Arquivo da tag: Copa 1998

… 07/07/1998 – Brasil 1 x 1 Holanda

Três pontos sobre…
… 07/07/1998 – Brasil 1 x 1 Holanda

(Imagem: Paul Popper / Popperfoto / Getty Images)

● Mesmo com os problemas internos já citados, a Seleção Brasileira continuava entrando em campo de mãos dadas, tentando reviver o espírito vencedor de 1994.

Pelo Grupo A, o Brasil venceu a Escócia por 2 x 1 no jogo de abertura do Mundial. Depois, venceu o Marrocos por 3 x 0 e perdeu para a Noruega de virada por 2 x 1, sofrendo os gols nos últimos minutos. Na sequência, venceu o Chile de Salas e Zamorano por 4 x 1 nas oitavas de final. Nas quartas, venceu por 3 x 2 o ótimo time da Dinamarca, do goleiro Peter Schmeichel e dos irmãos Laudrup.

A Holanda era a cabeça de chave no Grupo E. Na primeira fase, empatou por 0 x 0 com a vizinha Bélgica, goleou a Coreia do Sul por 5 x 0 e empatou por 2 x 2 com o bom time do México. Nas oitavas de final, venceu por 2 x 1 com um gol de Edgar Davids no apagar das luzes. Nas quartas, contou com um gol fenomenal de Dennis Bergkamp no último lance da partida para eliminar a ótima seleção argentina pelo placar de 2 x 1.

Para a semifinal diante do Brasil, Arthur Numan estava suspenso por ter sido expulso diante da Argentina. Seu substituto imediato, Winston Bogarde, sofreu uma fratura no tornozelo em um treino no dia 05 de julho. André Ooijer, terceira opção, também estava machucado. E ao invés de escalar Giovanni van Bronckhorst na posição, o técnico Guus Hiddink preferiu improvisar Phillip Cocu como lateral esquerdo e colocar Boudewijn Zenden como titular na ponta, aproveitando a ausência de Cafu.

O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo. Zé Carlos substituiu Cafu, suspenso.

Sem a bola, a Holanda se fechava no 4-4-2. Com a bola, Zendem avançava e se tornava um 4-3-3.

● Cerca de 54 mil pessoas lotaram o estádio Vélodrome de Marselha para ver duas das seleções mais técnicas da Copa do Mundo.

O primeiro tempo foi de muito respeito de ambas as partes. A Holanda tentava controlar o jogo com a posse de bola, mas o Brasil assustava mais nas poucas vezes em que chegava ao ataque.

Ronaldo estava em noite inspirada e ameaçou por várias vezes o gol de Edwin Van der Sar. Em seu primeiro lance, ele arrancou e foi travado por Jaap Stam na hora do chute.

A Oranje respondeu. Ronald de Boer chutou de fora da área e a bola passou assustando Taffarel, que mandou para escanteio. Wim Jonk cobrou o córner e Phillip Cocu cabeceou para fora com perigo.

Cocu abriu com Zenden na esquerda. O camisa 12 cruzou e Kluivert cabeceou perto do gol, mas a bola foi por cima.

De novo Zenden cruzou da esquerda com perigo, mas Bergkamp não alcançou a bola.

A Seleção Brasileira passava seus sustos quando o arisco Zenden partia para cima de Zé Carlos. Com quase 30 anos, o lateral direito do São Paulo FC fazia sua segunda partida pela Seleção Brasileira. A primeira havia sido o empate por 1 x 1 em um amistoso não-oficial contra o Athletic Bilbao dez dias antes da Copa. Ficou cinquenta dias animando a imprensa e a delegação brasileira fazendo imitações de animais e outros sons. Um ano antes do Mundial, disputava a Série A2 do Campeonato Paulista pela Matonense. E naquele 07 de julho, teve a incumbência de substituir Cafu, que estava suspenso por ter levado o segundo cartão amarelo. Zé Carlos não conseguiu imitar bem um lateral direito e era o “mapa da mina” para os rápidos ataques holandeses.

Wim Jonk lançou nas costas da defesa, Kluivert cruzou e Bergkamp novamente passou da bola, que foi alta demais. Roberto Carlos apenas recuou com o peito para Taffarel.

Novamente Wim Jonk cruzou para a área, Kluivert ganhou de Júnior Baiano pelo alto e cabeceou por cima.

Patrick Kluivert se movimentou constantemente entre os zagueiros e deu trabalho à defesa brasileira.

E os primeiros 45 minutos terminaram sem gols.

(Imagem: Fritz The Flood)

● No primeiro minuto do segundo tempo, Aldair abriu na esquerda para Roberto Carlos, que deixou com Rivaldo no meio. Genial, o camisa 10 viu a infiltração de Ronaldo pela diagonal e fez um lançamento perfeito para o Fenômeno se desvencilhar da marcação implacável de Frank de Boer, ganhar na velocidade de Cocu (seu ex-companheiro de PSV) e tocar de esquerda entre as pernas de Van der Sar.

Em desvantagem no marcador, a Holanda precisou ser mais incisiva no ataque e começou a apostar ainda mais nas jogadas de bola aérea.

Aos 7′, Kluivert desviou uma cobrança de escanteio para o meio e Bergkamp finalizou à queima-roupa, mas Taffarel fez uma defesa sensacional.

O Brasil reagiu e Ronaldo chutou da direita para a defesa de Van der Sar.

Kluivert tabelou com Bergkamp na entrada da área e chutou forte, mas Taffarel segurou sem dar rebote.

Aos 27′, Rivaldo recebeu de Denílson e lançou Ronaldo, que partiu em velocidade de trás da linha de impedimento holandesa. Já dentro da área, na hora de chutar, o camisa 9 brasileiro foi travado por Edgar Davids na hora H, em uma arrancada impressionante do holandês. A bola ainda saiu pela linha de fundo, quase beliscando a trave.

Denílson pedalou para cima de Aron Winter e cruzou para a área. Rivaldo cai e, mesmo caído, tentou chutar, mas Van der Sar abafou e ficou com a bola. O Brasil perdia chances de matar a partida, mas seria duramente castigado.

Aos 34′, Kluivert tabelou com Pierre van Hooijdonk, mas chutou por cima do gol. A defesa brasileira dava calafrios em qualquer um.

A três minutos do fim, Ronald de Boer cruzou com precisão da direita. Kluivert subiu entre Aldair e Júnior Baiano (que ficaram parados) e cabeceou para baixo, sem dar a mínima chance de defesa a Taffarel.

O gol fez justiça ao placar pelo que os dois times haviam criado, especialmente no segundo tempo.

O lance mais reclamado pelos holandeses até hoje aconteceu nos acréscimos. Van Hooijdonk recebeu um cruzamento da direita e caiu na área após disputa com Júnior Baiano, mas o árbitro Ali Bujsaim, dos Emirados Árabes Unidos, não viu o suposto pênalti.

(Imagem: New York Times)

● E foi só no tempo extra que começou um dos maiores jogos dos últimos tempos. Diferente das grandes prorrogações da história das Copas, esta tinha “morte súbita” ou “gol de ouro”, ou seja, o jogo terminaria assim que houvesse um gol, sem chance de recuperação para o adversário. E nos 30 minutos que se seguiram, o que se viu foi um jogo aberto e eletrizante, não recomendável para cardíacos.

Ronaldo estava inspirado e em grande fase, conseguindo dar suas perigosas arrancadas. Roberto Carlos passou a avançar quase como um ponta pela esquerda e Dunga coordenou as ações no meio de campo.

Aos três minutos, Roberto Carlos recebeu de Denílson na esquerda e cruzou da linha de fundo. Van der Sar espalmou para cima e Ronaldo tentou uma bicicleta, mas Frank de Boer tirou em cima da linha.

No minuto seguinte, Ronaldo driblou Frank de Boer e chutou de fora da área para uma boa defesa de Van der Sar.

Aos 6′, Van Hooijdonk bateu uma falta com efeito (uma das suas especialidades), mas Taffarel fez a defesa em dois tempos.

Aos doze, Kluivert recebeu nas costas de Zé Carlos, invadiu a área e chutou cruzado, mas a bola tocou de leve na trave e foi para fora.

No início da etapa final do tempo extra, Ronaldo deu mais uma de suas arrancadas características, ganhou na velocidade de Frank de Boer e deu um toque entre as pernas de Stam, mas o capitão holandês se recuperou e travou o brasileiro para evitar o gol.

Após o apito final, as duas equipes receberam os merecidos aplausos dos extasiados torcedores.

Certamente foi a melhor prorrogação que a Seleção Brasileira já jogou. Em 30 minutos, fez tudo que não havia feito nos 90 anteriores. Criou pelo menos oito chances claras de gol, contra uma única dos holandeses.

(Imagem: Rede Globo)

● Mas o gol decisivo não saiu e a vaga foi decidida nos pênaltis.

Ronaldo foi o primeiro a cobrar e bateu alta, no canto direito de Van der Sar. Brasil, 1 a 0.

Frank de Boer bateu firme, à meia altura, no canto direito de Taffarel. Empate em 1 a 1.

Rivaldo deslocou o arqueiro holandês e bateu no canto esquerdo: 2 a 1 Brasil.

Bergkamp bateu no cantinho esquerdo de Taffarel, que se esticou todo, mas não conseguiu chegar na bola: 2 a 2.

Emerson tinha entrado no lugar de Leonardo aos 40′ do segundo tempo. Como Leonardo era um dos cobradores oficiais, Zagallo estranhamente manteve seu substituto entre os batedores, ao invés de escolher outro jogador mais experiente. Mas Emerson bateu bem, no canto direito alto e converteu. Brasil 3, Holanda 2.

Cocu bateu à meia altura no canto esquerdo e Taffarel pulou certo para pegar. Permanecia 3 a 2.

Dunga bateu no canto direito e Van der Sar quase pegou, mas a bola foi para o gol: 4 a 2.

Ronald de Boer bateu no cantinho direito, mas… “Sai que é sua, Taffarel!” O goleiro brasileiro voou e pegou mais um.

Placar final: Brasil 4 x 2 Holanda.

(Imagem: CBF)

● Taffarel sofreu muito com as críticas após o tetra, bastante contestado por suas atuações pelo Clube Atlético Mineiro. Mas ele tinha a confiança do técnico Zagallo. E provou que deveria sempre ter tido a do povo brasileiro. Ele acertou o canto dos quatro pênaltis e só não defendeu o de dois craques: Frank de Boer e Dennis Bergkamp.

“Essa decisão por pênaltis foi ótima para o Taffarel. Ele já tinha sido muito criticado.” ― Zagallo

“Hoje ganhamos a batalha, mas a guerra não está vencida.” ― Taffarel

O Brasil havia superado seu trauma na decisão por pênaltis após o a conquista do título da Copa do Mundo de 1994. Por sua vez, a Holanda só se livraria desse trauma seis anos mais tarde, na Eurocopa de 2004, quando superou a Suécia e pela primeira vez venceu uma decisão por penalidades. Antes, já haviam sido derrotados pela Dinamarca na Euro de 1992, pela França na Euro de 1996 e pela Itália na Euro de 2000.

Na decisão do 3º lugar, a Holanda não teve ânimo algum e perdeu para a Croácia de Davor Šuker por 2 x 1.

O Brasil estava na final pela segunda Copa do Mundo consecutiva. E também pela segunda vez seguida, eliminava a Holanda.

Na decisão, a Seleção Brasileira enfrentou a França e perdeu por 3 x 0, em partida que ficou marcada pela convulsão de Ronaldo horas antes da partida e os dois gols de cabeça de Zinedine Zidane. Emmanuel Petit completou o placar.

(Imagem: Alexandre Battibugli / Placar / Dedoc)

FICHA TÉCNICA:

BRASIL 1 X 1 HOLANDA

Data: 07/07/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Stade Vélodrome (atual Orange Vélodrome)

Público: 54.000

Cidade: Marselha (França)

Árbitro: Ali Bujsaim (Emirados Árabes Unidos)

BRASIL (4-4-2):

HOLANDA (4-4-2):

1 Taffarel (G)

1 Edwin van der Sar (G)

13 Zé Carlos

2 Michael Reiziger

4 Júnior Baiano

3 Jaap Stam

3 Aldair

4 Frank de Boer (C)

6 Roberto Carlos

11 Phillip Cocu

5 César Sampaio

6 Wim Jonk

8 Dunga (C)

16 Edgar Davids

18 Leonardo

7 Ronald de Boer

10 Rivaldo

12 Boudewijn Zenden

20 Bebeto

8 Dennis Bergkamp

9 Ronaldo

9 Patrick Kluivert

Técnico: Zagallo

Técnico: Guus Hiddink

12 Carlos Germano (G)

18 Ed de Goey (G)

22 Dida (G)

22 Ruud Hesp (G)

2 Cafu

13 André Ooijer

14 Gonçalves

15 Winston Bogarde

15 André Cruz

5 Arthur Numan

16 Zé Roberto

19 Giovanni van Bronckhorst

17 Doriva

20 Aron Winter

11 Emerson

10 Clarence Seedorf

7 Giovanni

14 Marc Overmars

19 Denílson

17 Pierre van Hooijdonk

21 Edmundo

21 Jimmy Floyd Hasselbaink

GOLS:

46′ Ronaldo (BRA)

87′ Patrick Kluivert (HOL)

CARTÕES AMARELOS:

31′ Zé Carlos (BRA)

45′ César Sampaio (BRA)

48′ Michael Reiziger (HOL)

60′ Edgar Davids (HOL)

90′ Pierre van Hooijdonk (HOL)

119′ Clarence Seedorf (HOL)

SUBSTITUIÇÕES:

56′ Michael Reiziger (HOL) ↓

Aron Winter (HOL) ↑

70′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

75′ Boudewijn Zenden (HOL) ↓

Pierre van Hooijdonk (HOL) ↑

85′ Leonardo (BRA) ↓

Emerson (BRA) ↑

111′ Wim Jonk (HOL) ↓

Clarence Seedorf (HOL) ↑

DECISÃO POR PÊNALTIS:

BRASIL 4

HOLANDA 2

Ronaldo (gol, no ângulo direito)

Frank de Boer (gol, à meia altura, à direita)

Rivaldo (gol, no canto esquerdo)

Dennis Bergkamp (gol, no canto esquerdo)

Emerson (gol, no alto do gol, à direita)

Phillip Cocu (perdeu, à esquerda, defendido por Taffarel)

Dunga (gol, no ângulo direito)

Ronald de Boer (perdeu, à direita, defendido por Taffarel)

Melhores momentos (Rede Globo):

Melhores momentos (FIFA.com):

… 04/07/1998 – Holanda 2 x 1 Argentina

Três pontos sobre…
… 04/07/1998 – Holanda 2 x 1 Argentina


(Imagem: UOL)

● O técnico Daniel Passarella sonhava em repetir o feito de Zagallo e Franz Beckenbauer, que conquistaram a Copa do Mundo como jogador e treinador. Ele havia sido o capitão da seleção campeã em 1978 e também compunha o elenco de 1986. Mas Passarella era muito cabeça dura. Ele baixou um estranho decreto para a equipe: quem tivesse o cabelo comprido não seria convocado para a Copa. Segundo ele, um jogador com cabelo curto passa a mão na cabeça seis vezes por jogo, enquanto um cabeludo faz a mesma coisa de 60 a 90 vezes. A maioria se dobrou à vontade de Passarella, como Ariel Ortega e Gabriel Batistuta. Mas os craques Fernando Redondo e Claudio Caniggia se rebelaram, permaneceram cabeludos e viram o Mundial pela TV. Caniggia se lesionou pouco antes da Copa, mas o genial Redondo ficou de fora por opção do treinador.

Passarella gostava de armar seu time com três zagueiros. A frente do goleiro Carlos Roa, ficavam Roberto Sensini mais pela direita, José Chamot mais pela esquerda e Roberto Ayala na sobra. Javier Zanetti fazia a ala direita. Torto, o capitão Diego Simeone fazia a ala esquerda, caindo pelo meio em muitas vezes. Essa função limitava Simeone a uma faixa do campo, mas o liberava para aparecer mais no ataque, o que fazia muito bem. Matías Almeyda era o responsável pela proteção no meio de campo. A criatividade estava a cargo de Juan Sebastián Verón. Ariel Ortega era o meia-atacante que pendia para a direita. Claudio López era o atacante de lado que caía para a esquerda. Todos jogando em função de um dos atacantes mais prolíficos da década: Gabriel Batistuta. No banco, Marcelo Gallardo era da mesma posição de Ortega e Hernán Crespo fazia a função de Batistuta. Não a toa, nenhum técnico seleção albiceleste colocou Crespo e Batistuta para jogarem juntos.

Na primeira fase, pelo Grupo H, a Argentina suou para vencer o Japão por 1 x 0, na estreia dos nipônicos em Copas do Mundo. Depois, goleou a Jamaica por 5 x 0 e assegurou a liderança ao vencer a Croácia por 1 x 0. Nas oitavas de final, fez o “Clássico das Malvinas” com a Inglaterra e venceu nos pênaltis por 4 x 3, após empate por 2 x 2 com a bola rolando.


(Imagem: Michael Steele / Empics / Getty Images)

● A Holanda era a cabeça de chave no Grupo E. Na primeira fase, empatou por 0 x 0 com a vizinha Bélgica, goleou a Coreia do Sul por 5 x 0 e empatou por 2 x 0 com o bom time do México. Nas oitavas de final, venceu por 2 x 1 com um gol de Edgar Davids no apagar das luzes.

A Oranje não tinha mais a geração de Ronald Koeman, Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco van Basten, mas havia craques em todas as posições do campo. E o clima interno era bom – bem diferente da Eurocopa de 1996, quando surgiram sérios problemas racistas, que culminaram na dispensa de Davids da delegação.

Treinada por Guus Hiddink, a Holanda era uma equipe muito ofensiva. O goleiro era o excepcional Edwin van der Sar. Os laterais Michael Reiziger e Arthur Numan marcavam e apoiavam com eficiência. Jaap Stam era forte na marcação e tinha bom tempo de bola. O capitão Frank de Boer tinha mais técnica, ótimo posicionamento e era um líder em campo. Wim Jonk era um volante que batia muito bem na bola e sabia jogar. Edgar Davids era seu parceiro no meio e sempre se apresentava à frente – talvez tenha sido o melhor jogador do Mundial de 1998. Ronald de Boer era o meia pela direita, ótimo nos passes e perfeito cruzamentos. Phillip Cocu era o meia pela esquerda, também muito técnico e de boa chegada ao ataque. No ataque, Dennis Bergkamp era a própria excelência, com lances geniais e gols incríveis. Patrick Kluivert era pura explosão em todos os sentidos. No banco, ótimos nomes como o meia Clarence Seedorf e os pontas Marc Overmars e Boudewijn Zenden.

Explosão essa que fez Kluivert ficar suspenso de três partidas, após ter sido expulso na estreia por agredir Lorenzo Staelens no empate sem gols com a Bélgica.


A Holanda jogava no 4-4-2, com muita aproximação dos homens de meio campo.


A Argentina jogava no 3-5-2, com liberdade para Verón armar o jogo e aproximação de Ortega ao ataque.

● A partida foi um espetáculo assistido por 55 mil expectadores no estádio Vélodrome, em Marselha. Os noventa minutos foram tensos e de ótimos momentos do início ao fim.

Logo no início, a Holanda já adiantou a marcação, pressionando e roubando bolas no campo adversário e começando os contragolpes mais a frente do normal. Logo aos seis minutos, Wim Jonk chutou uma bola na trave.

Aos 12 minutos de jogo, Ronald de Boer fez uma boa jogada na direita e lançou na entrada. Genial, Bergkamp escorou de cabeça para o meio da área. Kluivert apareceu entre os zagueiros e tocou a saída do goleiro Roa. Foi o primeiro gol de Kluivert no Mundial.

Cinco minutos depois, a Holanda errou na linha de impedimento, Verón lançou nas costas da defesa e Claudio López apareceu livre. Os holandeses ficaram parados pedindo um impedimento inexistente (Reiziger deu condições). Enquanto isso, Piojo López escapou e ficou cara a cara com Van der Sar e teve tranquilidade para tocar entre as pernas do goleiro. (Nunca vi um goleiro tomar tanto gol entre as pernas como Van der Sar. Provavelmente é por causa do tamanho delas…) Na comemoração de seu primeiro gol na Copa, López exibiu uma camiseta com a mensagem de feliz aniversário para seu pai.

As duas equipes tiveram boas chances para tirar a igualdade do placar. Ortega e Batistuta foram parados pela trave. A cabeçada de Kluivert parou em uma ótima defesa de Roa.

A partida se equilibrou. A Holanda tentava tabelas e jogadas individuais. A Argentina recuava a apostava nos contragolpes.

Davids deu uma arrancada ao seu estilo desde o meio campo, entrou na área e quase fez um golaço. Pouco tempo depois, seu chute de longe parou na defesa de Roa.


(Imagem: Pinterest)

Aos 31′ do segundo tempo, Davids fez falta em Verón e, com o jogo já parado, Numan deixou a sola em Simeone, que saiu rolando e valorizando a jogada. O árbitro Arturo Brizio Carter corretamente aplicou o segundo cartão amarelo e expulsou o lateral esquerdo holandês.

Os argentinos se lançaram à frente e começaram a ter mais espaço.

Dez minutos depois, Ortega tentou cavar um pênalti e atrasou a passada, deixando a perna para ser tocada por Stam. O juiz mexicano não caiu na dele e lhe deu amarelo. Van der Sar foi reclamar da cena com o argentino e levou uma cabeçada do descontrolado e imaturo camisa 10, que foi expulso pelo árbitro pela agressão.

A igualdade numérica fez a Holanda ressurgir e o golaço decisivo saiu no último minuto do tempo regulamentar.

Do lado esquerdo de sua intermediária defensiva, o lançamento de Frank de Boer foi preciso e percorreu 40 metros em dois segundos. Quase na pequena área, Dennis Bergkamp dominou com a ponta da chuteira, deu um toque entre as pernas de Ayala e finalizou com o lado externo do pé, no ângulo do goleiro Roa.


(Imagem: AFP / Getty Images / Daily Mail)

● Um dos gols mais lindos da história das Copas e um dos mais lindos e marcantes que eu já vi. Não precisam me narrar esse gol. Ele sempre está fresco na memória.

Uma das maiores curiosidades sobre o genial Dennis Bergkamp é o medo de voar de avião. Enquanto a delegação da Holanda voava de cidade em cidade nos jogos da Copa, ele seguia de carro com um membro da comissão técnica.

A Holanda eliminava a Argentina e se vingava pela derrota na final da Copa de 1978.

Das quatro seleções semifinalistas, três nunca haviam ganhado a Copa do Mundo (França, Croácia e Holanda – apenas o Brasil já tinha conquistado o título).

Com a vitória sobre a Argentina, a Holanda se garantia novamente entre os quatro primeiros após vinte anos. Na semifinal, enfrentaria o Brasil. Contaremos essa história no dia 07/07.


(Imagem: AP / Daily Mail)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 2 X 1 ARGENTINA

 

Data: 04/07/1998

Horário: 16h30 locais

Estádio: Stade Vélodrome (atual Orange Vélodrome)

Público: 55.000

Cidade: Marselha (França)

Árbitro: Arturo Brizio Carter (México)

 

HOLANDA (4-4-2):

ARGENTINA (3-5-2):

1  Edwin van der Sar (G)

1  Carlos Roa (G)

2  Michael Reiziger

6  Roberto Sensini

3  Jaap Stam

2  Roberto Ayala

4  Frank de Boer (C)

3  José Chamot

5  Arthur Numan

22 Javier Zanetti

6  Wim Jonk

5  Matías Almeyda

16 Edgar Davids

8  Diego Simeone (C)

7  Ronald de Boer

11 Juan Sebastián Verón

11 Phillip Cocu

10 Ariel Ortega

8  Dennis Bergkamp

7  Claudio López

9  Patrick Kluivert

9  Gabriel Batistuta

 

Técnico: Guus Hiddink

Técnico: Daniel Passarella

 

 

 

 

18 Ed de Goey (G)

12 Germán Burgos (G)

22 Ruud Hesp (G)

17 Pablo Cavallero (G)

13 André Ooijer

14 Nelson Vivas

15 Winston Bogarde

13 Pablo Paz

19 Giovanni van Bronckhorst

4  Mauricio Pineda

20 Aron Winter

15 Leonardo Astrada

10 Clarence Seedorf

16 Sergio Berti

12 Boudewijn Zenden

20 Marcelo Gallardo

14 Marc Overmars

21 Marcelo Delgado

17 Pierre van Hooijdonk

18 Abel Balbo

21 Jimmy Floyd Hasselbaink

19 Hernán Crespo

 

GOLS:

12′ Patrick Kluivert (HOL)

17′ Claudio López (ARG)

90′ Dennis Bergkamp (HOL)

 

CARTÕES AMARELOS:

10′ Jaap Stam (HOL)

17′ Arthur Numan (HOL)

22′ José Chamot (ARG)

60′ Roberto Sensini (ARG)

86′ Ariel Ortega (ARG)

 

CARTÕES VERMELHOS:

76′ Arthur Numan (HOL)

87′ Ariel Ortega (ARG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

64′ Ronald de Boer (HOL) ↓

Marc Overmars (HOL) ↑

 

68′ Matías Almeyda (ARG) ↓

Mauricio Pineda (ARG) ↑

 

89′ José Chamot (ARG) ↓

Abel Balbo (ARG) ↑


(Imagem: Veja)

Gol decisivo de Bergkamp, narrado em holandês por Jack van Gelder – uma das narrações mais enlouquecidas de todos os tempos:

Gols da partida (em português), narrados pelo inesquecível Luciano do Valle:

Gols da partida (em inglês, do canal FIFATV):

… 28/06/1998 – França 1 x 0 Paraguai

Três pontos sobre…
… 28/06/1998 – França 1 x 0 Paraguai


(Imagem: Thomas Kienzle / AP Photo)

● O estádio Félix-Bollaert tinha capacidade para 41 mil pessoas e a cidade onde é situado, Lens, tem apenas 35 mil habitantes. É a menor cidade a receber um jogo de Copa do Mundo. Nessa partida das oitavas de final, recebeu 31.800 expectadores.

Dona da casa, a França foi a líder do Grupo C com 100% de aproveitamento. Venceu a África do Sul por 3 x 0, a Arábia Saudita por 4 x 0 e a Dinamarca por 2 x 1.

O Paraguai teve mais trabalho para se classificar no segundo lugar do Grupo D. Empatou sem gols com a Bulgária e com a Espanha. Na terceira rodada, venceu a Nigéria por 3 x 1 – os nigerianos já estavam garantidos como primeiros do grupo e jogaram com um time reserva.

Na semana da partida pelas oitavas de final, o maior jornal esportivo francês, L’Équipe, perguntou com certo menosprezo: “Onde fica o Paraguai?”

O excelente goleiro José Luis Chilavert liderava o forte sistema defensivo paraguaio, que tinha os bons zagueiros Celso Ayala e Pedro Sarabia, além do excepcional Carlos Gamarra. Na ala direita, Francisco Arce se destacava pelos cruzamentos e bolas paradas. Na esquerda, Jorge Luis Campos era um meia adaptado à função de ala, que apoiava mais que Arce. Como volantes, Julio César Enciso e Carlos Paredes faziam a proteção. O argentino naturalizado Roberto Acuña fazia a ligação com o ataque. O baixinho Miguel Ángel Benítez era mais arisco e veloz, enquanto José Cardozo era o homem de área.


(Imagem: UOL)

● Na França, Zidane estava ausente, cumprindo o segundo jogo de suspensão por ter sido expulso ao pisar propositalmente em Mohammed Al-Khilaiwi, na vitória sobre a Arábia Saudita.

Bernard Diomède foi o substituto de Zizou, mas com funções diferentes. Youri Djorkaeff foi o armador central, com Henry fazendo o lado direito e Diomède pela esquerda. O ponta do AJ Auxerre tinha estrado pela seleção naquele mesmo ano. Era muito impetuoso e tinha pouca técnica, mas seria importante para prender Chiqui Arce e evitar as subidas do ótimo lateral paraguaio.

Sem Zidane, Djorkaeff seria a luz de criatividade no time, dando objetividade e velocidade quando necessário. Os laterais Thuram e Lizarazu pouco apoiariam. A jovem dupla de ataque David Trezeguet e Thierry Henry não funcionaria.


A França jogou em um misto de 4-4-2 e 4-2-3-1. Aimé Jacquet escalou Les Bleus com Djorkaeff armando por dentro, Henry fazendo o lado direito e Diomède pela esquerda, com Trezeguet como centroavante.


Com a bola, o Paraguai jogava no 3-5-2. Sem a bola, se fechava no 5-3-2 e, por vezes, até no 5-4-1 com o recuo de Benítez.

● A primeira chance foi francesa. Youri Djorkaeff bateu com perigo à esquerda do gol.

Pouco depois, Djorkaeff tocou para Emmanuel Petit, que rolou no meio para Diomède chutar, mas ele bateu mascado e mandou para fora.

O Paraguai teve sua melhor chance em um passe longo de Toro Acuña para Cardozo emendar o chute, mas Fabien Barthez defendeu bem.

Paredes tentou cruzar da esquerda e a bola quase encobriu o goleiro francês.

Chiqui Arce também tentou um cruzamento da intermediária direita e a bola chegou a assustar o carequinha Barthez, que agarrou firme antes que ela tomasse o caminho de seu ângulo direito.


(Imagem: Pinterest)

Um novo lançamento de Acuña colocou Miguel Ángel Benítez para correr. Ele avançou e foi travado por Marcel Desailly na hora do chute. Benítez ainda pegou a sobra e tocou para Cardozo no meio, mas ele não conseguiu dominar e Lizarazu tirou o perigo.

Diomède chutou de direita da entrada da área. A bola bateu na defesa paraguaia, que não conseguiu afastar e Trezeguet finalizou com perigo à esquerda de Chilavert.

Novamente Diomède arriscou de esquerda da entrada da área e Chilavert se esticou todo para espalmar para escanteio.

Lizarazu interceptou uma bola na defesa e lançou para Thierry Henry partir em velocidade de seu próprio campo. Sarabia tentou cortar e chutou para cima. E Henry ganhou na velocidade de Ayala e Gamarra e tocou na saída de Chilavert. Caprichosa, a bola bateu na trave e não entrou.

Djorkaeff passou por Enciso e chutou. A bola desviou em Gamarra e passou perto do travessão.

Djorkaeff bateu escanteio e Desailly subiu mais que todo mundo para cabecear, mas Chilavert segurou firme sem dar rebote.

Robert Pirès tocou na área para Stéphane Guivarc’h fazer o pivô. Trezeguet deixou Gamarra no chão e bateu de esquerda, rente à trave direita do Paraguai.

A França reclamou pênalti de Gamarra em Djorkaeff, mas o árbitro Ali Bujsaim viu como lance normal (e foi).


(Imagem: Pinterest)

No final da partida, Gamarra sofreu uma lesão na clavícula, foi atendido fora de campo e voltou para o jogo com o braço em uma tipoia, lembrando o grande Franz Beckenbauer na semifinal da Copa do Mundo de 1970.

Ao fim do tempo normal, Chilavert beijou a medalhinha que carregava o tempo todo e deixava atrás da trave esquerda.

Já na prorrogação, Djorkaeff bateu falta, a bola desviou na barreira e Chilavert fez um milagre, mandando para escanteio com a ponta dos dedos.

A seleção paraguaia não se intimidou com a torcida contra e catimbou o quanto pôde. Se fechou na defesa e ganhou tempo sempre que possível. Chilavert ganhou cartão amarelo por retardar um tiro de meta ainda no começo do jogo. Arce recebeu a mesma advertência por parar uma cobrança de escanteio para amarrar as chuteiras.

O técnico Carpegiani já estava escalando seus cobradores de pênaltis. A seleção guarani apostava que se classificaria nas penalidades. Além de excelentes cobradores, tinha um grande goleiro, experiente nesse tipo de decisão. Mas…

A seis minutos do fim, bola na área da defesa paraguaia e Ayala escorou de cabeça. Pirès pegou o rebote pelo lado direito, entrou na grande área e centrou para a marca do pênalti. O heroico Gamarra não teve forças para subir e Trezeguet foi perfeito ao escorar para o bico direito da pequena área para Laurent Blanc fuzilar Chilavert. O goleiro tentou fechar o ângulo e ainda tocou na bola. Mas ela entrou. Era o primeiro gol de ouro da história dos Mundiais.

Ao término da partida, Chilavert, um líder nato, ainda tentou consolar e animar seus companheiros. O Paraguai caiu de pé e lembrou ao mundo onde fica.


(Imagem: Yahoo)

● As duas seleções tiveram as melhores defesas da Copa, sofrendo apenas dois gols. Porém, ambas sofriam com seus ataques. Na França, os jovens Thierry Henry e David Trezeguet não rendiam como esperado. No Paraguai, Miguel Ángel Benítez e José Cardozo tinham ainda menos poder de fogo que os gauleses. Então, nada mais marcante do que um zagueiro – Laurent Blanc – marcar o gol do jogo.

Essa foi a primeira partida da história das Copas do Mundo decidida na “morte súbita”. Também chamado de “gol de ouro”, era uma novidade daquela edição do Mundial. Se um jogo de mata-mata terminasse empatado, vencia a equipe que fizesse o primeiro gol na prorrogação.

“O Carpegiani não me deixou sair de campo. Disse que precisava de mim.” ― Carlos Gamarra

“Antes da prorrogação, o Gamarra me disse que estava mal [do ombro] e eu podia trocá-lo pelo [Catalino] Rivarola, que era um zagueiro experiente e bom no jogo aéreo. Só que eu precisava fazer outra troca tática no ataque. Disse que a responsabilidade era toda minha da permanência dele. No dia seguinte, quando fez a radiografia, vimos que tinha dois centímetros de desvio da clavícula. E foi em cima dele que perdemos o jogo, porque a bola veio na cabeça do Trezeguet e ele não subiu junto… Tínhamos grandes possibilidades de fazer o crime naquele jogo. Só que paguei esse preço alto porque a jogada do gol foi em cima do Gamarra, que estava machucado. Estivesse em campo o Rivarola, ótimo no jogo aéreo, quem sabe até onde poderíamos ter chegado…” ― Paulo César Carpegiani

José Luis Chilavert e Carlos Gamarra foram escolhidos para a seleção do Mundial. Eles não se bicavam, mas se uniram para fazerem parte de um dos mais memoráveis sistemas defensivos da história das Copas. Em 384 minutos disputados de quatro partidas na Copa de 1998, Gamarra fez inúmeros desarmes não cometeu nenhuma falta sequer.

Na sequência, a França empatou sem gols com a Itália e venceu por 4 x 3 nos pênaltis, na volta de Zidane. Nas semifinais, Thuram foi o herói ao marcar duas vezes contra a Croácia na vitória de virada por 2 x 1. Na decisão, a França jogou melhor e venceu o Brasil por 3 x 0 e conquistou seu primeiro título da Copa do Mundo de Futebol.


(Imagem: Lance!)

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 1 X 0 PARAGUAI

 

Data: 28/06/1998

Horário: 16h30 locais

Estádio: Stade Félix-Bollaert (atual Stade Bollaert-Delelis)

Público: 31.800

Cidade: Lens (França)

Árbitro: Ali Bujsaim (Emirados Árabes Unidos)

 

FRANÇA (4-2-3-1):

PARAGUAI (3-5-2):

16 Fabien Barthez (G)

1  José Luis Chilavert (G)(C)

15 Lilian Thuram

5  Celso Ayala

5  Laurent Blanc

4  Carlos Gamarra

8  Marcel Desailly

11 Pedro Sarabia

3  Bixente Lizarazu

2  Francisco Arce

7  Didier Deschamps (C)

16 Julio César Enciso

17 Emmanuel Petit

13 Carlos Paredes

13 Bernard Diomède

10 Roberto Acuña

6  Youri Djorkaeff

21 Jorge Luis Campos

20 David Trezeguet

15 Miguel Ángel Benítez

12 Thierry Henry

9  José Cardozo

 

Técnico: Aimé Jacquet

Técnico: Paulo César Carpegiani

 

SUPLENTES:

 

 

1  Bernard Lama (G)

12 Danilo Aceval (G)

22 Lionel Charbonnier (G)

22 Rubén Ruiz Díaz (G)

18 Frank Leboeuf

3  Catalino Rivarola

2  Vincent Candela

14 Ricardo Rojas

19 Christian Karembeu

20 Denis Caniza

14 Alain Boghossian

6  Edgar Aguilera

4  Patrick Vieira

19 Carlos Morales

11 Robert Pirès

8  Arístides Rojas

10 Zinedine Zidane

18 César Ramírez

21 Christophe Dugarry

7  Julio César Yegros

9  Stéphane Guivarc’h

17 Hugo Brizuela

 

GOL: 114′ Laurent Blanc (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

19′ José Luis Chilavert (PAR)

23′ Miguel Ángel Benítez (PAR)

32′ Julio César Enciso (PAR)

84′ Francisco Arce (PAR)

99′ Arístides Rojas (PAR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

55′ Jorge Luis Campos (PAR) ↓

Julio César Yegros (PAR) ↑

 

64′ Thierry Henry (FRA) ↓

Robert Pirès (FRA) ↑

 

69′ Emmanuel Petit (FRA) ↓

Alain Boghossian (FRA) ↑

 

75′ Carlos Paredes (PAR) ↓

Denis Caniza (PAR) ↑

 

76′ Bernard Diomède (FRA) ↓

Stéphane Guivarc’h (FRA) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO José Cardozo (PAR) ↓

Arístides Rojas (PAR) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia

Três pontos sobre…
… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia


(Imagem: BBC)

● A Seleção Brasileira vinha de uma sequência inédita de títulos: Copa do Mundo de 1994, Copa América de 1997 (primeira conquista do torneio fora do território nacional) e Copa das Confederações de 1997. Qualquer pessoa que acompanhasse o futebol se encantava com os torpedos de Roberto Carlos, o fôlego interminável de Cafu, a liderança de Dunga, os dribles de Denílson, o poder decisivo de Rivaldo e o encanto da dupla de ataque: Romário e Ronaldo.

Com apenas 21 anos, Ronaldo jogava na Internazionale de Milão e vivia seu auge físico e técnico. Tinha sido eleito o melhor jogador do mundo nos dois anos anteriores. Era chamado na Itália de “Il Fenomeno”.

Por tudo isso, havia uma certeza inquebrantável: era só esperar o dia 12 de julho e ouvir Galvão Bueno gritar pelo penta.

Mas, como sabemos, não seria bem assim.


(Imagem: BBC)

● O maior adversário da Seleção Brasileira no jogo de abertura da Copa do Mundo de 1998 não foi a Escócia: foram os problemas internos. O Château de Grande Romaine, nos arredores de Paris, onde a delegação ficou concentrada, era uma bomba atômica pronta para explodir.

Como na maioria das vezes, a Seleção Brasileira viajou para a Copa do Mundo de 1998 com diversas questões a serem resolvidas. Nos quinze dias que antecederam a partida, treinou pouco e mal. A discórdia foi semeada no plantel e teve problemas médicos com diagnósticos tardios e equivocados. O técnico Zagallo insistiu em variações táticas que não aproveitaram o melhor de seus craques.

Zagallo queria o time com um meio campo em losango, com Dunga mais recuado, César Sampaio ajudando e fechar os espaços e avançando pela direita, e Rivaldo fazendo esse espelho pela esquerda. Sampaio sofria para atacar e Rivaldo para defender. O time até voltou ao 4-4-2 em quadrado, com dois volantes e dos meias armadores. Mas o técnico ainda insistia com o seu famoso “número 1” (veja mais abaixo).


(Imagem: AP)

● Na tentativa de minimizar esses problemas internos, Zico foi contratado para ser o coordenador técnico, uma espécie de elo entre a CBF, a comissão técnica e os jogadores. O Galinho de Quintino usou toda sua experiência e coerência para impor suas ideias e tentar dar o sentido de união necessário para a disputa de um Mundial.

O pior dos obstáculos foi o corte de Romário. A oito dias antes da estreia na Copa, Zico foi o responsável por informar a Romário que ele estava sendo cortado da Seleção. Zico era favorável a manter uma seleção sem jogadores lesionados, com todos inteiros e à disposição. Ele teve o apoio de Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, e ganhou a queda de braço com Zagallo e o Dr. Lídio Toledo. O treinador e o médico queriam manter o Baixinho no grupo. Clinicamente, o craque estaria apto para jogar as fases de mata-mata. Ele garantia que conseguiria suportar as dores na panturrilha e culpou Zico pela sua dispensa. O atacante Romário foi substituído pelo meio campista Emerson.


(Imagem: BBC)

E sem Romário, o caminho da titularidade estava aberto para Edmundo. O Animal estava na grande fase de sua carreira e foi discutivelmente um dos melhores jogadores do mundo no ano anterior, quando “comeu a bola” e levou o Vasco da Gama ao título do Campeonato Brasileiro. Mas Zagallo preferia apostar na experiência de Bebeto, mesmo em uma fase não tão prolífica. Edmundo não suportou a ideia de treinar com o colete dos reservas e, no primeiro coletivo, quase rachou a perna de Júnior Baiano. Após o amistoso com o Athletic Bilbao, bateu boca no vestiário com Ronaldo e com Leonardo. A turma do “deixa-disso” entrou em ação, mas um zagueiro resumiu o pensamento da maioria do elenco: “Não deviam ter trazido esse cara”. A discussão ganhou as páginas dos jornais. Cinco dias antes do jogo, Edmundo deu uma entrevista por telefone na qual afirmou que estava melhor fisicamente e tecnicamente do que Bebeto. Zico entrou na questão e fez o atacante se retratar com todo o grupo.

Além da ausência de Romário, as lesões obrigaram a outras modificações no elenco original. Juninho Paulista nem chegou a estar na lista final por não estar em plena forma física após se recuperar de contusão. André Cruz foi convocado para a vaga de Márcio Santos. O lateral direito Zé Carlos substituiu Flávio Conceição, que seria um coringa como volante e lateral.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Giovanni era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.


A Escócia jogou no 3-4-3. Sem a bola, Dailly fechava como lateral esquerdo e Jackson fazia o quarto homem de meio campo, em um falso 4-4-2.

● Foi no meio desse turbilhão que o Brasil estreou na Copa. Oitenta mil pessoas lotaram o novíssimo Stade de France, em Saint-Denis, e viram os jogadores brasileiros entrarem em campo de mãos dadas, tentando emular 1994. O time de 1998 tinha mais talento que o do tetra, mas não tinha conjunto. O espírito era outro.

A Escócia não tinha nenhum jogador fora de série, como chegou a ter antigamente, com Denis Law e Kenny Dalglish. Mas possuía muita força física e um meio campo até criativo para os padrões do país.

O jogo mal tinha começado e, logo aos cinco minutos, Bebeto cobrou escanteio na primeira trave. César Sampaio se antecipou à marcação do desdentado Craig Burley e cabeceou meio de têmpora, meio de pescoço, meio de ombro… mas mandou a bola para o gol.

As estreias são naturalmente tensas e difíceis, mas o gol deixou o time brasileiro relaxado. Durante a partida, por varias vezes Ronaldo chamou o capitão escocês Colin Hendry para dançar. Mas Hendry era duro demais e ruim de dança.

Mas a técnica refinada dos brasileiros não conseguia disfarçar os problemas táticos. Giovanni era um grande jogador, mas não se adaptou à função do “número 1” de Zagallo. Os laterais Cafu e Roberto Carlos avançavam muito e os volantes Dunga e César Sampaio, já trintões, não tinham o fôlego o suficiente e demoravam na cobertura.

E em uma dessas falhas na cobertura, Sampaio derrubou Kevin Gallacher na área. Aos 38′, John Collins cobrou pênalti de pé esquerdo e mandou no cantinho direito, sem chance alguma de defesa para Taffarel – que até acertou o canto.

O empate não estava nos planos de Zagallo. Vendo a ineficácia de Giovanni, o técnico aceitou rever seus conceitos e fez o que não tinha costume, mudando tudo no intervalo.


(Imagem: Pinterest)

Aqui cabe um parêntese. Quando Zagallo reassumiu a Seleção Brasileira, após a conquista do tetra, anunciou uma “grande revolução tática de sua autoria” (sic), o sistema 4-3-1-2. Esse jogador chamado por ele de “número 1” não era um meia comum, nem um volante ou atacante, nem o ponta de lança das antigas e muito menos o ponta tradicional. Ele seria um “elo de ligação entre meio campo e ataque”, capaz de ajudar na marcação, na transição ofensiva, aparecer em todos os lugares do campo para trocar passes, servir o ataque e atacar. Nas palavras do técnico, esse jogador seria o “elo de ligação entre o meio campo e o ataque”. Foram testados na “posição”: Djalminha, Leonardo, Amoroso, Denílson, Zinho e Rivaldo. Por motivos diferentes, nenhum passou no teste. O que chegou mais próximo foi Juninho Paulista, que não se recuperou de lesão. Giovanni foi o dono da posição nos primeiros 45 minutos do Mundial. Mas o “número 1” era pura teoria e não sobreviveu à prancheta de Zagallo. No segundo tempo, o treinador trocou Giovanni por Leonardo e o sistema 4-3-1-2 pelo tradicional 4-4-2. Nessa formação, o Brasil atacava menos. Mas o “Velho Lobo” tinha certo apreço por Leonardo, que possuía a mesma disciplina tática de Zagallo quando jogador.

Mas não houve chances para a zebra e o gol da vitória veio aos 28 minutos da etapa complementar. Dunga lançou Cafu nas costas da defesa. Ele entrou na pequena área e tentou encobrir Leighton, mas a bola explodiu no peito do goleiro, que fechou bem o ângulo. O zagueiro Tom Boyd vinha na corrida, a bola bateu em seu peito e tomou o caminho do gol. Um gol contra claro. Mas que teve comemoração efusiva de Cafu, com direito a cambalhota.

As estatísticas históricas contam um início de Copa com o pé direito. Mas o que não está escrito um lugar algum é o quanto os fatores externos afetaram o rendimento do time em campo. Um gol contra da Escócia salvou os três pontos.


(Imagem: The Scottish Sun)

● Essa partida marcou a vitória de número 50 da Seleção Brasileira na história das Copas do Mundo.

O Brasil se tornou a primeira seleção a marcar mais de um gol na primeira partida da Copa desde 1966, quando o “jogo de abertura” foi instituído oficialmente.

Na segunda rodada, a Escócia empatou com a Noruega por 1 x 1. Na última rodada, os escoceses se classificariam se vencesse o Marrocos e a Noruega não vencesse o Brasil. Aconteceu tudo ao contrário. Os nórdicos venceram. E os escoceses foram goleados pelos marroquinos por 3 x 0. Com oito participações no currículo (1954, 1958, 1974, 1978, 1982, 1986, 1990 e 1998), a Escócia nunca passou de fase em uma Copa do Mundo.

Na sequência, o Brasil venceu o Marrocos por 3 x 0. Já classificado em primeiro lugar na chave, perdeu para a Noruega – sua asa negra – por 2 x 1, levando dois gols nos últimos sete minutos. Nas oitavas de final, venceu o Chile de Zamorano e Salas por 4 x 1. Nas quartas, suou para passar pela Dinamarca (3 x 2), que tinha goleado a ardilosa Nigéria. Nas semifinais, um jogo histórico contra a Holanda (1 x 1), com vitória nos pênaltis (4 x 3) graças a Taffarel. Na final, perdeu para a França por 3 x 0, com dois gols de Zidane e um de Petit.


(Imagem: By Jeff J. Mitchell / Reuters / IFDB)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 X 1 ESCÓCIA

 

Data: 10/06/1998

Horário: 17h30 locais

Estádio: Stade de France

Público: 80.000

Cidade: Saint-Denis (França)

Árbitro: José María García-Aranda (Espanha)

 

BRASIL (4-3-1-2):

ESCÓCIA (3-4-3):

1  Taffarel (G)

1  Jim Leighton (G)

2  Cafu

4  Colin Calderwood

4  Júnior Baiano

5  Colin Hendry (C)

3  Aldair

3  Tom Boyd

6 Roberto Carlos

14 Paul Lambert

5  César Sampaio

8  Craig Burley

8  Dunga (C)

22 Christian Dailly

7  Giovanni

11 John Collins

10 Rivaldo

10 Darren Jackson

20 Bebeto

7  Kevin Gallacher

9  Ronaldo

9  Gordon Durie

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Craig Brown

 

SUPLENTES:

 

 

12 Carlos Germano (G)

12 Neil Sullivan (G)

22 Dida (G)

21 Jonathan Gould (G)

13 Zé Carlos

2  Jackie McNamara

14 Gonçalves

6  Tosh McKinlay

15 André Cruz

16 David Weir

16 Zé Roberto

18 Matt Elliott

17 Doriva

19 Derek Whyte

11 Emerson

15 Scot Gemmill

18 Leonardo

17 Billy McKinlay

19 Denílson

13 Simon Donnelly

21 Edmundo

20 Scott Booth

 

GOLS:

5′ César Sampaio (BRA)

38′ John Collins (ESC) (pen)

74′ Tom Boyd (BRA) (gol contra)

 

CARTÕES AMARELOS:

25′ Darren Jackson (ESC)

37′ César Sampaio (BRA)

45+2′ Aldair (BRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Giovanni (BRA) ↓

Leonardo (BRA) ↑

 

72′ Bebeto (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

78′ Darren Jackson (ESC) ↓

Billy McKinlay (ESC) ↑

 

84′ Christian Dailly (ESC) ↓

Tosh McKinlay (ESC) ↑

(Imagem: EPA – Daily Mail)

Melhores momentos da partida:

Veja o primeiro tempo e o segundo tempo completos, com transmissão da Rede Globo, nos respectivos links:
1º tempo: https://www.dailymotion.com/video/x5viwgf
2º tempo: https://www.dailymotion.com/video/x5w1jqh


(Imagem: Pinterest)

… 11/06/1998 – Itália 2 x 2 Chile

Três pontos sobre…
… 11/06/1998 – Itália 2 x 2 Chile


Marcelo Salas ganha no alto de Fabio Cannavaro e vira o jogo para o Chile (Imagem: Pinterest)

● Na Copa do Mundo de 1998, uma das maiores ameaças às potências consagradas era o Chile. Subestimado pela mídia estrangeira, o país se vangloriava de sua dupla de ataque: Iván “Bam-Bam” Zamorano e Marcelo Salas, “El Matador”. Salas estava em uma fase esplendorosa e tinha acabado de ser vendido pelo River Plate (Argentina) à Lazio (Itália) por US$ 20 milhões.

O Chile voltava a disputar um Mundial depois de 16 anos. Em 1986, parou nas eliminatórias ao perder nas últimas partidas para o Paraguai. Em 1990, foi punido pela FIFA por um episódio no qual o goleiro sãopaulino Roberto Rojas cortou seu próprio rosto e fingiu ter sido atingido por um sinalizador no jogo contra o Brasil. Por isso, a FIFA suspendeu o Chile também das eliminatórias de 1994. Em 1998, a vaga veio com muito sufoco, apenas no critério de saldo de gols, após um empate em número de pontos com o arqui-inimigo Peru.

A Itália vinha do vice-campeonato na Copa do Mundo de 1994, quando perdeu nos pênaltis para o Brasil por 3 x 2, após o empate por 0 x 0 no tempo normal e na prorrogação.

Para sua estreia em 1998, o técnico italiano Cesare Maldini (pai de Paolo Maldini) não contava com Alessandro Del Piero, craque da Juventus, lesionado. Roberto Baggio, veterano de duas Copas, foi convocado de última hora para levar seu talento e sua criatividade à Squadra Azzurra. O camisa 18 seria titular e o grande nome dessa partida inaugural.


Cesare Maldini escalou sua Itáliano sistema 4-4-2, com duas linhas de 4. Roberto Baggio tinha liberdade para desfilar seu talento no ataque.


Nelson Acosta armou seu time no 3-5-2. Fabián Estay era quem criava as jogadas para a dupla Salas e Zamorano.

● Quase 32 mil pessoas foram ao Parc Lescure para ver o confronto entre Itália e Chile, que se enfrentavam na abertura do Grupo B, em Bordeaux.

A Itália abriu o placar aos 10 minutos de jogo. Paolo Maldini, de seu próprio campo, lança a bola para a intermediária chilena. Com um só toque, Roberto Baggio deixa Christian Vieri livre, na cara do gol. O atacante da Lazio bate de primeira, rasteiro, no canto direito do goleiro Nelson Tapia. Foi uma finalização perfeita, assim como a assistência de Baggio.

A Squadra Azzurra passava sufoco diante do Chile. Os atacantes Salas (1,73 m) e Zamorano (1,78 m), mesmo mais baixos que a zaga italiana, ganhavam quase todas as bolas pelo alto. E foi dessa forma que o Chile viraria o marcador.

No último minuto do primeiro tempo, Fabián Estay cobra escanteio e Zamorano tenta de cabeça. A bola bate em Reyes e sobra para Salas, que balança as redes.

Logo no início da etapa final, aos 4′, Fuentes ergue a bola na área. Salas ganha no alto de Cannavaro e cabeceia no canto direito de Pagliuca.

Mas a seleção chilena acabou castigada pela falta de experiência e cedeu o empate.

A cinco minutos do fim, Roberto Baggio rouba a bola pela direita, perto da linha da grande área, e a chuta de forma proposital na mão de Francisco Rojas, que estava dentro da área. O árbitro nigerino Lucien Bouchardeau marcou pênalti.

O próprio Baggio partiu para a cobrança. Ele resolveu encarar de frente suas amargas lembranças que o assombravam desde o erro no pênalti decisivo na final da Copa do Mundo de 1994. Ele ignora as provocações dos chilenos e converte com serenidade budista, exorcizando seus demônios. Ele bateu forte, no canto direito. Tapia foi na bola, mas ela entrou.

O empate por 2 x 2 premiou os esforços das duas equipes e, principalmente, a torcida, que viu um grande espetáculo.


Roberto Baggio não estava mais em seu auge, seu talento ainda era imprescindível para a Azzurra (Imagem: Popperfoto / Getty Images)

● O Chile não vencia uma partida em Copas do Mundo desde 1962, quando sediou o torneio e terminou em 3º lugar. E esse tabu não seria quebrado em 1998, quando empatou os três jogos da primeira fase: Itália (2 x 2), Áustria (1 x 1) e Camarões (1 x 1). Nas oitavas de final, perdeu para o Brasil por 4 a 1, com dois gols de Ronaldo e dois de César Sampaio, com Salas descontando para o Chile.

Mesmo com a queda precoce, Marcelo Salas foi um dos destaques do torneio, marcando quatro gols.

A Itália, após empatar com o Chile (2 x 2), venceu Camarões (3 x 0) e Áustria (2 x 1). Nas oitavas, passou pela Noruega com uma vitória por 1 a 0. Nas quartas, amargou a terceira eliminação seguida nos pênaltis ao perder para a França por 4 a 3, depois de um empate sem gols no tempo regulamentar e na prorrogação. A Azzurra já havia sido eliminada dessa forma em 1990, na semifinal contra a Argentina, e em 1994, na decisão contra o Brasil.


A dupla “Sa-Za” era mesmo infernal para as defesas adversárias (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 2 CHILE

 

Data: 11/06/1998

Horário: 17h30 locais

Estádio: Parc Lescure (atual Stade Chaban-Delmas)

Público: 31.800

Cidade: Bordeaux (França)

Árbitro: Lucien Bouchardeau (Níger)

 

ITÁLIA (4-4-2):

CHILE (3-5-2):

12 Gianluca Pagliuca (G)

1  Nelson Tapia (G)

5  Alessandro Costacurta

6  Pedro Reyes

6  Alessandro Nesta

3  Ronald Fuentes

4  Fabio Cannavaro

5  Javier Margas

3  Paolo Maldini (C)

15 Moisés Villarroel

15 Angelo Di Livio

4  Francisco Rojas

9  Demetrio Albertini

8  Clarence Acuña

11 Dino Baggio

7  Nelson Parraguez

16 Roberto Di Matteo

20 Fabián Estay

18 Roberto Baggio

11 Marcelo Salas

21 Christian Vieri

9  Iván Zamorano (C)

 

Técnico: Cesare Maldini

Técnico: Nelson Acosta

 

SUPLENTES:

 

 

1  Francesco Toldo (G)

12 Marcelo Ramírez (G)

22 Gianluigi Buffon (G)

22 Carlos Tejas (G)

2  Giuseppe Bergomi

2  Cristián Castañeda

8  Moreno Torricelli

8 Luis Musrri

7  Gianluca Pessotto

16 Mauricio Aros

13 Sandro Cois

14 Miguel Ramírez

14 Luigi Di Biagio

19 Fernando Cornejo

17 Francesco Moriero

17 Marcelo Veja

10 Alessandro Del Piero

10 José Luis Sierra

20 Enrico Chiesa

21 Rodrigo Barrera

19 Filippo Inzaghi

13 Manuel Neira

 

GOLS:

11′ Christian Vieri (ITA)

45+3′ Marcelo Salas (CHI)

48′ Marcelo Salas (CHI)

84′ Roberto Baggio (ITA) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

8′ Angelo Di Livio (ITA)

31′ Fabio Cannavaro (ITA)

45′ Nelson Parraguez (CHI)

53′ Clarence Acuña (CHI)

66′ Francisco Rojas (CHI)

 

SUBSTITUIÇÕES:

57′ Roberto Di Matteo (ITA) ↓

Luigi Di Biagio (ITA) ↑

 

61′ Angelo Di Livio (ITA) ↓

Enrico Chiesa (ITA) ↑

 

63′ Javier Margas (CHI) ↓

Miguel Ramírez (CHI) ↑

 

71′ Christian Vieri (ITA) ↓

Filippo Inzaghi (ITA) ↑

 

81′ Fabián Estay (CHI) ↓

José Luis Sierra (CHI) ↑

 

82′ Clarence Acuña (CHI) ↓

Fernando Cornejo (CHI) ↑

Gols da partida (em inglês):

Gols da partida (Rede Globo):

… 12/07/1998 – França 3 x 0 Brasil

Três pontos sobre…
… 12/07/1998 – França 3 x 0 Brasil

Allez Le Bleus!”


Zinedine Zidane desfilou em campo. (Imagem: Globo Esporte)

● Era a final dos sonhos: França e Brasil. Considerados favoritos desde o início, era a primeira decisão entre o país sede e o então campeão mundial. Era a primeira decisão dos franceses e a quinta dos brasileiros. Até então, a melhor classificação da França em uma Copa do Mundo tinha sido o 3º lugar em 1958 e 1986 (eles não disputavam um Mundial desde então). Mesmo anfitriã, “Les Bleus” não eram favoritos diante do Brasil, que defendia o título e tinha uma camisa pesada, com quatro títulos mundiais.

A França mostrava a sinergia de um grupo heterogêneo ao cantar emocionadamente o hino nacional, a linda “Marselhesa“, repetida por 80 mil pessoas no Stade de France, em Saint-Denis. Ainda houve tempo para o zagueiro Laurent Blanc dar o tradicional beijo na careca de Barthez, como tinha feito antes de cada jogo. Blanc estava suspenso. Em seu lugar, entrou o (também) ótimo Frank Leboeuf.

Na escalação, uma surpresa: Edmundo jogaria na vaga de Ronaldo. Mas na entrada em campo, o “Fenômeno” estava lá no lugar do “Animal”. Haviam rumores de que Ronaldo tinha sofrido um mal-estar à tarde (leia sobre isso mais abaixo). Cafu, suspenso na semifinal contra a Holanda, estava de volta ao time.

VEJA MAIS:
… 07/07/1998 – Brasil 1 x 1 Holanda
… 08/07/1998 – França 2 x 1 Croácia
… 28/06/1998 – França 1 x 0 Paraguai
… 27/06/1998 – Brasil 4 x 1 Chile
… 10/06/1998 – Brasil 2 x 1 Escócia

Mesmo com as críticas da torcida e da imprensa, o técnico francês Aimé Jacquet demonstrava total confiança em seu próprio trabalho e deu um “nó tático” no ultrapassado Zagallo. Um ano antes do Mundial aconteceu o Torneio da França, uma competição amistosa que reunia brasileiros, franceses, italianos e ingleses. Aquele mesmo torneio em que Roberto Carlos fez um gol de falta contra a França, em que a bola fez uma curva incrível, em um empate por 1 a 1. Naqueles dias, o esperto treinador francês tomou nota de tudo que viu em campo. Mas, principalmente uma sobre a Seleção Brasileira: era preciso impedir os avanços pelas laterais; se os laterais não jogassem, o time também não jogava. Assim, a estratégia estava bem definida: Karembeu foi escalado para marcar Rivaldo, mas fechava para ajudar Thuram a cercar Roberto Carlos. Da mesma forma era do outro lado: Petit marcava Leonardo, mas auxiliava Lizarazu a barrar Cafu. Foi uma marcação que não deu a mínima chance ao ataque brasileiro.


A França jogou no sistema 4-5-1, fechando os espaços do Brasil e apostando no contra-ataque.


O Brasil apostava no talento dos jogadores de frente e nos apoios dos laterais. Jogava no 4-3-1-2. Rivaldo era o “número 1”, fazendo a ligação entre meio e ataque, no sistema de Zagallo.

● Logo aos 28 segundos, o péssimo atacante francês Stéphane Guivarc’h quase fez um gol de puxeta, na primeira das inúmeras falhas do zagueiro Júnior Baiano nessa final.

A primeira jogada do ataque canarinho foi aos 21 minutos, quando Ronaldo (mesmo com todos os problemas) cruzou fechado para o gol. O excêntrico e careca goleiro Barthez quase falhou, mas desviou para fora.

Aos 23′, Leonardo cobrou escanteio para a cabeçada de Rivaldo, mas Barthez foi seguro na defesa.

Quando o Brasil errava menos passes e parecia se encontrar no jogo, Roberto Carlos desarma Karembeu, mas deixa a bola escapar e concede um escanteio bobo no lado direito do ataque francês. Petit cobrou de pé trocado, de esquerda, e Zidane veio correndo da entrada da área para desviar de cabeça para o gol, se antecipando a Leonardo e marcando seu primeiro gol na Copa. O técnico Jacquet sabia que não teria marcação sobre Zidane, já que ele (apesar de alto) não era conhecido como um bom cabeceador (e normalmente, ele era o responsável por várias das bolas paradas). Assim, aos 26 minutos, a dona da casa abria o placar. Foi o primeiro gol de cabeça de Zizou pela seleção (e logo viria o segundo…).

Poucos minutos após o gol francês, um lance ilustrou o frágil estado emocional do time brasileiro. Ronaldo recebeu lançamento de Dunga na entrada da área adversária e se chocou com Barthez, caindo imóvel no chão. Os jogadores do Brasil se desesperaram, pensando que algo mais grave poderia ter acontecido. Mas, felizmente, foi um choque normal. Mas esse fato só deixou ainda mais clara a preocupação que todos os jogadores tinham com Ronaldo, com medo de que ele repetisse a crise.

Uma incessante troca de passes, que até fez a torcida gritar “olé“, terminou no pé direito de Petit, que perdeu a chance de ampliar o marcador.

No fim do tempo regulamentar, Guivarc’h recebeu lançamento livre, após nova falha de Júnior Baiano, e chutou cruzado para uma excelente defesa de Taffarel. Na sequência, novo escanteio. Dessa vez era do lado esquerdo e foi cobrado também de pé trocado por Djorkaeff. A bola foi fechada, Dunga caiu e Zidane se antecipou e entrou de cabeça. A bola passou entre as pernas de Roberto Carlos. Dois gols de Zidane de cabeça! Inédito!

O Brasil voltou melhor para o segundo tempo. Zagallo atirou o Brasil no ataque. No intervalo, tirou Leonardo e colocou Denílson aberto na ponta esquerda e abriu Bebeto na direita. Avançou Rivaldo para ajudar Ronaldo no centro do ataque. Em determinado momento, o Brasil teve, ao mesmo tempo, cinco atacantes em campo: Bebeto, Ronaldo, Rivaldo, Denílson e Edmundo. Mas não conseguiu produzir como precisava.

A primeira grande chance foi de Ronaldo, aos 11 minutos. Rivaldo cobrou falta ensaiada com Roberto Carlos, que cruzou para o segundo pau. O camisa 9 apareceu livre, na pequena área, mas chutou sem ângulo em cima de Barthez.

Aos 15′, Roberto Carlos alçou uma cobrança de arremesso lateral para a área. Barthez saiu “catando borboletas” e a bola sobrou para Bebeto finalizar e Desailly salvar quase em cima da linha.

A França passou todo o segundo tempo tocando a bola e esperando o fim do jogo, ajudado pela apatia do time brasileiro. Mas ainda teve suas chances.

Foi uma aula de futebol do maestro Zinedine Zidane, muito mais do que os dois gols de cabeça. No meio campo, ele era marcado à distância por Dunga e César Sampaio, jogando livre e tomando conta do jogo. No lado esquerdo, Djorkaeff caía pelo meio para ajudar a armar as jogadas ofensivas. Os laterais Thuram e Lizarazu não apoiavam, cumprindo estritamente seus papeis defensivos.

Na metade do segundo tempo, Desailly avançou em contra-ataque, perdeu a bola e fez falta dura em Cafu, recebendo o segundo cartão amarelo e, por consequência, sendo expulso.

Aos 18′, pela terceira vez no jogo, Guivarc’h apareceu livre e isolou a bola. Aos 37, Dugarry imitou o colega e “conseguiu” perder um gol feito, chutando de forma bisonha à direita de Taffarel. Poderia ter sido uma goleada histórica, se os atacantes franceses tivessem acertado alguma das muitas chances perdidas.

No minuto 45, Edmundo fez uma boa jogada e tocou para Denílson. De esquerda, o chute tocou no travessão e foi para fora.

No fim, uma discussão sem necessidade entre Edmundo e Rivaldo, quando o camisa 10 colocou uma bola para fora para que Zidane recebesse atendimento médico. Edmundo, com seu excesso de vontade, foi contra o “fair play” do camisa 10.

A Seleção Canarinho foi definitivamente destroçada aos 47 minutos do segundo tempo. Denílson cobrou escanteio, Rivaldo não dominou a bola e Dugarry puxou o contra-ataque. Ele tocou para Vieira, que lançou de primeira para Petit nas costas de Cafu. O cabeludo, camisa nº 17, tocou cruzado na saída de Taffarel. 3 a 0.

Festa em todo o país! Enfim, a França conquistava sua primeira Copa do Mundo. O presidente Jacques Chirac entregou a taça ao capitão Didier Deschamps, que, merecidamente, a levantou. Justíssimo!


Zizou abriu o placar de cabeça. (Imagem: Baú do Futebol)

● Não faltaram motivos para o Brasil perder a final da Copa de 1998 para a França por 3 a 0. Mas até hoje há diversas pessoas que acreditam piamente em teorias da conspiração. Uma delas diz que o Brasil “vendeu” o jogo em troca de ser a sede da Copa do Mundo de 2014. Outra diz que houve um acordo entre Nike (fornecedora de material esportivo da Seleção Brasileira) e a Adidas (fornecedora dos franceses), para que o título de 1998 ficasse na França e o de 2002 viesse para o Brasil (mas será que acertaram também com todas as seleções que jogaram em 2002?) Outra versão diz que Ronaldo foi envenenado por um cozinheiro francês na concentração. A mais pura verdade é que a França se preparou e fez um Copa do Mundo melhor do que o Brasil. Os franceses anularam Ronaldo e Rivaldo, as principais peças do Brasil até a final, e explorou os contra-ataques e as deficiências da defesa brasileira.

A França era o primeiro país sede a conquistar o título desde a Argentina em 1978. Foi o primeiro país campeão a terminar uma Copa com o melhor ataque (15 gols) e a melhor defesa (dois gols). Já o Brasil sofreu seu maior revés em Copas (0 x 3 contra a França) e terminou com a defesa mais vazada da competição (dez gols).


O mundo parou quando Ronaldo se chocou com Barthez. Felizmente, nada mais grave. (Imagem localizada no Google)

● Primeiro, falou-se em uma lesão no tornozelo. Depois, descobriu-se que o atacante havia sofrido um mal súbito na concentração durante a tarde. Existem várias versões: uma diz que foi um colapso nervoso, outra que foi o excesso de infiltrações de xilocaína no joelho (oito injeções em 32 dias) e até uma que diz que foi um ataque cardíaco.

Segue abaixo a reprodução do “Guia dos Curiosos das Copas do Mundo“, de Marcelo Duarte:

“No dia da decisão da Copa, por volta das 14 horas, Roberto Carlos levou o maior susto ao ver seu companheiro de quarto, Ronaldo, salivando, revirando os olhos, respirando com dificuldade. “Para com isso, Ronaldo, acorda!”, disse Roberto Carlos. Vendo que a coisa era séria, o jogador saiu do quarto correndo, pedindo ajuda. César Sampaio e Leonardo prestaram os primeiros socorros, enquanto Bebeto e Edmundo foram chamar o médico Lídio Toledo. Edmundo chegou a gritar pelos corredores que “Ronaldinho estava morrendo”. Quando o médico chegou, Ronaldo pediu para continuar a dormir. Ao acordar para o lanche, ele não se lembrava da crise convulsiva. Foi levado a uma clínica para fazer exames neurológicos completos, que nada acusaram. A convulsão, segundo uma das versões, teria sido causada por uma injeção de xilocaína aplicada no joelho do jogador. Mesmo assim, Edmundo foi escalado como titular. Ronaldo chegou ao estádio às 20h10, trocou-se rapidamente e pediu para ser escalado – o jogo começaria às 21 horas, no horário local. A comissão técnica fez uma reunião numa sala ao lado do vestiário:
– Estou bem, professor, ninguém me tira desse jogo – disse Ronaldo.
– Como é, Lídio? – perguntou o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que desceu apressado das tribunas ao receber a escalação da equipe sem Ronaldo.
– Não vou assumir sozinho. É muita responsabilidade – respondeu Lídio.
– Está bem? Não sente nada? Então, pronto, está decidido: você vai jogar – disparou o técnico Zagallo.
– Então, bota o garoto – ordenou Ricardo Teixeira.”

FICHA TÉCNICA:

 

FRANÇA 3 X 0 BRASIL

 

Data: 12/07/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Stade de France

Público: 80.000

Cidade: Saint-Denis (França)

Árbitro: Said Belqola (Marrocos)

 

FRANÇA (4-5-1):

BRASIL (4-3-1-2):

16 Fabien Barthez (G)

1  Taffarel (G)

15 Lilian Thuram

2  Cafu

18 Frank Leboeuf

4  Júnior Baiano

8  Marcel Desailly

3  Aldair

3  Bixente Lizarazu

6  Roberto Carlos

7  Didier Deschamps (C)

5  César Sampaio

19 Christian Karembeu

8  Dunga (C)

17 Emmanuel Petit

18 Leonardo

10 Zinedine Zidane

10 Rivaldo

6  Youri Djorkaeff

20 Bebeto

9  Stéphane Guivarc’h

9  Ronaldo

 

Técnico: Aimé Jacquet

Técnico: Zagallo

 

SUPLENTES:

 

 

1  Bernard Lama (G)

12 Carlos Germano (G)

22 Lionel Charbonnier (G)

22 Dida (G)

5  Laurent Blanc

13 Zé Carlos

2  Vincent Candela

14 Gonçalves

14 Alain Boghossian

15 André Cruz

4  Patrick Vieira

16 Zé Roberto

11 Robert Pirès

17 Doriva

13 Bernard Diomède

11 Emerson

21 Christophe Dugarry

7  Giovanni

12 Thierry Henry

19 Denílson

20 David Trezeguet

21 Edmundo

 

GOLS:

27′ Zinedine Zidane (FRA)

45+1′ Zinedine Zidane (FRA)

90+3′ Emmanuel Petit (FRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

33′ Júnior Baiano (BRA)

39′ Didier Deschamps (FRA)

48′ Marcel Desailly (FRA)

56′ Christian Karembeu (FRA)

 

CARTÃO VERMELHO: 68′ Marcel Desailly (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Leonardo (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

57′ Christian Karembeu (FRA) ↓

Alain Boghossian (FRA) ↑

 

66′ Stéphane Guivarc’h (FRA) ↓

Christophe Dugarry (FRA) ↑

 

73′ César Sampaio (BRA) ↓

Edmundo (BRA) ↑

 

74′ Youri Djorkaeff (FRA) ↓

Patrick Vieira (FRA) ↑

VEJA OUTROS JOGOS DA COPA DE 1998:
… 30/06/1998 – Argentina 2 x 2 Inglaterra
… 04/07/1998 – Holanda 2 x 1 Argentina
… 29/06/1998 – Holanda 2 x 1 Iugoslávia
… 13/06/1998 – Nigéria 3 x 2 Espanha
… 11/07/1998 – Croácia 2 x 1 Holanda
… 20/06/1998 – Bélgica 2 x 2 México
… 11/06/1998 – Itália 2 x 2 Chile


França campeã do mundo em 1998. (Imagem: AFP / Getty Images)

Gols da decisão:

Jogo completo:

… 13/06/1998 – Nigéria 3 x 2 Espanha

Três pontos sobre…
… 13/06/1998 – Nigéria 3 x 2 Espanha


Sunday Oliseh marca o gol contra a Espanha, em 1998 (Imagem: AP Photo / Remy de la Mauviniere)

● A Nigéria fez uma boa Copa do Mundo em 1994, caindo nas oitavas de final para a Itália de Roberto Baggio. Nos Jogos Olímpicos de 1996, surpreendeu a todos e conquistou a medalha de ouro. Mais amadurecido, era um time forte, com vários destaques no cenário europeu, como, dentre outros, Taribo West (Inter de Milão), Celestine Babayaro (Chelsea), Sunday Oliseh (Ajax), Jay-Jay Okocha (Fenerbahçe), Nwankwo Kanu (Inter de Milão). Como principal desfalque, o ponta esquerda Emmanuel Amunike, reserva do Barcelona.

Os nigerianos tiveram uma preparação conturbada. O técnico Bora Milutinović quase foi demitido do comando por não ter a simpatia do presidente do país, o general Sami Abacha. O general queria o holandês Jo Bonfrere, que levou o time ao Ouro nas Olimpíadas de Atlanta. Para sorte de Milutinović, três dias antes da estreia, Abacha foi vítima de um ataque cardíaco e faleceu.

Veja mais:
… Julen Guerrero: o Rei Leão de Bilbao
… Daniel Amokachi: lenda do Winning Eleven

Apesar de todos os problemas, o objetivo das “Superáguias” era provar que um time africano poderia ser campeão do mundo pela primeira vez.

A Espanha era cabeça de chave e chegava forte na Copa do Mundo de 1998, recheada de bons jogadores, como o goleiro Zubizarreta, o zagueiro/volante Hierro, os meia-atacantes Luis Enrique e Raúl, além dos atacantes Kiko, Alfonso e Morientes. Sentia falta do volante Guardiola, cortado por lesão. Nesta partida, o objetivo principal da Fúria era estrar com vitória, o que não acontecia desde 1950.


A Nigéria jogou todas suas partidas no 3-5-2, exceto essa. Na estreia, atuou no 4-4-2, com um meio campo em losango e Finidi como atacante aberto pela direita.


Ao contrário da Nigéria, a Espanha jogou as demais partidas no 4-4-2, mas contra os africanos, o técnico Javier Clemente optou pelo 3-5-2. O destaque eram os meias Luis Enrique e Raúl, atacantes em seus clubes. Na prática, a Espanha tinha quatro atacantes, com recomposição defensiva ruim.

● A Espanha começou melhor, pressionando e quase abriu o placar com duas cabeçadas de Raúl. Na primeira, o “goleiro-príncipe” Peter Rufai defendeu. Na segunda, a bola foi por cima do gol.

Mas o gol sairia aos 21 minutos, em uma bela cobrança de falta de Fernando Hierro, a 10 metros da área. Rufai deu um pequeno passo para o lado direito e a bola foi em seu canto esquerdo.

Mas os nigerianos não se abateram e buscaram o empate. Quatro minutos depois, Garba Lawal cobrou escanteio da direita para a pequena área, Mutiu Adepoju subiu mais do que Kiko e marcou de cabeça.

Na volta do intervalo, Hierro fez um lançamento perfeito de 40 metros, para linda conclusão de Raúl, de voleio. Um golaço, que esfriou os ânimos dos africanos.

A partida seguiu equilibrada e com chances para os dois lados.

Mas o destino foi cruel com o grande goleiro Andoni Zubizarreta, em sua quarta Copa. Aos 36 anos, ele era o então recordista de partidas pela seleção de seu país, com 126 jogos disputados e já havia anunciado a aposentadoria para logo depois do torneio.

Em contra-ataque nigeriano, aos 28 minutos, Yekini puxa jogada pelo meio e abre o jogo para Lawal. Ele recebeu a bola pelo lado esquerdo, entrou na área, driblou Iván Campo e cruzou para a área. Era um chute fechado e fraco, sem levar perigo algum, mas Zubizarreta desviou contra as próprias redes. Uma cena rara na carreira do seguro e veterano goleiro.

A Espanha acusou o golpe. O empate recolocou a Nigéria no jogo.

A virada veio aos 33 minutos do segundo tempo. Oliseh aproveitou uma rebatida da zaga espanhola e acertou um belo e potente chute de 116 km/h no canto direito de Zubizarreta, que chegou a tocar na bola, mas não impediu o gol.

Os minutos finais foram de pressão espanhola, mas a defesa nigeriana resistiu e conquistou a vitória.


O capitão Zubizarreta lamenta o segundo gol da Nigéria (Imagem: Ian Waldie / Reuters)

● Foi a primeira partida entre as duas seleções na história.

A Espanha foi eliminada na primeira fase da Copa. Após a estreia, empatou sem gols com o retrancado Paraguai e goleou a envelhecida Bulgária por 6 a 1. Foi a maior goleada da Copa, mas de nada adiantou. Encerrou o grupo D com 4 pontos, atrás dos nigerianos (6 pontos) e paraguaios (5 pontos).

A Nigéria venceu a Bulgária por 1 a 0 e perdeu para o Paraguai por 2 a 1 (com uma equipe mista, com apenas 4 titulares). Despediu-se do Mundial nas oitavas de final, ao perder para a Dinamarca dos irmãos Laudrup por 4 a 1.


Raúl passa por West. Raúl foi um dos destaques da partida (Imagem: Shaun Botterill / Getty Images / Veja)

FICHA TÉCNICA:

 

NIGÉRIA 3 X 2 ESPANHA

 

Data: 13/06/1998

Horário: 14h30 locais

Estádio: Stade de la Beaujoire  – Louis Fonteneau

Público: 35.500

Cidade: Nantes (França)

Árbitro: Esfandiar Baharmast (Estados Unidos)

 

NIGÉRIA (4-4-2):

ESPANHA (3-5-2):

1  Peter Rufai (G)

1  Andoni Zubizarreta (G)(C)

2  Mobi Oparaku

14 Iván Campo

5  Uche Okechukwu (C)

20 Miguel Ángel Nadal

6  Taribo West

4  Rafael Alkorta

3 Celestine Babayaro

2 Albert Ferrer

8  Mutiu Adepoju

6  Fernando Hierro

15 Sunday Oliseh

21 Luis Enrique

10 Jay-Jay Okocha

10 Raúl

11 Garba Lawal

12 Sergi

7  Finidi George

11 Alfonso

20 Victor Ikpeba

19 Kiko

 

Técnico: Bora Milutinović

Técnico: Javier Clemente

 

SUPLENTES:

 

 

12 William Okpara (G)

13 Santiago Cañizares (G)

22 Abiodun Baruwa (G)

22 José Francisco Molina (G)

16 Uche Okafor

15 Juan Carlos Aguilera

21 Godwin Okpara

5  Abelardo

17 Augustine Eguavoen

3  Agustín Aranzábal

19 Benedict Iroha

16 Albert Celades

18 Wilson Oruma

18 Guillermo Amor

4  Nwankwo Kanu

8  Julen Guerrero

13 Tijani Babangida

17 Joseba Etxeberria

14 Daniel Amokachi

9  Juan Antonio Pizzi

9  Rashidi Yekini

7  Fernando Morientes

 

GOLS:

21′ Fernando Hierro (ESP)

24′ Mutiu Adepoju (NIG)

47′ Raúl (ESP)

73′ Andoni Zubizarreta (NIG) (gol contra)

78′ Sunday Oliseh (NIG)

 

CARTÕES AMARELOS:

56′ Guillermo Amor (ESP)

59′ Miguel Ángel Nadal (ESP)

62′ Uche Okechukwu (NIG)

75′ Iván Campo (ESP)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Albert Ferrer (ESP) ↓

Guillermo Amor (ESP) ↑

 

58′ Alfonso (ESP) ↓

Joseba Etxeberria (ESP) ↑

 

70′ Mobi Oparaku (NIG) ↓

Rashidi Yekini (NIG) ↑

 

77′ Miguel Ángel Nadal (ESP) ↓

Albert Celades (ESP) ↑

 

83′ Victor Ikpeba (NIG) ↓

Tijani Babangida (NIG) ↑

 

90+3′ Garba Lawal (NIG) ↓

Godwin Okpara (NIG) ↑

Melhores momentos da partida:

… Marcelo Salas, “El Matador”

Três pontos sobre…
… Marcelo Salas, “El Matador”


(Imagem: Alchetron)

● José Marcelo Salas Melinao nasceu em 24/12/1974 na cidade de Temuco. Ainda criança, começou nas divisões de base do Temuco Santos FC e aos 17 anos foi mostrar seu talento na Universidad de Chile. Estreou pelo time principal em 10/04/1993, contra o Colchagua pela Copa do Chile. Em 1994, marcano 18 gols em 25 jogos da liga chilena. Jogou no clube até 1996 com um total de 50 gols em 77 partidas, se sagrando bicampeão do Campeonato Chileno em 1994 e 1995. Nas semifinais da Copa Libertadores da América de 1996, não bastasse “La U” ter sido eliminada pelo River Plate, os “Millonarios” também levaram Salas, por 3,5 milhões de dólares. “El Matador” chegou após o River ter conquistado a Libertadores, para substituir Hernán Crespo. Apesar de ser uma tarefa muy difícil, mesmo com críticas no início (já que nunca um jogador chileno tinha se destacado na Argentina), Salas conquistou três campeonatos argentinos e a Supercopa da Libertadores em 1997, além de ter sido eleito o melhor jogador da América do Sul no mesmo ano. Em 53 jogos, foram 24 tentos anotados.

Após a Copa do Mundo de 1998, onde se destacou, foi ser destaque também no continente europeu. Em 13/09/1998, fez sua estreia na Lazio pela Serie A, no empate em 1 x 1 com a Piacenza. Foram três anos de intenso brilho na melhor Lazio de todos os tempos, com um Scudetto, uma Coppa Italia, duas Supercopas italianas, uma Recopa Europeia e fazendo o gol do título da Supercopa Europeia. É considerado um dos maiores ídolos do time, tendo anotado 34 gols nas 79 partidas disputadas. Em 17/08/2001 foi comprado pela poderosa Juventus. Mas em 20/10, em Bolonha, sofreu a primeira de uma série de lesões que atrapalhou sua passagem pela “Vecchia Signora”. Com uma entorse no joelho direito e lesão do ligamento cruzado anterior, ficou fora do restante da temporada, em que sua equipe se sagrou campeã italiana. Voltou a campo no ano seguinte e conquistou outro Scudetto e a Supercopa da Itália. Encerrou sua passagem na Juve com apenas dois gols em 18 jogos.

Para 2003/04, voltou por empréstimo ao River Plate, onde jogou por dois anos, fazendo apenas 32 jogos e 10 gols. Conquistou o Clausura de 2004 e chegou nas semifinais da Copa Libertadores de 2005, mas sem sucesso. No meio do ano de 2005, acertou seu retorno à Universidad de Chile. Nessa nova passagem, entre idas e vindas, incluindo seis meses parado, fez 35 gols em 74 partidas. Encerrou a carreira de vez em 25/11/2008.

● Estreou na seleção principal do Chile em 18/05/1994, no Estádio Nacional do Chile, contra a Argentina de Diego Armando Maradona, entrando no segundo tempo e marcando um gol no empate por 3 a 3.

A partir de então, formou a implacável dupla “Sa-Za”, entre ele, Salas, e Iván “Bam-Bam” Zamorano, que liderou o Chile nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998. Antes da Copa, em 11/02/1998, fez os gols da vitória por 2 x 0 em um amistoso com a Inglaterra, em um Wembley com 65.000 pessoas.

Salas disputou uma única Copa, a de 1998, mas não fez feio e foi o 3º maior artilheiro do torneio, com quatro gols anotados (dois na Itália, um na Áustria e um contra o Brasil).

Após um longo período de ausência da seleção e algumas partidas intermitentes, é convocado novamente pelo técnico Marcelo “El Loco” Bielsa, inclusive para as eliminatórias para a Copa de 2010, quando marcou dois gols em um empate por 2 a 2 contra o Uruguai. Não disputou a Copa porque encerrou a carreira dois anos antes. É o recordista de gols pela seleção do Chile, com 37 marcados em 70 partidas disputadas.

Marcelo Salas foi campeão por todas as equipes pelas quais passou, seja no Chile, na Argentina ou na Itália. Em 509 jogos oficiais, fez 245 gols (média de 0,48). Após pendurar as chuteiras, “El Matador” se tornou patrono, diretor esportivo e presidente do Club de Deportes Temuco, que disputa atualmente a primeira divisão do futebol chileno.

(Imagem: Calciopédia)

Feitos e premiações de Marcelo Salas:

Pela Seleção do Chile:
– Campeão da Copa Canadá em 1995.

Pela Universidad de Chile:
– Bicampeão do Campeonato Chileno em 1994 e 1995.

Pelo River Plate (Argentina):
– Campeão da Supercopa da Libertadores em 1997.
– Campeão do Campeonato Argentino em 1996 (Apertura) 1997 (Apertura e Clausura) e 2004 (Clausura)

Pela Lazio:
– Campeão da Supercopa Europeia em 1999.
– Campeão da Recopa Europeia em 1998/99.
– Campeão do Campeonato Italiano em 1999/2000.
– Campeão da Coppa Italia em 1999/2000.
– Campeão da Supercopa da Itália em 1998 e 2000.
– Campeão da Taça de Amsterdã em 1999.

Pela Juventus:
– Bicampeão do Campeonato Italiano em 2001/02 e 2002/03.
– Bicampeão da Supercopa da Itália em 2001/02 e 2002/03.

Distinções e premiações individuais:
– Maior artilheiro da história da seleção do Chile, com 37 gols.
– Artilheiro da Copa do Chile em 1994 (12 gols).
– Eleito para a seleção ideal da América pelo jornal El País em 1996.
– Eleito o melhor jogador do futebol argentino pelos jornalistas do país em 1997.
– Eleito o melhor jogador do futebol sul-americano pelo jornal El País em 1997.
– Eleito para a seleção ideal da América pelo jornal El País em 1997.
– Eleito melhor esportista do Chile pelos jornalistas do país em 1997.
– Eleito melhor jogador do Chile pelos jornalistas do país em 1997.
– Eleito melhor jogador do Chile pelos jornalistas do país em 1998.
– Incluído entre os 50 votados para a Bola de Ouro da revista France Football em 1998.
– Artilheiro da Lazio na temporada 1998/99 com 11 gols.
– Incluído entre os 50 votados para a Bola de Ouro da revista France Football em 1999.
– Eleito o 32º melhor jogador sul-americano do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 2º melhor jogador chileno do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 7º melhor jogador sul-americano canhoto da história pela revista Bleacher Report em 2013.
– Laureado com o prêmio “Filho Ilustre de Temuco” em 2008.