Três pontos sobre…
… 13/06/1962 – Tchecoslováquia 3 x 1 Iugoslávia
Kadraba prepara o chute, em lance que antecedeu o primeiro gol da Tchecoslováquia (Imagem: Reprodução / FIFA)
● Muitas partidas tiveram poucos expectadores no Chile. Mas não foi pela falta de entusiasmo, mas de dinheiro, o que acabou afastando o público dos estádios. Não era possível adquirir o ingresso de um jogo só. A venda era feita em pacotes que eram muito caros. A solução encontrada pelo público local foi assistir de graça pelas TVs nas ruas.
Por isso, apenas 5.890 pessoas compareceram ao estádio Sousalito, em Viña del Mar, para assistir à semifinal entre Tchecoslováquia e Iugoslávia – curiosamente, dois países que não existem mais desde o início da década de 1990. Foi o menor público da Copa. No mesmo horário, a TV chilena transmitia ao vivo a outra semifinal, entre Brasil x Chile – que jogavam para 80 mil pessoas em Santiago. As duas semifinais foram jogadas simultaneamente.
A Iugoslávia chegava como favorita pelos bons resultados nas últimas competições oficiais. Havia conquistado a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 1960, em Roma, além de ter sido vice-campeã da primeira Copa das Nações Europeias (atual Eurocopa), também em 1960, quando perdeu a final para a União Soviética apenas no segundo tempo da prorrogação. Os maiores destaques eram o ponta de lança e capitão Milan Galić, do Partizan, o forte centroavante Dražan Jerković, do Dinamo Zagreb e o ponta esquerda Josip Skoblar, do OFK Belgrado (que viria a ser um dos maiores nomes da história do Olympique de Marseille).
A Iugoslávia passou em segundo lugar do Grupo 1. Na estreia, perdeu para a URSS por 2 x 0. Depois, venceu o Uruguai por 3 x 1 e goleou a Colômbia por 5 x 0. Nas quartas de final, encontrou a Alemanha Ocidental pela terceira vez consecutiva. Nas duas primeiras vezes a Alemanha venceu: 2 x 0 em 1954 e 1 x 0 em 1958 – ambas com o gol decisivo sendo anotado por Helmut Rahn. Mas dessa vez Rahn não estava e Petar Radaković marcou um belo gol a cinco minutos do fim, o único gol da partida que levou os iugoslavos para a segunda semifinal de sua história em Copas o Mundo, a primeira desde 1930.
A Tchecoslováquia também se classificou na segunda posição de sua chave, o forte Grupo 3, com uma vitória (1 x 0 sobre a poderosa Espanha), um empate (0 x 0 com o Brasil, com Pelé se lesionando durante o jogo) e uma derrota (3 x 1 para o México, na primeira vitória dos astecas em Copas). Nas quartas de final, vitória sobre o bom time da Hungria por 1 x 0.
Curiosamente, as quartas de final da Copa de 1962 foram tão equilibradas que, dos quatro vencedores dos grupos da primeira fase, só o Brasil passou para as semifinais. Além da derrota da Alemanha Ocidental para a Iugoslávia e da Hungria para a Tchecoslováquia, a União Soviética também perdeu para o Chile por 2 a 1.
A Tchecoslováquia jogava no esquema 4-2-4
A Iugoslávia foi escalada no sistema tático W-M
● O jogo começou acelerado e duro, com muitas faltas e jogadas com uma virilidade desnecessária. Percebendo que a partida descambava para a violência, o árbitro suíço Gottfried Dienst paralisou a partida aos dez minutos de jogo, chamou todos os 22 jogadores e deu uma advertência formal e generalizada: a próxima falta mais pesada resultaria em expulsão. Essa conversa fez bem e os dois times começaram a se preocupar mais com o futebol.
Mas o primeiro tempo foi fraco tecnicamente, não sendo criada nenhuma chance clara ou remota de gol. E o placar permaneceu zerado até o intervalo. O segundo tempo seria melhor.
Logo no terceiro minuto, Milan Galić perdeu a bola na meia direita. Andrej Kvašňák deu um passe vertical para Tomáš Pospíchal. Ele entrou em velocidade pelo meio e deixou com Adolf Scherer, que se livrou da marcação e, de perna esquerda, abriu na ponta direita. Na linha de fundo, Jan Lála deu um chapéu em um adversário e cortou para dentro. Josef Kadraba chegou chutando cruzado, o goleiro Milutin Šoškić espalmou para frente e o próprio Kadraba mergulhou para emendar de cabeça para o gol. Tchecoslováquia, 1 a 0.
Depois desse gol, os tchecos passaram a jogar de forma mais defensiva. E os iugoslavos pressionaram sem cessar nos vinte minutos seguintes. Seguro, o goleiro tcheco Viliam Schrojf estava tendo uma exibição irretocável até aquele momento.
Da linha central, Vladica Popović fez um lançamento longo para a área tcheca. Milan Galić escorou de cabeça e Josip Skoblar chutou de primeira. Viliam Schrojf espalmou para o lado e a defesa afastou o perigo.
Jerković sobre mais que o goleiro Schrojf para empatar o jogo (Imagem: Reprodução / FIFA)
Pouco depois, aos 24 minutos, novo lançamento longo, dessa vez de Petar Radaković. Schrojf saiu mal do gol. Jerković ganhou da marcação, se antecipou ao goleiro e só deu uma “casquinha” na bola para desviar do goleiro e empatar o jogo. De bicicleta, Ján Popluhár tentou evitar o gol, mas só conseguiu rasgar a rede – que foi remendada às pressas. Com cinco gols marcados, Dražan Jerković terminaria a Copa como artilheiro.
A correria em busca do empate custou caro, os iugoslavos estavam esgotados fisicamente e não tiveram forças para evitar dois contra-ataques fatais.
A dez minutos do fim, o capitão tcheco Ladislav Novák retomou a bola em seu campo de defesa e fez um lançamento longo. Masopust avançou, atraiu a marcação e tocou na medida para Scherer aparecer livre, dominar e bater por baixo do goleiro Šoškić. 2 a 1.
Logo depois do gol, um cachorro entrou no gramado pelo meio de campo e correu até a linha de fundo, saindo por lá mesmo. Outra cena bastante comum nos gramados do Chile durante o Mundial.
Tentando prender a bola no campo de ataque, os tchecos acabaram conseguindo o terceiro gol.
A seis minutos do apito final, Pospíchal tabelou com Scherer e invadiu a área pela direita. Vlatko Marković pulou, perdeu o tempo de bola e tocou com a mão dentro da área. Pênalti, que Scherer bateu com segurança, no canto esquerdo do goleiro, que nem se mexeu.
Scherer toca por baixo do goleiro Šoškić para fazer o segundo gol tcheco (Imagem: Reprodução / FIFA)
● Na decisão do 3º lugar, a Iugoslávia foi derrotada pelo anfitrião Chile com um gol no último minuto da partida, marcado por Eladio Rojas.
Na final da Copa, a Tchecoslováquia chegou a sair na frente com um gol de Josef Masopust, mas a Seleção Brasileira virou o jogo, com gols de Amarildo, Zito e Vavá, para conquistar o bicampeonato mundial. Assim, a Tchecoslováquia se tornava vice-campeã pela segunda vez em uma Copa do Mundo (1934 e 1962).
Scherer se prepara para bater o pênalti, que seria o terceiro gol tcheco (Imagem: Reprodução / FIFA)
● FICHA TÉCNICA: |
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TCHECOSLOVÁQUIA 3 x 1 IUGOSLÁVIA |
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Data: 13/06/1962 Horário: 14h30 locais Estádio: Sousalito Público: 5.890 Cidade: Viña del Mar (Chile) Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça) |
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TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4): |
IUGOSLÁVIA (W-M): |
1 Viliam Schrojf (G) |
1 Milutin Šoškić (G) |
2 Jan Lála |
2 Vladimir Durković |
5 Svatopluk Pluskal |
5 Vlatko Marković |
3 Ján Popluhár |
3 Fahrudin Jusufi |
4 Ladislav Novák (C) |
4 Petar Radaković |
19 Andrej Kvašňák |
6 Vladica Popović |
6 Josef Masopust |
14 Vasilije Šijaković |
17 Tomáš Pospíchal |
8 Dragoslav Šekularac |
8 Adolf Scherer |
9 Dražan Jerković |
18 Josef Kadraba |
10 Milan Galić (C) |
11 Josef Jelínek |
11 Josip Skoblar |
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Técnico: Rudolf Vytlačil |
Técnicos: Ljubomir Lovrić / Prvoslav Mihajlović |
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SUPLENTES: |
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22 Pavel Kouba (G) |
12 Srboljub Krivokuća (G) |
21 Jozef Bomba |
19 Mirko Stojanović (G) |
12 Jiří Tichý |
13 Slavko Svinjarević |
13 František Schmucker |
15 Željko Matuš |
15 Vladimír Kos |
20 Žarko Nikolić |
16 Titus Buberník |
17 Vojislav Melić |
7 Jozef Štibrányi |
7 Andrija Anković |
9 Pavol Molnár |
21 Nikola Stipić |
20 Jaroslav Borovička |
16 Muhamed Mujić |
10 Jozef Adamec |
18 Vladica Kovačević |
14 Václav Mašek |
22 Aleksandar Ivoš |
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GOLS: |
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48′ Josef Kadraba (TCH) |
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69′ Dražan Jerković (IUG) |
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80′ Adolf Scherer (TCH) |
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84′ Adolf Scherer (TCH) (pen) |
Melhores momentos da partida:
Membro da comissão organizadora conserta a rede após o lance do gol iugoslavo (Imagem: Reprodução / FIFA)