Três pontos sobre… … Cafu jogando no Juventude em 1995
Você sabia que Cafu jogou no Juventude um ano depois de ser campeão do mundo pela Seleção Brasileira?
A Parmalat, patrocinadora do Palmeiras e do Juventude na época, usou o clube gaúcho como uma ponte para burlar uma cláusula que o São Paulo incluiu na venda de Cafu ao Zaragoza.
Três pontos sobre… … Roberto Carlos, “la zurda sinistra”
(Imagem: Acredite ou não)
Roberto Carlos da Silva Rocha nasceu em Garça, cidade do interior paulista, em 10 de abril de 1973.
Roberto Carlos nunca se limitou a marcar, mesmo sendo um lateral esquerdo – responsável por compor o sistema defensivo.
Com o advento do sistema 4-4-2 em meados da década de 1980, os antigos pontas praticamente tiveram seu fim decretado. Com isso, os laterais passaram a ser fundamentais no apoio, criação de jogadas, aproximação, cruzamentos.
Por mais que escola brasileira sempre tenha sido vanguardeira nesse sentido (com Nílton Santos, Carlos Alberto Torres e outros), ela se estabeleceu e fez sucesso na Seleção e no futebol europeu com o surgimento de laterais como Branco, Jorginho, Cafu e do próprio Roberto Carlos.
(Imagem: Band)
Aos 16 anos, Roberto já era titular do União São João. Disputou sua primeira partida pela Seleção Brasileira principal em 1992, aos 18 anos, ainda jogando pelo clube de Araras/SP.
(Imagem: Terceiro Tempo)
No mesmo ano teve um curto período de empréstimo ao Atlético Mineiro, que perdeu todas suas cinco partidas em uma excursão na Europa. RC não conseguiu mostrar todo seu potencial e acabou voltando ao União São João.
(Imagem: Grupo Opinião)
Mas em 1993 foi uma das primeiras estrelas das inúmeras contratações da Parmalat para o Palmeiras. E se tornou lenda no Parque Antártica. Em pouco mais de dois anos, foi bicampeão paulista (1993 e 1994), bicampeão brasileiro (1993 e 1994), além de campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1993.
(Imagem: Calciopédia)
Despertou o interesse da Inter de Milão, onde passou a jogar como ala pela esquerda, meia e até ponta. Disputou apenas uma temporada com a camisa interista, a de 1995/96. Foram sete gols em 34 jogos – insuficientes para convencer o então presidente Massimo Moratti, que o trocou com o Real Madrid pelo já veterano atacante chileno Iván “Bam-Bam” Zamorano.
(Imagem: Getty Images)
Em Madrid, foram onze anos vestindo a camisa merengue e se tornou lenda. Logo em sua primeira temporada, marcou cinco gols e conquistou La Liga. No fim do ano de 1997, foi eleito o segundo melhor jogador do mundo pela FIFA, atrás apenas do fenômeno Ronaldo.
Nesse mesmo ano, marcou o gol de falta contra a França, que a bola fez uma curva que fez os físicos estudarem essa batida na bola.
Em 21/02/1998, marcou sobre o Tenerife um dos gols mais impressionantes da história, chamado de “gol impossível”. No início do segundo tempo, em uma bola esticada rumo à linha de fundo, Roberto disparou, alcançou e mandou um canhão para dentro da área. Inicialmente parecia ser um cruzamento, já que não havia nenhum ângulo para o chute direto. Mas a bola fez uma curva memorável e entrou no ângulo oposto. O gol mais espírita de todos os “gols espíritas”.
O sucesso permaneceu e o lado esquerdo do Madrid permanecia sendo responsável pela grande maioria dos gols do time – que continuou enfileirando títulos: UEFA Champions League (1997/98, 1999/00 e 2001/02), Copa Intercontinental (1998 e 2002), Campeonato Espanhol (1996/97, 2000/01, 2002/03 e 2006/07), Supercopa da Europa (2002) e Supercopa da Espanha (1997, 2001 e 2003).
(Imagem: Fenerbahçe)
Saiu do clube pela porta da frente e foi campeão da Supercopa da Turquia de 2007 pelo Fenerbahçe. Depois, até teve um bom ano pelo Corinthians em 2010, mas fez parte do time que passou a vergonha história caindo na pré-Libertadores para o Tolima em 2011. Logo depois, foi atuar no futebol russo, pelo Anzhi Makhachkala. Anunciou sua aposentadoria dos gramados em 2012 e se tornou auxiliar técnico do time russo. Na sequência, foi técnico dos turcos Sivasspor (2013/14) e Akhisar Belediyespor (2015). Ainda em 2015, foi desbravar o incipiente futebol da Índia, onde foi jogador-treinador do Delhi Dynamos FC em 2015/16 e encerrou definitivamente a carreira.
(Imagem: eotimedopovo.com.br)
Pela Seleção Brasileira, foram 126 jogos e onze gols. Disputou três Copas do Mundo: 1998, 2002 e 2006. Foi vice-campeão e muito criticado em 1998. Se tornou campeão e fundamental no time de 2002. Foi considerado o principal vilão em 2006 (contamos melhor toda a história aqui). Conquistou também os títulos da Copa América de 1997 e 1999, a Copa das Confederações de 1997, a Copa Umbro de 1995 e foi medalhe de bronze nos Jogos Olímpicos de 1996.
É considerado um dos melhores laterais esquerdos de todos os tempos – discutivelmente, para muitos ele é o maior. Recentemente foi nomeado para o segundo time do “Dream Team” histórico da Bola de Ouro da revista France Football.
Roberto Carlos é uma lenda. É história, títulos, gols, explosão, raiva, tudo ao mesmo tempo.
Três pontos sobre… … 11/06/2002 – Dinamarca 2 x 0 França
(Imagem: Pinterest)
● A França era a então campeã mundial e a maior favorita ao título, junto com a Argentina. Estava em uma sequência de títulos, com a Copa do Mundo de 1998, a Eurocopa de 2000 e a Copa das Confederações de 2001. E estavam ainda mais fortes do que quatro anos antes, mais experientes, com opções melhores no meio campo e no ataque.
Se o que faltava para a França em 1998 eram atacantes decisivos, de classe mundial, esse problema não existia mais em 2002. Thierry Henry e David Trezeguet formavam uma dupla de frente letal, que poderia ter a companhia de Sylvain Wiltord – sem contar Nicolas Anelka, que nem foi convocado. A dupla de volantes se completava. Claude Makélélé destruía e Patrick Vieira construía. Robert Pires foi uma ausência bastante sentida, ao ficar fora do Mundial por lesão nos ligamentos do joelho.
Mas o problema maior era a envelhecida defesa. Ainda permaneciam os mesmos nomes que venceram o Brasil na final em 1998: Barthez, Thuram, Lebœuf, Desailly e Lizarazu. Laurent Blanc se aposentou, mas a renovação foi fraca e Frank Lebœuff se tornou titular.
Mas o astro principal ainda era Zinédine Zidane, melhor jogador do mundo no ano anterior. Ele havia sido recém campeão da UEFA Champions League pelo Real Madrid, inclusive fazendo um gol histórico e decisivo na final, em vitória sobre o Bayer Leverkusen por 2 x 1. Pelo seu momento e pelo seu histórico decisivo em Copas, todas as expectativas francesas giravam em torno dele. Porém, como uma peça pregada pelo destino, Zizou se contundiu em um amistoso contra a Coreia do Sul, a quatro dias da estreia na Copa.
(Imagem: Whoateallthepies.tv)
● Os dinamarqueses estavam em sua terceira Copa, sendo a segunda consecutiva. Haviam chegado nas quartas de final em 1998, quando venderam caro a derrota de 3 a 2 para o Brasil. No Grupo 3 das eliminatórias europeias, se classificou invicta em um grupo que contava ainda com a Tchéquia e a Bulgária.
Não tinha mais suas referências históricas, como o goleiro Peter Schmeichel e os irmãos Brian e Michael Laudrup – aposentados. Mesmo assim, tinha a confiança da torcida e da imprensa de seu país. Apesar de não ter grandes estrelas, o time era mais equilibrado do que o de quatro anos antes.
O goleiro Thomas Sørensen substituiu Schmeichel com qualidade. Contava com a bola aérea e com o faro de gol do atacante Ebbe Sand, artilheiro da Bundesliga na temporada 2000/01. Seu parceiro de ataque era o ardiloso Jon Dahl Tomasson. O técnico era Morten Olsen, líbero da grande “Dinamáquina” de 1986. Michael Laudrup era seu auxiliar.
O técnico Morten Olsen armou o time no sistema 4-3-2-1, com um homem a mais no meio para fechar os espaços. O time tinha muita velocidade pelas pontas e jogadas aéreas.
A França jogava em um 4-2-3-1 bem compacto, com liberdade total para os ponteiros e para o maestro Zidane.
Por ser uma situação bastante delicada, Zizou acelerou sua volta, mesmo sentindo dores, para jogar contra os dinamarqueses. Ele entrou em campo e jogou no sacrifício, pois ainda se recuperava de lesão na coxa. Mesmo sentindo dores e estando muito longe de apresentar uma forma física razoável, Zidane ainda seria o melhor da França em campo.
Se Les Bleus vencessem por uma diferença de dois gols, estariam classificados. E exatamente por isso os dois técnicos fizeram mudanças importantes em suas respectivas equipes.
O francês Roger Lemerre mudou sua tradicional defesa, deslocando Lilian Thuram para a zaga e colocando Vincent Candela na lateral direita. Christophe Dugarry ficou com a vaga de Thierry Henry, expulso contra o Uruguai. Zidane entrou na posição de Youri Djorkaeff.
Morten Olsen preferiu rechear seu meio campo para dificultar a criação francesa, com marcação especial em Zidane. Ele tirou seu artilheiro nas eliminatórias, o grandalhão Ebbe Sand, e colocou o jovem volante Christian Poulsen. Niclas Jensen dava juventude e fôlego na lateral esquerda, ao invés do veterano Jan Heintze. Martin Jørgensen era a experiência na ponta, no lugar de Jesper Grønkjær.
O primeiro ataque perigoso foi da França. Wiltord puxou contragolpe rápido e deixou para Trezeguet. Ele invadiu a área pela direita, cortou a marcação do zagueiro (que passou lotado no carrinho) e chutou com a perna boa, a esquerda. Mas Sørensen defendeu bem.
Mas a Dinamarca era mais perigosa com seu jogo vertical e velocidade pelas pontas.
Aos 22 minutos do primeiro tempo, Stig Tøfting cobrou o lateral para a área. A zaga rebateu e Tøfting cruzou na segunda trave. Dennis Rommedahl apareceu sozinho, livre nas costas da marcação para finalizar de primeira, sem qualquer chance para o goleiro Fabien Barthez. Dinamarca 1, França 0.
Logo na sequência, Zidane quase fez um golaço. Ele roubou uma bola na intermediária ofensiva e emendou de primeira. A bola passou muito próxima ao travessão, quase no ângulo.
Depois, Dugarry cruzou da esquerda e Trezeguet cabeceou bem, para o chão, como manda o figurino. Mas Sørensen defendeu de novo.
Os franceses sempre buscavam Zidane, para carimbar as jogadas de ataque. Mas ele estava muito bem marcado, além de estar longe de 100% fisicamente.
Zidane cobrou escanteio e Marcel Desailly cabeceou no travessão.
Aos 22′ da etapa final, Thomas Gravesen fez um belo passe em profundidade para Gronkjaer na ponta esquerda, que cruzou rasteiro de primeira para a área para Tomasson emendar para o gol. Tomasson segurou a camisa de Desailly, mas o árbitro não viu a falta. Com isso, o camisa 9 da Dinamarca apareceu livre na risca da pequena área e bateu de primeira no canto direito do goleiro. Dinamarca 2 a 0.
Mais próximo ao fim da partida, Bixente Lizarazu deixou com Wiltord que avançou e cruzou rasteiro da esquerda para Trezeguet chutar de primeira. A bola explodiu no travessão e não entrou.
Les Bleus criaram algumas chances de gol, mas não acabou fazendo nenhum.
Ficou para a posteridade a imagem de Zidane completamente frustrado e decepcionado com a eliminação.
(Imagem: Trivela)
● Na primeira rodada, a Dinamarca venceu o Uruguai por 2 x 1. Depois, empatou com Senegal por 1 x 1. Confirmou sua classificação em primeiro do grupo ao derrotar a França (2 x 0). Nas oitavas de final, não foi páreo para a Inglaterra e foi eliminada com a derrota por 3 a 0.
A França protagonizou o maior vexame de um campeão na Copa seguinte à da conquista da taça. Foi a pior campanha de um detentor de título mundial em toda a história, além de ser a primeira e única vez que uma seleção então campeã do mundo foi eliminada sem marcar sequer um mísero golzinho na competição.
Três pontos sobre… … 01/06/2002 – Irlanda 1 x 1 Camarões
Lauren e Holland disputavam a bola no meio campo (Imagem: Pinterest)
● Camarões tinha a expectativa de fazer uma campanha de destaque. Os mais delirantes otimistas sonhavam até com o título. Em franca evolução, muitos apostavam que os “Leões Indomáveis” seriam a primeira seleção africana a vencer uma Copa do Mundo. Nos últimos dois anos, haviam conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, além do bicampeonato da Copa Africana das Nações (2000 e 2002).
Eram muitos os veteranos de Mundiais anteriores. De 1994, se mantinham no elenco o goleiro Jacques Songo’o, os zagueiros Rigobert Song e Raymond Kalla, além do volante Marc-Vivien Foé (que faleceria em campo na semifinal da Copa das Confederações de 2003). Dos convocados em 1998, ainda estavam os alas Pierre Womé e Pierre Njanka, os meias Lauren e Salomon Olembé e os atacantes Joseph-Désiré Job, Patrick Mboma e Samuel Eto’o. Dentre os novos nomes, destaque para o ala Geremi, do Real Madrid.
Possuía jogadores de qualidade técnica e experiência no futebol europeu. Como não poderia deixar de ser, a principal força ainda era a perigosa dupla de ataque formada pelo veterano Mboma e o jovem Eto’o.
Mas o ciclo até o Mundial foi tumultuado. De 1998 a 2002, cinco técnicos passaram pelo comando da equipe. Os últimos preparativos foram caóticos, com a viagem até o Japão demorando cinco dias.
Seleção de Camarões no Mundial de 2002 (Imagem: ESPN)
● O ex-zagueiro inglês Jack Charlton se tornou treinador da Irlanda em 1986 e adaptou o time às características de seus jogadores. Com isso, “The Boys in Green” (apelido da seleção) passaram a ser conhecidos pelo futebol em que a determinação tática e a força física se sobrepunham à técnica. Resumindo: normalmente eram poucos gols, tanto a favor quanto contra. Os especialistas consideravam um jogo chato, de futebol feio, mas que era muito difícil ser derrotado. Havia participado de dois Mundiais e passado de fase em ambos: chegou às quartas de final em 1990 (perdeu para a Itália por 1 x 0) e ficou nas oitavas em 1994 (caiu para a Holanda, 2 x 0).
Para o lugar de Charlton, foi escolhido o ex-zagueiro Mick McCarthy. O técnico irlandês havia disputado a Copa de 1990 e ainda se sentia como se estivesse dentro do campo: usava blusa, calções, meiões e chuteiras para comandar seu time à beira do campo. McCarthy assumiu a equipe em 1996 e se deparou com uma equipe envelhecida. Logo, tratou de renovar o elenco e deixar de fora figurinhas carimbadas como o lateral Denis Irwin e o zagueiro Phil Babb. O trabalho não deu resultados de imediato, ficando fora da Copa de 1998 e da Eurocopa 2000.
Nas eliminatórias para a Copa de 2002, a descrença foi enorme ao cair em um grupo com Holanda e Portugal, semifinalistas da Euro 2000. Mas a Irlanda surpreendeu e terminou invicta, com sete vitórias e três empates – eliminando a poderosa Holanda, 4º lugar na Copa de 1998 e com um elenco magnífico. Os verdes ficaram empatados com lusos na liderança do Grupo 2, perdendo apenas no saldo de gols. E por terem feito a melhor campanha entre os segundos colocados nos grupos da qualificatória europeia, se beneficiaram ao disputar a repescagem intercontinental contra o Irã. Vitória por 2 x 0 em Dublin e derrota por 1 x 0 em Teerã colocaram os gaélicos no Mundial.
Já em maio, às vésperas da estreia no Mundial, houve um discussão pública entre o experiente capitão Roy Keane e o técnico McCarthy. O volante do Manchester United fez fortes críticas à preparação da seleção e, principalmente à infraestrutura das instalações da cidade de Saipan, nas Ilhas Marianas do Norte, no meio do Oceano Índico. O treinador considerou como um desrespeito e expulsou Keane da delegação, mantendo sua posição mesmo após o volante ter pedido desculpas. “Enquanto eu continuar como técnico da seleção, ele não volta. Se ele retornasse, eu perderia vários jogadores”, afirmou. A federação irlandesa tentou substituir Roy Keane por Colin Healy na lista dos inscritos, mas a FIFA não autorizou. As regras dizem que a lista só pode ser alterada em caso de lesão de um atleta ou por algum motivo de força maior, como, por exemplo, o falecimento de um familiar.
Com a saída de Roy Keane, o zagueiro Steve Staunton se tornou o capitão. Junto a ele, eram outros três remanescentes da Copa de 1994: o goleiro reserva Alan Kelly, o lateral direito Gary Kelly e o meia direita Jason McAteer. E ainda havia um remanescente de 1990, o veterano atacante grandalhão Niall Quinn (o mais pesado da Copa, com 100 kg – que ficou ausente de 1994 por lesão).
Mesmo com atacantes leves e habilidosos como Robbie Keane e Damien Duff, o time era adepto do estilo “kick and rush”, com foco nas bolas longas, lançamentos e cruzamentos. A técnica que faltava era compensada pela energia que sobrava. Os atletas sempre se doavam ao máximo.
A Irlanda jogava no 4-4-2 clássico, com dois atacantes leves.
O técnico alemão Winfried Schäfer formava sua equipe no sistema 3-5-2, com destaques individuais em todos os setores.
● A primeira partida do Grupo E foi na cidade japonesa de Niigata. Mais de 33 mil pessoas foram ver um duelo escolas de futebol bastante diferentes. E foram mesmo dois tempos muito desiguais, quase que dois jogos distintos. Cada seleção dominou uma etapa.
Considerado favorito, Camarões levou a melhor nos primeiros 45 minutos. Com um futebol mais habilidoso e rápido, conseguiu vencer a sempre bem postada defesa irlandesa.
Aos 39, Geremi abriu na ponta direita para Eto’o, que invadiu a área e passou a bola entre as pernas de Ian Harte. O goleiro irlandês Given se precipitou e saiu mal, deixando o gol livre. E Eto’o deixou a bola para Mboma, mesmo caído, chutar no canto e inaugurar o marcador.
Na etapa final, a Irlanda conseguiu equilibrar o jogo e se impor. O futebol simples e objetivo funcionou e o gol de empate veio aos sete minutos. Given cobrou o tiro de meta. Kevin Kilbane, o melhor em campo, dominou, avançou pela esquerda e cruzou para a área. A defesa africana escorou para o meio e, de fora da área, Matt Holland emendou um balaço de primeira, no cantinho direito do goleiro Alioum Boukar.
E pouco houve nos minutos seguintes. Nada digno de nota.
Por ser o jogo de estreia, o empate acabou sendo um bom resultado para os dois.
Salomon Olembé e Matt Holland disputam bola (Imagem: Masahide Tomikoshi)
No extremo oriente, os “Leões” não foram tão “Indomáveis” assim. Os camaroneses não cumpriram as expectativas exageradamente criadas e ficaram ainda na primeira fase. Após o empate com a Irlanda por 1 x 1, ganhou da Arábia Saudita apenas por 1 x 0. Na rodada final, perdeu por 2 a 0 para a Alemanha em um jogo bastante truculento, chegando a ser violento em alguns momentos.
O principal destaque na quinta participação camaronesa seria fora de campo. Na Copa Africana de Nações de 2002, os atletas usaram uma camisa sem mangas. O modelo recebeu o nome em inglês de sleeveless (literalmente “sem mangas”, em português). O estilo foi utilizado tanto para o uniforme principal, camisa verde, quanto para o reserva, camisa branca. A justificativa da fabricante Puma para a criação do modelo foi a inspiração no basquete, como uma forma para tentar refrescar os atletas. A ideia revolucionária deu “pano pra manga” e não agradou à Fifa, que reprovou o uniforme e proibiu o uso da camisa em março de 2002, três meses antes do início do Mundial. A entidade máxima do futebol alegou que o uniforme fugia das regras de jogo e impossibilitava a colocação de um brasão de uso obrigatório nos jogos da Copa. E para não perder o trabalho de marketing, a Puma contornou a situação desenvolvendo uma camisa com mangas pretas, dando a impressão de que os jogadores estavam mesmo sem mangas.
Curiosamente, o ex-goleiro Thomas N’Kono (titular em 1982 e 1990) era o treinador de goleiros da seleção. Na semifinal da CAN, no começo de 2002, foi preso após praticar magia negra durante a semifinal, quando Camarões venceu Mali por 3 x 0.
Uniforme sem mangas utilizado por Camarões na CAN 2002 (Imagem: Pinterest)
Três pontos sobre… … 12/06/2002 – Suécia 1 x 1 Argentina
(Imagem: UOL)
● A Argentina tentava se reerguer depois da pior crise econômica de sua história. Um dos raros alentos para o país era sua seleção, maior favorita para conquistar o título da Copa do Mundo de 2002 – juntamente com a França, então campeã da Europa e do mundo. Os portenhos fizeram a melhor campanha da história das eliminatórias sul-americanas, com 43 pontos, 13 vitórias, 4 empates e só uma derrota; foram 42 gols marcados e 15 sofridos (melhor ataque e melhor defesa). Terminou 12 pontos à frente do segundo colocado, o Equador. Estava invicta há 18 jogos, desde a derrota por 3 a 1 para o Brasil no Morumbi, em 26/07/2000. Mas, além de vencer, aquele time encantava em campo.
Muito bem treinada por Marcelo “El Loco” Bielsa, a albiceleste era armada em um 3-4-3 com ótima ocupação dos espaços. Era um time completo, com zagueiros fortes e de boa técnica (Pochettino, Samuel e Placente), os melhores laterais da história do país (Zanetti e Sorín), dois dínamos no meio campo (Simeone e Verón), dois pontas rápidos e habilidosos (Ortega e Kily González) e um goleador de respeito (Batistuta). Era uma base que jogava junta há muito tempo na seleção e contava com grande entrosamento.
Mas, justamente no Mundial, quando tudo deveria estar perfeito, o time desandou. No jogo de abertura do Grupo F, teve muito volume de jogo, mas venceu a Nigéria com um magro 1 a 0. Na partida seguinte, deu muitas brechas na defesa e perdeu para a Inglaterra por 1 a 0, com um gol de pênalti (e cheio de raiva) de David Beckham. Na rodada final, precisava vencer a Suécia para se classificar. Se empatasse, precisaria torcer para uma vitória por dois gols dos nigerianos sobre os ingleses.
Com dois técnicos, Lars Lagerbäck e Tommy Söderberg (coisa rara), a Suécia era uma equipe aplicada taticamente e composta de bons valores individuais. Havia um misto de experiência e juventude. Magnus Hedman, Patrik Andersson, Teddy Lučić e Henrik Larsson estavam presentes no elenco de 1994, que levou a seleção “Blågult” ao 3º lugar. E a jovem guarda era muito bem representada por um jovem reserva de 20 anos, chamado Zlatan Ibrahimović.
Nas duas primeiras rodadas, os suecos empataram com a Inglaterra (1 x 1) e venceram a Nigéria (2 x 1). Precisava de um empate contra os argentinos para se classificar.
A Argentina atuava no 3-4-3 consagrado por Marcelo “Loco” Bielsa. Dessa vez, com muitas mudanças na escalação.
A Suécia jogava no sistema 4-4-2 clássico, com muita aplicação tática.
● Insatisfeito com o rendimento dos jogos anteriores, “El Loco” Bielsa mudou quase meio time. Entraram Chamot, Almeyda, Pablo Aimar e Claudio López, nos lugares de Placente, Simeone, Verón e Kily González. Surpreendente mesmo foi a saída do capitão Verón, mesmo não atuando bem nas partidas anteriores.
O jogo começou com cautela de ambos os lados. Mas logo a Argentina começaria a demonstrar a sua superioridade técnica e a ditar o ritmo da partida. Mas os hermanos mostraram que não haviam aprendido com os erros da derrota anterior e continuaram insistindo nas jogadas pela linha de fundo. Até chegavam com perigo, mas erravam na finalização. Nos 90 minutos, foram 57 bolas erguidas na área sueca, consagrando a dupla de zaga Jakobsson e Mjällby.
Aos 13′, Zanetti foi à linha de fundo e cruzou da direita. Na pequena área, Sorín cabeceou o o goleiro Hedman espalmou.
Claudio López perdeu duas chances. Uma aos 29′, quando chutou para fora um cruzamento da direita. A outra foi pouco depois, ao receber na área e chutar de esquerda por cima.
Aimar tabelou com Ortega e deixou Batistuta livre para chutar cruzado. Ele encheu o pé, mas a bola foi para fora, assustando Hedman.
Próximo ao intervalo, o experiente atacante Claudio Caniggia xingou o bandeirinha e foi recebeu o cartão vermelho mesmo sem ter entrado em campo. Caniggia se tornou o primeiro jogador expulso do banco de reservas em toda a história das Copas. Foi praticamente uma viagem turística do veterano pela Ásia, já que não entrou em campo nem um minuto.
(Imagem: Tim De Waele / Getty Images)
O placar foi aberto aos 14 minutos do segundo tempo. Anders Svensson cobrou falta da intermediária com perfeição e acertou o canto direito. O goleiro Pablo Cavallero se esticou todo, chegou a tocar na bola, mas não conseguiu impedir o gol.
Aos 27, Verón (que entrou no lugar de Almeyda) cruzou na área, mas a bola passou por todo mundo.
Um pouco antes, Batistuta tinha dado lugar a Crespo. Uma das maiores críticas feitas a Bielsa e ao seu antecessor, Daniel Passarella, foi o fato de não deixarem Batistuta e Crespo em campo ao mesmo tempo em hipótese alguma. No primeiro tempo, joga “Batigol“; no segundo, entra “Valdanito”. Mesmo precisando fazer gols e contando com dois dos maiores goleadores do mundo na época, os treinadores não mantinham os dois centroavantes juntos em campo.
Sem a bola, os argentinos tinham dificuldade para retomá-la. Uma das ausências mais sentidas em campo foi do experiente zagueiro Roberto Ayala. Ele havia se lesionado no aquecimento contra a Nigéria e nem chegou a jogar durante o torneio.
Na necessidade de atacar a qualquer custo, a Argentina abriu a defesa. A Suécia respondeu nos contra-ataques em velocidade. Andreas Andersson cruzou rasteiro da esquerda. Pochettino tentou cortar e a bola explodiu no peito do goleiro Cavallero, evitando o gol contra.
Aos 32, Larsson partiu sozinho em um contragolpe e foi derrubado por Chamot. O árbitro Ali Bujsaim, dos Emirados Árabes Unidos, interpretou que o atacante sueco simulou a falta e lhe aplicou cartão amarelo. Foi um erro crasso. A falta aconteceu e resultaria na expulsão de Chamot, por ser o último defensor.
Mas a Argentina reagiu. Após cruzamento da esquerda, a zaga sueca afastou e Zanetti chutou forte da entrada da área. Hedman foi bem espalmou para fora.
Depois, Chamot invadiu a área pela direita e chutou de esquerda. A bola bateu no travessão, quicou na linha e não entrou.
Aos 39, Andersson penetrou na área portenha e tocou por cima na saída do goleiro. A bola tocou no travessão e não entrou.
A dois minutos do fim, Ortega entrou na área pela direita e se jogou na disputa com Mattias Jonson. O juiz marcou pênalti. O próprio Ortega bateu no canto esquerdo, Hedman defendeu e Hernán Crespo pegou o rebote para completar para o gol. O detalhe é que Crespo havia invadido a área antes da cobrança. Portanto o gol foi irregular – embora tenha sido validado pela arbitragem.
Mas não havia tempo para mais nada. Ex-favoritos, os argentinos choraram a eliminação ainda em campo.
(Imagem: FIFA)
● Como o jogo entre Inglaterra e Nigéria terminou sem gols, o empate garantiu a Suécia no primeiro lugar do “grupo da morte”.
Nas oitavas de final, a Suécia saiu na frente de Senegal, mas viu os africanos empatarem e vencerem na prorrogação (2 x 1) com um gol de ouro de Henri Camara. Foi uma campanha digna dos suecos. E uma vergonha a dos argentinos.
Marcelo Bielsa continuou como técnico da seleção argentina por mais dois anos e conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, com um time que tinha Roberto Ayala, Javier Mascherano, Kily González, Javier Saviola, Carlos Tévez e outros ótimos nomes.
Três pontos sobre… … 05/06/2002 – Alemanha 1 x 1 Irlanda
(Imagem: Mandatory Credit / INPHO / Andrew Paton)
● A Alemanha viveu certa turbulência na reta final das eliminatórias, quando foi goleada em casa pela Inglaterra por 5 x 1, com direito a um “hat-trick” de Michael Owen. De quebra, perdeu o primeiro lugar no Grupo 9 para o “English Team” no saldo de gols e precisou disputar a repescagem com forte Ucrânia, de Andriy Shevchenko, Sergey Rebrov e outros. Empatou por 1 x 1 em Kiev e venceu bem, por 4 x 1 em Dortmund. A tradicional Alemanha estava na Copa.
Nas eliminatórias, a Irlanda surpreendeu ao bater de frente com os favoritos Portugal e Holanda no Grupo 2. Na primeira rodada, empate com os holandeses em Amsterdã por 2 a 2. Contra os lusos, foram dois empates por 1 a 1. Venceu todas as demais partidas, inclusive contra a Holanda em casa (1 x 0). Terminou com 24 pontos, juntamente com Portugal, mas perdeu a liderança no saldo de gols (26 a 18). A toda-poderosa Holanda, 4º lugar na Copa de 1998, estava eliminada da edição de 2002. E, por ter sido o melhor segundo lugar entre todos os grupos europeus, o Eire disputou a repescagem contra o Irã (terceiro melhor do qualificatório da Ásia). Venceu em Dublin por 2 a 0 e perdeu em Teerã por 1 a 0. A vaga estava garantida.
A Irlanda perdeu seu principal jogador às vésperas do Mundial. O técnico Mick McCarthy expulsou o experiente volante Roy Keane da delegação por este ter feito severas críticas à imprensa sobre as condições de treinamento. O treinador manteve sua postura mesmo após o atleta ter pedido desculpas. “Enquanto eu continuar como técnico da seleção, ele não volta. Se ele retornasse, eu perderia vários jogadores”, afirmou. A Federação Irlandesa tentou de todo jeito substituir Roy Keane por Colin Healy na lista de inscritos, mas não teve autorização da FIFA. Segundo as regras, só se pode alterar a lista definitiva em caso de lesão de um atleta ou por algum motivo de força maior – como a morte de um familiar, por exemplo. A Irlanda ficou com um jogador a menos na delegação.
Ex-zagueiro, o técnico Mick McCarthy havia participado como jogador da Eurocopa de 1988 e da Copa do Mundo de 1990 (era capitão) – primeiras participações do país nas fases finais das competições. Mas o treinador parecia não ter se acostumado à aposentadoria dos campos. Curiosamente, ele se vestia a caráter: blusa, calções, meiões e até chuteiras para comandar seu time à beira do gramado.
O ex-centroavante Rudi Völler escalou a Alemanha no 3-5-2, apostando no talento de Michael Ballack (que jogou com dores, no sacrifício) e no faro de gol de Miroslav Klose.
O ex-zagueiro Mick McCarthy formou a Irlanda no sistema 4-4-2. Sem a bola, Damien Duff recuava para formar o 4-5-1. Com a bola, a aposta era a velocidade de Robbie Keane.
● Na segunda rodada do Grupo E, a partida entre Alemanha e Irlanda praticamente se resumiu no jogo aéreo. E o bombardeio aéreo alemão, que pulverizou a defesa saudita, voltou a funcionar contra a Irlanda.
Michael Ballack recebeu na intermediária, ergueu a cabeça e cruzou de esquerda. Foi um “cruzamento de GPS”, bem no ponto futuro, onde Miroslav Klose (sempre ele!) completou de cabeça, da marca do pênalti. Foi o quarto gol do centroavante no Mundial – o quarto de cabeça (ele viria a se tornar o maior artilheiro da história das Copas doze anos depois). Comemoração clássica do camisa 11, com uma cambalhota no ar.
No lance, o lateral esquerdo Ian Harte falhou na marcação, ao não acompanhar a arrancada de Klose. Harte também havia falhado na estreia contra Camarões.
(Imagem: Martin Rose / Bongarts / Getty Images)
Cinco minutos depois, Damien Duff cruzou da direita, a zaga alemã rebateu e Matt Holland emendou de primeira. A bola passou raspando à trave direita. Foi uma jogada muito parecida com o gol que o camisa 8 marcou contra os camaroneses no jogo anterior.
A Alemanha quase chegou ao segundo gol. Carsten Jancker desviou uma bola perigosa, mas o goleiro Shay Given estava atento.
Apesar do predomínio na etapa inicial, os alemães não conseguiram transformar o domínio em maior vantagem no marcador. Apesar disso, conseguiram fechar bem o meio e limitar a criação de jogadas da equipe irlandesa.
Mas seria diferente no segundo tempo. A Irlanda cresceu sob a liderança técnica de Robbie Keane e teve 58% de posse de bola. Passou a pressionar mais em busca do empate, mas desperdiçava algumas chances claras de gol.
Aos 11′, Steve Finnan cruzou da direita. A bola desviou na defesa germânica e sobrou para Duff, que finalizou. Mas Oliver Kahn fez uma defesa excepcional, à queima-roupa, fechando todos os espaços. Se contra a Arábia Saudita, Kahn tocou na bola apenas para bater tiro de meta, contra os britânicos ele teve muito trabalho. Fez três defesas salvadoras.
Em um contra-ataque, a Alemanha perdeu uma grande chance para definir o placar. Bernd Schneider deixou com Jancker, que encobriu Given, mas a bola foi fraca e para fora. Finnan já estava na cobertura se a bola tivesse tomado o rumo do gol.
Logo depois, Torsten Frings ganhou no corpo de Kevin Kilbane e cruzou bem da direita. Klose subiu sozinho, mas cabeceou por cima.
O empate demorou, mas aconteceu e fez justiça ao placar.
Aos 47 minutos do segundo tempo, Finnan deu um chutão para a frente. O gigante Niall Quinn ganhou no alto de Christoph Metzelder e desviou de cabeça. Robbie Keane invadiu em velocidade entre Thomas Linke e Carsten Ramelow e finalizou forte já de dentro da pequena área. O monstro Oliver Kahn fechou o ângulo e desviou a bola, que ainda bateu na trave antes de entrar.
Um gol chorado. Só assim mesmo para fazer um gol naquele momento nessa parede que era Oliver Kahn. Ele era um goleiro espetacular e teve seu auge na Copa de 2002.
(Imagem: Andy Hooper / Daily Mail)
● O empate impediu a classificação antecipada da Nationalelf e fez os alemães terem um choque de realidade. Nem tudo eram maravilhas, como a goleada sobre os sauditas fizera parecer. As lesões tiraram jogadores importantes do elenco, que sentia falta da criatividade de Mehmet Scholl e Sebastian Deisler, além da segurança da experiente dupla de zaga Christian Wörns e Jens Nowotny. Os críticos da imprensa alemã eram ferozes com o trio defensivo: Thomas Linke era chamado de lento, Christoph Metzelder de inexperiente e Carsten Ramelow de meio-campista medíocre improvisado como líbero. O centroavante Carsten Jancker, autor de “incríveis” zero gols na Bundesliga pelo Bayern de Munique, cumpria apenas uma função tática de atrair a marcação e era estéril na frente do gol adversário. Críticas justas, apesar da acidez.
A Alemanha ainda venceria Camarões (2 x 0), se classificando em primeiro do grupo. Passaria ainda pelo Paraguai (1 x 0, nas oitavas de final) e Estados Unidos (1 x 0, nas quartas). Na semifinal, venceu a co-anfitriã (e surpresa) Coreia do Sul também por 1 a 0 e chegou à final contra o Brasil, quando perdeu por 2 a 0 e adiou o sonho do tetra.
Na rodada final, a Irlanda bateu a Arábia Saudita por 3 a 0 e se classificou em segundo lugar da chave, com cinco pontos. Curiosamente, a Irlanda passou de fase em todas as Copas que disputou (1990, 1994 e 2002). Nas oitavas de final, os celtas venderam muito caro a eliminação para a Espanha, após empate por 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação. Chegou a perder um pênalti durante os 90 minutos. Mas, no fim, perdeu nos pênaltis por 3 a 2 e saiu de cabeça erguida, de forma invicta.
Três pontos sobre… … 03/06/2002 – Brasil 2 x 1 Turquia
O Fenômeno estava de volta (Imagem: O Globo)
● Campeã da Copa do Mundo de 1994, a Seleção Brasileira sofreu um duro golpe ao perder de 3 a 0 para a França na final do Mundial de 1998. Mesmo contando com uma geração espetacular e craques do nível de Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos, a preparação para 2002 não foi nada tranquila. Zagallo deu lugar a Vanderlei Luxemburgo e o Brasil venceu e convenceu na Copa América de 1999, mas depois começou a oscilar. Ronaldo se lesionou seriamente e ficou mais de dois anos sem jogar.
Luxa foi demitido depois do fiasco nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. Os maus resultados na Copa das Confederações de 2001 derrubou também Emerson Leão, seu sucessor. Luiz Felipe Scolari começou mal, sendo eliminado na Copa América de 2001 pela fraca seleção de Honduras. No fim do ano, a duras penas, Felipão contou com a tabela favorável e a estrela de Luizão para garantir a classificação para a Copa de 2002.
E no ano da Copa, o treinador precisou reconstruir o time à sua maneira. Deu chances a Anderson Polga, Gilberto Silva, Kléberson e Kaká e montou a famosa “Família Scolari”, com jogadores de sua confiança. Com isso, deixou de fora estrelas como Romário, Djalminha, Alex, Zé Roberto, Juan e outros.
Apesar das críticas e do forte apelo popular, Felipão insistiu em deixar Romário de fora das convocações, depois que o “Baixinho” pediu dispensa da Copa América de 2001, alegando que faria um tratamento no olho, mas atuou pelo Vasco em uma excursão caça-níquéis no México. Romário pediu desculpas e chorou em entrevista coletiva, mas não convenceu o treinador, que preferiu convocar Luizão – fundamental na reta final das Eliminatórias.
Apostando no forte e constante apoio dos laterais Cafu e Roberto Carlos, Scolari os transformou em alas e escalou a Seleção no sistema 3-5-2. O esquema não trazia boas recordações para os brasileiros, que se recordavam do fiasco da Seleção em 1990, comandada por Sebastião Lazaroni. Mas, diferente de doze anos atrás, dessa vez o time ficou mais sólido na defesa e continuou forte no ataque.
No sorteio do chaveamento da Copa, o Brasil caiu no Grupo C, com adversários teoricamente fáceis, como a pouco tradicional Turquia, a estreante China e a fraca Costa Rica.
Seleção turca na Copa do Mundo de 2002 (Imagem: UOL)
● A única participação da Turquia em Copas do Mundo havia sido em 1954, quando caiu em um grupo com Hungria, Alemanha Ocidental e Coreia do Sul. Perdeu na estreia para a Alemanha por 4 a 1 e venceu a Coreia do Sul por 7 a 0. Devido ao regulamento, não enfrentou a Hungria e precisou disputar um jogo-desempate, novamente contra os alemães – perdeu por 7 a 2 e foi eliminada na primeira fase.
Mas o histórico recente era bom, muito graças àquela geração que colocava seu país novamente em um Mundial 48 anos depois. Do elenco de 2002, sete atletas haviam disputado a Eurocopa de 1996 e 14 estavam na Euro 2000. A espinha dorsal da equipe era o Galatasaray campeão da Copa da UEFA na temporada 1999/2000 – onze dos 23 convocados haviam participado daquela que é a maior conquista de um clube turco.
Era um time muito bem treinado pelo ex-goleiro Şenol Güneş. Além do ótimo conjunto, haviam destaques individuais, como o forte centroavante Hakan Şükür (da Inter de Milão), o goleiro Rüştü Reçber (que jogaria no Barcelona depois do Mundial) e o meia Yıldıray Baştürk (vice-campeão da UEFA Champions League na temporada 2001/02, com o Bayer Leverkusen). Ao fim da Copa, três turcos foram nomeados para a seleção do torneio: o goleiro Rüştü, o zagueiro Alpay Özalan e o meia-atacante Hasan Şaş.
Felipão apostou no sistema 3-5-2, para liberar o avanço dos laterais. A seleção ficou mais sólida na defesa e continuou forte no ataque. Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo se revezavam na criação e no ataque.
Şenol Güneş espelhava o esquema brasileiro no 3-5-2. As apostas turcas eram na defesa bem postada, na criatividade de Yıldıray Baştürk, na velocidade de Hasan Şaş e no oportunismo de Hakan Şükür.
● Era um dia incomum. Em plena segunda-feira, dia 03 de junho, o Brasil acordou mais cedo. Era a estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002, na cidade de Ulsan, na Coreia do Sul. Devido ao fuso-horário, a partida ocorreu em um horário bastante incomum para nós: seis horas da manhã. Mas valeu a pena ter acordado mais cedo.
Mas nem tudo começou bem. Na véspera da estreia, o então capitão Émerson deslocou o ombro nos treinos, jogando como goleiro. Um desfalque importante para o sistema idealizado por Scolari.
Todavia, como costuma acontecer, a Seleção entrou em campo com total favoritismo. Mas encontrou um duro adversário e enfrentou muitas dificuldades para vencer. O nervosismo é natural na estreia, mas o Brasil começou jogando muito bem. Nos primeiros 15 minutos, dominou totalmente o adversário, embora não tenha conseguido transformar em gol nenhuma das chances criadas. Destaque para o goleiro Rüştü Reçber, que fechou a baliza. Não estava fácil passar pelo goleiro turco.
Ronaldo pedalou pela esquerda e cruzou para Rivaldo cabecear firme. Rüştü foi pego no contrapé, mas fez uma defesa dificílima.
Logo após, Rivaldo chutou da entrada da área, mas o goleiro turco defendeu em dois tempos.
Depois disso, a Turquia pareceu se livrar do nervosismo da estreia e passou a equilibrar as ações. Edmílson fez pênalti em Hasan Şaş, não marcado pelo árbitro.
Aos 47 minutos do primeiro tempo, a Turquia abriu o placar. Yıldıray Baştürk carregou a bola pela direita e inverteu o jogo. Na esquerda, Hasan Şaş apareceu nas costas de Cafu e chutou forte, de primeira, no alto do gol de Marcos.
Ronaldo se esticou todo para marcar o primeiro gol brasileiro na Copa (Imagem: Getty Images)
● Na segunda etapa, o Brasil foi em busca do empate. Rivaldo entrou na área, driblou Rüştü, mas foi travado na hora do chute.
O empate brasileiro veio aos cinco minutos do segundo tempo. Juninho Paulista abriu para Rivaldo na esquerda. O camisa 10 ergueu a cabeça e cruzou para a pequena área. Ronaldo Fenômeno apareceu voando no espaço livre entre os zagueiros e o goleiro e usou todo seu oportunismo, esticando a perna no ar para finalizar com a ponta do pé. Um malabarismo, uma acrobacia, que só poderia ser feita por quem estivesse 100% fisicamente. Foi o primeiro gol de Ronaldo pela Seleção em mais de mil dias. O Fenômeno estava de volta.
Mesmo que de forma desordenada, o Brasil continuou atacando. Ronaldo passou por dois adversários, mas chutou fraco e Rüştü defendeu.
Aos 17′, Cafu tocou para Juninho, livre dentro da área. Ele chutou e Rüştü impediu o segundo gol canarinho. Após a cobrança de escanteio, Rivaldo foi lançado e marcou de cabeça, mas o árbitro anulou o gol. Uma decisão polêmica.
A Turquia também teve as suas chances. Em cobrança de falta ensaiada, Marcos rebateu e voou para pegar o rebote.
Pareceria mesmo que o Brasil seria frustrado com um empate no jogo de estreia. Mas, aos 41 minutos, a Turquia errou a saída de bola. Luizão (que tinha acabado de entrar no lugar de Ronaldo) ganhou de Alpay Özalan na velocidade e foi derrubado na meia-lua. O brasileiro seguiu se arrastando até cair dentro da área. O árbitro sul-coreano Kim Young-joo expulsou corretamente Alpay, mas marcou erradamente o pênalti. Na cobrança, Rivaldo bateu firme, no canto esquerdo de Rüştü e marcou o gol do alívio e da vitória brasileira.
Já nos acréscimos, quase sempre discreto Rivaldo protagonizou um lance ridículo. Enquanto o brasileiro se preparava para cobrar um escanteio, Hakan Ünsal chutou uma bola na coxa do camisa 10 brasileiro, que encenou uma pancada no rosto. O árbitro deu cartão vermelho para Ünsal, que foi o centésimo atleta expulso em uma Copa. Mas o brasileiro acabou multado pela FIFA em US$ 7,5 mil por atitude anti-desportiva.
Luizão sofreu falta fora da área, mas a arbitragem assinalou pênalti (Imagem: Extra / Globo)
● “Ganhar da Turquia na primeira fase foi muito importante, o time deles era bom e saímos pendendo. Acho que nessa partida mostramos força e aonde poderíamos ir. Virar aquela partida foi inesquecível.” — Ronaldo
“A estreia é pior que a final. Ali é que você sabe como está. Se o primeiro jogo for ruim, parece que o caminho fica muito mais longo.” — Marcos
Apesar da boa estreia da Turquia, seria injusto que o Brasil não vencesse a partida, principalmente pelo volume de jogo e pelas chances criadas. Mas a verdade é que as decisões do juiz interferiram demais no resultado a favor da Seleção Brasileira.
Após a partida, os atletas turcos argumentaram que foram prejudicados pela arbitragem. Criticados pela imprensa de seu país, os jogadores decidiram que só concederiam entrevistas à imprensa estrangeira – o que ocorreu até o fim da Copa.
Os turcos perderam a batalha, mas se manteriam até o fim da guerra. Ao decorrer da Copa, mostraram um excelente desempenho. Nas partidas seguintes, a Turquia empatou com a Costa Rica em 1 x 1 e venceu a China por 3 x 0. Nas oitavas, bateu o Japão por 1 x 0. Senegal foi o adversário das quartas, só derrotado na prorrogação (1 x 0) com um gol de ouro de İlhan Mansız. Na semifinal, perdeu novamente para o Brasil (1 x 0). Conquistou o histórico 3º lugar no Mundial ao vencer a Coreia do Sul por 3 x 2. Nessa partida, Hakan Şükür marcou o gol mais rápido da história das Copas, aos 10,8 segundos. A Turquia é a única seleção a ter vencido dois anfitriões em uma mesma edição de Mundial (Japão e Coreia do Sul).
Na sequência, o Brasil goleou a China por 4 a 0 e a Costa Rica por 5 a 2. Nas oitavas de final, sofreu para vencer a Bélgica por 2 a 0. Nas quartas, contou com a genialidade de Ronaldinho Gaúcho para virar o placar contra a Inglaterra e vencer por 2 a 1. Nas semifinais, o reencontro com a Turquia só foi decidido com um bico genial de Ronaldo e vitória por 1 a 0. Na decisão, o Brasil foi mais consistente e venceu a Alemanha por 2 a 0, com dois gols de Ronaldo, artilheiro do certame com oito gols.
Rivaldo foi decisivo para a vitória brasileira (Imagem: Getty Images)
No segundo jogo da chave, Dinamarca e Uruguai se enfrentaram no dia 1º de junho em Ulsan.
Internamente, os jogadores da Celeste Olímpica queriam vingança pela derrota por 6 a 1 na Copa de 1986. Aquele massacre sofrido ainda estava entalado na garganta.
Bicampeões, os uruguaios estavam ausentes de um Mundial desde 1990. Por isso, não foi cabeça de chave e caiu em um grupo difícil.
Os dinamarqueses estavam em sua terceira Copa, sendo a segunda consecutiva. Haviam chegado nas quartas de final em 1998, quando venderam caro a derrota de 3 a 2 para o Brasil.
O técnico Morten Olsen armava seu time no 4-4-2, com muita velocidade pelas pontas e jogadas aéreas.
Víctor Púa armava o Uruguai no sistema 4-4-2 em losango, com liberdade para Álvaro Recoba circular e criar.
● Foi uma partida de muito equilíbrio, onde as duas equipes se alternavam no ataque.
As maiores armas dos charruas eram a visão de jogo e a bola parada de Álvaro Recoba, além da velocidade de Darío Silva. Os vikings apostavam mais nos cruzamentos para a área.
A primeira chance foi dos europeus. Aos seis minutos, Dennis Rommedahl arriscou de longe, mas para fora.
No minuto seguinte, Recoba cobrou falta pelo lado direito e a bola passou rente à trave, assustando o ótimo goleiro Thomas Sørensen.
O jogo era “lá e cá”. Aos 11′, a bola veio da direita, Ebbe Sand desviou e a bola bateu na trave.
Aos 39, Recoba – fonte da inspiração Celeste – fez boa jogada e cruzou para Silva, que cabeceou. A bola iria em direção ao gol, mas a zaga tirou.
O lance seguiu e Gustavo Méndez segurou Tomasson na área. Pênalti ignorado pelo árbitro Saad Mane, do Kuwait.
No finzinho da etapa inicial, Jesper Grønkjær e Jon Dahl Tomasson tabelaram pelo alto. O camisa 8, nascido na Groenlândia, recebeu na esquerda e cruzou rasteiro. Na risca da área, Tomasson se antecipou à marcação e finalizou de primeira para abrir o placar.
A Dinamarca teve apenas o intervalo para comemorar. Logo no reinício, aos dois minutos, Recoba cobrou escanteio e a zaga rebateu. Pablo García aproveitou a sobra na meia-lua, fez embaixadinhas e tocou no alto para Darío Rodríguez. Sem deixar a bola cair, o camisa 6 emendou de primeira e mandou um foguete com efeito, no ângulo de Sørensen. Um golaço! Talvez o mais bonito da Copa de 2002.
O gol encheu os uruguaios de esperança. Aos 19, Recoba chutou de longe, mas o goleiro defendeu.
Os dinamarqueses tinham mais posse de bola no campo ofensivo, mas não conseguiam finalizar.
Mas, a sete minutos do fim, Martin Jørgensen roubou a bola na saída de jogo do Uruguai e cruzou da esquerda. Tomasson apareceu entre os zagueiros e cabeceou firme. A bola ainda bateu no travessão antes de entrar, sem chance de defesa para o goleiro Fabián Carini. Jon Dahl Tomasson foi mais que decisivo na vitória dos nórdicos.
(Imagem: Pinterest)
● Nos jogos seguintes, o Uruguai empatou com a França por 0 a 0 e com Senegal por 3 a 3, sendo eliminado ainda na primeira fase.
A Dinamarca empatou com Senegal por 1 x 1 e venceu a França (com um combalido Zinédine Zidane) por 2 x 0. Nas oitavas de final, não foi páreo para a Inglaterra e foi eliminada com a derrota por 3 a 0.
(Imagem: Reuters)
● FICHA TÉCNICA:
DINAMARCA 2 x 1 URUGUAI
Data: 01/06/2002
Horário: 18h00 locais
Estádio: MunsuCupStadium
Público: 30.157
Cidade: Ulsan (Coreia do Sul)
Árbitro: Saad Mane (Kuwait)
DINAMARCA (4-4-2):
URUGUAI (4-4-2):
1 Thomas Sørensen (G)
1FabiánCarini (G)
6 Thomas Helveg
2GustavoMéndez
4MartinLaursen
14 Gonzalo Sorondo
3RenéHenriksen
4PaoloMontero (C)
5Jan Heintze (C)
6Darío Rodríguez
2StigTøfting
5Pablo García
7ThomasGravesen
8Gustavo Varela
8JesperGrønkjær
7GianniGuigou
19 Dennis Rommedahl
20 Álvaro Recoba
9Jon Dahl Tomasson
9Darío Silva
11 EbbeSand
13 Sebastián“Loco” Abreu
Técnico: Morten Olsen
Técnico: Víctor Púa
SUPLENTES:
16 Peter Kjær (G)
12 Gustavo Munúa (G)
22 JesperChristiansen (G)
23 Federico Elduayen (G)
20 KasperBøgelund
3 Alejandro Lembo
13 Steven Lustü
19 Joe Bizera
12 Niclas Jensen
22 Gonzalo de los Santos
17 Christian Poulsen
16 Marcelo Romero
23 Brian Steen Nielsen
10 Fabián O’Neill
15 Jan Michaelsen
17 Mario Regueiro
14 Claus Jensen
15 Nicolás Olivera
10 Martin Jørgensen
21 Diego Forlán
21 Peter Madsen
11 Federico Magallanes
18 Peter Løvenkrands
18 Richard Morales
GOLS:
45′ Jon Dahl Tomasson (DIN)
47′ Darío Rodríguez (URU)
83′ Jon Dahl Tomasson (DIN)
CARTÕES AMARELOS:
25′ Gustavo Méndez (URU)
34′ Jan Heintze (DIN)
51′ Martin Laursen (DIN)
SUBSTITUIÇÕES:
58′ Jan Heintze (DIN) ↓
Niclas Jensen (DIN) ↑
70′ JesperGrønkjær (DIN) ↓
Martin Jørgensen (DIN) ↑
80′ Álvaro Recoba (URU) ↓
Mario Regueiro (URU) ↑
87′ Darío Rodríguez (URU) ↓
Federico Magallanes (URU) ↑
88′ Sebastián “Loco” Abreu (URU) ↓
Richard Morales (URU) ↑
89′ EbbeSand (DIN) ↓
Christian Poulsen (DIN) ↑
Darío Silva, entre Ebbe Sand e Stig Tøfting (Imagem: Reuters)
Três pontos sobre… … 07/06/2002 – Inglaterra 1 x 0 Argentina
(Imagem: AP Photo / Ricardo Mazalan)
● Argentina e Inglaterra era o jogo mais esperado da primeira fase da Copa do Mundo de 2002. Era o reencontro das duas grandes rivais históricas, em confrontos que extrapolam o futebol (como em 1966 e 1986).
O último duelo oficial tinha sido nas oitavas de final da Copa anterior, em 1998. Naquela ocasião, a Inglaterra teve de jogar todo o segundo tempo e a prorrogação com um homem a menos, já que David Beckham foi expulso por chutar Diego Simeone, revidando uma entrada violenta e a provocação do argentino. Mesmo assim, o English Team segurou o empate por 2 x 2 e levou a partida para os pênaltis, mas perdeu por 4 x 3, com uma grande atuação do goleiro albiceleste Carlos Roa. Beckham foi responsabilizado pela derrota de 1998, mas agora era o capitão que liderava seu país à revanche.
Quatro anos depois, ingleses e argentinos renovam sua rivalidade sob os olhos atentos do melhor árbitro do mundo, o italiano Pierluigi Collina. Beckham e Simeone estavam mais uma vez cara a cara. Era visível a animosidade entre os dois, mas claramente eles queriam vencer na bola e não de outra forma.
O sueco Sven Gorän Eriksson, técnico da Inglaterra, tinha várias preocupações antes do Mundial, principalmente de ordem médica. No dia 10 de abril, David Beckham sofreu uma falta feia em um jogo do Manchester United e fraturou um osso metatarso do pé esquerdo (lesão semelhante à de Neymar em 2018) e se tornou dúvida para a Copa. Duas semanas depois, foi a vez do lateral Gary Neville, que sofreu a mesma lesão. Para completar, dez dias antes do início da Copa, o meio campista Danny Murphy teve a mesma fratura no amistoso entre Inglaterra e Coreia do Sul. Beckham fez uma terapia de reconstrução óssea (também aplicada em cavalos de corrida) e conseguiu se recuperar a tempo. Já os outros dois jogadores ficaram mesmo fora da lista final para o Mundial.
A seleção argentina era a grande favorita à conquista do Mundial de 2002. Estava invicta há quase dois anos e tinha quebrado o recorde de melhor campanha da história das eliminatórias sul-americanas. Se já não bastasse, contava com craques de nível mundial como Gabriel Batistuta, Hernán Crespo, Juan Sebastián Verón, Ariel Ortega, Javier Zanetti, Pablo Aimar e outros. O técnico Marcelo “Loco” Bielsa se deu ao luxo de desprezar Juan Román Riquelme, um dos melhores armadores das últimas décadas.
Claramente o Grupo F era o temido “Grupo da Morte”. A Argentina vinha de uma vitória tranquila por 1 a 0 sobre a Nigéria e precisava apenas de uma vitória para se garantir na próxima fase. A Inglaterra tinha empatado com a Suécia por 1 x 1 e precisava vencer.
A Inglaterra jogava no 4-4-2 ao seu estilo mais tradicional.
A Argentina atuava no 3-4-3 consagrado por Marcelo “Loco” Bielsa.
● A partida começou disputada, com muitas bolas divididas. A Argentina abusava das faltas duras no meio campo, impedindo a criação de jogadas do adversário.
Logo aos sete minutos, o lateral Juan Pablo Sorín invadiu a área pela esquerda, puxou a marcação e tocou de calcanhar para Kily González chutar forte de primeira, mas a bola saiu à esquerda do goleiro inglês David Seaman.
Apesar do domínio territorial argentino, quem esteve mais perto do gol foi o time inglês.
Aos 17′, Hargreaves driblou Javier Zanetti e lançou Michael Owen na entrada da grande área. O zagueiro Walter Samuel foi mais rápido e controlou bem a jogada.
Beckham era o mestre das bolas paradas inglesas, que levavam perigo a qualquer adversário, mas o jogador inglês mais temido era mesmo Michael Owen, o “Wonderkid” (“Garoto Maravilha”). Na Copa de 1998, ele já tinha infernizado a zaga argentina e feito um gol de placa, arrancando da intermediária e passando por dois adversários antes de finalizar.
Agora, aos 24 minutos ele apareceu pela primeira vez. Emile Heskey roubou a bola de Verón e Hargreaves fez um belo lançamento rasteiro, pegando Owen de frente para a defesa. Ele entrou na área e chutou rasteiro, cruzado. A bola foi na trave direita do goleiro Cavallero.
No minuto seguinte, a Argentina voltou a pressionar. Kily González cruzou e Gabriel Batistuta cabeceou para uma boa defesa de Seaman.
Aos 43′, Michael Owen mostrou que estava mesmo inspirado. Ele entrou na área pelo lado esquerdo e driblou Pochettino, que o derrubou. Collina assinalou pênalti. Beckham bateu forte, no meio do gol, fazendo o que seria o único gol do jogo.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
Enquanto isso, o técnico argentino “El Loco” Bielsa caminhava inquieto de um lado para outro no banco de reservas. No intervalo, ele trocou o burocrático Verón pelo arisco Pablo Aimar, que passou a ser a peça central em busca do empate.
O English Team manteve o ritmo na etapa final. Logo aos 4′, Paul Scholes chutou forte de fora da área, mas Cavallero defendeu bem.
Scholes era o principal responsável pela armação das jogadas no meio campo inglês. Ele fez lançamento longo para a área e o veterano Teddy Sheringham recebeu livre, emendando um sem-pulo que obrigou Cavallero a fazer uma defesa dificílima.
Com a vantagem, os britânicos passaram a jogar somente nos contra-ataques, aproveitando principalmente a precisão dos passes de Scholes e a velocidade de Trevor Sinclair (que tinha entrado no lugar do lesionado Hargreaves na primeira etapa).
A Argentina insistia em jogadas aéreas improdutivas. Quando a zaga inglesa não afastava, o goleiro Seaman pegava.
Aos 32′, a albiceleste perdeu sua melhor chance. Após a cobrança de um escanteio da direita, Mauricio Pochettino subiu mais que a zaga inglesa e cabeceou forte, no meio do gol. David Seaman fez uma grande defesa.
Mas a Argentina já estava sem forças para reagir.
Após o apito final, David Beckham foi quem mais comemorou a vitória, como uma espécie de vingança pessoal diante do que lhe aconteceu em 1998.
O resultado deixou os argentinos em situação delicada, precisando ganhar da Suécia para passar para a próxima fase.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
● Essa era a primeira vitória inglesa sobre a Argentina em Copas do Mundo desde 1966.
Era também o fim da invencibilidade de 18 jogos do técnico argentino Marcelo Bielsa. A última derrota dos portenhos havia sido no dia 26 de julho de 2000, pelas Eliminatórias, quando o Brasil venceu por 3 a 1.
A Inglaterra fez uma campanha digna. Empatou com a Suécia por 1 a 1, venceu a Argentina por 1 a 0 e empatou com a Nigéria por 0 a 0. Nas oitavas de final, fez um ótimo primeiro tempo e venceu a Dinamarca por 3 a 0. Nas quartas, parou no Brasil, com um show de Ronaldinho Gaúcho, e perdeu de virada por 2 a 1.
A Argentina acabou caindo mesmo na primeira fase. Após vencer a Nigéria por 1 a 0, perdeu para os ingleses por 1 a 0. No empate com a Suécia por 1 x 1, os argentinos não conseguiram a classificação mesmo com a ajuda da arbitragem no gol de empate. O juiz emiradense Ali Bujsaim não marcou uma falta clara em Henrik Larsson, deu um pênalti inexistente para os albicelestes e ainda ignorou o gol irregular de Hernán Crespo, que tinha invadido a área antes da cobrança, na sequência do lance. Ao final do jogo, os argentinos choraram a eliminação ainda em campo.
Curiosamente, juntamente com a delegação da seleção inglesa, viajou também um famoso cabeleireiro de Londes para acompanhar os atletas no Mundial: Scott Warren. Para atender a todos, ele veio acompanhado de mais três cabeleireiros de sua equipe. O único que não utilizou os serviços de Warren foi David Beckham, que tinha seu cabeleireiro particular, Aidan Phelan.
Três pontos sobre… … 05/06/2002 – Estados Unidos 3 x 2 Portugal
Luís Figo em disputa de bola com Brian McBride (Imagem: Pinterest)
● Portugal voltava a disputar a Copa após 16 anos, com status de grande sensação. Tinha uma equipe de nível mundial, bastante qualificada. Foi semifinalista da Eurocopa dois anos antes e agora queria dar um passo além, no maior palco do mundo.
Onze anos depois de faturar pela segunda vez seguida o Mundial Sub-20, os lusos chegavam à Copa de 2002 tendo em sua constelação várias estrelas daquela geração vencedora: Luís Figo (melhor jogador do planeta em 2001), Rui Costa, João Vieira Pinto, Jorge Costa, Abel Xavier e Nuno Capucho. Além deles, haviam outros jogadores experientes e vencedores, como: Vítor Baía, Fernando Couto, Paulo Sousa, Pauleta, Sérgio Conceição, e os jovens Jorge Andrade e Nuno Gomes. Eram atletas que tinham potencial para surpreender e até sonhar com o título mundial. Mas para muitos, seria a última Copa, devido à idade.
Os acontecimentos de 11 de setembro do ano anterior deixaram os Estados Unidos e seus cidadãos em alerta máximo. Os jogadores de futebol não eram exceção e medidas de segurança foram ainda mais intensificadas para a chegada da seleção americana à Coreia do Sul. Um pequeno exército cuidou de Bruce Arena e seus comandados durante toda sua estadia.
Após uma campanha digna em 1994, quando sediou o torneio, os Estados Unidos tinham decepcionado e terminado em último entre os 32 participantes na Copa de 1998. Agora, a missão dos americanos era fazer uma campanha digna e, com uma grande dose de sorte, passar de fase. Mas eles quase não nutriam esperanças em uma chave com o favorito Portugal, a co-anfitriã Coreia do Sul e a historicamente forte Polônia. Assim, ninguém esperava que os Estados Unidos fossem oferecer resistência.
Bruce Arena escalou os Estados Unidos em um 4-4-2, com duas linhas de quatro.
Portugal jogava também jogava em uma espécie 4-4-2 que se alternava. Quando se defendia, era um 4-1-4-1, com Petit fechando no meio e João Pinto recuando. Quando atacava, se tornava um 4-1-3-2, com Sérgio Conceição e Luís Figo avançando pelas pontas, Rui Costa armando pelo meio e João Pinto se tornando atacante.
● Os 37.306 presentes no estádio de Suwon viram um dos melhores confrontos do campeonato.
A verdade é que Portugal estreou contra os Estados Unidos pensando no primeiro lugar do grupo D. Mas enquanto os lusos pensavam, os americanos jogavam.
Quatro minutos depois que o árbitro equatoriano Byron Moreno deu o apito inicial, os Estados Unidos já anotavam o primeiro gol. O capitão Earnie Stewart cobra escanteio para a área. Brian McBride tenta de cabeça, o goleiro Vítor Baía faz boa defesa, mas dá rebote. A zaga fica parada e John O’Brien aproveita a sobra e completa para o gol.
O início desastroso dos tugas começava na incapacidade de segurar a bola, continuava nos erros de posicionamento da defesa e na falta de aproximação entre o meio campo e o atacante Pauleta. Figo e Rui Costa foram nulos durante todo o jogo.
Aos 29′, Jorge Costa faz tudo que não deveria fazer. Ele erra o passe ao sair jogando pela esquerda e dá a bola aos norte-americanos. O garoto Landon Donovan fica com ela e cruza. A bola bate na nuca do próprio Jorge Costa e entra no gol. Os Estados Unidos já tinham feito mais gols nesse jogo do que em toda a Copa passada.
Aos 36 minutos, Tony Sanneh cruza da direita e McBride mergulha e cabeceia para o gol, sem ser incomodado.
Brian McBride mergulha para fazer o segundo gol dos EUA (Imagem: Pinterest)
Para os lusos, a derrota ganhava ares de vexame. A defesa se esforçou muito em falhar e deu três gols de presente aos estadunidenses, que passaram a se fechar mais, dificultando a criação dos patrícios.
Mas apenas três minutos depois, Figo cobra o escanteio, Beto tenta de cabeça, Pablo Mastroeni afasta mal e Beto manda a sobra no ângulo do ótimo Brad Friedel.
Na sequência, Portugal teve inúmeras chances perdidas, principalmente pelo centroavante Pauleta.
Conseguiria diminuir só aos 26′ do segundo tempo. Pauleta ergue a bola na área. Jeff Agoos tenta cortar e joga a bola contra seu próprio patrimônio, mas isso não evitou o naufrágio português na estreia.
Foi a primeira (e, por enquanto, única) vez na história das Copas em que houveram dois gols contra na mesma partida, um para cada seleção.
Portugal teve mais posse de bola (57%, contra 43% dos adversários), mais chutes a gol (12 a 10) e mais oportunidades criadas. Um empate talvez deixasse o placar mais justo, mas quem joga tão mal e comete erros tão graves com os lusos fizeram no primeiro tempo, não merece um resultado melhor. A valentia dos ianques foi recompensada com a vitória.
O garoto Landon Donovan foi decisivo para a vitória de sua seleção, ao contrário do badalado Luís Figo (Imagem: EPA / Telegraph)
● “Entramos para o segundo tempo meio desanimados. Sofremos um gol logo antes do intervalo, depois de um escanteio, e ficou 3 a 1, mas achamos que a vantagem era boa, estando dois gols à frente. Eles não iam desistir facilmente.” ― Bruce Arena, técnico americano
“Foi inacreditável, uma noite confusa, nevoeiro asiático. Em 20 minutos, já estava 3 a 0 para nós. Nem parecia verdade, parecia um sonho. Só sei que vencemos por 3 a 2 e acho que isso vai nos trazer mais resultados bons nesta Copa.” ― John O’Brien.
E realmente aconteceram boas coisas para os EUA na sequência da competição. Após baterem os lusos, empataram com a Coreia do Sul por 1 x 1 e perderam para a Polônia por 3 x 1. Nas oitavas de final, venceram os arquirrivais mexicanos por 2 x 0. Nas quartas, jogaram bem e venderam caro a derrota para a Alemanha por 1 x 0, perdendo muitas chances de vencer, com um grande jogo e grandes defesas do goleiro alemão Oliver Kahn. Mas saíram de cabeça erguida, ao contrário dos portugueses.
Portugal caiu ainda na primeira fase. Após essa derrota para os EUA, goleou a Polônia por 4 a 0. Na última rodada, com a vitória dos poloneses sobre os americanos, Portugal jogava pelo empate com a co-anfitriã Coreia do Sul. Com dois jogadores a menos (João Pinto e Beto foram expulsos), os portugueses tentaram sinalizar para os sul-coreanos para que mantivessem o placar zerado, garantindo as duas equipes na próxima fase. Mas os asiáticos não entenderam ou não quiseram saber do empate, seguiram atacando e venceram por 1 a 0, eliminando os tugas e classificando os americanos.
John O’Brien aproveita a sobra e abre o placar (Imagem: Getty Images)