Três pontos sobre… … 02/06/1962 – Brasil 0 x 0 Tchecoslováquia
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Mauro Ramos de Oliveira e Ladislav Novák (Imagem: Getty Images / FIFA)
● Assim como hoje, o segundo dia do mês de junho de 1962 era um sábado. O Brasil inteiro colou seus ouvidos nos transmissores de rádio para ouvir o jogo contra a forte Tchecoslováquia. Embora o som não fosse ainda totalmente ausente de ruídos, tinha melhorado muito se comparado à precariedade com que acompanhamos a Copa do Mundo de 1958.
A Tchecoslováquia também vinha para o jogo credenciada pela bela vitória por 1 a 0 sobre a Espanha de Puskas e Gento em sua estreia. Tinha jogadores respeitados em todo o mundo, como o goleiro Schrojf, os defensores Lála e Novák, além do grande meia Josef Masopust.
Aymoré Moreira mantinha o mesmo time brasileiro, com a esperança de que nessa segunda partida, o escrete canarinho mostrasse mais futebol do que na estreia.
O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo
A Tchecoslováquia também jogava no esquema da moda de então, o 4-2-4, com destaque para o craque Josef Masopust
● As duas equipes demoram um tempo para se acertar em campo. É um jogo equilibrado, com muitas faltas, muita correria e pouco futebol.
Os brasileiros dão a impressão de que perderam parte do brilho que o havia consagrado, jogando um futebol mais defensivo do que quatro anos antes. Mesmo assim, dá bastante trabalho a Schrojf.
Os tchecos também atacam, mas não chegam a incomodar a defesa brasileira.
A melhor chance do Brasil foi de Mané Garrincha. Ele arranca em diagonal, da direita para o meio e chuta da entrada da área. O ótimo goleiro Viliam Schrojf não consegue segurar e apenas desvia a bola, que ainda bate em sua trave direita.
Espera-se a qualquer momento a explosão do gênio Pelé, que é muito bem marcado por Masopust.
O lance que decide o jogo ocorre aos 27 minutos do primeiro tempo. Pelé recebe um passe de Djalma Santos, limpa a jogada e bate forte de pé esquerdo, da entrada da área. A bola passa por Schrojf e toca de leve na trave. Pelé faz careta, mas todos pensam ser apenas um lamento por não ter feito o gol. Mas, na sequência, o camisa 10 cai ao chão e coloca a mão na virilha esquerda. Todos os olhos do mundo se voltam apreensivos para o craque.
Pelé e Masopust: um duelo de respeito (Imagem: Getty Images / FIFA)
Ele é atendido fora do campo e, completamente sem condições de jogo, vai fazer número na ponta direita, já que as substituições não eram permitidas na época.
Assim, para melhor balanceamento no campo, o técnico Aymoré Moreira manda Garrincha fazer o papel de Pelé pelo meio. Mas depois de ver a equipe levar certo sufoco, Aymoré inverte: volta Garrincha para a ponta e pede para Zagallo recuar.
Pelé fica em campo, isolado. Mas em um determinado momento, passam-lhe a bola e ele domina com dificuldades. À sua frente, posta-se o severo, porém cavalheiro, Masopust. O craque tcheco fica esperando, respeitosamente, o que o Rei decidiria fazer com a bola, mas ele a tocou pela lateral. O gesto de respeito de Masopust foi elogiado no mundo inteiro.
“É muito triste se machucar no meio de uma Copa do Mundo, é uma frustração muito grande.” ― Pelé recordaria depois
Sem Pelé e com todos os jogadores preocupados com ele, a Seleção não consegue vencer a retranca dos europeus e a partida termina sem gols. De qualquer forma, um resultado mais do que justo.
Pelé se lesionou e não jogou mais na competição (Imagem: Pinterest)
● Se já não bastasse o inesperado empate, havia uma dúvida cruel: seria possível conquistar o bicampeonato mundial sem o Rei Pelé? A esperança de que ele voltasse contra a Espanha era pequena. No dia seguinte, ela foi soterrada pelo médico da delegação brasileira, o Dr. Hilton Gosling. Em meio a um batalhão de repórteres, ele deu o diagnóstico fatal: Pelé distendeu o músculo adutor da coxa esquerda. Em outras palavras: o Rei estava fora da Copa.
Incrivelmente, depois de apenas três dias de partidas no Mundial, já havia 34 jogadores machucados. No quarto dia, já eram 50. O balanço final dessa violenta Copa foi, além de incontáveis lesões musculares, três fraturas de pernas, uma de nariz e uma de quadril.
Infelizmente, essa foi a última vez em que atuaram juntos os craques da linha de frente que deram o primeiro título mundial ao Brasil, em 1958: Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo.
Para o lugar do ainda menino Pelé, seria escolhido outro jovem craque: Amarildo, atacante de 21 anos do Botafogo.
Três pontos sobre… … 30/05/1962 – Chile 3 x 1 Suíça
O zagueiro chileno Raúl Sánchez pula para bloquear um chute de Charles “Kiki” Antenen, capitão da Suíça (Imagem: Getty Images / FIFA)
● Depois de organizar duas Copas do Mundo seguidas na Europa, a FIFA não poderia escolher outro país europeu para sediar o evento. Por isso o torneio voltaria para a América do Sul, continente do novo campeão do mundo. Chile e Argentina disputaram o direito de sediar o Mundial. A escolha da FIFA acabou sendo o Chile.
Todos os jogos da Copa do Mundo de 1962 ocorreram às 15 horas, no horário local. Nessa quarta-feira, as ruas de Santiago estavam caóticas, com trânsito intenso.
Apesar de ter sido disputado simultaneamente com outras três partidas, este foi considerado o jogo de abertura do Mundial. Depois da marcha e desfile da banda da polícia militar, foram os políticos que roubaram a cena. Discursaram Jorge Alessandri, presidente do Chile, Juan Goñi, substituto do recém falecido Carlos Dittborn no comitê organizador, e Stanley Rous, presidente da FIFA. Só depois a bola rolou.
O Chile atuava no sistema 4-2-4, com muita força pelas pontas.
A Suíça era escalada em seu tradicional “Ferrolho”, criado por Karl Rappan na década de 1930. Em uma espécie de 4-4-1-1 bastante defensivo, foi o primeiro sistema tático a utilizar o líbero. Toda a equipe era posicionada atrás da linha de meio campo e ocupava todo o espaço possível em sua defesa para impedir os adversários de atacar. Ao recuperar a bola, era correria e contra-ataque.
● Os jogadores chilenos treinaram juntos por três meses, com o objetivo de ter sucesso em sua terceira Copa do Mundo.
Mas, surpreendentemente, a foi a Suíça que abriu o placar aos sete minutos de jogo. Rolf Wüthrich recebeu fora da área, driblou um adversário e chutou no ângulo. Um verdadeiro golaço. Surpresa no estádio Nacional.
Depois, como já era esperado, os suíços se trancaram na defesa. Apesar do grande domínio, os chilenos ainda demoraram um tempo para se recuperarem do baque. A Suíça teve outras chances, mas não as aproveitou.
Um minuto antes do intervalo, após cruzamento da direita, Jorge Toro escorou de cabeça e Leonel Sánchez finalizou de dentro da pequena área. A bola ainda desviou em um adversário e morreu dentro do gol. Agora, o placar estava igual, com um tento para cada.
Os mais de 65 mil presentes empurravam a seleção anfitriã, com os sempre tradicionais gritos de “CHI-LE, CHI-LE, CHI-LE! CHI-CHI-CHI, LE-LE-LE, VIVA CHILE!”
Aos 7′ da etapa final, Jaime Ramírez avançou pela esquerda, entrou na área e chutou forte. O goleiro Karl Elsener espalmou para frente. Ramírez ficou com o rebote e tocou mansamente no canto direito. Era a virada.
Quatro minutos depois, o placar foi alterado pela última vez. Honorino Landa tabelou com Alberto Fouilloux e cruzou rasteiro. Na pequena área, Leonel Sánchez pegou o rebote da trave e escorou para as redes, dando ponto final ao placar de 3 a 1 para os locais.
(Imagem: Foto-net / FIFA)
● O austríaco Karl Rappan era o técnico da Suíça desde 1938 – exceto breves intervalos. Ele foi o criador do forte sistema tático, ultra-defensivo, que ficou conhecido como “Ferrolho Suíço”. Mas nessa Copa, o esquema não funcionou. A Suíça já não tinha mais a eficiência e o caráter de surpreender com seu ferrolho. Depois da derrota para o Chile na estreia, perdeu por 2 a 1 para a Alemanha Ocidental e por 3 a 0 para a Itália. A retranca levou oito gols, marcou apenas dois e terminou em último lugar no Mundial.
O Chile começou nervoso, mas estreou em “sua” Copa com essa vitória de virada. Na sequência, venceu um jogo duríssimo contra a Itália por 2 a 0. A derrota por 2 a 0 para a Alemanha Ocidental deixou os anfitriões em segundo lugar do grupo. Nas quartas de final, o Chile bateu a União Soviética por 2 a 1. Na semifinal, parou no Brasil, de Garrincha, mesmo fazendo um jogo duro (derrota por 4 a 2). Ainda venceu a Iugoslávia (1 x 0) e terminou com um honroso 3º lugar, conquistado em casa.
Três pontos sobre… … 06/06/1962 – Brasil 2 x 1 Espanha
Paco Gento e Mauro se cumprimentam antes da partida (Imagem: Pinterest)
● Havia uma dúvida muito grande para o confronto entre Brasil e Espanha: quem seria o substituto de Pelé? O Rei se lesionou aos 27 minutos do primeiro tempo da partida anterior, o empate sem gols contra a Tchecoslováquia três dias antes. Com uma distensão no músculo adutor da coxa esquerda, ele estava definitivamente fora do Mundial.
Várias hipóteses foram aventadas: a entrada de Coutinho, passando Vavá mais para a esquerda; a formação de um quadrado no meio-campo, com Zito, Didi, Mengálvio e Zagallo, ficando Garrincha e Vavá no ataque; ou simplesmente a escalação do reserva imediato de Pelé, o botafoguense Amarildo.
Sabiamente, o técnico Aymoré Moreira optou pela solução mais natural: a entrada de Amarildo, apelidado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues de “O Possesso”.
A Espanha contava com uma legião estrangeira naturalizada: José Emilio Santamaría, zagueiro uruguaio; Eulogio Martínez, atacante paraguaio; Alfredo Di Stéfano, atacante argentino, que chegou à Copa lesionado e não disputou nenhuma partida; e Ferenc Puskás, atacante húngaro, com experiência anterior na Copa de 1954 pela vice-campeã Hungria. Mas desses, apenas Puskás jogou (e muito bem) contra o Brasil.
O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo
A Espanha jogava em um misto de WM e 4-2-4
● Foi um jogo muito difícil. O Brasil entrou em campo nervoso e com Zagallo recuado além da conta. A Espanha sufocou e saiu na frente aos 35 minutos do primeiro tempo. Adelardo tabela com Puskás e chuta rasteiro antes da chegada de Zito, da meia-lua, no canto direito de Gylmar.
Apesar da boa movimentação de Amarildo, a Seleção sentia falta de Pelé (e quem não sentiria?!). Mas além da disposição e bom futebol de Amarildo, Garrincha também brilhava, infernizando os espanhóis pela ponta direita.
No segundo tempo, as coisas poderiam ter se complicado de vez para o Brasil. O espanhol Enrique Collar driblou Nilton Santos e foi derrubado pelo lateral brasileiro, dentro da área. Experiente e “malandro”, Nilton deu dois passos para frente, indicando ao árbitro chileno Sergio Bustamante que a infração teria ocorrido fora da área. O juiz foi na dele e marcou falta ao invés de pênalti. Entretanto, na cobrança dessa mesma falta, Puskás cruzou, Zózimo errou o tempo de bola e Joaquin Peiró marcou um golaço de bicicleta. Novamente o árbitro beneficiou o Brasil e anulou o gol, alegando não se sabe o quê – não houve impedimento e nem jogo perigoso, pois Peiró estava a um metro e meio de Zózimo.
Reanimado, o Brasil começou a dominar a partida e foi para cima. Aos 27 minutos do segundo tempo, Zito passa para Zagallo, que cruza da esquerda, rasteiro, e Amarildo emenda de primeira, com violência, marcando o gol de empate.
O Brasil virou aos 41 minutos, quando Garrincha fez das suas jogadas individuais pela direita, passou por dois marcadores e cruzou da linha de fundo, na cabeça de Amarildo, que cabeceou bem, sem chances para o goleiro Araquistáin.
Seleção Brasileira campeã da Copa do Mundo de 1962, no Chile (Imagem: UOL Esporte) Em pé: Djalma Santos, Zito, Gylmar, Zózimo, Nilton Santos e Mauro. Agachados: Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo.
● Com duas vitórias e um empate, o Brasil estava classificado para as quartas de final em primeiro lugar do grupo 3. Tão importante quanto a classificação, foi o acerto na escalação de Amarildo.
Antes da partida, o técnico da Espanha, o franco-argentino Helenio Herrera, disse que o Brasil ficava muito fraco sem Pelé e chegou a perguntar quem era Amarildo. E “O Possesso” deu seu cartão de visitas a Herrera, anotando os dois gols.
Após a vitória, Pelé se emocionou e entrou de roupa e tudo debaixo do chuveiro para abraçar Amarildo, seu substituto e herói brasileiro na partida. Amarildo teve um “dia de Pelé”.
Se a Espanha vencesse, seria líder do grupo, com 4 pontos e o Brasil poderia ser eliminado (dependendo do resultado entre México x Tchecoslováquia). Como a Espanha perdeu e o México venceu, a Espanha acabou eliminada e em último lugar no grupo, o que impediu que Don Alfredo Di Stefano entrasse em campo em uma Copa do Mundo. A lenda do Real Madrid estava machucado e só poderia disputar a fase seguinte.
A média de idade do Brasil de 1962, com 30 anos e seis meses é a mais alta de uma seleção campeã mundial. A Itália de 2006 vem em segundo, com 29 anos e dois meses.
A Seleção Brasileira de 1962 foi o campeão que utilizou menos jogadores em uma Copa do Mundo. Foram apenas doze. A única substituição foi justamente Amarildo no lugar de Pelé.
“Em 1962, com a contusão de Pelé, descobriu-se um outro Garrincha. De repente, parou de brincar, ficou sério, compenetrado de que a conquista da Copa dependia dele. Quase sozinho, ganhou a Copa. Fez o que nunca tinha feito. Gols de cabeça, pé esquerdo, folha-seca. E driblou como um endiabrado, endoidando os adversários.” ― Sandro Moreyra, jornalista, botafoguense e amigo do Mané.
Três pontos sobre… … 02/06/1962 – Chile 2 x 0 Itália
A “Batalha de Santiago”
(Imagem: BBC)
● O Chile foi escolhido para ser sede da Copa do Mundo de 1962, apesar de todas as deficiências na infraestrutura, acentuadas por um terremoto no sul do país, que atingiu 9,5 graus na escala Richter a dois anos da competição. Liderado pelo dirigente Carlos Dittborn, o lema do país era: “Porque não temos nada, daremos tudo”.
Os anfitriões não tinham um bom histórico em Copas e foram sorteados para um grupo difícil na primeira fase, com Itália, Alemanha Ocidental e Suíça. Na primeira partida, os chilenos venceram a Suíça por 3 x 1, enquanto alemães e italianos empataram sem gols. Assim, na partida seguinte a Itália deveria vencer os anfitriões, senão correria sérios riscos de uma eliminação precoce.
Durante a candidatura do Chile para sediar o torneio, os jornalistas italianos Antonio Ghirelli e Corrado Pizzinelli escreveram sobre a situação precária de Santiago. Essa matéria provocou indignação em toda a imprensa chilena e foi reproduzida no jornal El Mercurio dias antes da partida entre as duas seleções, deixando ainda mais pesado o clima.
Cientes que a partida seria duríssima, os jogadores italianos entraram em campo jogando flores brancas para a torcida local, com a intenção de amenizar um pouco os ânimos. Porém, como repúdio, a torcida atirou de volta as flores em cima dos italianos. Diz a lenda que Omar Sívori se negou a jogar essa partida já prevendo o clima de guerra.
A Itália (como quase sempre) contava com uma força estrangeira: além dos bons argentinos Sívori e Maschio (que inclusive disputaram a Copa América de 1957 pelo seu país natal), foi reforçada pelos brasileiros Sormani e Altafini, o “nosso” Mazzola, campeão do mundo pelo Brasil em 1958.
Tanto Chile quanto Itália jogavam no sistema 4-2-4, mas com estrutura diferente, como podemos observar nos esquemáticos
● Assim que a partida começou, rapidamente ficou claro o estilo de jogo das duas equipes: forte e violenta marcação. A primeira falta foi aos 12 segundos de jogo e desde o início os chilenos saíam em bloco para cercar o juiz, reclamando de tudo. Ainda aos 7 minutos, Toro deu um chute em Mora e levou o troco de Ferrini, mas apenas Ferrini foi expulso. Ele se negou a abandonar o gramado e teve que ser retirado pela polícia.
Pouco depois, foi Landa que cometeu uma falta forte, mas não foi advertido pelo árbitro. O jogo passou a ficar travado a medida que a cada falta os jogadores se embolavam, discutindo e se agredindo.
Aos 38 minutos houve a jogada mais marcante. Leonel Sánchez dribla rumo à ponta esquerda, quando é derrubado por David, que o chuta repetidamente no chão. Sánchez levanta e lhe dá um soco, quebrando o nariz do italiano, mas a arbitragem foi condescendente com ambos. Minutos depois, David se vingou, dando uma voadora no pescoço de Sánchez e foi imediatamente expulso pelo juiz.
Com tudo isso, o primeiro tempo durou 72 minutos.
No segundo tempo e com dois jogadores a mais, o Chile foi superior. Mas só abriu o placar aos 28 minutos, quando Rojas cobriu uma falta da intermediária, o goleiro rebateu e Ramírez encobriu dois defensores com uma cabeçada. Um minuto depois, Landa teve um gol anulado por impedimento.
Mas a três minutos do fim, Toro recebe na intermediária e chuta forte no canto esquerdo do goleiro, ampliando o marcador.
(Imagem: Dailly Mirror)
● Com a vitória, o Chile estava classificado e a Itália precisava de um milagre. Mas a Itália seria eliminada mesmo vencendo a Suíça por 3 x 0, já que os alemães venceram os chilenos por 2 x 0.
Na sequência, o Chile ainda venceria a União Soviética (2 x 1) nas quartas de final. Nas semifinais, não foi páreo para o Brasil, liderado por um endiabradoGarrincha e perdeu por 4 x 2. Na decisão do 3º lugar, o chile “deu tudo de si” e venceu a Iugoslávia por 1 a 0.
O árbitro inglês Kenneth “Ken” Aston foi mundialmente criticado por favorecer os chilenos. Aston reconheceu depois que teve uma má atuação, mas se justificou: “Eu não estava apitando uma partida de futebol; estava atuando com um juiz em um conflito militar”. Ele ainda afirmou que pensou em suspender a partida, mas temeu a reação do público. Depois dessa partida, ele encerrou a carreira. Não por causa do jogo, e sim por uma lesão muscular. Posteriormente, ele foi nomeado diretor de arbitragem da FIFA e acabou responsável pela escala de árbitros da Copa de 1966. Em 1967, para melhorar a comunicação entre árbitros e jogadores, ele criou os cartões amarelo e vermelho, hoje indispensáveis no futebol.
Com certeza foi a partida mais violenta da história das Copas. Ficou conhecida como a “Batalha de Santiago”.
Três pontos sobre… … 30/05/1962 – Brasil 2 x 0 México
Cumprimentos iniciais dos capitães e arbitragem (Imagem: FIFA)
● A Seleção Brasileira era a então campeã do mundo e, por isso, não precisou disputar as eliminatórias, já tendo vaga assegurada na Copa.
A superstição era tão grande que o presidente da CBD, João Havelange, resolveu repetir tudo que havia funcionado quatro anos antes, inclusive o fato de ele próprio não viajar com a equipe. Escolheu novamente como chefe da delegação o “Marechal da Vitória”, Paulo Machado de Carvalho (fundador da Rede Record de Televisão). O próprio Doutor Paulo partilhava dessas ideias e usou o mesmo terno marrom que lhe serviu de amuleto na Suécia. Convidou o mesmo comandante Guilherme Bungner para pilotar a mesma aeronave DC-8 da Panair. Superstição levada ao extremo, tanto que Bungner deixou o cavanhaque crescer para ficar com a mesma cara de 1958.
A imprensa não ficou de fora: depois da vitória contra o México na estreia, a CBD obrigou todos os jornalistas a trabalharem sempre com a roupa daquele primeiro jogo; quem mudasse qualquer peça, era impedido de entrar na tribuna da imprensa.
Na comissão técnica, duas alterações: a extinção do cargo de psicólogo, já que o Brasil tinha superado o “complexo de vira-lata”. Outra (e mais importante) foi o técnico. Vicente Feola estava enfermo, com problemas cardíacos crônicos, e recebeu um cargo apenas simbólico de supervisor. O treinador escolhido foi Aymoré Moreira, primeiro ex-jogador da Seleção Brasileira a dirigir o país em uma Copa (Aymoré foi goleiro e jogou três partidas pela Seleção na década de 1930).
Foram mantidos 14 jogadores campeões de 1958. A equipe titular tinha a mesma base, com alterações apenas na defesa: Djalma Santos, Mauro e Zózimo entraram no lugar de De Sordi, Bellini e Orlando. Mauro, inclusive, se tornou o capitão, sucedendo Bellini. Se alguns jogadores estavam mais velhos, não menos verdade, se tornaram mais experientes. Novos valores estavam despontando e outros se firmando no cenário mundial, caso específico do Rei Pelé, que estava em seu auge.
O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo
O México atuava como quase todos, em um 4-2-4, com seus meias recuando bastante para marcar
● A estreia era aguardada com imensa expectativa. O povo brasileiro esperava uma goleada sobre os mexicanos, como as estreias de 1950 e 1954. Mas não contavam com uma atuação inspiradíssima do goleiro Carbajal, em sua quarta Copa do Mundo (disputaria cinco: 1950, 1954, 1958, 1962 e 1966). Ele fechou a meta no primeiro tempo e o placar zerado foi comemorado por sua equipe no intervalo. Foi uma decepção para os expectadores.
O poderoso ataque com Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo só conseguiu funcionar no segundo tempo, graças a duas jogadas do Rei Pelé. Aos 11 minutos, ele cruza da direita a meia altura e Zagallo mergulha e cabeceia rente ao chão, abrindo o placar. Esperava-se que os mexicanos se lançassem ao ataque em busca do empate, mas eles preferiram continuar jogando na defesa. Assim, somente aos 28 minutos saiu o segundo gol. Pelé domina na direita, passa por dois marcadores com um só toque, ganha dividida contra outro adversário, dribla Cárdenas ao entrar na área e chuta de pé esquerdo, no canto direito do goleiro.
Garrincha dribla, sob olhar atento de Pelé (Imagem: Remezcla)
● Curiosamente, o treino do Brasil antes da primeira partida na Copa teve mais público do que a própria estreia. Como a entrada para os treinamentos era gratuita, cerca de 11 mil pessoas foram ao estádio. Já na vitória por 2 a 0 sobre o México, 10.484 torcedores assistiram ao jogo.
Esse seria o único gol de Pelé na Copa de 1962, pois se lesionou no jogo seguinte, um empate sem gols com a Tchecoslováquia, e sem condições físicas, não voltou a atuar na competição.
Apesar do placar sem sobressaltos, o desempenho gerou dúvidas quanto à possibilidade do bicampeonato.
O Brasil acompanhou esta partida, assim como todas as outras, pelas ondas do rádio. As imagens de televisão só seriam exibidas dois ou três dias depois, em videoteipe, gravados graças aos esforços da Televisa, maior TV do México.
Por fim, o México seria eliminado ainda na fase de grupos, mas com resultados honrosos: derrota para a Espanha por 1 x 0 e vitória contra a futura vice-campeã Tchecoslováquia por 3 x 1. Foi a primeira vitória do México em Copas do Mundo, em 13 jogos (12 derrotas e um empate).
Três pontos sobre… … Castilho: sua sorte não foi o suficiente
(Imagens localizadas no Google)
● Carlos José Castilho nasceu em 27/11/1927, no Rio de Janeiro, então capital federal. Iniciou a carreira como atacante no Tupã Futebol Clube, de Brás de Pina, subúrbio do Rio. Certa vez, o goleiro titular não apareceu para uma partida e Castilho atuou em seu lugar, mas sem se fixar na posição. Com 17 anos, em 1944, foi levado aos juvenis do Olaria por Menezes, pai de Ademir de Menezes, craque do Vasco na época. Fez seus primeiros treinos como ponta esquerda, mas pediu ao treinador para ser testado no gol. Assim ficou por dois anos, sem nunca atuar em nenhuma partida, nem entre os aspirantes.
Em 1946, quando o técnico Gentil Cardoso pediu Ademir para o Flu, seu pai, que o representava, mais uma vez levou Castilho e o apresentou a Gentil. O goleiro fez testes no tricolor carioca e foi aprovado pelo ranzinza Gentil. Com apenas 19 anos, Castilho assinou com os aspirantes do Flu, recebendo três mil cruzeiros de luvas e um salário mensal de 800 cruzeiros. Estreou em 06/10/1946, em um amistoso na cidade mineira de Pouso Alegre, contra o Fluminense local. o time carioca venceu por 4 a 0, com Castilho defendendo seu primeiro pênalti na carreira. A partir de 1947 se tornou titular da equipe principal.
Entrou para a história como um goleiro “milagreiro”, com defesas consideradas quase impossíveis. Além de bom posicionamento e reflexo, se tornou mais lendário por sua inesgotável sorte. Em um Fla x Flu que seu time venceu por 1 a 0, chegou a levar cinco bolas na trave, além de defender um pênalti. Passou a ser chamado pela imprensa carioca de “Leiteria”, que significava “homem de sorte”, na época. O apelido tinha relação não só com a infância de Castilho, quando ele foi entregador de leite, mas também à fama alcançada por um leiteiro do bairro das Laranjeiras, que por duas vezes teve seu bilhete premiado pela Loteria Federal. Então, no Rio dos anos 1950, “leiteiro” se tornou sinônimo de “sujeito de sorte”. Os torcedores do Flu o chamavam de “São Castilho”. Foi o primeiro goleiro “canonizado” pelos torcedores, devido aos milgres debaixo das traves.
Vestiu o manto tricolor de 1946 a 1965. É o recordista de atuações pelo Fluminense, com 698 partidas. Sofreu 764 gols (incrível média de 1,09) e saiu invicto em 255 partidas. Estreou contra o Fluminense de Pouso Alegre (MG) pelo time de aspirantes. Se firmou como titular em 1948. É considerado o melhor goleiro do clube em todos os tempos. Tinha 1,81 m e 75 kg, padrão baixo atualmente, mas bom para a época. Se destacava também em defesas de pênaltis (só em 1952 defendeu 6). Foi o pioneiro em se posicionar com os braços abertos no momento em que o adversário se prepara para a cobrança; ele percebeu que esse ato aumentava seu tamanho diante do cobrador.
Castilho observou também que as cores das camisas dos goleiros da época facilitavam a vida dos artilheiros, pois as cores escuras que vestiam servia de ponto de referência para os adversários: eles podiam entrar na área com a bola dominada, que com o canto do olho já sabiam onde estava o goleiro. Assim, ele passou a vestir uniformes de cores mais neutras, como cinza claro, para que se camuflasse com as cores das arquibancadas ou com as redes dos gols. Era daltônico e enxergava as cores trocadas. Da mesma forma que acreditava que era favorecido por ver como vermelhas as bolas amarelas, era prejudicado pelas bolas brancas a noite.
Na época, os goleiros jogavam sem luvas. Era comum eles quebrarem dedos após defesas, tendo que até mesmo encerrar suas carreiras devido a essas contusões. No Torneio Rio-São Paulo de 1953, fraturou o dedo mínimo da mão esquerda pela primeira vez, ficando fora do gol tricolor em várias oportunidades. Em 1955, teve que extrair os meniscos e passou a se revezar no gol com o parceiro Veludo; assim, nesse ano jogou apenas 19 vezes, sua pior marca, já que ficou mais de um ano sem jogar, voltando apenas em abril do ano seguinte. Em 1957, ficou novamente fora dos gramados por 45 dias após fraturar o mindinho esquerdo pela quinta vez. Avaliado pelo Dr. Newton Paes Barreto, descobriu que a lesão era proveniente de uma destruição óssea e que ele deveria passar por outros três meses de tratamento ou até mesmo parar de jogar. Como profissional, Castilho era um obcecado. Foi ao mesmo tempo um exemplo de estoicismo e uma mostra de sua loucura quando ele resolveu amputar a metade do dedo para retornar mais rápido aos jogos decisivos da temporada. Duas semanas depois da amputação, ele já havia voltado a jogar pelo Fluminense contra o Flamengo. Um gesto extremo de amor ao seu ofício.
“O fato concreto é que, no meu entendimento, meu dedo continuaria imóvel, e isso me roubava a autoconfiança. Foi quando pensei na amputação parcial. Só com ela eu me sentiria novamente confiante. Dr. Paes Barreto foi contrário à operação. Ficou então determinado que, para que houvesse a operação eu teria de assinar um termo de responsabilidade. Vivi um drama durante 48 horas. De um lado a minha convicção de que só a amputação resolveria o meu problema. No outro lado minha senhora e os médicos não concordavam. Telefonei para o Dr. Paes Barreto e fui franco. Se não houver operação não poderei mais continuar jogando, assim não confio mais em mim. No dia seguinte dei entrada na Casa de Saúde. Eram oito horas. Paes Barreto já me esperava. Antes da anestesia, ainda ouvi sua última frase: ‘Castilho, você é louco!’.” ¹*
Pelo Fluminense, ainda em 1952, venceu a Taça Rio, uma espécie de Campeonato Mundial Interclubes, que reunia os principais campeões do mundo. O Flu venceu grandes times, entre eles o Peñarol, que tinha a base da fortíssima seleção uruguaia.
Em 1965 ele já estava desgastado no clube e queria mudar de ares. A diretoria “pó-de-arroz” não permitiu que ele fosse para o Vasco, mas o liberou por empréstimo para o Paysandu. No clube paraense, foi campeão estadual e encerrou a carreira. Na comemoração dos 98 anos do Paysandu, Castilho foi eleito o melhor goleiro da história do clube, em eleição organizada por cem eleitores ilustres e coordenada pelo jornalista e historiador Ferreira da Costa.
“Não se deve parar de olhar a bola nem quando ela está nas mãos do gandula. Ela é nossa maior inimiga, e só vigiando-a o tempo todo que nós deixaremos de tomar o ‘frango do fotógrafo’, aquele que levamos por uma distração, por estarmos conversando.” – Castilho.
● Pela Seleção Brasileira, conquistou o primeiro título relevante fora do Brasil: o Campeonato Pan-Americano de 1952, em Santiago. A final contra o Uruguai foi conturbada, terminando com uma série de agressões e confusões. O Brasil minimizou a dor da derrota na final da Copa de 1950, já que boa parte do elenco uruguaio ainda era o mesmo. Disputou quatro Copas do Mundo: 1950 (reserva de Barbosa, foi vice-campeão em casa), 1954 (única como titular), 1958 e 1962 (bicampeão, na reserva de Gylmar). Esteve na Copa América em 1953 e 1959, além de vários torneios e partidas amistosas. Disputou 29 jogos e sofreu 30 gols.
Após parar, Castilho adiou o sonho de ser treinador após o nascimento de seu primeiro filho homem. Em 1967, começou a nova carreira no mesmo Paysandu, sendo campeão paraense em 1967 e 1969. Esteve no Vitória entre 1973 e 1974 e até setembro de 2009 era o técnico que mais tinha dirigido e vencido pelo clube na Série A do Campeonato Brasileiro (foi ultrapassado por Vágner Mancini). Passou pelo Sport Recife e foi para o Operário, do Mato Grosso, onde conquistou o tricampeonato estadual em 1976/77/78 e levou a equipe ao terceiro lugar da série A do Campeonato Brasileiro em 1977. Passou pelos rivais gaúchos Grêmio e Inter, até chegar ao Santos, onde conquistou o Campeonato Paulista de 1984. Em 1986, foi treinar a seleção da Arábia Saudita e participou da Copa Asiática de Seleções. Voltaria ao Brasil no ano de 1987 com o sonho de ser técnico do seu Fluminense.
Castilho cometeu suicídio em 02/02/1987, aos 59 anos, no bairro de Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro. Ele foi visitar sua ex-esposa e, inesperadamente, saiu correndo pela sala e se atirou pela janela do apartamento, que ficava no sétimo andar do prédio. Ele não deixou explicações e nem carta de despedida, mas passava por problemas particulares. Pessoas próximas a ele indicam que ele sofria de depressão pelo esquecimento do público, mas o motivo exato é desconhecido por todos, até por sua família. Uma versão é que o ex-goleiro sofria de transtorno bipolar. Outra possibilidade é alguma enfermidade incurável que pudesse ter, pois sentiu fortes dores no mês de janeiro, na Arábia Saudita, e ele não revelou o conteúdo de seu exame a ninguém. Muitos falam em crise amorosa, já que ele vivia com a segunda mulher, Evelyna, que se recusou a viajar com ele para os Emirados Árabes Unidos dias antes. Essa separação brusca pode ter ocasionado seus distúrbios emocionais.
Castilho deixou cinco netos e dois filhos, um homem (Carlos) e uma mulher (Shirley), ambos de seu primeiro casamento. Sua primeira esposa (Vilma Lopes de Castilho) está viva e reside no Rio de Janeiro. O filho de Castilho, Carlos Roberto Lopes de Castilho, é executivo da Diretoria de Empresas da Cielo, líder do setor de pagamentos eletrônicos com máquinas de cartões de crédito e débito.
Sua história foi destacada em vários livros: “Castilho – Bicampeão Mundial de Futebol”, de Antônio Carlos Teixeira Rocha (2003); “Os goleiros do Fluminense – De Marcos de Mendonça a Fernando Henrique”, de Antônio Carlos Teixeira Rocha (2003); “Fluminense Football Club, história, conquistas e glórias no futebol” de Antônio Carlos Napoleão (2003); “O último homem da defesa”, de Antônio Carlos Teixeira Rocha (2005); “Goleiros: Heróis e anti-heróis da camisa 1”, de Paulo Guilherme (2006); “Os 11 maiores goleiros do futebol brasileiro”, de Luís Augusto Simon (2010). O vestiário do departamento de futebol profissional do Fluminense tem o seu nome. Em 2007, o Tricolor das Laranjeiras inaugurou um busto de Castilho na entrada da sede social do clube, como agradecimento pelos serviços prestados, muito acima do que se pode esperar de um jogador profissional, pelas enormes e cegas demonstrações de amor pelo clube. Será sempre o maior ídolo dos tricolores em todos os tempos. Um dos grandes goleiros brasileiros na história.
● Feitos e premiações de Castilho:
Como jogador, pela Seleção Brasileira:
– Campeão da Copa do Mundo em 1958 e 1962.
– Vice-campeão da Copa do Mundo em 1950.
– Campeão do Campeonato Pan-Americano em 1952.
– Campeão da Copa Roca em 1957.
– Campeão da Taça Bernardo O’Higgins em 1955.
– Campeão da Taça Oswaldo Cruz em 1950 e 1962.
Como jogador, pelo Fluminense:
– Campeão da Copa Rio em 1952 (equivalente a um Campeonato Mundial de Clubes, na época).
– Campeão do Campeonato Carioca em 1951, 1959 e 1964.
– Campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1957 e 1960.
– Campeão do Torneio Municipal do Rio de Janeiro em 1948.
– Campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca em 1954 e 1956.
– Campeão Regional Taça Brasil – Zona Sul em 1960.
– Campeão do Torneio José de Paula Júnior em 1952, em Minas Gerais.
– Campeão da Copa das Municipalidades do Paraná em 1953.
– Campeão da Taça Casa Nemo em 1949.
– Campeão da Taça Embajada de Brasil em 1950, no Peru (Sucre x Fluminense).
– Campeão da Taça Comite Nacional de Deportes em 1950, no Peru (Alianza Lima x Fluminense).
– Campeão da Taça General Manuel A. Odria em 1950, no Peru (Seleção de Arequipa x Fluminense).
– Campeão da Taça Adriano Ramos Pinto em 1952 (mesma partida da final da Copa Rio, entre Fluminense x Corinthians).
– Campeão da Taça Cinquentenário do Fluminense em 1952 (mesma partida da final da Copa Rio, entre Fluminense x Corinthians).
– Campeão da Taça Milone em 1952 (mesma partida da final da Copa Rio, entre Fluminense x Corinthians).
– Campeão da Taça Ramon Cool J em 1960, na Costa Rica (Deportivo Saprissa x Fluminense).
– Campeão da Taça Canal Collor em 1960, no México (San Lorenzo-ARG x Fluminense).
– Campeão da Taça Embotelladora de Tampico SA em 1960, no México (Deportivo Tampico x Fluminense).
– Campeão da Taça Dínamo Moscou x Fluminense em 1963.
– Campeão da Taça Benemérito João Lira Filho em 1947 (inauguração do estádio do Olaria, entre Fluminense x Vasco).
– Campeão da Taça V.C Borba em 1947 (Atlético-PR x Fluminense).
– Campeão da Taça Folha da Tarde em 1949 (Internacional x Fluminense).
– Campeão do Troféu Prefeito Acrisio Moreira da Rocha em 1949 (Flamengo x Fluminense).
– Campeão da Taça Secretário da Viação de Obras Públicas da Bahia em 1951 (Bahia x Fluminense).
– Campeão da Taça Madalena Copello em 1951 (Flamengo x Fluminense).
– Campeão da Taça Desafio em 1954 (Fluminense x Uberaba Sport Club).
– Campeão da Taça Presidente Afonsio Dorázio em 1956 (Seleção de Araguari-MG x Fluminense).
– Campeão da Taça Vice-Presidente Adolfo Ribeiro Marques em 1957 (Combinado de Barra Mansa x Fluminense).
– Campeão da Taça Cidade do Rio de Janeiro em 1957 (Fluminense x Vasco).
– Campeão da Taça Movelaria Avenida em 1959 (Ceará x Fluminense).
– Campeão da Taça CSA x Fluminense em 1959.
Como jogador, pelo Paysandu:
– Campeão do Campeonato Paraense em 1965.
Como técnico, pelo Santos:
– Campeão do Campeonato Paulista de 1984.
Como técnico, pelo Paysandu:
– Campeão do Campeonato Paraense em 1967 e 1969.
Como técnico, pelo Operário:
– Tricampeão do Campeonato Mato-Grossense em 1976, 1977 e 1978.
– 3º lugar na Série A do Campeonato Brasileiro de 1977.
Distinções e premiações individuais:
– Prêmio Belfort Duarte em 1955 (premiação individual que homenageava o jogador de futebol profissional que passasse dez anos sem ser expulso de campo, tendo jogado pelo menos 200 partidas).
¹* Trecho extraído da obra:
GUILHERME, Paulo. Goleiros: Heróis e anti-heróis da camisa 1. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2006.
Três pontos sobre… … Ferenc Puskás: 10 anos sem a lenda
(Imagem: FIFA)
● Hoje completa dez anos da morte de Ferenc Puskás, um dos maiores jogadores da história do futebol. Seu nome de registro era Ferenc Purczeld Biró (Purczeld Biró Ferenc, no padrão húngaro), mas sua família alterou o nome de origem alemã em uma das muitas mudanças de “ânimos” políticos húngaros, em uma época em que o nacionalismo era extremo no país, forçando muitas famílias a adaptar o sobrenome. “Puskás”, em húngaro, significa revólver. Ou seja, Puskás era matador até no nome.
Era mais conhecido em sua terra como “Öcsi Puskás”. O apelido surgiu em um dia em que Puskás estava resfriado e de cama, enquanto seu pai foi trabalhar (jogava no Kispest) e sua mãe foi fazer compras. Ele fugiu pela janela e foi jogar bola com os amiguinhos em um terreno baldio. Quando sua mãe voltou e o viu, pegou o rolo de macarrão para lhe dar uma lição, mas os demais meninos fizeram uma barreira ao redor de Ferenc para protegê-lo, dizendo: “Não bate nele, dona Puskás, ele é nosso irmãozinho”. É que Puskás era o mais novo de todos e eles o chamavam de “Öcsi” (irmãozinho em húngaro).
Em janeiro de 1949, a Hungria se tornou um estado comunista e os clubes de futebol foram nacionalizados. O time de Puskás, Kispest FC, foi assumido pelo Ministério da Defesa e tornou-se o time do exército húngaro, chamado Honvéd (defensores da pátria, no idioma local). O técnico era Gusztáv Sebes, Vice-Ministro do Esporte húngaro, que teve a liberdade de juntar alguns dos melhores jogadores do país no mesmo time. Todos esses craques tinham suas patentes no exército nacional e Puskás era major. Aí se origina outro de seus apelidos: “Major Galopante”.
(Imagem: Lance!)
Pela seleção da Hungria, entre 1945 e 1956 disputou 85 partidas e marcou incríveis 84 gols. Ainda é o segundo maior artilheiro por uma seleção, perdendo apenas para o iraniano Ali Daei (109 gols em 150 jogos). Entre 1950 e 1956, a seleção da Hungria perdeu apenas uma partida: justamente a final da Copa do Mundo de 1954, para a Alemanha Ocidental, por 3 a 2.
No Real Madrid, fez uma parceria memorável com Alfredo Di Stéfano e conquistou três UEFA Champions League. Na final do torneio de 1959/60, os merengues venceram o Eintracht Frankfurt por 7 x 3, com 3 gols de Di Stéfano e 4 de Puskás. Na Espanha, ganhou os apelidos de “Pancho” (uma variante diminutiva em espanhol de Francisco – Ferenc em castelhano) e “Cañoncito Pum” (algo como “tiro de canhão”, em tradução livre). Esteve também na Copa do Mundo de 1962, atuando pela Espanha, que foi eliminada na primeira fase.
Como técnico, treinou equipes dos cinco continentes, mas teve raros sucessos em times pequenos. Conquistou títulos na Austrália, mas teve mais destaque com o Panathinaikos conquistando o bicampeonato grego em 1971 e 1972, além de ser vice-campeão da UEFA Champions League de 1970/71, perdendo para o forte Ajax, de Johan Cruijff e cia.
Só voltou a seu país em 1981 e em 1995 foi alçado à patente de coronel. Em 1997, em comemoração aos seus 70 anos, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Juan Antonio Samaranch, outorgou a Puskás a ordem de honra do COI, máxima condecoração olímpica. Desde o ano 2000, o craque sofria do Mal de Alzheimer e passou a ter dificuldades financeiras, no que foi prontamente amparado pelo Real Madrid. No ano seguinte, o Népstadion, de Budapeste, seria renomeado Estádio Puskás Ferenc. Faleceu há exatos dez anos, no hospital Kütvolgyi, na capital de seu país, depois de ficar internado com um pneumonia por dois meses. Desde 2009 a FIFA concede o Prêmio Puskás ao autor do gol mais bonito do ano. Homenagem justíssima a uma lenda do esporte.
(Imagem: O Gol)
● Feitos e premiações de Ferenc Puskás:
Pela Seleção da Hungria:
– Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de 1952.
– Vice-campeão da Copa do Mundo de 1954.
Pelo Honvéd:
– Campeão do Campeonato Húngaro em 1949/50, 1950-especial, 1952, 1954 e 1955.
Pelo Real Madrid:
– Campeão da Copa dos Campeões da UEFA (atual UEFA Champions League) em 1958/59, 1959/60 e 1965/66.
– Campeão da Copa Intercontinental em 1960.
– Campeão do Campeonato Espanhol em 1960/61, 1961/62, 1962/63, 1963/64 e 1964/65.
– Campeão da Copa do Generalíssimo (atual Copa do Rei) em 1961-1962.
Como Técnico, pelo Panathinaikos (Grécia):
– Vice-campeão da UEFA Champions League em 1971.
– Campeão do Campeonato Grego em 1971 e 1972.
Como técnico, pelo South Melbourne (Austrália):
– Campeão do Campeonato Australiano em 1991.
– Campeão da Copa da Austrália em 1990.
– Campeão da Copa Dockerty em 1989 e 1991.
Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro do Campeonato Húngaro em 1947/48 (50 gols), 1949/50 (31 gols), 1950 (25 gols) e 1953 (27 gols).
– Artilheiro do Campeonato Espanhol em 1959/60 (25 gols), 1960/61 (28 gols), 1962/63 (26 gols) e 1963/64 (21 gols).
– Artilheiro da UEFA Champions League em 1959/60 (12 gols) e 1963/64 (7 gols).
– Chuteira de Ouro do Mundo em 1948 (50 gols).
– Jogador Europeu do Ano em 1953.
– Bola de Ouro da Copa do Mundo de 1954.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo de 1954.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Prêmio Jogador de Ouro da Hungria no Jubileu da UEFA em 2004.
– Membro do Hall da Fama da FIFA desde 1998.
– Jogador Europeu do Século XX pelo jornal L´Equipe.
– Maior Artilheiro do Século XX pela IFFHS.
– 7º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela revista World Soccer.
– 6º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela IFFHS.
– 2º lugar na lista dos melhores jogadores europeus do século XX pela IFFHS.
– Melhor jogador húngaro do século XX pela IFFHS.
● Frases de Puskás e sobre Puskás:
“Os adversários podem jogar melhor, mas a bola é redonda para todos.” — Puskás.
“Futebol é muito simples: o time que tem a bola precisa jogar, o time que não tem a bola precisa marcar.” — Puskás, filosofando.
“Nós jogamos alegremente, eles disputaram o título.” — Puskás, sobre a derrota da Hungria para a Alemanha na final da Copa do Mundo de 1954.
“Deus disse: ao sétimo dia descansarás. Bom, homem, isso é o que deve fazer um técnico. O domingo é dos jogadores. Quando estão em campo, para que dar cambalhotas no banco ou gritar até ficar surdo, se eles são os únicos que podem virar um resultado ou ganhar uma partida? Eu, todavia, não vi ninguém que ganhou uma partida olhando.” — Puskás, em grande frase, reproduzida no segundo livro da coleção dos 90 anos da revista El Gráfico.
“O maior jogador de futebol do mundo foi Di Stéfano. Eu me recuso a classificar Pelé como jogador. Ele está acima de tudo.” — Puskás.
“Quando olho para trás, vejo que ao longo de minha vida uma única linha se desenvolveu – apenas o futebol. Foi uma linha simples, direta, sem ambições conflitantes. Desde aquele momento na minha infância quando ouvi o misterioso clamor da multidão no estádio Kispest, a apenas alguns metros de distância da janela da nossa cozinha, acho que já estava predestinado.” — o próprio craque, na biografia “Puskás – Uma lenda do futebol mundial.”
“Ele era um jogador especial do seu tempo, sem nenhuma dúvida. Como a Hungria não venceu a Copa do Mundo de 1954 está além da minha compreensão.” — Sir Alex Ferguson, sobre Puskás.
“De todos nós, ele era o melhor. Ele tinha um sétimo sentido para o futebol. Se havia 1000 soluções, ele pegaria a 1001ª.” — Nandor Hidegkuti, companheiro de Puskás na seleção da Hungria.
“Olhe aquele cara gordo. Vamos acabar com ele.” — Jogador inglês não identificado, antes da derrota por 6 a 3 em 1953, em pleno Wembley.
“No seu livro, Puskás disse que se eu não tivesse jogado bem eles teriam marcado 12 gols! Era um privilégio jogar contra aquele time, mesmo que tenham acabado com a gente. O Puskás não era apenas um grande jogador de futebol, mas também um homem adorável.” — Goleiro inglês Gil Merrick.
“Ferenc realmente era um jogador maravilhoso. Ele era rechonchudo, mas um maravilhoso canhoto e um finalizador brilhante. Eu colocaria Puskás em qualquer lista dos melhores de todos os tempos. Um jogador maravilhoso, uma pessoa maravilhosa e ele gostava de jogar.” Sir Tom Finney.
“Puskás era um inferno para os goleiros a 30-35 metros de distância. Ele não tinha apenas um chute poderoso, mas também muita precisão. Eu o considerava um gênio.” — Raymond Kopa, companheiro de Puskás no Real Madrid.
“O homem era um super-talento. Eu perdi um amigo e um jogador de qualidade. Era assim que Puskás era como pessoa e jogador de futebol. Ele era um dos maiores jogadores de todos os tempos. Mas a vida, meu amigo, chega ao final quando você menos espera.” — Alfredo Di Stéfano, companheiro de Puskás do Real Madrid.
“Ele se deu bem com todos e tinha um caráter muito jovial que o ajudou a jogar com uma quantidade impressionante de alegria e serenidade. Ele tinha um grande chute e ele poderia acelerar muito rapidamente, tinha qualidades diversificadas e, sobretudo, tinha explosão.” — Luis Suárez, companheiro de Puskás na seleção da Espanha.
“Não houve um húngaro que não tenha ficado tocado pela morte de Ferenc Puskás. O húngaro mais famoso do século 20 nos deixou, mas a lenda vai sempre estar entre nós.” — Ferenc Gyurcsany, ex-primeiro ministro húngaro.
“Todos nós nos apaixonamos por Puskás e pela seleção húngara nos anos 50. Ele só tinha a perna esquerda e fazia maravilhas com ela.” — Armando Nogueira, um dia após o falecimento de Puskás.
“Ferenc foi um gênio porque nasceu sabendo.” — Mauro Beting em “As melhores seleções estrangeiras de todos os tempos”.
“Eu estava com (Bobby) Charlton, (Denis) Law e Puskás, estávamos dando aula em uma academia de futebol na Austrália. Os jovens que estávamos treinando não o respeitavam, fazendo piadas com o seu peso e sua idade. Nós decidimos deixar os garotos desafiarem um técnico a acertar uma barra 10 vezes seguidas. Obviamente, ele escolheram o velho gordo. Law perguntou aos meninos quantas vezes em 10 o treinador velho e gordo acertaria. A maioria disse que menos de cinco. Era melhor ter dito 10. O treinador velho e gordo se adiantou e acertou nove em sequência. No décimo chute, ele levantou a bola no ar, tocou com os dois ombros e a cabeça, deixou ela cair para o calcanhar e chutou de voleio na barra. Todos ficaram em silêncio e um dos meninos perguntou quem ele era e eu respondi: ‘Pra você, o nome dele é Senhor Puskás'”. — George Best.
“É importante preservar a memória dos grandes nomes do futebol que deixaram sua marca na nossa história. Ferenc Puskás era não só um jogador com imenso talento que ganhou muitas honras, mas também um homem notável. É, portanto, um prazer para a FIFA lhe prestar homenagem e lhe dedicar este prémio à sua memória.” — Joseph Blatter, ex-presidente da FIFA, sobre o prêmio “Ferenc Puskás”.
● Terceiro filho de Anny e Erwin Seeler (ex-jogador do Hamburgo), Uwe nasceu em Hamburgo, norte da Alemanha, em 05/11/1936 (exatamente 80 anos atrás). Na sua carreira, defendeu apenas duas camisas: Hamburger SV (clube de sua cidade natal) e a seleção da Alemanha Ocidental. A cidade retribuiu e o transformou em uma celebridade e cidadão honorário desde 2003. É considerado o melhor jogador da história do Hamburgo e um verdadeiro símbolo. Começou nas divisões de base aos dez anos e toda a vida recusou diversas propostas de transferência, tanto de clubes alemães, quanto de equipes estrangeiras. Pagou um preço por essa lealdade, conquistando apenas dois títulos em dezenove temporadas no clube (1953 a 1972). Foi campeão alemão da temporada 1959/60 (vice em 1957 e 1958) e conquistou a Copa da Alemanha em 1962/63 (3 x 0 no Borrussia Dortmund, com Seeler fazendo os três gols – foi vice em 1956 e 1967). Na Liga dos Campeões de 1960/61, ao lado de seu irmão Dieter Seeler, foi até as semifinais onde perdeu para o Barcelona (que seria vice). Teve a chance de um título continental, mas perdeu a final da Recopa Europeia de 1968 para o Milan (foi artilheiro da competição).
Pelo Hamburgo, marcou 764 gols em 810 jogos (ambos recordes difíceis de serem batidos no clube). Foi oito vezes o artilheiro do campeonato alemão (1955: 28 gols; 1956: 32 gols; 1957: 31 gols; 1959: 29 gols; 1960: 36 gols; 1961: 29 gols; 1962: 28 gols), sendo o primeiro goleador da Bundesliga (criada em 1963/64) com 30 gols. Foi o artilheiro da Copa da Alemanha em 1956 e 1963 e três vezes eleito como o jogador alemão do ano (1960, 1964 e 1970). No total da Liga Alemã, anotou 404 gols em 476 partidas, sendo 137 gols em 239 jogos pela Bundesliga. Recebeu um único cartão vermelho na carreira, em 1970. Foi eleito o terceiro melhor jogador do ano de 1960 pela Bola de Ouro da revista France Football (primeiro alemão no pódio do prêmio). Pelé o nomeou para a polêmica lista “FIFA 100” (os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
Era um centroavante baixo para os padrões alemães, ainda mais para a época. Tinha só 1,69 m, mas muita força física. É considerado o precursor do homem de área germânico, o primeiro dos “Panzer” (tanques de guerra do país). Seeler tinha muita potência, brigava por espaço na área adversária e o conquistava, chegando com relativa facilidade ao gol. Seus gols eram simples, sem dribles, classe, efeitos, mas no duelo por espaço e na bola aérea (apesar de não ser alto) ele era imbatível. Era chamado pelos compatriotas de “Rei dos 18 metros” (o tamanho da grande área). Sua raça e sua dedicação em campo eram contagiantes e sua eficiência impressionava. Ele acabou ensinando às gerações futuras de atacantes que o jogo de corpo e a proteção da bola era a saída para quem não nasceu craque. Olivier Bierhoff e Miroslav Klose, dentre outros, aprenderam direitinho.
Seis anos após ter se aposentado, em 23/04/1978, disputou uma partida pelo Cork Celtic, a convite da Adidas, de seu amigo Adi Dassler. Marcou os dois gols na derrota por 2 x 6 contra o Shamrock Rovers, pelo campeonato da Irlanda.
● Na seleção, lhe faltou um pouco de sorte, pois a Alemanha Ocidental venceu as Copas de 1954 e 1974 e Uwe Seeler disputou como titular quatro Copas do Mundo (1958, 1962, 1966 e 1970 – 21 partidas no total), ou seja, todas as Copas entre um título e outro. Sua melhor classificação foi o vice-campeonato em 1966, quando perdeu na prorrogação para a anfitriã Inglaterra. Foi 3ª colocado na Copa de 1970 e 4º em 1958. Curiosamente, possui o recorde de marcar gols em quatro Copas do Mundo diferentes, em todas que disputou, juntamente com Pelé, Miroslav Klose e Cristiano Ronaldo. Era o capitão em 1966 e em 1970. Quando se aposentou, em 1972, a Federação de Futebol Alemã lhe concedeu a honraria de “capitão honorário da seleção”. É o único com tal honraria que nunca conquistou títulos pelo seu país.
Em fevereiro de 1965 sofreu uma ruptura do tendão de aquiles da perna direita e chegou a ter o fim da carreira anunciada. Mas ele voltou a jogar em agosto, às vésperas da convocação da seleção para o jogo contra a Suécia, para as eliminatórias da Copa de 1966. Foi selecionado, jogou e fez o gol da vitória dos alemães. Na Copa de 1970, fez 3 gols, mas foi obrigado a jogar fora de suas características, chamando a marcação e abrindo espaço para que surgisse um novo matador e artilheiro à sua altura: Gerd Müller.
Em 1987, na primeira Copa Pelé de Masters, a Alemanha tinha um “pequeno barril” no ataque, causando o riso de todos. Quando o “tiozinho” tocou na bola, todos ficaram estupefatos e viram que o velhote sabia das coisas. Sua equipe não foi muito longe no torneio, mas ele foi um dos destaques. No total, pela Alemanha Ocidental, fez 72 jogos e marcou 43 gols. O total da carreira foi 815 gols em 882 jogos.
● Uwe se casou em 18/02/1959 com Ilka (que conheceu no réveillon de 1953) e tem três filhas e sete netos. Um deles, Levin Öztunalı, de apenas 20 anos, é um meia que atua no Mainz 05.
Em 1972, Uwe interpretou a si mesmo em um filme de comédia alemã chamado “Willi wird das Kind schon schaukeln” (algo como “Willi vai fazer alguma coisa certa”). No fim do filme, um time de futebol chamado Jungborn faz uma contratação espetacular: o próprio Seeler. Todo mundo está em festa, mas o técnico do time, Willi Kuckuck (Heinz Erhardt), fica perplexo e pergunta: “Quem diabos é esse cara?”. Piada pronta, pois Seeler era um dos rostos mais conhecidos do país na época.
Em 1995, assumiu a presidência do Hamburgo, renunciando ao mandato em 1998 devido a um escândalo financeiro. Seeler não estava envolvido, mas assumiu a responsabilidade, pois funcionários indicados por ele foram responsáveis pelas irregularidades.
Em 24/08/2005 foi inaugurada uma escultura de seu pé direito, orçada em 250 mil euros e doada por um empresário alemão. Situada em frente a o estádio do Hamburgo, o Imtech Arena (antigo Volksparkstadion), com quatro toneladas, 5,15 metros de largura e 3,50 de altura, o monumento mostra um pé ferido e calejado por tantos esforços.
Publicou sua autobiografia em 2003, chamada “Obrigado, Futebol!”. Atualmente, vive em Norderstedt, perto de Hamburgo.
Três pontos sobre… … Mané Garrincha: “Anjo de Pernas Tortas”
(Imagem: paixaocanarinha.com.br)
● Em 1958, em testes antes da Copa, foi diagnosticado como “retardado” por João Carvalhaes, psicólogo da delegação brasileira. Por ser considerado irresponsável, não foi escalado como titular nos dois primeiros jogos do Brasil, mas, após dois jogos fracos da equipe, se tornou titular. No terceiro jogo, contra a União Soviética, o técnico Vicente Feola deu a ordem para atacarem diretamente na saída de bola, pelo lado direito, com Garrincha. Ele recebeu a bola na direita, driblou três adversários e chutou cruzado na trave. Ainda com menos de um minuto, deu uma assistência para Pelé também acertar a trave. Aos 2 minutos, Didi deu uma linda assistência para o gol de Vavá, que abriu o Placar. O jogo terminou com 2 a 0. Segundo o jornalista francês Gabriel Hanot (idealizador da Liga dos Campeões da Europa), aqueles foram “os três melhores minutos da história do futebol”. Foi campeão do mundo com a camisa 11, pois a 7 foi vestida por Zagallo. (O Brasil não enviou a numeração oficial e a FIFA “jogou” os números de forma aleatória.)
● Quando Pelé se contundiu logo no segundo jogo da Copa de 1962, Garrincha “fez papel de Pelé” e conduziu o Brasil ao título. Ele deu show nas quartas de final, no 3 a 1 contra a Inglaterra, com um gol de cabeça e outro em chute central da entrada da área. Em determinado momento, um cachorro invadiu o gramado e “driblou” vários jogadores, inclusive Garrincha, mas foi capturado pelo atacante Jimmy Greaves (apesar de ter ensopado a camisa do inglês de xixi). Após o jogo, o cão foi sorteado por um oficial chileno entre os jogadores brasileiros e Garrincha ganhou e lhe deu o nome de “Bi”. Nas semifinais diante dos anfitriões chilenos, Mané fez mais dois gols: um de perna esquerda e um de cabeça. Aos 38 minutos do segundo tempo, reagiu a uma cusparada e a um tapa na cara e revidou com um chute na bunda do chileno Eládio Rojas e foi expulso. Mas o julgamento foi marcado apenas para depois do último jogo da Copa. Foi a única expulsão em sua carreira. Na final contra a Tchecoslováquia, mesmo ardendo em febre, Garrincha liderou sua equipe e conquistou o segundo título mundial consecutivo. Na Copa de 1966, já atuava no Corinthians e estava completamente fora de forma, sem ritmo de jogo e se recuperando de uma lesão no joelho. Marcou um gol de falta no 2 a 0 contra a Bulgária, na estreia. No jogo seguinte, sem Pelé (lesionado), perdeu sua única partida com a camisa canarinho, para a Hungria, por 3 a 1. Não jogou contra Portugal no terceiro jogo e o Brasil foi eliminado ainda na fase de grupos.
● – Foi homenageado pela Mangueira no desfile das escolas de samba no Carnaval de 1980. Ele participou do desfile, mas estava completamente dopado por um remédio, pois tinha acabado de sair de uma internação por causa do alcoolismo.
– Diz a lenda que em um clássico entre Botafogo x Fluminense, o zagueiro Pinheiro se chocou com o ponta Quarentinha, se lesionando. A bole sobrou para Garrincha fazer o gol, livre, diante do goleiro, mas ele jogou a bola pela lateral para que seu adversário fosse atendido. Essa é uma das primeiras ocasiões conhecidas de “fair play“.
– Garrincha criou o “olé” no futebol. Em história contada no livro “Histórias do Futebol”, João Saldanha diz que foi no México, em 1957, no Estádio Universitário, em um amistoso contra o River Plate (ARG), quando Mané fez gato e sapato do lateral esquerdo adversário, Vairo. Segundo Saldanha, “toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamava: ‘Ô ô ô ô ô ô-lê!’ Foi ali, naquele dia, que surgiu a gíria do ‘olé’. As agências telegráficas enviaram longas mensagens sobre o acontecimento e deram grande destaque ao ‘olé’. As notícias repercutiram bastante no Rio e a torcida carioca consagrou o ‘olé’”.
– Garrincha costumava chamar todos seus marcadores de “João”. Isso porque certa vez um repórter perguntou quem era o lateral que iria lhe marcar. Ele não sabia e respondeu: “Escreve aí que é um tal de João”. Ficou a lenda. Provavelmente mais uma das histórias inventadas pelo jornalista Sandro Moreyra, muito amigo de Garrincha.
– Na Copa de 1958, na Suécia, Garrincha foi a uma loja com o dentista Mário Trigo e se apaixonou pelo rádio Telefunken. O craque estava maravilhado com o radinho de pilha, quando o massagista Mário Américo disse: “Esse rádio não funcionará no Brasil, ele só fala sueco! Façamos o seguinte: você pagou 180 coroas, te dou 90 para diminuir seu prejuízo.” Ciente de que tinha feito um bom negócio se desfazendo do rádio, Mané foi reclamar com o Dr. Mário Trigo. O dentista desfez a confusão e pegou mais 180 coroas com Paulo Machado de Carvalho (chefe da delegação) e comprar outro aparelho para o inocente Mané. Há várias versões dessa história, mas essa foi a confirmada pelo Dr. Mário Trigo.
– Certa vez o Botafogo foi fazer uma excursão em Madri e Garrincha sumiu logo na primeira noite. O técnico Zezé Moreira, conhecendo seu jogador, partiu em busca dele nas “casas de tolerância”. Chamou um táxi e começou a percorrer as barulhentas ruas da capital espanhola, cheias de mulheres de oferecendo. Quando avistou Garrincha, mandou o taxista parar. Já ia descendo do carro quando Mané, que também o viu, gritou, fazendo a maior festa: “Aí, hein, seu Zezé! O senhor também aqui na zona?” Zezé não soube o que fazer e partiu no mesmo táxi que o trouxe.
P.S.: Essas e outras histórias viraram folclore. Na verdade, nunca se soube o que era fato sobre o Mané e o que era exagero ou pura “criatividade” de seu amigo jornalista Sandro Moreyra.