frente chegou a usar essa camisa em seus respectivos clubes: Jairzinho no Botafogo, Gérson no São Paulo, Tostão no Cruzeiro, Pelé no Santos e Rivellino no Corinthians. Na seleção, a primazia coube ao Rei Pelé, claro. Mas na época da Copa, Tostão não era mais o 10 do Cruzeiro; ele usava a camisa 8, enquanto o 10 era (também genial) Dirceu Lopes.


(Imagem: Sportsnet)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 X 1 ITÁLIA

 

Data: 21/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 107.412

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Rudi Glöckner (Alemanha Oriental)

 

BRASIL (4-3-3):

ITÁLIA (4-3-3):

1  Félix (G)

1  Enrico Albertosi (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

2  Tarcisio Burgnich

2  Brito

5  Pierluigi Cera

3  Wilson Piazza

8  Roberto Rosato

16 Everaldo

3  Giacinto Facchetti (C)

5  Clodoaldo

10 Mario Bertini

8  Gérson

16 Giancarlo De Sisti

7  Jairzinho

15 Sandro Mazzola

9  Tostão

13 Angelo Domenghini

10 Pelé

20 Roberto Boninsegna

11 Rivellino

11 Luigi Riva

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Ferruccio Valcareggi

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Dino Zoff (G)

22 Leão (G)

17 Lido Vieri (G)

21 Zé Maria

4  Fabrizio Poletti

15 Fontana

6  Ugo Ferrante

14 Baldocchi

7  Comunardo Niccolai

17 Joel Camargo

9  Giorgio Puia

6  Marco Antônio

21 Giuseppe Furino

18 Paulo Cézar Caju

14 Gianni Rivera

13 Roberto

18 Antonio Juliano

20 Dadá Maravilha

22 Pierino Prati

19 Edu

19 Sergio Gori

 

GOLS:

18′ Pelé (BRA)

37′ Roberto Boninsegna (ITA)

66′ Gérson (BRA)

71′ Jairzinho (BRA)

86′ Carlos Alberto Torres (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

Rivellino (BRA)

Tarcisio Burgnich (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

75′ Mario Bertini (ITA) ↓

Antonio Juliano (ITA) ↑

 

84′ Roberto Boninsegna (ITA) ↓

Gianni Rivera (ITA) ↑

 Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 19/06/1938 – Itália 4 x 2 Hungria

Três pontos sobre…
… 19/06/1938 – Itália 4 x 2 Hungria


(Imagem: The Score)

● Um mês e meio antes da Copa, o jornal France Soir dizia que o Brasil era uma incógnita. E arriscou uma previsão certeira: a final seria entre Itália e Hungria, com amplo e maciço favoritismo dos italianos.

A Itália vinha bastante renovada e ainda melhor do que em 1934. Só dois jogadores permaneceram no time titular: o agora capitão Giuseppe Meazza e o atacante Giovanni Ferrari.

Parte da renovação comandada pelo técnico Vittorio Pozzo veio com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1936. A dupla de zaga, Foni e Rava era mais jovem e mais segura que a anterior (Allemandi e Monzeglio). Na posição de centromédio, o truculento Luisito Monti deu lugar a outro oriundi, o uruguaio Michele Andreolo, mais técnico e mais criativo. O ataque estava melhor e mais móvel com Silvio Piola, um centroavante de muita mobilidade, capaz de criar e concluir as jogadas.

Veja mais:
… 05/06/1938 – Itália 2 x 1 Noruega
… 16/06/1938 – Itália 2 x 1 Brasil

A Itália era a atual campeã do mundo e vinha de uma semifinal difícil contra o Brasil, na qual precisou demonstrar todo seu potencial. Antes, teve que passar pela Noruega (2 a 1) e pela anfitriã França (3 a 1). Já a Hungria, para chegar à final, tinha vencido as Índias Holandesas (atual Indonésia, 6 a 0), a Suíça (2 a 0) e a Suécia (5 a 1).

A Squadra Azzurra era a favorita contra a Hungria. Nos quatro anos anteriores, as duas seleções tinham se enfrentado quatro vezes, com três vitórias italianas e um empate.

Os italianos contavam com o mesmo “incentivador” de 1934: o ditador fascista Benito Mussolini. Mas como a Copa agora não era em seu território, o Duce não pôde pressionar FIFA e arbitragem como quatro anos antes. Assim, ele foi se despedir dos atletas antes do embarque para a França. Eis que na véspera da decisão o técnico Vittorio Pozzo recebeu um telegrama assinado pelo secretário-geral do Partido Fascista, Achille Starece, com uma ordem clara de Mussolini: “Vencer ou morrer”. Assim, a Squadra Azzurra não tinha escolha. Posteriormente, o goleiro húngaro Antal Szabó disse que não se importava de ter tomado quatro gols, pois sabia que tinha salvado vidas. Mas a ameaça do Duce nem era necessária, pois a Itália tinha a melhor seleção do mundo.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


A Hungria atuava como praticamente todas as equipes da época, no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● A Itália abriu o placar logo 6 minutos de partida. Após cruzamento alto da direita, a defesa húngara não cortou e o ponta Colaussi, que entrava livre pela esquerda, dominou e, sem deixar a bola cair, chutou de primeira no canto direito do goleiro Szabó.

Em seu primeiro ataque, a Hungria empatou apenas dois minutos depois. Sárosi ergue a bola pelo meio, Sas desviou de cabeça para trás e encontrou Titkos. No bico esquerdo da pequena área, ele mata no peito e bate alto, sem chances de defesa para Olivieri.

Apesar de ter conseguido a igualdade rapidamente, em momento algum os húngaros deram a impressão de que esperavam algo melhor que o vice-campeonato.

Aos 16 minutos, o gol mais bonito do jogo. A Itália trocou passes dentro da área adversária. Começou com Colaussi na esquerda, foi para Piola no meio, que tocou para Ferrari. Mesmo com o gol aberto à sua frente, Ferrari passou para Meazza, na direita. O capitão ainda driblou seu marcador e rolou para Piola, na marca do pênalti. O melhor jogador do torneio dominou e acertou o ângulo esquerdo.

A vantagem italiana aumentou aos 35 do primeiro tempo. Colaussi recebeu um lançamento de 30 metros feito por Meazza. O ponta ganhou na corrida de Polgár e entrou na área. O goleiro Szabó não saiu e Colaussi, quase da linha da pequena área, teve calma para finalizar no canto esquerdo.

A Hungria mostrava clara dificuldade em marcar o jogo mais veloz dos italianos, ficando muito exposta em sua própria área.

No segundo tempo, a Hungria ainda diminuiu. Aos 15 minutos, em um rápido contra-ataque, Titkos avança pela direita e rola a bola no bico da área. Sárosi apareceu de surpresa entre os zagueiros e chutou de primeira no canto esquerdo. Mas nem assim se mandou ao ataque, apesar de todo o apoio da torcida francesa.

A Itália continuou dominando facilmente o jogo, enquanto a Hungria só tentava se defender. A oito minutos do fim, Piola fechou o placar. Biavatti foi lançado pela direita, foi até a linha de fundo e cruzou para trás. Da marca do pênalti, Piola chegou antes da marcação e bateu prensado, mas a bola foi no cantinho direito de Szabó. Foi seu quinto gol no campeonato (dois a menos que o artilheiro Leônidas).

Daí em diante, os húngaros só ficaram esperando o tempo passar e o jogo acabar.


(Imagem: FIFA)

● Quando o árbitro francês Georges Capdeville apitou o fim da partida, a torcida vaiou o time campeão, em uma atitude jamais vista. As vaias só aumentaram quando o capitão Giuseppe Meazza fez a saudação fascista antes de depois de receber a Taça Jules Rimet das mãos do presidente francês, Albert Lebrun, nas tribunas de honra do estádio.

Assim, a Itália, merecidamente, se sagrou bicampeã da Copa do Mundo, feito que apenas o Brasil de 1958 e 1962 conseguiu repetir. O técnico Vittorio Pozzo ainda hoje é o mais vitorioso à frente da seleção, a qual comandou por 19 anos. Além das duas Copas, ele conquistou também a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936.

Na volta à “Velha Bota”, os campeões foram recebidos por Mussolini em Roma, no Palazzo Venezia, a sede do governo. Após abraços e saudações oficiais, cada um recebeu míseras 8.000 liras pela conquista do título (equivalente ao carro mais popular do país em 1938, um Fiat Topolino).

Como curiosidade, o autor do segundo gol da Hungria, o centroavante “Dr. György Sárosi” era um brilhante advogado em seu país. Na Copa de 1934 ele já tinha deixado de participar de um jogo de sua seleção devido ao seu trabalho num escritório de advocacia. Em 1938, às vésperas da Copa, ele estava diante de um caso importante, que poderia lhe render bom retorno profissional e financeiro e, por isso, comunicou à comissão técnica que não disputaria o torneio. Mas devido à sua importância para a equipe, toda a delegação o convenceu a mudar de ideia. Ele foi o capitão do time e um dos destaques da Copa, com cinco gols anotados em quatro jogos.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Giuseppe Meazza e György Sárosi (Imagem: The Score)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 4 x 2 HUNGRIA

 

Data: 19/06/1938

Horário: 17h00 locais

Estádio: Olímpico de Colombes

Público: 45.000

Cidade: Paris (França)

Árbitro: Georges Capdeville (França)

 

ITÁLIA (2-3-5):

HUNGRIA (2-3-5):

Aldo Olivieri (G)

Antal Szabó (G)

Alfredo Foni

Sándor Bíró

Pietro Rava

Gyula Polgár

Pietro Serantoni

Gyula Lázár

Michele Andreolo

György Szűcs

Ugo Locatelli

Antal Szalay

Amedeo Biavati

Pál Titkos

Giuseppe Meazza (C)

Gyula Zsengellér

Silvio Piola

György Sárosi (C)

Giovanni Ferrari

Jenő Vincze

Gino Colaussi

Ferenc Sas

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnicos: Károly Dietz / Alfréd Schaffer

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

József Háda (G)

Carlo Ceresoli (G)

József Pálinkás (G)

Eraldo Monzeglio

Lajos Korányi

Bruno Chizzo

János Dudás

Aldo Donati

István Balogh

Renato Olmi

József Turay

Mario Genta

Béla Sárosi

Mario Perazzolo

Mihály Bíró

Sergio Bertoni

László Cseh

Pietro Ferraris

Vilmos Kohut

Pietro Pasinati

Géza Toldi

 

GOLS:

6′ Gino Colaussi (ITA)

8′ Pál Titkos (HUN)

16′ Silvio Piola (ITA)

35′ Gino Colaussi (ITA)

70′ György Sárosi (HUN)

82′ Silvio Piola (ITA)

Lances da partida:

… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

Três pontos sobre…
… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

“O jogo do século”


(Imagem localizada no Google)

● As duas seleções chegavam às semifinais em situações opostas. Três dias antes, a Itália venceu com tranquilidade o México por 4 a 1. Em compensação, a Alemanha Ocidental sofria, ao precisar de uma dura prorrogação para passar pela Inglaterra por 3 a 2. Os alemães chegavam ainda cansados, com uma intensa fadiga muscular, impossível de ser recuperada em apenas três dias. Oito titulares contra os ingleses estavam entre os onze que enfrentariam os italianos.

Veja mais:
… 21/06/1970 – Brasil 4 x 1 Itália

… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra
… Gigi Riva: o “Estouro do Trovão”
… Gerd Müller: o maior bombardeiro alemão
… Uwe Seeler: o professor dos centroavantes alemães
… Berti Vogts: o homem-carrapato

Completa, com todos seus titulares e fisicamente bem, a Itália era a favorita.


Ambas as equipes jogavam com líberos, mas em estilos diferentes. Se na Itália o líbero Pierluigi Cera jogava atrás de linha de zaga, na Alemanha Franz Beckenbauer jogava à frente da defesa.

● Comprovando o favoritismo inicial, logo aos oito minutos de jogo, Boninsegna tabelou com Gigi Riva na intermediária e, mesmo marcado, acertou um belo chute da entrada da área, no canto direito de Maier, inaugurando o marcador.

Parecia ser o começo de uma vitória fácil, pois o jogo estava nãos mãos dos italianos. Mas aconteceu o que ninguém até hoje entendeu: ao invés de abusar da velocidade e do talento de Sandro Mazzola e tentar ampliar o placar, a Itália recuou progressivamente e passou a tocar a bola. No intervalo, o erro crasso: o técnico retranqueiro Ferruccio Valcareggi trocou Mazzola por Gianni Rivera, para cadenciar ainda mais o jogo.

Com um ritmo mais lento, a Alemanha sentia menos o cansaço. O técnico Helmut Schön era uma raposa e mandou seu time para cima. Substituiu o ponta esquerda Löhr por Libuda, um atacante mais incisivo; trocou também Patzke (um meia defensivo) por Held (outro atacante). Com isso, os alemães pressionavam e a Itália se defendia.

Até acontecer o lance mais marcante da partida. Aos 25 minutos do segundo tempo, Beckenbauer foi derrubado por Cera na entrada da área e, na queda, deslocou seu ombro direito. Como eram permitidas somente duas substituições na época, ou ele sairia e deixaria sua seleção com dez homens, ou ele imobilizaria o braço e ficaria em campo para inspirar seus companheiros. Com o braço pregado ao corpo com ataduras e esparadrapos, ele voltou ao gramado. Mesmo com os movimentos restritos, o “Kaiser” continuou liderando a equipe de dentro de campo. Foi um dos gestos mais heroicos de todas as Copas (que seria repetido por Gamarra 28 anos depois).


Beckenbauer foi atendido pela equipe médica e voltou a campo com uma tipoia (Imagens localizadas no Google)

A Alemanha Ocidental foi premiada pela luta. Aos 47 minutos do segundo tempo, quando o péssimo árbitro peruano Arturo Yamasaki já olhava para o relógio, Grabowski cruzou da esquerda e o zagueiro Schnellinger (que já estava no ataque, no “tudo ou nada”), livre de marcação, finalizou de carrinho, dentro da pequena área. Empate alemão. A curiosidade é que Schnellinger atuava no Milan.

Seriam outra prorrogação extenuante para os alemães. Em três dias, era o segundo clássico duríssimo que os alemães iriam tentar vencer após 90 minutos. Esgotados, seria a maior prova do limite físico daqueles atletas, que já estavam na história dos Mundiais.

● Esses 30 minutos podem e merecem ser contados como uma história à parte.


A Itália mantinha a equipe compacta, apostando no talento de Rivera, Riva e Boninsegna. Já a Alemanha, já toda desfigurada e sem contar com Beckenbauer em suas melhores condições, estava com praticamente cinco atacantes, apostando em um estilo mais direto.

Aí começou a maior prorrogação da história do futebol, o que fez esse jogo ser considerado o maior o século XX. Foram 30 minutos eletrizantes, intensos e cheios de reviravoltas, como só a alma alemã e o drama italiano podem proporcionar. Mesmo debaixo de um calor terrível, os atletas fizeram um esforço homérico, deliciando os 102.444 presentes no estádio Azteca.

Aos quatro minutos, Libuda cobrou escanteio e Grabowski cabeceou fraco. O zagueiro Poletti ficou com a bola e recuou errado com o peito para o goleiro Albertosi. Mas Gerd Müller aproveitou, apareceu entre os dois e tocou mansamente para o fundo do gol. Era a virada alemã.

Atrás no placar, a Itália foi toda para o ataque. Aos oito minutos, Rivera cobra uma falta, Held se atrapalha ao tentar afastar a bola e ela sobra limpa para o lateral Burgnich encher o pé. 2 a 2. Os jornalistas italianos, críticos, diziam que essa foi a primeira investida ofensiva da carreira de Burgnich.

Aos 13, Domenghini avança pela esquerda e lança Riva. Ele demonstra toda sua qualidade ao driblar Schulz na entrada da área e acertar um chute bem no cantinho esquerdo do goleiro Sepp Maier. Nova virada, 3 a 2.

Aos 5 do segundo tempo, Overath cobra escanteio curto para Libuda, que ergue para a área. Uwe Seeler escora pelo alto e Gerd Müller, na pequena área, desvia de cabeça para o gol, empatando novamente. 3 a 3.

Era impossível prever o que viria. Não se sabia de onde os alemães tiravam forças para reagir. Mas… era a Alemanha!

Mas apenas um minuto depois, Facchetti lança Boninsegna na esquerda. Ele passa na corrida por Schulz e cruza para o meio da área. Rivera, livre, chutou rasteiro no contrapé de Sepp Maier. 4 a 3 para a Itália.

Mesmo lutando como sempre, os alemães não conseguiram chegar a um novo empate. Já havia feito mais do que todos esperavam. Caíram de pé e receberam os aplausos do mundo.

Quando o árbitro apitou pela última vez, todos sabiam que tinham assistido a um épico, à maior partida de todas as Copas e (talvez) a melhor da história do futebol.


Cera e Müller disputam a bola (Imagem localizada no Google)

● Se algum dia alguém perguntar o que é futebol, a melhor resposta seria um VT com os 30 minutos finais dessa semifinal. É a resposta mais fidedigna do que é futebol.

Todos estavam tão fascinados, que 23 presos fugiram de uma cadeia na cidade mexicana de Tixtla, perto de Acapulco, porque todos os guardas estavam assistindo à partida em um bar próximo.

Depois de 240 minutos disputados em três dias, a Alemanha mandou um time misto para decidir o 3º lugar contra o Uruguai, vencendo por 1 a 0. Esse mesmo time base se sagraria campeão da Copa de 1974, jogando em casa, como contamos aqui.


Os capitães Facchetti e Uwe Seeler se cumprimentam antes da partida (Imagem localizada no Google)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 4 x 3 ALEMANHA OCIDENTAL

 

Data: 17/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 102.444

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Arturo Yamasaki (Peru)

 

ITÁLIA (4-2-4):

ALEMANHA OCIDENTAL (4-2-4):

1  Enrico Albertosi (G)

1  Sepp Maier (G)

2  Tarcisio Burgnich

7  Berti Vogts

5  Pierluigi Cera

5  Willi Schulz

8  Roberto Rosato

3  Karl-Heinz Schnellinger

3  Giacinto Facchetti (C)

15 Bernd Patzke

10 Mario Bertini

4  Franz Beckenbauer

16 Giancarlo De Sisti

12 Wolfgang Overath

15 Sandro Mazzola

17 Hannes Löhr

13 Angelo Domenghini

9  Uwe Seeler (C)

20 Roberto Boninsegna

13 Gerd Müller

11 Luigi Riva

20 Jürgen Grabowski

 

Técnico: Ferruccio Valcareggi

Técnico: Helmut Schön

 

SUPLENTES:

 

 

12 Dino Zoff (G)

21 Manfred Manglitz (G)

17 Lido Vieri (G)

22 Horst Wolter (G)

4  Fabrizio Poletti

11 Klaus Fichtel

6  Ugo Ferrante

6  Wolfgang Weber

7  Comunardo Niccolai

2  Horst-Dieter Höttges

9  Giorgio Puia

18 Klaus-Dieter Sieloff

21 Giuseppe Furino

16 Max Lorenz

14 Gianni Rivera

19 Peter Dietrich

18 Antonio Juliano

8  Helmut Haller

22 Pierino Prati

10 Sigfried Held

19 Sergio Gori

14 Stan Libuda

 

GOLS:

8′ Roberto Boninsegna (ITA)

90′ Karl-Heinz Schnellinger (ALE)

94′ Gerd Müller (ALE)

98′ Tarcisio Burgnich (ITA)

104′ Luigi Riva (ITA)

110′ Gerd Müller (ALE)

111′ Gianni Rivera (ITA)

 

CARTÕES AMARELOS:

Wolfgang Overath (ALE)

Roberto Rosato (ITA)

Gerd Müller (ALE)

Angelo Domenghini (ITA)

Giancarlo De Sisti (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO’ Sandro Mazzola (ITA) ↓

Gianni Rivera (ITA) ↑

 

52′ Hannes Löhr (ALE) ↓

Stan Libuda (ALE) ↑

 

66′ Bernd Patzke (ALE) ↓

Sigfried Held (ALE) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO Roberto Rosato (ITA) ↓

Fabrizio Poletti (ITA) ↑

Melhores momentos da partida, com narração em português:

Todos os gols do jogo:

Partida completa: