… 06/06/1962 – Brasil 2 x 1 Espanha

Três pontos sobre…
… 06/06/1962 – Brasil 2 x 1 Espanha


Paco Gento e Mauro se cumprimentam antes da partida (Imagem: Pinterest)

● Havia uma dúvida muito grande para o confronto entre Brasil e Espanha: quem seria o substituto de Pelé? O Rei se lesionou aos 27 minutos do primeiro tempo da partida anterior, o empate sem gols contra a Tchecoslováquia três dias antes. Com uma distensão no músculo adutor da coxa esquerda, ele estava definitivamente fora do Mundial.

Várias hipóteses foram aventadas: a entrada de Coutinho, passando Vavá mais para a esquerda; a formação de um quadrado no meio-campo, com Zito, Didi, Mengálvio e Zagallo, ficando Garrincha e Vavá no ataque; ou simplesmente a escalação do reserva imediato de Pelé, o botafoguense Amarildo.

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Sabiamente, o técnico Aymoré Moreira optou pela solução mais natural: a entrada de Amarildo, apelidado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues de “O Possesso”.

A Espanha contava com uma legião estrangeira naturalizada: José Emilio Santamaría, zagueiro uruguaio; Eulogio Martínez, atacante paraguaio; Alfredo Di Stéfano, atacante argentino, que chegou à Copa lesionado e não disputou nenhuma partida; e Ferenc Puskás, atacante húngaro, com experiência anterior na Copa de 1954 pela vice-campeã Hungria. Mas desses, apenas Puskás jogou (e muito bem) contra o Brasil.


O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo


A Espanha jogava em um misto de WM e 4-2-4

● Foi um jogo muito difícil. O Brasil entrou em campo nervoso e com Zagallo recuado além da conta. A Espanha sufocou e saiu na frente aos 35 minutos do primeiro tempo. Adelardo tabela com Puskás e chuta rasteiro antes da chegada de Zito, da meia-lua, no canto direito de Gylmar.

Apesar da boa movimentação de Amarildo, a Seleção sentia falta de Pelé (e quem não sentiria?!). Mas além da disposição e bom futebol de Amarildo, Garrincha também brilhava, infernizando os espanhóis pela ponta direita.

No segundo tempo, as coisas poderiam ter se complicado de vez para o Brasil. O espanhol Enrique Collar driblou Nilton Santos e foi derrubado pelo lateral brasileiro, dentro da área. Experiente e “malandro”, Nilton deu dois passos para frente, indicando ao árbitro chileno Sergio Bustamante que a infração teria ocorrido fora da área. O juiz foi na dele e marcou falta ao invés de pênalti. Entretanto, na cobrança dessa mesma falta, Puskás cruzou, Zózimo errou o tempo de bola e Joaquin Peiró marcou um golaço de bicicleta. Novamente o árbitro beneficiou o Brasil e anulou o gol, alegando não se sabe o quê – não houve impedimento e nem jogo perigoso, pois Peiró estava a um metro e meio de Zózimo.

Reanimado, o Brasil começou a dominar a partida e foi para cima. Aos 27 minutos do segundo tempo, Zito passa para Zagallo, que cruza da esquerda, rasteiro, e Amarildo emenda de primeira, com violência, marcando o gol de empate.

O Brasil virou aos 41 minutos, quando Garrincha fez das suas jogadas individuais pela direita, passou por dois marcadores e cruzou da linha de fundo, na cabeça de Amarildo, que cabeceou bem, sem chances para o goleiro Araquistáin.


Seleção Brasileira campeã da Copa do Mundo de 1962, no Chile (Imagem: UOL Esporte)
Em pé: Djalma Santos, Zito, Gylmar, Zózimo, Nilton Santos e Mauro.
Agachados: Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo.

● Com duas vitórias e um empate, o Brasil estava classificado para as quartas de final em primeiro lugar do grupo 3. Tão importante quanto a classificação, foi o acerto na escalação de Amarildo.

Antes da partida, o técnico da Espanha, o franco-argentino Helenio Herrera, disse que o Brasil ficava muito fraco sem Pelé e chegou a perguntar quem era Amarildo. E “O Possesso” deu seu cartão de visitas a Herrera, anotando os dois gols.

Após a vitória, Pelé se emocionou e entrou de roupa e tudo debaixo do chuveiro para abraçar Amarildo, seu substituto e herói brasileiro na partida. Amarildo teve um “dia de Pelé”.

Se a Espanha vencesse, seria líder do grupo, com 4 pontos e o Brasil poderia ser eliminado (dependendo do resultado entre México x Tchecoslováquia). Como a Espanha perdeu e o México venceu, a Espanha acabou eliminada e em último lugar no grupo, o que impediu que Don Alfredo Di Stefano entrasse em campo em uma Copa do Mundo. A lenda do Real Madrid estava machucado e só poderia disputar a fase seguinte.

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 1 ESPANHA

 

Data: 06/06/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Sousalito

Público: 18.715

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Sergio Bustamante (Chile)

 

BRASIL (4-2-4):

ESPANHA (WM):

1  Gylmar (G)

1  José Araquistáin (G)

2  Djalma Santos

17 Rodri

3  Mauro (C)

7  Luis María Echeberría

5  Zózimo

10 Sígfrid Gràcia

6  Nilton Santos

22 Martí Vergés

4  Zito

13 Pachín

8  Didi

4 Enrique Collar (C)

7  Garrincha

12 Joaquín Peiró

19 Vavá

14 Ferenc Puskás

20 Amarildo

18 Adelardo

21 Zagallo

9 Francisco Gento

 

Técnico: Aymoré Moreira

Técnico: Helenio Herrera

 

SUPLENTES:

 

 

22  Castilho (G)

3  Carmelo (G)

12 Jair Marinho

2  Salvador Sadurní (G)

13 Bellini

8  Jesús Garay

14 Jurandir

11 Feliciano Rivilla

15 Altair

19 José Emilio Santamaría

16 Zequinha

16 Severino Reija

17 Mengálvio

20 Joan Segarra

18 Jair da Costa

5  Luis del Sol

9  Coutinho

15 Eulogio Martínez

10 Pelé

21 Luis Suárez

11 Pepe

6  Alfredo Di Stéfano

 

GOLS:

35′ Adelardo (ESP)

72′ Amarildo (BRA)

86′ Amarildo (BRA) 

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

● Posteriormente, o Brasil venceria a Inglaterra nas quartas de final (3 x 1), o anfitrião Chile nas semifinais (4 x 2) e a Tchecoslováquia na final (3 x 1), se sagrando bicampeão do mundo.

A média de idade do Brasil de 1962, com 30 anos e seis meses é a mais alta de uma seleção campeã mundial. A Itália de 2006 vem em segundo, com 29 anos e dois meses.

A Seleção Brasileira de 1962 foi o campeão que utilizou menos jogadores em uma Copa do Mundo. Foram apenas doze. A única substituição foi justamente Amarildo no lugar de Pelé.

“Em 1962, com a contusão de Pelé, descobriu-se um outro Garrincha. De repente, parou de brincar, ficou sério, compenetrado de que a conquista da Copa dependia dele. Quase sozinho, ganhou a Copa. Fez o que nunca tinha feito. Gols de cabeça, pé esquerdo, folha-seca. E driblou como um endiabrado, endoidando os adversários.” ― Sandro Moreyra, jornalista, botafoguense e amigo do Mané.

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