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… 13/06/1962 – Tchecoslováquia 3 x 1 Iugoslávia

Três pontos sobre…
… 13/06/1962 – Tchecoslováquia 3 x 1 Iugoslávia


Kadraba prepara o chute, em lance que antecedeu o primeiro gol da Tchecoslováquia (Imagem: Reprodução / FIFA)

● Muitas partidas tiveram poucos expectadores no Chile. Mas não foi pela falta de entusiasmo, mas de dinheiro, o que acabou afastando o público dos estádios. Não era possível adquirir o ingresso de um jogo só. A venda era feita em pacotes que eram muito caros. A solução encontrada pelo público local foi assistir de graça pelas TVs nas ruas.

Por isso, apenas 5.890 pessoas compareceram ao estádio Sousalito, em Viña del Mar, para assistir à semifinal entre Tchecoslováquia e Iugoslávia – curiosamente, dois países que não existem mais desde o início da década de 1990. Foi o menor público da Copa. No mesmo horário, a TV chilena transmitia ao vivo a outra semifinal, entre Brasil x Chile – que jogavam para 80 mil pessoas em Santiago. As duas semifinais foram jogadas simultaneamente.

A Iugoslávia chegava como favorita pelos bons resultados nas últimas competições oficiais. Havia conquistado a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 1960, em Roma, além de ter sido vice-campeã da primeira Copa das Nações Europeias (atual Eurocopa), também em 1960, quando perdeu a final para a União Soviética apenas no segundo tempo da prorrogação. Os maiores destaques eram o ponta de lança e capitão Milan Galić, do Partizan, o forte centroavante Dražan Jerković, do Dinamo Zagreb e o ponta esquerda Josip Skoblar, do OFK Belgrado (que viria a ser um dos maiores nomes da história do Olympique de Marseille).

A Iugoslávia passou em segundo lugar do Grupo 1. Na estreia, perdeu para a URSS por 2 x 0. Depois, venceu o Uruguai por 3 x 1 e goleou a Colômbia por 5 x 0. Nas quartas de final, encontrou a Alemanha Ocidental pela terceira vez consecutiva. Nas duas primeiras vezes a Alemanha venceu: 2 x 0 em 1954 e 1 x 0 em 1958 – ambas com o gol decisivo sendo anotado por Helmut Rahn. Mas dessa vez Rahn não estava e Petar Radaković marcou um belo gol a cinco minutos do fim, o único gol da partida que levou os iugoslavos para a segunda semifinal de sua história em Copas o Mundo, a primeira desde 1930.

A Tchecoslováquia também se classificou na segunda posição de sua chave, o forte Grupo 3, com uma vitória (1 x 0 sobre a poderosa Espanha), um empate (0 x 0 com o Brasil, com Pelé se lesionando durante o jogo) e uma derrota (3 x 1 para o México, na primeira vitória dos astecas em Copas). Nas quartas de final, vitória sobre o bom time da Hungria por 1 x 0.

Curiosamente, as quartas de final da Copa de 1962 foram tão equilibradas que, dos quatro vencedores dos grupos da primeira fase, só o Brasil passou para as semifinais. Além da derrota da Alemanha Ocidental para a Iugoslávia e da Hungria para a Tchecoslováquia, a União Soviética também perdeu para o Chile por 2 a 1.


A Tchecoslováquia jogava no esquema 4-2-4


A Iugoslávia foi escalada no sistema tático W-M

● O jogo começou acelerado e duro, com muitas faltas e jogadas com uma virilidade desnecessária. Percebendo que a partida descambava para a violência, o árbitro suíço Gottfried Dienst paralisou a partida aos dez minutos de jogo, chamou todos os 22 jogadores e deu uma advertência formal e generalizada: a próxima falta mais pesada resultaria em expulsão. Essa conversa fez bem e os dois times começaram a se preocupar mais com o futebol.

Mas o primeiro tempo foi fraco tecnicamente, não sendo criada nenhuma chance clara ou remota de gol. E o placar permaneceu zerado até o intervalo. O segundo tempo seria melhor.

Logo no terceiro minuto, Milan Galić perdeu a bola na meia direita. Andrej Kvašňák deu um passe vertical para Tomáš Pospíchal. Ele entrou em velocidade pelo meio e deixou com Adolf Scherer, que se livrou da marcação e, de perna esquerda, abriu na ponta direita. Na linha de fundo, Jan Lála deu um chapéu em um adversário e cortou para dentro. Josef Kadraba chegou chutando cruzado, o goleiro Milutin Šoškić espalmou para frente e o próprio Kadraba mergulhou para emendar de cabeça para o gol. Tchecoslováquia, 1 a 0.

Depois desse gol, os tchecos passaram a jogar de forma mais defensiva. E os iugoslavos pressionaram sem cessar nos vinte minutos seguintes. Seguro, o goleiro tcheco Viliam Schrojf estava tendo uma exibição irretocável até aquele momento.

Da linha central, Vladica Popović fez um lançamento longo para a área tcheca. Milan Galić escorou de cabeça e Josip Skoblar chutou de primeira. Viliam Schrojf espalmou para o lado e a defesa afastou o perigo.


Jerković sobre mais que o goleiro Schrojf para empatar o jogo (Imagem: Reprodução / FIFA)

Pouco depois, aos 24 minutos, novo lançamento longo, dessa vez de Petar Radaković. Schrojf saiu mal do gol. Jerković ganhou da marcação, se antecipou ao goleiro e só deu uma “casquinha” na bola para desviar do goleiro e empatar o jogo. De bicicleta, Ján Popluhár tentou evitar o gol, mas só conseguiu rasgar a rede – que foi remendada às pressas. Com cinco gols marcados, Dražan Jerković terminaria a Copa como artilheiro.

A correria em busca do empate custou caro, os iugoslavos estavam esgotados fisicamente e não tiveram forças para evitar dois contra-ataques fatais.

A dez minutos do fim, o capitão tcheco Ladislav Novák retomou a bola em seu campo de defesa e fez um lançamento longo. Masopust avançou, atraiu a marcação e tocou na medida para Scherer aparecer livre, dominar e bater por baixo do goleiro Šoškić. 2 a 1.

Logo depois do gol, um cachorro entrou no gramado pelo meio de campo e correu até a linha de fundo, saindo por lá mesmo. Outra cena bastante comum nos gramados do Chile durante o Mundial.

Tentando prender a bola no campo de ataque, os tchecos acabaram conseguindo o terceiro gol.

A seis minutos do apito final, Pospíchal tabelou com Scherer e invadiu a área pela direita. Vlatko Marković pulou, perdeu o tempo de bola e tocou com a mão dentro da área. Pênalti, que Scherer bateu com segurança, no canto esquerdo do goleiro, que nem se mexeu.


Scherer toca por baixo do goleiro Šoškić para fazer o segundo gol tcheco (Imagem: Reprodução / FIFA)

● Na decisão do 3º lugar, a Iugoslávia foi derrotada pelo anfitrião Chile com um gol no último minuto da partida, marcado por Eladio Rojas.

Na final da Copa, a Tchecoslováquia chegou a sair na frente com um gol de Josef Masopust, mas a Seleção Brasileira virou o jogo, com gols de Amarildo, Zito e Vavá, para conquistar o bicampeonato mundial. Assim, a Tchecoslováquia se tornava vice-campeã pela segunda vez em uma Copa do Mundo (1934 e 1962).


Scherer se prepara para bater o pênalti, que seria o terceiro gol tcheco (Imagem: Reprodução / FIFA)

FICHA TÉCNICA:

 

TCHECOSLOVÁQUIA 3 x 1 IUGOSLÁVIA

 

Data: 13/06/1962

Horário: 14h30 locais

Estádio: Sousalito

Público: 5.890

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça)

 

TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):

IUGOSLÁVIA (W-M):

1  Viliam Schrojf (G)

1  Milutin Šoškić (G)

2  Jan Lála

2  Vladimir Durković

5  Svatopluk Pluskal

5  Vlatko Marković

3  Ján Popluhár

3  Fahrudin Jusufi

4  Ladislav Novák (C)

4  Petar Radaković

19 Andrej Kvašňák

6  Vladica Popović

6  Josef Masopust

14 Vasilije Šijaković

17 Tomáš Pospíchal

8  Dragoslav Šekularac

8  Adolf Scherer

9  Dražan Jerković

18 Josef Kadraba

10 Milan Galić (C)

11 Josef Jelínek

11 Josip Skoblar

 

Técnico: Rudolf Vytlačil

Técnicos: Ljubomir Lovrić / Prvoslav Mihajlović

 

SUPLENTES:

 

 

22 Pavel Kouba (G)

12 Srboljub Krivokuća (G)

21 Jozef Bomba

19 Mirko Stojanović (G)

12 Jiří Tichý

13 Slavko Svinjarević

13 František Schmucker

15 Željko Matuš

15 Vladimír Kos

20 Žarko Nikolić

16 Titus Buberník

17 Vojislav Melić

7  Jozef Štibrányi

7  Andrija Anković

9  Pavol Molnár

21 Nikola Stipić

20 Jaroslav Borovička

16 Muhamed Mujić

10 Jozef Adamec

18 Vladica Kovačević

14 Václav Mašek

22 Aleksandar Ivoš

 

GOLS:

48′ Josef Kadraba (TCH)

69′ Dražan Jerković (IUG)

80′ Adolf Scherer (TCH)

84′ Adolf Scherer (TCH) (pen)

Melhores momentos da partida:


Membro da comissão organizadora conserta a rede após o lance do gol iugoslavo (Imagem: Reprodução / FIFA)

… 03/06/1934 – Tchecoslováquia 3 x 1 Alemanha

Três pontos sobre…
… 03/06/1934 – Tchecoslováquia 3 x 1 Alemanha


(Imagem: Impromptuinc)

● Foi a primeira partida na história entre Alemanha e Tchecoslováquia.

Nas eliminatórias, a Tchecoslováquia eliminou a Polônia – contra quem tinha uma disputa territorial. Os tchecos venceram em Varsóvia por 2 x 1 e os poloneses abriram mão de jogar a partida de volta, dando a qualificação ao rival.

Na Copa, os tchecoslovacos venceram a Romênia nas oitavas de final (2 x 1) e a Suíça nas quartas (3 x 2).

Por sua vez, os alemães venceram a Bélgica por 5 a 2 nas oitavas e bateram a Suécia por 2 x 1 nas quartas.


(Imagem: Impromptuinc)

● Essa era uma partida considerada “inferior” pela imprensa europeia. “Itália vs. Áustria” era uma “final antecipada”. Nem Tchecoslováquia, nem Alemanha (que pouco apresentaram nos primeiros jogos) seriam páreo para nenhum dos outros dois adversários.

Enquanto o San Siro lotou na primeira semifinal, onde os favoritos se digladiavam por uma vaga na decisão, apenas 15 mil pessoas compareceram ao Stadio Nazionale PNF para assistir ao duelo entre tchecoslovacos e alemães – em partida que a imprensa chamou de “atalho para a grande decisão”.

O público não apreciava o jeito alemão de jogar. Tanto que, mesmo com pouca gente, essa foi a partida da Alemanha com maior público nessa Copa.

No quesito organização, a Tchecoslováquia estava à frente de seu tempo. Foi a primeira seleção a ter oficialmente um segundo uniforme, sem precisar de nenhuma improvisação. Até então, quando dois adversários tinham camisas de mesma cor, o costume era pedir camisas emprestadas de outras seleções ou de times locais que tivessem cores diferentes do adversário. Em uma emergência, também compravam camisas novas em cima da hora. Mas os tchecos inovaram. A camisa principal era toda vermelha e a reserva era toda branca – ambas contando com o brasão de armas do país. A camisa branca foi usada nos dois primeiros jogos, mas, contra os alemães, foi utilizado o fardamento vermelho.


Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5 – a exceção foi mesmo a Alemanha.


Otto Nerz era um adepto do sistema W-M, recém criado na Europa. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá ênfase ao trabalho do meio de campo.

● Foi um choque de estilos de jogo. Com um time formado por jogadores de apenas duas equipes – Sparta Praga e Slavia Praga – a Tchecoslováquia tinha melhor entrosamento e uma técnica mais apurada, enquanto os alemães apostaram na obediência tática e na força física.

Taticamente, a Alemanha era a seleção mais avançada da competição. Era a única que jogava no sistema W-M. Todas as outras ainda atuavam no sistema “clássico”, com dois zagueiros de área, três médios e cinco atacantes. No W-M, o centromédio era recuado para uma linha de três zagueiros e dois atacantes jogavam um pouco mais recuados para armar as jogadas como meias. Com isso, formava-se um quadrado no meio de campo, com os dois médios restantes e os dois meias – numa espécie de 3-2-2-3, que, visto de cima, pareciam as letras W e M. Essa inovação tática se tornaria padrão no Mundial seguinte, em 1938, mas a Alemanha já era vanguardeira em 1934.

Mas a ousadia tática dos alemães foi deveras prejudicada por dois sensíveis desfalques. O meia-atacante Karl Hohmann estava lesionado. Mas a ausência do médio Rudolf Gramlich foi mais inusitada.

Após a vitória de sua seleção sobre a Suécia nas quartas de final, Gramlich recebeu a notícia de que a fábrica de sapatos na qual trabalhava como curtidor, em Frankfurt, tinha sido confiscada pelas autoridades nazistas. Como o futebol alemão era amador e a fábrica era seu único emprego remunerado, ele abandonou a Copa para tentar ajudar seus patrões judeus a salvar a empresa. Nem sua boa reputação representando seu país no Mundial foi suficiente e ele não conseguiu impedir a prisão e posterior morte de seus patrões. Algum tempo depois, Gramlich se tornou militar do exército nazista.

A ausência de ambos desmontou o sistema de jogo alemão, o W-M ficou sem dois de seus mais importantes artífices e o time ficou um pouco perdido em campo.

Assim, prevaleceu o jogo mais técnico e metódico dos tchecos. Eles se sobressaíram no meio de campo, conseguiram controlar o jogo com seu estilo mais refinado: com toques curtos, de pé em pé, evoluindo lentamente, mas com muita eficiência.


(Imagem: Impromptuinc)

A Tchecoslováquia justificou a superioridade e mereceu abrir o placar ainda na etapa inicial. Nejedlý fez o primeiro gol aos 19′.

No segundo tempo, a Alemanha reagiu e buscou o empate aos 17′, quando František Plánička não conseguiu segurar um chute fraco de Rudolf Noack.

Com o empate, muitos pensaram que os alemães tinham o aspecto psicológico a seu favor. Mas foi justamente o contrário. O gol germânico acordou a equipe eslava, que soube aproveitar seu potencial ofensivo para marcar mais duas vezes.

A Alemanha não conseguiu resistir ao forte adversário e o goleiro Willibald Kreß falhou em dois gols, soltando bolas fáceis nos pés do artilheiro tcheco. Oldřich Nejedlý estava impossível e completou seu “hat trick”, marcando aos 26′ e aos 35′.


O goleiro Kreß teve uma jornada infeliz (Imagem: Impromptuinc)

● Essa acabou por ser a primeira derrota dos alemães na história das Copas. Quatro dias depois, a Alemanha conquistou o 3º lugar ao bater a arquirrival e vizinha Áustria por 3 x 2.

Apesar de não constar em nenhuma das relações dos prováveis candidatos ao título, a Tchecoslováquia chegou na decisão da Copa do Mundo pela primeira vez em sua história.

Na final, a Tchecoslováquia perdeu para a anfitriã Itália por 2 a 1 e ficou com o vice-campeonato. Um resultado muito digno e merecido para os tchecos.

FICHA TÉCNICA:

 

TCHECOSLOVÁQUIA 3 X 1 ALEMANHA

 

Data: 03/06/1934

Horário: 16h30 locais

Estádio: Stadio Nazionale PNF

Público: 15.000

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: Rinaldo Barlassina (Itália)

 

TCHECOSLOVÁQUIA (2-3-5):

ALEMANHA (W-M):

František Plánička (G)(C)

Willibald Kreß (G)

Jaroslav Burgr

Willy Busch

Josef Čtyřoký

Sigmund Haringer

Josef Košťálek

Paul Zielinski

Štefan Čambal

Fritz Szepan (C)

Rudolf Krčil

Jakob Bender

František Junek

Ernst Lehner

František Svoboda

Otto Siffling

Jiří Sobotka

Edmund Conen

Oldřich Nejedlý

Rudolf Noack

Antonín Puč

Stanislaus Kobierski

 

Técnico: Karel Petrů

Técnico: Otto Nerz

 

SUPLENTES:

 

 

Ehrenfried Patzel (G)

Hans Jakob (G)

Ladislav Ženíšek

Fritz Buchloh (G)

Ferdinand Daučík

Hans Schwartz

Jaroslav Bouček

Reinhold Münzenberg

Vlastimil Kopecký

Ernst Albrecht

Adolf Šimperský

Rudolf Gramlich

Erich Srbek

Josef Streb

František Šterc

Paul Janes

Antonín Vodička

Franz Dienert

Géza Kalocsay

Matthias Heidemann

Josef Silný

Karl Hohmann

 

GOLS:

21′ Oldřich Nejedlý (TCH)

62′ Rudolf Noack (ALE)

69′ Oldřich Nejedlý (TCH)

80′ Oldřich Nejedlý (TCH)

Imagens da partida:

… 31/05/1962 – Tchecoslováquia 1 x 0 Espanha

Três pontos sobre…
… 31/05/1962 – Tchecoslováquia 1 x 0 Espanha


(Imagem: Getty Images)

● Cerca de 12.700 pessoas compareceram ao estádio Sousalito, em Viña del Mar. A expectativa era ver uma equipe praticamente desconhecida de um país comunista ser massacrada pelos vários astros do ataque espanhol.

A Tchecoslováquia chegava ao Mundial sem empolgar, apesar do 3º lugar no Campeonato Europeu de Seleções de 1960. A torcida estava desanimada, principalmente quando o sorteio colocou os tchecos num grupo com Espanha, Brasil e México. Mas os jogadores discordavam de sua torcida e estavam confiantes. Em 1959, o Dukla Praga (time base do selecionado tcheco, com cinco titulares) venceu o Santos por 4 x 3 em um torneio amistoso disputado no México.

O goleiro Viliam Schrojf dava segurança à meta, o capitão Ladislav Novák comandava a defesa, Josef Masopust era o maestro no meio e Adolf Scherer era o principal atacante.


O goleiro tcheco Schrojf vai ao chão cercado pelos companheiros de equipe Kvašňák, Novák e Popluhár e pelo espanhol Eulogio Martínez. (Imagem: Planet World Cup)

● A Espanha já havia decepcionado ao cair nas eliminatórias para a Copa de 1958, quando foi superada pela Escócia. Apesar dos maus resultados anteriores, a Fúria contava com um elenco de astros e a mídia europeia insistia em apontá-la como uma das favoritas ao título, justamente pelo talento individual de seus jogadores. Era esperado que o rígido técnico argentino Helenio Herrera fizesse o time jogar com mais sentido coletivo.

Real Madrid (pentacampeão da Copa dos Campeões Europeus) e Barcelona (ex-clube de Helenio Herrera) polarizavam a convocação da seleção espanhola, com sete jogadores cada. Da capital vinham o goleiro Araquistáin, o zagueiro uruguaio Santamaría, o defensor Pachín, o polivalente Del Sol, o genial húngaro Ferenc Puskás, o craque argentino Alfredo Di Stéfano e o “Mr. Títulos” Paco Gento.

Da Catalunha chegaram o arqueiro Sadurní, os defensores Rodri e Gràcia, os meio-campistas Joan Segarra, Martí Vergés e Jesús Garay, além do ponta paraguio Eulogio Martínez.

Completavam o elenco quatro ótimos jogadores do Atlético de Madrid (Rivilla, Collar, Joaquín Peiró e Adelardo), dois do Athletic Bilbao (Carmelo e Echeberría) e um do Zaragoza (o bom lateral esquerdo Severino Reija). Da Inter de Milão veio o cerebral meia Luis Suárez Miramontes, além do treinador Helenio Herrera (entre 1960 e 1962, o argentino treinou a Internazionale e a seleção espanhola ao mesmo tempo).

Assim, não tinha como não colocar a Espanha como uma das grandes favoritas. Mas seu principal jogador chegava ao Mundial fora de combate. Eleito o “Bola de Ouro” da revista France Football em 1957 e 1959, o gênio madridista Alfredo Di Stéfano só teria condições de jogo nas quartas de final, se a Fúria passasse de fase.


A Tchecoslováquia jogava no esquema da moda de então, o 4-2-4, com destaque para o craque Josef Masopust


A Espanha jogava em um misto de W-M e 4-2-4

● A Espanha acabou sendo tão confusa em campo quanto a numeração de suas camisas. A Fúria tinha um domínio territorial estéril, sem concluir as jogadas. Os tchecos se defendiam bem e contra-atacavam com entusiasmo.

Josef Masopust liderava o meio-campo tcheco. Em uma jogada criada por ele, Adamec fez o pivô e Jelínek bateu rasteiro de fora da área. A bola foi fraca e o goleiro espanhol Carmelo fez a defesa.

Mas o primeiro tempo terminou sem gols. A maioria dos ataques morreram sem conclusão antes de chegar à área rival.

A melhor chance dos ibéricos foi com uma bola lançada para a área tcheca, que a defesa cortou e Jesús Garay pegou o rebote para chutar de longe, por cima do gol.

A Tchecoslováquia conseguia se segurar firme na defesa, mas não ousava no ataque.

O gol decisivo só poderia sair em uma falha. E foi o que aconteceu.

A dez minutos do apito final, Reija e Santamaría se atrapalharam com a bola e Adolf Scherer fez um lançamento nas costas da defesa. Sozinho, Jozef Štibrányi arrancou em velocidade pelo meio, entrou na área e deu um toquinho por cobertura, na saída do goleiro Carmelo. A bola acabou entrando no cantinho direito.

Em uma Copa que os fotógrafos invadiam o campo para registrar tudo de perto, a maioria deles estavam atrás do gol tcheco. Poucos registraram o gol de Štibrányi.

A Espanha apresentou um futebol melhor e mais vistoso. Mas só vence a partida quem marca gols. E quem fez isso – uma mísera vez – foi a Tchecoslováquia.


(Imagem: Pinterest)

● O Grupo C acabou sendo o mais equilibrado da primeira fase da Copa do Mundo de 1962. E a Fúria fracassou mais uma vez.

No jogo seguinte, a Espanha venceu o México por 1 x 0, com um gol no último minuto de Joaquín Peiró. Na terceira rodada, um duelo entre Espanha e Brasil classificaria o vencedor e eliminaria o derrotado. Bastante prejudicada pela arbitragem, a Espanha acabou perdendo por 2 x 1 e voltando para casa de forma precoce.

Na segunda partida, a Tchecoslováquia segurou o ataque brasileiro (com Pelé lesionado durante o jogo) e empatou sem gols. Já classificada, perdeu para o México por 3 x 1, na primeira vitória dos astecas em Copas do Mundo. Nas quartas de final, vitória sobre o bom time da Hungria por 1 x 0. Na semi, venceu a forte Iugoslávia por 3 x 1. Na decisão, dessa vez não contou com a sorte e foi derrotada pelo Brasil por 3 x 1, gols de Amarildo, Zito e Vavá, com Masopust descontando para os tchecos.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

TCHECOSLOVÁQUIA 1 x 0 ESPANHA

 

Data: 31/05/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Sousalito

Público: 12.700

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Carl Erich Steiner (Áustria)

 

TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):

ESPANHA (W-M):

1  Viliam Schrojf (G)

3  Carmelo (G)

2  Jan Lála

11 Feliciano Rivilla

5  Svatopluk Pluskal

19 José Emilio Santamaría

3  Ján Popluhár

16 Severino Reija

4  Ladislav Novák (C)

20 Joan Segarra (C)

19 Andrej Kvašňák

8  Jesús Garay

6  Josef Masopust

5  Luis del Sol

7  Jozef Štibrányi

15 Eulogio Martínez

8  Adolf Scherer

14 Ferenc Puskás

10 Jozef Adamec

21 Luis Suárez

11 Josef Jelínek

9  Francisco Gento

 

Técnico: Rudolf Vytlačil

Técnico: Helenio Herrera

 

SUPLENTES:

 

 

22 Pavel Kouba (G)

1  José Araquistáin (G)

21 Jozef Bomba

2  Salvador Sadurní (G)

12 Jiří Tichý

17 Rodri

13 František Schmucker

7  Luis María Echeberría

15 Vladimír Koiš

10 Sígfrid Gràcia

16 Titus Buberník

22 Martí Vergés

17 Tomáš Pospíchal

13 Pachín

18 Josef Kadraba

4  Enrique Collar

9  Pavol Molnár

12 Joaquín Peiró

20 Jaroslav Borovička

18 Adelardo

14 Václav Mašek

6  Alfredo Di Stéfano

 

GOL: 80′ Jozef Štibrányi (TCH)

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 07/06/1962 – México 3 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 07/06/1962 – México 3 x 1 Tchecoslováquia


(Imagem: @tabaspas no Twitter / The18.com)

● A maior surpresa do Mundial de 1962 foi a vitória do México sobre a Tchecoslováquia. Até então, os latino-americanos nunca haviam ganhado uma partida de Copa do Mundo, enquanto os europeus tinham um bom time e já tinham história por terem sido vice-campeões em 1934.

A Tchecoslováquia venceu o Grupo 8 das eliminatórias da UEFA, ao bater a Escócia na prorrogação do jogo desempate, em um grupo que tinha também a Irlanda.

O México precisou passar por mais fases no qualificatório para ficar com a única vaga da CONCACAF na fase final do torneio. Na primeira, passou pelos Estados Unidos. Na segunda, venceu um triangular final com apenas um ponto a mais que a Costa Rica e dois a mais que as Antilhas Holandesas. Enfrentou o Paraguai na repescagem intercontinental e empatou sem gols em Assunção após vencer por 1 x 0 na Cidade do México. Enfim, La Tri estava na Copa.

Na primeira rodada, os astecas perderam para o Brasil por 2 x 0. No segundo jogo, vendeu muito caro a derrota para a Espanha (1 x 0), que só conseguiu marcar no último minuto.

A Tchecoslováquia vinha de uma vitória sobre a Espanha por 1 x 0 e de um empate sem gols com o Brasil – partida na qual o Rei Pelé se lesionou e se despediu do Mundial.

Com a derrota da Espanha para o Brasil no dia anterior, a partida entre México e Tchecoslováquia havia perdido importância, já que os tchecos estavam classificados com três pontos e os mexicanos eliminados, sem somar pontos até então. Apesar disso, foi uma partida histórica. Até então, o México nunca havia vencido uma partida em Copas do Mundo desde sua primeira edição, em 1930. Nos treze jogos anteriores, o retrospecto era um empate (1 x 1 com o País de Gales, em 1958) e doze derrotas. E o jejum foi quebrado 32 anos depois, na 14ª partida.


Ambas equipes atuavam no esquema tático 4-2-4.

● Com sua camisa vermelho bordô, os mexicanos deram a saída. Os tchecoslovacos, de uniforme branco, roubaram a bola no meio de campo e trocaram passes até que Josef Masopust lançou o ponta esquerda Václav Mašek nas costas da defesa. Ele correu mais que Del Muro, invadiu a área e tocou cruzado, no canto esquerdo do goleiro. Eram jogados apenas 15 segundos de partida.

Este foi o gol mais rápido da história das Copas até 2002, quando o Hakan Şükür marcou para a Turquia aos 11 segundos, na partida que decidiu o 3º lugar contra a Coreia do Sul.

Parecia que seria mais um jogo daqueles para os mexicanos – igual a tantos outros –, em que a derrota era certa.

Os europeus continuaram no ataque. Adolf Scherer abriu com Jozef Štibrányi na ponta direita e ele chutou rasteiro para uma importante defesa de Carbajal.

Com muita vontade e garra, o México passou a neutralizar os ataques adversários, colocou a bola no chão e passou a jogar.

O empate veio aos 13 minutos. De cabeça erguida, Alfredo Hernández arrancou pelo meio e passou para Héctor Hernández próximo à meia-lua. Ele se livrou da marcação e tocou para Salvador Reyes, que deixou o zagueiro no chão tocou para Héctor Hernández. O camisa 9 tabelou com Alfredo del Águila na ponta direita e, ao receber de volta, chutou cruzado. Isidoro Díaz apareceu sozinho dentro da pequena área para escorar para o gol vazio.

Mesmo com mais toque de bola e tentando avançar, os europeus não conseguiam impor sua pressão, insistindo nas mesmas jogadas manjadas pelas pontas.

Aos 29′, a Tchecoslováquia errou a saída de bola. Del Águila roubou de Svatopluk Pluskal, tabelou com Alfredo Hernández, entrou na área e chutou de esquerda no canto esquerdo do goleiro Viliam Schrojf.

No segundo tempo, os astecas recuaram para segurar o resultado e os tchecos acordaram. E Carbajal foi se tornando o melhor homem em campo.

A melhor chance dos europeus foi em um chute do perigoso atacante Scherer, que o veterano goleiro defendeu em dois tempos.

Mesmo com dois jogadores mexicanos machucados (não havia substituições na época), os tchecos não conseguiram romper a defesa latina.

Mas o contragolpe mexicano estava fatal naquele dia. Na última volta do ponteiro, o lateral direito Jan Lála colocou a mão na bola dentro da área. Hector Hernández bateu no canto direito, deslocando Schroijff e fechando o placar.


(Imagem: Pinterest)

● O triunfo foi o maior presente de aniversário possível para o goleiro Antonio Carbajal, que completava 33 anos exatamente naquele dia. Carbajal é um dos mais longevos e importantes goleiros da história do futebol mexicano e mundial. Foi eleito pela IFFHS o 15º melhor de sua posição no século XX. Com apenas 19 anos, foi o maior destaque de sua seleção nos Jogos Olímpicos de 1948 e esteve no elenco que disputou a Copa do Mundo de 1966. Foi o primeiro jogador a disputar cinco Mundiais (1950, 1954, 1958, 1962 e 1966). Assim, conseguiu a “proeza” de sofrer gols de jogadores de gerações tão diferentes, como Ademir de Menezes e Pelé. Apesar de ter a “honra” de ser um dos goleiros que mais levaram gols em Mundiais (25 em 11 jogos), certamente a seleção mexicana teria sofrido muito mais se ele não tivesse sido o dono da camisa 1 por tantos anos. Era dotado de bom posicionamento, reflexo apurado e boa saída do gol, além da coragem e liderança que sempre o caracterizou – não a toa foi capitão em três Copas.

Viva México! A Cidade do México viu uma festa que se faz aos campeões, com os festejos indo até a madrugada. Provavelmente foi a maior comemoração que já se viu para um time eliminado na primeira fase da Copa.

Com essa vitória, pela primeira vez os mexicanos não foram lanternas de seu grupo. Graças ao critério do goal average (divisão do número de gols pró pelo número de gols contra), ficaram à frente da poderosa Espanha de Ferenc Puskás e Paco Gento no Grupo III. México e Espanha terminaram com dois pontos ganhos e o mesmo saldo de gols (1 negativo). La Tri marcou 3 e sofreu 4 (goal average de 0,75) e a Fúria fez dois gols e levou 3 (goal average de 0,66).

Para os fãs das teorias conspiratórias, a derrota da Tchecoslováquia foi… digamos… conveniente. Como já estava classificada, pôde escolher o próximo adversário. Entre Hungria e Inglaterra, preferiram perder para os mexicanos para enfrentar os húngaros na próxima fase. Se essa teoria for verdade, a escolha não foi tão inteligente. A Hungria tinha um time melhor e estava jogando mais do que a Inglaterra naquele momento.

E mesmo sofrendo muito, a Tchecoslováquia conseguiu vencer a Hungria por 1 x 0 nas quartas de final. Nas semifinais, passou pelo bom time da Iugoslávia em vitória por 3 x 1. Na decisão, enfrentou o invencível Brasil e perdeu por 3 x 1, gols de Amarildo, Zito e Vavá, com Josef Masopust descontando. Foi a segunda e última vez que o país chegou à final da Copa do Mundo.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

MÉXICO 3 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 07/06/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Sousalito

Público: 10.648

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça)

 

MÉXICO (4-2-4):

TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):

1  Antonio Carbajal (G)(C)

1  Viliam Schrojf (G)

2  Jesús del Muro

2  Jan Lála

5  Raúl Cárdenas

5  Svatopluk Pluskal

3  Guillermo Sepúlveda

3  Ján Popluhár

15 Ignacio Jáuregui

4  Ladislav Novák (C)

8  Salvador Reyes

19 Andrej Kvašňák

6  Pedro Nájera

6  Josef Masopust

7  Alfredo del Águila

7  Jozef Štibrányi

9  Héctor Hernández

8  Adolf Scherer

18 Alfredo Hernández

10 Jozef Adamec

11 Isidoro Díaz

14 Václav Mašek

 

Técnico: Ignacio Trelles

Técnico: Rudolf Vytlačil

 

SUPLENTES:

 

 

12 Jaime Gómez (G)

22 Pavel Kouba (G)

22 Antonio Mota (G)

21 Jozef Bomba

13 Arturo Chaires

12 Jiří Tichý

4  José Villegas

13 František Schmucker

14 Pedro Romero

15 Vladimír Kos

16 Salvador Farfán

16 Titus Buberník

19 Antonio Jasso

17 Tomáš Pospíchal

20 Mario Velarde

18 Josef Kadraba

10 Guillermo Ortiz

9  Pavol Molnár

17 Felipe Ruvalcaba

20 Jaroslav Borovička

21 Alberto Baeza

11 Josef Jelínek

 

GOLS:

15” Václav Mašek (TCH)

12′ Isidoro Díaz (MEX)

29′ Alfredo del Águila (MEX)

90′ Héctor Hernández (MEX) (pen)

Veja a partida completa no vídeo abaixo.
(Seguem os minutos das jogadas completas dos gols:
– 04:10 Mašek 0-1;
– 16:05 Díaz 1-1;
– 32:25 Del Águila 2-1; e
– 1:38:35 Hernández 3-1.)

… 12/06/1938 – Brasil 1 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 12/06/1938 – Brasil 1 x 1 Tchecoslováquia

“A Batalha de Bordeaux”


(Imagem: UOL)

● A partida marcou a inauguração do novíssimo estádio Parc Lescure, em Bordeaux. Isso obrigou as duas delegações a fazerem longos percursos de trem. Os tchecos viajaram 521 quilômetros desde Le Havre e os brasileiros 758 quilômetros desde Estrasburgo (uma viagem de quase 12 horas).

Nas oitavas de final, as duas equipes precisaram da prorrogação para eliminar seus respectivos rivais. A Tchecoslováquia bateu a Holanda por 3 a 0 (gols de Košťálek aos 93′, Nejedlý aos 111′ e Zeman aos 118′). O Brasil teve mais dificuldades para passar pela Polônia. Foi uma chuva de gols na vitória por 6 a 5, como já contamos aqui. Agora, a Seleção teria ainda mais problemas. Se o embate contra os poloneses foi duro, o duelo contra os tchecos seria ainda mais. Para ver o nível, bastava ver o confronto direto entre Polônia e Tchecoslováquia: em nove partidas até então, haviam sido oito vitórias da seleção tcheca.

No Mundial anterior, em 1934, o Brasil tinha decepcionado, sendo eliminado logo na primeira partida, em derrota para a Espanha por 3 x 1. Por sua vez, a Tchecoslováquia tinha uma bela equipe, que chegou até a final, quando perdeu de forma controversa para a anfitriã Itália apenas na prorrogação por 2 x 1, de virada.


(Imagem: Arquivo CBF)

Enquanto o Brasil tinha como remanescentes quatro jogadores (o capitão Martim Silveira, Luisinho Mesquita de Oliveira, Patesko e Leônidas da Silva), a seleção eslava ainda permanecia com seu time base, mantendo todo o sistema defensivo (Plánička, Burgr e Daučík) e o meio de campo (Košťálek, Bouček e Kopecký), além de seus dois melhores atacantes (Puč e Nejedlý). Assim, embora os sul-americanos tivessem um talento inegável, os centro-europeus eram favoritos.

Era um confronto de extremos. Os tchecos tinham um futebol metódico e jogadores experientes. Os brasileiros jogavam de forma artística e quase amadora. Para o adversário e para a imprensa estrangeira, o Brasil tinha um ataque extraordinário, mas a defesa “algo fraca”. De fato, os cinco gols sofridos contra a Polônia ligaram o alerta do técnico Ademar Pimenta, mas ele só fez uma mudança: o goleiro Walter entrou no lugar de Batatais. Domingos da Guia, mesmo com febre, foi para o jogo.


O Brasil atuava no sistema clássico, o 2-3-5, com muita fragilidade no sistema defensivo.


A Tchecoslováquia jogava em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos.

● Mas ambos fugiram de suas características, esqueceram a bola e partiram para o jogo violento. Tanto que essa partida ficou eternizada como “A Batalha de Bordeaux”.

Foi uma verdadeira guerra campal. Três das quatro expulsões dessa edição da Copa aconteceram nessa partida (a outra foi do alemão Hans Pesser, aos 6′ da prorrogação do empate com a Suíça por 1 x 1). Zezé Procópio foi o primeiro, logo aos 14 minutos da etapa inicial, depois de dar um chute sem bola em Nejedlý. Aos 44′ do segundo tempo, Machado e Říha trocaram agressões e também foram convidados a sairem do campo pelo árbitro húngaro Pal von Hertzka. Mas a verdade é que se o juiz fosse mais rigoroso, pelo menos a metade dos atletas deveria ter ido para o chuveiro mais cedo. O número de três expulsões em uma única partida só foi superado 68 anos depois, no confronto das oitavas de final de 2006 entre Portugal e Holanda, que teve quatro jogadores recebendo o cartão vermelho (Costinha, Deco, Khalid Boulahrouz e Gio van Bronckhorst).

O clima tenso seguiu por todo o jogo. Leônidas era o principal alvo dos tchecos, levando pontapés constantes. Um deles, desferido por Košťálek no fim do jogo, fez com que o craque brasileiro saísse carregado de campo e ficasse quase cinco minutos sendo atendido.

Em um dos raros momentos que foi possível praticar o futebol, o próprio Leônidas abriu o placar quando o relógio apontava meia hora jogada.

Mas aos 20′ da etapa final, Nejedlý e Šimůnek fizeram uma tabela no meio da área e Domingos da Guia tentou cortar com o peito, mas conduziu a bola com o braço. Pênalti indiscutível. Oldřich Nejedlý cobrou e converteu.

No fim da prorrogação, o empate por 1 x 1 persistiu e o saldo da guerra era altamente preocupante para os dois lados. O grande goleiro eslavo František Plánička havia jogado mais de meia hora e fechado o gol mesmo com a clavícula deslocada após um choque com Perácio e o artilheiro Oldřich Nejedlý (goleador da Copa de 1934) tinha fraturado o pé direito. Ambos estavam fora da partida de desempate, marcada para apenas 48 horas depois. Do lado brasileiro, Perácio saiu arrebentado e Leônidas, que tanto apanhou, não tinha condições de jogo.


Gol de Leônidas (Imagem: Arquivo CBF)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 12/06/1938

Horário: 17h00 locais

Estádio: Parc Lescure

Público: 22.021

Cidade: Bordeaux (França)

Árbitro: Pal von Hertzka (Hungria)

 

BRASIL (2-3-5):

TCHECOSLOVÁQUIA (2-3-5):

Walter (G)

František Plánička (G)(C)

Domingos da Guia

Jaroslav Burgr

Machado 

Ferdinand Daučík

Zezé Procópio

Josef Košťálek

Martim Silveira (C)

Jaroslav Bouček

Afonsinho

Vlastimil Kopecký

Lopes

Jan Říha

Romeu Pellicciari

Ladislav Šimůnek

Leônidas da Silva

Josef Ludl

Perácio

Oldřich Nejedlý

Hércules

Antonín Puč

 

Técnico: Ademar Pimenta

Técnico: Josef Meissner

 

SUPLENTES:

 

 

Batatais (G)

Karel Burket (G)

Jaú

Karel Černý

Nariz

Josef Orth

Britto

Karel Kolský

Brandão

Otakar Nožíř

Argemiro

Vojtěch Bradáč

Roberto

Václav Horák

Luisinho Mesquita de Oliveira

Arnošt Kreuz

Niginho

Oldřich Rulc

Tim

Karel Senecký

Patesko

Josef Zeman

 

GOLS:

30′ Leônidas da Silva (BRA)

65′ Oldřich Nejedlý (TCH) (pen)

 

EXPULSÕES:

14′ Zezé Procópio (BRA)

89′ Machado (BRA)

89′ Jan Říha (TCH)

Algumas imagens da partida:


… 14/06/1938 – Brasil 2 x 1 Tchecoslováquia (Partida de Desempate)


(Imagem: Arquivo CBF)

● Dois dias depois do empate por 1 x 1, Brasil e Tchecoslováquia voltaram a campo, mas com times bastante diferentes, em grande parte devido às contusões da partida anterior.

Os tchecos não tinham o goleiro Plánička (clavícula deslocada) e os atacantes Puč (lesão na perna esquerda) e Nejedlý (fratura no pé direito), além de duas alterações feitas pelo técnico tcheco Josef Meissner. Ele imaginou que iria surpreender o seu colega brasileiro Ademar Pimenta ao fazer tantas alterações em sua equipe. Mas na hora que os dois times entraram em campo, Meissner só se convenceu que aquele era mesmo o Brasil quando viu Leônidas uniformizado. À exceção do centroavante e do goleiro Walter, todos os jogadores eram diferentes do que atuaram dois dias antes. O novo time era o “branco”, mais pesado, com a adição do combalido Leônidas.

Comparado à guerra que foi no primeiro jogo, o segundo foi bem mais tranquilo. Mas ainda assim o brasileiro Nariz quebrou o braço e o tcheco Kopecký teve que deixar o campo carregado aos 30 minutos do segundo tempo.

Mas o fato é que os 18 mil torcedores presentes no Parc Lescure apreciaram uma boa partida.


O Brasil mudou nove jogadores em relação ao jogo anterior. Agora, era um time mais pesado. Permanecia o sistema tático 2-3-5 e o craque Leônidas, o grande diferencial daquela seleção.


Os tchecos jogaram novamente no 2-3-5, mas mudaram meio time que atuou dois dias antes.

● A partida foi tensa. Os tchecos começaram controlando o ritmo da partida e abriram o placar aos 25 minutos com Vlastimil Kopecký.

O segundo tempo foi todo do Brasil, que voltou mais incisivo e empatou aos 12′, com o imparável Leônidas.

Três minutos depois, um susto. Senecký chutou rasteiro e Walter fez a defesa, mas a bola escapou de suas mãos e pareceu ter entrado cerca de um palmo no gol, antes que o goleiro pudesse puxá-la de volta. O árbitro francês Georges Capdeville não viu o segundo gol da Tchecoslováquia e mandou o jogo seguir.

Logo em seguida, aos 17′, Roberto vira o jogo com um gol de voleio.

Mas o grande jogador da partida foi o meia Tim, de 23 anos, que estreava na Copa. Encantado com sua visão de jogo, um jornal francês o chamou de “Criador”. Ele ainda ganharia o apelido de “El Péon”, dado pelos argentinos quatro anos depois, por “conduzir o time brasileiro como um peão (‘peón‘) conduz a sua manada”. Uma grande pena que esse foi seu único jogo em Copas do Mundo.


Gol de Leônidas (Imagem: Arquivo CBF)

● O entusiasmo pela vitória foi tão grande que o Ministro das Relações Exteriores, Gustavo Capanema, enviou um telegrama para a França, cumprimentando e exaltando os “invencíveis lutadores”. A CBD, também por telegrama, chamou os jogadores de “bravos legionários”. O interventor do Governo Federal no estado do Rio de Janeiro, o comandante Amaral Peixoto, divulgou uma nota promovendo o autor do segundo gol brasileiro, Roberto, a subchefe da Polícia Especial de Niterói, corporação a que o jogador pertencia.

No dia seguinte, enquanto esperavam para embarcar no trem que os levaria de Bordeaux para Marselha, alguns jogadores ficaram fazendo embaixadinhas (ou altinha, dependendo da região). Foi um verdadeiro show coletivo. Algo muito corriqueiro em todo território brasileiro desde sempre, mas que nunca tinha sido visto na Europa. Segundo os relatos, durante vários minutos uma bola foi sendo passada de pé em pé sem tocar o chão. Foi uma grande demonstração da habilidade brasileira no controle de bola, impressionando os jornalistas europeus.


Gol de Roberto (Imagem: Arquivo CBF)

Eliminada a Tchecoslováquia, vice em 1934, o Brasil agora iria encarar a campeã Itália. Mas nos dois dias que antecederam o jogo, duas perguntas estavam na boca de todos. Qual time seria escalado por Ademar Pimenta, o que enfrentou a Polônia (azul, mais leve) ou o do segundo jogo contra a Tchecoslováquia (branco, mais pesado)? E ainda a maior preocupação: Leônidas iria jogar? Ele era o único que havia participado dos três jogos e o que mais tinha sofrido com a violência adversária. Mas na véspera da semifinal, o centroavante já sabia que não tinha a mínima condição de jogo.

A participação de Leônidas na partida de desempate contra a Tchecoslováquia custou muito caro. Ele já não estava fisicamente bem e só entrou em campo porque seu reserva imediato, Niginho, então no Vasco, não tinha condições legais de jogo. Em 1935, quando atuava pela Lazio de Mussolini, Niginho abandonou a Itália devido à ameaça de ser convocado para defender o país na guerra com a Etiópia. Seu clube pagou sua viagem para o Brasil, mas não o autorizou a assinar com o Palestra Itália (atual Palmeiras). A Itália chegou a informar à FIFA sobre a irregularidade e os dirigentes brasileiros preferiram nem correr riscos e decidiram que o jogador não seria escalado. Por isso Leônidas foi para o sacrifício contra os tchecos. Depois, em uma carta de próprio punho à revista carioca Sport Ilustrado, Leônidas escreveu: “Joguei esta partida porque Niginho não está com a situação regularizada. Porém, fui infeliz, me machuquei e não posso jogar amanhã contra a Itália”.


(Imagem: Arquivo CBF)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 2 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 14/06/1938

Horário: 18h00 locais

Estádio: Parc Lescure

Público: 18.141

Cidade: Bordeaux (França)

Árbitro: Georges Capdeville (França)

 

BRASIL (2-3-5):

TCHECOSLOVÁQUIA (2-3-5):

Walter (G)

Karel Burket (G)

Jaú

Jaroslav Burgr (C)

Nariz

Ferdinand Daučík

Britto

Josef Košťálek

Brandão

Jaroslav Bouček

Argemiro

Vlastimil Kopecký

Roberto

Václav Horák

Luisinho Mesquita de Oliveira

Karel Senecký

Leônidas da Silva (C)

Josef Ludl

Tim

Arnošt Kreuz

Patesko

Oldřich Rulc

 

Técnico: Ademar Pimenta

Técnico: Josef Meissner

 

SUPLENTES:

 

 

Batatais (G)

František Plánička (G)

Domingos da Guia

Karel Černý

Machado

Josef Orth

Zezé Procópio

Karel Kolský

Martim Silveira

Otakar Nožíř

Afonsinho

Vojtěch Bradáč

Lopes

Jan Říha

Romeu Pellicciari

Oldřich Nejedlý

Niginho

Antonín Puč

Perácio

Ladislav Šimůnek

Hércules

Josef Zeman

 

GOLS:

25′ Vlastimil Kopecký (TCH)

57′ Leônidas da Silva (BRA)

62′ Roberto (BRA)

Algumas imagens da partida:

… 06/06/1970 – Romênia 2 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 06/06/1970 – Romênia 2 x 1 Tchecoslováquia


O tcheco Andrej Kvašňák, cercado pelos romenos Alexandru Neagu e Cornel Dinu (Imagem: Getty Images)

● A Tchecoslováquia estava na sua sexta participação em Copas do Mundo. Havia chegado a duas finais e perdido ambas. Em 1934, foi vítima da Itália de Mussolini. Em 1962, perdeu para a Seleção Brasileira, já sem Pelé, mas com Garrincha e Vavá.

A Romênia voltava a disputar um Mundial 32 anos depois. Havia participado das três primeiras edições (1930, 1934 e 1938), mas não havia se classificado mais desde então. Na fase qualificatória, havia eliminado a ótima seleção de Portugal (sensação quatro anos antes), a tradicional Suíça e a Grécia.

A expressão “grupo da morte” surgiu nessa Copa, para se referir ao Grupo 3, formado por Brasil (bicampeão em 1958 e 1962), Inglaterra (campeã em 1966), Tchecoslováquia (vice em 1962) e Romênia (com uma seleção muito técnica).

Na estreia, tanto romenos quanto tchecos tinham perdido.

Mas enquanto a Tchecoslováquia foi impiedosamente goleada pela Seleção Brasileira por 4 a 1, a Romênia tinha vendido caro a derrota por 1 a 0 para os ingleses, até então detentores do título mundial.

Eram duas seleções técnicas e ofensivas.

A única alteração na seleção romena em relação à estreia foi a troca de Gheorghe Tătaru II por Alexandru Neagu na ponta direita.

Por sua vez, o treinador da Tchecoslováquia, Jozef Marko, surpreendeu mudando meio time: tirou Ivo Viktor e colocou Vencel, no gol; mudou a defesa, com Zlocha no lugar de Hagara; trocou Hrdlička e František Veselý por Kvašňák e Bohumil Veselý no meio; e ainda alterou o comando de ataque, com Jurkanin substituindo Adamec.


As duas seleções atuavam no sistema 4-3-3

● A Tchecoslováquia começou melhor e Ladislav Petráš abriu o placar aos quatro minutos de partida, com uma linda cabeçada. Na comemoração, ele repetiu o sinal da cruz que havia feito no jogo contra o Brasil (e que havia levado o brasileiro Jairzinho a imitá-lo na sequência do Mundial).

No segundo tempo, os romenos tomaram conta do jogo. Neagu foi o destaque, marcando um gol e sofrendo um pênalti.

Aos oito, Radu Nunweiller rolou para Neagu, que driblou Horváth e chutou cruzado, no canto esquerdo do goleiro Vencel.

A virada veio aos 31′. Neagu recebeu um belo passe na entrada da grande área e foi agarrado por Zlocha. Pênalti bem marcado pelo árbitro mexicano Diego de Leo. Florea Dumitrache, o craque do time, cobrou no ângulo direito de Vencel e fez o gol da vitória.


O capitão romeno Mircea Lucescu finaliza, mas para na defesa do goleiro tcheco Alexander Vencel (Imagem: Getty Images)

● Esse resultado deixou a Tchecoslováquia praticamente eliminada. Os tchecos ainda perderiam para a Inglaterra por 1 a 0 no último jogo. Terminou em último lugar no Grupo 3, sem somar pontos; foram 2 gols marcados e 7 sofridos.

A Romênia ainda tinha chances de classificação, mas tinha que vencer o Brasil na última rodada.


(Imagem: Panini)

FICHA TÉCNICA:

 

ROMÊNIA 2 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 06/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 56.818

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Diego de Leo (México)

 

ROMÊNIA (4-3-4):

TCHECOSLOVÁQUIA (4-3-3):

21 Stere Adamache (G)

22 Alexander Vencel (G)

2  Lajos Sătmăreanu

2  Karol Dobiaš

4  Mihai Mocanu

3  Václav Migas

5  Cornel Dinu

5  Alexander Horváth (C)

3  Nicolae Lupescu

15 Ján Zlocha

15 Ion Dumitru

9  Ladislav Kuna

10 Radu Nunweiller

6  Andrej Kvašňák

16 Alexandru Neagu

7  Bohumil Veselý

7  Emerich Dembrovschi

8  Ladislav Petráš

9  Florea Dumitrache

19 Josef Jurkanin

11 Mircea Lucescu (C)

11 Karol Jokl

 

Técnico: Angelo Niculescu

Técnico: Jozef Marko

 

SUPLENTES:

 

 

1  Rică Răducanu (G)

1  Ivo Viktor (G)

22 Gheorghe Gornea (G)

13 Anton Flešár (G)

12 Mihai Ivăncescu

12 Ján Pivarník

6  Dan Coe

14 Vladimír Hrivnák

13 Augustin Deleanu

4  Vladimír Hagara

14 Vasile Gergely

17 Jaroslav Pollák

20 Nicolae Pescaru

16 Ivan Hrdlička

8  Nicolae Dobrin

18 František Veselý

17 Gheorghe Tătaru II

10 Jozef Adamec

18 Marin Tufanac

20 Milan Albrecht

19 Flavius Domide

21 Ján Čapkovič

 

GOLS:

5′ Ladislav Petráš (TCH)

52′ Alexandru Neagu (ROM)

75′ Florea Dumitrache (ROM) (pen)

 

CARTÕES AMARELOS:

Andrej Kvašňák (TCH)

Radu Nunweiller (ROM)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Josef Jurkanin (TCH) ↓

Jozef Adamec (TCH) ↑

 

69′ Karol Jokl (TCH) ↓

František Veselý (TCH) ↑

 

69′ Mircea Lucescu (ROM) ↓

Gheorghe Tătaru II (ROM) ↑

 

81′ Ion Dumitru (ROM) ↓

Vasile Gergely (ROM) ↑

Gols da partida:

Lances individuais do romeno Florea Dumitrache nessa partida:

… 02/06/1962 – Brasil 0 x 0 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 02/06/1962 – Brasil 0 x 0 Tchecoslováquia


Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães Mauro Ramos de Oliveira e Ladislav Novák (Imagem: Getty Images / FIFA)

● Assim como hoje, o segundo dia do mês de junho de 1962 era um sábado. O Brasil inteiro colou seus ouvidos nos transmissores de rádio para ouvir o jogo contra a forte Tchecoslováquia. Embora o som não fosse ainda totalmente ausente de ruídos, tinha melhorado muito se comparado à precariedade com que acompanhamos a Copa do Mundo de 1958.

A trajetória do Brasil em gramados chilenos começou no dia 30 de maio, enfrentando o México e vencendo por 2 a 0, em Viña del Mar.

A Tchecoslováquia também vinha para o jogo credenciada pela bela vitória por 1 a 0 sobre a Espanha de Puskas e Gento em sua estreia. Tinha jogadores respeitados em todo o mundo, como o goleiro Schrojf, os defensores Lála e Novák, além do grande meia Josef Masopust.

Aymoré Moreira mantinha o mesmo time brasileiro, com a esperança de que nessa segunda partida, o escrete canarinho mostrasse mais futebol do que na estreia.


O Brasil atuava como em 1958, em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo


A Tchecoslováquia também jogava no esquema da moda de então, o 4-2-4, com destaque para o craque Josef Masopust

● As duas equipes demoram um tempo para se acertar em campo. É um jogo equilibrado, com muitas faltas, muita correria e pouco futebol.

Os brasileiros dão a impressão de que perderam parte do brilho que o havia consagrado, jogando um futebol mais defensivo do que quatro anos antes. Mesmo assim, dá bastante trabalho a Schrojf.

Os tchecos também atacam, mas não chegam a incomodar a defesa brasileira.

A melhor chance do Brasil foi de Mané Garrincha. Ele arranca em diagonal, da direita para o meio e chuta da entrada da área. O ótimo goleiro Viliam Schrojf não consegue segurar e apenas desvia a bola, que ainda bate em sua trave direita.

Espera-se a qualquer momento a explosão do gênio Pelé, que é muito bem marcado por Masopust.

O lance que decide o jogo ocorre aos 27 minutos do primeiro tempo. Pelé recebe um passe de Djalma Santos, limpa a jogada e bate forte de pé esquerdo, da entrada da área. A bola passa por Schrojf e toca de leve na trave. Pelé faz careta, mas todos pensam ser apenas um lamento por não ter feito o gol. Mas, na sequência, o camisa 10 cai ao chão e coloca a mão na virilha esquerda. Todos os olhos do mundo se voltam apreensivos para o craque.


Pelé e Masopust: um duelo de respeito (Imagem: Getty Images / FIFA)

Ele é atendido fora do campo e, completamente sem condições de jogo, vai fazer número na ponta direita, já que as substituições não eram permitidas na época.

Assim, para melhor balanceamento no campo, o técnico Aymoré Moreira manda Garrincha fazer o papel de Pelé pelo meio. Mas depois de ver a equipe levar certo sufoco, Aymoré inverte: volta Garrincha para a ponta e pede para Zagallo recuar.

Pelé fica em campo, isolado. Mas em um determinado momento, passam-lhe a bola e ele domina com dificuldades. À sua frente, posta-se o severo, porém cavalheiro, Masopust. O craque tcheco fica esperando, respeitosamente, o que o Rei decidiria fazer com a bola, mas ele a tocou pela lateral. O gesto de respeito de Masopust foi elogiado no mundo inteiro.

“É muito triste se machucar no meio de uma Copa do Mundo, é uma frustração muito grande.” ― Pelé recordaria depois

Sem Pelé e com todos os jogadores preocupados com ele, a Seleção não consegue vencer a retranca dos europeus e a partida termina sem gols. De qualquer forma, um resultado mais do que justo.


Pelé se lesionou e não jogou mais na competição (Imagem: Pinterest)

● Se já não bastasse o inesperado empate, havia uma dúvida cruel: seria possível conquistar o bicampeonato mundial sem o Rei Pelé? A esperança de que ele voltasse contra a Espanha era pequena. No dia seguinte, ela foi soterrada pelo médico da delegação brasileira, o Dr. Hilton Gosling. Em meio a um batalhão de repórteres, ele deu o diagnóstico fatal: Pelé distendeu o músculo adutor da coxa esquerda. Em outras palavras: o Rei estava fora da Copa.

Incrivelmente, depois de apenas três dias de partidas no Mundial, já havia 34 jogadores machucados. No quarto dia, já eram 50. O balanço final dessa violenta Copa foi, além de incontáveis lesões musculares, três fraturas de pernas, uma de nariz e uma de quadril.

Infelizmente, essa foi a última vez em que atuaram juntos os craques da linha de frente que deram o primeiro título mundial ao Brasil, em 1958: Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo.

Para o lugar do ainda menino Pelé, seria escolhido outro jovem craque: Amarildo, atacante de 21 anos do Botafogo.

O último jogo da primeira fase seria contra a Espanha e o Brasil precisaria vencer para passar às quartas de final.


Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo: talvez o maior ataque da história (Imagem: 7M Sports)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 0 x 0 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 02/06/1962

Horário: 15h00 locais

Estádio: Sousalito

Público: 14.903

Cidade: Viña del Mar (Chile)

Árbitro: Pierre Schwinte (França)

 

BRASIL (4-2-4):

TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):

1  Gylmar (G)

1  Viliam Schrojf (G)

2  Djalma Santos

2  Jan Lála

3  Mauro (C)

3  Ján Popluhár

5  Zózimo

4  Ladislav Novák (C)

6  Nilton Santos

5  Svatopluk Pluskal

4  Zito

6  Josef Masopust

8  Didi

7  Jozef Štibrányi

7  Garrincha

8  Adolf Scherer

19 Vavá

10 Jozef Adamec

10 Pelé

19 Andrej Kvašňák

21 Zagallo

11 Josef Jelínek

 

Técnico: Aymoré Moreira

Técnico: Rudolf Vytlačil

 

SUPLENTES:

 

 

22  Castilho (G)

22 Pavel Kouba (G)

12 Jair Marinho

21 Jozef Bomba

13 Bellini

12 Jiří Tichý

14 Jurandir

13 František Schmucker

15 Altair

15 Vladimír Kos

16 Zequinha

16 Titus Buberník

17 Mengálvio

17 Tomáš Pospíchal

18 Jair da Costa

18 Josef Kadraba

9  Coutinho

9  Pavol Molnár

20 Amarildo

20 Jaroslav Borovička

11 Pepe

14 Václav Mašek


Garrincha tenta passar pelo meia Andrej Kvašňák (Imagem: Planet World Cup)

Lances importantes da partida:

Algumas momentos da partida:

Crônica de Nelson Rodrigues sobre a contusão de Pelé:

… 10/06/1934 – Itália 2 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 10/06/1934 – Itália 2 x 1 Tchecoslováquia


Jogadores italianos fazem saudação fascista antes da final (Imagem: FIFA)

● A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, o Duce queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi“. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota se sagraram campeões do mundo em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro). Nascido em São Paulo e revelado pela Portuguesa, Amphilóquio Guarisi Marques, Filó, teve destaque no Corinthians e na Lazio e se tornou o primeiro brasileiro campeão do mundo, mesmo atuando apenas no jogo de estreia.

Diz a lenda que antes da final contra a Tchecoslováquia, o alto escalão da FIFA e o árbitro sueco Ivan Eklind (que já havia apitado a semifinal entre italianos e austríacos) foram convidados a jantar com Mussolini. O encontro nunca foi oficialmente confirmado, mas antes da partida, Eklind e os dois auxiliares (Louis Baert, belga, e Mihaly Ivancsis, húngaro) fizeram a saudação fascista ao Duce, que assistia à partida na tribuna de honra. Na hora, poucos estranharam. Mas em campo, a arbitragem usou a sua arma para aniquilar qualquer pretensão dos tchecos: o apito.

Veja mais:
… 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos
… 31/05/1934 – Itália 1 x 1 Espanha
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O retrospecto anterior já credenciava a Itália como favorita ao título. As duas seleções se enfrentaram em um amistoso em 03/05/1929, com vitória dos italianos por 4 a 2. Desde essa data até o início do mundial, a Itália entrou em campo 32 vezes, com 20 vitórias, 6 empates e 6 derrotas, 79 gols marcados e 38 sofridos. Já os tchecos, em 41 jogos, venceram 17 vezes, com 11 empates e 13 revezes, marcando 83 gols e sofrendo 72.

Para chegar à final, os tchecos tinham vencido a Romênia (2 a 1), a Suíça (3 a 2) e a Alemanha (3 a 1).

Já a Itália, passou pelos Estados Unidos (7 a 1) e pela fortíssima Espanha (em duas partidas, 1 a 1 na primeira e 1 a 0 no jogo desempate), além de bater a boa seleção da Áustria (apelidada de Wunderteam, “time maravilha”) na semifinal por 1 a 0.

A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


A Tchecoslováquia jogava em uma adaptação do 2-3-5 chamada “Sistema Danubiano”, que consistia na maior aproximação dos homens do ataque, com muitas tabelas e toques rápidos.

● Um fato raro: os capitães de ambas as equipes eram os goleiros: Giampiero Combi (Itália) e František Plánička (Tchecoslováquia). E foram eles os destaques do primeiro tempo, com várias defesas difíceis, impedindo os gols adversários. Plánička teve que se esforçar mais. Mas a melhor oportunidade foi dos tchecos, com uma bola na trave. A Itália tinha maior velocidade, enquanto a Tchecoslováquia tinha um melhor toque de bola.

A partida continuou equilibrada até os 31 minutos da etapa final, quando Jiří Sobotka avançou e tocou para Antonín Puč, na esquerda do ataque. O ponta chutou de primeira, no canto direito, surpreendendo o goleiro Combi, que não conseguiu chegar na bola. Curiosamente, Puč havia sofrido uma contusão e deixado o campo para ser atendido três minutos antes. Em seu primeiro toque na bola após retornar ao gramado, ele abriu o placar.

Faltando pouco tempo para acabar a partida, o desespero tomou conta dos 55 mil torcedores no estádio romano. Quase piorou quando František Svoboda chutou uma bola na trave.

Mas logo depois, aos 36 minutos, Giovanni Ferrari dominou a bola no peito e tocou para Raimundo Orsi. De costas para o gol, ele girou em torno de Josef Košťálek e chutou com efeito, no canto direito de Plánička, empatando a decisão. Os tchecos reclamaram de irregularidade, alegando que Ferrari tinha dominado a bola com o braço, mas o árbitro confirmou o gol após consultar o auxiliar. E o empate forçou a prorrogação da final.

Durante o período de descanso, os torcedores estavam apreensivos com um eventual desgaste do time. Os anfitriões, além de terem uma média de idade em torno dos 30 anos, haviam jogado 120 minutos a mais que o adversário, devido ao duríssimo jogo desempate com a Espanha nas quartas de final. Mas foi nesse momento que valeu a pena o período de três meses de treino intenso na Suíça, obtido graças a insistência do técnico Vittorio Pozzo.

Os italianos mostraram mais preparo físico que o adversário e conseguiram virar o marcador logo aos cinco minutos, quando Giuseppe Meazza ergueu a bola na área, Enrique Guaita dominou e a ela sobrou mansa para Angelo Schiavio, que chutou a gol. A finalização acabou prensada em um zagueiro e a bola encobriu Plánička. 2 a 1, de virada.

Os italianos se trancaram na defesa e os tchecos não mostraram forças para reagir.

Ao fim do tempo extra, a Itália se sagrou campeã do mundo.


Italianos festejam o título (Imagem: FIFA)

● O grande craque da Copa foi Giuseppe Meazza, de apenas 23 anos. Nascido em 23/08/1910, ele iniciou a carreira aos 17 anos, na Ambrosiana (atual Inter de Milão) e estreou na seleção aos 20 anos. Pela Azzurra, marcou 33 gols em 53 jogos. Era o maior artilheiro da seleção até os anos 1970, quando foi ultrapassado por Luigi Riva.

Além da Taça Jules Rimet, os campeões do mundo foram agraciados com medalhas de bronze estampadas com a efígie de Mussolini, entregues aos jogadores no gramado pelo próprio ditador.

Diversas fontes afirmam que esse resultado salvou a vida de jogadores e comissão técnica, pois seria difícil aplacar um provável e mortal acesso de ira de Benito Mussolini em uma eventual derrota.

Todos temiam ao Duce. Após o título, o técnico Vittorio Pozzo fez uma declaração cheia de apologias ao regime fascista, ao comentar sobre os adversários:

“A partida mais difícil de todas foi contra a Espanha. Precisamos passar por 210 minutos de jogo para vencer. Nenhum outro time nos exigiu tanto. Com tal valor se comportaram os espanhóis naquelas duas partidas em Florença, que foram necessários homens de têmpera especial para batê-los, homens fortes e confiantes como só o fascismo pode criar.”

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 2 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 10/06/1934

Horário: 17h00 locais

Estádio: Nazionale PNF

Público: 55.000

Cidade: Roma (Itália)

Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)

 

ITÁLIA (2-3-5):

TCHECOSLOVÁQUIA (2-3-5):

Giampiero Combi (G)(C)

František Plánička (G)(C)

Eraldo Monzeglio

Ladislav Ženíšek

Luigi Allemandi

Josef Čtyřoký

Luigi Bertolini

Josef Košťálek

Luis Monti

Štefan Čambal

Attilio Ferraris IV

Rudolf Krčil

Enrique Guaita

František Junek

Giuseppe Meazza

František Svoboda

Angelo Schiavio

Jiří Sobotka

Giovanni Ferrari

Oldřich Nejedlý

Raimundo Orsi

Antonín Puč

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnico: Karel Petrů

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

Ehrenfried Patzel (G)

Giuseppe Cavanna (G)

Jaroslav Burgr

Umberto Caligaris

Ferdinand Daučík

Virginio Rosetta

Jaroslav Bouček

Armando Castellazzi

Vlastimil Kopecký

Mario Pizziolo

Adolf Šimperský

Mario Varglien I

Erich Srbek

Pietro Arcari

František Šterc

Felice Borel II

Antonín Vodička

Anfilogino Guarisi

Géza Kalocsay

Attilio Demaría

Josef Silný

 

GOLS:

76′ Antonín Puč (TCH)

81′ Raymundo Orsi (ITA)

95′ Angelo Schiavio (ITA) 

Lances e gols da final:

… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia


(Imagem: Multi Ciência)

● Como quase sempre, o Brasil chegou ao México sob grande desconfiança geral, trocando de treinador a três meses da competição – saiu o jornalista João Saldanha e entrou o inexperiente Zagallo. Com isso, várias “feras” ficaram de fora da convocação, como, por exemplo, Djalma Dias, Zé Carlos e Dirceu Lopes. O ponta-direita Rogério, do Botafogo, titular absoluto de Zagallo, teve que ser cortado por lesão (mas continuou na delegação com o cargo de “olheiro”, observando e analisando jogos dos adversários).

O comando da CBD entendeu que parte do fracasso de 1966 foi por falta de uma preparação física adequada. Por isso, dessa vez, os atletas sofreram bastante nas mãos do preparador físico Admildo Chirol e de seus auxiliares, Cláudio Coutinho e Carlos Alberto Parreira, que colocaram em prática um plano elaborado em conjunto com a Escola de Educação Física do Exército. Foi feito também um cuidadoso programa de treinamento para enfrentar a altitude mexicana. A equipe se concentrou inicialmente em Guanajuato (2.050 metros acima do nível do mar). O Brasil foi o primeiro time a chegar ao México, quase um mês antes do início do torneio. “Fomos os primeiros a chegar e seremos os últimos a ir embora”, dizia Zagallo. Com toda essa preparação, era visível o crescimento do Brasil no segundo tempo de cada jogo.

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… 06/06/1970 – Romênia 2 x 1 Tchecoslováquia

A expressão “grupo de morte” surgiu nessa Copa, para se referir ao grupo formado por Brasil (bicampeão em 1958 e 1962), Inglaterra (campeã em 1966), Tchecoslováquia (vice em 1962) e Romênia (com uma seleção muito técnica).

A Copa de 70 foi a primeira com transmissão ao vivo pela televisão, ainda em preto e branco. Nesse jogo (estreia brasileira no Mundial), às 19h00 do dia 3 de junho de 1970, foi registrado o recorde de audiência de um evento esportivo no Brasil. Todos os canais transmitiam a mesma imagem do jogo entre Brasil e Tchecoslováquia. Seria o equivalente hoje a 100 pontos no Ibope.

Duas revoluções nesse Mundial: além da estreia dos cartões amarelos e vermelhos, foi também a primeira Copa em que foram permitidas até duas substituições durante a partida.

 O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.

Tchecoslováquia jogava entre o 4-3-3 e o 4-2-4.

● Foi um jogo bonito, sem violência, com demonstração de habilidade dos dois lados, dribles, chances criadas (o time tcheco perdeu várias oportunidades) e gols.

Pelé era tido como um mito “velho e acabado” pelos mexicanos. E deu razão a eles quando perdeu um gol feito no começo do jogo: em cruzamento de Rivellino, o Rei chutou para fora, sozinho e sem goleiro. A situação ficaria pior logo depois. Aos 11 minutos de jogo, Brito bateu um impedimento para Clodoaldo, que estava de costas e perdeu a bola. Ladislav Petráš dominou, avançou em velocidade entre Carlos Alberto e Brito, tocando na saída do goleiro Félix. Petráš ajoelhou-se e fez o sinal-da-cruz para agradecer o gol aos céus. Foi um ato político contra o governo comunista (e ateu) de seu país, mas foi também um dos gestos mais lindos da Copa – que depois seria copiado por Jairzinho.

O empate chegou aos 24 minutos. Pelé foi derrubado por Migas na meia-lua. A barreira foi formada por sete tchecos e Jairzinho. Rivelino chutou no rumo de Jairzinho, que saiu da frente e a bola passou no espaço vazio, justo onde ele estaria. Com esse gol, Rivellino ganhou o apelido de “Patada Atômica” da imprensa mexicana.

Aos 15 minutos do segundo tempo, Gérson, o “Canhotinha de Ouro”, faz um lançamento de 40 metros para Pelé, que amacia a bola no peito, escolhe o canto e chuta para o fundo do gol. A Tchecoslováquia partiu com tudo para cima e ofereceu todo o espaço para o Brasil contra-atacar.

Três minutos depois, de novo Gérson de 40 metros, lança Jairzinho, o “Furacão da Copa”, que, sozinho, dá um chapéu no goleiro Viktor, deixa a bola bater no peito e estufa as redes. Foi o gol mais bonito dessa Copa.

Aos 25, Gérson teve uma forte distensão e teve que ser substituído por Paulo Cézar Caju. Sem saber se adiantava o time ou se protegia de tomar mais gols, os tchecos ficaram perdidos em campo.

No fim da partida, aos 38 minutos, configurou-se a goleada. Jairzinho domina na intermediária, dribla Hagara e Horváth, de novo Hagara e chuta cruzado, no canto.

 Jair encobre Viktor, no terceiro gol brasileiro (Imagem: El Universal)

● Apesar do placar elástico, o lance mais marcante da partida foi um “quase gol”. Aos 42 minutos da etapa inicial, percebendo o goleiro adversário adiantado, Pelé arriscou um chute de seu próprio campo, a bola encobriu o goleiro e acabou raspando o travessão, naquele que foi um lance surpreendente, demonstrando toda a genialidade do Rei. Além do mais, não foi contra qualquer goleiro. Ivo Viktor foi o 3º colocado na premiação da Bola de Ouro da Revista France Football em 1976 (a terceira melhor posição de um goleiro no prêmio – Lev Yashin foi o 1º em 1963 e Buffon o 2º em 2006). A transmissão da TV mostrou o desespero de Viktor tentando voltar, enquanto a bola passava a 40 centímetros da trave, em um lance até então inédito em Copas.

A Seleção Brasileira fazia sua estreia de forma arrasadora, dando mostras iniciais da altíssima qualidade de seu futebol naquela Copa.

Mesmo com uma equipe forte, a Tchecoslováquia caiu na fase de grupos, perdendo também os outros dois jogos (2 a 1 para a Romênia e 1 a 0 para a Inglaterra).

 Trio de ataque comemora um dos gols (Imagem: Alchetron)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 03/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 52.897

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Ramón Barreto (Uruguai)

 

BRASIL (4-3-3):

TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):

1  Félix (G)

1  Ivo Viktor (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

2  Karol Dobiaš

2  Brito

3  Václav Migas

3  Wilson Piazza

5  Alexander Horváth (C)

16 Everaldo

4  Vladimír Hagara

5  Clodoaldo

16 Ivan Hrdlička

8  Gérson

9  Ladislav Kuna

7  Jairzinho

18 František Veselý

9  Tostão

8  Ladislav Petráš

10 Pelé

10 Jozef Adamec

11 Rivellino

11 Karol Jokl

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Jozef Marko

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

13 Anton Flešár (G)

22 Leão (G)

22 Alexander Vencel (G)

21 Zé Maria

12 Ján Pivarník

15 Fontana

14 Vladimír Hrivnák

14 Baldocchi

15 Ján Zlocha

17 Joel Camargo

7  Bohumil Veselý

6  Marco Antônio

17 Jaroslav Pollák

18 Paulo Cézar Caju

6  Andrej Kvašňák

13 Roberto

19 Josef Jurkanin

20 Dadá Maravilha

20 Milan Albrecht

19 Edu

21 Ján Čapkovič

 

GOLS:

11′ Ladislav Petráš (TCH)

24′ Rivellino (BRA)

59′ Pelé (BRA)

61′ Jairzinho (BRA)

83′ Jairzinho (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

Tostão (BRA)

Gérson (BRA)

Alexander Horváth (TCH)

 

SUBSTITUIÇÕES:

46′ Ivan Hrdlička (TCH) ↓

Andrej Kvašňák (TCH) ↑

 

62′ Gérson (BRA) ↓

Paulo Cézar Caju (BRA) ↑

 

75′ František Veselý (TCH) ↓

Bohumil Veselý (TCH) ↑

Melhores momentos da partida:

… Petráš e Panenka

Três pontos sobre…
… Petráš e Panenka


(Imagem: Alchetron)

● Quando Ladislav Petráš fez o sinal da cruz, o mundo ficou chocado. Como poderia um comunista repetir esse gesto cristão? Comunistas comem criancinhas! Foi o que pensaram os telespectadores em sua pueril ignorância. Esse fato ocorreu quando ele marcou o primeiro gol de sua seleção na Copa. O Brasil viraria e golearia a Tchecoslováquia por 4 x 1, com Jairzinho passando a imitar Petráš, e desde então, fazendo o sinal da cruz em cada gol seu.

Aos 11 minutos de jogo no estádio Jalisco, Petráš arrancou pela intermediária passando pelo zagueiro Brito e chutou da entrada da área, na diagonal, no canto direito de Félix. Correu junto à bandeirinha de escanteio, fez o sinal da cruz e juntou as mãos, como se fosse uma oração. Era uma comemoração raríssima, quase única, para a época. Apenas dois anos antes, seu país tinha sido lançado em forte regime comunista, com a Primavera de Praga, forçada pela União Soviética, em um comunismo que perseguia as religiões, especialmente a católica. Com o ato, Petráš não apenas expressou sua fém mas também seu descontentamento político com profundo significado. Uma pena que depois milhões de jogadores até medíocres banalizariam o mesmo sinal cristão.

Petráš tinha menos de 24 anos nesse jogo e, se era desconhecido fora de seu país, já era um ídolo na Tchecoslováquia. Dotado de talento com a bola nos pés, era de uma personalidade difícil. Sempre tinha problemas disciplinares e era expulso frequentemente pelos árbitros. Logo após a Copa de 70, quebrou sem dó nem piedade a perda do zagueiro Václav Migas, seu colega de seleção. O regime da “Cortina de Ferro” decidiu que enquanto Migas não se recuperasse de sua fratura exposta, Petráš também não jogaria. Assim, ambos ficaram 14 meses sem jogar.

Laci-Baci (como era chamado em seu país) começou a carreira aos 17 anos no FK Baník Prievidza e aos 21 se transferiu para o FK Dukla Banska Bystrica, sendo artilheiro da liga nacional com 20 gols. No ano seguinte, em 1969, foi para o FK Inter Bratislava, onde ficou até 1980, se tornando um mito para os aurinegros. Dizem que certa vez ele fugiu do hospital para disputar uma partida, retornando ao leito após o jogo. Foi artilheiro do campeonato novamente em 1974/75, também com 20 gols. Nesse mesmo torneio, fez cinco gols no mesmo jogo contra o poderoso AC Sparta Praha (a partida foi 7 x 4 para o Inter). Virou lenda quando em uma partida, Petráš marcou três gols na sequência e, após o terceiro, simplesmente saiu de campo sorrindo, como que dizendo que já tinha feito sua parte no jogo. Pela liga tchecoslovaca, fez 85 gols em 239 partidas. Ainda jogou no WAC Viena, da Áustria, até 1983. Curiosamente nunca ganhou um título nacional em campo, mas foi campeão como auxiliar técnico do campeonato eslovaco pelo seu Inter. Foi técnico da seleção eslovaca sub-21 em 2006.

Pela seleção da Tchecoslováquia, Petráš jogou apenas 19 vezes e marcou 6 gols (entre 1969 e 1977), mas entrou para a história com grandes momentos.

Ladislav Petráš nasceu na cidade de Prievidza, em 01/12/1946 e completa 70 anos hoje.


(Imagem: Alchetron)

● Antonín Panenka nasceu em Praga, em 02/12/1948 (exatamente dois anos e um dia após Petráš, seu então conterrâneo). Começou com apenas dez anos na divisão de base do Bohemians Praha, ficando até 1981, com 318 gols em 678 partidas. A legislação do regime socialista do país só permitia o êxodo de jogadores maiores de 30 anos e entre 1981 e 1985, Panenka foi atuar no austríaco SK Rapid Wien (63 tentos em 127 jogos), sendo bicampeão da Bundesliga Austríaca em 1981/82 e 1982/83. Foi também tricampeão da Copa da Áustria, entre 1983 e 1985. Chegou na final da Recopa Europeia em 1984/85, mas perdeu para o Everton por 3 x 1. Ainda passaria por outros times da Áustria: VSE St. Pölten (1985-1987), SK Slovan Wien (1987-1989), ASV Hohenau (1989-1991) e Kleinwiesendorf (1991-1993), onde encerrou definitivamente a carreira, aos 45 anos de idade. Depois, voltou a seu país natal e se tornou presidente do Bohemians, cargo que ocupa atualmente.

Meia-armador talentoso, bom passador, com excelente visão de jogo, era especialista na bola parada, tanto em faltas quanto em pênaltis. É considerado o maior jogador da Tchecoslováquia entre Josef Masopust e Pavel Nedvěd. Pela seleção da Tchecoslováquia, marcou 17 vezes em 59 partidas, entre 1973 e 1982. Disputou as Eurocopas de 1976 e 1980 (3º lugar) e a Copa do Mundo de 1982, caindo na primeira fase.

● As carreiras de Petráš e Panenka se encontraram da seleção da Tchecoslováquia, especialmente na Eurocopa de 1976, na Iugoslávia. Petráš era reserva, mas Panenka era o craque do time.

Na prorrogação, os tchecos venceram o Carrossel Holandês por 3 a 1. Após passar pelo vice-campeão da última Copa do Mundo, eles enfrentaram os campeões na final. Após empate por 2 a 2 entre Tchecoslováquia e Alemanha Ocidental, essa foi a primeira final importante a ser decidida nos pênaltis. Todos os jogadores vinham convertendo as cobranças, até que o craque alemão Uli Hoeneß chutasse por cima. Coube a Antonín Panenka decidir o título, mas ele não “apenas” converteu o chute. Mesmo com a pressão de ter no gol adversário o lendário Sepp Maier, o meia tcheco cobrou tranquilamente: enquanto o goleiro caía no canto esquerdo, o camisa 7 chutou de “cavadinha” no centro do gol. Foi a primeira vez que se cobrou um pênalti assim. Até hoje na Europa o estilo é chamado de “Panenka“. Assim, Panenka inventou moda e entrou para a história da Eurocopa e do futebol por um lance simples e genial.

Antonín Panenka e Ladislav Petráš entraram na história, no plantel da Tchecoslováquia campeã da Eurocopa de 1976, único título da história do país (e dos países que viriam a se formar em 1992, Tchéquia e Eslováquia).


(Imagem: Total Pro Sports)