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… 25/06/1982 – Alemanha Ocidental 1 x 0 Áustria

Três pontos sobre…
… 25/06/1982 – Alemanha Ocidental 1 x 0 Áustria

“A vergonha de Gijón”


(Imagem: Werek / DPA / Corbis)

● Esse jogo é conhecido no idioma alemão como “Nichtangriffspakt von Gijón” (“Pacto de não-agressão de Gijón”) ou “Schande von Gijón” (“Vergonha de Gijón”). No resto do mundo, basta falar “Jogo da Vergonha”.

Essa partida foi a última da terceira rodada do Grupo 2, pois Argélia e Chile haviam se enfrentado no dia anterior, com vitória dos argelinos por 3 x 2. Com isso, alemães e austríacos entraram em campo no dia 25/06/1982 sabendo antecipadamente do que precisariam para que ambas as equipes conseguissem a classificação.

A Argélia tinha 4 pontos e nenhum gol de saldo e isso não mudaria. A Áustria tinha 4 pontos e três gols de saldo. A Alemanha tinha dois pontos e dois gols de saldo. Como a vitória valia dois pontos, bastaria a Alemanha vencer por um ou dois gols de diferença que se classificaria juntamente com a Áustria justamente pelo critério de saldo de gols. Ou seja, bastaria que as duas seleções “combinassem” um placar que fosse bom para ambas. Conhecendo o histórico das “estratégias” dos alemães, é lógico que fariam algo assim.


(Imagem: Impromptuinc)

● As duas seleções estavam no mesmo Grupo nas eliminatórias europeias, juntamente com Bulgária, Albânia e Finlândia. A Alemanha Ocidental venceu as duas vezes: 2 x 0 em Hamburgo e 3 x 1 em Viena. A Alemanha terminou como líder, com 100% de aproveitamento, oito vitórias em oito jogos, 33 gols marcados e apenas três sofridos. A Áustria ficou em segundo no grupo, com dois pontos a mais que a Bulgária. Em oito partidas, os austríacos venceram cinco, empataram um (com a Bulgária, em Sófia) e perderam as duas vezes para os alemães. Marcaram 16 gols e sofreram seis.

Um mês depois de garantir a qualificação para o Mundial, a Federação Austríaca demitiu o técnico Karl Stotz e convidou para o cargo o então técnico do Hamburgo, o também austríaco Ernst Happel. Por ter contrato vigente com o clube alemão, ele precisava ser liberado pela Bundesliga para aceitar o convite. O presidente da Bundesliga disse então que se Alemanha e Áustria fossem sorteadas no mesmo grupo da Copa, o técnico não seria liberado. E foi justamente o que aconteceu. O assistente de Stotz, Georg Schmidt foi promovido como um dos técnicos da seleção, juntamente com Felix Latzke.

A Alemanha Ocidental vinha credenciada pelo título da Europa em 1980. Não contava com Bernd Schuster (que preferiu passar as férias com a esposa do que disputar o Mundial), mas tinha jogadores como o ex-lateral e agora meia Paul Breitner, o meia Felix Magath e o atacante Karl-Heinz Rummenigge.

A Áustria também tinha um bom time, com destaques para o goleiro Friedrich Koncilia, o zagueiro e capitão Erich Obermayer, o meia Herbert Prohaska e os atacantes Walter Schachner e Hans Krankl.


(Imagem: Futebol na Veia)

● Na ocasião, o equilíbrio entre os dois vizinhos era enorme. Em quatro confrontos, eram duas vitórias para cada lado. O primeiro jogo foi nos Jogos Olímpicos de 1912, em Estocolmo, e os austríacos venceram por 5 x 1. Os outros três duelos foram em Copas do Mundo. Na decisão do 3º lugar de 1934, a Alemanha venceu por 3 x 2. Nas seminais de 1954, goleada alemã por 6 x 1.

Na segunda fase do Mundial anterior, em 1978, a Áustria tinha feito um jogo duríssimo, vencendo a Alemanha Ocidental por 3 x 2, o que tirou de vez os germânicos da final da Copa. Assim, a rivalidade entre os dois países vizinhos teoricamente estava aflorada. Todos esperavam uma revanche, mas…

Tudo começou quando a Alemanha Ocidental perdeu na estreia para a Argélia por 2 x 1, com gols de Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi. Foi a primeira vitória de uma seleção africana sobre uma europeia na história das Copas. Na segunda partida, a Nationalelf venceu o Chile por 4 x 1.

Em suas duas primeiras partidas, a Áustria venceu o Chile por 1 x 0 e a Argélia por 2 x 0. Estava praticamente classificada. Só seria eliminada em caso de derrota por três ou mais gols de diferença.


A Alemanha Ocidental jogou no esquema 4-3-3.


A Áustria foi escalada no sistema 4-4-2.

● Assim que rolou a bola, a Alemanha começou a pressionar em busca do gol.

E ele aconteceu logo aos 10′. Pierre Littbarski cruzou da esquerda e Horst Hrubesch se antecipou ao goleiro Koncilia e desviou para o gol.

A torcida vibrou pelo começo triunfal da Nationalelf. Pelo nível que os teutônicos impuseram no início, muitos esperavam até uma goleada.

Mas foi só isso. Com o placar resolvido e a classificação de ambos encaminhada, os dois times trataram de manter a posse de bola, trocando passes infrutíferos no meio de campo e na defesa até expirar o tempo regulamentar e o juiz dar o apito final.

Em certo momento, o árbitro escocês Bob Valentine parou o jogo para chamar os capitães dos dois times e pedir a eles que orientassem seus companheiro a jogarem futebol. Mas de nada adiantou o pedido do juiz.

Foram 80 minutos de pura procrastinação em campo.

O máximo que houve foram dois chutes ao gol, de Felix Magath e Karl-Heinz Rummenigge. Ambos resultaram em defesas fáceis do goleiro Friedrich Koncilia.

Pelo lado austríaco, Walter Schachner era o mais inquieto, mas não produziu chances de gol.

Não demorou para os 41 mil presentes no estádio El Molinón começasse a vaiar e a gritar “Argélia, Argélia”. Foram ouvidos também os gritos de “fora, fora” e “beija, beija” – como se as seleções dos dois países vizinhos fossem “namoradinhos”.

Enquanto isso, os argelinos sofriam com a sensação de impotência. Estavam vendo sua seleção ser eliminada em um “jogo de compadres” e nada podiam fazer. Alguns argelinos que estavam na arquibancada tentaram invadir o gramado diversas vezes, mas não tiveram sucesso.

Muitas pessoas, especialmente argelinos, também mostravam dinheiro para os atletas e até atiravam moedas.

Antes mesmo do apito final, já era possível ver dirigentes dos dois países comemorando a “vitória”.

Na TV, o comentarista alemão Eberhard Stanjek se recusou a seguir trabalhando na partida por mais tempo. Seu colega austríaco Robert Seeger lamentou o “espetáculo” e pediu aos telespectadores que desligassem seus televisores para não dar audiência àquela vergonha.

E houve uma cena marcante: torcedor alemão, inconformado com a postura dos atletas em campo, queimou a bandeira de seu país.


(Imagem: UOL)

● No dia seguinte, um jornal de Gijón publicou a crônica dessa partida nas páginas policiais e não nas esportivas. O jornal alemão Bild estampou em sua manchete: “Passamos, mas que vergonha” e no também alemão Der Spiegel a capa dizia tudo: “Alemanha e Áustria enganam o público”.

Os argelinos chegaram a entrar com pedido de anulação do resultado na FIFA, que nada fez.

Na segunda fase, pelo Grupo 4, a Áustria perdeu para a França por 1 x 0, empatou com a Irlanda do Norte por 2 x 2 e foi eliminada.

Classificada em primeiro lugar da chave na primeira fase, a Alemanha disputou a fase de quartas de final no Grupo 2. Empatou sem gols com a Inglaterra e venceu a Espanha por 2 x 1. Nas semifinais, em um jogo de altíssimo nível, intensidade e polêmica, venceu a ótima França de Platini por 5 x 4 nos pênaltis, depois de empate por 1 x 1 no tempo normal e 2 x 2 na prorrogação. Na final, perdeu para a Itália por 3 x 1 e ficou com o vice-campeonato.

Anos mais tarde, alguns jogadores falaram sobre a partida. O austríaco Walter Schachner comentou que não sabia porque seus companheiros não corriam para marcar e demoravam para passar a bola: “Eu mesmo só soube depois, quando reclamei com o técnico que ninguém me passava a bola”. O alemão Hans-Peter Briegel disse que após o gol os dois times combinaram de fazer um jogo leve para que ninguém se machucasse. O goleiro Harald Schumacher negou qualquer tipo de combinação.

A partir de então, a entidade máxima do futebol decidiu que as duas partidas da rodada final da fase de grupos seriam jogadas simultaneamente, para que não se repita nada semelhante à “Vergonha de Gijón”.


(Imagem: Twitter @lbertozzi)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 1 x 0 ÁUSTRIA

 

Data: 25/06/1982

Horário: 17h15 locais

Estádio: El Molinón

Público: 41.000

Cidade: Gijón (Espanha)

Árbitro: Bob Valentine (Escócia)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-3-3):

ÁUSTRIA (4-4-2):

1  Harald Schumacher (G)

1  Friedrich Koncilia (G)

20 Manfred Kaltz

2  Bernd Krauss

15 Uli Stielike

3  Erich Obermayer (C)

4  Karlheinz Förster

5  Bruno Pezzey

2  Hans-Peter Briegel

4  Josef Degeorgi

6  Wolfgang Dremmler

19 Heribert Weber

3  Paul Breitner

10 Reinhold Hintermaier

14 Felix Magath

8  Herbert Prohaska

11 Karl-Heinz Rummenigge (C)

6  Roland Hattenberger

9  Horst Hrubesch

9  Hans Krankl

7  Pierre Littbarski

7  Walter Schachner

 

Técnico: Jupp Derwall

Técnicos: Felix Latzke / Georg Schmidt

 

SUPLENTES:

 

 

22 Eike Immel (G)

22 Klaus Lindenberger (G)

21 Bernd Franke (G)

21 Herbert Feurer (G)

12 Wilfried Hannes

12 Anton Pichler

19 Holger Hieronymus

13 Max Hagmayr

5  Bernd Förster

16 Gerald Messlender

17 Stephan Engels

17 Johann Pregesbauer

18 Lothar Matthäus

14 Ernst Baumeister

10 Hansi Müller

11 Kurt Jara

13 Uwe Reinders

15 Johann Dihanich

16 Thomas Allofs

18 Gernot Jurtin

8  Klaus Fischer

20 Kurt Welzl

 

GOL: 10′ Horst Hrubesch (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

32′ Reinhold Hintermaier (AUT)

74′ Walter Schachner (AUT)

 

SUBSTITUIÇÕES:

66′ Karl-Heinz Rummenigge (ALE)

Lothar Matthäus (ALE) ↑

 

69′ Horst Hrubesch (ALE) ↓

Klaus Fischer (ALE) ↑

Gol da partida:

… 13/06/2021 – O melhor do terceiro dia da Euro

Três pontos sobre…
… 13/06/2021 – O melhor do terceiro dia da Euro


(Imagem: UEFA)

A Inglaterra venceu pela primeira vez no jogo de abertura da Euro, a Áustria conseguiu sua primeira vitória na história do torneio e a Holanda venceu a Ucrânia no melhor jogo até o momento.

… Inglaterra 1 x 0 Croácia


(Imagem: UEFA)

● Foi a reedição da semifinal da última Copa do Mundo.

Sem poder contar com o zagueiro Harry Maguire, o técnico Gareth Southgate optou por desfazer de seu tradicional 3-5-2. Mandou seu time a campo no 4-3-3, improvisando Trippier na lateral esquerda.

Jogando em casa, no mítico estádio Wembley, a Inglaterra começou o jogo pressionando e teve a primeira chance logo aos cinco minutos. Phil Foden (com o cabelo descolorido que lembra um pouco Paul Gasgoigne) invadiu a área pelo lado direito e bateu de perna esquerda. A bola passou pelo goleiro Dominik Livaković, mas bateu na trave.

Ainda houve duas outras chances, com Sterling perdendo o tempo de bola pelo lado esquerdo e um chute de fora da área de Kalvin Phillips, que Livaković pegou.

A Inglaterra dominava. Mas, no meio do primeiro tempo, a Croácia compactou as linhas de marcação e passou a impedir a criação do English Team. Com isso, os croatas começaram a ficar mais com a bola no pé. Na melhor das jogadas, Vrsaljko cruzou da direita, Kramarić fez o corta luz e Ivan Perišić bateu por cima, longe do gol.

O segundo tempo começou como uma continuação do primeiro. Luka Modrić, mais apagado que o normal, chutou de longe e Pickford segurou.

Aos 12, o único gol do jogo. Kalvin Phillips apareceu como opção na meia direita, cortou a marcação e tocou na medida para a infiltração de Raheem Sterling, que finalizou de dentro da área. A bola ainda tocou no goleiro antes de entrar.

A sequência da partida foi uma batalha no meio de campo, em que ninguém se sobressaiu. E o jogo terminou assim.

Foi a primeira derrota da Croácia em uma estreia de Euro. Antes, eram quatro vitórias e um empate.

Por sua vez, foi a primeira vitória inglesa na primeira partida de uma Eurocopa. Anteriormente, eram cinco empates e quatro derrotas.

… Áustria 3 x 1 Macedônia do Norte


(Imagem: UEFA)

● Pelo histórico das duas seleções no futebol, muitos esperavam um jogo fácil. Mas não foi.

A Áustria abriu o placar aos 18′. Marcel Sabitzer fez um lançamento sensacional da lateral esquerda. O ala Stefan Lainer apareceu na segunda trave e emendou para o gol.

Mas a Macedônia do Norte empatou o jogo aos dez minutos depois, em uma falha da defesa austríaca. A bola acabou sobrando livre para o melhor jogador macedônio fazer o primeiro gol da história de seu país em uma grande competição. Prestes a completar 38 anos, Goran Pandev é o capitão, camisa 10, mais talentoso do time e com histórico mais vencedor. É um simbolismo enorme ele ter sido o autor do gol.

De forma incoerente, o treinador Franco Foda preferiu escalar David Alaba no centro de uma linha de três zagueiros. Mais técnico de sua seleção, ele dava muita qualide à saída de bola, mas suas características poderiam ser utilizadas melhor na criação das jogadas. Assim, Sabitzer e Konrad Laimer – a dupla do RB Leipzig – tentava fazer sua seleção jogar.

Quando a Macedônia do Norte estava mais confortável em campo e parecia até mais perto da virada, a Áustria fez o segundo gol.

Aos 33′ do segundo tempo, Alaba se projetou pela lateral esquerda e cruzou para Michael Gregoritsch desviar para o gol, antes da chegada do goleiro Dimitrievski.

O terceiro gol saiu a um minuto do fim. Laimer deu um toque de calcanhar, Marko Arnautović dominou, invadiu a área e driblou o goleiro antes de chutar para o gol.

Essa foi a primeira vitória da Áustria na história da Eurocopa. Nas duas participações anteriores (2008 e 2016), haviam sido dois empates e quatro derrotas – e queda na primeira fase em ambos.

… Holanda 3 x 2 Ucrânia


(Imagem: UEFA)

● Andriy Shevchenko mandou a Ucrânia a campo no sistema 4-1-4-1, com muita liberdade para os meias laterais avançarem ao ataque.

Frank de Boer escalou a Holanda no mesmo esquema 5-3-2 que fez a Oranje obter o 4º lugar na Copa de 2014.

No primeiro tempo, as duas seleções jogaram pra ganhar, com muito toque de bola e intensidade. Mas faltou o gol. A Holanda chegou mais perto disso, com chutes de fora da área de Wijnaldum e finalizações imprecisas de Weghorst e Dumfries.

Aos 7′ da etapa final, lançamento em profundidade pela direita do ataque holandês, Mykolenko errou o corte e Dumfries cruzou rasteiro. O goleiro Bushchan ainda tirou da área, mas Georginio Wijnaldum aproveitou o rebote e mandou no alto para abrir o placar.

A Laranja marcou o segundo seis minutos depois, em nova falha do lateral esquerdo ucraniano Vitaliy Mykolenko. Frenkie de Jong tocou para Dumfries dentro da área. Mykolenko caiu na dividida, a zaga tentou tirar e Wout Weghorst emendou de primeira para o gol. Bushchan ainda tentou pegar, mas a bola entrou.

A Holanda tinha controle do jogo, mas a Ucrânia não se deu por vencida e diminuiu aos 30′. Vestindo a camisa 7 que era de seu treinador, Andriy Yarmolenko fez um golaço. Ele tabelou com Yaremchuk, cortou da direita para o centro, ajeitou e bateu de perna esquerda, encobrindo o gigante Stekelenburg.

O empate ucraniano saiu quatro minutos depois. Malinovskyi cobrou falta da esquerda e Roman Yaremchuk apareceu sozinho na entrada da pequena área e cabeceou no canto esquerdo do goleiro.

Quando parecia que a Ucrânia tinha mais moral e estava mais próxima da virada, a Holanda resolveu o jogo a seu favor, com um gol de Denzel Dumfries, o melhor em campo, marcando um gol e participando dos outros dois.

Aos 40′, o zagueiro Nathan Aké cruzou da esquerda e Dumfries se antecipou à marcação de Zinchenko e cabeceou forte no canto esquerdo, sem chances para o goleiro ucraniano.

Final, 3 a 2 para a Holanda.

Um jogaço, o melhor dessa Eurocopa até aqui.

… 05/06/1938 – Suécia W.O. Áustria

Três pontos sobre…
… 05/06/1938 – Suécia W.O. Áustria

“Anschluß”


Seleção sueca na Copa do Mundo de 1938 (Imagem: O Curioso do Futebol)

● O Grupo 1 das eliminatórias da Copa dava direito a duas vagas no torneio. A Alemanha venceu a Finlândia (2 x 0) e a Estônia (4 x 1). Por sua vez, a Suécia também bateu a Finlândia (4 a 0) e a Estônia (7 x 2). Assim, alemães e suecos já estavam classificados quando se enfrentaram em Hamburgo. A Suécia foi com o time reserva e acabou sendo goleada por 5 x 0. De qualquer forma, a vaga no Mundial já estava garantida antecipadamente. Na definição do chaveamento da Copa, a Suécia foi sorteada na chave que teria a Áustria. Aliás, “não teria” a Áustria.


“Wunderteam” austríaco dos anos ’30 (Imagem: Trivela)

● Contando com vários jogadores remanescentes do “Wunderteam” (“time maravilha”), a seleção austríaca conquistou sua vaga na Copa do Mundo de 1938, mas, na época do torneio, não tinha um país para representar.

A Áustria teve certa facilidade no Grupo 8 das eliminatórias para a Copa. Foi beneficiada com a vantagem de fazer uma única partida, em casa, contra o vencedor do duelo entre Letônia e Lituânia. Os letões venceram os lituanos nos dois jogos (4 x 2 Riga e 5 x 1 em Kaunas).

Prevendo facilidade na partida, os austríacos mandaram a campo uma seleção experimental (na prática, um time reserva). A Letônia abriu o placar com Iļja Vestermans logo aos 6′, mas os austríacos viraram ainda no primeiro tempo, com Camillo Jerusalem aos 15′ e Franz Binder aos 33′. Vencendo por 2 a 1, a Áustria passou o restante da partida sufocada pela modesta e entusiasmada Letônia, mas conseguiu se segurar e garantir a vaga no Mundial.


Multidão aplaude os nazistas em Viena (Imagem: Wikipédia)

● Na véspera do torneio, a Europa estava às portas da Segunda Guerra Mundial, que ocorreu oficialmente entre 1939 e 1945. E o conflito político interferiu diretamente no Mundial organizado pela França.

No dia 12 de março de 1938, pouco menos de três meses antes do início da Copa, a Alemanha nazista deu um choque no mundo. Os tanques de guerra de Adolf Hitler invadiram Viena. Sem precisar disparar nenhum tiro e não encontrando qualquer oposição, o exército germânico foi recebido entusiasticamente pela maioria da população austríaca, surpreendendo até os próprios alemães.

No dia seguinte, o Führer (que era austríaco de nascimento) decretou oficialmente o “Anschluß”, a anexação político-militar da Áustria por parte da Alemanha, que abrangeu todos os aspectos da vida do país. Assim, a Áustria deixou de ser um estado independente e foi convertido em uma província do Terceiro Reich, com o nome de Ostmark.

Em 10 de abril houve um referendo que avalizou a anexação com 99% de aprovação da população austríaca. Esse resultado claramente foi manipulado para legitimar o “Anschluß”, mas, de fato, existia um certo apoio a Hitler, especialmente das camadas mais pobres e menos esclarecidas – até porque toda a oposição clara era duramente reprimida.

O mundo assistiu a situação de forma passiva e só Reino Unido e França condenaram a invasão.


O Reich alemão, em rosa, e a Áustria, em vermelho (Imagem: Wikipédia)

Imediatamente, a Federação de Futebol Alemã comunicou à FIFA que a Áustria havia “deixado de existir como país” e os jogadores nascidos em seu território poderiam representar a nova pátria. Resumindo: o “Wunderteam” teria jogadores sendo obrigados a “prestar serviços” à seleção alemã no Mundial.

No dia 03 de abril foi realizado um último jogo amistoso entre Alemanha e Áustria para festejar a unificação. Foi o “Anschlussspiel” (“jogo de conexão”). O lema era “Ein Volk, ein Reich, ein Führer” (“Um povo, um império, um líder”). A partida estava empatada sem gols, em um ritmo morno, até que Matthias Sindelar fez o gol da vitória austríaca. O atacante comemorou como se esse tivesse sido o maior feito de sua vida – ele era um opositor claro ao regime nazista. Karl Sesta ainda anotou o segundo tento, com a partida finalizando em 2 x 0 para os “anexados” diante dos “anexadores”. Mas o foco permaneceu em Sindelar. Comemorando a vitória, ele ensaiou uma valsa em frente a tribuna das autoridades alemãs – que não esconderam seu desagrado.


Matthias Sindelar, “Der Papierene” (Imagem: Trivela)

Matthias Sindelar, conhecido como “Der Papierene” (“Homem de Papel”) pelo seu físico magro, leveza e mobilidade é considerado o melhor jogador de seu país em todos os tempos. Na época, ele já era veterano, aos 35 anos, e se recusou a defender a seleção da Alemanha. Juntando tudo isso, ele se tornou “persona non grata” para os nazistas. Sindelar faleceu asfixiado por monóxido de carbono em 23/01/1939, pouco depois de sua esposa. A versão oficial é que ele se matou. A história romântica diz que ele “foi suicidado” pelo regime nazista por ser judeu.

Pega de surpresa e com certo temor pelo expansionismo territorial teutônico, a FIFA reagiu sem nenhum rigor. Com a maior naturalidade possível e tentando contornar a situação, a entidade convidou a Inglaterra a ocupar a vaga austríaca, mas o English Team – sabiamente – declinou o convite. Então, a Letônia solicitou sua inclusão na Copa, invocando sua condição de vice-campeã do Grupo 8 das eliminatórias. Seria a saída mais lógica, mas a FIFA negou o pedido.

Com isso, a Copa teve 15 participantes ao invés dos 16 previstos.


Hitler anuncia o Anschluss na Heldenplatz (Praça dos Heróis), em Viena, dia 15 de março de 1938 (Imagem: AP Images / Britannica)

● Assim, a partida das oitavas de final entre Suécia e Áustria que estava marcada para ser jogada no estádio Gerland, em Lyon, no dia 05 de junho de 1938, não pôde ser realizada. De forma ridícula e passiva, a FIFA considerou que a Áustria “não havia comparecido para jogar” – embora vários atletas austríacos estivessem vestindo a camisa da seleção alemã contra a Suíça no dia anterior.

Sem time contra quem jogar, a Suécia passou automaticamente para as quartas de final.

Curiosamente, a sigla inglesa “W.O.” (“Walk Over”), que significa “segue adiante”, ainda não era utilizada na época. O que se falava era o termo francês “Forfeit” (“desistir”).

Até hoje esse é o único caso de W.O. da história das Copas.


Cédula de votação do referendo de 10 de abril de 1938, com o texto: “Você concorda com a unificação da Áustria com o Império Germânico sob o Führer Adolf Hitler? Sim/Não” (Imagem: Wikipédia)

● Beneficiada pelo sorteio, a Suécia enfrentou a fraca seleção de Cuba nas quartas de final e fez valer a goleada por 8 a 0. Nas semifinais, mostrou todas suas fragilidades e perdeu para a Hungria por 5 a 1. Na decisão do 3º lugar, abriu 2 a 0 de vantagem sobre o Brasil, mas a Seleção Brasileira virou para 4 a 2. A classificação final da Suécia em 4º lugar pode ser colocada na conta da sorte.

A Áustria só voltou a ser uma nação soberana ao final da Segunda Guerra Mundial.

A seleção austríaca ainda teve outros bons times, como o que conquistou o 3º lugar na Copa de 1954, mas nunca mais formou uma seleção de classe mundial como foi o “Wunderteam” da década de 1930 – destruído por Adolf Hitler e cia.


Hitler cruza a fronteira com a Áustria em março de 1938 (Imagem: Wikipédia)

FICHA TÉCNICA:

 

SUÉCIA W.O. ÁUSTRIA

 

Data: 05/06/1938

Estádio: Gerland

Cidade: Lyon (França)

… 04/06/1938 – Suíça 1 x 1 Alemanha

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… 04/06/1938 – Suíça 1 x 1 Alemanha


(Imagem: Impromptuinc)

● O Grupo 5 das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1938 tinha Suíça e Portugal. Houve uma única partida para decidir a vaga no Mundial, realizada no dia 01/05/1938, em campo neutro, no estádio San Siro, em Milão. Portugal tinha um ligeiro favoritismo, pois havia deixado uma boa impressão ao empatar com a Alemanha por 1 x 1 em Frankfurt, uma semana antes. Além disso, ainda contava com o fantástico centroavante Fernando Peyroteo. Mas a Suíça resolveu logo o jogo no primeiro tempo, com dois gols em cinco minutos. Georges Aeby marcou aos 23′ e Lauro Amadò fez aos 28′. Portugal só reagiu com um gol de pênalti de Peyroteo, aos 28′ da etapa final. Depois, os suíços se trancaram na defesa e garantiram a classificação para o Mundial. Nas tribunas de honra do San Siro, foi impossível deixar de notar a ilustre presença dos ditadores Benito Mussolini e Adolf Hitler, que pareciam inseparáveis naqueles tempos que antecederam a Segunda Guerra Mundial.

O Grupo 1 do qualificatório dava direito a duas vagas no torneio. A Alemanha e Suécia haviam vencido Estônia e Finlândia e já estavam classificados quando se enfrentaram em Hamburgo. Sem levar isso em consideração, os alemães fizeram valer o status de favoritos e venceram os suecos por 5 x 0.

Como vamos detalhar amanhã, pouco menos de três meses antes do Mundial, o exército nazista invadiu a Áustria e decretou o “Anschluß”, a anexação da Áustria por parte da Alemanha, abrangendo todos os aspectos da vida do país. Com isso, a Federação de Futebol Alemã comunicou à FIFA que a Áustria havia “deixado de existir como país” e os jogadores nascidos em seu território poderiam representar a nova pátria. Resumindo: o “Wunderteam” austríaco teria jogadores sendo obrigados a “prestar serviços” à seleção alemã no Mundial.


(Imagem: Impromptuinc)

● O regulamento do Mundial era o mesmo da edição anterior. Sem fase de grupos, houve um torneio eliminatório direto, começando nas oitavas de final. Se uma partida terminasse empatada depois de 90 minutos, seriam jogados mais dois tempos de 15 minutos de prorrogação. Em caso de empate, os times disputariam mais uma prorrogação nos mesmos moldes. Persistindo a igualdade, haveria outro jogo-desempate dois ou três dias depois. Curiosamente, na decisão, se não houvesse vencedor após os dois jogos com duas prorrogações, a taça seria dividida entre os finalistas.

A Alemanha tem um histórico de dar longevidade aos seus treinadores. Otto Nerz deixou o comando da Mannschaft depois do fiasco nos Jogos Olímpicos de 1936. Mesmo jogando em Berlim, a Alemanha foi eliminada precocemente nas quartas de final para a Noruega. Quem assumiu o cargo de técnico da Nationalelf foi o ex-auxiliar de Nerz, Sepp Herberger – uma astuta raposa.

A seleção alemã contou com nove atletas da extinta equipe austríaca: o goleiro Rudolf Raftl, o zagueiro Willibald Schmaus, os meias Hans Mock, Stefan Skoumal e Franz Wagner, além dos atacantes Wilhelm Hahnemann, Leopold Neumer, Hans Pesser e Josef Stroh. Desses nove, quatro faziam parte do elenco da Áustria na Copa de 1934: Raftl, Schmaus, Wagner e Stroh.


Nos anos 1930, quase todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5. Uma das exceções era a adversária – Alemanha.


A Alemanha já atuava há alguns anos no sistema W-M, sendo uma das pioneiras a utilizar esse esquema entre as seleções. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá ênfase ao trabalho do meio de campo.

● Quando a Alemanha entrou em campo no estádio Parc de Princes, em Paris, para a partida inaugural da Copa, a tradicional camisa branca seguia o mesmo padrão de quatro anos antes. A novidade foi a inclusão da gola vermelha e de símbolos nazistas ao escudo do lado esquerdo do peito.

A honra de dar o pontapé inicial coube ao presidente da França, Albert Labrun. E ele conseguiu a proeza de errar o chute, arrancando grama do chão e mal fazendo a bola se mover.

O time titular da Alemanha contava com cinco jogadores austríacos: Raftl, Schmaus, Hahnemann, Pesser e Mock – o capitão da equipe.

E saiu na frente com um gol de Josef Gauchel, aos 29 minutos da etapa inicial.

Mas a Suíça, um time mais organizado em campo, empatou ainda no primeiro tempo. André Abegglen marcou aos 43′.

Não houve gols na segunda etapa e nem nas duas prorrogações de 30 minutos seguintes.

Como mandava o regulamento, o placar em igualdade forçou um jogo extra para desempatar a peleja.

O ponta esquerda alemão/austríaco Hans Pesser foi o primeiro jogador expulso no Mundial, aos seis minutos do primeiro tempo da prorrogação. Ele cometeu uma falta muito violenta sobre o capitão suíço Severino Minelli. A falta foi tão dura que a própria Federação Alemã de Futebol o puniu, o suspendendo por seis meses em seu clube (Rapid Viena) e por um ano na seleção alemã.

Houve um enorme equilíbrio nas oitavas de final. Dos sete jogos disputados, cinco foram para a prorrogação (Alemanha 1 x 1 Suíça, Brasil 6 x 5 Polônia, Tchecoslováquia 3 x 0 Holanda, Cuba 3 x 3 Romênia e Itália 2 x 1 Noruega). Duas dessas prorrogações terminaram empatadas e foram necessários jogos extras (Cuba 2 x 1 Romênia e Suíça x Alemanha).

FICHA TÉCNICA:

 

SUÍÇA 1 X 1 ALEMANHA

 

Data: 04/06/1938

Horário: 17h00 locais

Estádio: Parc des Princes

Público: 27.152

Cidade: Paris (França)

Árbitro: John Langenus (Bélgica)

 

SUÍÇA (2-3-5):

ALEMANHA (W-M):

Willy Huber (G)

Rudolf Raftl (G)

Severino Minelli (C)

Paul Janes

August Lehmann

Willibald Schmaus

Hermann Springer

Andreas Kupfer

Sirio Vernati

Hans Mock (C)

Ernst Lörtscher

Albin Kitzinger

Lauro Amadò

Ernst Lehner

André Abegglen

Rudolf Gellesch

Alfred Bickel

Josef Gauchel

Eugen Walaschek

Wilhelm Hahnemann

Georges Aeby

Hans Pesser

 

Técnico: Karl Rappan

Técnico: Sepp Herberger

 

SUPLENTES:

 

 

Erwin Ballabio (G)

Fritz Buchloh (G)

Renato Bizzozero (G)

Hans Jakob (G)

Adolf Stelzer

Reinhold Münzenberg

Albert Guinchard

Jakob Streitle

Oscar Rauch

Ludwig Goldbrunner

Paul Aeby

Stefan Skoumal

Alessandro Frigerio

Franz Wagner

Tullio Grassi

Fritz Szepan

Leopold Kielholz

Leopold Neumer

Eugen Rupf

Otto Siffling

Fritz Wagner

Josef Stroh

 

GOLS:

29′ Josef Gauchel (ALE)

43′ André Abegglen (SUI)

 

EXPULSÃO: 96′ Hans Pesser (ALE)

Imagens da partida:


… 09/06/1938 – Suíça 4 x 2 Alemanha


A Suíça manteve o time e o esquema.


A Alemanha também manteve o sistema, mas mudou meio time.

● Para a partida desempate, o treinador suíço Karl Rappan mandou a campo o mesmo time que havia atuado no primeiro jogo.

Por sua vez, o técnico Sepp Herberger fez seis alterações na seleção alemã. Saíram o zagueiro Willibald Schmaus, os meias Hans Mock e Albin Kitzinger e os atacantes Rudolf Gellesch, Josef Gauchel e Hans Pesser. Entraram os zagueiros Jakob Streitle e Ludwig Goldbrunner, o meia Stefan Skoumal e os atacantes Josef Stroh, Leopold Neumer e Fritz Szepan.

Novamente eram cinco atletas nascidos na Áustria: Raftl, Skoumal, Hahnemann, Neumer e Stroh.

Essas mexidas fizeram bem aos alemães, que começaram melhor e abriram logo 2 a 0.

Wilhelm Hahnemann fez o primeiro aos 9′ e Ernst Lörtscher marcou um gol contra aos 22′.

Para dificultar a vida dos suíços, o ponta Georges Aeby teve de sair de campo com a cabeça machucada. Como não eram permitidas substituições à época, a Suíça teve que seguir na partida com um jogador a menos.

Apesar das dificuldades, Eugen Walaschek (russo naturalizado suíço) diminuiu o placar a três minutos do fim do primeiro tempo.

Mas a confiança germânica era tamanha que, no intervalo, integrantes da comissão técnica resolveram enviar um telegrama ao ditador Adolf Hitler, informando a vitória parcial e o fato de estar jogando com um homem a mais.


(Imagem: Impromptuinc)

Muitos acreditavam em uma goleada alemã. Mas o imponderável do futebol apareceu novamente e a sorte sorriu para os helvéticos.

Ainda com dez homens, Alfred Bickel empatou o jogo para a Suíça aos 19′.

Aos 25′, Aeby conseguiu retornar a campo para ajudar seu time e igualou também o número de atletas em campo.

A virada e a classificação suíça veio com dois gols de André Abegglen em três minutos, aos 30′ e aos 33′.


(Imagem: Impromptuinc)

● Curiosamente, o autor do segundo gol suíço diante dos alemães, Alfred Bickel, é um dos únicos jogadores que disputaram jogos de Copa antes de depois da Segunda Guerra Mundial, juntamente com o sueco Erik Nilsson.

Com a eliminação da Suíça para a Hungria nas quartas de final (derrota por 2 a 0), o austríaco Karl Rappan (técnico dos helvéticos), chegou a conclusão que sua equipe só conseguiria vencer adversários mais fortes se tivesse um sistema de jogo bastante defensivo. Essa foi a origem do chamado “ferrolho suíço”, que mudou a essência ofensiva do futebol.


(Imagem: Impromptuinc)

Com o resultado, a hostilidade da torcida alemã resultou em várias garrafas quebradas, vandalizando as ruas de Paris.

A derrota foi colocada na conta do treinador Sepp Herberger, que insistiu em colocar em campo cinco jogadores austríacos que ele foi obrigado a convocar. Era mesmo natural que o técnico tivesse dificuldade para mesclar estilos de jogo tão diferentes. Os austríacos tinham um futebol mais clássico, baseado no toque de bola. Os alemães privilegiavam a força e os passes longos.

Várias fontes culpam a proposital atitude derrotista dos austríacos. Um jornalista alemão comentou posteriormente que “alemães e austríacos preferiam jogar um contra o outro até mesmo estando no mesmo time”.

Para frustração da comunidade nazista, a teoria de superioridade da raça ariana não resistiu à primeira rodada. A eliminação acabou sendo uma grande surpresa.

Foi a primeira vez que a Nationalelf não passou da primeira fase em uma Copa do Mundo. Esse fato ocorreria novamente apenas oitenta anos depois, na Copa de 2018, na Rússia.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

SUÍÇA 4 X 2 ALEMANHA

 

Data: 09/06/1938

Horário: 18h00 locais

Estádio: Parc des Princes

Público: 20.025

Cidade: Paris (França)

Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)

 

SUÍÇA (2-3-5):

ALEMANHA (W-M):

Willy Huber (G)

Rudolf Raftl (G)

 Severino Minelli (C)

Paul Janes

August Lehmann

Jakob Streitle

Hermann Springer

Andreas Kupfer

Sirio Vernati

Ludwig Goldbrunner

Ernst Lörtscher

Stefan Skoumal

Lauro Amadò

Ernst Lehner

André Abegglen

Josef Stroh

Alfred Bickel

Wilhelm Hahnemann

Eugen Walaschek

Fritz Szepan (C)

Georges Aeby

Leopold Neumer

 

Técnico: Karl Rappan

Técnico: Sepp Herberger

 

SUPLENTES:

 

 

Erwin Ballabio (G)

Fritz Buchloh (G)

Renato Bizzozero (G)

Hans Jakob (G)

Adolf Stelzer

Reinhold Münzenberg

Albert Guinchard

Willibald Schmaus

Oscar Rauch

Albin Kitzinger

Paul Aeby

Hans Mock

Alessandro Frigerio

Franz Wagner

Tullio Grassi

Josef Gauchel

Leopold Kielholz

Rudolf Gellesch

Eugen Rupf

Hans Pesser

Fritz Wagner

Otto Siffling

 

GOLS:

8′ Wilhelm Hahnemann (ALE)

22′ Ernst Lörtscher (ALE) (gol contra)

42′ Eugen Walaschek (SUI)

64′ Alfred Bickel (SUI)

75′ André Abegglen (SUI)

78′ André Abegglen (SUI)

Imagens da partida:

… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria

Três pontos sobre…
… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria


Rob Rensenbrink foi o líder da Holanda em campo (Imagem: Pinterest)

● Em 1978, não havia mais a “Laranja Mecânica”, o “Carrossel Holandês” e o “Futebol Total”, o time treinado por Rinus Michels e capitaneado por Johan Cruijff.

Michels saiu logo depois da Copa de 1974. George Knobel foi o técnico até a Eurocopa de 1976. Jan Zwartkruis treinou a seleção holandesa nas eliminatórias até 1977 e depois se tornaria auxiliar. Para a Copa de 1978, a Oranje apostou no “pulso firme” do austríaco Ernst Happel. Ele havia disputado os Mundiais de 1954 e 1958 como zagueiro pela seleção de seu país. Como técnico, havia sido campeão da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) na temporada 1969/70 – venceria ainda o torneio pelo Hamburgo em 1982/83, sendo um dos únicos treinadores a conquistarem a competição por dois clubes diferentes, ao lado de José Mourinho e Ottmar Hitzfeld.

Mas as mudanças não eram só na beira do gramado. Johan Cruijff não estava mais lá. Ele havia deixado a seleção um ano antes. E são várias as versões pela sua ausência. A primeira era a sua afirmação de que o Mundial de 1974 seria o primeiro e o último que disputaria. Outra corrente diz que foi uma promessa à sua esposa Danny, após o jornal alemão Bild publicar uma reportagem antes da decisão contra a Alemanha Ocidental, na qual vários atletas fizeram uma festa regada a bebidas e prostitutas na beira da piscina do Waldhotel Krautkrämer, na cidade de Hiltrup, concentração holandesa. Outra justificativa para a ausência do gênio é que ele não teria aceitado viajar à Argentina como protesto pelo regime militar ditatorial que comandava o país sede desde 1976. Outra vertente diz que ele esperava receber uma premiação maior do que a federação pagaria. Mas apenas em 2012 ele revelou a razão verdadeira: um sequestro-relâmpago sofrido pela família em setembro de 1977, na própria residência de Barcelona, na qual ele repensou e preferiu manter a sua segurança com Danny e os filhos Jordi, Chantal e Susila.

Mas o time não era só Cruijff e a base ainda era a mesma. Todos os titulares haviam estado no Mundial anterior, com destaque para o novo capitão Ruud Krol, Wim Jansen, Arie Haan, Johan Neeskens, Johnny Rep e Rob Rensenbrink, que seria a maior estrela do time na ausência de Cruijff.

Mas começaram a surgir os problemas. A cerca de duas semanas antes do Mundial, Willem van Hanegem fez um ultimato a Happel: ou lhe garantia seu lugar no onze inicial, ou deixaria o grupo. O treinador não garantiu a titularidade e o meia deixou a delegação holandesa. Hugo Hovenkamp poderia ser o dono da posição, mas se lesionou nos treinos e nem chegou a entrar em campo. Com isso, Arie Haan (que havia sido zagueiro em 1974) foi escalado como volante.

Na estreia, os holandeses venceram o Irã por 3 x 0 de forma ridícula, sem a menor vontade e esforço. Na segunda partida, o empate sem gols com o bom time do Peru foi pior ainda. Mas se superou contra a Escócia: estava perdendo por 3 x 1 a 20 minutos do fim, com enorme pressão dos britânicos que, se marcassem mais um gol, se classificariam e eliminariam os Laranjas da competição. Mas Johnny Rep diminuiu e a derrota por 3 x 2 classificou a Holanda em segundo lugar do Grupo 4, atrás do Peru.

A Áustria voltava a disputar uma Copa do Mundo depois de vinte anos ausente (quando Ernst Happel ainda jogava). Na primeira fase, tinha sido a líder do Grupo 3, deixando o Brasil em segundo lugar pelo número de gols marcados. No primeiro jogo, venceu a Espanha por 2 x 1. Depois, venceu a Suécia por 1 x 0. Já classificada, perdeu para a Seleção Brasileira por 1 x 0. Os maiores destaques individuais eram o goleiro Friedrich Koncilia, o meia Herbert Prohaska (que seria campeão italiano ao lado de Falcão na Roma) e Hans Krankl (que seria artilheiro do Barcelona logo depois).


A Holanda atuou no 4-3-3, com Ruud Krol como líbero, tendo liberdade para avançar e iniciar as jogadas.


O técnico Helmut Senekowitsch escalou a Áustria no sistema 4-4-2.

● O regulamento da Copa de 1978 era o mesmo do Mundial anterior: os oito classificados da primeira fase foram divididos em duas chaves de quatro equipes, com o vencedor de cada chave disputando a final. Após um desempenho pouco convincente na primeira fase, a Holanda tinha obrigação de jogar melhor no quadrangular semifinal se quisesse se classificar para a decisão.

O técnico Ernst Happel deu liberdade para seu auxiliar Jan Zwartkruis fazer mudanças no time e comandar a preleção. Zwartkruis tinha mais liberdade com os atletas e fez duas mudanças importantes no time. Por lesão, saíram Johan Neeskens, Wim Suurbier e Wim Rijsbergen. Entraram os laterais Jan Poortvliet e Piet Wildschut e o zagueiro Ernie Brandts. Wim Jansen foi posicionado no meio, e Arie Haan ganhou liberdade total para avançar, criar e se aproximar do ataque. A outra mudança foi uma arriscada troca de goleiros. Ele tirou o veterano Jan Jongbloed, que era melhor na saída de jogo com os pés, e escalou Piet Schrijvers, que era melhor embaixo das traves.

Logo no começo da partida, Arie Haan bateu falta no cantinho, mas Koncilia pulou bem e espalmou para escanteio.

Aos sete minutos de bola rolando, Haan cobrou uma falta para a área e o zagueiro Brandts apareceu sozinho para cabecear da linha da pequena área no ângulo direito.

Aos 35′, Gerhard Breitenberger fez falta em Wim Jansen dentro da área. Rensenbrink cobrou o pênalti com precisão no ângulo esquerdo, sem chances para o arqueiro austríaco, que ainda acertou o canto mas não conseguiu pegar.

Dois minutos depois, Rensenbrink avançou pela esquerda e viu Rep entrando sozinho pelo meio. Na entrada da grande área, o camisa 16 dominou e tocou por cima do goleiro Koncilia, que havia saído no lance.

O show continuou no segundo tempo. Logo aos oito minutos, Schrijvers conbrou o tiro de meta. Rensenbrink dominou já cortando para a direita e driblando o marcador. Koncilia saiu para tentar fechar o ângulo e Rensenbrink tocou para o meio da pequena área. Rep apareceu livre e completou para o gol vazio.

A Áustria havia criado algumas chances antes, mas só fez o gol de honra a dez minutos do final. Kreuz cruzou da direita e Poortvliet cortou. Krieger pegou o rebote e ergueu a bola na área. A defesa holandesa falhou e Erich Obermayer apareceu para tocar por cima de Schrijvers, com muita classe e precisão. Um belo gol por cobertura do zagueiro, que apareceu como atacante na área laranja.

Pouco depois, em cobrança de falta ensaiada, Bruno Pezzey encheu o pé e Schrijvers buscou a bola no ângulo, fazendo uma ótima defesa.

O placar foi fechado aos 38. Rob Rensenbrink (o melhor em campo) avançou pela esquerda, driblou Obermayer por duas vezes e tocou para o meio. Willy van de Kerkhof finalizou de primeira, da marca do pênalti, no contrapé de Koncilia.


Johnny Rep foi infernal e deu muito trabalho para a marcação austríaca (Imagem: Pinterest)

● Johnny Rep e Rob Rensenbrink tiveram uma tarde inspirada no Estádio Olímpico Chateau Carreras, em Córdoba.

Parecia que a Holanda tinha economizado o futebol na primeira fase apenas para dar espetáculo nessa partida. Mas, a bem da verdade, foi a única em que a Holanda sobrou em campo e relembrou o já distante “Carrossel Holandês”.

Na sequência do Grupo A da segunda fase, a Áustria perdeu para a Itália por 1 x 0. Já eliminada, colocou água no chope da vizinha e arqui-inimiga Alemanha Ocidental, vencendo por 3 x 2 e acabando com qualquer esperança de classificação para a final que os então campeões do mundo ainda tinham.

Na reedição da final anterior, Holanda e Alemanha Ocidental empataram por 2 x 2 em um bom jogo. Na última rodada, os holandeses venceram os italianos por 2 x 1 e se garantiram na decisão. Mesmo dominando o jogo por parte do tempo, a Oranje foi batida novamente pelos donos da casa. Dessa vez, a Argentina venceu por 3 x 1 na prorrogação e se coroou campeã mundial pela primeira vez, deixando a Holanda com um amargo bi-vice.


O centroavante Hans Krankl foi muito bem marcado e pouco fez durante os noventa minutos (Imagem: Twitter @thecentretunnel)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 5 x 1 ÁUSTRIA

 

Data: 14/06/1978

Horário: 13h45 locais

Estádio: Estadio
Olímpico Chateau Carreras (atual Estadio Mario Alberto Kempes)

Público: 25.050

Cidade: Córdoba (Argentina)

Árbitro: John Gordon (Escócia)

 

HOLANDA (1-3-3-3):

ÁUSTRIA (4-4-2):

1  Piet Schrijvers (G)

1  Friedrich Koncilia (G)

7  Piet Wildschut

2  Robert Sara (C)

22 Ernie Brandts

5  Bruno Pezzey

2  Jan Poortvliet

3  Erich Obermayer

5  Ruud Krol (C)

4  Gerhard Breitenberger

9  Arie Haan

7  Josef Hickersberger

6  Wim Jansen

12 Eduard Krieger

11 Willy van de Kerkhof

8  Herbert Prohaska

10 René van de Kerkhof

11 Kurt Jara

16 Johnny Rep

9  Hans Krankl

12 Rob Rensenbrink

10 Wilhelm Kreuz

 

Técnico: Ernst Happel

Técnico: Helmut Senekowitsch

 

SUPLENTES:

 

 

19 Pim Doesburg (G)

21 Erwin Fuchsbichler (G)

8  Jan Jongbloed (G)

22 Hubert Baumgartner (G)

17 Wim Rijsbergen

15 Heribert Weber

4  Adrie van Kraaij

16 Peter Persidis

20 Wim Suurbier

14 Heinrich Strasser

15 Hugo Hovenkamp

20 Ernst Baumeister

3  Dick Schoenaker

6  Roland Hattenberger

13 Johan Neeskens

13 Günther Happich

14 Johan Boskamp

17 Franz Oberacher

18 Dick Nanninga

19 Hans Pirkner

21 Harry Lubse

18 Walter Schachner

 

GOLS:

6′ Ernie Brandts (HOL)

35′ Rob Rensenbrink (HOL) (pen)

36′ Johnny Rep (HOL)

53′ Johnny Rep (HOL)

80′ Erich Obermayer (AUT)

82′ Willy van de Kerkhof (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

60′ René van de Kerkhof (HOL) ↓

Dick Schoenaker (HOL) ↑

 

66′ Ernie Brandts (HOL) ↓

Adrie van Kraay (HOL) ↑

Melhores momentos da partida:

… 03/06/1934 – Itália 1 x 0 Áustria

Três pontos sobre…
… 03/06/1934 – Itália 1 x 0 Áustria

(Imagem: AP Photo)

● A revolução no futebol austríaco teve nome e sobrenome: Hugo Meisl. Nascido na cidade de Malešov (hoje na República Tcheca), então pertencente ao antigo Império Austro-Húngaro, ele era um homem rico que dedicou toda sua vida ao futebol. Foi treinador da seleção austríaca de 1919 até sua morte, em 1937. Seu maior sonho era construir uma seleção forte.

Meisl foi um dos que solidificaram o sistema tático 2-3-5 na Europa Central. Seus times eram conhecidos pela movimentação constante de seus jogadores do meio para a frente, sempre com rápidas trocas de passes, ao invés de um estilo mais físico. Essa característica ficou ainda mais incisiva a partir de 1931, quando o treinador resolveu seguir uma sugestão de jornalistas presentes no Café Ring, em Viena.

A Áustria tinha dois excelentes jogadores que eram centroavantes em seus clubes. Matthias Sindelar jogava no Austria Vienna e Josef Smistik no Rapid Wien. Por serem da mesma posição, ninguém pensava em escalá-los juntos. Mas Meisl ouviu a imprensa e fez uma adaptação, deslocando seu capitão Smistik para jogar como centromédio, onde ele poderia usar toda sua inteligência e visão de jogo. Assim, trocou um centroavante estático (Smistik) por outro que flutuava entre as linhas e armava os ataques do time Sindelar (conhecido como “Der Papierene” – “Homem de Papel -, pelo seu físico magro, leveza e mobilidade).

Na primeira partida dessa forma, a Áustria goleou a Escócia por 5 x 0, em amistoso disputado em 16/05/1931. O time ficou invicto durante quase dois anos e só voltou a perder em 1932 para a Inglaterra (4 x 3) em Wembley, onde o “English Team” nunca havia sido derrotado por um adversário não-britânico até então (só veio a perder em 1953, para a Hungria de Ferenc Puskás). Mas os austríacos venderam caro a derrota, abalando o inquestionável futebol-força praticado na Inglaterra.

Até o início do Mundial de 1934, a Áustria havia vencido ou empatado 28 dos 31 jogos que disputou nos três anos anteriores. Havia vencido adversários fortes, como Suécia, Suíça, Itália, Hungria, Alemanha e outras. Não era simplesmente resultado. O time dava show. Tanto, que ganhou o apelido de “Der Wunderteam” (“time maravilha”). Possuía uma verdadeira legião de craques como os já citados Sindelar (maior gênio do futebol do país), Smistik e Josef Bican (um dos maiores artilheiros da história).

Com tudo isso, e por possuir o melhor retrospecto entre todas as seleções, era impossível que a Áustria não fosse apontada como a maior favorita ao título da segunda Copa do Mundo.


(Imagem: Pinterest)

● Mas haviam outras grandes forças na Europa à época. A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, “Il Duce” queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi”. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota disputaram o Mundial em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro).

Mas a Squadra Azzurra não era só política, mas contava com um ótimo time, com craques como Giuseppe Meazza e Giovanni Ferrari e contava com um bom retrospecto em partidas recentes.

Chegava extenuada para a semifinal, após precisar de 210 minutos para eliminar a excelente seleção da Espanha.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


No 2-3-5 de Meisl, os meio-campistas tinham liberdade para armar, embora suas maiores preocupações fossem as defensivas. Sindelar flutuava pelas linhas adversárias em busca de espaço e era apoiado por uma linha de frente bem experiente.

● Novamente sob o olhar atento de Mussolini, mais de 35 mil pessoas assistiram a esse duelo da Europa Central, no estádio San Siro, em Milão.

Mas a Áustria foi bastante prejudicada por dois fatos: a forte chuva que deixou o campo pesado demais para se tocar a bola e a arbitragem do sueco Ivan Eklind, sempre conivente com o jogo desleal dos italianos.

O único gol do jogo saiu aos 19 minutos do primeiro tempo. Após um cruzamento rasteiro na área austríaca, Meazza chutou e o goleiro Peter Platzer não conseguiu segurar. O ponta direita Enrique Guaita (um dos “oriundi”) trombou com ele e foi chutando bola, goleiro, lama e tudo mais para o dentro do gol.

A Azzurra foi novamente beneficiada pelo homem do apito. Mas isso não pode ser desculpa. Na verdade, a Áustria não conseguiu reeditar seu bom futebol e a Itália soube usar suas armas para vencer.

E a Itália, liderada pelo ótimo centromédio argentino Luisito Monti (especialista nisso), passou a distribuir pancadas e chutões para todos os lados, garantindo a classificação para a final da Copa.


(Imagem: Pinterest)

● Na primeira fase, a Áustria passou pela França por 3 x 2, na primeira prorrogação da história dos Mundiais. Na segunda partida, venceu a vizinha e rival Hungria por 2 x 1. Na semifinal, caiu para os futuros campeões, os italianos, por 1 x 0. Na decisão do 3º lugar, jogou sem ânimo e foi derrotada pela Alemanha por 3 x 2. O 4º lugar foi muito pouco perto do potencial do “Wunderteam”.

Nas oitavas de final, a Itália massacrou os Estados Unidos por 7 x 1. Nas quartas, teve maiores dificuldades e precisou da ajuda da arbitragem para vencer a forte Espanha por 1 x 0 apenas na partida desempate, após 1 x 1 na primeira partida. Na semifinal, bateu o “Wunderteam” da Áustria por 1 x 0 – novamente com auxílio do “apito amigo”. Na final, a Squadra Azzurra venceu a Tchecoslováquia por 2 x 1 em mais um jogo polêmico apitado pelo sueco Ivan Eklind, e garantiu a primeira de suas quatro conquistas da Copa do Mundo.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 0 ÁUSTRIA

 

Data: 03/06/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: San Siro

Público: 35.000

Cidade: Milão (Itália)

Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)

 

ITÁLIA (2-3-5):

ÁUSTRIA (2-3-5):

Giampiero Combi (G)(C)

Peter Platzer (G)

Eraldo Monzeglio

Franz Cisar

Luigi Allemandi

Karl Sesta

Attilio Ferraris IV

Franz Wagner

Luis Monti

Josef Smistik (C)

Luigi Bertolini

Johann Urbanek

Enrique Guaita

Karl Zischek

Giuseppe Meazza

Josef Bican

Angelo Schiavio

Matthias Sindelar

Giovanni Ferrari

Anton Schall

Raimundo Orsi

Rudolf Viertl

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Hugo Meisl

 

SUPLENTES:

 

 

GuidoMasetti (G)

Friederich Franzl (G)

Giuseppe Cavanna (G)

Rudolf Raftl (G)

Umberto Caligaris

Anton Janda

Virginio Rosetta

Willibald Schmaus

Armando Castellazzi

Leopold Hofmann

Mario Pizziolo

Josef Hassmann

Mario Varglien I

Matthias Kaburek

Pietro Arcari

Josef Stroh

Felice Borel II

Hans Walzhofer

Anfilogino Guarisi

Johann Horvath

Attilio Demaría

Georg Braun

 

GOL: 19′ Enrique Guaita (ITA)

Veja algumas imagens da partida:

… 09/06/1990 – Itália 1 x 0 Áustria

Três pontos sobre…
… 09/06/1990 – Itália 1 x 0 Áustria


(Imagem: Barcalcio)

● Depois de vencer a Copa do Mundo de 1982, a Itália soube capitalizar muito bem esse sucesso. Nos anos seguintes, os clubes do país contrataram os principais talentos do futebol mundial. A Juventus trouxe Michel Platini e Zbigniew Boniek. A Udinese tirou Zico do Flamengo. A Roma já tinha Falcão e trouxe Toninho Cerezo. Júnior foi para o Torino. A Internazionale comprou Karl-Heinz Rummenigge. A Fiorentina fechou com Sócrates. O Verona foi atrás de Hans-Peter Briegel. E até o pequeno Napoli conseguiu sua estrela: Diego Armando Maradona, que não estava bem no Barcelona. Exceções feitas aos espanhóis (pelo futebol forte e capitalizado) e aos soviéticos (que eram impedidos de deixar seu país), em meados da década de 1980, praticamente todos os grandes futebolistas do planeta estavam desfilando em gramados italianos. Com uma constelação dessa imponência no Calcio, até a Rede Globo ousou transmitir o Campeonato Italiano ao vivo na temporada 1984/85.

Com esse sucesso, os políticos italianos demonstraram o interesse de seu país em ser sede da próxima Copa a ser disputada na Europa. A Itália já tinha sido anfitriã no segundo Mundial, em 1934, e a FIFA estava relutante em repetir um país sede. Mas o precedente do México em 1986 abriu as portas para o sucesso italiano.

A FIFA, vendo como iminente queda da “Cortina de Ferro” e a consequente implosão da União Soviética (maior adversária dos italianos no pleito), decidiu pelo país que tinha mais tradição, o melhor campeonato nacional do mundo e melhor infraestrutura turística. E a Itália se tornou novamente sede da Copa – dessa vez sem a influência do fascismo.

Foram reformados nove dos doze estádios que sediaram jogos, incluindo o Olímpico de Roma e o San Siro, em Milão. O Luigi Ferraris, de Gênova, foi demolido e reconstruído. Turim e Bari ganharam estádios novos: Delle Alpi e San Nicola, respectivamente.

A FIFA dirigiu o sorteio do chaveamento, de forma a evitar o desequilíbrio. Cada grupo tinha pelo menos duas equipes de bom nível, sendo que até três times poderiam se classificar para as oitavas de final. Esse direcionamento impediu que houvessem grupos fracos e também os chamados “grupos da morte”.

Os principais favoritos ao título eram a Itália (dona da casa, que contava com uma defesa fortíssima), a Holanda (campeã da Eurocopa de 1988) e o Brasil (campeão da Copa América de 1989 – e que havia derrotado italianos e holandeses em amistosos também em 1989). Em um segundo escalão estavam a Argentina (então campeã mundial), União Soviética (campeã olímpica de 1988), Alemanha Ocidental e Inglaterra.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Na abertura oficial do torneio, a Argentina foi surpreendida por Camarões e perdeu por 1 a 0. No dia seguinte, era a vez da Itália estrar diante de sua torcida contra o bom time da Áustria.

Em 1990, a Áustria disputou três amistosos preparatórios. Em 28/03, venceu a Espanha de virada por 3 a 2, em Málaga, após estar perdendo por 2 a 0. Em 11/04, em Salzburg, goleou a Hungria por 3 a 0. No dia 30/05, em Viena, derrotou a fortíssima Holanda por 3 a 2. Esses resultados elevaram o moral dos austríacos. Para a crítica especializada, o time deixou de ser a “terceira força do Grupo A” e passou a ter “razoáveis chances de chegar entre os oito finalistas”. Mas, para os austríacos, um empate na estreia já seria um ótimo resultado.

A Itália causava desconfiança à sua torcida após o resultado de três partidas amistosas. Em fevereiro, empatou sem gols com a Holanda, em Roterdã. Em março, venceu a Suíça por 1 a 0, em Basel. No dia 30/05, em Perugia, empatou sem gols com a Grécia. Em três jogos, marcou um gol e não sofreu nenhum. E aparentemente era isso que a Squadra Azzurra tinha a oferecer na Copa: uma defesa intransponível e um ataque estéril.


Azeglio Vicini montou a Itália no sistema 4-4-2 com Franco Baresi como líbero.


Josef Hickersberger armou a Áustria no 5-3-2.

● Todavia, com a bola rolando, a Itália surpreendeu a todos e partiu para cima, deixando de lado sua prudência costumeira e criando inúmeras oportunidades. Porém, não foi feliz nas finalizações.

O primeiro tempo poderia ter terminado com o placar dilatado, se Andrea Carnevale (várias vezes), Gianluca Vialli, Carlo Ancelotti (acertou a trave) e Roberto Donadoni não tivessem desperdiçado chances preciosas. Donadoni perdeu o gol mais feito: ele estava dentro da pequena área e chutou por cima, com o gol vazio. Os atacantes sofriam com a ansiedade e nervosismo para definir logo as jogadas. Faltava pontaria.

Vialli perdeu outro gol fácil no início do segundo tempo, na oitava finalização italiana no jogo. Com 23 anos, o talentoso Roberto Baggio permaneceu no banco os 90 minutos.

Daí em diante, a Áustria conseguiu estabelecer um certo equilíbrio na partida, trocando passes e tirando a velocidade das jogadas. Mas, muito bem marcado, o artilheiro Toni Polster pouco conseguia fazer.

E, aos 30 minutos, o técnico Azeglio Vicini trocou o inoperante Carnevale (que errou quatro finalizações) por Salvatore “Totò” Schillaci – um artilheiro implacável atuando pelo Messina na Série B, que havia chegado à Juventus um ano antes e sido autor de 12 gols em 30 jogos na Série A de 1989/90. Aos 25 anos, era seu segundo jogo pela seleção. Era praticamente um desconhecido do grande público. E que se tornou celebridade apenas três minutos após entrar em campo.

Aos 33′, Vialli avançou até a linha de fundo e cruzou da direita. Praticamente em seu primeiro toque na bola, Schillaci (1,75 m) saltou entre os gigantes Ernst Aigner (1,94 m) e Robert Pecl (1,89) para cabecear a bola para o fundo do gol de Lindenberger.

Em um jogo duro, a Itália conseguiu a vitória graças a “Totò” Schillaci, o novo xodó da torcida italiana. Salvatore foi o salvador da Itália.


São João Paulo II: o Papa na Copa (Imagem: FIFA)

● Esse foi o único jogo da história das Copas que contou com a presença de um Papa. Antes da partida, São João Paulo II desfilou de papamóvel pela pista de atletismo do estádio Olímpico de Roma e depois leu um breve discurso na tribuna de honra, enaltecendo a importância dos atletas para que sirvam de modelo aos jovens de todo o mundo, “como líderes, e não como ídolos”.

Curiosamente, em sua juventude em Wadowice (a 50 km de Cracóvia), o polonês Karol Wojtyła brincava de ser goleiro e era elogiado pelo porte físico, coragem e disciplina em campo.

Mas o Papa sabia que naqueles dias o catolicismo ficaria em segundo plano na Itália, perdendo para a principal religião do mundo: o futebol. Tanto sabia, que adiantou o horário da tradicional procissão de Corpus Christi para que os fiéis pudessem assistir o jogo entre Itália e Estados Unidos.

E para tentar atender o maior número possível de fiéis turistas durante Copa, o Vaticano rezava missas em cinco idiomas: italiano, inglês, espanhol, alemão e francês.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

● Na sequência, a Áustria perdeu para a Tchecoslováquia por 1 a 0 e venceu os Estados Unidos por 2 a 1. Foi eliminada na primeira fase, com apenas dois pontos.

A Itália pegou embalo e, nas partidas seguintes, venceu os EUA por 1 a 0 e a Tchecoslováquia por 2 a 0, terminando a fase de grupos com 100% de aproveitamento. Nas oitavas de final, eliminou o Uruguai (2 x 0). Nas quartas, teve dificuldade para vencer a Irlanda por 1 a 0. Na semi, a Azzurra sofreu seu primeiro gol no torneio e empatou com a Argentina por 1 a 1, mas perdeu nos pênaltis por 4 a 3. Como consolo, conquistou o 3º lugar ao vencer a Inglaterra por 2 a 1.

“Totò” Schillaci se sagrou o artilheiro da Copa com seis gols e foi eleito o melhor jogador do torneio.


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 1 x 0 ÁUSTRIA

 

Data: 09/06/1990

Horário: 21h00 locais

Estádio: Olímpico

Público: 73.303

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: José Roberto Wright (Brasil)

 

ITÁLIA (4-4-2):

ÁUSTRIA (5-3-2):

1  Walter Zenga (G)

1  Klaus Lindenberger (G)

2  Franco Baresi

2  Ernst Aigner

3  Giuseppe Bergomi (C)

7  Kurt Russ

6  Riccardo Ferri

3  Robert Pecl

7  Paolo Maldini

5  Peter Schöttel

9  Carlo Ancelotti

18 Michael Streiter

11 Fernando De Napoli

8  Peter Artner

13 Giuseppe Giannini

10 Manfred Linzmaier

17 Roberto Donadoni

20 Andreas Herzog

16 Andrea Carnevale

13 Andreas Ogris

21 Gianluca Vialli

9  Toni Polster

 

Técnico: Azeglio Vicini

Técnico: Josef Hickersberger

 

SUPLENTES:

 

 

12 Stefano Tacconi (G)

21 Michael Konsel (G)

22 Gianluca Pagliuca (G)

22 Otto Konrad (G)

5  Ciro Ferrara

4  Anton Pfeffer

8  Pietro Vierchowod

6  Manfred Zsak

4  Luigi De Agostini

12 Michael Baur

14 Giancarlo Marocchi

11 Alfred Hörtnagl

10 Nicola Berti

19 Gerald Glatzmayer

15 Roberto Baggio

16 Andreas Reisinger

18 Roberto Mancini

14 Gerhard Rodax

20 Aldo Serena

15 Christian Keglevits

19 Salvatore Schillaci

17 Heimo Pfeifenberger

 

GOL: 78′ Salvatore Schillaci (ITA)

 

CARTÃO AMARELO: 6′ Andreas Herzog (AUT)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Carlo Ancelotti (ITA) ↓

Luigi De Agostini (ITA) ↑

 

61′ Peter Artner (AUT) ↓

Manfred Zsak (AUT) ↑

 

75′ Andrea Carnevale (ITA) ↓

Salvatore Schillaci (ITA) ↑

 

77′ Manfred Linzmaier (AUT) ↓

Alfred Hörtnagl (AUT) ↑


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

Melhores momentos da partida (em italiano):

Melhores momentos da partida (Rede Manchete):

… 07/06/1934 – Alemanha 3 x 2 Áustria

Três pontos sobre…
… 07/06/1934 – Alemanha 3 x 2 Áustria


(Imagem: Yahoo)

● Em sua primeira Copa do Mundo, a inexperiente e (até então) pouco expressiva seleção da Alemanha surpreendeu e conquistou o terceiro lugar. Eliminou a Bélgica com uma vitória por 5 a 2 nas oitavas. Nas quartas, bateu o bom time da Suécia por 2 a 1. Na semifinal, teve desfalques importantes e duas falhas do goleiro Willibald Kreß foram cruciais para que a Tchecoslováquia vencesse por 3 a 1.

O “Wunderteam” (“time maravilha”) austríaco estava desanimado. Após vencer a França nas oitavas (3 x 2) e a Hungria nas quartas (2 x 1), foi bastante prejudicada pela arbitragem na derrota para a anfitriã Itália por 1 a 0 na semifinal.

Na decisão do 3º lugar, os dois países vizinhos se enfrentariam. Com a mesma origem germânica, com culturas semelhantes que praticamente se misturavam, dividem o alemão como o mesmo idioma. E algo mais era comum aos dois, que gerou discórdia desde antes do apito inicial.

Antigamente, era comum que as seleções viajassem para disputar uma Copa do Mundo levando somente o uniforme principal, ignorando a possibilidade de que suas cores poderiam coincidir com as do adversário. E isso aconteceu nessa partida. As duas equipes entraram em campo com seu uniforme tradicional: camisa branca e calção preto. Após muita discussão, os capitães Fritz Szepan e Johann Horvath não chegaram a um acordo sobre quem deveria se trocar. Assim, o jogo começou com as duas seleções vestindo branco. Como não poderia deixar de ser, a confusão foi enorme e a Alemanha abriu o placar. Só após isso, os austríacos acabaram mudando de ideia e pediram permissão para trocar as vestimentas. Um dirigente do Napoli, a equipe local, ofereceu a camisa do clube, que foi prontamente aceita. Com isso, os austríacos ganharam a simpatia da torcida napolitana.


(Imagem: Popper Foto / FIFA)

● O técnico alemão Otto Nerz teve problemas para escalar sua equipe. Entre deserções e lesões durante o torneio, ele tinha apenas dez atletas à disposição para a última partida. Como as regras da FIFA não eram tão rígidas, Nerz convocou de última hora o defensor Reinhold Münzenberg, que estava na Alemanha. Münzenberg havia atuado quatro vezes com a camisa da “Nationalelf”, inclusive nas eliminatórias. Ao receber o chamado, o jogador telefonou para o hotel onde se hospedava a delegação alemã e conversou diretamente com o até então auxiliar técnico Sepp Herberger. Ele explicou que não poderia viajar à Itália por estar de casamento marcado no mesmo dia do jogo. Herberger insistiu e convenceu Münzenberg: “Uma data de casamento pode ser adiada, mas um Mundial, não”. Curiosamente, Münzenberg estaria no elenco de sua seleção também em 1938.

Uma das ausências no escrete alemão foi o meia Rudolf Gramlich. Após a vitória de sua seleção sobre a Suécia por 2 x 1, ele recebeu a notícia de que a fábrica de sapatos na qual trabalhava, em Frankfurt, como curtidor tinha sido confiscada pelas autoridades nazistas. Como o futebol alemão era amador e a fábrica era seu único emprego remunerado, ele abandonou a Copa para tentar ajudar seus patrões judeus a salvar a empresa. Nem sua boa reputação representando seu país no Mundial foi suficiente e ele não conseguiu impedir a prisão e posterior morte de seus patrões. Algum tempo depois, Gramlich se tornou militar do exército nazista.


Otto Nerz era um adepto do sistema W-M, recém criado na Europa. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá enfâse ao trabalho do meio de campo.


A Áustria de Meisl jogava em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos. Sem Sindelar, lesionado, faltou movimentação ao ataque.

● Historicamente, a Áustria levava ampla vantagem. Mas isso não se traduziu em campo em Nápoles, no estádio Giorgio Ascarelli – que viria a ser destruído por bombardeios na Segunda Guerra Mundial.

Matthias Sindelar, conhecido como “Der Papierene” (“Homem de Papel”) pelo seu físico magro, leveza e mobilidade, estava lesionado e não pôde jogar. Em campo, a Áustria demonstrou que dependia muito do estilo de jogo de seu astro para que todo o time funcionasse.

A Alemanha teve sorte ao marcar um gol logo aos 25 segundos de jogo, com Ernst Lehner. Na época, foi o gol mais rápido da história das Copas.

Edmund Conen marcou seu quarto gol no Mundial e fez 2 a 0 aos 27′.

A Áustria diminuiu três minutos depois com o capitão Johann Horvath.

Mas pouco antes do intervalo, Lehner marcou de novo e aumentou a vantagem.

No segundo tempo, a Áustria cresceu em campo. O zagueiro Karl Sesta ainda descontou aos 9′.

Mas foi pouco. A derrota seria o canto de cisne do “Wunderteam”.


(Imagem: Impromptuinc)

● Quatro anos depois, a seleção austríaca ainda tinha jogadores remanescentes do “Wunderteam”. Se classificou com tranquilidade nas eliminatórias, mas não pôde disputar a Copa do Mundo de 1938.

Na véspera do torneio, a Europa estava às portas da Segunda Guerra Mundial, que ocorreu oficialmente entre 1939 e 1945. E o conflito político interferiu diretamente no Mundial organizado pela França.

No dia 11/03/1938, a Alemanha nazista deu um choque no mundo ao anexar a Áustria ao seu território, em um processo chamado “Anschluss” (“anexação”, em alemão). Assim, a Áustria deixou de existir como nação independente. Com isso, o “Wunderteam” teria jogadores “prestando serviços” à seleção alemã – foi o que a federação germânica comunicou à FIFA, sem mais delongas. A invasão piorou as relações diplomáticas no continente. A FIFA tentou ignorar o caso ao máximo. Para tentar contornar a situação, a entidade convidou a Inglaterra a ocupar a vaga austríaca, mas o “English Team” – sabiamente – declinou o convite.

Sem time contra quem jogar, a Suécia (adversária da Áustria) se classificou automaticamente para as quartas de final. Até hoje esse é o único W.O. da história das Copas do Mundo.

Já comandada pelo lendário Sepp Herberger, a seleção alemã contou com nove atletas nascidos na Áustria: o goleiro Rudolf Raftl, o zagueiro Willibald Schmaus, os meias Hans Mock, Stefan Skoumal e Franz Wagner, além dos atacantes Wilhelm Hahnemann, Leopold Neumer, Hans Pesser e Josef Stroh. Desses nove, quatro faziam parte do elenco austríaco na Copa de 1934: Raftl, Schmaus, Wagner e Stroh.

Mas, mesmo com esses “reforços”, a “Nationalelf” foi eliminada na primeira fase. Com cinco deles em campo (Raftl, Schmaus, Hahnemann, Pesser e Mock – o capitão), empatou com a Suíça em 1 a 1. Na partida desempate, novamente eram cinco atletas nascidos na Áustria (Raftl, Skoumal, Hahnemann, Neumer e Stroh). Dessa vez, a Alemanha perdeu de virada por 4 a 2, depois de estar vencendo por 2 a 0.

Matthias Sindelar, melhor jogador de seu país em todos os tempos, se recusou a defender a seleção da Alemanha. Ele faleceu em 23/01/1939, pouco depois de sua esposa. A versão oficial é que ele se matou. A história romântica diz que ele “foi suicidado” pelo regime nazista por ser judeu.

A Áustria teve outros bons times, como o que conquistou o 3º lugar na Copa de 1954, mas nunca mais formou uma seleção de classe mundial como foi o “Wunderteam” da década de 1930 – destruído por Adolf Hitler e cia.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA 3 X 2 ÁUSTRIA

 

Data: 07/06/1934

Horário: 18h00 locais

Estádio: Giorgio Ascarelli

Público: 7.000

Cidade: Nápoles (Itália)

Árbitro: Albino Carraro (Itália)

 

ALEMANHA (W-M):

ÁUSTRIA (2-3-5):

Hans Jakob (G)

Peter Platzer (G)

Paul Janes

Franz Cisar

Willy Busch

Karl Sesta

Jakob Bender

Franz Wagner

Reinhold Münzenberg

Josef Smistik

Paul Zielinski

Johann Urbanek

Ernst Lehner

Karl Zischek

Fritz Szepan (C)

Josef Bican

Edmund Conen

Georg Braun

Otto Siffling

Johann Horvath (C)

Matthias Heidemann

Rudolf Viertl

 

Técnico: Otto Nerz

Técnico: Hugo Meisl

 

SUPLENTES:

 

 

Willibald Kreß (G)

Friederich Franzl (G)

Fritz Buchloh (G)

Rudolf Raftl (G)

Sigmund Haringer

Anton Janda

Hans Schwartz

Willibald Schmaus

Rudolf Gramlich

Leopold Hofmann

Ernst Albrecht

Josef Hassmann

Rudolf Noack

Matthias Kaburek

Josef Streb

Josef Stroh

Franz Dienert

Hans Walzhofer

Karl Hohmann

Anton Schall

Stanislaus Kobierski

Matthias Sindelar

 

GOLS:

25” Ernst Lehner (ALE)

27′ Edmund Conen (ALE)

28′ Johann Horvath (AUT)

42′ Ernst Lehner (ALE)

54′ Karl Sesta (AUT)


(Imagem: Impromptuinc)

… 31/05/1934 – Áustria 2 x 1 Hungria

Três pontos sobre…
… 31/05/1934 – Áustria 2 x 1 Hungria


(Imagem: Guerin Sportivo)

● Esses dois vizinhos do centro da Europa foram um só país de 1867 a 1918, o Império Austro-Húngaro. A separação só ocorreu após o término da Primeira Guerra Mundial. Mas, futebolisticamente, elas sempre tiveram suas respectivas seleções.

Culturalmente, sempre foram muito semelhantes. As evoluções táticas ocorreram quase simultaneamente, assim como o aprimoramento no jogo de troca de passes ao invés de um estilo mais físico.

Mas a rivalidade era enorme de lado a lado e foi posta à prova nas quartas de final da Copa do Mundo de 1934.


Ambas equipes jogavam em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos.

● Nenhum dos times economizou na virilidade e na violência.

Nos poucos momentos sem pancadaria, a Áustria fez dois gols, cada um no começo de cada etapa.

O capitão Johann Horvath abriu o placar aos oito minutos do primeiro e o ponta Karl Zischek aumentou aos seis do segundo tempo.

A Hungria tentou reagir e descontou. Aos 15′, György Sárosi cobrou pênalti e converteu.

Mas, em seguida, o ponta direita Imre Markos foi expulso após uma jogada violenta. Essa foi a única expulsão da Copa de 1934.

Com um a menos, a Hungria não teve forças para empatar a partida.


(Imagem: Guerin Sportivo)

● Na fase anterior, de oitavas de final, a Hungria havia vencido o Egito por 4 a 2. O atacante “Doctor” György Sárosi não esteve presente nesse jogo. Ele trabalhava em um escritório de advocacia e precisou adiar sua chegada à Itália devido a um compromisso de trabalho. Sárosi seria um dos principais destaques na campanha da Hungria no vice-campeonato da Copa do Mundo de 1938.

A Áustria, que havia precisado da primeira prorrogação da história das Copas para despachar a França por 3 x 2 na partida anterior, agora estava nas semifinais. Enfrentaria a anfitriã Itália, que precisou de 210 minutos para eliminar a excelente seleção da Espanha.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

ÁUSTRIA 2 x 1 HUNGRIA

 

Data: 31/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Littoriale (atual Estádio Renato Dall’Ara)

Público: 23.000

Cidade: Bolonha (Itália)

Árbitro: Francesco Mattea (Itália)

 

ÁUSTRIA (2-3-5):

HUNGRIA (2-3-5):

Peter Platzer (G)

Antal Szabó (G)

Franz Cisar

József Vágó

Karl Sesta

László Sternberg (C)

Franz Wagner

István Palotás

Josef Smistik

György Szűcs

Johann Urbanek

Antal Szalay

Karl Zischek

Imre Markos

Josef Bican

István Avar

Matthias Sindelar

György Sárosi

Johann Horvath (C)

Géza Toldi

Rudolf Viertl

Tibor Kemény

 

Técnico: Hugo Meisl

Técnico: Ödön Nádas

 

SUPLENTES:

 

 

Friederich Franzl (G)

József Háda (G)

Rudolf Raftl (G)

Sándor Bíró

Anton Janda

Gyula Futó

Willibald Schmaus

Gyula Polgár

Leopold Hofmann

Gyula Lázár

Josef Hassmann

János Dudás

Matthias Kaburek

Rezső Somlai

Josef Stroh

István Tamássy

Hans Walzhofer

Jenő Vincze

Anton Schall

Pál Teleki

Georg Braun

Gábor Péter Szabó

 

GOLS:

8′ Johann Horvath (AUT)

51′ Karl Zischek (AUT)

60′ György Sárosi (HUN) (pen)

 

EXPULSÃO: 63′ Imre Markos (HUN)

Imagens da partida:

… 27/05/1934 – Áustria 3 x 2 França

Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Áustria 3 x 2 França


(Imagem: Pinterest)

Como já contamos aqui, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias.

A Áustria terminou em segundo lugar do Grupo 4, embora tenha jogado apenas uma partida e goleado a Bulgária por 6 x 1.

Da mesma forma, a França também foi 2º, mas no Grupo 8. No único jogo, venceu Luxemburgo por 6 a 1.


(Imagem: Imortais do Futebol)

● Desde aquela época, a França já era tão “plural” e miscigenada como é atualmente. Dois atletas nasceram em cidades que à época pertenciam à Alemanha (Fritz Keller, em Estrasburgo, e Émile Veinante, em Metz). Outros dois nasceram na Argélia, então colônia francesa (Joseph Alcazar e Joseph Gonzales). Além disso, o atacante Roger Courtois nasceu na Suíça.

“Les Bleus” contavam também com veteranos da Copa de 1930. Dos 22 convocados, seis disputaram o primeiro Mundial, com destaque para o goleiro Alex Thépot e o zagueiro Étienne Mattler. Mas a esperança de gols estava depositada mesmo em Jean Nicolas, centroavante do FC Rouen, de apenas 20 anos.


Hugo Meisl, com a pasta na mão (Imagem: Imortais do Futebol)

● O técnico austríaco Hugo Meisl foi um dos que solidificaram o sistema tático 2-3-5 na Europa Central. Seus times eram conhecidos pela movimentação constante de seus jogadores do meio para a frente, sempre com rápidas trocas de passes. Essa característica ficou ainda mais incisiva quando Meisl trocou um centroavante estático por Matthias Sindelar, que flutuava entre as linhas e armava os ataques do time.

Até o início do Mundial de 1934, a Áustria havia vencido ou empatado 28 dos 31 jogos que disputou nos três anos anteriores. Havia vencido adversários fortes, como Suécia, Suíça, Itália, Hungria, Alemanha e outras. Não era simplesmente resultado. O time dava show. Tanto, que ganhou o apelido de “Der Wunderteam” (“time maravilha”). Possuía uma verdadeira legião de craques como o já citado Sindelar (maior gênio do futebol do país), Josef Bican (um dos maiores artilheiros da história), e o centromédio e capitão Josef Smistik.

Com tudo isso, e por possuir o melhor retrospecto entre todas as seleções, era impossível que a Áustria não fosse apontada como a maior favorita ao título da segunda Copa do Mundo.


No 2-3-5 de Meisl, os meio-campistas tinham liberdade para armar, embora suas maiores preocupações fossem as defensivas. Sindelar flutuava pelas linhas adversárias em busca de espaço.


O técnico inglês Sid Kimpton também escalava a seleção da França no 2-3-5 ou sistema pirâmide.

● Era o jogo mais esperado da primeira fase e correspondeu às expectativas.

Jean Nicolas abriu o placar para a França aos 18 minutos de jogo.

Os franceses conseguiam fazer uma boa marcação sobre Sindelar. Mas, em uma única brecha que teve, o craque austríaco empatou a partida aos 44′.

O empate no tempo regulamentar levou o jogo para o tempo extra. Essa foi a primeira prorrogação da história das Copas. Eram necessários mais trinta minutos para ser definido o vencedor.

Mais inteira e melhor fisicamente, a Áustria se sobressaiu e marcou dois gols. Anton Schall anotou o seu aos 3′ do 1º e Josef Bican aos 4′ do 2º tempo.

A quatro minutos do fim, Georges Verriest cobrou pênalti e descontou. Mas era tarde para mudar o resultado.

A França estava eliminada logo nas oitavas de final. A Áustria estava classificada para as quartas de final, para enfrentar sua maior rival, a Hungria, que havia vencido o Egito por 4 x 2.


(Imagem: Popper Foto / FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

ÁUSTRIA 3 x 2 FRANÇA

 

Data: 27/05/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Benito Mussolini

Público: 16.000

Cidade: Turim (Itália)

Árbitro: Johannes van Moorsel (Holanda)

 

ÁUSTRIA (2-3-5):

FRANÇA (2-3-5):

Peter Platzer (G)

Alex Thépot (G)(C)

Franz Cisar

Jacques Mairesse

Karl Sesta

Étienne Mattler

Franz Wagner

Edmond Delfour

Josef Smistik (C)

Georges Verriest

Johann Urbanek

Noël Liétaer

Karl Zischek

Fritz Keller

Josef Bican

Joseph Alcazar

Matthias Sindelar

Jean Nicolas

Anton Schall

Roger Rio

Rudolf Viertl

Alfred Aston

 

Técnico: Hugo Meisl

Técnico: George “Sid” Kimpton

 

SUPLENTES:

 

 

Friederich Franzl (G)

Robert Défossé (G)

Rudolf Raftl (G)

René Llense (G)

Anton Janda

Joseph Gonzales

Willibald Schmaus

Jules Vandooren

Leopold Hofmann

Georges Beaucourt

Josef Hassmann

Célestin Delmer

Matthias Kaburek

Louis Gabrillargues

Josef Stroh

Roger Courtois

Hans Walzhofer

Lucien Laurent

Johann Horvath

Pierre Korb

Georg Braun

Émile Veinante

 

GOLS:

18′ Jean Nicolas (FRA)

44′ Matthias Sindelar (AUT)

93′ Anton Schall (AUT)

109′ Josef Bican (AUT)

116′ Georges Verriest (FRA) (pen)

Veja alguns lances da partida: