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… 01/07/1990 – Inglaterra 3 x 2 Camarões

Três pontos sobre…
… 01/07/1990 – Inglaterra 3 x 2 Camarões

● A seleção de Camarões havia sido uma grande surpresa em 1982, quando debutou na Copa do Mundo e terminou invicta. Oito anos depois, voltava a disputar um Mundial. Quatro eram os atletas remanescentes: os goleiros Thomas N’Kono e Joseph-Antoine Bell, o zagueiro Emmanuel Kundé e o atacante Roger Milla.

Com 38 anos, o “velhinho” Milla havia se retirado da seleção em 1988 e estava à beira da aposentadoria. Mas recebeu um convite do presidente de Camarões, Paul Biya (seu amigo pessoal) e retornou à convocatória dos Leões Indomáveis para disputar o Mundial de 1990. Sem o mesmo fôlego dos garotos, Milla normalmente entrava nas partidas no início do segundo tempo. Ainda sim, anotou quatro gols durante a competição e se tornou um dos destaques da Copa.

Com o objetivo de profissionalizar a seleção, a federação camaronesa montou uma eficiente estrutura, além de trazer o técnico soviético Valery Nepomnyashchy, ex-auxiliar do treinador da URSS Valeriy Lobanovskyi. Apreciador dos métodos de seu mestre, Nepomnyashchy tratou de misturar o talento natural dos africanos a um sistema tático mais rigoroso, mas sem deixar de potencializar a técnica.

Camarões foi líder do difícil e equilibrado Grupo B. Estreou vencendo por 1 x 0 a campeã mundial Argentina, de Diego Maradona. Depois, bateu a Romênia, do maestro Gheorghe Hagi, por 2 x 1. Já classificado, foi goleado por 4 x 0 pela União Soviética, campeã olímpica dois anos antes. A Colômbia foi a adversária nas oitavas de final, em uma partida histórica. Roger Milla fez dois gols na prorrogação, um deles ao roubar a bola do goleiro René Higuita, que tentou sair driblando. O placar de 2 x 1 sobre os cafeteros garantiu Camarões como a primeira seleção africana da história a chegar às quartas de final da Copa do Mundo.

A seleção de Camarões era considerada o “segundo time” de todos os torcedores que assistiram à Copa do Mundo de 1990. Muito por ser novidade, mas mais ainda pelo futebol bonito que havia sido apresentado até então. Os otimistas acreditavam que os africanos pudessem surpreender o bom time da Inglaterra.

Embora jogasse bonito, os africanos também eram muito duros na marcação. Comumente, até apelavam para a violência. Por isso o time tinha quatro importantes desfalques para o duelo diante dos ingleses, todos por terem recebido o segundo cartão amarelo no Mundial: os zagueiros Victor N’Dip e Jules Onana, o volante André Kana-Biyik e o meia Émile Mbouh.

● A seleção inglesa chegava com uma grande invencibilidade pré-Copa – inclusive com uma vitória sobre o Brasil por 1 x 0. O experiente técnico Bobby Robson soube montar um time que acabou com a histórica desconfiança dos torcedores e era considerado um dos favoritos ao título.

Gary Lineker continuava sendo o responsável pelos gols, mas o grande queridinho da torcida era o meia Paul Gascoigne. Com tamanha elegância em campo, ele nem parecia um inglês. Mas Gazza não agradava totalmente ao técnico por usa indisciplina tática, embora compensasse com o seu talento. Ambos demonstravam na seleção o entrosamento que adquiriram jogando juntos no Tottenham.

Outro destaque era o meia driblador Chris Waddle, que atravessava excelente fase no Olympique de Marselha. A experiência em campo vinha do ótimo goleiro Peter Shilton e seus 40 anos. A surpresa na convocação foi o explosivo atacante Steve Bull, artilheiro do Wolverhampton, que estava na terceira divisão inglesa na época. A grande ausência era o capitão Bryan Robson, que ainda não havia se recuperado totalmente de uma cirurgia de hérnia.

Pelo Grupo F, a Inglaterra estreou empatando com a Irlanda (1 x 1) e a Holanda (0 x 0). Uma vitória simples (1 x 0) sobre o Egito garantiu o English Team no primeiro lugar da chave. Nas oitavas de final, um gol de David Platt no último minuto da prorrogação valeu a vitória sobre a Bélgica (1 x 0).

O English Team se preparou para as oitavas de final sabendo o perigo que corria ao enfrentar os fortes e arrojados camaroneses.


Na teoria, o time escalado por Bobby Robson era um 3-5-2. Mas, na prática, se defendia no 5-4-1, deixando apenas Lineker na frente. Quando atacava, os alas se apresentavam bem, os meias apareciam no ataque e Barnes e Waddle avançavam como pontas, formando um 3-4-3.


No papel, o técnico soviético Valery Nepomnyashchy escalou seu time em uma espécie de 4-4-2. Sem a bola, Emmanuel Kundé se transformava em líbero e o time se defendia no 4-5-1. Com a bola, os meias avançavam em velocidade e o time se formava no 4-3-3. No ataque, Omam-Biyik recebia a companhia de Roger Milla no segundo tempo de todas as partidas.

● Inglaterra e Camarões fizeram o melhor jogo da etapa das quartas de final da Copa do Mundo de 1990, na Itália.

Mais de 55 mil expectadores se fizeram presentes no estádio San Paolo, em Nápoles.

Camarões teve a chance de abrir o placar e só não o fez porque Shilton salvou um chute cara a cara com François Omam-Biyik.

Aos 25 minutos de jogo, David Platt abriu o placar. Stuart Pearce avançou pela esquerda e cruzou pelo alto. Platt apareceu sozinho na pequena área e cabeceou firme para baixo. A bola passou entre as pernas do goleiro Thomas N’Kono, que havia saltado para fechar o ângulo. Foi o segundo gol do camisa 17 na Copa de 1990.

Mas, como era de praxe, Roger Milla entrou no intervalo para mudar o rumo da partida. O “vovô” camaronês era a arma secreta – nem tão secreta assim.

Aos 16′ da etapa final, ele recebeu passe dentro da área, protegeu com o corpo e foi derrubado por Gascoigne. O líbero Emmanuel Kundé bateu com precisão e a bola foi no ângulo esquerdo de Peter Shilton – que até acertou o canto, mas não conseguiu pegar.

Quatro minutos depois, Milla viu a infiltração de Eugène Ekéké e fez o passe com precisão para o meio da área. Ekéké só deu um toque por cima para tirar o goleiro da jogada. Era a virada camaronesa.

Em sua ampla maioria, a torcida napolitana era para os azarões africanos.

Depois, os camaroneses passaram a abusar das firulas e jogadas de efeito, mas sem efetividade. “A bola pune”, como diria Muricy Ramalho.

A sete minutos do fim, Paul Parker interceptou um lançamento já na intermediária ofensiva e Mark Wright ajeitou para Gary Lineker. Dentro da área, o atacante inglês deu um corte em Benjamin Massing e foi derrubado. O próprio Lineker bateu o pênalti à meia altura no canto esquerdo, deslocando o goleiro Thomas N’Kono, que pulou para a direita.

Camarões ainda teve uma última chance. Ekéké tocou para Cyrille Makanaky. Ele invadiu a área, deixou Pearce no chão, mas foi travado em cima da hora por Trevor Steven.

Com o placar igual no tempo normal, o jogo foi definido na prorrogação.

O líbero Mark Wright se machucou em um choque de cabeça acidental com Roger Milla e voltou ao jogo com uma caixa amarrada na cabeça. Ele cortou o supercílio esquerdo.

Os Leões Indomáveis farejam sangue e foram para cima dos Three Lions. Makanaky fez boa jogada pelo lado direito, passou por Pearce e cruzou. Wright tirou a bola da cabeça de Ekéké. Ela subiu, François Omam-Biyik ganhou no alto de Des Walker e cabeceou, mas Shilton segurou firme.

No fim do primeiro tempo extra, Gascoigne fez um passe magistral. Lineker arrancou sozinho e foi derrubado dentro da área em dividida com Massing e N’Kono. Outra penalidade. Dessa vez, Lineker encheu o pé no meio do gol e N’Kono caiu para o lado esquerdo. Nova virada no marcador, dessa vez em definitivo, a favor dos ingleses.

De forma dramática, a Inglaterra segurou o 3 x 2 e se classificou.

O técnico Bobby Robson, que sempre tratou Paul Gascoigne como uma bomba relógio prestes a explodir – o que de fato era – se abraçou forte com o jogador após o apito final.

Com exceção dos ingleses, todos lamentavam a queda do time que ousou enfrentar seus adversários com criatividade e alegria – e uma pitada de irresponsabilidade, que acabou lhe custando a vaga nas semifinais.

Mas os camaroneses não se sentiram derrotados. Foram aplaudidos de pé e deram a volta olímpica no estádio San Paolo.

Roger Milla e seus companheiros já tinham entrado para a história das Copas.

● A arbitragem do mexicano Edgardo Codesal foi bastante elogiada pela imprensa internacional, principalmente pela coragem em marcar três pênaltis em um mesmo jogo (todos existentes), algo difícil de acontecer. Por causa dessa atuação, ele acabaria sendo indicado para apitar a final da Copa – quando não foi muito bem e apitou um pênalti bastante polêmico.

Na semifinal, a Inglaterra encontrou seus dois algozes que se tornariam históricos dali adiante: as decisões por pênaltis e a Alemanha Ocidental. O empate por 1 x 1 no tempo normal se manteve na prorrogação. Na decisão por penalidades, os erros de Stuart Pearce e Chris Waddle impediram que os britânicos voltassem a disputar uma final, com a derrota por 4 x 3. Na decisão do 3º lugar, a Inglaterra perdeu por 2 x 1 para a anfitriã Itália.

Curiosamente, o filho mais velho do goleiro italiano Gianluigi Buffon se chama Thomas, em homenagem ao goleiro camaronês Thomas N’Kono.

O antigo estádio San Paolo foi renomeado no fim de 2020 para estádio Diego Armando Maradona, maior ídolo da história do Napoli – clube que manda seus jogos no estádio.


(Imagens desse texto: Imortais do Futebol)

FICHA TÉCNICA:

 

INGLATERRA 3 x 2 CAMARÕES

 

Data: 01/07/1990

Horário: 21h00 locais

Estádio: San Paolo

Público: 55.205

Cidade: Nápoles (Itália)

Árbitro: Edgardo Codesal (México)

 

INGLATERRA (3-6-1):

CAMARÕES (4-2-3-1):

1  Peter Shilton (G)

16 Thomas N’Kono (G)

12 Paul Parker

14 Stephen Tataw (C)

5  Des Walker

6  Emmanuel Kundé

14 Mark Wright

4  Benjamin Massing

6  Terry Butcher (C)

5  Bertin Ebwellé

3  Stuart Pearce

15 Thomas Libiih

8  Chris Waddle

21 Emmanuel Maboang

17 David Platt

13 Jean-Claude Pagal

19 Paul Gascoigne

10 Louis-Paul M’Fédé

11 John Barnes

20 Cyrille Makanaky

10 Gary Lineker

7  François Omam-Biyik

 

Técnico: Bobby Robson

Técnico: Valery Nepomnyashchy

 

SUPLENTES:

 

 

13 Chris Woods (G)

22 Jacques Songo’o (G)

22 Dave Beasant (G)

[22 David Seaman (G)]

1  Joseph-Antoine Bell (G)

2  Gary Stevens

17 Victor N’Dip

15 Tony Dorigo

3  Jules Onana

4  Neil Webb

12 Alphonse Yombi

16 Steve McMahon

2  André Kana-Biyik

18 Steve Hodge

8  Émile Mbouh

7  Bryan Robson

19 Roger Feutmba

20 Trevor Steven

11 Eugène Ekéké

9  Peter Beardsley

18 Bonaventure Djonkep

21 Steve Bull

9  Roger Milla

 

GOLS:

25′ David Platt (ING)

61′ Emmanuel Kundé (CAM) (pen)

65′ Eugène Ekéké (CAM)

83′ Gary Lineker (ING) (pen)

105′ Gary Lineker (ING) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

28′ Benjamin Massing (CAM)

70′ Stuart Pearce (ING)

104′ Thomas N’Kono (CAM)

120′ Roger Milla (CAM)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO John Barnes (ING) ↓

Peter Beardsley (ING)

 

INTERVALO Emmanuel Maboang (CAM) ↓

Roger Milla (CAM)

 

62′ Louis-Paul M’Fédé (CAM) ↓

Eugène Ekéké (CAM)

 

73′ Terry Butcher (ING) ↓

Trevor Steven (ING)

Melhores momentos da partida (Band):

… 30/06/1998 – Argentina 2 x 2 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 30/06/1998 – Argentina 2 x 2 Inglaterra

● O técnico argentino Daniel Passarella gostava de armar seu time com três zagueiros. A frente do goleiro Carlos Roa, ficavam Nelson Vivas mais pela direita, José Chamot mais pela esquerda e Roberto Ayala na sobra. Javier Zanetti fazia a ala direita. Torto, o capitão Diego Simeone fazia a ala esquerda, caindo pelo meio em muitas vezes. Essa função limitava Simeone a uma faixa do campo, mas o liberava para aparecer mais no ataque, o que fazia muito bem. Matías Almeyda era o responsável pela proteção no meio de campo. A criatividade estava a cargo de Juan Sebastián Verón. Ariel Ortega era o meia-atacante que pendia para a direita. Claudio López era o atacante de lado que caía para a esquerda. Todos jogando em função de um dos atacantes mais prolíficos da década: Gabriel Batistuta. No banco, Marcelo Gallardo era da mesma posição de Ortega e Hernán Crespo fazia a função de Batistuta. Não a toa, nenhum técnico seleção albiceleste colocou Crespo e Batistuta para jogarem juntos.

A Argentina terminou a primeira fase como líder go Grupo H com 100% de aproveitamento. Na estreia, venceu o Japão por 1 x 0. No segundo jogo, massacrou a inexperiente Jamaica por 5 x 0. Na terceira rodada, bateu a Croácia por 1 x 0.

No caminho da Argentina, um adversário conhecido, de grandes duelos no campo e fora dele: a Inglaterra.

● O English Team terminou em segundo lugar no Grupo G. Estreou vencendo Tunísia por 2 x 0. Na sequência, perdeu para a Romênia por 2 x 1 e venceu a Colômbia por 2 x 0, com um gol de David Beckham contando falta.

A Inglaterra contava com um bom time, que havia sido semifinalista da Eurocopa de 1996. No gol, o experiente e seguro David Seaman. Na defesa, um trio duro de passar: Gary Neville, Tony Adams e Sol Campbell. Darren Anderton na ala direita e Graeme Le Saux na esquerda. No meio, Paul Ince, Paul Scholes e David Beckham. No ataque, a juventude é impetuosidade de Michael Owen se completava com a experiência e faro de gol de Alan Shearer. No banco, bons nomes como o jovem zagueiro Rio Ferdinand, o meia Steve McManaman e o atacante Teddy Sheringham.

Com apenas 18 anos, Michael Owen, o “Wonderkid” (“Garoto Maravilha”) foi convocado por causa da sequência de lesões e má formação física do genial Paul Gascoigne. Gazza já estava iniciando seu declínio sem fim, sofrendo com o alcoolismo. Segundo as más línguas, foi um curandeira quem recomendou ao técnico Glenn Hoddle para que cortasse o meia do Mundial.

Com a injeção de energia e juventude, o time inglês ficou mais equilibrado e menos previsível.


As duas seleções jogavam em sistemas táticos espelhados – ambas no 3-5-2.

● O que se viu no estádio Geoffroy-Guichard, em Saint-Étienne, foi mais um jogo épico entre argentinos e ingleses.

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A Argentina abriu o marcador logo aos cinco minutos. Do lado direito da intermediária defensiva, Roberto Ayala fez o passe na vertical para Gabriel Batistuta. Ele dominou e abriu com Ariel Ortega na direita. O camisa 10 fez o lançamento para a área e Batistuta só conseguiu desviar a bola de leve. Simeone aparece como homem surpresa e, mesmo com a marcação de Southgate, o goleiro Seaman saiu e atropelou o capitão argentino. Pênalti claro. Batistuta bateu com força no canto direito. Seaman chegou a tocar na bola, mas ela entrou. Foi o quinto gol de Batistuta em quatro jogos.

Quatro minutos depois, a Inglaterra pagou na mesma moeda. Le Saux passou para Scholes no meio e ele deu um toque de cabeça para Owen. O Wonderkid invadiu a área e foi levemente tocado por Ayala. Shearer bateu o pênalti no ângulo direito do goleiro Carlos Roa, colocando fim à invencibilidade do gol argentino na Copa.

A virada veio aos 16′. Da meia direita, Beckham fez um lançamento para Owen no meio. Ele dominou de chaleira, ganhou de José Chamot na velocidade e no corpo, driblou Ayala e bateu cruzado, por cima de Roa. Um golaço histórico, que ajudou a consolidar de vez o talento de Michael Owen. Não era mais promessa: era uma bela realidade. Sua imagem era transmitida para todo o planeta e seu talento reconhecido com entusiasmo pela imprensa. Surgia um novo astro – que, infelizmente, não brilharia tanto como aquele prenúncio devido às sucessivas e sérias lesões.

Incentivada pela torcida, a Inglaterra pressionou em busca do terceiro gol. Teve chances para liquidar a partida, mas não aproveitou.

Beckham cobrou falta da direita. A defesa argentina afastou. Paul Ince chutou de longe e a bola saiu, mas assustou bastante o goleiro Roa.

Le Saux avançou pela esquerda, passou por Zanetti e cruzou da linha de fundo, mas Ayala cortou para escanteio.

Seaman bateu falta de sua área mandando a bola para a frente. Ela viajou o campo todo e Shearer escorou de cabeça para o meio da área. Sozinho, quase na pequena área, Scholes não teve tranquilidade e bateu cruzado de esquerda, mas mandou a bola para fora. Foi um verdadeiro gol perdido. Faria muita falta.

A Argentina conseguiu sustentar a pressão e alcançou o empate nos acréscimos do primeiro tempo. Verón tocou para Claudio López próximo à meia lua. Ele recebeu de costas e sofreu falta de Campbell. Na cobrança, uma bela jogada ensaiada. Batistuta fez que chutaria forte, mas deixou para Verón. Ele só rolou para dentro da área para Javier Zanetti, que passou rápido atrás da barreira inglesa e ficou livre. Ele dominou de direita e ajeitou o corpo para bater de esquerda, no alto, sem chances para Seaman. Uma jogada ensaiada que funcionou à beira da perfeição.

Mas o jogo lindo e bem jogado até então se transformou em uma guerra de um momento para outro.

No começo do segundo tempo houve o lance mais polêmico da partida. Simeone chegou firme em uma disputa com Beckham. O astro inglês perdeu a paciência e revidou dando um “coice” de leve no argentino. O árbitro dinamarquês Kim Milton Nielsen mostrou o cartão amarelo a Simeone (pela falta) e o cartão vermelho a Beckham (pela tentativa de agressão).

Um prato cheio para os críticos implacáveis do Spice Boy. O técnico Glenn Hoddle teve que organizar seu time com dez jogadores.

E a Argentina começou a pressionar. Verón abriu na ponta direita para Claudio López, que foi até a linha de fundo e cruzou para trás. A bola chegaria limpa para Nelson Vivas só completar para o gol, mas Shearer estava ajudando a defesa e afastou o perigo.

Depois, o jogo ficou truncado, com muitas faltas no meio de campo. Nenhuma das equipes teve força e criatividade para superar a defesa adversária e marcar o gol que lhe daria a vitória.

No fim da partida, Anderton bateu escanteio fechado e Campbell cabeceou para o gol. Todos já comemoravam até ver que o árbitro havia anulado por falta cometida por Shearer no goleiro Roa. Uma decisão muito discutível da arbitragem.

Depois, Verón abriu na esquerda para Gallardo. Neville cortou e a bola sobrou para Ortega, que deu ótimo passe para Crespo. Mas o camisa 19 chutou em cima da marcação.

As duas equipes sobreviveram à agonia da prorrogação com morte súbita. Mas, para a Inglaterra e seu histórico de cair nas penalidades, viria outro momento agônico.

Sergio Berti bateu a primeira penalidade para os argentinos. O chute foi no cantinho esquerdo. 1 a 0.

Alan Shearer repetiu a cobrança do tempo normal, mandando no ângulo. 1 a 1.

Hernán Crespo bateu fraco, à meia altura, no canto esquerdo. David Seaman pulou certo e fez a defesa sem dificuldades. Permanecia 1 a 1.

Paul Ince bateu mal, do mesmo jeito e no mesmo lugar. Carlos Roa pegou. Ainda estava 1 a 1.

Juan Sebastián Verón, “La Brujita”, bateu da mesma forma que Shearer e mandou no alto, no canto direito do goleiro inglês. 2 a 1.

Paul Merson tentou imitar. A bola foi mais baixa e mais no meio. Roa chegou a tocar, mas a bola entrou. 2 a 2.

Cheio de confiança, Marcelo Gallardo bateu no canto direito. Seaman novamente acertou o canto, mas não conseguiu pegar. 3 a 2.

Michael Owen, no alto de seus 18 anos, mostrou toda a sua confiança. Bateu no ângulo direito. Roa pulou no canto esquerdo pelo chão. 3 a 3.

Roberto Ayala não fugiu da responsabilidade. Ele bateu rasteiro, no canto esquerdo. Incrivel: Seaman acertou o canto em todas as batidas, mas só conseguiu defender uma das penalidades. 4 a 3.

O inglês David Batty tinha que marcar para forçar a segunda série de cobranças, as chamadas “alternadas”. Ele bateu â meia altura no canto direito, quase no meio do gol. Foi uma defesa fácil para Carlos Roa. Placar final: 4 a 3 para a Argentina.

● Após a disputa nas penalidades, David Batty confessou que nunca havia batido um pênalti sequer como profissional, porém, estava se sentindo confiante e com muita vontade de cobrar e, por isso, pediu ao técnico. Apesar do erro, Batty disse que faria isso novamente, se a oportunidade aparecesse e ele se sentisse bem.

Se em 1990 Sergio Coycochea havia sido o herói nos pênaltis, essa era a vez de Carlos Roa, o novo tapa penales. A Argentina voltava às quartas de final.

Foi a terceira eliminação seguida da Inglaterra na decisão por pênaltis em grandes torneios – Copa do Mundo de 1990, Eurocopa de 1996 e Copa do Mundo de 1998.

A Argentina caiu nas quartas de final ao perder para a Holanda por 2 x 1, com um gol fenomenal de Dennis Bergkamp no último lance da partida.

Na Copa do Mundo seguinte, em 2002, Inglaterra e Argentina estavam no mesmo grupo na primeira fase. Os ingleses venceram por 1 x 0, com um gol de pênalti marcado por David Beckham. Era a vingança pessoal do jogador inglês contra a Diego Simeone e a Argentina. O resultado praticamente classificou os ingleses e deixou os albicelestes em más condições. De fato, os hermanos seriam eliminados ainda na fase de grupos. Um vexame.

Uma curiosidade sobre Alan Shearer. Conhecido pelo seu faro de gol e seu poder goleador, o atacante inglês era muito supersticioso. Ele acreditava que seu talismã era… sua sogra! Ela assistiu das arquibancadas à sua estreia na seleção inglesa – um amistoso contra a França em fevereiro de 1992 –, e ele marcou um gol na partida. Nos quatro jogos seguintes, ela não compareceu e ele não marcou. No jogo seguinte, ela voltou a assistir e ele voltou a marcar – contra a Turquia, em novembro de 1992, pelas eliminatórias da Copa de 1994. Desde então, a sogra se tornou um amuleto e Shearer passou a levá-la para todos os jogos do English Team.

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 2 X 2 INGLATERRA

 

Data: 30/06/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Geoffroy-Guichard

Público: 30.600

Cidade: Saint-Étienne (França)

Árbitro: Kim Milton Nielsen (Dinamarca)

 

ARGENTINA (3-5-2):

INGLATERRA (3-5-2):

1  Carlos Roa (G)

1  David Seaman (G)

14 Nelson Vivas

12 Gary Neville

2  Roberto Ayala

5  Tony Adams

3  José Chamot

2  Sol Campbell

22 Javier Zanetti

14 Darren Anderton

5  Matías Almeyda

3  Graeme Le Saux

8  Diego Simeone (C)

4  Paul Ince

11 Juan Sebastián Verón

7  David Beckham

10 Ariel Ortega

16 Paul Scholes

7  Claudio López

20 Michael Owen

9  Gabriel Batistuta

9  Alan Shearer (C)

 

Técnico: Daniel Passarella

Técnico: Glenn Hoddle

 

SUPLENTES:

 

 

12 Germán Burgos (G)

13 Nigel Martyn (G)

17 Pablo Cavallero (G)

22 Tim Flowers (G)

6  Roberto Sensini

21 Rio Ferdinand

13 Pablo Paz

18 Martin Keown

4  Mauricio Pineda

6  Gareth Southgate

15 Leonardo Astrada

8  David Batty

16 Sergio Berti

17 Rob Lee

20 Marcelo Gallardo

11 Steve McManaman

21 Marcelo Delgado

15 Paul Merson

18 Abel Balbo

19 Les Ferdinand

19 Hernán Crespo

10 Teddy Sheringham

 

GOLS:

5′ Gabriel Batistuta (ARG) (pen)

9′ Alan Shearer (ING) (pen)

16′ Michael Owen (ING)

45+1′ Javier Zanetti (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

5′ David Seaman (ING)

10′ Paul Ince (ING)

44′ Juan Sebastián Verón (ARG)

47′ Diego Simeone (ARG)

73′ Matías Almeyda (ARG)

110′ Carlos Roa (ARG)

 

CARTÃO VERMELHO:
47′ David Beckham (ING)

 

SUBSTITUIÇÕES:

68′ Claudio López (ARG) ↓

Marcelo Gallardo (ARG) ↑

 

68′ Gabriel Batistuta (ARG) ↓

Hernán Crespo (ARG) ↑

 

71′ Graeme Le Saux (ING) ↓

Gareth Southgate (ING) ↑

 

78′ Paul Scholes (ING) ↓

Paul Merson (ING) ↑

 

97′ Darren Anderton (ING) ↓

David Batty (ING) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO Diego Simeone (ARG) ↓

Sergio Berti (ARG) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

ARGENTINA 4

INGLATERRA 3

Sergio Berti (gol, rasteiro, no canto esquerdo)

Alan Shearer (gol, no ângulo direito)

Hernán Crespo (perdeu, à esquerda, defendido por Seaman)

Paul Ince (perdeu, à esquerda, espalmado pelo goleiro Roa)

Juan Sebastián Verón (gol, forte, no alto do gol, à direita)

Paul Merson (gol, no alto)

Marcelo Gallardo (gol, forte, no canto direito)

Michael Owen (gol, à direita, com a bola batendo na trave antes de entrar)

Roberto Ayala (gol, rasteiro, à esquerda do goleiro inglês)

David Batty (perdeu, à direita, defendido por Roa)


(Imagens desse texto: Imortais do Futebol)

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 29/06/1998 – Holanda 2 x 1 Iugoslávia

Três pontos sobre…
… 29/06/1998 – Holanda 2 x 1 Iugoslávia


(Imagem: Getty Images / Stu Forster / Allsport)

● A Holanda não tinha mais a geração de Ronald Koeman, Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco van Basten, mas havia craques em todas as posições do campo. E o clima interno era bom – bem diferente da Eurocopa de 1996, quando surgiram sérios problemas racistas, que culminaram na dispensa de Davids da delegação.

Treinada por Guus Hiddink, a Holanda era uma equipe muito ofensiva. O goleiro era o excepcional Edwin van der Sar. Os laterais Michael Reiziger e Arthur Numan marcavam e apoiavam com eficiência. Jaap Stam era forte na marcação e tinha bom tempo de bola. O capitão Frank de Boer tinha mais técnica, ótimo posicionamento e era um líder em campo. Clarence Seedorf e Edgar Davids eram completos: marcavam, armavam e se apresentavam à frente. Ronald de Boer era o meia pela direita, ótimo nos passes e perfeito cruzamentos. Phillip Cocu era o meia pela esquerda, também muito técnico e de boa chegada ao ataque. Marc Overmars era habilidade, técnica, velocidade e inteligência. No ataque, Dennis Bergkamp era a própria excelência, com lances geniais e gols incríveis. No banco, ótimos nomes como o volante Wim Jonk e o ponta Boudewijn Zenden. A ausência era o centroavante Patrick Kluivert, que cumpria sua terceira e última partida de suspensão, após ter sido expulso na estreia por agredir Lorenzo Staelens no empate sem gols com a Bélgica.

A Holanda foi a cabeça de chave do Grupo E. Na primeira fase, empatou por 0 x 0 com a vizinha Bélgica, goleou a Coreia do Sul por 5 x 0 e empatou por 2 x 2 com o bom time do México.


(Imagem: Getty Images / Ben Radford / Allsport)

● A Iugoslávia estava longe das competições internacionais desde 1992, quando foi excluída da Eurocopa por causa dos conflitos étnicos e da guerra civil que culminou com o desmembramento do país. Da República Socialista Federativa da Iugoslávia, surgiram os países: República Federal da Iugoslávia (essa que disputou o Mundial – que era formada pelas repúblicas da Sérvia e Montenegro, além das províncias autônomas Voivodina e Kosovo), Croácia, Eslovênia, Bósnia e Herzegovina e Macedônia do Norte.

Esse desmembramento enfraqueceu a seleção iugoslava. A maioria dos melhores jogadores do antigo país agora pertencia à Croácia – tanto que o país foi 3º colocado na Copa de 1998 em sua primeira participação.

Em 1998 a seleção “Plavi” (“azuis”, em sérvio) contou apenas com atletas nascidos na Sérvia e em Montenegro.

Os destaques eram os zagueiros Siniša Mihajlović (Sampdoria) e Miroslav Đukić (Deportivo La Coruña – não jogou por estar lesionado), os meias Vladimir Jugović (Lazio), Dejan Stanković (Estrela Vermelha – depois jogaria na Lazio e faria história na Internazionale), Ljubinko Drulović (Porto), Dejan Savićević (Milan), o capitão Dragan Stojković (Nagoya Grampus Eight, do Japão) e os atacantes Savo Milošević (Aston Villa), Darko Kovačević (Real Sociedad) e Predrag Mijatović (Real Madrid – fez o gol do título da UEFA Champions League da temporada 1997/98 na final sobre a Juventus).

Na primeira fase, a Iugoslávia estreou vencendo o Irã por 1 x 0, com um gol de falta de Siniša Mihajlović. Na segunda partida, abriu 2 x 0 com gols de Predrag Mijatović e Dragan Stojković, mas permitiu o empate da Alemanha por 2 x 2. No terceiro jogo, um gol de cabeça do zagueiro Slobodan Komljenović logo no início garantiu a vitória por 1 x 0. Assim, a Iugoslávia se classificou com o segundo lugar do Grupo F, com o mesmo número de pontos dos alemães, mas com um saldo de gols menor (+4 para a Nationalelf e +2 para os Plavi).


A Holanda jogava no 4-4-2, com muita aproximação dos homens de meio campo.


A Iugoslávia jogou no sistema 4-5-1, com liberdade para o capitão Dragan Stojković criar.

● O duelo entre Holanda e Iugoslávia, válido pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 1998, foi muito equilibrado.

A Holanda era tida como favorita para o duelo e dominou o jogo durante o primeiro tempo.

O placar foi aberto aos 38 minutos. Desde seu campo de defesa, o capitão Frank de Boer fez um de seus lançamentos espetaculares. Dennis Bergkamp ganhou no corpo de Zoran Mirković, dominou e finalizou. A bola passou por baixo do goleiro Ivica Kralj, que quase pegou, mas ela acabou indo rumo ao gol. Esse foi o segundo gol do genial Bergkamp na Copa.

O empate iugoslavo foi aos três minutos da segunda etapa. O capitão Dragan Stojković cobrou falta pelo lado esquerdo, quase na linha lateral da grande área. A bola foi na segunda trave e Slobodan Komljenović subiu bem, ganhou no alto de Phillip Cocu e cabeceou para o gol. Foi também o segundo gol de Komljenović no Mundial.

E a Iugoslávia poderia ter virado o jogo três minutos depois. Vladimir Jugović sofreu pênalti de Jaap Stam. Predrag Mijatović, maior artilheiro das eliminatórias de 1998 com 14 gols em 12 jogos, foi para a cobrança. Ele bateu firme no meio do gol. A bola subiu demais e explodiu no travessão. Peđa Mijatović diria posteriormente que aquele foi o pior momento de sua carreira.

Esse foi o único pênalti desperdiçado dos 17 marcados na Copa de 1998. Esse erro interrompeu uma série de 39 cobranças bem sucedidas. Antes de Mijatović, o último a perder uma penalidade durante o tempo regulamentar havia sido o italiano Gianluca Vialli, contra os Estados Unidos em 1990. Depois foram convertidos mais dez na Copa de 1990, 15 na Copa de 1994 e 14 na Copa de 1994 até o erro do iugoslavo.

Sem confiança, os holandeses tiveram que se arriscar mais no ataque. E foram recompensados.

No segundo minuto dos acréscimos da partida, Edgar Davids pegou rebote próximo à grande área. Ele teve tempo para dominar, ajeitar o corpo e soltar a bola. Com muita gente na frente, a bola ainda desviou no meio do caminho e dificultou para o goleiro Kralj, que ainda tocou na bola antes dela morrer no cantinho esquerdo.

Pouco antes, Davids havia sentido cãibras e pediu para ser substituído. Mas o técnico Guus Hiddink manteve o camisa 16 em campo e foi recompensado.


(Imagem: Getty Images / Stu Forster / Allsport)

● Oficialmente essa foi a última partida da Iugoslávia em uma Copa do Mundo – uma das mais tradicionais seleções europeias na história dos Mundiais, que sempre praticou um futebol com técnica apurada. Tanto, que recebeu o apelido de “Brasileiros do Leste Europeu”. O maior estádio do país, em Belgrado, é chamado de “Marakana”. Ao todo, foram nove Copas disputadas, sendo a melhor campanha o 4º lugar em 1962. Foram 37 partidas com 16 vitórias, oito empates e 13 derrotas, 60 gols marcados e 46 sofridos.

A Iugoslávia deixou de existiu como um país em 2003, quando se tornou “Sérvia e Montenegro” – países de se separariam de vez em 2006. A Sérvia é considerada pela FIFA como a herdeira legítima da Iugoslávia no futebol.

O meia Dejan Stanković disputou três Copas do Mundo, por três países diferentes. Ele representou a Iugoslávia em 1998, a Sérvia e Montenegro em 2006 e a Sérvia em 2010.

Discutivelmente, Edgar Davids foi o melhor e mais consistente jogador da Copa de 1998. Além do ótimo futebol, ele se notabilizou também por jogar com um óculos moderno. Porém, na única Copa em que atuou, ele jogou sem óculos. Vale ressaltar que as regras da FIFA não proíbem o uso de óculos, mas o jogador que deles se utilizar deve ter consciência que joga sob sua responsabilidade e risco.

A comemoração dessa vitória levou a imprensa holandesa a especular sobre novos problemas entre brancos e negros no elenco da Oranje. Logo após o apito final no Stade de Toulouse, todos os jogadores se abraçaram no meio do campo. Por trás, Winston Bogarde e Cocu abraçaram Van der Sar. O goleiro se incomodou e deu um soco no zagueiro, que devolveu olhando feio. Em sua biografia, lançada em 2011, Van der Sar explicou o que houve: “Na comemoração, veio um braço direto em minha garganta. Eu não conseguia respirar e dei um soco no braço. Parecia o braço de Bogarde e eu realmente fui para cima dele. Só notei depois que era o braço de Pierre van Hooijdonk. Aí, na zona mista, os jornalistas começaram a dar ênfase nisso. Virou assunto. Quando um repórter começou com a história de problemas étnicos, eu fiquei furioso: ‘Que problemas de raça? Não tem nada disso atualmente!” E de fato não tinha mesmo. Foi uma das seleções holandesas mais unidas de todos os tempos. Provavelmente, a mais talentosa e equilibrada.

Nas quartas de final, a Holanda contou com um gol fenomenal de Dennis Bergkamp no último lance da partida para eliminar a ótima seleção argentina pelo placar de 2 x 1. Com essa vitória, a Oranje se garantia novamente entre os quatro primeiros após vinte anos. Na semifinal, enfrentou o Brasil. Jogou melhor. Saiu atrás no placar, mas buscou o empate no fim da partida. Na decisão dos pênaltis, Taffarel defendeu as cobranças de Ronald de Boer e Phillip Cocu, colocando o Brasil na decisão. Na decisão do 3º lugar, a Holanda jogou sem motivação nenhuma e perdeu para a Croácia de Davor Šuker por 2 x 1.


(Imagem: Alamy)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 2 X 1 IUGOSLÁVIA

 

Data: 29/06/1998

Horário: 21h00 locais

Estádio: Stade de Toulouse

Público: 33.500

Cidade: Toulouse (França)

Árbitro: José María García-Aranda (Espanha)

 

HOLANDA (4-4-2):

IUGOSLÁVIA (4-5-1):

1  Edwin van der Sar (G)

1  Ivica Kralj (G)

2  Michael Reiziger

2  Zoran Mirković

3  Jaap Stam

13 Slobodan Komljenović

4  Frank de Boer (C)

11 Siniša Mihajlović

5  Arthur Numan

3  Goran Đorović

16 Edgar Davids

4  Slaviša Jokanović

10 Clarence Seedorf

6  Branko Brnović

7  Ronald de Boer

16 Željko Petrović

11 Phillip Cocu

7  Vladimir Jugović

14 Marc Overmars

10 Dragan Stojković (C)

8  Dennis Bergkamp

9  Predrag Mijatović

 

Técnico: Guus Hiddink

Técnico: Slobodan Santrač

 

 

 

 

18 Ed de Goey (G)

12 Dragoje Leković (G)

22 Ruud Hesp (G)

5  Miroslav Đukić

13 André Ooijer

14 Niša Saveljić

15 Winston Bogarde

18 Dejan Govedarica

19 Giovanni van Bronckhorst

19 Miroslav Stević

20 Aron Winter

20 Dejan Stanković

6  Wim Jonk

8  Dejan Savićević

12 Boudewijn Zenden

15 Ljubinko Drulović

17 Pierre van Hooijdonk

21 Perica Ognjenović

21 Jimmy Floyd Hasselbaink

22 Darko Kovačević

9  Patrick Kluivert

17 Savo Milošević

 

GOLS:

38′ Dennis Bergkamp (HOL)

48′ Slobodan Komljenović (IUG)

90+2′ Edgar Davids (HOL)

 

CARTÕES AMARELOS:

38′ Dragan Stojković (IUG)

52′ Zoran Mirković (IUG)

73′ Goran Đorović (IUG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

57′ Dragan Stojković

Dejan Savićević

 

78′ Siniša Mihajlović

Niša Saveljić

Melhores momentos da partida (Band):

… 28/06/1994 – Rússia 6 x 1 Camarões

Três pontos sobre…
… 28/06/1994 – Rússia 6 x 1 Camarões


(Imagem: FIFA)

● Como já contamos aqui, com a desfragmentação da União Soviética poucos anos antes, muitos jogadores permaneceram representando a Rússia. Mas o clima era tenso e seis dos melhores atletas promoveram um boicote e abandonaram a seleção por divergências com o polêmico treinador Pavel Sadyrin.

Também com muitas brigas internas, a seleção de Camarões não eram nem sombra dos Leões Indomáveis de 1990. Era o mesmo time-base, mas quatro anos mais velhos e cansados. O ataque era forte, mas a defesa não inspirava a mínima confiança.

O técnico francês Henri Michel surpreendeu ao convocar o veteraníssimo Roger Milla para disputar a Copa do Mundo de 1994. O atacante esteve presente no Mundial de 1982, quando Camarões fez sua estreia no torneio e terminou invicto. Em 1990, Milla já tinha 38 anos, mas foi o líder de uma seleção que surpreendeu ao chegar nas quartas de final.

Nas duas primeiras rodadas, a Rússia havia perdido para o Brasil por 2 x 0 e para a Suécia por 3 x 1.

Por sua vez, Camarões empatou com a Suécia por 2 a 2 no primeiro jogo e perdeu para a Seleção Brasileira por 3 a 0 no segundo.

O goleiro titular de Camarões nas duas primeiras partidas foi Joseph-Antoine Bell. A população camaronesa elegeu Bell como o principal responsável pela má campanha de seu país no Mundial e sua casa chegou a ser incendiada durante o torneio.

Para o último jogo, Henri Michel resolveu trocar o goleiro. Bell era veterano, com quase 40 anos. Todos esperavam que jogasse o antigo titular, o também veterano Thomas N’Kono, de 38 anos. Mas quem jogou foi o mais novo dos três, Jacques Songo’o, de “apenas” 30 anos.

Pavel Sadyrin também trocou seu goleiro. Tirou Dmitri Kharine, seu capitão, para colocar Stanislav Cherchesov – o atual técnico da seleção russa.

Enquanto a Rússia estava praticamente eliminada, Camarões ainda tinha chances de se classificar, em caso de vitória nessa última rodada.


A Rússia jogou no 3-5-2, com os alas Tetradze e Tsymbalar bastante adiantados.


Camarões atuou no sistema 4-4-2.

● A enxurrada de gols começou aos 15 minutos. A defesa camaronesa travou o avanço de Omari Tetradze e a bola sobrou para Oleg Salenko bater entre as pernas do goleiro Songo’o. 1 a 0.

Camarões teve chance de empatar. François Omam-Biyik fez jogada individual pela esquerda e chutou no travessão.

Aos 41′, Ilya Tsymbalar recebeu nas costas da marcação – que pedia impedimento – avançou e rolou para o lado. Salenko, sozinho e sem goleiro, tocou para o gol vazio. O goleiro até tentou pular em seus pés, mas não teve chances. 2 a 0.

Um minuto antes do fim da etapa inicial, Victor N’Dip derrubou Tsymbalar dentro da área. Salenko bateu pênalti fraquinho no canto esquerdo, deslocando Songo’o, que pulou para o lado oposto. 3 a 0.

Em 1994, assim como em 1990, Roger Milla entrou no intervalo de todas as partidas dos Leões Indomáveis. Ele tinha acabado de entrar quando recebeu passe de David Embé dentro da área. Milla ganhou de Dmitri Khlestov no corpo e, mesmo caindo, finalizou cruzado, sem chances para o goleiro Cherchesov. 3 a 1.

Aos 27′, Tetradze arrancou pela direita, entrou dentro da área e cruzou rasteiro para trás. Salenko chegou batendo no alto, fazendo seu quarto gol na partida. 4 a 1.

Os africanos se arrastavam em campo. Os russos aproveitaram a incrível facilidade para consagrar o atacante Oleg Salenko.

Aos 30′, Salenko escapou da marcação, recebeu o passe perfeito de Khlestov em profundidade e só teve o trabalho de dar um toque por cima do goleiro. 5 a 1.

O último gol veio sete minutos depois. Vladimir Beschastnykh puxou jogada pela esquerda, desde seu campo e lançou Salenko. De cabeça, ainda na intermediária, ele serviu Dmitri Radchenko, que invadiu a área e bateu entre as pernas do goleiro. 6 a 1.


(Imagem: Lance!)

● Só depois foi descoberto o motivo da apatia dos africanos. Boa parte do elenco havia caído na farra durante a madrugada que antecedeu ao jogo. Eles achavam que não tinham mais chances de classificação.

Com a goleada, a Rússia mantinha viva a expectativa de terminar a fase de grupos como um dos melhores terceiros colocados – o que acabou não acontecendo. No fim, as duas seleções morreram abraçadas e ambas foram eliminadas na primeira fase.

Mesmo com a goleada sofrida, os camaroneses tiveram o que comemorar. Roger Milla estabeleceu dois recordes nessa partida. Ele se tornou o mais velho a marcar um gol em Copas do Mundo, marca que se mantém até os dias atuais. Mais que isso, ele também se tornou o mais velho a disputar uma partida de Copa do Mundo, com 42 anos e 39 dias. Esse recorde permaneceu até 2014, quando o goleiro colombiano Faryd Mondragón o quebrou, com 43 anos e 3 dias. Essa marca seria quebrada no Mundial seguinte, em 2018, quando o goleiro egípcio Essam El-Hadary foi titular e até defendeu pênalti diante da Arábia Saudita.

Também nessa partida, Oleg Salenko se tornou o primeiro jogador da história das Copas a marcar cinco gols em um mesmo jogo de Copa do Mundo. Somando esses cinco gols ao tento que ele havia anotado diante da Suécia, Salenko acabou como um dos artilheiros do Mundial, ao lado do búlgaro Hristo Stoichkov.

Nada mal para um jogador de uma seleção que acabou eliminada na primeira fase. Foi o ápice da carreira do medíocre Salenko, que nunca mais faria sucesso. Esse foi o último jogo dele pela seleção russa. Esses seis gols na Copa de 1994 foram os únicos dele pela seleção, em oito jogos. Ele teve que encerrar a carreira poucos anos depois devido à sequência de sérias lesões. Mas, enquanto jogou, Salenko jamais repetiu o que fez naquele verão americano. Nunca mais fez nem dois gols em uma mesma partida.


(Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

RÚSSIA 6 x 1 CAMARÕES

 

Data: 28/06/1994

Horário: 13h00 locais

Estádio: Stanford Stadium

Público: 74.914

Cidade: Stanford (Estados Unidos)

Árbitro: Jamal Al Sharif (Síria)

 

RÚSSIA (3-5-2):

CAMARÕES (4-4-2):

1  Stanislav Cherchesov (G)

22 Jacques Songo’o (G)

5  Yuriy Nikiforov

14 Stephen Tataw (C)

21 Dmitri Khlestov

13 Raymond Kalla

6  Vladislav Ternavsky

5  Victor N’Dip

12 Omari Tetradze

15 Hans Agbo

18 Viktor Onopko (C)

2  André Kana-Biyik

20 Igor Lediakhov

17 Marc-Vivien Foé

10 Valeri Karpin

6  Thomas Libiih

17 Ilya Tsymbalar

10 Louis-Paul M’Fédé

14 Igor Korneev

19 David Embé

9  Oleg Salenko

7  François Omam-Biyik

 

Técnico: Pavel Sadyrin

Técnico: Henri Michel

 

SUPLENTES:

 

 

16 Dmitri Kharine (G)

1  Joseph-Antoine Bell (G)

3  Sergei Gorlukovich

21 Thomas N’Kono (G)

2  Dmitri Kuznetsov

3  Rigobert Song

4  Dmitri Galiamin

4  Samuel Ekemé

8  Dmitri Popov

12 Paul Loga

7  Andrey Pyatnitsky

18 Jean-Pierre Fiala

19 Aleksandr Mostovoi

8  Émile Mbouh

13 Aleksandr Borodyuk

11 Emmanuel Maboang

11 Vladimir Beschastnykh

20 Georges Mouyémé

15 Dmitri Radchenko

16 Alphonse Tchami

22 Sergei Yuran

9  Roger Milla

 

GOLS:

15′ Oleg Salenko (RUS)

41′ Oleg Salenko (RUS)

44′ Oleg Salenko (RUS) (pen)

46′ Roger Milla (CAM)

72′ Oleg Salenko (RUS)

75′ Oleg Salenko (RUS)

81′ Dmitri Radchenko (RUS)

 

CARTÕES AMARELOS:

12′ André Kana-Biyik (CAM)

44′ Jacques Songo’o (CAM)

57′ Valeri Karpin (RUS)

87′ Dmitri Khlestov (RUS)

90′ Yuriy Nikiforov (RUS)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Louis-Paul M’Fédé (CAM) ↓

Roger Milla (CAM) ↑

 

47′ David Embé (CAM) ↓

Alphonse Tchami (CAM) ↑

 

65′ Igor Korneev (RUS) ↓

Dmitri Radchenko (RUS) ↑

 

78′ Igor Lediakhov (RUS) ↓

Vladimir Beschastnykh (RUS) ↑

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 26/06/2002 – Brasil 1 x 0 Turquia

Três pontos sobre…
… 26/06/2002 – Brasil 1 x 0 Turquia


Sem Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo era o articulador das jogadas de ataque (Imagem: FIFA)

● Depois de 48 anos, a Turquia estava de volta a uma Copa do Mundo. Com uma boa geração de jogadores – a melhor de sua história – não queria apenas ser coadjuvante. Queria ser um dos personagens principais.

“Ay-Yıldızlılar” (“As Estrelas Crescentes”, no idioma turco) era um time muito equilibrado e organizado taticamente, que se defendia com eficiência e assustava no ataque. Tinha meias rápidos e habilidosos e atacantes corpulentos que sabiam usar a força física dentro da área e eram muito bons na jogada aérea.

Na primeira rodada, 23 dias antes, a Turquia vendeu caro a derrota para o Brasil por 2 x 1, em uma partida polêmica e de decisões desastrosas da arbitragem a favor do escrete canarinho. Criticados pela imprensa de seu país, os jogadores turcos decidiram que só concederiam entrevistas a jornalistas estrangeiros. Um empate contra a Costa Rica (1 x 1) e a vitória sobre a China (3 x 0) garantiram a classificação para a próxima fase. Nas oitavas de final, venceu o co-anfitrião Japão por 1 x 0. Nas quartas, eliminou a Senegal – sensação da Copa até então – com um gol de ouro de İlhan Mansız. Na semifinal, enfrentaria novamente o Brasil com sede de vingança. Os turcos sonhavam com uma inédita e histórica final.

“Depois de perdermos o primeiro jogo para o Brasil, estávamos preparados para incidentes como aquele com Rivaldo. Analisamos aquele primeiro jogo para saber como proceder no segundo.” ― Yıldıray Baştürk


Hakan Şükür era o mais perigoso do ataque turco (Imagem: FIFA)

● O Brasil vinha de cinco vitórias consecutivas. Depois de bater a Turquia na estreia, venceu China (4 x 0) e Costa Rica (5 x 2). Nas oitavas, eliminou a Bélgica com uma vitória por 2 x 0, que não refletiu o quão foi difícil o jogo. Nas quartas, venceu a Inglaterra de virada por 2 x 1, em uma tarde inspiradíssima de Ronaldinho Gaúcho. Mas no fim da partida, o “R11” foi expulso e desfalcaria o Brasil na semifinal.

Poucos dias antes, Ronaldo Fenômeno apareceu com um corte de cabelo diferente. A cabeça estava toda raspada, menos a parte da frente. Logo ganhou o apelido de “corte Cascão”, em referência ao personagem dos quadrinhos infantis criado por Maurício de Sousa. A princípio, o centroavante disse que havia pegado a máquina e cortado desse jeito apenas para brincar um pouco. Posteriormente, de acordo com o livro “Histórias insólitas de los Mundiales de fútbol”, de Luciano Wernicke, Ronaldo falou que o motivo foi outro. Ele soube que seu filho Ronald, de dois anos, estava assistindo ao jogo “Brasil x Inglaterra” e dizia “papai, papai” sempre que via o lateral Roberto Carlos no vídeo. Roberto também era careca, assim como Ronaldo. Então o camisa 9 resolveu mudar o visual para que o filho não o confundisse mais. Verdade ou não, o fato é que o cabelo desviou as atenções sobre uma lesão na coxa esquerda do atacante, que era dúvida para a partida. “Quando ele cortou o cabelo daquele jeito, eu soube que ele teria condições de jogar”, disse o técnico Luiz Felipe Scolari.

O Brasil se mostrava mais encorpado que no primeiro duelo, principalmente pela entrada de Kléberson no lugar de Juninho Paulista. A entrada do volante do Atlético Paranaense no time titular deu mais velocidade na transição e fechou melhor os espaços no meio. Sem Ronaldinho Gaúcho, Edílson foi o titular, mudando um pouco as características do ataque.

Mas o maior desafio de Scolari era manter firme a concentração dos jogadores brasileiros. A Turquia cresceu em nível técnico e em autoconfiança desde o último confronto entre os dois.


Felipão apostou no sistema 3-5-2, para liberar o avanço dos laterais. A seleção ficou mais sólida na defesa e continuou forte no ataque.


Şenol Güneş mudou o esquema para o 4-4-2. As apostas turcas eram na defesa bem postada, na criatividade de Yıldıray Baştürk, na velocidade de Hasan Şaş e no oportunismo de Hakan Şükür.

● O Brasil parou às 08h30 da manhã daquela quarta-feira para assistir à semifinal da Copa do Mundo de 2002.

A Turquia adotou uma formação mais ofensiva do que a do primeiro jogo em Ulsan. Şenol Güneş mudou inclusive o sistema tático, do 3-5-2 para o 4-4-2. Algumas peças desse xadrez também mudaram. Na lateral esquerda, Ergün Penbe entrou no lugar de Hakan Ünsal. Também saiu do time o zagueiro Ümit Özat para a entrada do meia Ümit Davala.

No início da partida, o Brasil sofreu para criar jogadas de ataque e foi dominado pela Turquia nos 20 minutos iniciais.

A primeira jogada de perigo foi dos turcos, aos seis minutos. Emre arriscou de fora da área e Marcos pulou um pouco atrasado e espalmou para escanteio.

Três minutos depois, Emre cobrou falta próxima à área e Marcos tirou de soco.

Bem marcados, os craques brasileiros não conseguiam uma jogada individual. Sem Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo era o incumbido de criar as jogadas de ataque, mas errava muito. Ronaldo estava ofuscado pela marcação e pelas dores.

Yıldıray Baştürk abriu na direita para Fatih. O lateral cortou para a perna esquerda e cruzou para a área. Alpay apareceu sozinho na marca do pênalti cabeceou no cantinho, mas Marcos voou na bola e espalmou para escanteio. Uma grande defesa.

Mas tudo mudou a partir dos 25 minutos. O time brasileiro começou a se acertar e fez do goleiro Rüştü o melhor em campo. Uma das marcas registradas do goleiro turco Rüştü Reçber era a pintura que ele fazia no rosto para evitar o reflexo da luz – assim como fazem os jogadores de futebol americano. Um ano depois do Mundial, ele se transferiu para o Barcelona, mas só vestiu a camisa blaugrana por sete partidas, na temporada 2003/04.

Da esquerda, Kléberson tocou para Rivaldo no meio. Ele passou para Ronaldo, que abriu na direita onde chegava Cafu. O capitão brasileiro invadiu a área, dominou e chutou forte, mesmo sem muito ângulo. Rüştü fez uma boa defesa e a bola saiu por cima do gol.

Pouco depois, Roberto Carlos tocou de cabeça para Edílson, que deixou com Rivaldo no meio. O camisa 10 passou entre dois marcadores e chutou cruzado de longe, com muito veneno. A bola quicou e atrapalhou Rüştü, que soltou nos pés de Ronaldo (como faria Oliver Kahn quatro dias depois), mas o Fenômeno não chegou inteiro na bola e chutou em cima do goleiro, que segurou a bola em dois tempos.

Ronaldo arrancou do meio de campo, tabelou com Rivaldo e trombou com um marcador. Rivaldo pegou a sobra na meia lua e chutou colocado. Rüştü – o melhor em campo – voou no cantinho esquerdo e espalmou para escanteio.

Edílson avançou e tocou para Rivaldo. Quase da mesma posição, ele chutou novamente no mesmo cantinho esquerdo. A bola passou perto, mas foi direto para fora.

O Brasil insistia em busca do gol. Gilberto Silva roubou a bola no campo de ataque e Roberto Carlos cruzou para a área. Ronaldo não conseguiu alcançar de carrinho e Rüştü defendeu do jeito que pôde.

Nada de gol até o intervalo.

Ronaldo se arrastava por causa de uma lesão muscular e errava tudo que tentava. Tudo indicava que ele seria substituído e nem voltaria para a etapa final. Felizmente não foi. Scolari manteve o camisa 9 para o segundo tempo e acabou premiado com a teimosia.

Logo aos quatro minutos do segundo tempo, Gilberto Silva arrancou pela esquerda e tocou para Ronaldo na intermediária ofensiva. Ele passou por Bülent Korkmaz, invadiu a área e, mesmo cercado, bateu cruzado de bico (ao melhor estilo Romário). A bola foi no cantinho esquerdo de Rüştü, que chegou a tocar nela, mas não impediu o sexto gol de Ronaldo no Mundial.


Ronaldo arrancou e marcou o gol da partida (Imagem: Ricardo Correa / Veja)

“Ronaldinho encosta. Tocou pro Ronaldinho, botou na frente. Isso Ronaldinho, acredita Ronaldinho. Bateu pro gol. Goooooool! Rrrrrrronaldinho é o nome dele!” ― Galvão Bueno

“Aquele jogo foi bem difícil. Eu tive um primeiro tempo com poucas ocasiões. O time sofrendo até a pressão da Turquia. E logo no segundo tempo o time começou a crescer e no final eu tive a sorte de, em uma jogada individual, pegar e levar até a grande área e dar um biquinho na bola e ela foi no cantinho. Fiz o gol da vitória. Mas esse jogo pra mim foi e vai ser inesquecível.” ― Ronaldo

O Brasil queria mais. Em um contra-ataque, Rivaldo abriu na esquerda para Ronaldo, que encontrou Kléberson livre. Já dentro da área, o volante chutou sem força e no meio do gol. Ficou fácil para a defesa do goleiro.

Ronaldo avançou pelo meio e viu a infiltração de Edílson pela esquerda. O passe foi bom, mas o “Capetinha” finalizou mal e mandou a bola para fora.

Na metade do segundo tempo, Ronaldo foi descansar e deu lugar a Luizão.

Edílson puxou outro contragolpe e abriu para Cafu na direita. O capitão cruzou para a marca do pênalti e Luizão emendou um bonito voleio. A bola quicou no chão e saiu por cima do gol.

O Brasil perdia chances de matar o jogo por pura ansiedade no momento da finalização.

Ergün Penbe avançou e tocou para İlhan Mansız na ponta esquerda. Na tentativa de cruzamento, a bola encobriu Marcos e passou bem perto do travessão. O goleiro brasileiro conseguiu tocá-la para fora com a ponta dos dedos.

Aos 40 minutos da etapa final, o lateral Belletti entrou no lugar de Kléberson. Belletti já tinha jogado no meio de campo no início da carreira e entrou para ajudar a fechar o meio de campo e garantir a vitória. Com isso, Scolari colocou em campo 21 dos 23 jogadores convocados. Apenas os goleiros Dida e Rogério Ceni não entraram em campo.

A Turquia teve sua última chance de empatar já perto do fim. Hasan Şaş bateu falta da esquerda e Hakan Şükür emendou um voleio, mas São Marcos estava em cima para mandar para escanteio.

No fim da partida, uma das cenas mais marcantes da história das Copas. Na intensão de ganhar tempo, Denílson conduziu a bola para a lateral e foi perseguido por quatro marcadores turcos. Uma imagem hilária.

Após viver um conto de fadas, a Turquia estava eliminada da Copa do Mundo.

No fim, valeu pela vitória – a sexta consecutiva, igualando o recorde de 1970. Mas o placar foi magro pelo que foi a partida. Mas o que mais importava é a vaga na decisão – a terceira final seguida do Brasil (1994, 1998 e 2002).


Denílson puxou a marcação de quatro turcos, em lance histórico (Imagem: Getty Images / CBF)

● Na decisão do 3º lugar, a Turquia confirmou sua fama de visitante indesejado, estraga prazeres, e venceu a outra anfitriã, a Coreia do Sul, por 3 x 2. Um resultado e uma classificação final histórica e merecida para o selecionado turco.

Na final, o Brasil contou com dois gols de Ronaldo e conquistou o pentacampeonato mundial, como contamos detalhadamente aqui.


Edílson “Capetinha” foi o substituto de Ronaldinho Gaúcho, mas não conseguiu brilhar (Imagem: ESPN)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 TURQUIA

 

Data: 26/06/2002

Horário: 20h30 locais

Estádio: Saitama 2002

Público: 61.058

Cidade: Saitama (Japão)

Árbitro: Kim Milton Nielsen (Dinamarca)

 

BRASIL (3-5-2):

TURQUIA (4-4-2):

1  Marcos (G)

1  Rüştü Reçber (G)

3  Lúcio

4  Fatih Akyel

5  Edmílson

5  Alpay Özalan

4  Roque Júnior

3  Bülent Korkmaz

2  Cafu (C)

18 Ergün Penbe

8  Gilberto Silva

8  Tugay Kerimoğlu

15 Kléberson

22 Ümit Davala

6  Roberto Carlos

21 Emre Belözoğlu

20 Edílson

10 Yıldıray Baştürk

10 Rivaldo

11 Hasan Şaş

9  Ronaldo

9  Hakan Şükür (C)

 

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Técnico: Şenol Güneş

 

SUPLENTES:

 

 

12 Dida (G)

12 Ömer Çatkıç (G)

22 Rogério Ceni (G)

23 Zafer Özgültekin (G)

13 Belletti

2  Emre Aşık

14 Ânderson Polga

16 Ümit Özat

16 Júnior

20 Hakan Ünsal

18 Vampeta

14 Tayfur Havutçu

7  Ricardinho

13 Muzzy Izzet

19 Juninho Paulista

7  Okan Buruk

23 Kaká

19 Abdullah Ercan

17 Denílson

15 Nihat Kahveci

11 Ronaldinho Gaúcho

6  Arif Erdem

21 Luizão

17 İlhan Mansız

 

GOL: 49′ Ronaldo (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

41′ Gilberto Silva (BRA)

59′ Tugay Kerimoğlu (TUR)

90′ Hasan Şaş (TUR)

 

SUBSTITUIÇÕES:

62′ Emre Belözoğlu (TUR) ↓

İlhan Mansız (TUR) ↑

 

68′ Ronaldo (BRA) ↓

Luizão (BRA) ↑

 

74′ Ümit Davala (TUR) ↓

Muzzy Izzet (TUR) ↑

 

75′ Edílson (BRA) ↓

Denílson (BRA) ↑

 

85′ Kléberson (BRA) ↓

Belletti (BRA) ↑

 

88′ Yıldıray Baştürk (TUR) ↓

Arif Erdem (TUR) ↑

Gol do jogo:

Lance de Denílson cercado por quatro jogadores turcos:

Lances marcantes da partida (Rede Globo):

Lances da partida:

… 25/06/1982 – Alemanha Ocidental 1 x 0 Áustria

Três pontos sobre…
… 25/06/1982 – Alemanha Ocidental 1 x 0 Áustria

“A vergonha de Gijón”


(Imagem: Werek / DPA / Corbis)

● Esse jogo é conhecido no idioma alemão como “Nichtangriffspakt von Gijón” (“Pacto de não-agressão de Gijón”) ou “Schande von Gijón” (“Vergonha de Gijón”). No resto do mundo, basta falar “Jogo da Vergonha”.

Essa partida foi a última da terceira rodada do Grupo 2, pois Argélia e Chile haviam se enfrentado no dia anterior, com vitória dos argelinos por 3 x 2. Com isso, alemães e austríacos entraram em campo no dia 25/06/1982 sabendo antecipadamente do que precisariam para que ambas as equipes conseguissem a classificação.

A Argélia tinha 4 pontos e nenhum gol de saldo e isso não mudaria. A Áustria tinha 4 pontos e três gols de saldo. A Alemanha tinha dois pontos e dois gols de saldo. Como a vitória valia dois pontos, bastaria a Alemanha vencer por um ou dois gols de diferença que se classificaria juntamente com a Áustria justamente pelo critério de saldo de gols. Ou seja, bastaria que as duas seleções “combinassem” um placar que fosse bom para ambas. Conhecendo o histórico das “estratégias” dos alemães, é lógico que fariam algo assim.


(Imagem: Impromptuinc)

● As duas seleções estavam no mesmo Grupo nas eliminatórias europeias, juntamente com Bulgária, Albânia e Finlândia. A Alemanha Ocidental venceu as duas vezes: 2 x 0 em Hamburgo e 3 x 1 em Viena. A Alemanha terminou como líder, com 100% de aproveitamento, oito vitórias em oito jogos, 33 gols marcados e apenas três sofridos. A Áustria ficou em segundo no grupo, com dois pontos a mais que a Bulgária. Em oito partidas, os austríacos venceram cinco, empataram um (com a Bulgária, em Sófia) e perderam as duas vezes para os alemães. Marcaram 16 gols e sofreram seis.

Um mês depois de garantir a qualificação para o Mundial, a Federação Austríaca demitiu o técnico Karl Stotz e convidou para o cargo o então técnico do Hamburgo, o também austríaco Ernst Happel. Por ter contrato vigente com o clube alemão, ele precisava ser liberado pela Bundesliga para aceitar o convite. O presidente da Bundesliga disse então que se Alemanha e Áustria fossem sorteadas no mesmo grupo da Copa, o técnico não seria liberado. E foi justamente o que aconteceu. O assistente de Stotz, Georg Schmidt foi promovido como um dos técnicos da seleção, juntamente com Felix Latzke.

A Alemanha Ocidental vinha credenciada pelo título da Europa em 1980. Não contava com Bernd Schuster (que preferiu passar as férias com a esposa do que disputar o Mundial), mas tinha jogadores como o ex-lateral e agora meia Paul Breitner, o meia Felix Magath e o atacante Karl-Heinz Rummenigge.

A Áustria também tinha um bom time, com destaques para o goleiro Friedrich Koncilia, o zagueiro e capitão Erich Obermayer, o meia Herbert Prohaska e os atacantes Walter Schachner e Hans Krankl.


(Imagem: Futebol na Veia)

● Na ocasião, o equilíbrio entre os dois vizinhos era enorme. Em quatro confrontos, eram duas vitórias para cada lado. O primeiro jogo foi nos Jogos Olímpicos de 1912, em Estocolmo, e os austríacos venceram por 5 x 1. Os outros três duelos foram em Copas do Mundo. Na decisão do 3º lugar de 1934, a Alemanha venceu por 3 x 2. Nas seminais de 1954, goleada alemã por 6 x 1.

Na segunda fase do Mundial anterior, em 1978, a Áustria tinha feito um jogo duríssimo, vencendo a Alemanha Ocidental por 3 x 2, o que tirou de vez os germânicos da final da Copa. Assim, a rivalidade entre os dois países vizinhos teoricamente estava aflorada. Todos esperavam uma revanche, mas…

Tudo começou quando a Alemanha Ocidental perdeu na estreia para a Argélia por 2 x 1, com gols de Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi. Foi a primeira vitória de uma seleção africana sobre uma europeia na história das Copas. Na segunda partida, a Nationalelf venceu o Chile por 4 x 1.

Em suas duas primeiras partidas, a Áustria venceu o Chile por 1 x 0 e a Argélia por 2 x 0. Estava praticamente classificada. Só seria eliminada em caso de derrota por três ou mais gols de diferença.


A Alemanha Ocidental jogou no esquema 4-3-3.


A Áustria foi escalada no sistema 4-4-2.

● Assim que rolou a bola, a Alemanha começou a pressionar em busca do gol.

E ele aconteceu logo aos 10′. Pierre Littbarski cruzou da esquerda e Horst Hrubesch se antecipou ao goleiro Koncilia e desviou para o gol.

A torcida vibrou pelo começo triunfal da Nationalelf. Pelo nível que os teutônicos impuseram no início, muitos esperavam até uma goleada.

Mas foi só isso. Com o placar resolvido e a classificação de ambos encaminhada, os dois times trataram de manter a posse de bola, trocando passes infrutíferos no meio de campo e na defesa até expirar o tempo regulamentar e o juiz dar o apito final.

Em certo momento, o árbitro escocês Bob Valentine parou o jogo para chamar os capitães dos dois times e pedir a eles que orientassem seus companheiro a jogarem futebol. Mas de nada adiantou o pedido do juiz.

Foram 80 minutos de pura procrastinação em campo.

O máximo que houve foram dois chutes ao gol, de Felix Magath e Karl-Heinz Rummenigge. Ambos resultaram em defesas fáceis do goleiro Friedrich Koncilia.

Pelo lado austríaco, Walter Schachner era o mais inquieto, mas não produziu chances de gol.

Não demorou para os 41 mil presentes no estádio El Molinón começasse a vaiar e a gritar “Argélia, Argélia”. Foram ouvidos também os gritos de “fora, fora” e “beija, beija” – como se as seleções dos dois países vizinhos fossem “namoradinhos”.

Enquanto isso, os argelinos sofriam com a sensação de impotência. Estavam vendo sua seleção ser eliminada em um “jogo de compadres” e nada podiam fazer. Alguns argelinos que estavam na arquibancada tentaram invadir o gramado diversas vezes, mas não tiveram sucesso.

Muitas pessoas, especialmente argelinos, também mostravam dinheiro para os atletas e até atiravam moedas.

Antes mesmo do apito final, já era possível ver dirigentes dos dois países comemorando a “vitória”.

Na TV, o comentarista alemão Eberhard Stanjek se recusou a seguir trabalhando na partida por mais tempo. Seu colega austríaco Robert Seeger lamentou o “espetáculo” e pediu aos telespectadores que desligassem seus televisores para não dar audiência àquela vergonha.

E houve uma cena marcante: torcedor alemão, inconformado com a postura dos atletas em campo, queimou a bandeira de seu país.


(Imagem: UOL)

● No dia seguinte, um jornal de Gijón publicou a crônica dessa partida nas páginas policiais e não nas esportivas. O jornal alemão Bild estampou em sua manchete: “Passamos, mas que vergonha” e no também alemão Der Spiegel a capa dizia tudo: “Alemanha e Áustria enganam o público”.

Os argelinos chegaram a entrar com pedido de anulação do resultado na FIFA, que nada fez.

Na segunda fase, pelo Grupo 4, a Áustria perdeu para a França por 1 x 0, empatou com a Irlanda do Norte por 2 x 2 e foi eliminada.

Classificada em primeiro lugar da chave na primeira fase, a Alemanha disputou a fase de quartas de final no Grupo 2. Empatou sem gols com a Inglaterra e venceu a Espanha por 2 x 1. Nas semifinais, em um jogo de altíssimo nível, intensidade e polêmica, venceu a ótima França de Platini por 5 x 4 nos pênaltis, depois de empate por 1 x 1 no tempo normal e 2 x 2 na prorrogação. Na final, perdeu para a Itália por 3 x 1 e ficou com o vice-campeonato.

Anos mais tarde, alguns jogadores falaram sobre a partida. O austríaco Walter Schachner comentou que não sabia porque seus companheiros não corriam para marcar e demoravam para passar a bola: “Eu mesmo só soube depois, quando reclamei com o técnico que ninguém me passava a bola”. O alemão Hans-Peter Briegel disse que após o gol os dois times combinaram de fazer um jogo leve para que ninguém se machucasse. O goleiro Harald Schumacher negou qualquer tipo de combinação.

A partir de então, a entidade máxima do futebol decidiu que as duas partidas da rodada final da fase de grupos seriam jogadas simultaneamente, para que não se repita nada semelhante à “Vergonha de Gijón”.


(Imagem: Twitter @lbertozzi)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 1 x 0 ÁUSTRIA

 

Data: 25/06/1982

Horário: 17h15 locais

Estádio: El Molinón

Público: 41.000

Cidade: Gijón (Espanha)

Árbitro: Bob Valentine (Escócia)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-3-3):

ÁUSTRIA (4-4-2):

1  Harald Schumacher (G)

1  Friedrich Koncilia (G)

20 Manfred Kaltz

2  Bernd Krauss

15 Uli Stielike

3  Erich Obermayer (C)

4  Karlheinz Förster

5  Bruno Pezzey

2  Hans-Peter Briegel

4  Josef Degeorgi

6  Wolfgang Dremmler

19 Heribert Weber

3  Paul Breitner

10 Reinhold Hintermaier

14 Felix Magath

8  Herbert Prohaska

11 Karl-Heinz Rummenigge (C)

6  Roland Hattenberger

9  Horst Hrubesch

9  Hans Krankl

7  Pierre Littbarski

7  Walter Schachner

 

Técnico: Jupp Derwall

Técnicos: Felix Latzke / Georg Schmidt

 

SUPLENTES:

 

 

22 Eike Immel (G)

22 Klaus Lindenberger (G)

21 Bernd Franke (G)

21 Herbert Feurer (G)

12 Wilfried Hannes

12 Anton Pichler

19 Holger Hieronymus

13 Max Hagmayr

5  Bernd Förster

16 Gerald Messlender

17 Stephan Engels

17 Johann Pregesbauer

18 Lothar Matthäus

14 Ernst Baumeister

10 Hansi Müller

11 Kurt Jara

13 Uwe Reinders

15 Johann Dihanich

16 Thomas Allofs

18 Gernot Jurtin

8  Klaus Fischer

20 Kurt Welzl

 

GOL: 10′ Horst Hrubesch (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

32′ Reinhold Hintermaier (AUT)

74′ Walter Schachner (AUT)

 

SUBSTITUIÇÕES:

66′ Karl-Heinz Rummenigge (ALE)

Lothar Matthäus (ALE) ↑

 

69′ Horst Hrubesch (ALE) ↓

Klaus Fischer (ALE) ↑

Gol da partida:

… 24/06/1978 – Brasil 2 x 1 Itália

Três pontos sobre…
… 24/06/1978 – Brasil 2 x 1 Itália


(Imagem: Pinterest)

● Em uma Copa do mundo, o jogo da decisão do 3º lugar é sempre frustrante. Em 1978 esse sentimento foi ainda maior.

A Itália perdeu a vaga na decisão de virada, depois de ter jogado muito bem nos primeiros 45 minutos. O Brasil ainda remoía a polêmica partida entre Argentina e Peru, cuja goleada a favor dos albicelestes classificou os donos da casa para a final no saldo de gols.

O Brasil tinha jogadores talentosos, como Rivellino, Zico, Reinaldo, Dirceu, Toninho Cerezo e Roberto Dinamite. Mas não conseguia engrenar. O técnico era Cláudio Coutinho, que havia sido o preparador físico da Seleção em 1970 e supervisor da comissão técnica em 1974. Ele foi o responsável por implantar os conceitos de “overlapping”, “ponto futuro” e “polivalência” na Seleção. A ignorância de Coutinho em não convocar Falcão e Marinho Chagas deixou a Seleção sem dois dos maiores craques da década de 1970.

O técnico Enzo Bearzot renovou boa parte do elenco italiano que foi um fiasco no Mundial de 1974, caindo na primeira fase. Ele preferiu não convocar jogadores como Giacinto Facchetti, Gianni Rivera, Roberto Boninsegna, Enrico Albertosi, Fabio Capello e Giorgio Chinaglia.

Na primeira fase, a Itália terminou com 100% de aproveitamento no difícil Grupo 1. Venceu a França por 2 x 1, a Hungria por 3 x 1 e a Argentina por 1 x 0. Na fase semifinal, no Grupo A, a Azzurra empatou sem gols com a Alemanha Ocidental, venceu a Áustria por 1 x 0 perdeu para a Holanda por 2 x 1.

Por sua vez, o Brasil mal “deu pro gasto” no Grupo 3 e acabou se classificando em segundo lugar da chave. Empatou os dois primeiros jogos, com Suécia (1 x 1) e Espanha (0 x 0). Depois de dois jogos sem vitória, foi instituído um “Comitê de Apoio” ao técnico Coutinho, liderado pelo presidente da CBD, o almirante Heleno Nunes. Esse “Comitê” serviria para ajudar o treinador a escalar o time que enfrentaria a Áustria. Traduzindo: era uma interferência direta da Confederação na escalação do time. O almirante, vascaíno de coração, forçou a entrada de Roberto Dinamite no lugar de Reinaldo, além de Rodrigues Neto e Jorge Mendonça nos lugares de Edinho e Zico. Coincidência ou não, o time conseguiu a vitória necessária sobre os austríacos por 1 x 0. Na segunda fase, pelo Grupo B, o Brasil venceu o Peru por 3 x 0, empatou sem gols com a Argentina e venceu a Polônia por 3 x 1.


O Brasil foi escalado 4-3-3, que se tornava um 4-4-2 com a boa recomposição de Dirceu.


A Itália jogava no chamado “4-3-3 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços. Atacava no 3-4-3 e defendia no 4-4-2.

● Em um clima de “fim de festa”, a Itália dominou o primeiro tempo.

Giancarlo Antognoni cobrou falta da entrada da área, mas Leão espalmou. O capitão Emerson Leão tentava acalmar seus companheiros depois de um início de jogo tenso.

No primeiro ataque brasileiro, Dirceu chutou de fora da área e Zoff pulou no cantinho esquerdo para segurar.

Após escanteio cobrado por Nelinho, Dino Zoff segurou a bola em dois tempos e Oscar trombou com ele de forma desnecessária. Até o banco de reservas do Brasil se irritou com a atitude virulenta de Oscar.

A Itália saiu na frente aos 38′. Roberto perdeu a bola no ataque, Giancarlo Antognoni puxou o contragolpe, passou por Batista e abriu com Paolo Rossi na direita. O atacante cortou a marcação de Rodrigues Neto e cruzou para a pequena área. Sem marcação, Franco Causio apareceu na segunda trave e cabeceou no contrapé de Leão.

Esse gol iniciou uma sequência de bons ataques italianos, nos quais a Azzurra poderia ter ampliado o placar.

No lado esquerdo do ataque italiano, Antonio Cabrini driblou Nelinho e cruzou para a área, mas Amaral cortou. Antognoni pegou a sobra e chutou de primeira. A bola quicou, Leão não segurou e Oscar bobeou. Paolo Rossi chutou em cima de Leão e Roberto Bettega 18 passou da bola. Na sobra, após nova indecisão entre Franco Causio e Antonello Cuccureddu, a bola bateu em Nelinho e voltou para Causio chutar da marca do pênalti. A bola subiu e bateu no travessão. Um festival de horrores! Uma jogada confusa da defesa brasileira, que o ataque italiano não conseguiu aproveitar.

Em outro lance, Paolo Rossi driblou Leão e chutou. O goleiro brasileiro chegou a resvalar na bola antes dela tocar na trave e sair.

Esgotados, os dois times terminaram o primeiro tempo disputando desordenadamente a posse de bola. O ataque brasileiro pouco produziu. Roberto Dinamite estava perdido no meio da marcação da defesa italiana.


(Imagem: Michel Barrault / Onze / Icon Sport / Getty Images)

Na etapa final, a Seleção Brasileira ficou mais ofensiva com a entrada de Reinaldo no lugar de Gil. Jogando com dois centroavantes de ofício, a movimentação do ataque brasileiro começou a confundir a defesa italiana. Nessa formação, os jogadores canarinhos pareciam estar mais seguros e jogaram de forma mais solta.

No primeiro lance de perigo, Nelinho bateu escanteio, Zoff socou a bola para fora da área e Jorge Mendonça emendou de primeira para fora.

O Brasil manteve a pressão e conseguiu o empate aos 19′. Sem muito ângulo, Nelinho foi capaz de um chute de rara precisão, força e uma curva surreal. Zoff chegou a tocar na bola, mas ela só poderia ter um endereço: o fundo do gol. Em uma Copa do Mundo cheia de gols bonitos, com chutes de longe, esse foi o mais lindo de todos eles.

Na sequência, Cerezo deu lugar a Rivellino, em sua 120ª e última partida pela Seleção Brasileira. Ele ainda estava se recuperando da contusão sofrida no primeiro jogo da Copa.


(Imagem: Pinterest)

Roberto Rivellino, um artista do futebol que fazia sua despedida dos grandes palcos. Mesmo fora de forma, ele mal entrou e começou a desfilar seu talento, com várias jogadas de efeito no meio do campo. Parecia que o mágico queria fazer todos os seus truques no pouco tempo que teria. Ele transformou uma partida sem graça em uma ocasião especial. O camisa 10 fez de tudo: catimbou, dividiu, reclamou do juiz, ameaçou brigar, segurou a bola, chutou e fez alguns lançamentos, inclusive criando a jogada que resultou no gol da vitória.

Aos 26′, Rodrigues Neto avançou pela esquerda e deixou com Rivellino pelo meio. O craque fez o lançamento curto para a entrada da área. Jorge Mendonça escorou com o peito e deixou na medida para o chute de primeira de Dirceu. A bola foi de novo no canto direito de Zoff. Outro golaço. Dirceu certamente foi o melhor jogador brasileiro na Copa de 1978 – um dos melhores de todo o Mundial.

A última chance da Itália foi em uma cobrança de falta ensaiada. Causio cruzou para a marca do pênalti, Bettega subiu mais que Amaral, cabeceou firme, mas a bola explodiu no travessão e saiu por cima do gol.

Depois o jogo ficou feio, com pancadas distribuídas de lado a lado. Claudio Gentile não foi nada gentil e acertou Rodrigues Neto sem bola. Pouco depois, o mesmo Gentile deu um carrinho forte em Amaral. Patrizio Sala deixou o braço no rosto de Batista. Rivellino revidou e acertou Sala por trás e encarou catimbando.


(Imagem: Diego Goldberg / Sygma / Corbis)

● A vitória do Brasil foi justificada pelo bom futebol apresentado no segundo tempo.

Após a partida, o técnico Cláudio Coutinho declarou que o Brasil era “campeão moral” – mesma expressão usada pelos argentinos quando perderam para o Uruguai na final da Copa de 1930. O escrete canarinho foi o único invicto do Mundial.

A bem da verdade, principalmente para o brasileiro, o 3º lugar vale pouco. Se não for o campeão, todos os outros são derrotados. Se não for primeiro, tudo é último.

Apenas quatro jogadores brasileiros disputaram todos os minutos de todos os jogos: o goleiro Leão, os zagueiros Oscar e Amaral e o volante Batista. A rotatividade foi grande no escrete canarinho. Coutinho utilizou 17 dos 22 convocados. Apenas os goleiros Waldir Peres e Carlos, os zagueiros Abel Braga e Polozzi e o ponta Zé Sérgio não entraram em campo.

Curiosamente, essa foi a última partida de Copa do Mundo que a Seleção Brasileira utilizou o escudo da CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Em 24/09/1979 foi criada a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).


(Imagem: FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 1 ITÁLIA

 

Data: 24/06/1978

Horário: 15h00 locais

Estádio: Monumental Antonio Vespucio Liberti (Monumental de Núñez)

Público: 69.659

Cidade: Buenos Aires (Argentina)

Árbitro: Abraham Klein (Israel)

 

BRASIL (4-3-3):

ITÁLIA (4-3-3):

1  Leão (G)(C)

1  Dino Zoff (G)(C)

13 Nelinho

5  Claudio Gentile

3  Oscar

8  Gaetano Scirea

4  Amaral

4  Antonello Cuccureddu

16 Rodrigues Neto

3  Antonio Cabrini

17 Batista

6  Aldo Maldera

5  Toninho Cerezo

9  Giancarlo Antognoni

19 Jorge Mendonça

13 Patrizio Sala

18 Gil

16 Franco Causio

20 Roberto Dinamite

21 Paolo Rossi

11 Dirceu

18 Roberto Bettega

 

Técnico: Cláudio Coutinho

Técnico: Enzo Bearzot

 

SUPLENTES:

 

 

12 Carlos (G)

12 Paolo Conti (G)

22 Waldir Peres (G)

22 Ivano Bordon (G)

2  Toninho Baiano

2  Mauro Bellugi

14 Abel Braga

7  Lionello Manfredonia

15 Polozzi

14 Marco Tardelli

6  Edinho

15 Renato Zaccarelli

21 Chicão

17 Claudio Sala

10 Rivellino

10 Romeo Benetti

8  Zico

11 Eraldo Pecci

7  Sérgio

19 Francesco Graziani

9  Reinaldo

20 Paolo Pulici

 

GOLS:

38′ Franco Causio (ITA)

64′ Nelinho (BRA)

71′ Dirceu (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

35′ Nelinho (BRA)

44′ Batista (BRA)

72′ Claudio Gentile (ITA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Gil (BRA) ↓

Reinaldo (BRA) ↑

 

64′ Toninho Cerezo (BRA) ↓

Rivellino (BRA) ↑

 

78′ Giancarlo Antognoni (ITA) ↓

Claudio Sala (ITA) ↑

Melhores momentos da partida:

… 23/06/1954 – Alemanha Ocidental 7 x 2 Turquia

Três pontos sobre…
… 23/06/1954 – Alemanha Ocidental 7 x 2 Turquia


Seleção alemã que entrou em campo para o jogo extra diante da Turquia. Da esquerda para a direita: Fritz Walter, Turek, Eckel, Laband, Posipal, Ottmar Walter, Klodt, Mai, Schäfer, Bauer e Morlock. (Imagem: Impromptuinc)

● A seleção alemã de futebol foi usada como uma importante arma de divulgação do governo de Adolf Hitler. Com a queda do nazismo e a derrota alemã na Segunda Guerra Mundial, em 1947 o país foi dividido em Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental, Sarre e Áustria (que voltou a ser uma nação independente). As seleções de futebol, com exceção da invadida Áustria, ficaram impedidas de disputar qualquer competição internacional até 1950. Depois do fim dessa suspensão, a Alemanha Ocidental – que herdou o histórico esportivo da Alemanha unificada – tratou de reorganizar o futebol local e voltou a disputar jogos oficiais. Mas enquanto os alemães passearam nas eliminatórias, se qualificando facilmente no Grupo 1 e deixando para trás as fracas seleções de Sarre e Noruega, a vida dos turcos foi muito mais difícil.

O Grupo 6 tinha apenas Turquia e Espanha. A Fúria era amplamente favorita, contando com veteranos que ficaram em 4º lugar no Mundial de 1950 (Agustín Gaínza, Antonio Puchades e Mariano Gonzalvo), além do craque húngaro naturalizado László Kubala.

Em Madri, os espanhóis fizeram valer o favoritismo e venceram fácil por 4 x 1. Na volta, em Istambul, a Turquia venceu por 1 x 0. Como não havia o critério de saldo de gols, foi necessária uma partida extra, que foi jogada em Roma. Houve empate por 2 x 2 no tempo normal e na prorrogação. E, como previa o regulamento na época, o vencedor foi decidido por sorteio! De olhos vendados, um menino italiano de 14 anos cujo pai trabalhava no estádio, Luigi Franco Gemma, foi o responsável por sortear o nome da Turquia. É isso mesmo: a Turquia disputou sua primeira Copa do Mundo porque teve seu nome sorteado num pote. Mas nada disso mais importava. No Mundial, todos começavam “do zero”.

O regulamento da Copa de 1954 era mesmo muito estranho. Na primeira fase, em grupos compostos por quatro seleções, haviam dois cabeças de chave que não se enfrentavam. Eles enfrentariam diretamente apenas as duas seleções teoricamente mais fracas do grupo – que também não se enfrentariam. Dessa forma, cada seleção faria apenas dois jogos. Se os duelos da primeira fase terminassem empatados, seria jogada uma prorrogação; mas, caso essa prorrogação terminasse empatada, o resultado de empate seria mantido. Caso duas equipes terminassem empatadas em pontos no segundo lugar do grupo, a vaga seria decidida em um jogo extra entre ambos. E foi o que aconteceu: Alemanha Ocidental e Turquia terminaram iguais, com dois pontos (uma vitória e uma derrota).


Seleção turca que foi a campo na partida desempate contra a Alemanha Ocidental. (Imagem: Impromptuinc)

● Seis dias antes, essas mesmas seleções haviam jogado para 39 mil pessoas no estádio Wankdorf, em Berna. A Alemanha Ocidental venceu com propriedade por 4 a 1, com gols de Schäfer, Klodt, Ottmar Walter e Morlock.

Mesmo com a boa vitória na estreia, o técnico alemão Sepp Herberger seguia criticado pela imprensa alemã. E a reprovação foi ainda maior quando seu time perdeu por 8 x 3 para a poderosa Hungria. O que quase ninguém sabia é que a derrota fazia parte dos planos de Herberger – uma verdadeira raposa. Ele havia entendido muito bem o regulamento.

Prevendo uma derrota para os magiares [na verdade, todos previam], ele poupou seis titulares para o jogo desempate, novamente contra a Turquia. E, pior, deixou os húngaros sem saber como realmente jogava o time principal da Nationalelf. Melhor que isso, só a terrível lesão que Liebrich causou no húngaro Ferenc Puskás, praticamente tirando o craque do restante da Copa.


(Imagem: Impromptuinc)

● Em sua segunda partida, a Turquia encarou com seriedade os amadores da Coreia do Sul e venceu por 7 x 0.

Para o jogo desempate diante dos alemães, os dirigentes turcos convidaram o garoto talismã – Luigi Franco Gemma – para ir a Zurique. Mas dessa vez ele não conseguiu trazer a sorte necessária.

Em uma tentativa de surpreender os alemães, o técnico italiano Sandro Puppo fez várias alterações na equipe da Turquia, principalmente no ataque. O trio de frente (Suat, Feridun e Burhan) havia atuado bem nas eliminatórias e no jogo diante da Coreia do Sul, mas, embora tivessem mais técnica, tinha menos força física para encarar os gigantes zagueiros alemães – como o primeiro jogo entre ambos já havia mostrado.

Suat e Burhan eram os artilheiros da equipe na Copa com três gols cada. Sem poder de fogo, “Ay-Yıldızlılar” (“Estrelas da Lua”, em turco – apelido da seleção) foi presa fácil para os alemães.

Outra das principais alterações foi a troca dos goleiros. Saiu Turgay para a entrada de Şükrü.


As duas equipes jogavam no sistema tático W-M.

● Por ter vencido o primeiro duelo entre as duas seleções, Die Mannschaft era amplamente favorita. Vários titulares, que haviam ficado de fora contra os húngaros, estavam de volta ao time. Em compensação, foram poupados os zagueiros Werner Liebrich e Werner Kohlmeyer, além do ponta direita Helmut Rahn.

Mas o jogo foi mais fácil que o previsto. A Alemanha Ocidental começou a partida de forma avassaladora, pressionando muito a inexperiente seleção turca. E foi enfileirando gols com relativa facilidade.

O placar foi aberto logo aos sete minutos do primeiro tempo. Em uma transição rápida desde o círculo central, Horst Eckel passou na meia esquerda para Karl Mai, que abriu na esquerda para Hans Schäfer. O ponta foi até a linha de fundo e cruzou rasteiro. Ottmar Walter veio de frente, finalizou da marca do pênalti e mandou a bola para o fundo da rede.

Cinco minutos depois, Schäfer avançou pela esquerda sem marcação, invadiu a área e bateu para o gol, fazendo 2 a 0 para os alemães.

A Turquia manteve a esperança aos 17′. Após cruzamento de Coşkun da esquerda, Mustafa subiu sozinho e cabeceou no canto esquerdo do goleiro Toni Turek. Ele chegou a tocar na bola, mas não evitou o gol.

A Alemanha nem se incomodou e seguiu atacando. Eckel apareceu quase na pequena área e chutou. Şükrü defendeu bem e Rıdvan chutou para longe para afastar o perigo.

A situação dos turcos ficou muito mais complicada com a lesão no ombro do goleiro Şükrü, quando o placar estava em 2 x 1 para a Alemanha. Como não eram permitidas substituições na época, teve que continuar jogando.

E o 3 a 1 veio aos 31 minutos. Max Morlock aproveitou falha de Rober e finalizou de dentro da área, na saída do goleiro.


(Imagem: Impromptuinc)

No segundo tempo, a Alemanha não se deu por satisfeita. O instinto sanguinário fazia a “Die Adler” (“As Águias”, em alemão) querer trucidar o adversário.

Sem correr riscos na defesa e sem sofrer resistência no ataque, os alemães marcaram novamente aos 15′, quando Morlock anotou seu segundo tento na partida. Depois de um cruzamento rasteiro de Schäfer na esquerda, ele deu um carrinho quase em cima da linha e mandou para o gol. 4 a 1. Esse foi o gol de número 400 da história das Copas.

O quinto saiu segundos depois. Ottmar Walter rolou da esquerda e seu irmão Fritz Walter bateu da entrada da área no cantinho direito, sem chances para o combalido Şükrü.

Max Morlock chegou ao “hat trick” aos 32. Bernhard Klodt protegeu na área e rolou para trás. Morlock dominou e bateu da meia lua, no ângulo direito do goleiro turco.

O sétimo gol alemão foi marcado por Schäfer apenas dois minutos depois, completando um cruzamento de Fritz Walter.

A Turquia teve uma pequena alegria ao marcar o segundo, a seis minutos do fim. Após cruzamento da esquerda, Lefter dominou e bateu por baixo de Turek.

Final: Alemanha Ocidental 7, Turquia 2.


(Imagem: Impromptuinc)

● O presidente honorário da FIFA, Jules Rimet (que já dava nome à taça de campeão do mundo), foi assistir a essa partida. Na sua chegada, ele não teve entrada autorizada no estádio Hardturm, pois não estava portando seus documentos. Com paciência, ele explicou que seus documentos haviam ficado no hotel. Ele só teve sua entrada permitida quando um diretor da organização local o reconheceu e liberou seu ingresso.

Curiosamente, a Copa do Mundo de 1954 foi a primeira em que os jogadores atuaram com numeração fixa. Cada atleta tinha seu próprio número para ser usado na camisa durante todo o torneio, de 1 a 22.

No fim, a estratégia de Herberger acabou dando certo. Com a nova vitória diante dos turcos, a Alemanha se classificou para as quartas de final, onde venceu a Iugoslávia por 2 x 0. Nas semifinais, goleou a vizinha Áustria por 6 x 1. Na decisão, enfim Herberger escalou seu melhor time e venceu a Hungria de virada por 3 x 2, com a Alemanha conquistando o primeiro dos seus quatro títulos em Copas do Mundo. E esse primeiro troféu muito se deve à astúcia do técnico Sepp Herberger.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 7 X 2 TURQUIA

 

Data: 23/06/1954

Horário: 18h00 locais

Estádio: Hardturm

Público: 17.000

Cidade: Zurique (Suíça)

Árbitro: Raymond Vincenti (França)

 

ALEMANHA (WM):

TURQUIA (WM):

1  Toni Turek (G)

12 Şükrü Ersoy (G)

2  Fritz Laband

2  Rıdvan Bolatlı

7  Josef Posipal

3  Basri Dirimlili

4  Hans Bauer

17 Naci Erdem

6  Horst Eckel

5  Çetin Zeybek

8  Karl Mai

6  Rober Eryol

14 Bernhard Klodt

7  Erol Keskin

13 Max Morlock

4  Mustafa Ertan

15 Ottmar Walter

d 20 Necmi Onarıcı

16 Fritz Walter (C)

11 Lefter Küçükandonyadis (C)

20 Hans Schäfer

22 Coşkun Taş

 

Técnico: Sepp Herberger

Técnico: Sandro Puppo

 

SUPLENTES:

 

 

22 Heinz Kwiatkowski (G)

1  Turgay Şeren (G)

21 Heinz Kubsch (G)

13 Bülent Eken

10 Werner Liebrich

14 Ali Beratlıgil

3  Werner Kohlmeyer

16 Nedim Günar

5  Herbert Erhardt

18 Akgün Kaçmaz

11 Karl-Heinz Metzner

19 Ahmet Berman

19 Alfred Pfaff

15 Mehmet Dinçer

12 Helmut Rahn

1 Kadri Aytaç

17 Richard Herrmann

8  Suat Mamat

18 Ulrich Biesinger

9  Feridun Buğeker

9  Paul Mebus

10 Burhan Sargun

 

GOLS:

7′ Ottmar Walter (ALE)

12′ Hans Schäfer (ALE)

17′ Mustafa Ertan (TUR)

31′ Max Morlock (ALE)

60′ Max Morlock (ALE)

62′ Fritz Walter (ALE)

77′ Max Morlock (ALE)

79′ Hans Schäfer (ALE)

84′ Lefter Küçükandonyadis (TUR)

 Gols da partida:

… 22/06/1994 – Estados Unidos 2 x 1 Colômbia

Três pontos sobre…
… 22/06/1994 – Estados Unidos 2 x 1 Colômbia


(Imagem: Action Images)

● Os Estados Unidos não eram muito chegados ao futebol. O desdém é tamanho que eles o chamam de “soccer”, enquanto o “football” deles é outro esporte jogado predominantemente com as mãos e uma bola oval. E lá o “soccer” é historicamente um esporte de minorias, especialmente latino-americanos, negros ou mulheres. Relegado a segundo plano, o “soccer” é o quinto esporte mais popular no país, atrás do futebol americano, beisebol, basquete e hóquei no gelo.

Em pesquisas nas ruas antes do Mundial, o povo americano em geral não fazia ideia que o país sediaria a Copa do Mundo. Especialistas dizem que o futebol não é popular no país porque os norte-americanos detestam jogos em que os pontos demoram a acontecer e costumam ser poucos ao fim de cada partida (quando eles acontecem). Além disso, eles não entendem o conceito de empate. Para eles, alguém sempre tem que vencer.

Mas se tem uma coisa que os ianques são bons é em sediar e organizar grandes eventos. Além de possuir uma fantástica infraestrutura hoteleira, turística e de transportes, haviam muitos estádios de grande porte que poderiam ser facilmente adaptados para receberem o torneio.

Na época, os ianques não possuíam um campeonato organizado ou uma liga de futebol em seu país. Os jogadores eram praticamente amadores em times mais amadores ainda. A Major League Soccer só começou a ser disputada em 1996.

O Mundial de 1994 era a quarta edição disputada pelos EUA. Eles haviam participado em 1930, 1950 e 1990.

O técnico era o experiente sérvio Bora Milutinović, que havia treinado o México em 1986 e a Costa Rica em 1990. Posteriormente, ele completaria cinco Copas, treinando a Nigéria em 1998 e a China em 2002.

O time estadunidense tinha jogadores folclóricos como o goleiro Tony Meola, os zagueiros Alexi Lalas e Marcelo Balboa e o meia Cobi Jones (que depois jogaria no Vasco).


(Imagem: Getty Images / Globo Esporte)

● A Colômbia também tinha pouca tradição em Mundiais. Era apenas a terceira vez que La Tri disputava o torneio (após 1962 e 1990). Apesar disso, os colombianos eram cotados como um dos candidatos ao título – inclusive pelo Rei Pelé.

A seleção era formada pela mais talentosa geração de jogadores já surgida no país e estava mais madura depois da Copa de 1990. Os destaque eram o goleiro Óscar Córdoba, os zagueiros Luis Carlos “Coroncoro” Perea e Andrés “El Caballero” Escobar, os meias Carlos “El Pibe” Valderrama e Freddy Rincón, além dos atacantes Faustino Asprilla (do Parma) e Adolfo “El Tren” Valencia (do Bayern de Munique).

O principal desfalque foi René Higuita, o goleiro espetáculo. Ele ficou preso por sete meses em 1993 acusado de participar de um sequestro. Ele acabaria inocentado, mas acabou ficando fora da Copa de 1994.

O técnico Francisco Maturana era um treinador à frente do seu tempo e trouxe uma disciplina tática que os colombianos não estavam acostumados. Ele havia levado o Atlético Nacional a conquistar a Copa Libertadores da América em 1989 – título inédito para o futebol colombiano. Quatro jogadores daquela equipe eram titulares na Copa de 1994: a dupla de zaga Perea e Escobar, o lateral esquerdo Luis Fernando “Chonta” Herrera e o meia Leonel Álvarez.

Nas eliminatórias, a Colômbia foi líder do Grupo A e terminou invicta, com quatro vitórias e dois empates (os dois contra o Paraguai, 0 x 0 em casa e 1 x 1 fora). Bateu o Peru por 1 x 0 em Lima e por 4 x 0 em Barranquilla. Na mesma cidade, venceu a Argentina por 2 x 1.

Mas a cereja do bolo foi mesmo o confronto direto contra a Argentina. Em pleno Monumental de Núñez, a Colômbia pôs os hermanos na roda e goleou por 5 x 0, fora o baile. Foram dois gols de Rincón, dois de Asprilla e um de Valencia. Esse resultado classificou a Colômbia para a Copa e empurrou os argentinos para a repescagem diante da Austrália.

Ao todo, foram 19 jogos de invencibilidade ao longo do ano de 1993.

Mas com certa soberba e muito salto alto, a realidade foi cruel aos cafeteros. Na primeira partida, a Colômbia não conseguiu suportar a dinâmica da Romênia, regida pelo maestro Gheorghe Hagi, e perdeu por 3 a 1.

E a situação ficou extremamente tensa nos dias que antecederam ao duelo com os Estados Unidos.


(Imagem: Getty Images / Globo Esporte)

● O irmão do defensor “Chonta” Herrera havia sido assassinado num acidente de carro suspeito. O time recebeu ameaças de morte na TV do hotel. Havia pressão externa para a escalação de certos jogadores e também ordens para outros não serem escalados.

O volante Gabriel “Barrabás” Gómez era um dos homens de confiança do técnico Francisco Maturana e titular absoluto do time. Ele era irmão do auxiliar técnico Hernán Darío Gómez. Muitos acreditavam que esse parentesco era a razão para a titularidade de “Barrabás” – até o narcotráfico colombiano. Foi por isso que antes da partida o aparelho de faz do hotel Marriott de Fullerton revelou uma ameaça de morte para o volante caso ele entrasse em campo diante dos Estados Unidos. Inicialmente, “Barrabás” pensou em ignorar o aviso, mas desistiu ao refletir que a ameaça também se estendia à sua família.

“Eu não podia colocar outra vida em perigo. Barrabás era um jogador chave, mas eles me venceram. Nós ligamos para casa, havia tiroteios, um caos completo e foi assim que entramos em campo naquele dia.” ― Francisco Maturana em entrevista ao jornal inglês Telegraph

“Ligaram para o hotel onde estávamos e nos fizeram ameaças de morte! Disseram que se Gabriel Gómez não fosse barrado, tanto ele quanto o ‘Profe’ (Francisco Maturana) seriam mortos. Sendo que Gómez era um dos jogadores fundamentais para nossa seleção. Nunca soubemos de onde vieram estas ameaças, quem fez, mas chegamos sob muita tensão na partida contra os Estados Unidos.” ― Luis Carlos Perea

Logicamente, Maturana preferiu não arriscar e escalou Hernán Gaviria no lugar de “Barrabás” Gómez.

Mas os colombianos entraram abalados em campo.


As duas equipes jogavam no sistema tático 4-4-2.

● Assim, às 16h30 daquele dia 22 de junho, 94 mil pessoas lotaram o estádio Rose Bowl, em Pasadena, Califórnia. Os donos da casa enfrentariam uma das seleções favoritas ao título.

Depois de um empate por 1 x 1 com a Suíça na primeira rodada, os Estados Unidos precisavam vencer para ficar mais próximo da classificação. Nunca um anfitrião havia caído na primeira fase e os ianques não queriam ser os primeiros. Eles corriam esse risco em um grupo muito equilibrado.

Empurrados pela empolgada torcida, os norte-americanos jogaram como nunca e partiram para o ataque dispostos a resolver logo o jogo.

Os colombianos estavam nervosos. Sentiam a pressão de terem que vencer de qualquer maneira.

No começo do jogo, Rincón cruzou da direita, Herrera tocou para o meio da área e Mike Sorber se atrapalha e mandou na própria trave. No rebote, o baixinho Antony de Ávila chutou, mas Marcelo Balboa tirou em cima da linha e Fernando Clavijo tirou de lá.

Os americanos começaram a encaixar contragolpes perigoso e criar mais chances claras de gol. Em uma delas, Balboa cabeceou para fora. Em outra, Eric Wynalda acertou a trave.

Aos 35′, Freddy Rincón perdeu uma bola que chegou até Thomas Dooley. Ele cruzou rasteiro da esquerda, Andrés Escobar tentou cortar de carrinho, mas acabou mandando contra as próprias redes, no contrapé do goleiro Óscar Córdoba, que nada pôde fazer. 1 a 0.

Escobar nunca assistiu a um replay sequer do lance.

“Depois da partida, lembro de ele estar muito triste por este gol contra. Lembro de ele me falar que nunca tinha marcado contra na sua vida, e foi acontecer justo em um Mundial.” ― Santiago Escobar, irmão de Andrés

Sem conseguir reagir, a Colômbia viu os EUA ampliar o marcador aos sete minutos do segundo tempo. Tab Ramos deu um passe por elevação e Earnie Stewart tocou na saída do goleiro. 2 a 0.

O placar poderia ser maior. O zagueiro roqueiro Alexi Lalas teve um gol mal anulado por impedimento e quase fez outro de cabeça, que Córdoba salvou.

No lance mais lindo da tarde, Tab Ramos cobrou escanteio da direita e o zagueiro Marcelo Balboa emendou uma bicicleta perfeita. A bola passou a poucos centímetros da trave direita do goleiro. Seria um golaço histórico.

Os cafeteros pareciam sentir o golpe. O time estava muito lento e oferecia pouco perigo. Só conseguiu marcar seu gol no minuto final, mas já era tarde demais. Rincón fez a jogada na área e chutou forte. Meola defendeu no susto, mas deu rebote. Valencia pegou a sobra e finalizou para o gol. 2 a 1.


(Imagem: Romeo Gacad / AFP / Getty Images)

● Pela primeira vez essa geração viu uma vitória dos norte-americanos em um jogo de Copa do Mundo. A última havia sido a “zebra” diante da Inglaterra em 1950.

Com a vitória por 2 x 1, os Estados Unidos festejaram a classificação para a segunda fase pela segunda vez em sua história – a primeira desde 1930.

Na última rodada, os colombianos mantinham uma remota chance de classificação. Para isso, precisaria vencer a Suíça e torcer para que os EUA vencessem a Romênia. Além disso, ainda dependiam dos resultados de outros grupos, na tentativa de ficar entre os quatro melhores terceiros colocados da fase de grupos. Apesar da ínfima possibilidade, Maturana chegou a pedir demissão, mas foi convencido a permanecer no cargo para a última rodada. Sem tanta pressão, a Colômbia venceu por 2 x 0, com gols de Hernán Gaviria (aos 44′) e John Harold Lozano (aos 90′). Mas a vitória foi insuficiente, já que a Romênia acabou vencendo os EUA por 1 x 0. Contrariando todas as previsões otimistas, a Colômbia foi eliminada na primeira fase.

Um dos maiores nomes daquela seleção era Freddy Rincón, que na época jogava no Palmeiras. Na volta a seu país, ele foi questionado pela sua esposa, Adriana, sobre o mau futebol da seleção na Copa. Freddy a agrediu com um chute na perna, o que ocasionou uma fratura na tíbia. Mas, para evitar escândalos, a mulher não levou o caso adiante e perdoou o jogador.

Nas oitavas de final, os EUA enfrentaram de igual para igual a Seleção Brasileira, mas Bebeto aproveitou ótima jogada de Romário e fez o único gol do jogo, eliminando os donos da casa.

Em 2013 foi ao ar na emissora colombiana TV Caracol uma novela sobre a geração da seleção da Colômbia na década de 1990, se tornando campeã de audiência no país. Com sessenta capítulos, os principais personagens eram os nomes mais conhecidos da seleção cafetera: Carlos Valderrama, Freddy Rincón, René Higuita e Faustino Asprilla.

Antes disso, em 2010, foi lançado o longa-metragem “The Two Escobars”, um documentário que mostra a relação estreita do narcotráfico (comandado pelo traficante Pablo Escobar) e o futebol (representado pelo jogador Andrés Escobar). Sem nenhum parentesco, apesar de terem o mesmo sobrenome, os dois foram assassinados com sete meses de diferença – Pablo no dia 02/12/1993 e Andrés em 02/07/1994.


(Imagem: AFP)

A morte de Andrés Escobar, “El Caballero”

O narcotráfico sempre manteve forte relação com o futebol, principalmente nas cidades de Medellín e Cali. O traficante Pablo Escobar era o principal responsável direto pelos bons resultados do esporte no país entre o meio dos anos 1980 e início dos anos 1990, ao financiar a contratação de estrelas com o dinheiro do crime. Andrés Escobar jogava em um dos clubes beneficiados pelo cartel, o Atlético Nacional.

O zagueiro Andrés Escobar vivia o auge de sua carreira. Havia conquistado a Copa Libertadores da América em 1989 e disputava sua segunda Copa do Mundo como titular, aos 27 anos. Segundo algumas fontes, ele estava negociando sua transferência com o Milan para depois do Mundial. Ele seria uma opção a Franco Baresi, que não demoraria a se aposentar.

Pelo seu estilo de jogo, era chamado de “El Caballero”.

“Era um extraordinário defensor que atuava pela esquerda. Muito técnico, tinha bom controle, passes curtos, sabendo jogar para seus laterais com tranquilidade. Sempre foi muito elegante para jogar. Quando davam liberdade, inclusive, ia para a área rival. Marcou 21 gols em sua carreira.” ― Santiago Escobar, irmão de Andrés

Mas o zagueiro foi apontado como um dos principais culpados pela queda prematura da seleção colombiana, principalmente por causa do gol contra diante dos EUA.

Depois da Copa, Andrés Escobar tinha planos de tirar umas férias com sua família na costa dos Estados Unidos. Mas ele preferiu voltar ao seu país, sair de casa e “mostrar a cara para o seu povo”, como ele disse a Maturana.

Na madrugada do dia 02 de julho, o zagueiro estava na saída do estacionamento da discoteca El Indio Bar, em Medellín, quando foi agredido verbalmente por três homens e uma mulher que protestavam por seu gol contra.

Escobar reagiu com um pedido de respeito, mas foi brutalmente assassinado com doze tiros à queima-roupa. O zagueiro morreu 45 minutos depois.

Humberto Muñoz Castro, que assumiu a autoria do crime, era guarda-costas e motorista dos irmãos Pedro e Juan Santiago Gallón Henao. Os dois, que eram traficantes de drogas, também foram suspeitos de estar no local da morte de Andrés Escobar.

Uma das versões da acusação aponta que os Gallón Henao teriam encomendado a morte de Escobar por terem perdido muito dinheiro em apostas no título da Colômbia. Já outra versão, menos romântica, diz que foi apenas uma discussão ocorrida na discoteca.

Muñoz Castro foi condenado a 43 anos de prisão, mas ganhou sua liberdade depois de 11 anos por bom comportamento.

Mas a impunidade dos irmãos Gallón Henao causou mais indignação. Os dois foram condenados inicialmente a 15 anos de prisão por acobertarem o crime, mas foram soltos de imediato mediante pagamento de fiança.

Depois da morte de Escobar, seus companheiros de seleção passaram a andar escoltados por segurança.

“Andrés estava em um lugar errado e na hora errada. Além disto, era um momento perigoso para qualquer jogador da Colômbia naquele momento estar na rua.” ― Luis Carlos Perea

“Tenho as melhores lembranças possíveis dele. Andrés foi um grande jogador e uma excelente pessoa. Nos mantínhamos na concentração, jogando cartas, e era muito divertido. Sempre gostava muito de conversar. Além disto, foi o melhor zagueiro com quem joguei. Para mim foi muito dura a morte dele. Cheguei a pensar até em me aposentar na época. Até hoje, sinto muito a falta dele.” ― Luis Fernando Herrera

“Um momento muito duro. Além da eliminação no Mundial, veio este marco, e justo com um bom amigo como o Escobar.” ― Faustino Asprilla

“Era um companheiro no qual tínhamos muita confiança. Era um cara muito legal, bastante divertido, sem contar tudo o que representava para nós na Colômbia, o “senhor” jogador que era. Um tipo de pessoa que está em extinção.” ― Freddy Rincón

“Se soubéssemos que o gol contra provocaria isso, preferiríamos ter perdido aquele jogo.” ― Thomas Dooley, volante norte-americano

Certamente essa foi uma das mais dolorosas páginas da história das Copas.


(Imagem: UOL)

FICHA TÉCNICA:

 

ESTADOS UNIDOS 2 x 1 COLÔMBIA

 

Data: 22/06/1994

Horário: 16h30 locais

Estádio: Rose Bowl

Público: 93.869

Cidade: Pasadena (Estados Unidos)

Árbitro: Fabio Baldas (Itália)

 

ESTADOS UNIDOS (4-4-2):

COLÔMBIA (4-4-2):

1  Tony Meola (G)(C)

1  Óscar Córdoba (G)

21 Fernando Clavijo

20 Wilson Pérez

17 Marcelo Balboa

15 Luis Carlos Perea

22 Alexi Lalas

2  Andrés Escobar

20 Paul Caligiuri

4  Luis Fernando Herrera

5  Thomas Dooley

14 Leonel Álvarez

6  John Harkes

5  Hernán Gaviria

9  Tab Ramos

10 Carlos Valderrama (C)

16 Mike Sorber

19 Freddy Rincón

11 Eric Wynalda

21 Faustino Asprilla

8  Earnie Stewart

7  Antony de Ávila

 

Técnico: Bora Milutinović

Técnico: Francisco Maturana

 

SUPLENTES:

 

 

18 Brad Friedel (G)

12 Faryd Mondragón (G)

12 Juergen Sommer (G)

22 José María Pazo (G)

2  Mike Lapper

3  Alexis Mendoza

3  Mike Burns

13 Néstor Ortiz

4  Cle Kooiman

18 Óscar Cortés

7  Hugo Pérez

17 Mauricio Serna

13 Cobi Jones

6  Gabriel “Barrabás” Gómez

19 Claudio Reyna

8  John Harold Lozano

10 Roy Wegerle

9  Iván Valenciano

14 Frank Klopas

11 Adolfo Valencia

15 Joe-Max Moore

16 Víctor Aristizábal

 

GOLS:

35′ Andrés Escobar (EUA) (gol contra)

52′ Earnie Stewart (EUA)

90′ Adolfo Valencia (COL)

 

CARTÕES AMARELOS:

24′ Antony de Ávila (COL)

48′ Alexi Lalas (EUA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Antony de Ávila (COL) ↓

Adolfo Valencia (COL) ↑

 

INTERVALO Faustino Asprilla (COL) ↓

Iván Valenciano (COL) ↑

 

61′ Eric Wynalda (EUA) ↓

Roy Wegerle (EUA) ↑

 

66′ Earnie Stewart (EUA) ↓

Cobi Jones (EUA) ↑

● Melhores momentos da partida:

… 21/06/1978 – Argentina 6 x 0 Peru

Três pontos sobre…
… 21/06/1978 – Argentina 6 x 0 Peru

“A vergonha de Rosário”


(Imagem: futbolargentino.com)

● Depois de quarenta anos de tentativa, enfim, a Argentina pôde realizar o sonho de sediar uma Copa do Mundo. Devido a uma crise política (que contamos melhor aqui), o evento tão aguardado correu risco de não ter acontecido. Mas uma junta militar, comandada pelo general Jorge Rafael Videla, tomou o país em 1976 e garantiu a realização do torneio em solo portenho. Assim como em outros países sul-americanos, o futebol era tido como um eficiente meio de propaganda do país ao mundo e uma forma de distração para o povo.

O técnico César Luis Menotti gostava do futebol ofensivo e bem jogado. E ele tinha uma equipe de boa qualidade técnica, se destacando o zagueiro e capitão Daniel Passarella, o meio campo Osvaldo Ardiles, e os atacantes Daniel Bertoni, Leopoldo Luque e, claro, Mario Kempes. Era ele o toque de classe daquela equipe batalhadora.

Menotti preferiu prescindir do talento de um genial e genioso menino de apenas 17 anos chamado Diego Armando Maradona. Ele havia estreado na albiceleste no início do ano anterior, mas foi um dos três cortados de última hora. O treinador julgou que o mancebo não tinha a experiência e maturidade necessária para lidar com a enorme pressão que a torcida exercia.

Na primeira fase, a a Argentina passou como segunda colocada do Grupo 1. Nos dois primeiros jogos, venceu a Hungria e a França por 2 x 1. Na terceira rodada, foi surpreendida pela Itália e perdeu por 1 x 0. Por isso, os donos da casa tiveram que sair de Buenos Aires para jogar em Rosário na segunda fase.

O Peru mantinha parte da equipe que chegou nas quartas de final da Copa de 1970, como o zagueiro e capitão Héctor Chumpitaz, o craque Teófilo Cubillas e o atacante Hugo Sotil. E havia feito uma bela campanha na primeira fase, terminando como líder o Grupo 4 e ficando à frente da poderosa Holanda. Venceu a Escócia na estreia por 3 x 1, empatou sem gols com os holandeses e bateu o Irã por 4 x 1.


(Imagem: Peter Robinson / Empics / Getty Images)

● Assim como em 1974, a segunda fase não era composta por oitavas ou quartas de final em partidas eliminatórias (o famoso mata-mata), mas sim uma nova fase de grupos, que classificaria o vencedor para a final.

Pelo Grupo B, o Peru foi derrotado por Brasil (3 x 0) e Polônia (1 x 0). Mas mesmo perdendo, a seleção peruana continuou apresentando um futebol organizado e aguerrido.

Os argentinos tinham vencido a Polônia por 2 x 0 e empatado sem gols com o Brasil. Assim, após duas rodadas, brasileiros e argentinos estavam empatados em números de pontos.

No Grupo A da fase semifinal, todas as partidas foram jogadas simultaneamente para evitar que uma seleção entrasse em campo já sabendo do resultado que precisaria. Já no Grupo B, a tabela era diferente, com a Argentina fazendo todos os seus jogos mais tarde.

Algumas horas antes, o Brasil havia derrotado a Polônia por 3 x 1. Assim, antes do jogo contra o Peru, a Argentina sabia que precisava vencer por, pelo menos, quatro gols de diferença, pois o Brasil tinha cinco gols de saldo e a Argentina apenas dois. O critério seguinte era gols marcados, que beneficiava o Brasil.

Já eliminados, os peruanos diziam que jogariam por sua própria honra. E vendo o futebol apresentado pelos incas até então, muitos acreditavam que eles poderiam dificultar a chegada da Argentina à final da Copa. Antes do jogo, o técnico brasileiro Cláudio Coutinho disse: “A Argentina não faz quatro gols no Peru. O Peru não tomou quatro gols de ninguém nessa Copa, não toma hoje”.

O técnico peruano Marcos Calderón concordou: “O Peru saberá jogar honesta, leal e honradamente, como o fazemos sempre em todas as partidas, em todos os lugares. Está em jogo, aqui, a nossa honra”.

O goleiro da seleção peruana era Ramón Quiroga, argentino de nascimento. Ele era nascido em Rosário e seus pais moravam a poucos quarteirões do estádio Gigante de Arroyito. Quiroga jogou no Rosario Central de 1968 a 1973 e saiu do clube tendo sido acusado de ter se vendido num jogo pelo campeonato local, o que provocou a sua saída do país. Depois, se transferiu para o Sporting Cristal e se naturalizou peruano.

Outro que estava praticamente em casa era Mario Kempes. Ele era ídolo do Rosario Central, onde jogou de 1973 a 1976, marcando 85 gols em 107 jogos.

E ambos acabaram sendo os personagens principais dessa partida.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque.


O Peru também jogou no 4-3-3, com Cubillas recuando para armar. A bem da verdade, o time foi uma verdadeira bagunça.

● Com apenas dois minutos jogados, Juan José Muñante passou pela marcação e chutou por cima do goleiro Ubaldo Fillol. Caprichosamente, a bola foi na trave. Essa foi a primeira e última chance peruana durante os 90 minutos.

A partir daí, só deu Argentina.

Em um belo lance, Mario Kempes fez boa jogada pela direita e deixou com Daniel Bertoni. Ele cruzou rasteiro e a defesa peruana tentou tirar. Oscar Alberto Ortiz pegou o rebote e chegou batendo. A bola desviou na defesa e Quiroga espalmou para escanteio.

O placar foi aberto aos 21 minutos. Mario Kempes arrancou pelo meio, tabelou com Passarella e recebeu a bola na frente. O camisa 10 invadiu a área, passou fácil por Rodulfo Manzo o deixando no chão e tocou com classe no canto esquerdo do goleiro Ramón Quiroga. Foi o terceiro gol de Kempes no Mundial. Kempes mostrou nesse lance todo o talento que fez dele um dos melhores atacantes de sua geração. 1 a 0.

Com pressão contínua da Argentina, o segundo gol veio aos 43′. Bertoni cobrou escanteio da direita. O lateral esquerdo Alberto Tarantini apareceu livre na marca do pênalti e teve que se abaixar para cabecear. A bola quicou e entrou no canto esquerdo do goleiro peruano. 2 a 0.

Com a defesa peruana mais sonolenta que o normal, o goleiro Quiroga se desdobrava para evitar um placar maior. Em um lance, ele teve que disputar com Kempes fora da área e ainda ganhou o lance.

Em outra jogada de bola na área, Kempes ganhou no alto de Chumpitaz, mas cabeceou fraco. Quiroga pegou.

Em outro lance, Kempes bateu falta para a área e Quiroga disputou com Américo Gallego e Omar Larrosa. O goleiro peruano subiu mais alto que os dois argentinos e socou a bola por cima do gol.

A pressão era enorme sobre Quiroga. Do outro lado, Fillol era um mero expectador.

A Argentina chegou ao intervalo vencendo por 2 a 0, ou seja, com metade do placar construído.

O Peru já não estava jogando bem, mas o segundo tempo ridículo foi a origem da “teoria da conspiração”. Era impressionante a facilidade com a qual os donos da casa entravam na área adversária.

Jorge Olguín cobrou falta da direita para dentro da área. Na marca do pênalti, Kempes ajeitou com o peito, Bertoni devolveu e Kempes mandou para o gol, no canto direito do goleiro. 3 a 0.

Faltando ainda 40 minutos a serem jogados, a Argentina só precisava de mais um gol para chegar à decisão. Esse gol parecia inevitável e veio logo no minuto seguinte.

Na intermediária ofensiva, Kempes limpou a marcação e tocou para Omar Larrosa, que fez o corta luz para Tarantini. Ele cruzou da esquerda, Passarella escorou na segunda trave e Leopoldo Luque marcou de peixinho, quase dentro do gol. A defesa peruana reclamou um impedimento inexistente, mas o gol foi corretamente validado pelo árbitro francês Robert Wurtz. 4 a 0.

Com apenas cinco minutos do segundo tempo, a Argentina já estava com os pés na grande final. Bastava não sofrer gols. Ou marcar mais.

Quando o Peru começava a atacar, o técnico Marcos Calderón fazia sinais para que sua equipe recuasse. Babaca. Ridículo. Antiesportivo. Uma farsa.

Aos 22′, Kempes deixou com Ortiz, que avançou pela esquerda e cruzou rasteiro para a pequena área. A bola passou por Quiroga e René Houseman completou para o gol vazio. Houseman havia entrado no lugar de Bertoni três minutos antes. 5 a 0.

Na base da empolgação, a Argentina conseguiu o sexto gol aos 27′, em uma falha lamentável da defesa peruana, que deu a bola de presente. Chumpitaz bateu falta rápido para Raúl Gorriti, que perdeu a bola para Larrosa. Ele serviu Luque, que entrou na área e tocou na saída de Quiroga. Foi o segundo gol de Luque na partida e o quarto no Mundial. 6 a 0.

A seleção peruana havia tomado seis gols durante toda a Copa, mas sofreu seis gols apenas nessa partida.


(Imagem: Globo)

● Em uma Copa do Mundo, espera-se que as seleções entrem para dar tudo de si, superando com dedicação as deficiências técnicas. Em momento algum desse jogo o Peru jogou como se tivesse disputando uma Copa do Mundo. Era como uma presa que estava sendo engolida pelo predador, sem fazer nenhum esforço para se soltar. O Peru acabou sendo o principal responsável pela festa argentina pela classificação para a final em casa.

Ninguém do Peru compareceu à entrevista coletiva pós-jogo, nem o técnico e nem o capitão Chumpitaz.

“Llora Brasil! Llora Brasil! Argentina canta, llora Brasil!” Era uma música cantada a plenos pulmões pelas 42 mil pessoas que lotaral o estádio Gigante de Arroyito, em Rosário.

O polêmico resultado eliminou o Brasil e classificou a Argentina. Os albicelestes estavam de volta à decisão da Copa do Mundo 48 anos depois de sua única final, quando perderam para o Uruguai por 4 x 2 em 1930.

A vitória argentina coincidiu com a estreia do musical “Evita” em Londres, mas os únicos que choraram naquele dia foram os brasileiros.

Depois do jogo surgiram várias acusações de que o Peru havia entregado a partida. Em sua maioria, elas vinham de parte da imprensa e da delegação brasileira. Mas todas sem comprovação alguma. O técnico Cláudio Coutinho e Carlos Alberto Cavalheiro (membro da administração da CBD) convocaram uma entrevista para denunciar uma possível armação entre peruanos e argentinos. Coutinho declarou que o Brasil era o verdadeiro “campeão moral”.

A goleada motivou todo tipo de acusação contra Ramón Quiroga. Em uma delas, ele teria recebido US$ 10 mil para entregar o jogo. O goleiro sempre negou o suborno. Em uma entrevista, chegou a afirmar que havia percebido algo de errado, acusando de forma racista que os negros do elenco é que teriam aceitado o suborno. Realmente o goleiro não teve culpa nos gols, face à morosidade dos colegas. Quiroga tinha ido bem durante toda a Copa e chegou a defender um pênalti diante da Escócia.

O jornal inglês Sunday Times fez uma outra denúncia que nunca foi provada: que os argentinos fraudavam os testes antidoping, que a urina para os exames após a partida não eram fornecidas pelos jogadores – que teriam fortes doses de anfetaminas – mas por um homem que teria sido contratado só para ter sua urina colhida.

“Se me perguntam se a Junta Militar fez algo, vou dizer que não sei, mas essa gente estava preparada para absolutamente tudo. Tomara que não tenham feito nada, que o triunfo tenha sido simplesmente esportivo.” ― Osvaldo Ardiles, meia argentino.

Na decisão, a Argentina venceu a Holanda na prorrogação por 3 x 1 e conquistou seu primeiro título mundial.


(Imagem: Lance!)

“Teoria da conspiração”

Dez minutos antes de os jogadores peruanos entrarem em campo, eles receberam uma visita inusitada em pleno vestiário. Alguns deles estavam de cueca e outros nus quando o general argentino Jorge Rafael Videla entrou e fez ressoar sua voz metálica: “Irmãos latino-americanos!”

“Não sabia se terminava de me vestir, o que poderia ser interpretado como uma falta de educação, ou se o cumprimentava seminu”, disse um dos atletas peruanos ao escritor argentino Ricardo Gotta.

Com a companhia do diplomata dos EUA Henry Kissinger, Videla, “que era um especialista em toda demonstração mais ou menos explícita de intimidação”, segundo Gotta, seguiu discursando sobre a intensa “solidariedade” entre peruanos e argentinos.

Os jogadores peruanos entenderam o recado subliminar. Em seu interior, eles sabiam que, se o Peru vencesse, os militares argentinos poderiam assassiná-los depois da partida e colocar a culpa do “atentado” em algum grupo guerrilheiro. E os jogadores peruanos subiram ao campo tremendo.

“Aquele jogo não foi normal… foi esquisito”. “[A presença de Videla no vestiário] foi terrível… eu estava atrás de uma parede e ali fiquei. Não queria que isso interrompesse minha concentração” ― Juan Carlos Oblitas, em depoimento a Carlos del Frave, pesquisador esportivo de Rosário.

“[Videla era] um tipo que nos metia um pouco de medo”, disse anos depois o capitão peruano Héctor Chumpitaz.

Segundo Gotta, “a ditadura precisava chegar à final. E ganhar. Senão, teria sido um fracasso não somente esportivo, mas também político. O regime precisava da imagem de um país vencedor”.

O placar elástico gerou suspeitas por todo o mundo.

Ao retornarem ao seu país, os jogadores peruanos foram vaiados pela população. Ao descer do avião, em Lima, uma multidão atirou moedas aos jogadores.

Seguindo as considerações de Gotta, ele duvida que o goleiro Ramón Quiroga tenha sido o responsável pela derrota. “Ele defendeu muitíssimos ataques argentinos. Em torno de 13 a 15 jogadas que poderiam ter sido gol e não foram graças à sua habilidade. Mas a presença dos argentinos perto do arco era constante. Por isso, poderia suspeitar-se mais da atitude dos defensores peruanos [Jaime Duarte, Rodulfo Manzo, Roberto Rojas e Héctor Chumpitaz], que cometeram muitos erros.”

Apesar de tudo, Ramón Quiroga manteve uma boa imagem entre os peruanos, seguiu na seleção até 1985 e foi treinador de vários times do país nos anos seguintes. Em 2006, negou que ele ou seus pais (que sempre moraram em Rosário, a poucos quarteirões do estádio) haviam sido ameaçados pela ditadura.

Os outros jogadores peruanos suspeitos nunca exibiram sinais de riqueza nos anos seguintes. Um deles, Rodulfo Manzo, emigrou para a Itália onde se tornou caminhoneiro.

Em 2008, Mario “El Matador” Kempes, melhor jogador da Copa de 1978, afirmou que o jogo contra o Peru não teve menhum fator estranho ou anormal.

“Todos os jogos foram complicados. O primeiro, com a Hungria, foi suado, talvez por nossa falta de experiência. Outra grande seleção que enfrentamos, que custou muito esforço foi a França, com Platini na cabeça. A Itália, que nos venceu em Rosário. Os italianos são espetaculares, com seu poder ofensivo. E a seleção brasileira, que, seja lá quais forem seus jogadores, sempre impressionam positivamente. Mesmo na Copa dos Estados Unidos, em 1994, a seleção brasileira, que era ruim, foi campeã. Os brasileiros sempre, de algum modo, vão para a frente! E, no caso da Argentina com o Peru, foi um jogo normal. A seleção argentina havia ido ao Peru três meses antes da Copa e emplacado, se a memória não me falha, uns 3 gols a 0. Por isso, em 1978, a Argentina, precisando de quatro gols, foi ao ataque. A partir do primeiro gol tudo se normalizou. No segundo, começamos a acreditar que dava pra chegar à final. Para nós, tudo era esporte. Se houve algo por fora do futebol, eu não sei. Digo isso com a mão no coração: nós, no campo fomos superiores ao Peru. Não dá pra acusar nem o Oblitas, nem qualquer outro jogador peruano de qualquer coisa estranha. E muito menos o Quiroga, cujo arco metralhamos constantemente… Nunca será possível separar isso [a vitória polêmica sobre o Peru] de toda a Copa de 1978. Será uma mancha negra que teremos sobre as costas toda a vida. Nós fomos jogar futebol. Naquela época, somente as famílias dos desaparecidos, que sofreram horrores, é que sabiam o que estava ocorrendo. A imensa maioria dos argentinos não sabia de nada. Quando fomos jogar na Copa, fomos pelo futebol. Não fomos jogar para o Videla e sua cambada que estava no poder. Dentro de tudo isso, espero ter possibilitado minutos de felicidade – quem sabe – para essas pessoas que estavam sofrendo. Na época, não imaginávamos que posteriormente envolveriam os jogadores nessa questão política.” ― Mario Kempes.

“Investiguei todos os rumores sobre o jogo Peru x Argentina. A verdade é que ninguém tem provas. Mas, de toda forma, será o jogo ‘mais longo’ de toda a história mundial… pois parece que ainda não se concluiu. Nunca antes houve um embate em um estádio que seja tão comentado como esse, três décadas depois de ocorrido. E, além disso, os rumores crescem com o tempo. Acho que foi um jogo que a seleção argentina venceu justamente.” ― Pablo Llonto, jornalista argentino.


(Imagem: Lance!)

Teorias

São várias as teorias sobre o resultado da partida. Essas são as mais comuns:

― Videla teria subornado o governo peruano, comandado pelo general Francisco Morales Bermúdez, com um substancial carregamento de trigo argentino (14 mil toneladas, equivalente a US$ 100 milhões na época).

― A ditadura teria pago US$ 50 mil a todos os jogadores peruanos.

― A ditadura teria pago US$ 50 mil somente a alguns jogadores peruanos.

― A ditadura teria pago US$ 250 mil a integrantes da comissão técnica peruana.

― A ditadura teria utilizado um narcotraficante colombiano, Fernando Rodríguez Mondragón, do cartel de Cali, como intermediário para realizar um milionário suborno à Federação Peruana de Futebol. Essa história foi contada trinta anos depois no livro “El hijo del Ajedrecista 2”. De acordo com o livro, apenas quatro jogadores (de nomes não revelados), além do técnico Marcos Calderón, sabiam do esquema. O goleiro Quiroga (um dos principais suspeitos) aponta que teriam sido Rodulfo Manzo, Roberto Rojas e Raúl Gorriti – que entrou em campo quando o placar já apontava 4 a 0. Essa afirmação nunca foi provada.

― Tudo pode acontecer no futebol e o placar avantajado ocorreu por causas puramente esportivas, principalmente pela tarde inspirada de Mario Kempes. O Brasil também poderia ter vencido o Peru por um placar mais elástico ou até ter derrotado a Argentina, mas não o fez.


(Imagem: UOL)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 6 x 0 PERU

 

Data: 21/06/1978

Horário: 19h15 locais

Estádio: Gigante de Arroyito

Público: 37.315

Cidade: Rosário (Argentina)

Árbitro: Robert Wurtz (França)

 

ARGENTINA (4-3-3):

PERU (4-3-3):

5  Ubaldo Fillol (G)

21 Ramón Quiroga (G)

15 Jorge Olguín

2  Jaime Duarte

7  Luis Galván

3  Rodulfo Manzo

19 Daniel Passarella (C)

4  Héctor Chumpitaz (C)

20 Alberto Tarantini

22 Roberto Rojas

6  Américo Gallego

6  José Velásquez

12 Omar Larrosa

8  César Cueto

10 Mario Kempes

17 Alfredo Quesada

4  Daniel Bertoni

7  Juan José Muñante

14 Leopoldo Luque

10 Teófilo Cubillas

16 Oscar Alberto Ortiz

11 Juan Carlos Oblitas

 

Técnico: César Luis Menotti

Técnico: Marcos Calderón

 

SUPLENTES:

 

 

3  Héctor Baley (G)

1  Ottorino Sartor (G)

13 Ricardo La Volpe (G)

13 Juan Cáceres (G)

18 Rubén Pagnanini

5  Rubén Toribio Díaz

11 Daniel Killer

14 José Navarro

8  Rubén Galván

15 Germán Leguía

2  Osvaldo Ardiles

9  Percy Rojas

17 Miguel Oviedo

12 Roberto Mosquera

21 José Daniel Valencia

16 Raúl Gorriti

1  Norberto Alonso

18 Ernesto Labarthe

22 Ricardo Villa

19 Guillermo La Rosa

9  René Houseman

20 Hugo Sotil

 

GOLS:

21′ Mario Kempes (ARG)

43′ Alberto Tarantini (ARG)

49′ Mario Kempes (ARG)

50′ Leopoldo Luque (ARG)

67′ René Houseman (ARG)

72′ Leopoldo Luque (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

36′ Alfredo Quesada (PER)

48′ José Velásquez (PER)

 

SUBSTITUIÇÕES:

51′ José Velásquez (PER) ↓

Raúl Gorriti (PER) ↑

 

64′ Daniel Bertoni (ARG) ↓

René Houseman (ARG) ↑

 

85′ Américo Gallego (ARG) ↓

Miguel Oviedo (ARG) ↑

Gols da partida (em inglês):

Gols do jogo e entrevista do general Videla à Rede Globo: